DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS ESPANHÓIS


QUE PARTICIPARAM NA CERIMÓNIA


DE BEATIFICAÇÃO EM LORETO


7 de Setembro de 2004




Saúdo com afecto o Senhor Arcebispo de Barcelona e os demais Bispos da Catalunha que, acompanhados de tantos peregrinos, participaram na Beatificação de Pedro Tarrés i Claret, médico e sacerdote, duas vocações que nele eram inseparáveis.

A vida do novo Beato, repleta de profunda devoção à Mãe de Deus, estava centrada em Jesus, a Quem ele quis entregar-se totalmente como apóstolo da juventude, de modo especial na Federação de Jovens Cristãos da Catalunha e na Acção Católica.

Pedro Tarrés continua a ser um exemplo para os médicos, porque amava o enfermo como pessoa, ajudando-o a curar ou a suportar a dor. Do mesmo modo, como homem de coração indiviso e pela sua dedicação incansável aos fiéis e aos diversos apostolados que lhe foram confiados, ele é também modelo para os sacerdotes de hoje.

O Beato Pedro Tarrés nunca perdeu o amor pelo sacrifício, e por isso é um exemplo luminoso para quantos, mesmo no meio de muitas dificuldades, consagram a sua vida à causa do Reino de Deus, através de um serviço generoso aos irmãos mais necessitados.

Enquanto confio todos vós à intercessão do novo Beato, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO MOVIMENTO


INTERNACIONAL DE SCHÖNSTATT


POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO


DO SANTUÁRIO E DO CENTRO INTERNACIONAL


Quinta-feira, 9 de Setembro de 2004



Queridos Irmãos e Irmãs
do Movimento Internacional de Schönstatt!

1. É com alegria que vos dou as boas-vindas a Castel Gandolfo. Nestes dias, na Cidade Eterna, participastes na inauguração do santuário Matri Ecclesiae. A criação de um Centro Internacional de Schönstatt em Roma evidencia e aprofunda o vínculo do vosso movimento com o Sucessor de Pedro e com a Mãe Igreja.

Agradeço ao Presidente do Presídio Geral as palavras cordiais que me dirigiu. Elas mostram como os vários ramos do vosso movimento se deixam inflamar pelo Apostolado no mundo de hoje e pelo ideal da santidade cristã.

2. No vosso movimento cresce a responsabilidade pela sociedade e pela efusão do espírito do Cristianismo nos relacionamentos sociais. Procurei sempre despertar esta responsabilidade para o mundo na nossa Igreja. Por isso, desejo fortalecer-vos nesta tarefa que pode assumir múltiplas formas. Dela faz parte também o compromisso concreto pela vida, precisamente no perigo e na ameaça representados por uma cultura da morte cada vez mais difundida, como demonstra terrivelmente a prática do aborto. Todos os fiéis são exortados a manifestar os "sinais de luz", dos quais o mundo tem sempre necessidade.

O compromisso de Schönstatt destina-se em particular à família como célula primária da Igreja, da cultura e da sociedade. Segundo o conselho do vosso fundador, dais à cruz e à imagem de Maria um lugar privilegiado nas vossas casas, para que se tornem "santuários domésticos da Igreja" (cf. Familiaris consortio FC 55), onde Maria age como mãe e educadora.
Desta forma Maria, como "Mãe de Deus peregrina", alcança os homens para que conheçam o seu amor materno.

A nossa Igreja tem necessidade de uma revitalização da vida de fé e da obra apostólica. Neste compromisso, unem-se todos os movimentos espirituais e as comunidades eclesiais que o espírito de Deus suscitou no inicio do terceiro milénio. Eles são uma resposta da Providência aos numerosos desafios do nosso tempo.

3. O vosso novo santuário romano é dedicado a Maria, Mãe da Igreja. A Ancilla Domini vos acompanhe e vos guie no vosso serviço à Igreja para que, através dele, se possam tornar cada vez mais visíveis as características da Mater Ecclesiae como Corpo de Cristo.

