DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO


Sábado, 10 de Janeiro de 2004





Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com imenso prazer que vos recebo, na conclusão da Assembléia Plenária da Congregação para o Clero. Saúdo o Prefeito do Dicastério, Cardeal Darío Castrillón Hoyos e estou-lhe grato por se ter feito intérprete dos sentimentos de devoção e de afecto de todos. Saúdo os Senhores Cardeais, os venerados Irmãos no Episcopado e quantos participaram neste encontro, que abordou dois temas de grande interesse: "Os organismos consultivos secundum legem et praeter legem" e "A Pastoral dos Santuários".

Desejo agradecer a cada um pelo difícil trabalho realizado. Ao mesmo tempo, formulo os melhores bons votos para que, destas jornadas de reflexão, resultem indicações e orientações úteis para a vida da Igreja.

2. A Constituição dogmática Lumen gentium apresenta a Igreja como um povo que tem por Chefe Cristo, por condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, por lei o preceito antigo e sempre novo do amor e por fim o reino de Deus (cf. n. LG 9). De tal povo fazem parte aqueles que, em virtude do Baptismo, são "empregados como pedras vivas para a construção de um edifício espiritual, por um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo" (1P 2,5). Deste sacerdócio, que associa todos os fiéis, difere essencialmente o ministerial ou hierárquico. Ambos, porém, são unidos por uma estreita relação e ordenados um para o outro, pois "um e outro, cada um no seu próprio modo, participam do único sacerdócio de Cristo" (Lumen gentium, LG 10). Os pastores têm a tarefa de formar, governar e santificar o Povo de Deus, enquanto os fiéis leigos, juntamente com eles, tomam parte activa na missão da Igreja, numa constante sinergia de esforços e no respeito pelas vocações e pelos carismas específicos.

3. Esta útil colaboração por parte dos leigos desenvolve-se igualmente nos diversos Conselhos previstos pelo ordenamento canónico, a níveis diocesano e paroquial. Trata-se de organismos de participação que oferecem a possibilidade de cooperar para o bem da Igreja, considerando a ciência e a competência de cada um (cf. Código de Direito Canónico, cân. CIC 212 3).

Hoje tais estruturas, derivadas das indicações do Concilio, tem necessidade de ser actualizadas nas suas modalidades de acção e nos estatutos, segundo as normas do Código de Direito Canónico, promulgado em 1983. É preciso salvaguardar uma relação equilibrada entre o papel dos leigos e o que compete propriamente ao Ordinário diocesano ou ao pároco.

Os Pastores legítimos, no exercício de seu ofício, jamais são considerados como simples executores das decisões que derivam das opiniões da maioria, que sobressaem na assembleia eclesial. A estrutura da Igreja não pode ser concebida segundo modelos políticos simplesmente humanos. A sua constituição hierárquica fundamenta-se sobre a vontade de Cristo e, como tal, faz parte do "depositum fidei", que deve ser conservado e transmitido integralmente ao longo dos séculos.

A vossa Congregação, que tem um papel de relevo na aplicação das directrizes conciliares a respeito desta matéria, não deixará de acompanhar com atenção a evolução de tais organismos de consulta. Estou certo de que também as sugestões e as contribuições evidenciadas neste vosso encontro ajudarão a tornar a colaboração entre os leigos e os Pastores cada vez mais profícua e plenamente fiel às orientações do Magistério.

4. O segundo tema, que considerastes nesta Sessão Plenária, diz respeito à Pastoral dos Santuários. Estes lugares sagrados atraem numerosos fiéis que se põem à procura de Deus, disponíveis portanto a um anúncio mais incisivo da Boa Nova e abertos à aceitação do convite à conversão. Por conseguinte, é importante que neles trabalhem sacerdotes dotados de uma clara sensibilidade pastoral, animados pelo zelo apostólico, dotados de espírito paterno de hospitalidade e experimentados na arte da pregação e da catequese.

