AUDIÊNCIAS 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 9 de Junho de 2004

A Viagem Apostólica à Suíça

1. Conservo na minha alma as imagens dos vários momentos do breve mas intenso período, que a Providência divina novamente me concedeu transcorrer na Suíça, no sábado e domingo passados.


Desejo renovar a expressão da minha gratidão aos coirmãos Bispos e às Autoridades civis, em particular ao Presidente da Confederação Helvética, pela hospitalidade que me foi reservada e por todo o trabalho de preparação conjunta. Agradeço também ao Conselho Federal a decisão de elevar o nível da Representação diplomática da Suíça junto da Santa Sé.

Dirijo, outrossim, um pensamento de profundo reconhecimento às Irmãs da Caridade da Santa Cruz, que me hospedaram na sua residência de Viktoriaheim. Enfim, agradeço a quantos cuidaram dos vários aspectos desta minha viagem pastoral.

2. O motivo principal desta peregrinação apostólica àquela amada nação foi a reunião com os jovens católicos da Suíça que, no sábado, realizaram o seu primeiro Encontro nacional. Dou graças ao Senhor, que me concedeu a oportunidade de viver, juntamente com eles, um momento de grande entusiasmo espiritual, e de propor às novas gerações helvéticas uma mensagem, que gostaria de tornar extensiva a todos os jovens da Europa e do mundo.

Esta mensagem, que me está muito a peito, resume-se em três verbos: "Levanta-te!", "Escuta!" e "Põe-te a caminho!". É o próprio Cristo, ressuscitado e vivo, que repete estas palavras a cada rapaz e a cada moça do nosso tempo. É Ele que convida a juventude do terceiro milénio a "levantar-se", ou seja, a dar pleno sentido à sua própria existência. Desejei fazer-me eco deste apelo, na convicção de que somente Cristo, Redentor do homem, pode ajudar os jovens a "levantar-se" de experiências e mentalidades negativas, em ordem a crescer até à sua plena estatura humana, espiritual e moral.

3. Na manhã de domingo, solenidade da Santíssima Trindade, pude concelebrar a Eucaristia com os Bispos e muitos sacerdotes vindos de todos os quadrantes da Suíça. O rito festivo realizou-se na "Esplanada da Allmend", um vasto campo diante do palácio da "BEA Bern Expo". Assim, com voz unânime, elevámos a Deus, Uno e Trino, o louvor e a acção de graças pelas belezas da criação, de que a Suíça é rica, mas sobretudo pela comunhão no Amor, de que Ele é a fonte.

À luz deste mistério fundamental da fé cristã, renovei o apelo à unidade de todos os cristãos, exortando sobretudo os católicos a vivê-la entre si mesmos, fazendo da Igreja "a casa e a escola da comunhão" (Novo millennio ineunte NM 43). O Espírito Santo, que cria a unidade, impele também rumo à missão, para que a verdade de Deus e do homem, revelada por Cristo, seja testemunhada e anunciada a todos. Com efeito, cada homem traz em si próprio o vestígio de Deus Uno e Trino, e não encontra a paz senão nele.

4. Antes de deixar Berna, desejei encontrar-me com os membros da Associação dos ex-Guardas Suíços. Tratou-se de um ensejo providencial para agradecer o serviço precioso que, há quase cinco séculos, o Corpo da Guarda Suíça presta à Sé Apostólica. Quantos milhares de jovens, provenientes das famílias e das paróquias suíças, ofereceram a sua contribuição singular ao Sucessor de Pedro ao longo destes séculos! Rapazes como todos, repletos de vida e de ideais, puderam manifestar desta maneira o seu amor sincero a Cristo e à Igreja. Possam então os jovens da Suíça e do mundo inteiro descobrir a maravilhosa unidade entre a fé e a vida, e preparar-se para desempenhar com entusiasmo a missão para a qual Deus os chama!