Por isso, concedo a vós e a quantos pertencem à vossa ampla família no mundo, a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA REGIÃO ECLESIÁSTICA


DA PENSILVÂNIA E NOVA JÉRSEI (E.U.A.)


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 11 de Setembro de 2004



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


Queridos Irmãos Bispos

1. É com grande afecto que vos saúdo, Bispos da Região Eclesiástica da Pensilvânia e Nova Jérsei. O Cardeal Rigali observou que no dia de hoje se recorda o terceiro aniversário dos ataques terroristas ocorridos nos Estados Unidos da América. Asseguro-vos a minha proximidade ao povo norte-americano e uno-me a vós na oração para que se ponha termo ao flagelo do terrorismo e para que possa crescer a civilização do amor.

Hoje, os nossos pensamentos voltam-se para o exercício do poder sagrado da parte do Bispo, que deve estar sempre arraigado sobre a autoridade moral de uma vida forjada pela sua participação na consagração e na missão de Jesus Cristo. Isto exige de nós um estilo pastoral que seja inspirado pelo exemplo de Cristo, Bom Pastor, e orientado para a promoção da santidade, da comunhão e da missão no seio da comunidade eclesial.

Dilectos Irmãos, no governo das Igrejas que foram confiadas ao vosso cuidado, espero que encontrais a sabedoria e a fortaleza através da intercessão de Maria Imaculada, Padroeira do vosso país. Sobre todos vós, invoco cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e de paz no Senhor.

DISCURSO DO SANTO PADRE


Caríssimos Irmãos Bispos

1. É com afecto fraternal que vos dou as boas-vindas, Bispos da Região Eclesiástica da Pensilvânia e Nova Jérsei, por ocasião da vossa visita quinquenal aos túmulos de São Pedro e São Paulo. Durante os nossos encontros ad Limina ao longo do corrente ano convidei-vos, bem como os vossos Irmãos Bispos dos Estados Unidos da América, a reflectir juntamente comigo sobre o significado do ministério a nós confiado, como "verdadeiros e autênticos Mestres na fé, Pontífices e Pastores" (Christus Dominus CD 2). Hoje, com as nossas considerações, voltamos a ponderar sobre o munus regendi, o poder do governo mediante o qual os sucessores dos Apóstolos foram escolhidos pelo Espírito Santo como guardiães do rebanho e pastores da Igreja de Deus (cf. Act Ac 20,28). Como a Tradição permanente da Igreja testifica, esta autoridade apostólica constitui uma forma de serviço ao Corpo de Cristo. Como tal, ela só pode ser inspirada e modelada em conformidade com o amor altruísta do Senhor, que veio entre nós como servidor (cf. Mc Mc 10,45) e, depois de se ter humilhado, lavando os pés aos seus discípulos, ordenou-lhes que fizessem como Ele fez (cf. Jo Jn 13,15).

A existência de um direito e dever inequívocos de governo, confiados aos sucessores dos Apóstolos, é uma parte essencial da constituição da Igreja, desejada por Deus (cf. Lumen gentium LG 18). Como poder ministerial, concedido em vista da edificação do Corpo (cf. 2 Cor 10, 8), esta sacra potestas deve ser considerada como um dos dons hierárquicos (cf. Lumen gentium LG 4), derramado sobre a Igreja pelo seu Fundador divino e, desta forma, como um elemento constitutivo da Tradição sagrada que contém tudo aquilo que os Apóstolos legaram como instrumento de preservação e de promoção da santidade e da fé do Povo de Deus (cf. Dei Verbum DV 8). A história demonstra amplamente que o exercício firme e sábio desta autoridade apostólica, de modo particular nos momentos de crise, tem tornado a Igreja capaz de preservar a sua integridade, independência e fidelidade ao Evangelho, diante das ameaças que provêm tanto de dentro como de fora.