O que dizer, depois, acerca do sacramento da Penitência? O confessor, particularmente nos Santuários, é chamado a reflectir em cada um dos seus gestos e palavras, o amor misericordioso de Cristo. Exige-se, portanto, uma adequada formação doutrinal e pastoral.

No centro de cada peregrinação há celebrações litúrgicas, dentre as quais a Santa Missa ocupa o primeiro lugar. Elas são sempre preparadas com cuidado e animadas por uma profunda devoção, suscitando a participação activa dos fiéis.

A vossa Congregação não deixará de elaborar sugestões oportunas para ajudar a Pastoral dos Santuários a ser cada vez mais renovada e correspondente às exigências dos tempos.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Com estes dias de estudo e de diálogo, realizastes um serviço meritório à Igreja. Agradeço-vos e asseguro-vos a todos a minha fraterna lembrança na oração.

A Virgem Maria, Mãe da Igreja, que no tempo de Natal pudemos contemplar ao lado do Menino no Presépio, vos sustente e torne frutuoso todos os vossos bons propósitos. A vós e às pessoas que vós são queridas, é com prazer que formulo os melhores bons votos para o novo ano há pouco iniciado, enquanto vos concedo de coração, a todos, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO


JUNTO DA SANTA SÉ NA TRADICIONAL


APRESENTAÇÃO DOS BONS VOTOS PARA O ANO NOVO


Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2004




Excelências
Senhoras e Senhores

É-me sempre grato, na aurora de um novo ano, encontrar-me no meio de vós para o tradicional intercâmbio de bons votos. Fiquei particularmente sensibilizado pelos votos que Sua Excelência o Senhor Embaixador Giovanni Galassi me transmitiu com amabilidade em vosso nome. É de todo o coração que vos agradeço os vossos nobres sentimentos, assim como o profundo interesse com que acompanhais diariamente a actividade da Sé Apostólica. Através das vossas pessoas, sinto-me próximo dos povos por vós representados; que todos estejam certos da oração e do afecto do Papa, que os convida a unir os seus talentos e os seus recursos para construir em conjunto um futuro de paz e de prosperidade compartilhadas!

Este encontro é também para mim um momento privilegiado, que me oferece a ocasião de lançar, juntamente convosco, um olhar sobre o mundo, tal como os homens e as mulheres deste tempo o modelam.

A celebração do Natal acaba de nos recordar a ternura de Deus para com a humanidade, manifestada em Jesus, e fez ressoar uma vez mais a mensagem sempre nova de Belém: "Paz na terra aos homens que Deus ama"!

No corrente ano, esta mensagem chega até nós, enquanto ainda há muitos povos que continuam a sofrer as consequências de conflitos armados, a padecer a pobreza e a ser vítimas de injustiças aberrantes ou de epidemias difíceis de vencer. Sua Excelência o Senhor Galassi fez-se eco disto com a acuidade que lhe reconhecemos. Por minha vez, gostaria de compartilhar convosco quatro convicções que, neste início do ano de 2004, permeiam a minha reflexão e a minha oração.

Nestes últimos meses, ela foi ameaçada pelos acontecimentos que se verificaram no Médio Oriente, que se revelou, uma vez mais, como uma região de contrastes e de guerras.
As numerosas iniciativas tomadas pela Santa Sé, em ordem a evitar o conflito lamentável que teve lugar no Iraque, já são conhecidas. Hoje, é importante que a comunidade internacional ajude os iraquianos, livres de um regime que os oprimia, a fim de que sejam postos em condições de retomar o governo do seu país, de consolidar a sua soberania, de determinar democraticamente um sistema político e económico, em conformidade com as suas aspirações, e que o Iraque volte a tornar-se, assim, um parceiro credível no seio da comunidade internacional.

A não-resolução do problema israelense-palestino continua a constituir um factor de desestabilização permanente para toda essa região, sem mencionar os sofrimentos indizíveis impostos às populações israelense e palestina. Nunca me cansarei de repetir aos responsáveis desses dois povos: a escolha das armas, o recurso, por um lado ao terrorismo e, por outro, às represálias, à humilhação do adversário e à propaganda hedionda, não levam a lugar algum. Somente o respeito pelas aspirações legítimas de uns e de outros, a volta à mesa das negociações e o compromisso concreto da comunidade internacional são susceptíveis de levar a um início de solução. A paz verdadeira e duradoura não pode reduzir-se a uma simples atitude entre as forças presentes; ela é sobretudo o fruto de uma acção moral e jurídica.

