AUDIÊNCIAS 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 28 de Julho de 2004

O Senhor é a minha herança

1. Temos a oportunidade de meditar sobre um Salmo de forte tensão espiritual, depois de o ter ouvido e tornado oração. Não obstante as dificuldades textuais, que o original hebraico revela sobretudo nos primeiros versículos, o Salmo 15 é um cântico luminoso de inspiração mística, como sugere já a profissão de fé colocada na abertura: "Tu és o meu Deus, és o meu bem e nada existe fora de ti" (v. 2). Portanto, Deus é visto como o único bem e por isso o orante escolhe colocar-se no âmbito da comunidade de todos aqueles que são fiéis ao Senhor: "Para os santos, que estão sobre a terra, homens nobres, é todo o meu amor" (v. 3). Por essa razão o Salmista rejeita radicalmente a tentação da idolatria com os seus ritos sanguinários e com as suas invocações blasfemas (cf.v. 4).


Trata-se de uma escolha de campo categórica e decidida, que parece reflectir a do Salmo 72, outro canto de confiança em Deus, conquistada através de uma opção moral forte e difícil: "Quem teria eu no céu? Contigo, nada mais me agrada na terra... Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem! Em Deus coloquei o meu abrigo" (Ps 72,25 Ps 72,28).

2. O nosso Salmo desenvolve dois temas que são expressos através de três símbolos: antes de mais, o símbolo da "herança", termo que sustenta os versículos 5-6: de facto, fala-se de "herança, cálice, sorte". Estes vocábulos eram usados para descrever o dom da terra prometida ao povo de Israel. Nós sabemos agora que a única tribo que não tinha recebido uma porção de terra era a dos Levitas, porque o próprio Senhor constituía a sua herança. O Salmista declara justamente: "Senhor, minha herança... é preciosa a herança que me coube" (Ps 15,5 Ps 15,6). Ele suscita, portanto, a impressão de ser um sacerdote que proclama a alegria de ser totalmente dedicado ao serviço de Deus.

Santo Agostinho comenta: "O Salmista não diz: Ó Deus, dai-me uma herança! O que me dareis como herança? Ao contrário, diz: tudo o que me podeis dar fora de vós é insignificante. Sede vós mesmo a minha herança. Sois vós que amo... Esperar Deus de Deus, ser pleno de Deus por Deus. Ele te basta, fora dele nada te pode bastar" (cf. Sermão 334, 3: PL 38, 1469).

3. O segundo tema é o da comunhão perfeita e contínua com o Senhor. O Salmista exprime a firme esperança de ser preservado da morte para poder permanecer na intimidade de Deus, que não é mais possível na morte (cf. Sl Ps 6,6 Ps 87,6). Todavia, as suas expressões não limitam esta preservação; aliás, podem ser entendidas como uma vitória sobre a morte que assegura a intimidade eterna com Deus.

Os símbolos usados pelo orante são dois. Antes de tudo, é o corpo a ser evocado: os exegetas dizem-nos que no original hebraico (cf. Sl Ps 15,7-10) se fala de "rins", símbolo das paixões e da interioridade mais escondida, de "direita", sinal de força, de "coração", sede da consciência, até de "fígado", que exprime a emotividade, de "carne", que indica a existência frágil do homem, e enfim, de "sopro de vida".

É, portanto, a representação do "ser inteiro" da pessoa, que não é absorvido e aniquilado na corrupção do sepulcro (cf. v. 10), mas mantido na vida plena e feliz com Deus.

4. Eis, então, o segundo símbolo do Salmo 15, o do "caminho": "Hás-de ensinar-me o caminho da vida" (v. 11). É a estrada que conduz à "plena alegria na presença" divina, à "doçura sem fim, à direita" do Senhor. Estas palavras adaptam-se perfeitamente a uma interpretação que alarga a perspectiva à esperança da comunhão com Deus, além da morte, na vida eterna.

Neste ponto, é fácil intuir como o Salmo foi acolhido pelo Novo Testamento em vista da ressurreição de Cristo. São Pedro, no seu discurso de Pentecostes, cita precisamente a segunda parte do hino com uma aplicação pascal e cristológica luminosa: "Mas Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte" (Ac 2,24).