2. Edificando sobre a rica reflexão acerca do munus regendi episcopal, proporcionada pelo Concílio, e à luz dos desafios da nova evangelização, o recente Sínodo dos Bispos insistiu sobre a urgente necessidade de restabelecer uma compreensão mais completa e mais autenticamente "apostólica" do múnus episcopal. O Bispo é acima de tudo uma testemunha, um mestre e um modelo de santidade, assim como um prudente administrador dos bens da Igreja. O poder sagrado, que ele exerce legitimamente, deveria arraigar-se na autoridade moral de uma vida completamente forjada segundo a participação sacramental na consagração e missão de Jesus Cristo. Com efeito, "em tudo aquilo que o Bispo diz e faz deve ser revelada a autoridade da palavra e da acção de Cristo" (Pastores gregis ). Por conseguinte, "a valorização da autoridade do Bispo advém, não das suas exterioridades, mas sim do aprofundamento do significado teológico, espiritual e moral do seu ministério, fundado no carisma da apostolicidade" (Ibidem). Por isso, os Bispos têm necessidade de ser estimados como sucessores dos Apóstolos não somente a nível de autoridade e de poder sagrado, mas sobretudo pela sua vida e pelo seu testemunho apostólico.

Durante os nossos encontros, muitos de vós expressaram a própria solicitude pela crise de confiança nos chefes da Igreja, provocada pelos recentes escândalos ligados ao abuso sexual, pelo apelo geral à responsabilidade no governo da Igreja, a todos os níveis, e pelas relações entre os Bispos, o clero e os fiéis leigos. Estou convencido de que hoje, assim como aconteceu em cada um dos momentos críticos ao longo da sua história, a Igreja conseguirá encontrar os recursos para uma renovação autêntica de si mesma, com a sabedoria, o discernimento e o zelo de Bispos que se distinguem pela sua santidade. Reformadores santos, como Gregório Magno, Carlos Borromeu e Pio X compreenderam que a Igreja só se "reforma" de maneira genuína, quando regressa às suas origens, numa reapropriação consciente da Tradição apostólica e com uma reavaliação purificadora das suas instituições, à luz do Evangelho. Nas presentes circunstâncias da Igreja que está nos Estados Unidos da América, isto exigirá um discerrnimento espiritual e a revisão crítica de determinados estilos de governo que, até mesmo em nome de solicitudes legítimas pela boa "administração" e por uma visão responsável, podem correr o risco de afastar o pastor dos membros do seu rebanho, obscurecendo a sua imagem de pai e irmão em Cristo.

3. A este propósito, o Sínodo dos Bispos reconheceu a necessidade actual de que cada Bispo desenvolva "um estilo pastoral cada vez mais aberto à colaboração de todos" (Pastores gregis ), fundamentado numa compreensão clarividente do relacionamento entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis baptizados (cf. Lumen gentium LG 10). Embora o próprio Bispo seja responsável pelas decisões autorizadas que é chamado a tomar no exercício do seu governo pastoral, a comunhão eclesial "preessupõe também a participação de todas as categorias de fiéis, enquanto co-responsáveis do bem da Igreja particular que eles mesmos formam" (Pastores gregis ). Mediante uma sólida eclesiologia da comunhão, o compromisso em vista de criar melhores estruturas de participação, consulta e responsabilidade compartilhada não deveria ser erroneamente entendido como uma concessão a um modelo "democrático" secular de governo, mas sim como um requisito intrínseco do exercício da autoridade episcopal e uma forma necessária de revigoramento de tal autoridade.

4. O exercício do munus regendi está voltado tanto para a reunião do rebanho na unidade visível de uma única profissão de fé, vivida na comunhão sacramental da Igreja, como para a orientação desta grei, na diversidade dos seus dons e das suas vocações, rumo a um bem comum: a proclamação do Evangelho até aos extremos confins da terra. Consequentemente, cada acto de governo eclesial deve visar a promoção da comunhão e da missão. Assim, em vista da sua finalidade e objectivos conjuntos, os três múnus de ensinar, santificar e governar são claramente inseparáveis e interdependentes: "Por isso mesmo o Bispo, quando ensina, ao mesmo tempo santifica e governa o Povo de Deus; enquanto santifica, também ensina e governa; quando governa, também ensina e santifica" (Pastores gregis cf. também Lumen gentium ).