Maria Santíssima, a quem agradeço de coração a realização desta 103ª viagem apostólica, obtenha para todos este grande e precioso dom, que é o segredo da alegria autêntica.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 16 de Junho de 2004

Deus, refúgio e força do seu povo



1. Acabamos de ouvir o primeiro dos seis cânticos de Sião que estão contidos no Saltério (cf. Sl Ps 47 Ps 75 Ps 83 Ps 86 Ps 121). O Salmo 45, como as demais composições análogas, celebra a cidade santa de Jerusalém, "a cidade de Deus, a mais santa entre as moradas do Altíssimo" (v. 5), mas expressa sobretudo uma confiança inabalável em Deus, que "é o nosso refúgio e a nossa força, ajuda permanente nos momentos de angústia" (v. 2; cf. v. 8 e 12). O Salmo recorda as perturbações mais terríveis para afirmar com maior vigor a intervenção vitoriosa de Deus, que dá segurança total. Devido à presença de Deus nela, Jerusalém "não pode vacilar" (v. 6).

O pensamento corre do oráculo do profeta Sofonias que se dirige a Jerusalém e lhe diz: "Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, povo de Israel! Alegra-te e exulta com todo o coração, filha de Jerusalém... O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa, como nos dias de festa" (So 3,14 So 3,17-18).

2. O Salmo 45 está dividido em duas grandes partes por uma espécie de antífona, que ressoa nos versículos 8 e 12: "O Senhor do universo está connosco! O Deus de Jacob é a nossa esperança!". O título "Senhor dos exércitos" é típico do culto hebraico no templo de Sião e, apesar do aspecto marcial, relacionado com a arca da aliança, remete para o senhorio de Deus sobre todo o universo e sobre a história.

Por conseguinte, este título é fonte de confiança, porque todo o mundo e todas as suas vicissitudes estão sob o governo supremo do Senhor. Portanto, este Senhor está "connosco", como diz ainda aquela antífona, com uma referência implícita ao Emanuel, o "Deus-connosco" (cf. Is Is 7,14 Mt 1,23).

3. A primeira parte do cântico (cf. Sl Ps 45,2-7) está centrada no símbolo da água e apresenta um dúplo significado contrastante. Com efeito, por um lado, desencadeiam-se as águas tenebrosas que, na linguagem bíblica, são símbolo das devastações, da confusão e do mal. Elas fazem tremer as estruturas do ser e do universo, simbolizadas nos montes, abalados por uma espécie de dilúvio destruidor (cf. vv. 3-4). Mas, por outro lado, eis as águas que saciam a sede a Sião, uma cidade situada sobre os montes áridos, mas que "um rio com os seus canais" (v. 5) alegram. O Salmista mesmo fazendo alusão às fontes de Jerusalém como a de Siloé (cf. Is Is 8,6-7) entrevê neles um sinal da vida que prospera na cidade santa, da sua fecundidade espiritual, da sua força regeneradora.

Por isso, apesar das perturbações da história que fazem murmurar os povos e agitar os reinos (cf. Sl Ps 45,7), o fiel encontra em Sião a paz e a serenidade derivantes da comunhão com Deus.

4. A segunda parte do Salmo (cf. vv. 9-11) pode delinear assim um modelo transfigurado. O Senhor do seu trono, em Sião, intervém com extremo vigor contra as guerras e estabelece a paz que todos imploramos. Quando se lê o v. 10 do nosso cântico: "Ele acaba com as guerras no mundo inteiro, quebra os arcos e despedaça as lanças, queima no fogo os escudos", o pensamento corre espontaneamente para Isaías.

Também o profeta cantou o fim da recorrência às armas e a transformação dos instrumentos bélicos de morte em meios para o desenvolvimento dos povos: "transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra" (Is 2,4).

5. Com este Salmo, a tradição cristã dirigiu hinos a Cristo, "nossa paz" (cf. Ef Ep 2,14) e nosso libertador do mal através da sua morte e ressurreição. É sugestivo o comentário cristológico desenvolvido por Santo Ambrósio sobre o v. 6 do Salmo 45, que descreve o "socorro" oferecido à cidade pelo Senhor "antes do amanhecer". O célebre Padre da Igreja vê nele uma alusão profética à ressurreição.