São Paulo refere-se ao Salmo 15 no anúncio da Páscoa de Cristo, durante o seu discurso na sinagoga de Antioquia da Pisídia. Nesta luz, também nós o proclamamos: "Não deixarás o teu Santo ver a corrupção. Ora David, depois de servir na sua vida os desígnios de Deus, morreu; foi reunir-se aos seus pais e viu a corrupção. Mas aquele que Deus ressuscitou ou seja, Jesus Cristo não viu a corrupção" (Ac 13,35-37).

Saudações

Irmãos e irmãs de língua portuguesa, a minha afectuosa saudação para todos vós, com menção especial dos grupos do patriarcado de Lisboa, da paróquia de Baguim do Monte, no Porto, e também da diocese brasileira de Mogi das Cruzes. Obrigado pela vossa visita e pelas orações com que me lembrais ao Senhor. Confiando à Virgem Mãe esta vossa romagem invoco, com a minha Bênção sobre os vossos passos e a vossa família, a alegria plena que brota da intimidade com Deus.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua polaca e, em particular, os numerosos grupos de jovens. Aproveito o ensejo da vossa presença para saudar, juntamente convosco, os outros jovens e as crianças que neste período transcorrem as suas férias. Formulo-lhes votos a fim de que este seja um tempo de descanso em comunhão com Deus e que este período lhes infunda muita alegria e o desejo de retomar com generosidade os compromissos que os esperam no futuro.
Abençoo todos de coração e dirijo-vos os meus bons votos: que Deus vos seja propício!

Saúdo com afecto os peregrinos e as famílias de língua espanhola. De modo especial, o grupo de jovens de Madrid e as jovens que festejam 15 anos de idade, provenientes do México. Desejo a todos vós uma feliz estadia em Roma, e que aproveiteis estes dias para crescer na fé, testemunhada pelos Apóstolos.
Muito obrigado pela vossa atenção!

Agora, dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo as irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, participantes no Capítulo Geral do seu Instituto que, estes são os meus bons votos, cresçam cada vez mais no compromisso de dar testemunho de Cristo e do seu amor misericordioso. Saúdo as Irmãs Capitulares da Congregação das Filhas de Maria Virgem Imaculada de Savona, enquanto as convido a continuar generosamente a percorrer o caminho da renovação autêntica, em plena fidelidade ao carisma que lhes é próprio. Dirijo uma grata saudação também às Irmãs Ursulinas da União Canadense.

Além disso, saúdo os coroinhas do pré-seminário São Pio X, que nestes dias prestam o seu serviço na Basílica do Vaticano, bem como os componentes do Centro Nacional Desportivo Libertas.

Enfim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais. Caríssimos, a visita aos túmulos dos Apóstolos vos sirva de encorajamento e de estímulo, para viverdes de maneira cada vez mais consciente a vossa fé.

Concedo a todos vós a minha Bênção Apostólica!



                                                                             Agosto de 2004

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 4 de agosto de 2004

Cristo, Servo de Deus



1. No nosso itinerário através dos Salmos e dos Cânticos, que constituem a Liturgia das Horas, encontramo-nos com o Cântico de Filipenses 2, 6-11, que se recita nas Primeiras Vésperas dos quatro domingos em que a Liturgia se divide.

É a segunda vez que o meditamos, continuando a penetrar a sua riqueza teológica. Nestes versículos, brilha a fé cristã das origens, centralizada na figura de Jesus, reconhecido e proclamado como nosso irmão em humanidade, mas também Senhor do universo. Por conseguinte, é uma verdadeira e própria profissão de fé cristológica, que bem reflecte o pensamento de São Paulo, mas que pode também fazer ecoar a voz da comunidade judaico-cristã anterior ao Apóstolo.

2. O Cântico move-se a partir da divindade, própria de Jesus Cristo. Efectivamente, a Ele compete a "natureza" e a condição divina, a morphé como se diz em grego ou seja, a mesma realidade íntima e transcendente de Deus (cf. v. 6). Todavia, Ele não considera esta sua identidade suprema e gloriosa como um privilégio orgulhoso a ostentar, um sinal de poder e de mera superioridade.

