DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS DA ORDEM DO SANTÍSSIMO SALVADOR


DE SANTA BRÍGIDA NO ENCERRAMENTO


DO IX CAPÍTULO GERAL







Prezadas Irmãs

1. A vossa visita hodierna é para mim motivo de grande alegria e é de bom grado que vos recebo, ao encerrardes o IX Capítulo Geral da vossa Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida. Convosco, estão aqui idealmente reunidas, em redor do Sucessor de Pedro, as vossas Irmãs que trabalham em vários países do mundo. A todas e a cada uma, transmito a minha mais cordial saudação.

De modo especial, saúdo com afecto a Abadessa-Geral, Madre Tekla Famiglietti, que foi reconfirmada para mais um período de seis anos. Enquanto lhe agradeço os sentimentos expressos no discurso que houve por bem dirigir-me, formulo-lhe, assim como ao novo Conselho geral, votos de trabalho profícuo ao serviço da benemérita Família "brigidina", que nestes anos cresceu progressivamente, enriquecendo-se com novas obras e actividades. Dou graças a Deus, juntamente convosco, por este encorajador desenvolvimento apostólico e também pelo promissor florescimento vocacional.

"Voltai às raízes... para uma renovação da vida religiosa": este é o tema sobre o qual desejastes reflectir durante a vossa assembleia capitular. Numa atmosfera de silêncio e de oração, pusestes-vos à escuta do Espírito Santo para discernir quais são as prioridades da vossa Ordem nesta nossa época. Toda a renovação autêntica exige uma recuperação sábia do espírito das origens, de maneira a traduzir o carisma de fundação em opções apostólicas que estejam em sintonia com as exigências dos tempos. Por isso, fiéis à vocação monástica peculiar que caracteriza a família brigidina, quisestes confirmar o primado absoluto que Deus tem na existência de cada uma de vós e das vossas comunidades. Sois chamadas sobretudo a ser "especialistas do espírito", ou seja, almas que ardem de amor divino, contemplativas e constantemente dedicadas à oração.

3. Somente se fordes "especialistas do espírito", como Santa Brígida, podereis encarnar fielmente nesta nossa época o carisma de radicalidade evangélica e de unidade, herdado pela Beata Isabel Hesselblad. Através da hospitalidade e do acolhimento que ofereceis nas vossas casas, podereis dar testemunho do amor misericordioso de Deus por todos os homens e da aspiração na unidade, que Cristo deixou aos seus discípulos.

Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, escrevi que o grandioso desafio do terceiro milénio consiste em "fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão" e que, em vista desta finalidade, é necessário "promover uma espiritualidade da comunhão" (n. 43). Estimadas Religiosas, peço-vos que sejais em toda a parte construtoras incansáveis do "grande ecumenismo da santidade". A vossa acção ecuménica é particularmente apreciada, porque diz respeito às nações do Norte da Europa, onde é menor a presença dos católicos e é importante a promoção do diálogo com os irmãos de outras Confissões cristãs.

A Virgem Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, vele sobre a vossa Ordem e intercedam por vós Santa Brígida e a Beata Isabel Hesselblad. Acompanho-vos com uma recordação diária diante do Senhor, enquanto de coração vos abençoo, a vós e a todas as vossas comunidades.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA MEMÓRIA LITÚRGICA DA BEM-AVENTURADA


VIRGEM MARIA DE LOURDES


E XII DIA MUNDIAL DO DOENTE


11 de Fevereiro de 2004



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Uma vez mais, a Basílica de São Pedro escancarou as suas portas aos doentes: a vós, que estais aqui presentes e, idealmente, a todos os doentes do mundo. Caríssimos, saúdo-vos com grande afecto. Desde a manhã do dia de hoje, a minha oração foi dedicada de modo especial a vós, e agora estou feliz por me encontrar convosco. Juntamente convosco, saúdo também os vossos familiares, os amigos e os voluntários que vos acompanham. Saúdo os membros da UNITALSI, assim como os responsáveis e os agentes da Obra Romana de Peregrinações, que no corrente ano celebra setenta anos de vida. Saúdo e agradeço, de modo particular, o Cardeal Camillo Ruini, que presidiu à Santa Missa, os Bispos e os Sacerdotes concelebrantes, os religiosos, as religiosas e todos os fiéis aqui presentes.