A experiência demonstra que, quando se dá a prioridade sobretudo à estabilidade exterior, podem-se perder o impulso à conversão pessoal, a renovação eclesial e o zelo missionário, suscitando um falso sentido de segurança. O período doloroso da revisão pessoal, criado pelos acontecimentos ocorridos ao longo dos últimos dois anos, só produzirá frutos espirituais se levar toda a Igreja Católica nos Estados Unidos da América a uma compreensão mais profunda da natureza autêntica da Igreja e da sua missão, e a um compromisso mais intenso para fazer com que a Igreja que está no vosso país possa reflectir, em todos os aspectos da sua vida, a luz da graça e da verdade de Jesus Cristo.

Aqui, não posso deixar de confirmar, uma vez mais, a minha profunda convicção de que os documentos do Concílio Vaticano II precisam de ser atentamente estudados e levados ao coração de todos os fiéis leigos, dado que estes textos normativos do Magistério oferecem o fundamento para uma renovação eclesial autêntica, em obediência à vontade de Cristo e em conformidade com a Tradição apostólica da Igreja (cf. Novo millennio ineunte NM 57).

5. Estimados Irmãos, enquanto orientais as Igrejas confiadas ao vosso cuidado pastoral, faço votos por que possais receber a consolação, o apoio e a fortaleza do clero, dos religiosos, das religiosas e dos fiéis leigos a quem vós servis. O ministério para o qual fostes chamados é exigente e até mesmo oneroso, mas constitui inclusivamente uma fonte de imensa alegria espiritual e um serviço indispensável para o crescimento dos discípulos de Cristo na fé, na esperança e na caridade. É com profundo carinho que confio todos vós à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, enquanto vos concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de júbilo e de paz no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DA NOVA ZELÂNDIA POR OCASIÃO


DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Segunda-feira, 13 de Setembro de 2004



Eminência
Estimados Irmãos Bispos

1. "Com efeito, nós não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor" (cf. 2Co 4,5). É com estas significativas palavras do Apóstolo São Paulo que vos dou as cordiais boas-vindas, Bispos da Nova Zelândia, e agradeço ao Bispo D. Denis Browne as amáveis expressões que quis manifestar em vosso nome. Retribuo-as calorosamente e asseguro-vos as minhas orações por todos vós e por quantos foram confiados à vossa solicitude pastoral. A vossa primeira visita ad Limina neste novo milénio constitui uma ocasião de acção de graças a Deus pelo imenso dom da fé em Jesus Cristo, tão estimado pelos povos do vosso país (cf. Ecclesia in Oceania, 1). Esta mesma fé, pela qual os Santos Apóstolos Pedro e Paulo derramaram o seu sangue, desde os primeiros séculos considerou a Igreja de Roma como "a referência suprema da comunhão" (cf. Pastores gregis ). O facto de terdes vindo até aqui para conhecer a Cefas (cf. Gl Ga 1,18), provenientes de uma nação insular tão distante, dá testemunho da força daquela comunhão, que "tutela as legítimas diversidades e ao mesmo tempo vigia para que as particularidades sirvam a unidade e de forma alguma a prejudiquem" (Pastores gregis ).

2. A Nova Zelândia sente-se orgulhosa da herança que lhe é própria, caracterizada por uma rica diversidade cultural. Todavia, como muitos outros países, actualmente ela está a sofrer devido aos efeitos provocados por um secularismo incontrolável. Esta "ruptura entre o Evangelho e a cultura" (Evangelii nuntiandi EN 20) manifesta-se numa "crise do sentido" (cf. Fides et ratio FR 81): a deturpação da razão, por parte de determinados grupos de interesse, e o indivualismo exagerado constituem exemplos desta perspectiva de vida, que negligencia a busca do fim derradeiro e do significado da existência humana. Com efeito, os vossos próprios relatórios indicam de maneira inequívoca a necessidade urgente de anunciar a mensagem libertadora de Jesus Cristo numa sociedade que está a experimentar as trágicas consequências do eclipse do sentido de Deus: o afastamento da Igreja; uma vida familiar ameaçada; a facilitação do aborto e da prostituição; e uma visão desviada da vida que busca sobretudo o prazer e o "sucesso", e não tanto a bondade e a sabedoria.