De facto explica "a ressurreição matutina obtém-nos o sustento da ajuda celeste, ela que afastou a noite, trouxe-nos o dia, como dizem as Escrituras: "Acorda e levanta-te, eleva-te dos mortos! E resplandecerá para ti a luz de Cristo". Observa o sentido místico! Ao anoitecer cumpriu-se a paixão de Cristo... Ao alvorecer a ressurreição... Ao anoitecer do mundo é morto, quando a luz já esmorece, porque este mundo jazia totalmente nas trevas e teria sido imerso no horror de trevas ainda mais escuras, se Cristo, luz de eternidade, não tivesse vindo do céu para trazer a idade da inocência ao género humano. Por conseguinte, o Senhor Jesus sofreu e com o seu sangue perdoou os nossos pecados, fez resplandecer a luz de uma consciência mais límpida e brilhou o dia de uma graça espiritual" (Comentário a doze Salmos: SAEMO, VIII, Milão-Roma 1980, pág. 213).

Saudações

Quero saudar os grupos de Portugal e do Brasil, e os demais peregrinos de língua portuguesa aqui presentes, a todos recordando uma meta digna dos vossos passos: é Cristo misercordioso, em cujo Coração trespassado tendes a fonte eterna da vida e da esperança. Quem nele se refugiar não será confundido!



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 23 de Junho de 2004

Hino de adoração e de louvor

1. A Liturgia das Vésperas, além dos Salmos, inclui uma série de Cânticos tirados do Novo Testamento. Alguns, como o que agora ouvimos, estão repletos de trechos do Apocalipse, o livro colocado como coroamento de toda a Bíblia, muitas vezes marcado por cânticos e coros, por vozes solistas e hinos da assembleia dos eleitos, por sons e trombetas, harpas e cítaras.


O nosso cântico, muito breve, provém do capítulo 15 daquela obra. Está para ter início uma nova e grandiosa obra: as sete trombetas, que introduziram um igual número de flagelos divinos, são agora substituídas por sete taças também cheias de flagelos, em grego pleghé, uma palavra com que se indica um golpe tão violento que provoca feridas e, por vezes, até a morte. É evidente neste caso uma referência à narração dos flagelos do Egipto (cf. Êx Ex 7, 14-11, 10).

No Apocalipse, o "flagelo-chaga" é símbolo de um julgamento sobre o mal, sobre a opressão e a violência do mundo. Por isso é também sinal de esperança para os justos. Os sete flagelos como se sabe, na Bíblia o número sete é símbolo de plenitude são definidos como "últimos" (cf. Ap Ap 15,1), porque neles a intervenção divina que combate o mal alcança o seu cumprimento.

2. O hino é entoado pelos que foram salvos, pelos justos da terra, que estão "de pé" com a mesma atitude do Cordeiro ressuscitado (cf. v. 2). Assim como os hebreus no êxodo, depois da travessia do mar cantavam o hino de Moisés (cf. Êx Ex 15,1-18), também os eleitos elevam a Deus o seu "cântico de Moisés e do Cordeiro" (Ap 15,3), depois de ter vencido a Besta, inimiga de Deus (cf. v. 2).

Este hino reflecte a liturgia das Igrejas joaninas e uma antologia de citações do Antigo Testamento, em particular dos Salmos. A Comunidade cristã das origens considerava a Bíblia não só como a alma da sua fé e da sua vida, mas também da sua oração e da sua liturgia, como aconteceu precisamente nas Vésperas que estamos a comentar.

É também significativo que o cântico seja acompanhado pelos instrumentos musicais: os justos têm nas mãos as cítaras (ibidem), testemunho de uma liturgia envolvida pelo esplendor da música sacra.

3. Com o seu hino os salvos, mais do que celebrar a sua constância e o seu sacrifício, exaltam as "obras grandes e maravilhosas" do "Senhor Deus Omnipotente", isto é, os seus gestos salvíficos no governo do mundo e na história. De facto, a verdadeira oração, além de ser um pedido, é também louvor, acção de graças, bênção, celebração, profissão de fé no Senhor que salva.

Depois, é significativa neste Cântico a dimensão universal, que é expressa com as palavras do Salmo 85: "Todas as nações, que criaste, virão adorar-te, Senhor, e darão glória ao teu nome" (85, 9). Desta forma, o olhar prolonga-se por todo o horizonte e entrevêem-se multidões de povos que convergem para o Senhor para reconhecer os seus "julgamentos justos" (Ap 15,4), isto é, as intervenções na história para vencer o mal e enaltecer o bem. A expectativa de justiça presente em todas as culturas, a necessidade de verdade e de amor sentida por todas as espiritualidades, contêm uma tendência para o Senhor, que é satisfeita unicamente quando O alcança.