2. Precisamente há vinte anos, na memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem de Lourdes, publiquei a Carta Apostólica Salvifici doloris, sobre o sentido cristão do sofrimento humano. Então, escolhi esta data pensando na mensagem especial que, de Lourdes, a Virgem dirigiu aos doentes e a todos as pessoas que sofrem.

Também hoje o nosso olhar volta-se para a venerada imagem de Maria, que se encontra na gruta de Massabielle. Aos seus pés, estão escritas as palavras: "Eu sou a Imaculada Conceição". Palavras que, no corrente ano, encontram uma ressonância especial aqui, na Basílica do Vaticano onde, há 150 anos, o Beato Papa Pio IX, proclamou solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. E foi precisamente da Imaculada Conceição, verdade que nos introduz no âmago do mistério da criação e da redenção, que a minha Mensagem para o hodierno Dia Mundial do Doente tirou a sua inspiração.

3. Olhando para Maria, o nosso coração abre-se para a esperança, para podermos ver as maravilhas que Deus realizou quando nos tornamos humildemente disponíveis à sua vontade. A Imaculada é um sinal grandioso da vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o pecado, da salvação sobre todas as enfermidades do corpo e do espírito. É sinal de consolação e de esperança certa (cf. Lumen gentium, LG 68). Aquilo que admiramos já realizado nela é penhor de quanto Deus quer conceder a cada uma das criaturas humanas: plenitude de vida, de alegria e de paz.

A contemplação deste mistério inefável infunda conforto em vós, prezados enfermos; ilumine o vosso trabalho, estimados médicos, enfermeiros e agentes que trabalhais no campo da saúde; e contribua para as vossas preciosas actividades, dilectos voluntários que, em qualquer pessoa necessitada, sois chamados a reconhecer e a servir Jesus. Sobre todos vele a materna Virgem de Lourdes. Obrigado pelas orações e pelos sacrifícios que, generosamente, ofereceis também por mim! Garanto-vos a minha recordação constante e, com afecto, abençoo-vos todos!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ÁLVARO URIBE VÉLEZ


PRESIDENTE DA COLÔMBIA


12 de Fevereiro de 2004



Senhor Presidente

É com prazer que o recebo nesta visita, com que Vossa Excelência me desejou homenagear, renovando-me as manifestações de afecto e de estima ao Papa, que caracterizam os colombianos.

Estou grato pela colaboração que já existe entre a Igreja e as Autoridades do seu País. A Colômbia está muito presente na minha recordação e na minha oração, mediante as quais peço que as suas populações caminhem sem desanimar rumo à paz social autêntica, rejeitando todas as formas de violência e gerando renovadas formas de convivência pelo caminho seguro e firme da justiça, promovendo profundamente em todos os quadrantes da Nação, a unidade, a fraternidade e o respeito por todos e cada um.

Chegou a hora de lançar bases sólidas para a reconstrução moral e material da vossa comunidade nacional, em vista do restabelecimento de uma sociedade justa, solidária, responsável e pacífica.

Agradeço-lhe a sua visita e renovo os meus bons votos pelo progresso espiritual e material dos colombianos, e pela sua convivência em concórdia e liberdade, enquanto invoco do Altíssimo todas as formas de bênção sobre os amadíssimos filhos e filhas da Colômbia, sobre as famílias, as comunidades eclesiais, as diferentes instituições públicas e as pessoas que as regem, confiando estes bons votos à intercessão maternal de Nossa Senhora de Chiquinquirá, Rainha da Colômbia, e concedendo-vos a Bênção apostólica a todos.



SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO-MINISTRO DA AUTORIDADE PALESTINA


SUA EX.CIA SENHOR AHMAD QUREI


Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2004




Senhor Primeiro-Ministro

Estou feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano. A sua presença aqui traz-me à mente memórias vivas da minha peregrinação à Terra Santa, durante a qual me foi dado rezar ardentemente pela paz e pela justiça nessa Região. Embora os sinais de esperança não estejam totalmente ausentes, contudo a triste situação na Terra Santa constitui uma causa de sofrimento para todos.

Ninguém pode ceder à tentação de desencorajamento, nem se abandonar ao ódio e à represália. A Terra Santa tem necessidade da reconciliação: de perdão e não de vingança, de pontes e não de muros. Isto exige que todos os líderes dessa Região sigam, com a ajuda da comunidade internacional, o caminho do diálogo e da negociação, que leva para a paz duradoura.

Sobre Vossa Excelência e o seu povo, invoco cordialmente a abundância das bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DO IRÃO


12 de Fevereiro de 2004



Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano no dia de hoje. A sua presença aqui constitui um sinal da cooperação que, por mais de cinquenta anos, caracterizou as relações oficiais entre a Santa Sé e o seu País. Estou convicto de que este espírito de colaboração continuará a revigorar-se cada vez mais, ao abordarmos em conjunto as questões de interesse mútuo.

A este propósito, não é menos importante o compromisso permanente em ordem a salvaguardar os direitos e a dignidade inalienáveis da pessoa humana, especialmente nos esforços que visam a promoção de um melhor entendimento entre os povos de diferentes religiões, formações culturais e tradições étnicas.

Senhor Ministro, asseguro-lhe os meus bons votos pela sua estadia em Roma, enquanto invoco sobre Vossa Excelência as bênçãos do Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO VII GRUPO DE BISPOS FRANCESES


POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


13 de Fevereiro de 2004



Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É com alegria que vos recebo, pastores das províncias eclesiásticas de Bordéus e Poitiers, no final da vossa visita ad Limina. Ao virdes em peregrinação seguindo os passos dos Apóstolos Pedro e Paulo, confiastes-lhes os fiéis das vossas Dioceses, pedindo a sua intercessão para garantir a vossa missão de ensinar, governar e santificar o povo de Deus que vos está confiado. Agradeço a D. Jean-Pierre Ricard, Arcebispo de Bordéus e Presidente da Conferência dos Bispos da França, as palavras que acaba de me dirigir, apresentando-me as esperanças das vossas Igrejas diocesanas. Faço votos por que a estadia em Roma vos reconfirme no vosso ministério, contribuindo para dar um novo impulso ao dinamismo missionário das vossas comunidades. Acabais de recordar a atenção dedicada pelos Bispos da França à pastoral da juventude. Com efeito, o Bispo está convidado a dedicar "um cuidado especial à evangelização e ao acompanhamento espiritual dos jovens"; o seu "ministério de esperança não pode deixar de construir o futuro juntamente com aqueles precisamente os jovens aos quais está confiado o fututo" (Pastores gregis ).

2. Nos vossos relatórios quinquenais, mencionais o quadro complexo e difícil em que os jovens vivem. O seu mundo cultural está marcado pelas novas tecnologias da comunicação, que alteram a sua relação com o mundo, com o tempo e com o próximo, e que modelam o seu comportamento. Isto origina uma cultura do imediato e do efémero, que nem sempre é favorável ao aprofundamento, à maturação interior nem ao discernimento moral. Mas o uso dos novos meios de comunicação possuem um interesse que ninguém pode negar. A vossa Conferência e numerosas dioceses assinalaram muito bem o carácter positivo desta mudança, propondo sites internet, sobretudo para os jovens, nos quais eles podem informar-se, formar-se e descobrir as diferentes propostas da Igreja. Não posso deixar de encorajar o desenvolvimento destes instrumentos para servir o Evangelho e para alimentar o diálogo e a comunicação.