Diante de situações tão inquietadoras, os neozelandeses esperam que vós sejais homens de esperança, que anunciam e ensinam com paixão o esplendor da verdade de Cristo, que dissipa as trevas e ilumina o autêntico caminho da vida. Sabei que o próprio Senhor está próximo de vós! Ouvi a sua voz: "Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!" (Mc 6,50). Com o vosso coração e com a vossa mente firmemente arraigados em Cristo, estou persuadido de que haveis de conduzir os demais das limitações do pensamento superficial ao brilho do amor de Deus. Com efeito, somente contemplando a beleza imperscrutada do destino último da humanidade ou seja, a vida eterna nos céus todas as alegrias e dores quotidianas podem ser explicadas de maneira adequada, permitindo que as pessoas enfrentem os desafios da vida com a confiança que provém da fé e da esperança.

3. Através da sua vocação baptismal, todos os fiéis leigos de Aotearoa são chamados a participar no vosso testemunho da esperança da Igreja (cf. 1P 3,15). A melhor forma de o fazer é através da participação jubilosa no culto. Além de constituir o cumprimento de uma solene obrigação, a Missa dominical é uma gloriosa epifania da Igreja, em que o santo Povo de Deus, participando activa e plenamente na mesma celebração litúrgica (cf. Dies Domini, 34), dá testemunho do "dia supremo da fé", "um dia indispensável", "o dia da esperança cristã"!

A diminuição da observância da Missa dominical, de que vós falastes com profunda solicitude, atenua a luz do testemunho da presença de Jesus Cristo no vosso país. Quando o dia de domingo se torna subordinado ao conceito popular de "fim-de-semana" e é injustamente dominado pela diversão e pelas práticas desportivas, em vez de serem verdadeiramente santificadas e revitalizadas, as pessoas permanecem encerradas na busca inexorável e muitas vezes insignificante de novidades e deixam de experimentar o vigor da "água viva" de Cristo (cf. Jo Jn 4,10). A este propósito, citando as palavras da Carta aos Hebreus, associo-me a vós para exortar urgentemente os leigos da Nova Zelândia e, de modo particular, os jovens, a fim de que permaneçam fiéis à celebração da Missa dominical: "Conservemos firmemente a profissão da nossa esperança... sem abandonarmos as nossas assembleias... mas animando-nos uns aos outros" (He 10,23-25).

4. Da sua sagrada Liturgia, a Igreja tira força e inspiração para a sua própria missão evangelizadora. Isto foi expresso com clareza durante o Sínodo para a Oceânia: "A finalidade que tem o estar com Jesus, é partir de Jesus, sempre contando com o seu poder e a sua graça" (Ecclesia in Oceania, 3). Esta dinâmica, articulada durante a Oração após a Comunhão e o Rito conclusivo de cada Missa (cf. Dies Domini, 45), leva todos os cristãos à tarefa da evangelização da cultura. Trata-se de um dever que nenhum fiel pode ignorar. Enviados pelo próprio Senhor para a vinha, ou seja, a casa, a escola, o lugar de trabalho e as organizações cívicas, os discípulos de Cristo não têm tempo para permanecer "na praça... sem trabalho" (Mt 20,3), nem podem ser tão absorvidos pelos aspectos internos da vida paroquial, a ponto de se distraírem do mandamento da evangelização activa dos irmãos (cf. Christifideles laici, CL 2). Impelidos pela palavra e revigorados pelo Sacramento, os seguidores de Jesus devem regressar à sua "vinha", repletos do desejo de "falar" de Cristo e "mostrá-l'O" ao mundo (cf. Novo millennio ineunte NM 16).