Outras tensões e conflitos, sobretudo na África, ainda poderiam ser mencionadas. O seu impacto sobre as populações é dramático. Aos efeitos da violência acrescentam-se o depauperamento e a deterioração do tecido institucional, mergulhando povos inteiros no desespero. Seria preciso evocar também o perigo que representam sempre a fabricação e o comércio das armas, que alimentam abundantemente essas regiões em risco.

Hoje de manhã, gostaria de prestar uma homenagem verdadeiramente particular a D. Michael Courtney, Núncio Apostólico no Burundi, recentemente assassinado. Como todos os Núncios e todos os Diplomatas, ele quis servir em primeiro lugar a causa da paz e do diálogo. Estimo a sua coragem e a solicitude com que ajudou o povo burundinês no seu caminho rumo à paz e a uma maior fraternidade, em nome do seu ministério episcopal e da sua missão diplomática. Quero recordar também a memória do Senhor Sérgio Vieira de Mello, Representante Especial da Organização das Nações Unidas no Iraque, morto num atentado durante a sua missão. Desejo evocar ainda todos os membros do Corpo Diplomático que, ao longo dos últimos anos, perderam a vida ou sofreram por causa do mandato que lhes era próprio.

E como deixar de mencionar o terrorismo internacional que, semeando o medo, o ódio e o fanatismo, desonra todas as causas que ele mesmo pretende servir? Não me contentaria simplesmente com dizer que toda a civilização digna deste nome supõe a rejeição categórica das relações de violência. Eis por que motivo e digo-o diante de uma representação de diplomatas nós jamais nos podemos resignar, aceitando passivamente que a violência conserve a paz como refém!

Mais do que nunca, é urgente alcançar uma segurança colectiva mais eficaz, que dê à Organização das Nações Unidas o lugar e o papel que lhe pertencem. Mais do que nunca, é preciso aprender a tirar lições do passado distante e recente. Em todo o caso, uma coisa é certa: a guerra não resolve os conflitos entre os povos!

Embora eu fale aqui em nome da Igreja católica, sei que as diferentes confissões cristãs e os fiéis de outras religiões se consideram como testemunhas de um Deus de justiça e de paz.

Quando se acredita que todas as pessoas humanas receberam do Criador uma dignidade singular, que cada um de nós é sujeito de direitos e de liberdades inalienáveis, que servir o outro significa crescer em humanidade, ainda mais quando se considera discípulo daquele que disse: "Se tiverdes amor uns para com os outros, todos reconhecerão que sois meus discípulos" (Jn 13,35), pode-se compreender facilmente o capital que representam as comunidades de crentes na edificação de um mundo pacificado e pacífico.

No que lhe diz respeito, a Igreja católica põe à disposição de todos o exemplo da sua unidade e da sua universalidade, o testemunho de numerosos Santos, que souberam amar os seus inimigos, de muitos homens políticos que encontraram no Evangelho a coragem de viver a caridade nos conflitos. Onde quer que a paz esteja em perigo, existem cristãos para testemunhar, com palavras e acções, que a paz é possível. Vós sabeis que este é o sentido das intervenções da Santa Sé nos debates internacionais.