A sociedade está caracterizada por numerosas fracturas, que tornam os jovens particularmente frágeis: separações familiares, famílias recompostas com diversos irmãos, ruptura dos vínculos sociais. Como não pensar nas crianças e nos jovens que sofrem terrivelmente devido à desintegração da célula familiar, ou naqueles que conhecem situações de precariedade que, com muita frequência, os levam a considerar-se excluídos pela sociedade? De igual modo, a evolução das mentalidades não deixa de causar preocupações: subjectividade exacerbada, excessiva liberdade nos costumes fazem crer aos jovens que qualquer comportamento, a partir do momento que é realizável, pode ser bom, e uma grave diminuição do sentido moral, que leva a pensar que já não há nem o bem nem o mal objectivo. Mencionais também situações sociais de violência, que fazem surgir graves tensões, sobretudo em certos bairros das cidades e dos subúrbios, assim como um aumento dos comportamentos suicidas e do uso de drogas. Por fim, o aumento do desemprego preocupa os jovens. Eles, por vezes, dão a impressão de terem alcançado demasiado tarde a vida adulta devido aos seus conhecimentos e comportamentos, e de não terem tido tempo suficiente para a maturação física, intelectual, afectiva e moral, cujas etapas não são concomitantes. A multiplicidade das mensagens e dos modelos de vida veiculados pela sociedade confundem em grande medida a percepção e a prática dos valores morais e espirituais, chegando a hipotecar a formação da sua identidade, a gestão da sua afectividade e a edificação da sua personalidade. Tudo isto são fenómenos que originam perigos para o crescimento dos jovens, e para a convivência entre as pessoas e as gerações.

3. Enquanto pastores, estais atentos a estas realidades, conhecendo a generosidade dos jovens, prontos a mobilizarem-se por justas causas e desejosos de alcançar o bem-estar. Trata-se de recursos pastorais que a Igreja deve ter em consideração na sua pastoral da juventude, e a vocação da Igreja consiste em contribuir para o seu pleno desenvolvimento. As comunidades cristãs francesas são herdeiras de grandes figuras de educadores, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, que souberam, na sua época, inventar pedagogias adequadas. Convido-vos, apesar dos meios escassos, a não poupar esforços no campo educativo. Convido em particular as comunidades religiosas que possuem este carisma a não desertar o mundo da educação escolar ou pré-escolar, pois é sobretudo aí que se podem alcançar os jovens, anunciar-lhes o Evangelho e preparar o futuro da Igreja. Os movimentos juvenis, mesmo se numericamente são poucos, estão convidados a prosseguir a sua acção, jamais esquecendo que o caminho educativo requer uma duração. Hoje, convido a uma nova imaginação nas propostas para os jovens, a fim de lhes oferecer lugares, meios e um acompanhamento específico que lhes permitam, a nível diocesano e paroquial, nas capelanias, nos movimentos ou serviços, crescer humana e espiritualmente. As comunidades cristãs têm como missão conduzir os jovens a Cristo e fazer com que eles entrem em intimidade com ele, para que possam viver a sua vida e construir uma sociedade cada vez mais fraterna. O aspecto social não deve fazer esquecer o objectivo do andamento pastoral: conduzir os jovens a Cristo.

4. Os jovens aspiram por viver em grupos nos quais eles são reconhecidos e amados. Nenhuma criança pode viver ou crescer sem amor, ou sem o olhar benevolente dos adultos; é o próprio sentido da missão educativa. Por conseguinte, convido as comunidades diocesanas a dedicar uma atenção sempre mais importante aos lugares educativos; em primeiro lugar, à família, que é bom apoiar e ajudar, sobretudo nas relações pais-filhos, em particular no momento da adolescência. A presença de outros adultos além dos pais muitas vezes é benéfica. De igual modo, a escola é um espaço privilegiado da vida fraterna e pacífica, onde cada qual é aceite tal como é, no respeito dos seus valores e das suas crenças pessoais e familiares. Encorajo as escolas católicas a serem comunidades onde os valores cristãos fazem parte do programa e da prática educativa, e onde o ensino do Magistério é transmitido aos jovens mediante catequeses adequadas às diferentes idades da escolarização. A presença de crianças não católicas não deve ser um obstáculo a este andamento. De igual modo, congratulo-me com a missão dos capelães escolares e universitários. Apesar dos participantes serem pouco numerosos, os acompanhadores nunca se esqueçam de que tudo o que os jovens recebem transmitem-no de uma ou de outra forma aos seus companheiros! É importante encarar a pastoral da juventude, vez por vez, em forma de tempos fortes o "viver juntos" é fundamental na educação dos jovens e no âmbito das actividades regulares, para que a formação religiosa faça parte da estruturação dos jovens e da sua existência.