O movimento do hino orienta-se claramente para baixo, isto é, para a humanidade. "Despojando-se" e como que "esvaziando-se" daquela glória, para assumir a morphé, ou seja, a realidade e a condição do servo, o Verbo entra deste modo no horizonte da história humana. Aliás, Ele torna-se semelhante aos seres humanos (cf. v. 7) e chega ao ponto de assumir aquele sinal do limite e da finitude que é a morte. Trata-se de uma humilhação extrema, porque a morte aceite é a da cruz, considerada como a mais aviltante da sociedade dessa época (cf. v. 8).

3. Cristo escolhe abaixar-se da glória até à morte de cruz: este é o primeiro movimento do Cântico, sobre o qual teremos ocasião de voltar a reflectir para revelar outros seus matizes.

O segundo movimento procede em sentido oposto: partindo de baixo, eleva-se para o alto, da humilhação para a exaltação. Pois bem, é o Pai que glorifica o Filho, tirando-o da morte e entronizando-o como Senhor do universo (cf. v. 9). Também São Pedro, no discurso de Pentecostes, declara que "Deus constituiu Senhor e Cristo aquele Jesus que vós crucificastes" (Ac 2,36). Por conseguinte, a Páscoa é a epifania solene da divindade de Cristo, antes escondida pela condição de servo e de homem mortal.

4. Diante da grandiosa figura de Cristo glorificado e entronizado, todos se prostram em adoração. Não apenas de todo o horizonte da história humana, mas também dos céus e da mansão dos mortos (cf. Fl Ph 2,10), eleva-se uma poderosa profissão de fé: "Jesus Cristo é o Senhor" (v. 11). " Aquele Jesus, que por um pouco de tempo foi feito um pouco inferior aos anjos, nós vemo-lo agora coroado de glória e de honra, por causa da morte que padeceu. Deste modo, pela graça de Deus, Ele experimentou a morte em favor de todos" (He 2,9).

Concluamos esta nossa breve análise do Cântico de Filipenses, sobre a qual devemos voltar a reflectir, passando a palavra a Santo Agostinho que, no seu Comentário do Evangelho de São João, remete para o hino paulino a fim de celebrar o poder vivificador de Cristo, que realiza a nossa ressurreição, tirando-nos do nosso limite mortal.

5. Eis as palavras do grande Padre da Igreja: "Cristo, "de natureza divina, não conservou para si mesmo, ciosamente, o facto de ser igual a Deus". O que seria de nós, aqui embaixo no abismo, frágeis e apegados à terra, e por isso na impossibilidade de alcançar a Deus? Podíamos ser abandonados a nós mesmos? Absolutamente não. Ele "aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo", sem contudo abandonar a condição de Deus. Portanto, aquele que era Deus fez-se homem, assumindo aquilo que não era, sem perder o que era; assim, Deus fez-se homem.

Por um lado, é aqui que encontras o socorro à tua debilidade; por outro, aqui encontras quanto te é necessário para alcançar a perfeição. Que Cristo te eleve, em virtude da sua humanidade, que te guie em virtude da sua divinidade humana e que te oriente para a sua divindade. Ó, irmãos, toda a pregação cristã e a economia da salvação centralizada em Cristo se resumem nisto, e não noutra coisa: na ressurreição das almas e na ressurreição dos corpos. Ambos estavam mortos: o corpo, por causa da debilidade, e a alma por causa da iniquidade; ambos estavam mortos e era necessário que ambos, a alma e o corpo, ressuscitassem. Em virtude de quem é que a alma ressuscita, senão em virtude de Cristo Deus? Em virtude de quem é que o corpo ressuscita, senão em virtude de Cristo homem? [...] Que a tua alma ressuscite da iniquidade, em virtude da sua divindade, e que o teu corpo ressuscite em virtude da sua humanidade" (Comentário do Evangelho de São Jn 23, 6, Roma 1968, pág. 451).



Saudações

Saúdo cordialmente os grupos vindos de Portugal e demais peregrinos de língua portuguesa, desejando que esta visita aos lugares santificados pela pregação e martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo a todos fortaleça na sua entrega a Cristo e consolide, no amor divino, os vínculos de cada um com a sua família, comunidade paroquial e sociedade. A Virgem Mãe vos acompanhe e proteja!