As comunidades de crentes estão presentes em todas as sociedades, expressão da dimensão religiosa da pessoa humana. Por conseguinte, os fiéis esperam poder participar legitimamente no diálogo público. Infelizmente, deve-se observar que nem sempre é assim. Nestes últimos tempos, em certos países da Europa, nós somos testemunhas de uma atitude que poderia pôr em perigo o respeito efectivo pela liberdade de religião. Se o mundo inteiro concorda em respeitar o sentimento religioso dos indivíduos, não se pode dizer a mesma coisa do "facto religioso", ou seja, da dimensão social das religiões, esquecendo-se dos compromissos assumidos no contexto daquela que então se chamava a "Conferência sobre a Cooperação e a Segurança na Europa". Evoca-se com frequência o princípio da laicidade, em si mesma legítima, quando é compreendida como distinção entre a comunidade política e as religiões (cf. Gaudium et spes, GS 76). Todavia, distinção não quer dizer ignorância! Laicidade não é laicismo! Ela não é senão o respeito por todos os credos por parte do Estado, que assegura o livre exercício das actividades cultuais, espirituais, culturais e caritativas das comunidades dos crentes. Numa sociedade pluralista, a laicidade é um lugar de comunicação entre as diferentes tradições espirituais e a nação. Pelo contrário, as relações Igreja-Estado podem e devem dar lugar a um diálogo respeitoso, portador de experiências e de valores fecundos para o futuro de uma nação. Um diálogo sadio entre o Estado e as Igrejas que não são concorrentes, mas parceiros pode, sem dúvida, favorecer o desenvolvimento integral da pessoa humana e a harmonia da sociedade.

A dificuldade de aceitar o facto religioso no espaço público verificou-se de maneira emblemática por ocasião do recente debate sobre as raízes cristãs da Europa. Certas pessoas releram a história através do prisma de ideologias redutoras, esquecendo-se de que o cristianismo contribuiu para a cultrura e as instituições do continente: a dignidade da pessoa humana, a liberdade, o sentido do universal, a escola, a Universidade e as obras de solidariedade. Sem subestimar as outras tradições religiosas, permanece o facto de que a Europa se afirmou na medida em que se evangelizou. Há que recordar, justamente, que até há pouco tempo, os cristãos, promovendo a liberdade e os direitos do homem, contribuíram para a transformação pacífica de regimes autoritários, assim como para a restauração da democracia na Europa central e oriental.

4. Como cristãos, todos juntos, nós somos responsáveis pela paz e pela unidade da família humana
Como sabeis, o compromisso ecuménico constitui uma das atenções do meu Pontificado. Com efeito, estou persuadido de que se os cristãos fossem capazes de ultrapassar as divisões, o mundo seria mais solidário. Eis por que motivo sempre favoreci encontros e declarações comuns, vendo em cada um deles um exemplo e um estímulo para a unidade da família humana.

Como cristãos, nós temos a responsabilidade do "Evangelho da paz" (Ep 6,15). Todos juntos, nós podemos contribuir eficazmente para o respeito pela vida, a salvaguarda da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos inalienáveis, a justiça social e a preservação do meio ambiente. Além disso, a prática de um estilo de vida evangélica torna os cristãos capazes de ajudar os seus companheiros em humanidade a superar os instintos, a realizar gestos de compreensão e de perdão, a socorrer em comum os mais necessitados. Não se avalia suficientemente a influência pacificadora que os cristãos unidos poderiam ter no seio da sua própria comunidade, assim como na sociedade civil em geral.

Se digo isto, não é apenas para recordar a todos os que invocam Cristo, a necessidade imperiosa de percorrer resolutamente o caminho que leva para a unidade, como Cristo quer, mas também para indicar aos responsáveis das sociedades os recursos que eles são susceptíveis de haurir do património cristão, assim como daqueles que dele vivem.

Neste campo, pode-se citar um exemplo concreto: a educação para a paz. Vós reconheceis nisto o tema da minha Mensagem, de 1 de Janeiro do corrente ano. À luz da razão e da fé, a Igreja propõe uma pedagogia da paz, a fim de preparar tempos melhores. Ela deseja pôr à disposição de todos, as suas energias espirituais, convencida de que "a justiça deve ser completada pela caridade" (n. 10). Eis o que nós propomos humildemente a todos os homens de boa vontade, porque "o esforço de nos educar a nós mesmos e aos outros para a paz, nós cristãos sentimo-lo como que fazendo parte da própria índole da nossa religião" (n. 3).