Nos vossos relatórios e boletins diocesanos, vemos os frutos que as Jornadas mundiais da Juventude de Paris, das quais me recordo com emoção, continuam a dar nos jovens. É importante chamá-los a viver a sua relação com Cristo na fidelidade, para tomar consciência de que a vida de fé e a prática sacramental não estão relacionadas com a simples vontade do momento, nem podem constituir uma actividade entre outras na existência. Faço votos por que os educadores os ajudem a discernir as prioridades, pois não podemos conhecer verdadeiramente Cristo se não fizermos o esforço de nos aproximarmos e ter com Ele encontros regulares. É também necessário que os jovens sejam os principais evangelizadores dos jovens, para serem uma força convidativa para os seus companheiros. Eles possuem, neste âmbito, recursos que seria bom explorar.

5. A pastoral dos jovens exige da parte dos acompanhadores perseverança, atenção e espírito de iniciativa. Para esta finalidade, não hesiteis em destinar sacerdotes qualificados, que tenham uma boa formação e uma vida espiritual e moral irrepreensível, para acompanhar os jovens, para lhes transmitir o ensinamento cristão, partilhar com eles tempos fraternos e de lazer, para que se tornem missionários. Faço votos por que as dioceses se mobilizem sempre mais para esta finalidade, mesmo se vos encontrais em períodos difíceis. Que os adultos forneçam aos jovens os meios concretos para que se possam reencontrar, a fim de viver e aprofundar a sua fé, formando-os no estudo e na meditação da Palavra de Deus, e na oração pessoal, e chamando-os a conformar-se cada vez mais com Cristo. É importante também ajudá-los a interrogarem-se sobre a sua existência e sobre o seu projecto de vida, para que se tornem disponíveis à chamada do Senhor para uma vocação específica na Igreja: o sacerdócio, o diaconado ou a vida consagrada.

Os pais e os educadores não tenham receio em apresentar aos jovens a questão de uma eventual vocação sacerdotal ou religiosa! Isto não significa minimamente uma limitação da liberdade de escolha, mas ao contrário, um convite a reflectir sobre o seu futuro, a fim de "fazer com que a sua vida seja uma vida de amor", como recordei por ocasião da minha viagem a Lião em 1986. Compete a todos os agentes da pastoral dos jovens ajudá-los a terem uma fé que lhes permita confrontarem-se de maneira crítica com a cultura actual, adquirindo um discernimento sadio acerca das questões que estão no centro dos debates da sociedade.

Recordais com preocupação as rupturas do mundo da juventude e as precariedades com as quais eles se confrontam, que por vezes os leva ao individualismo, à violência e a comportamentos destruidores. No seguimento de Cristo, a Igreja deseja permanecer próxima dos jovens feridos pela vida, pelos quais o Senhor tem um amor preferencial. Congratulo-me e encorajo o trabalho das pessoas que, nos movimentos, nos serviços e no mundo caritativo, promovem a fantasia da caridade, fazendo-se próximos dos excluídos, de quantos sofrem, permitindo-lhes voltar a sentir prazer em viver. Que eles lhes façam descobrir o rosto de Cristo, que ama todos os homens, seja qual for o seu caminho e as suas fragilidades!