É bonito pensar neste alcance universal de religiosidade e de esperança, assumido e interpretado pelas palavras dos profetas: "do nascente ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todos os lugares é oferecido ao meu nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura. Na verdade, é grande entre as nações o meu nome diz o Senhor do universo" (Ml 1,11).

4. Concluímos associando a nossa voz à universal. Fazemo-lo através das palavras de uma elegia de São Gregório, grande Padre da Igreja do século IV: "Glória ao Pai e ao Filho rei do universo, glória ao Espírito Santíssimo, ao qual sejam prestados todos os louvores. Um só Deus é a Trindade: Ele criou e plenificou todas as coisas, o céu com os seres celestes, a terra com os terrestres. Encheu o mar, os rios e as nascentes de seres aquáticos, vivificando tudo com o próprio Espírito, para que toda a criação entoasse hinos ao Criador sábio: o viver e o permanecer na vida têm por causa somente Ele. Que a natureza racional cante para sempre o seu louvor como Rei poderoso e Pai bondoso. Em espírito, com a alma, com os lábios, com o pensamento, faz com que também eu em pureza Te glorifique, ó Pai" (Poesias, 1, Colecção de textos patrísticos 115, Roma 1994, págs. 66-67).

Saudações

Uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, com menção especial dos brasileiros ligados ao projecto "Solar Encontro de São José", em Brasília, e do grupo cristão de Alvaiázere, em Portugal, cuja amável visita agradeço. Nossa Senhora guarde e ampare a todos no caminho da vida e no crescimento cristão, conservando quantos vos são queridos na amizade de Deus.

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos aqui presentes hoje de manhã, em particular os jovens do Liceu Santa Maria, de Blois. Possa a vossa permanência em Roma confirmar a vossa fé e fazer de vós testemunhas do Evangelho!
Com a minha Bênção Apostólica.

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Em particular, os Cadetes e os Oficiais do "Buque Escuela Juan Sebastián el Cano", acompanhados do Arcebispo Castrense da Espanha, assim como outros grupos oriundos da Espanha e de Porto Rico. Formulo votos a fim de que todos acertem o caminho da vida que conduz para Deus.
Muito obrigado pela vossa visita!

Saúdo cordialmente os fiéis húngaros, de modo especial os que provêm das cidades de Miskolc e Szeged.

A oração seja a vossa força no anúncio do Evangelho.

Concedo-vos do íntimo do coração a Bênção Apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!
É de coração que saúdo os peregrinos lituanos, de modo especial os diáconos recém-ordenados, vindos de Telsiai.

O Senhor abençoe, com os copiosos dons do Espírito, a vossa vida e o vosso ministério do anúncio da Palavra de Deus! Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as cordiais boas-vindas aos participantes na peregrinação dos Portadores de Deficiência "Patýrkova", oriundos de Praga!

Amanhã celebraremos a festa de São João Baptista. Caríssimos, a vocação deste grande profeta consistiu em preparar o caminho para o nosso Senhor. Também nós devemos, cada qual segundo as suas forças e a sua vocação, anunciar Cristo no mundo hodierno. Sede fortes no Senhor! Abençoo-vos de coração. Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as cordiais boas-vindas aos peregrinos provenientes de Bratislava, Nitra e Teplicka nad Váhom.

Caros peregrinos, neste período celebram-se na Eslováquia as Ordenações sacerdotais. Agradeçamos a Cristo, Sumo Sacerdote, os 110 neopresbíteros e rezemos a fim de que eles possam anuncial fielmente o Evangelho e celebrar os mistérios divinos. É de bom grado que vos abençoo. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo todos os meus compatriotas. Agradeço-vos a presença, as orações e todos os sinais de benevolência.

Viestes aqui em peregrinação, junto do túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo. A vossa estadia na Cidade Eterna, no contexto da iminente solenidade litúrgica destes Apóstolos, consolide a vossa fé em Cristo e o vínculo com a Igreja, que nasce do seu testemunho de vida e do seu martírio.
Deus vos abençoe, bem como os vossos entes queridos!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de expressão italiana. Em particular, saúdo os sacerdotes que estão a celebrar o quinquagésimo e o vigésimo quinto aniversário de Ordenação presbiteral, e os coroinhas do pré-Seminário São Pio X, que prestam serviço no Vaticano.