Excelências, Senhoras e Senhores, estes são os pensamentos que gostaria de compartilhar convosco, agora que se nos oferece um novo ano. Eles amadureceram perante o presépio, diante de Jesus, que compartilhou e amou a vida dos homens. Ele continua a ser contemporâneo de cada um de nós e de todos os povos aqui representados. Confio a Deus, na oração, os seus projectos e as suas realizações, enquanto invoco sobre vós e sobre os vossos entes queridos a abundância das suas Bênçãos.

Feliz ano novo!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO ARCEBISPO TITULAR DE VERTARA


D. MICHAEL MILLER


Terça-feira, 13 de Janeiro de 2004



Excelência
Estimados Irmãos e Irmãs em Cristo

É com grande prazer que dou as boas-vindas ao Arcebispo D. Miller, aqui presente com os seus Irmãos Basilianos, os membros da sua família e outros amigos, que o acompanharam nesta alegre circunstância. Transmito-vos a todos as minhas calorosas saudações!

O mote episcopal do Arcebispo D. Miller, Veritati Servire, "Servir a verdade", constitui um resumo eloquente do compromisso que caracterizou a sua vida presbiteral, tanto na Universidade de S. Tomás em Houston, no Texas, como durante os cinco anos de serviço prestado no Vaticano. Estou persuadido de que esta mesma dedicação continuará a inspirá-lo e a fortalecê-lo, também agora que ele voltou a Roma para assumir as suas responsabilidades de Secretário da Congregação para a Educação Católica. Com sinceros bons votos pelo seu novo ministério, concedo-lhe cordialmente a minha Bênção apostólica, tanto a ele como a todos os que se encontram aqui reunidos.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO 31° ESQUADRÃO DA AERONÁUTICA


MILITAR ITALIANA



Caros componentes do 31º Esquadrão
da Aeronáutica Militar Italiana

Alegro-me por me encontrar convosco no início do novo ano e, de coração, formulo-vos a todos os meus ardentes votos de felicidades. Saúdo-vos com afecto e aproveito esta oportuna circunstância para vos agradecer a dedicação e o empenho com que, há anos, ajudais o Sucessor de Pedro a cumprir o seu ministério pastoral.

Saúdo em particular o Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, que nos desejou honrar com a sua presença. Agradeço igualmente ao vosso Comandante as palavras com que interpretou os sentimentos comuns.

Nos dias passados, a liturgia convidou-nos a contemplar Jesus, que se fez homem e habitou entre nós. Ele é a luz que ilumina e dá sentido à nossa existência; é o Redentor que traz a paz ao mundo. Acolhamo-lo com confiança e alegria! Ele é-nos apresentado pela Virgem Maria que, como Mãe solícita, vela também por nós. Convido-vos a recorrer a Ela em cada momento e a confiar-lhe o ano de 2004, há pouco iniciado.

Com estes sentimentos, invoco sobre vós e sobre as vossas famílias a assistência divina enquanto, de coração, vos concedo a todos uma especial Bênção Apostólica



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS REPRESENTANTES DO LÁCIO,


DO MUNICÍPIO E DA PROVÍNCIA DE ROMA


Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2004



Ilustres Senhores e gentis Senhoras!

1. Sede bem-vindos a este encontro que no início do novo ano, nos oferece a oportunidade para um cordial intercâmbio de bons votos. Obrigado pela agradável visita. Dirijo uma deferente saudação ao Presidente da Junta Regional, Deputado Walter Vertroni, e ao Presidente da Província, o Deputado Enrico Gasbarra. Desejo expressar-lhes profundo reconhecimento pelas gentis palavras, com que se quiseram fazer intérpretes dos sentimentos de todos os presentes. Saúdo os Presidentes e os Membros das três Assembleias do Conselho, assim como os seus colaboradores. A ocasião é-me propícia para enviar um pensamento afectuoso a todos os habitantes da Urbe, da Província e da Região do Lácio.