6. Desejo também chamar a vossa atenção para o apoio que deve ser dado aos jovens que se preparam para o matrimónio. Muitas vezes eles conheceram sofrimentos nas suas famílias de origem e por vezes fizeram múltiplas experiências. Na sociedade, existem diversos modelos de relação, sem qualquer qualificação antropológica ou moral. Por seu lado, a Igreja deseja propor o caminho de uma evolução gradual nas relações afectivas, que começa no tempo do noivado e que propõe o ideal da castidade; ela recorda que o matrimónio entre um homem e uma mulher, e uma família, se constróem antes de mais sobre um vínculo forte entre as pessoas e sobre um comprometimento definitivo, e não sobre o aspecto meramente afectivo, que não pode constituir a única base da vida conjugal. Que os pastores e os casais cristãos tenham a audácia de ajudar os jovens a reflectir sobre estas questões delicadas e fundamentais, com catequeses e diálogos vigorosos e adequados, fazendo resplandecer a profundidade e a beleza do amor humano!

7. A Igreja tem uma palavra original nos debates sobre a educação, sobre os fenómenos de sociedade, sobretudo sobre as questões da vida afectiva, dos valores morais e espirituais. A formação não pode consistir unicamente numa aprendizagem técnica e científica. Ela tem principalmente por finalidade uma educação do ser integral. Congratulo-me com os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas, e com os leigos que têm esta nobre preocupação do acompanhamento da juventude. Sei que a sua tarefa é difícil e por vezes árida, e os resultados nem sempre parecem estar à altura dos esforços feitos; que eles não desanimem, porque ninguém conhece o segredo do coração dos jovens! "Se Cristo lhes for apresentado com o seu verdadeiro rosto, os jovens reconhecem-no como resposta convincente e conseguem acolher a sua mensagem, mesmo se exigente" (Novo millennio ineunte NM 9).

Queridos Irmãos no Episcopado, no final do nosso encontro, juntamente convosco dou graças pelo trabalho que o Espírito realiza no coração dos jovens. Eles pedem que a Igreja os acompanhe, porque desejam ardentemente viver um ideal exigente e verdadeiro, não obstante as referências muitas vezes pouco claras que o mundo actual lhes oferece. É vossa tarefa guiá-los a Cristo e propor-lhes o caminho exigente da santidade, para que possam assumir uma parte cada vez mais activa na vida da Igreja e da sociedade. Encorajo as comunidades cristãs das vossas dioceses a dar-lhes o lugar que lhes compete, a escutar as questões que eles apresentam e a responder-lhes em verdade. Pela intercessão da Virgem Maria, Nossa Senhora de Lourdes que acabamos de festejar, concedo-vos de bom grado uma afectuosa Bênção apostólica, assim como a todos os membros das vossas comunidades diocesanas, em particular aos jovens, aos quais peço que transmitais esta mensagem: o Papa conta com eles.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS


DA REPÚBLICA ESLOVACA


Sábado, 14 de Fevereiro de 2004




Venerados Irmãos
Ilustres Senhores
Carissimos Irmãos e Irmãs!

1. É com alegria que vos recebo a todos e vos dou as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo e agradeço, antes de tudo, os Bispos da Conferência Episcopal Eslovaca, que promoveram esta peregrinação nacional. Saúdo, em particular, os Senhores Cardeais Ján Chryzostom Korec e Josef Tomko, bem como D. Frantisek Tondra, ao qual agradeço as gentis palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos. Exprimo ao Senhor Presidente da República viva gratidão pela sua presença e pelas calorosas palavras de saudação.

2. Por três vezes, durante o meu Pontificado, a divina Providência me concedeu visitar a Eslováquia: em 1990, pouco depois da queda do regime comunista, em 1995 e no ano passado, por ocasião do décimo aniversário da proclamação da República e da instituição da Conferência Episcopal Eslovaca.