Em seguida, como de costume, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Enquanto muitos jovens estão ocupados com os exames escolares, para numerosas pessoas tem início o período de Verão, tempo de turismo e de peregrinações, de férias e de descanso.

Prezados jovens, enquanto penso nos vossos coetâneos ainda empenhados nos exames escolares, espero que vós, que já estais a gozar as férias, aproveiteis o Verão para viver experiências humanas e espirituais construtivas.

Formulo votos a fim de que a vós, estimados doentes, não faltem o conforto e o alívio dos vossos familiares.

E encorajo-vos, queridos novos casais, a aprofundar durante estes meses de Verão a vossa missão na Igreja e na sociedade.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 30 de Junho de 2004

O sinal do Pálio, princípio fundamental

de comunhão orgânica e hierárquica




Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Celebrámos ontem a solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, venerados de modo especial aqui em Roma, onde os dois selaram com o sangue o seu admirável testemunho de amor ao Senhor. A solene Liturgia eucarística foi enriquecida este ano pela participação fraterna de Sua Santidade o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, para comemorar os quarenta anos do histórico encontro e abraço, em Jerusalém, entre o meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, e o Patriarca Ecuménico Atenágoras.

Além disso, foi também significativa a vossa presença, caríssimos Arcebispos Metropolitanos, eleitos durante o último ano. Tive a alegria de vos impor o sagrado Pálio, e hoje encontro-vos de novo. Saúdo-vos com grande afecto, juntamente com os vossos parentes e amigos, e faço o meu pensamento extensivo às comunidades confiadas aos vossos cuidados pastorais.

2. A vossa agradável presença oferece-me a ocasião para reflectir sobre o significado do antigo costume da imposição dos Pálios.

A partir do século IX, os Arcebispos nomeados nas Sedes metropolitanas recebem do Papa uma particular insígnia litúrgica, precisamente o "Pálio", como confirmação da comunhão com o Bispo de Roma. Esta insígnia, que o Sumo Pontífice veste em todas as celebrações solenes e os Metropolitas em circunstâncias particulares, consiste numa estreita estola de lã branca que se coloca nos ombros. Todos os anos é confeccionado um número de Pálios igual ao número dos novos Metropolitas. Abençoados pelo Papa nas Primeiras Vésperas da solenidade dos Santos Pedro e Paulo, são postos num apropriado cofre colocado na "Confissão" da Basílica Vaticana, junto do túmulo do Apóstolo, para serem impostos no dia seguinte aos Arcebispos.

3. O sinal do Pálio conserva também hoje uma singular eloquência. Expressa o princípio fundamental de comunhão, que dá forma à vida eclesial em todos os seus aspectos; recorda que esta comunhão é orgânica e hierárquica; manifesta que a Igreja, para ser una, tem necessidade do serviço peculiar da Igreja de Roma e do seu Bispo, Cabeça do Colégio episcopal (cf. Exortação apostólica pós-sinodal Pastores gregis ).

O outro aspecto complementar, que o rito do Pálio põe em relevo, é o da catolicidade da Igreja. De facto, ela foi enviada por Cristo para anunciar o Evangelho a todas as nações e para servir toda a humanidade.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Muitos de vós quiseram estar ao lado destes Prelados numa ocasião tão significativa. São os vossos Pastores! Convido-vos a permanecer unidos a eles e a rezar pela missão pastoral que são chamados a realizar. O meu pensamento dirige-se também aos oito Metropolitas não presentes, que receberão o Pálio nas suas Sedes.

A todos Cristo, como disse outrora a Pedro, repete: Duc in altum! Convida-nos a fazermo-nos ao largo e a aventurarmo-nos com confiança pelo mar da vida, confiando no amparo constante de Maria, Mãe de Deus, e na intercessão dos Apóstolos Pedro e Paulo, que com o seu sangue fecundaram o início da Igreja.