2. As dificuldades, que marcam a actual situação do mundo, sentem-se também nesta nossa terra. Os momentos difíceis são contudo aqueles em que podem e devem sobressair mais claramente as energias positivas de uma população e dos seus representantes. Por conseguinte, apraz-me renovar-vos aquele caloroso convite à confiança e à unidade solidária, que em várias ocasiões dirigi ao povo italiano.

É indispensável o contributo de cada um para construir uma sociedade mais justa e fraterna. É preciso superar juntos as tensões e os conflitos; é necessário lutar juntos contra o terrorismo, que infelizmente, não deixou de atingir também esta nossa amada Cidade.

O caminho para derrotar e prevenir qualquer forma de violência é o de se comprometer na construção da "Civilização do amor". De facto, o amor realcei na mensagem para o recente Dia Mundial da Paz é "a forma mais nobre de relação entre os seres humanos" (Mensagem, n. 10).

3. Como não pensar na família como lugar prioritário para realizar a "Civilização do amor"? A família representa o espaço humano, no qual a pessoa, desde o início da sua existência, pode experimentar o calor do afecto e crescer de maneira harmoniosa. Precisamente por isso são vistas favoravelmente opções políticas e administrativas adequadas para apoiar o núcleo familiar, visto como "sociedade natural fundada no matrimónio", segundo quanto escreve a Constituição Italiana (art. 29). Inserem-se neste contexto as disposições lançadas pelas Administrações por vós guiadas para ir ao encontro das famílias com filhos nos primeiros anos de vida, ou para coadjuvar o papel primário da instituição familiar na educação dos filhos. Para esta finalidade, a escola reveste sempre uma importância fundamental. A Igreja sente-se feliz por contribuir para isto com os seus Institutos escolares, que desempenham um papel social apreciado e que, por isso, têm direito a serem apoiados.

4. Muitos outros sectores da vida social exigem intervenções concretas. Penso em quem se encontra em situações de maior necessidade, nos idosos que vivem sozinhos, nos menores em estado de abandono, nas camadas sociais mais débeis como as de muitos imigrados. Penso na juventude que olha com confiança para o futuro, e espera ser educada na justiça, na solidariedade e na paz. As paróquias, as comunidades religiosas, as instituições católicas e o voluntariado continuarão a oferecer em Roma, na Província e em todo o território regional, o seu minucioso contributo, pondo à disposição todos os recursos humanos e espirituais.

5. Ilustres Representantes das Administrações regional, provincial e municipal! Obrigado por tudo o que fazeis com empenho. Estou-vos grato em particular, pela atenção que reservais à acção pastoral e social da Igreja, sempre e unicamente preocupada por servir o homem e testemunhar o Evangelho da esperança.

Confio-vos a vós, assim como todos os vossos projectos, à Virgem Maria, invocada na Urbe, na Província e no Lácio com muitos títulos sugestivos, que testemunham uma intensa e radicada devoção entre o povo. Garanto-vos uma recordação na oração e invoco sobre vós, sobre os vossos colaboradores, sobre as vossas famílias e sobre as populações que representais, a bênção de Deus.

Bom Ano a todos!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS DELEGADAS DO CENTRO ITALIANO FEMININO


Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2004




Caríssimas Irmãs!

1. É de bom grado que vos recebo por ocasião do Congresso nacional do Centro Italiano Feminino, que se está a realizar nestes dias em Roma. Saúdo o Presidente nacional e agradeço-lhe as palavras gentis com que manifestou a proximidade espiritual de toda a Associação ao meu ministério pastoral. Saúdo cada uma de vós, queridas delegadas, provenientes de várias províncias da Itália. A vossa presença oferece-me a agradável oportunidade de incluir no meu pensamento as mulheres comprometidas de várias formas na vossa Organização, bem como as que alcançais quotidianamente com as vossas actividades.