Hoje, fostes vós que viestes para me restituir a visita que pude realizar há cinco meses e da qual conservo uma profunda recordação. Quisestes fazer coincidir a vossa estadia em Roma com a festa dos Santos Cirilo e Metódio, Padroeiros da Eslováquia e Co-Padroeiros da Europa. Este feliz contexto litúrgico permite evidenciar os antigos vínculos de comunhão que unem a Igreja que está na vossa terra com o Bispo de Roma. Ao mesmo tempo, o testemunho destes grandes apóstolos dos eslavos constitui uma forte chamada a redescobrir as raízes da identidade europeia do vosso povo, raízes que partilhais com as outras nações do Continente.

3. Tenho a alegria de vos receber junto do túmulo de São Pedro, onde viestes para confirmar a profissão daquela fé que representa o património mais rico e mais sólido do vosso povo.
Convido-vos a conservar esta fé, e a alimentá-la com a oração, uma catequese adequada e uma formação contínua. Ela não deve ser escondida, mas proclamada e testemunhada com coragem e tensão ecuménica e missionária. É isto que ensinam os Irmãos Cirilo e Metódio, arquétipos de tantos Santos e Santas que surgiram ao longo dos séculos da vossa história. Firmemente ancorados na cruz de Cristo, eles puseram em prática aquilo que o Mestre divino tinha ensinado aos discípulos desde o início da sua pregação: "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo!" (Mt 5,13 Mt 5,14).

4. Ser "sal" e "luz" significa que deveis fazer resplandecer a verdade evangélica nas opções pessoais e comunitárias de cada dia. Significa manter inalterada a herança espiritual dos Santos Cirilo e Metódio contrastando a tendência difundida de se adaptar a modelos homologados e uniformizados. A Eslováquia e a Europa do terceiro milénio vão-se enriquecendo com muitíssimos contributos culturais, mas seria prejudicial esquecer que o Cristianismo contribuiu de modo determinante para a formação do Continente. Vós, queridos Eslovacos, ofereceis o vosso significativo contributo para a desejada construção da unidade europeia, fazendo-vos intérpretes daqueles valores humanos e espirituais que deram sentido à vossa história. É indispensável que estes ideais por vós vividos com coerência continuem a orientar uma Europa livre e solidária, capaz de harmonizar as suas diversas tradições culturais e religiosas.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, ao renovar-vos a expressão da minha gratidão pela vossa visita, permiti que, ao despedir-me de vós, vos faça como recomendação o mesmo convite feito por Cristo a Simao Pedro: "Duc in altum Faz-te ao largo" (Lc 5,4). É uma exortação que sinto ressoar constantemente no meu coração. Esta manhã dirijo-a a vós.

5. Povo de Deus peregrino na Eslováquia, faz-te ao largo e vai em frente neste novo milénio, mantendo o olhar fixo em Cristo. Maria, a Virgem Mãe do Redentor, seja a estrela do teu caminho. Protejam-te os teus venerados Padroeiros Cirilo e Metódio juntamente com muitos outros heróis da fé, alguns dos quais pagaram com o sangue a sua fidelidade ao Evangelho.

Com estes sentimentos, concedo de coração a vós, aos vossos familiares e a todo o Povo eslovaco uma especial Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE OPOLE


(POLÓNIA)


Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2004




Excelência
Senhor Reitor Magnífico
Ilustres Senhores e Senhoras

Agradeço quer a benevolência que me manifestastes com a vossa visita ao Vaticano, quer o conferimento à minha pessoa do título de Doutor honoris causa da vossa Universidade. Este gesto tem para mim uma eloquência muito particular, pois coincide com o décimo aniversário da existência da Universidade de Opole. Já se estão a completar dez anos da histórica unificação da Escola Superior de Pedagogia e do Instituto Teológico Pastoral, que deu início à Universidade de Opole com a Faculdade de Teologia. Quando dei o meu consentimento à instituição daquela Faculdade e à sua inserção nas estruturas de uma Universidade estatal, tinha a consciência de que o nascimento daquele Ateneu era muito importante para a terra de Opole. Sinto-me feliz porque no espaço deste decénio a Universidade se está a desenvolver e a tornar-se um dinâmico centro de pesquisa, onde milhares de jovens podem adquirir a ciência e a sabedoria.