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, saúdo a todos os presentes nesta Audiência, especialmente a quantos vieram para acompanhar os Arcebispos de Aparecida, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Cuiabá, Curitiba, Natal, Niterói, Paraíba e Vitória, na recepção do Pálio, expressão feliz do nosso abraço eclesial. À Virgem Maria confio vossas vidas, famílias e dioceses, para todos implorando o precioso dom do amor e da unidade sobre a rocha de Pedro.

Dirijo as cordiais boas-vindas aos peregrinos francófonos presentes hoje de manhã na Praça de São Pedro. Saúdo com afecto, em particular, os Arcebispos Metropolitanos que vieram receber o Pálio e que participam nesta Audiência, acompanhados dos seus fiéis e amigos: os Arcebispos de Besançon, de Toliara, de Fort-en-France, de Dijon, de Korhogo e de Ruão. Possam os Apóstolos Pedro e Paulo fazer crescer em vós o desejo de vos dardes inteiramente no serviço a Cristo e à sua Igreja, e para serdes os construtores da paz em todos os continentes!

Dou as minhas calorosas boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa, presentes na Audiência de hoje. Saúdo particularmente os grupos vindos da Irlanda, Escócia, Formosa, Canadá, Japão e Estados Unidos da América. Agradeço aos coros os seus cânticos de louvor a Deus. Dirijo a minha saudação de modo especial aos numerosos visitantes que vieram para a recepção do Pálio. Sobre todos vós, invoco cordialmente a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo. Enquanto vos agradeço, desejo-vos uma aprazível permanência em Roma!

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Em especial, saúdo os Arcebispos de Santiago dos Cavaleiros, Antequera, Cusco e Arequipa, com os seus familiares e os fiéis diocesanos. Saúdo também os grupos paroquiais aqui presentes. Desejo a todos vós uma fecunda peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Muito obrigado pela vossa atenção!

Dirijo a minha cordial saudação de boas-vindas aos meus compatriotas. Saúdo os novos Arcebispos Metropolitanos: D. Wladyslaw Ziólek, de Lódz e D. Marian Golebiewski, de Vratislávia, a quem ontem pude impor o Pálio. Saúdo as pessoas que os acompanham e as comunidades de fiéis por eles orientadas. Hoje tenho também a oportunidade de me dirigir aos agricultores polacos, homens que se dedicam a um trabalho árduo, muitas vezes subestimado, sem o qual não é possível viver. Saúdo os representantes da União Nacional dos Agricultores, dos Círculos e das Organizações Rurais. Segundo o modelo dos antepassados, respeitai o dom de Deus: a terra que vos foi confiada. Ela produza colheitas abundantes, que se hão-de tornar alimento e fonte de prosperidade para cada um dos polacos. Abençoo de coração os agricultores e todas as pessoas aqui presentes.

Saúdo cordialmente os peregrinos lituanos!

O desejo de Deus aumente sempre na vossa vida de todos os dias e constitua um motivo constante de alegria. O Senhor abençoe todos vós
Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os Arcebispos Metropolitanos que ontem receberam o Pálio: D. Carlo Caffarra, de Bolonha, D. Edoardo Menichelli, de Ancona, e D. Pietro Coccia, de Pésaro.

Além disso, saúdo os representantes da Coordenação Nacional das Cidades de São Vítor, aqui congregados em tão grande número com o Bispo de Trápani, D. Francesco Miccichè, com os seus Párocos e os respectivos Presidentes das Câmaras Municipais, na recordação do seu santo Padroeiro.

Depois, saúdo as Pequenas Apóstolas da Redenção, que nestes dias celebram o Capítulo Geral. Caríssimas, formulo-vos votos a fim de que vos comprometais com renovado impulso na vossa missão.

Saúdo, outrossim, a peregrinação em honra de Nossa Senhora da Saúde, proveniente especialmente de Stradella, Sartirana e Pieve del Cairo. Agradeço-vos a vossa participação, invocando sobre cada um de vós a protecção da Virgem Santa.

Agora, dirijo o meu pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. À solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, segue-se no dia de hoje a memória litúrgica dos primeiros Mártires Romanos. Caríssimos, imitai o seu testemunho evangélico e sede fiéis a Cristo em todas as situações da vossa vida.