Saúdo afectuosamente os peregrinos francófonos presentes nesta manhã, em particular o grupo da Comunidade de Tiberíades. Que o período das férias vos permita redescobrir o amor do Senhor através das belezas da sua criação e dos ensinamentos da sua Palavra!

Dou calorosas boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente os grupos provenientes da Irlanda e do Japão. Enquanto vos desejo uma estadia agradável em Roma, invoco sobre vós a alegria e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo. Boas férias!

É-me grato dar as boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua alemã. Particularmente, saúdo os participantes da peregrinação dos jovens da Diocese de Eichstätt, juntamente com o seu Bispo. O filho de Deus fez-se homem para que voltássemos ao Pai. Mantende-vos no seguimento de Cristo! Que o Senhor vos conceda a sua graça.

Saúdo cordialmente os peregrinos e as famílias de língua espanhola. Muito obrigado pela vossa visita. Boa continuação de Verão.

Dirijo uma afectuosa saudação a todos os polacos. Entre os presentes, saúdo em particular os participantes na V Peregrinação Nacional de Ciclistas, da Diocese de Rzeszów. Dou as boas-vindas também aos ciclistas do "Eurotour" do Clube Desportivo de Lublim. Viajando durante as férias, abri os vossos olhos à beleza do mundo que vos circunda e ao próximo. Enriquecidos por estas experiências, sigai Cristo com perseverança, defendendo sempre os valores que dão sentido à vida humana. Abençoo todos vós de coração. Deus vos recompense!

Saúdo carinhosamente os peregrinos húngaros, provenientes de Budapeste e de Törökszentmiklós, de modo especial os estudantes do Liceu "Patrona Hungariae", de Budapeste. De coração, concedo a todos os vós a Bênção Apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

Agora, dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo as Oblatas Apostólicas, fundadas por Mons. Guglielmo Giaquinta, que participam na Assembleia Geral do Instituto, e os fiéis de Biancavilla que recordam o IV centenário de inauguração da sua igreja paroquial. Convido todos a dar testemunho do Evangelho da caridade com impulso renovado.

Dirijo-me, enfim, aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Caríssimos, a liturgia recorda hoje um sacerdote muito amado pelos seus contemporâneos: São João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars.

O seu exemplo e a sua intercessão sirvam de estímulo para vós, caros jovens, a fim de que possais responder generosamente aos convites da graça; e vos ajudem, dilectos doentes, a compreender cada vez melhor o valor do sofrimento aceite por amor do Senhor; e que levem a apreciar, estimados novos casais, a virtude da humildade, que é o fundamento da harmonia familiar.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 11 de agosto de 2004

Levarei no meu coração as acções de graças e as súplicas

de toda a Igreja e do mundo inteiro



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sábado e domingo próximos realizarei uma peregrinação apostólica ao Santuário mariano de Lourdes. Naquele lugar bendito terei a alegria de celebrar a solenidade da Assunção de Maria Santíssima ao Céu.

O motivo da peregrinação é o 150º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria, realizada pelo Beato Papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854. Quatro anos depois, a Virgem apareceu a Santa Bernadete, na Gruta de Massabielle, apresentando-se precisamente como "a Imaculada Conceição". Considero, portanto, um dom especial da Providência a possibilidade de retornar a Lourdes, como sinal desta luminosa verdade de fé.
Com um único acto de louvor a Deus e à Virgem, abraçarei os dois grandes mistérios marianos: a Imaculada Conceição e a Assunção ao Céu em corpo e alma. De facto, eles constituem o início e a conclusão da vida terrena de Maria, reunidos no eterno presente de Deus, que a chamou para participar de modo singularíssimo no evento salvífico da Redenção, realizada pelo Senhor Jesus Cristo.