2. O Centro Italiano Feminino, inspirando-se nos princípios cristãos, esforça-se por ajudar as mulheres a desempenhar cada vez mais responsavelmente o próprio papel na sociedade. A humanidade sente com intensidade crescente a necessidade de oferecer um sentido e uma finalidade a um mundo no qual se apresentam todos os dias novos problemas que geram insegurança e confusão. Portanto, no vosso Congresso pretendeis reflectir justamente sobre: "As mulheres face às expectativas do mundo". A época actual, marcada pela rápida sucessão dos acontecimentos, viu aumentar a participação feminina em todos os âmbitos da vida civil, económica e religiosa, a partir da família, célula primária e vital da sociedade humana. Isto requer da vossa parte constante atenção às problemáticas emergentes e uma generosa clarividência ao enfrentá-las.

3. Na Carta apostólica "Mulieris dignitatem" quis realçar que "a dignidade da mulher está intimamente ligada com o amor que ela recebe pelo próprio facto da sua feminilidade e também com o amor que ela, por sua vez, doa" (n. 30). É importante que a mulher mantenha viva a consciência desta sua vocação fundamental: ela realiza-se a si mesma unicamente doando amor, com aquele seu singular "génio" que garante "a sensibilidade pelo homem em qualquer circunstância: pelo facto de ser homem!" (Ibid.).

O paradigma bíblico da mulher, "colocada" pelo Criador ao lado do homem como "auxiliar semelhante a ele" (Gn 2,18), revela também o verdadeiro sentido da sua vocação. A sua força moral e espiritual brota da consciência de que "Deus lhe confia de modo especial o homem, o ser humano" (Ibid.).

4. Caríssimas, é esta em primeiro lugar a missão de cada mulher também no terceiro milénio. Vivei-a plenamente e não vos deixeis desencorajar pelas dificuldades e pelos obstáculos, com os quais vos podeis deparar ao longo do caminho. Ao contrário, sempre confiantes na ajuda divina, realizai-a com alegria exprimindo o "génio" feminino que vos distingue.

Deus não vos deixará faltar a luz e a orientação do seu Santo Espírito, se recorrerdes com confiança a Ele na oração. A Virgem de Nazaré, exemplo sublime de feminilidade realizada, será vosso apoio seguro.

O Papa encoraja-vos a testemunhar em todos os lugares o Evangelho da vida e da esperança, e acompanha-vos com uma recordação quotidiana. Com estes sentimentos, abençoo-vos de bom grado a vós, às vossas famílias e a todos os membros do Centro Italiano Feminino.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO GRÃO-RABINADO DE ISRAEL


Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2004


Ilustres Senhores

Estou feliz por terdes vindo a Roma para assistir ao "Concerto da Reconciliação" no Vaticano, e é-me grato transmitir-vos neste dia as minhas calorosas e cordiais saudações. Nos vinte e cinco anos do meu Pontificado, procurei promover o diálogo judaico-católico e fomentar entre nós uma compreensão, um respeito e uma cooperação cada vez maiores. Com efeito, um dos pontos salientes do meu Pontificado permanecerá sempre a Peregrinação jubilar à Terra Santa, que incluiu intensos momentos de lembrança, reflexão e oração no Memorial ao Holocausto "Yad Vashem" e no Muro Ocidental.

O diálogo oficial, instaurado entre a Igreja católica e o Grão-Rabinado de Israel, constitui um sinal de grande esperança. Não podemos poupar quaisquer esforços no trabalho conjunto em vista de construir um mundo de justiça, de paz e de reconciliação para todos os povos. Que a Providência Divina abençoe o nosso trabalho e o coroe de bom êxito!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMUNIDADE DO ALMO COLÉGIO CAPRÂNICA


17 de Janeiro de 2004




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Caros Alunos e ex-Alunos
do Almo Colégio Caprânica

A aproximação da memória anual de Santa Inês, oferece-me a grata oportunidade de encontrar a comunidade do vosso Colégio, que venera a jovem mártir romana como padroeira. Com imensa cordialidade transmito a cada um de vós a minha saudação. Antes de tudo, saúdo o Cardeal Camillo Ruini, Presidente da Comissão Episcopal para a Alta Direcção do Colégio, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em nome de todos. Saúdo os Prelados presentes, o Reitor, Mons. Alfredo Abbondi, com os seus colaboradores, os alunos e os ex-alunos e quantos fazem parte da família capranicense. Agradeço-vos a todos essa agradável visita.