                                                                              Julho de 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 21 de Julho de 2004

A promessa de cumprir os mandamentos de Deus



1. Depois da pausa por ocasião da minha permanência no Vale de Aosta, retomamos agora, nesta Audiência geral, o nosso itinerário ao longo dos Salmos propostos pela Liturgia das Vésperas.

Hoje, encontramos a décima quarta das vinte e duas estrofes que compõem o Salmo 118, grandioso hino à Lei de Deus, expressão da sua vontade. O número das estrofes corresponde às letras do alfabeto hebraico e indica plenitude; cada uma delas está composta por oito versículos e por palavras que começam com a letra do alfabeto correspondente em sucessão.

No nosso caso é a letra hebraica nun que abre as palavras iniciais dos versículos que agora escutamos. Esta estrofe é esclarecida com a imagem luminosa do seu primeiro versículo: "A tua palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos" (v. 105). O homem avança no percurso, muitas vezes obscuro da vida, mas improvisamente as trevas são rasgadas pelo esplendor da Palavra de Deus.

Também o Salmo 18 aproxima a Lei de Deus ao Sol, quando afirma que "os mandamentos do Senhor são rectos, alegram o coração" (18, 9). Depois, no Livro dos Provérbios recorda-se que "o preceito é uma lâmpada, o ensinamento é uma luz" (6, 23). O próprio Cristo apresentará a sua pessoa como revelação definitiva precisamente com a mesma imagem: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" (Jn 8,12).

2. O Salmista continua depois a sua oração recordando os sofrimentos e os perigos da vida que deve levar e que precisa de ser iluminada e sustentada: Senhor, sinto-me angustiado; dá-me a vida segundo a tua promessa... A minha vida está continuamente em perigo, mas não me esqueço da tua lei" (Ps 118,107 Ps 118,109).

Toda a estrofe está permeada por um fio tenebroso: "Os pecadores armaram-me ciladas" (v. 110), confessa ainda o orante, recorrendo a uma imagem de caça muito conhecida no Saltério. O fiel sabe que progride pelos caminhos do mundo no meio de perigos, preocupações, e perseguições; sabe que as provas armam sempre ciladas. O cristão, por seu lado, sabe que todos os dias deve carregar a cruz ao longo da subida do seu Calvário (cf. Lc Lc 9,23).

3. Contudo, o justo conserva intacta a sua fidelidade: "Jurei e vou cumprir: hei-de guardar os teus justos decretos... não me esqueço da tua lei... nunca me afastei dos teus preceitos" (Ps 118,106 Ps 118,109 Ps 118,110). A paz da consciência é a força do crente; a sua constância na obediência aos mandamentos divinos é a fonte da serenidade.

Então, a declaração final é coerente: "As tuas ordens são a minha herança para sempre, porque elas alegram o meu coração" (v. 111). Eis a realidade mais preciosa, a "herança", a "recompensa" (v. 112), que o Salmista conserva com solicitude vigilante e amor fervoroso: os ensinamentos e os mandamentos do Senhor. Ele deseja ser totalmente fiel à vontade do seu Deus. Por este caminho encontrará a paz da alma e conseguirá atravessar o enredo obscuro das provas, alcançando a alegria verdadeira.

A este propósito, são iluminadoras as palavras de Santo Agostinho, que, iniciando o comentário próprio do Salmo 118, desenvolve o tema da alegria que brota do cumprimento da Lei do Senhor. "Este longuíssimo Salmo convida-nos desde o início à felicidade que, como sabemos, está presente na esperança de cada homem. De facto, poderá existir alguém (existiu ou existirá) que não deseje ser feliz? Mas neste estado de coisas, que necessidade há de convites para uma meta para a qual o espírito humano tende espontaneamente?... Não será talvez porque, mesmo se todos aspiram à felicidade, é contudo desconhecido a muitos o modo como alcançá-la? Sim, é precisamente este o ensinamento daquele que exclama: Felizes os íntegros nos seus caminhos, os que andam na lei do Senhor.