2. Os momentos públicos da peregrinação serão três: na tarde de sábado, a recitação do rosário; à noite, a tradicional procissão aux flambeaux; enfim, no domingo de manhã, a solene Celebração eucarística. Além disso, chegando ao Santuário e antes de o deixar, terei a oportunidade de permanecer em oração silenciosa diante da Gruta. Em todas as circunstâncias levarei, no meu coração, as acções de graças e as súplicas de toda a Igreja e, diria, do mundo inteiro, que só em Deus pode encontrar paz e salvação.

Qual é, de facto, a mensagem que o Senhor quis dirigir à humanidade por intermédio da Virgem de Lourdes? Em síntese, ela pode ser resumida numa célebre expressão da Sagrada Escritura: Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva (cf. Ez Ez 33,11). Ao dirigir-se à jovem Bernadete, Maria quis recordar esta fundamental mensagem evangélica: a oração e a penitência são o caminho pelo qual a vitória de Cristo pode afirmar-se em cada pessoa e na sociedade.

3. Porém, para mudar a própria conduta, é preciso escutar a voz da consciência, lá onde Deus colocou o sentido do bem e do mal. Infelizmente, o homem moderno às vezes demonstra ter perdido, de algum modo, o sentido do pecado. É necessário implorar por ele para um despertar interior, que lhe consinta redescobrir plenamente a santidade da lei de Deus e os compromissos morais que derivam dela.

Com estas intenções no coração, preparo-me para ir ao Santuário da Virgem Maria de Lourdes. Peço a todos que me acompanhem espiritualmente, a fim de que a peregrinação do Sucessor de Pedro seja rica de frutos para todo o Povo de Deus.

Saudações

Amados Irmãos e Irmãs de língua portuguesa

No próximo Domingo, Solenidade da Assunção da Virgem Maria, estarei em Lourdes para celebrar os cento e cinquenta anos da definição do dogma da Imaculada Conceição. Invoco a protecção de Deus para o bom êxito desta viagem e me apoio em vossas preces, de modo especial dos paroquianos de Nova e de Cheleiros, de Portugal, a quem abençoo de todo o coração.

Convido todos os peregrinos de língua francesa a unirem-se, através da oração, à celebração da Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, que neste ano hei-de comemorar na cidade mariana de Lourdes, por ocasião do 150º aniversário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Confio todos vós a Nossa Senhora de Lourdes, assegurando-vos a minha oração na gruta de Massabielle!

Torno extensivas as minhas boas-vindas aos peregrinos de expressão inglesa, hoje aqui presentes, inclusivamente aos grupos da Escócia, da Irlanda, de Malta e dos Estados Unidos da América. Sobre todos vós, invoco a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto vos concedo copiosas bênçãos durante esta vossa permanência em Roma.
Boas férias!

Saúdo com afecto os visitantes vindos da Espanha, especialmente os fiéis de Tortosa, Gandia, Rafelguaraf, Mataró, Yecla e Aldaia. Ao saudar os peregrinos da América Latina, recordo hoje de modo particular a Venezuela, enquanto peço ao Senhor que abençoe e ilumine todos os seus cidadãos, concedendo-lhes um futuro aberto ao progresso e à esperança. Invoco também um clima sereno de paz e de reconciliação sobre essa querida Nação, que confiarei à Virgem Maria na minha iminente viagem a Lourdes.

Muito obrigado pela vossa atenção!

Saúdo cordialmente os Membros do Grupo Musical Folclórico "Turopolje", de Velika Gorica, na Croácia.
Caríssimos, enquanto formulo votos a fim de que saibais inserir na cultura os valores cristãos, conservando-os e promovendo-os ao mesmo tempo na vida quotidiana, concedo de bom grado a Bênção Apostólica a cada um de vós e às vossas famílias.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Saúdo todos os meus compatriotas. No próximo Domingo, celebraremos a Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria. Se Deus quiser, nesse dia estarei em Lourdes. Deste modo, desejo prestar homenagem Àquela que, desde há cento e cinquenta anos, nós veneramos como a Imaculada. Confio esta viagem à vossa oração.
Deus vos abençoe!

Agora, dirijo as cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. De maneira particular a vós, dilectos fiéis de Bérgamo, que viestes aqui acompanhados do vosso Bispo, por ocasião do Centenário da Ordenação sacerdotal do Beato João XXIII. Recordando uma vez mais o fecundo ministério deste meu venerável Predecessor, filho ilustre da terra bergamasca, faço votos para que os seus ensinamentos continuem a suscitar, especialmente nos seus conterrâneos, renovados propósitos de testemunho evangélico.