Estimados Irmãos, as vossas cartas pastorais constituem um bonito exemplo do modo em que procurais conscientemente apresentar a verdade de Cristo na arena pública. As relações de cordialidade que instaurastes diligentemente com as autoridades governamentais permitem-vos, quando é necessário, permanecer firmes na consideração das suas deliberações. A este propósito, encorajo-vos a continuar a garantir que as vossas declarações transmitam com clareza a totalidade do ensinamento magisterial da Igreja. Entre os numerosos desafios que actualmente deveis enfrentar a este propósito, encontra-se a necessidade de defender a santidade e a unicidade do matrimónio.

Estabelecida pelo Criador com natureza e finalidade próprias, preservada pela lei moral natural e presente em todas as culturas, a instituição do matrimónio implica necessariamente a complementaridade do esposo e da esposa, que participam assim na actividade criadora de Deus, procriando e educando os seus próprios filhos. Os cônjuges merecem, justamente, um reconhecimento legal específico e categórico da parte do Estado, e qualquer tentativa de igualar o matrimónio a outras formas de coabitação viola o seu papel único no projecto de Deus para a humanidade.

5. No contexto da evangelização da cultura, desejo reconhecer a contribuição extraordinária oferecida pelas vossas escolas católicas. O seu desenvolvimento tem enriquecido a fé da comunidade cristã e contribuído para a promoção da excelência da vossa nação. Todavia, o valor das vossas escolas não pode ser calculado somente pelos números. Hoje em dia, as escolas católicas devem constituir também agentes activos de evangelização, no centro da vida paroquial! Com esta finalidade, dirijo-me directamente aos jovens, fiéis sinceros e generosos da Nova Zelândia: enfrentai com entusiasmo a vossa educação religiosa! Ouvi a voz de Jesus que vos chama a compartilhar a vida da sua família, que é a Igreja! Assim, assumi o lugar que vos compete no seio da vida paroquial!

Hoje, o apostolado da catequese e da educação religiosa é urgente. Agradeço e encorajo os numerosos leigos, homens e mulheres que, juntamente com os religiosos e as religiosas, e com abnegação incondicionada, procuram garantir que os "baptizados... adquiram cada vez mais consciência do dom da fé que eles receberam" (Gravissimum educationis GE 2). Como Bispos, tendes o importante dever de ajudar os professores a aprofundar o seu testemunho pessoal de Jesus Cristo entre os jovens e de aumentar a sua disponibilidade para ensinar as crianças a rezar, enriquecendo desta forma a sua contribuição para a natureza e a missão específicas da educação católica. Isto exige, de maneira particular dos professores especializados, uma sólida preparação teológica e espiritual, que esteja em sintonia com a dos vossos sacerdotes. Isto ressalta também a necessidade de garantir que os vossos centros de educação superior constituam fontes vibrantes de catequese eficaz. Nesta ocasião, desejo também dirigir um apelo particular aos religiosos e às religiosas de vida apostólica: revigorai o vosso compromisso no apostolado educativo e escolar! Nos lugares onde os jovens são facilmente atraídos pelo caminho da verdade e da liberdade autêntica, o testemunho dos conselhos evangélicos da parte da pessoa consagrada constitui uma dádiva maravilhosa e insubstituível.

6. Caros Irmãos, vós tendes promovido assiduamente a colaboração na vossa orientação da Igreja que está na Nova Zelândia, fazendo assim "que seja possível percorrer juntos o caminho comum de fé e missão" (Pastores gregis ). A colaboração autêntica jamais debilita o direito e o dever claros e inequívocos de governo, que pertence ao múnus episcopal mas, pelo contrário, é um dos frutos da sua plenitude. Sei que sois generosamente assistidos pelos vossos sacerdotes, por cujos altruísmo e compromisso pastoral dou graças a Deus, unindo-me a todos vós. Assegurai-os de que os fiéis cristãos dependem deles e que os estimam em grande medida. De igual modo, os religiosos, as religiosas, os presbíteros, os irmãos e as irmãs devem ser sempre encorajados porque procuram promover a comunhão eclesial através da sua própria presença e do seu apostolado de cooperação no seio das vossas Dioceses. A vida consagrada é um dom fulcral da Igreja e manifesta a beleza profunda da vocação cristã ao amor altruísta e sacrifical. Em sintonia com os esforços destinados a promover uma "cultura de vocação", exorto os religiosos e as religiosas a propor de novo aos jovens o ideal de consagração e de missão, que se encontra nas várias condições de vida da Igreja, e que existem "para que o mundo creia" (cf. Jo Jn 17,21).