Caríssimos, o vosso Colégio caracteriza-se por uma acentuada atenção à "vida de família", como amais dizer entre os Capranicenses, fundada sobre sólidas referências humanas, teológicas e espirituais. Sei quanto insistis sobre este espírito de fraterna comunhão, que vos prepara para o futuro ministério pastoral que vos será confiado. Este espírito bem o sabeis deve nutrir-se primeiramente de intensa e incessante oração, sendo Deus a fonte da nossa unidade. Além disso, exige que se compartilhem os mesmos objectivos e ideais propendendo para a união das mentes e dos corações. Nunca pode faltar o cimento da unidade, isto é, a caridade, verdadeira "vis unitiva", juntamente com o exercício das virtudes, especialmente da obediência e da humildade, buscando sem cessar a perfeição evangélica. O Senhor, que vos escolheu como seus ministros, deseja que sejais santos, isto é, que vos consagreis totalmente a Ele e à sua Igreja. Seja esta a vossa ocupação principal, à qual se deve unir o empenho diário para uma sólida formação humana e doutrinal.

A celeste Mãe da Igreja vele sobre o vosso Colégio e o proteja, e interceda por vós também a Santa Mártir Inês. Asseguro-vos a lembrança constante ao Senhor e, do íntimo do coração, abençoo-vos a todos.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


A SUA BEATITUDE MICHEL SABBAH


PATRIARCA DE JERUSALÉM DOS LATINOS



A Sua Beatitude D. Michel SABBAH
Patriarca de Jerusalém dos Latinos

Foi com alegria que tomei conhecimento de que no domingo 11 de Janeiro de 2004, Festa do Baptismo do Senhor, Vossa Beatitude presidirá ao rito de Dedicação da Capela da Domus Galilaeae, situada no Monte das Bem-Aventuranças Korazim. Recordo-me com emoção da peregrinação apostólica de 24 de Março de 2000 quando, precisamente no Monte das Bem-Aventuranças, não muito distante do lugar onde Jesus realizou a primeira multiplicação dos pães, tive a oportunidade de celebrar a Eucaristia diante de muitos fiéis da Terra Santa e de um grande número de jovens do Caminho Neocatecumenal. Nessa mesma circunstância, foi-me concedido visitar e benzer o Santuário da palavra, lugar de acolhimento para quem deseja estudar as Sagradas Escrituras num clima de oração e de contemplação.

A Capela, que agora é solenemente dedicada, oferece a possibilidade de contemplar o sumo mistério de Cristo no Sacramento da Eucaristia, enquanto o afresco do Juízo Final, que enriquece a sua abside, convida a dirigir o olhar para aquelas realidades últimas da fé, que iluminam a nossa peregrinação diária sobre a terra.

É de bom grado que me uno ao intenso momento espiritual, que esta comunidade cristã se prepara para viver e transmito-lhe a minha afectuosa saudação. Saúdo de modo particular os Prelados, os representantes das comunidades religiosas, do clero e dos movimentos eclesiais e as autoridades civis presentes. Saúdo os iniciadores do Caminho Neocatecumenal, que orientam o encontro, programado na Domus Galilaeae, de 7 a 16 de Janeiro, assim como os irmãos e as irmãs que nele participarem.

Venerado Irmão, peço-lhe que se faça intérprete, junto de todos os presentes, dos meus cordiais sentimentos, enquanto formulo votos a fim de que este importante acontecimento sirva de encorajamento para todos renovarem a sua adesão a Cristo, Redentor do mundo. A Virgem de Nazaré, Mãe da Igreja e Estrela da nova evangelização, oriente o caminho dos crentes na Terra Santa e obtenha para eles a dádiva de uma fidelidade cada vez mais corajosa ao Evangelho.
É com estes sentimentos que lhe concedo, bem como aos promotores do encontro, a quantos fazem parte da família espiritual da Domus Galilaeae e aos participantes no sagrado rito, uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 6 de Janeiro de 2004.




DIscursos João Paulo II 2004