Enfim, dirijo o meu cordial pensamento aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Hoje, celebramos a memória de Santa Clara de Assis, modelo luminoso de jovem, que soube viver com coragem a sua adesão integral a Cristo. Caríssimos, imitai o seu exemplo a fim de que, como ela, também vós estejais prontos para responder com fidelidade ao chamamento do Senhor.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 18 de Agosto de 2004


O Messias, rei e sacerdote




1. Em continuidade com uma antiga tradição, o Salmo 109, que agora foi proclamado, constitui a componente primária das Vésperas dominicais. Ele é reproposto nas quatro semanas em que se desenvolve a Liturgia das Horas. A sua brevidade, ulteriormente acentuada pela exclusão no uso litúrgico cristão do v. 6 de tipo imprecatório, não significa ausência de dificuldades exegéticas e interpretativas. O texto apresenta-se como um Salmo real, ligado à dinastia davídica, e provavelmente remete para o rito de entronização do soberano. Contudo, a tradição judaica e cristã viu no rei consagrado o perfil do Consagrado por excelência, o Messias, Cristo.
Precisamente nesta luz o Salmo torna-se um cântico luminoso elevado pela Liturgia cristã ao Ressuscitado no dia festivo, memória da Páscoa do Senhor.

2. São duas as partes do Salmo 109, ambas caracterizadas pela presença de um oráculo divino. O primeiro oráculo (cf. vv. 1-3) dirige-se ao soberano no dia da sua solene entronização "à direita" de Deus, ou seja, ao lado da Arca da Aliança no templo de Jerusalém. A memória da "geração" divina do rei fazia parte do protocolo oficial da sua coroação e assumia para Israel um valor simbólico de investidura e de tutela, sendo o rei o representante de Deus na defesa da justiça (cf. v. 3).

Naturalmente na releitura cristã aquela "geração" torna-se real e apresenta Jesus Cristo como verdadeiro Filho de Deus. Acontecera assim na leitura cristã de outro célebre Salmo real-messiânico, o segundo do Saltério, onde se lê este oráculo divino: "Tu és o meu filho, Eu hoje te gerei" (Ps 2,7).

3. Ao contrário, o segundo oráculo do Salmo 109, tem um conteúdo sacerdotal (cf. v. 4). Antigamente o rei desempenhava também funções cultuais, não segundo a linha do sacerdócio levítico, mas segundo outra conexão: a do sacerdócio de Melquisedec; o soberano-sacerdote de Salém, a Jerusalém pré-israelita (cf. Gn Gn 14,17-20).

Na perspectiva cristã o Messias torna-se o modelo de um sacerdócio perfeito e supremo. Será a Carta aos Hebreus na sua parte central que exalta este ministério sacerdotal "A maneira de Melquisedec" (5, 10), vendo-o encarnado em plenitude na pessoa de Cristo.

4. O primeiro oráculo é assumido várias vezes no Novo Testamento para celebrar o carácter messiânico de Jesus (cf. Mt Mt 22,44 Ac 2,34-35 1Co 15,25-27 He 1,13). Face ao Sumo sacerdote, e diante do Sinédrio hebraico, remete explicitamente para o nosso Salmo proclamando que já estará "sentado à direita do Poder" divino, precisamente como está escrito no Salmo 109, 1 (Mc 14,62 cf. Mc 12,36-37).

Voltaremos a falar sobre este Salmo no nosso itinerário no âmbito dos textos da Liturgia das Horas. Gostaríamos agora, na conclusão da nossa breve apresentação deste hino messiânico, de recordar a sua leitura cristológica.