7. É com afecto e gratidão fraternal que vos ofereço estas reflexões e que vos encorajo a compartilhar os frutos do carisma de verdade que o Espírito vos concedeu. Unidos na proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo, e orientados pelo exemplo dos Santos, continuai com esperança! Invocando sobre vós a intercessão de Maria, "Estrela da Nova Evangelização", concedo-vos do íntimo do coração a minha Bênção Apostólica, a todos vós, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos leigos das vossas Dioceses.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS QUE PARTICIPARAM NO SEMINÁRIO


PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO PARA


A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS


Quinta-feira, 16 de Setembro de 2004




Senhor Cardeal
Amados Irmãos no Episcopado!

1. Saúdo-vos, a vós que participais no encontro de formação organizado pela Congregação para a Evangelização dos Povos, a fim de vos apoiar no cargo que recebestes para o serviço das Igrejas nos países de missão. Agradeço ao Senhor Cardeal Crescenzo Sepe, Prefeito da Congregação, as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome, agradecendo a quantos prepararam e animam esta missão.

2. Alegro-me com a vitalidade das vossas Igrejas. Em todas as culturas, elas estão chamadas a manifestar a comunhão da única Igreja de Cristo, em fidelidade ao Magistério. A vossa primeira preocupação é ser guardiães zelosos da integridade da fé e da unidade da Igreja. Chamados a seguir Cristo, tende a solicitude de fazer crescer incessantemente a comunhão com o Romano Pontífice e com os demais Bispos, sobretudo no seio da mesma Conferência Episcopal e da mesma Província eclesiástica (cf. Pastores gregis ).

3. Sede modelos para o povo cristão, indo buscar a força para servir o Evangelho ao caminho espiritual, a uma intensa vida sacramental e à formação permanente. Na exortação apostólica pós-sinodal Pastores gregis, ao realçar que o ministério de santificação dos Bispos está orientado para a santidade do povo de Deus, acrescentei: "No seu ministério, deve fomentar incansavelmente uma verdadeira e própria pastoral e pedagogia da santidade" (n. 41). A fim de orientar o povo dos crentes para uma santidade verdadeira e manifestar a esperança cristã, cada um de vós faça sua a perspectiva de São Paulo: "Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!" (1Co 9,16).

4. Amados Irmãos no Episcopado, daqui a poucos dias regressareis às vossas comunidades, com muita frequência submetidas a provações. Levai-lhes a certeza da oração e da proximidade afectuosa do Papa em relação a elas. Dizei aos sacerdotes que a Igreja espera que eles sejam testemunhas com palavras e com toda a sua vida. A Virgem Maria, Rainha das Missões, vos ajude no serviço que vos foi confiado! Concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a todos vós, às vossas Dioceses assim como aos organizadores desta sessão de formação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES DO GRUPO BANCÁRIO


"CAPITÁLIA"


Sexta-feira, 17 de Setembro de 2004


Ilustres Senhores, Gentis Senhoras!

1. Por ocasião do segundo aniversário da constituição do vosso Grupo bancário desejastes manifestar-me a vossa proximidade e renovar-me a expressão dos vossos sentimentos de deferência. Estou-vos grato e dou-vos as minhas boas-vindas!