Parece querer dizer: Sei o que desejas; sei que procuras a felicidade; pois bem, se queres ser feliz, mantem-te limpo de qualquer mancha. A primeira coisa que todos procuram, e poucos, ao contrário, se preocupam da outra: mas sem ela não se pode obter aquilo que é desejo comum. Onde é que devemos estar sem mancha, a não ser no caminho? Ele é unicamente a lei do Senhor. Por conseguinte, felizes os que são íntegros nos seus caminhos, os que andam na lei do Senhor! Exortação que não é supérflua, mas necessária para o nosso espírito" (Exposições sobre os Salmos, III, Roma, 1976, pág. 1113).

Façamos nossa a conclusão do grande Bispo de Hipona, que recorda a actualidade permanente da felicidade prometida a quantos se esforçarem por cumprir fielmente a vontade de Deus.



Saudações

As minhas cordiais boas-vindas aos brasileiros do Rio Grande do Sul, aos paroquianos de Rebordelo e de Foz do Sousa, no Norte de Portugal, e aos restantes peregrinos de língua portuguesa: Deus vos salve!

Em vós, saúdo também as vossas famílias e comunidades eclesiais, para todos implorando a graça de ouvir fielmente a Palavra de Deus, em cada domingo ou mesmo todos os dias, fazendo dela a luz dos seus caminhos.

Dirijo a minha saudação ao grupo dos funcionários da Administração estatal croata, aos membros do Grupo Folclórico "Encontro Croata", de Oakville, no Canadá, assim como aos demais peregrinos croatas aqui presentes. Caríssimos, concedo-vos de bom grado, a cada um de vós e às vossas famílias, a minha Bênção Apostólica.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos, em particular os grupos de jovens e o grupo de peregrinos do Líbano. Que o período de férias vos permita restabelecer as forças, sustentados pela Palavra de Deus, manancial da verdadeira alegria!

Depois, dirijo uma saudação especial aos peregrinos de língua inglesa, hoje aqui presentes, inclusive aos membros do Capítulo Geral da Congregação da Santa Cruz.
Saúdo inclusivamente as jovens Ursulinas do mundo inteiro, congregadas aqui em Roma, assim como os vários grupos da Inglaterra, Irlanda, Filipinas e Estados Unidos da América. Sobre cada um de vós, invoco a graça e a paz de nosso Senhor, enquanto vos formulo os bons votos de uma feliz estadia em Roma.

É com cordialidade que saúdo os peregrinos vindos da Polónia e dos vários países. Sinto-me particularmente feliz pela presença das crianças oriundas da Polónia e da Lituânia, hóspedes nas diversas Casas de acolhimento para as crianças abandonadas.

Rezo por cada um de vós, para que a vossa permanência em Roma, junto do túmulo de São Pedro, vos ajude a compreender que somente com Jesus Cristo cada um pode ser genuína e plenamente feliz e, com Ele, pode descobrir que faz parte da grande família de Deus, que é a Igreja.

Juntamente convosco, recordo nas minhas preces também os vossos educadores e todas as pessoas que estão comprometidas em oferecer-vos o aconchego de um lar e de uma família, onde cada um possa encontrar tudo aquilo de que tem necessidade para crescer em idade e para se desenvolver na plenitude da caridade.

Concedo a todos vós a minha Bênção Apostólica.

Dirijo agora uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. De modo particular, saúdo o novo Director-Geral, acompanhado do seu Conselho, e os membros do Capítulo Geral da Pequena Obra da Providência Divina: faço votos a fim de que a alegria pela recente canonização do vosso Fundador, São Luís Orione, se traduza num renovado compromisso de fidelidade a Cristo, à Igreja e aos pobres.

Além disso, saúdo os Padres Capitulares da Congregação da Missão, enquanto os exorto a continuar com alegria a sua acção apostólica, no sulco traçado pelo Fundador, São Vicente de Paulo.

Saúdo ainda os Alunos Oficiais de Complemento da Academia da Guarda Fiscal, que terminaram o período de formação, uma Delegação da Federação Italiana dos Desportos Equestres, que participará nos próximos Jogos Olímpicos em Atenas, e um grupo de amigos do Clube Alpino de Erba, promotores de uma singular iniciativa em favor da paz.

Enfim, como de costume, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais. Caríssimos Irmãos e Irmãs, formulo-vos votos a fim de que utilizeis este período de Verão para intensificar o vosso contacto com Deus na oração, numa escuta prolongada da sua Palavra.




AUDIÊNCIAS 2004