5. Fazemo-lo com uma síntese oferecida por Santo Agostinho. Ele, na Exposição sobre o Salmo 109, feita na Quaresma do ano 412, delineava o Salmo como verdadeira e própria profecia das promessas divinas em relação a Cristo. Dizia o célebre Padre da Igreja: "Era necessário conhecer o único Filho de Deus, que estava para vir entre os homens, para assumir o homem e para se tornar homem através da natureza assumida: ele seria morto, ressuscitado, subido ao céu, sentar-se-ia à direita do Pai e cumpriria entre as nações quanto havia prometido... Por conseguinte, tudo isto devia ser profetizado, devia ser prenunciado, devia ser assinalado como destinado a vir, para que, acontecendo imprevistamente, não assustasse, mas, ao contrário, fosse aceite com fé e esperado. Este Salmo insere-se no âmbito destas promessas, o qual profetiza, com palavras tanto seguras como explícitas, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e nós não podemos minimamente duvidar que nele seja anunciado Cristo" (Exposições sobre os Salmos, III, Roma 1976, pág. 951.953).

6. Dirigimos agora a nossa invocação ao Pai de Jesus Cristo, único rei e sacerdote perfeito e eterno, para que faça de nós um povo de sacerdotes e de profetas de paz e de amor, um povo que cante Cristo rei e sacerdote que se imolou para reconciliar em si, num só corpo, toda a humanidade, criando o homem novo (cf. Ef Ep 2,15-16).

Salmo 109, 1.3-4:

"Disse o Senhor ao meu senhor: "Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo dos teus pés". A ti o principado no dia do teu nascimento, as honras sagradas desde o seio, desde a aurora da tua juventude. O Senhor jurou e jamais se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec""



Saudações

De coração saúdo e abençoo os peregrinos presentes de língua portuguesa, em especial o grupo vindo de Braga, sobre todos invocando a divina graça, portadora de vida nova para suas famílias e sociedade numa justa e serena prosperidade colectiva, fraternalmente repartida. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Saúdo com afecto os fiéis provenientes da Espanha e da América Latina, em particular o grupo de jovens de Madrid e o de peregrinos do México. Muito obrigado pela vossa visita.

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos eslovacos provenientes de Mútne.
Caros irmãos e irmãs, faço votos para que a vossa peregrinação a Roma represente para cada um de vós a renovação da fé cristã. De bom grado abençoo-vos a vós e às vossas famílias. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo todos os meus compatriotas. Estou-vos grato por me terdes sustentado com a oração durante a minha peregrinação a Lourdes. Desde o primeiro dia de pontificado pedi-vos que rezásseis por mim e sei que posso contar sempre com isso. Confio-vos à protecção da Mãe Santíssima, bem como os vossos entes queridos e toda a pátria. Deus vos abençoe!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua italiana, em especial os seminaristas do Seminário Menor de Verona e os jovens escoteiros da paróquia de Santa Catarina em Belém, hóspedes da Diocese de Montepulciano-Chiusi-Pienza.

Estendo a minha saudação a todos os jovens presentes, assim como aos doentes e aos novos casais.Caríssimos, a luz de Cristo, que contemplámos reflectida em Maria Santíssima Assunta ao Céu, ilumine cada vez mais a vossa vida e vos torne testemunhas autênticas do seu Evangelho.





PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Quarta-Feira 25 de Agosto de 2004


HOMILIA DO SANTO PADRE NA CELEBRAÇÃO DA PALAVRA


PARA A ENTREGA DO ÍCONE DA MÃE DE DEUS DE KAZAN'


À IGREJA ORTODOXA RUSSA



Caríssimos Irmãos e Irmãos!

1. Como anunciei no domingo passado, o nosso tradicional encontro semanal assume hoje uma fisionomia particular. De facto, encontramo-nos recolhidos em oração à volta do venerado Ícone da Mãe de Deus de Kazan', que está prestes a empreender a viagem de regresso à Rússia, de onde partiu num dia longínquo.

Depois de ter atravessado vários Países e ter permanecido muito tempo no Santuário de Fátima, em Portugal, há mais de dez anos chegou providencialmente à casa do Papa. Desde então encontrou um lugar junto de mim e acompanhou com olhar materno o meu quotidiano serviço à Igreja.

Quantas vezes, a partir daquele dia, invoquei a Mãe de Deus de Kazan', pedindo-lhe que protegesse e guiasse o povo russo que lhe é devoto, e que apressasse o momento em que todos os discípulos do seu Filho, reconhecendo-se irmãos, saberão recompor plenamente a unidade comprometida.