Agradeço, em particular, ao Vosso Presidente as palavras gentis que me dirigiu em nome de todos.
O complexo mundo do crédito tem necessidade da reflexão da Igreja, pelas inúmeras implicações éticas que lhe dizem respeito. De facto, seria decididamente insuficiente limitar-se ao tema da consecução do máximo proveito; ao contrário, é preciso fazer sempre referência aos valores superiores do viver humano, se queremos ajudar o verdadeiro crescimento e o pleno desenvolvimento da comunidade. A este propósito, o grande Economista católico Giuseppe Toniolo observava que a moral cristã deve considerar-se "como o factor mais poderoso para suscitar nos povos as energias económicas e garantir os seus relacionamentos mais regulares e eficazes" (Tratado de Economia Social, I, 94).

2. Nesta perspectiva, a vossa presença na sociedade pode tornar-se um instrumento de verdadeiro progresso, oferecendo apoio a todas as iniciativas válidas de indíviduos ou grupos, que recorram a vós pelas suas legítimas necessidades de serviços financeiros e económicos.

Faço votos para que o vosso trabalho seja apoiado cada vez mais por esta visão superior, de modo a contribuir para o bem de quantos beneficiam da vossa actividade e, mais amplamente, de toda a comunidade na qual trabalhais.

Com tais sentimentos, enquanto invoco sobre vós e as vossas famílias a abundância dos favores celestes, concedo-vos de coração a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS PARTICIPANTES NUM ENCONTRO


PROMOVIDO PELAS CONGREGAÇÕES


PARA AS IGREJAS ORIENTAIS E PARA OS BISPOS


Sexta-feira, 17 de Setembro de 2004


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado!

1. É com grande afecto que recebo e saúdo todos vós, que participais no encontro de actualização promovido pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais. Saúdo os Prefeitos das duas Congregações, os Senhores Cardeais Giovanni Battista Re e Moussa Daoud, que reuniram oportunamente Pastores das duas grandes tradições da Igreja universal, a do Ocidente e a do Oriente.

Ao agradecer ao Cardeal Re as cordiais expressões com que interpretou os sentimentos comuns, desejo congratular-me convosco, queridos e venerados Irmãos, que aceitastes o convite para viver estes dias de intensa fraternidade episcopal. Iniciativas como esta favorecem a comunicação e a comunhão entre as Igrejas e a concorde solicitude do corpo episcopal em relação ao rebanho do Senhor, a cujo serviço cada bispo é colocado.

2. De facto, com a consagração o Bispo torna-se plenamente mestre, sacerdote e guia da comunidade cristã. Por conseguinte, no centro do seu ministério deve estar sempre Cristo, o Mestre divino, presente tanto através da Palavra da Escritura como do sacramento da Eucaristia.

Na Exortação apostólica Pastores gregis quis recordar que a Eucaristia está no centro do "munus sanctificandi" do Bispo (cf. n. 37). Os meus votos profundos são por que o Ano da Eucaristia, que iniciará no próximo dia 17 de Outubro com o encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, constitua uma providencial ocasião para aprofundar melhor a importância central do Sacramento eucarístico na vida e na actividade de cada Igreja particular. À volta do altar fortalecem-se os vínculos da caridade fraterna e reaviva-se em todos os crentes a consciência de pertencer ao único Povo de Deus, do qual os Bispos são Pastores.

3. Como Bispos, tendes a tarefa de velar sobre a celebração dos Sacramentos e sobre o culto em geral. Tutelai a expectativa dos fiéis de participar numa celebração digna, na qual nada seja improvisado ou ocasional. Com efeito, a liturgia é a grande escola da vida cristã, onde se adora, se ama, se conhece o Senhor e se fortalece a vontade de seguir o Mestre e o propósito de oferecer o próprio testemunho coerente.

Por outro lado, vós tendes a consciência de que o ministério da santificação exige o testemunho de uma vida santa. O Espírito de Deus, que vos santificou através da consagração episcopal, aguarda a vossa generosa resposta quotidiana. A vossa santidade não é um facto apenas pessoal, ela beneficia sempre os fiéis (cf. Exort. apost. Pastores gregis ), conferindo aquela autoridade moral à qual o exercício do ministério vai buscar a sua eficiência. O testemunho da nossa vida deve ser a confirmação de quanto ensinamos.


DIscursos João Paulo II 2004