Dou graças a Deus pelo facto de que a Universidade como disse o Arcebispo coopera com a Igreja na obra de integração da sociedade da terra de Opole. Sei que está a fazer isto da maneira que lhe é própria. Se a Igreja anima os processos de unificação com base na fé comum, os valores espirituais e morais comuns, a própria esperança e a mesma caridade que sabe perdoar, por seu lado a Universidade possui para esta finalidade meios próprios, de particular valor, que apesar de crescer sobre o mesmo fundamento, tem carácter diverso poder-se-ia até dizer um carácter mais universal. Dado que esses meios se baseiam no aprofundamento do património da cultura, do tesouro do saber nacional e universal e sobre o desenvolvimento de vários ramos da ciência, são acessíveis não só a quantos partilham o mesmo Credo, mas também a todos aqueles que têm convicções diversas. É um facto muito importante. Com efeito, se falamos da integração da sociedade, não podemos compreendê-la no sentido do anulamento das diferenças, da unificação do modo de pensar, do esquecimento da história muitas vezes marcada por acontecimentos que originavam divisões mas como uma busca perseverante daqueles valores que são comuns aos homens, que têm raízes diversas, uma história diferente e, como resultado disto, uma própria visão do mundo e das referências à sociedade na qual eles têm que viver.

A Universidade, criando as possibilidades para o desenvolvimento das ciências humanísticas, pode servir de ajuda para uma purificação da memória que não esqueça as faltas e as culpas, mas permita perdoar e pedir perdão, e depois, abrir a mente e o coração à verdade, ao bem e à beleza, valores que constituem a riqueza comum e que devem ser concordemente cultivados e desenvolvidos. Também as ciências podem ser úteis à obra da união. Parece até que, graças ao facto que elas estão livres das premissas filosóficas e especialmente das ideológicas, podem realizar essa tarefa de modo mais directo. Sim, podem surgir diferenças em referência à avaliação ética das pesquisas e não devemos ignorá-las. Contudo, se os pesquisadores reconhecem os princípios da verdade e do bem comum, não se recusarão em colaborar para conhecer o mundo com base nas mesmas fontes, em métodos semelhantes e no fim comum que é submeter a terra, em sintonia com a recomendação do Criador (cf. Gn Gn 1,28).

Hoje, fala-se muito das raízes cristãs da Europa. Se as catedrais, as obras de arte, de música e de literatura são os seus sinais, num certo sentido elas falam em silêncio. As Universidades, ao contrário, podem falar em voz alta. Podem falar com a linguagem contemporânea, compreensível a todos. Sim, pode acontecer que esta voz não seja escutada por quantos estão entontecidos pela ideologia do laicismo no nosso continente, mas isto não dispensa os homens de ciência, fiéis à verdade histórica, da tarefa de dar testemunho através de um sólido aprofundamento dos segredos da ciência e da sabedoria, que cresceram no terreno fértil do cristianismo.

Ut ager quamvis fertilis sine cultura fructuosus esse non potest, sic sine doctrina animus (Cícero, Tusculanae disputationis, II, 4) Assim como a terra, mesmo sendo fértil, não pode dar frutos se não for cultivada, o mesmo acontece à alma sem a cultura. Cito estas palavras de Cícero, para expressar a gratidão por aquela "cultivação do espírito" que a Universidade de Opole está a desenvolver há dez anos. Faço votos por que a esta grande obra seja dada continuidade para o bem da terra de Opole, da Polónia e da Europa. Que a colaboração de todas as faculdades do vosso ateneu, inclusive a Faculdade de Teologia, sirva a todos os que desejam desenvolver a própria humanidade com base nos nobres valores espirituais.

Para este esforço abençôo de coração a vós aqui presentes, todos os Professores e os Estudantes da Universidade de Opole.




DIscursos João Paulo II 2004