2. Desde o início, desejei que este santo Ícone regressasse ao solo da Rússia, onde segundo credíveis testemunhos históricos foi durante muitos anos objecto de profunda veneração por parte de inteiras gerações de fiéis. Em torno do Ícone da Mãe de Deus de Kazan' desenvolveu-se a história daquele grande povo.

A Rússia é uma nação desde há muitos séculos cristã, é a Santa Rus'. Mesmo quando forças contrárias se abateram contra a Igreja e procuraram cancelar da vida dos homens o santo nome de Deus, aquele povo permaneceu profundamente cristão, testemunhando em tantos casos com o sangue a própria fidelidade ao Evangelho e aos valores que ele inspira.

Portanto, é com particular emoção que dou graças juntamente convosco à Divina Providência, que hoje me concede enviar ao venerado Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias a oferta deste santo Ícone.

3. Que esta antiga imagem da Mãe do Senhor diga a Sua Santidade Aleixo II e ao venerando Sínodo da Igreja Ortodoxa russa o afecto que o Sucessor de Pedro nutre por eles e por todos os fiéis que lhes estão confiados. Diga a estima que ele sente pela grande tradição espiritual da qual a Santa Igreja russa é guardiã. Diga o desejo e o firme propósito do Papa de Roma de progredir juntamente com eles pelo caminho do conhecimento e da reconciliação recíprocos, para apressar o dia daquela unidade plena dos crentes, pela qual o Senhor Jesus rezou ardentemente (cf. Jo Jn 17,20-22).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, uni-vos a mim para invocar a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, no momento em que entrego o seu Ícone à Delegação que, em meu nome, a levará a Moscovo.


Oração do Santo Padre à Mãe de Deus de Kazan'



Gloriosa Mãe de Jesus,
que "procedes diante do povo de Deus pelos caminhos da fé,
do amor e da união com Cristo" (cf. Lumen gentium LG 63), sê bendita!

Todas as gerações te chamam bem-aventurada,
porque "o Omnipotente fez em ti grandes coisas;
é Santo o seu nome" (cf. Lc Lc 1,48-49).

Sê Bendita e honrada, ó Mãe, no teu Ícone de Cazan',
no qual desde há séculos és circundada pela veneração
e pelo amor dos fiéis ortodoxos,
tendo-te tornado protectora e testemunha das maravilhas de Deus
na história do povo russo, que por todos nós é tão amado.

A Providência divina, que tem o poder de vencer o mal
e tirar o bem até das más acções dos homens,
fez com que o Santo Ícone, que desapareceu em tempos longínquos,
aparecesse no santuário de Fátima, em Portugal.

Em seguida, por vontade de pessoas que te são devotas,
ela foi acolhida na casa do Sucessor de Pedro.

Mãe do Povo ortodoxo,
a presença em Roma da tua santa Imagem de Kazan'
fala-nos de uma unidade profunda entre o Oriente e o Ocidente,
que perdura no tempo apesar das divisões históricas
e dos erros dos homens.

Elevamos-te agora com especial intensidade a nossa oração,
ó Virgem, no momento em que nos despedimos
desta tua sugestiva Imagem.

Acompanhar-te-emos com o coração
pelo caminho que te levará à santa Rússia.

Aceita o louvor e a honra que te presta
o povo de Deus que está em Roma.

Ó bendita entre todas as mulheres,
ao venerar o teu Ícone nesta Cidade
marcada pelo sangue dos Apóstolos Pedro e Paulo,
o Bispo de Roma une-se espiritualmente ao seu Irmão
no ministério episcopal,
que preside como Patriarca à Igreja ortodoxa russa.

E pede-te, Mãe Santa, que intercedas
para que se apresse o tempo da plena unidade
entre o Oriente e o Ocidente,
da plena comunhão entre todos os cristãos.

Ó Virgem gloriosa e bendita,
Senhora, Advogada e nosso Conforto,
reconcilia-nos com o teu Filho,
recomenda-nos ao teu Filho, apresenta-nos ao teu Filho!

Amém.



                                                                       Setembro de 2004


AUDIÊNCIAS 2004