DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MIROSLAV PALAMETA


NOVO EMBAIXADOR DA BÓSNIA E HERZEGÓVINA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS



Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2004



Senhor Embaixador

1. É-me grato receber as Cartas Credenciais mediante as quais a Presidência da Bósnia e Herzegovina o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé.

Ao dar-lhe as boas-vindas, agradeço-lhe sinceramente as amáveis palavras que Vossa Excelência desejou dirigir-me. Além disso, desejo exprimir a minha deferente saudação aos três membros da mesma Presidência. Saúdo, outrossim, os povos que constituem os outros habitantes da Bósnia e Herzegovina, todos igualmente próximos do meu coração e presentes nas minhas orações.

2. O amor para com tais populações impeliu-me a ir em peregrinação à Bósnia e Herzegovina, em Abril de 1997 e em Junho de 2003. Dou graças a Deus, que tornou possível estas duas Visitas inesquecíveis, mais úteis do que nunca para me dar conta das dificuldades e dos sofrimentos causados pelos recentes acontecimentos bélicos, e para dar testemunho da minha proximidade solidária de quantos continuam, hoje, a pagar as consequências disto.

Senti estas viagens como uma exigência da minha missão pastoral para transmitir a cada um a mensagem do amor, da reconciliação, do perdão e da paz. Desejei confirmar os meus irmãos católicos na fidelidade ao Evangelho, para que continuem a ser «construtores da esperança», juntamente com os outros, que consideram a Bósnia e Herzegovina como a sua pátria. Somente a paz na justiça e o respeito recíproco, só a promoção do bem comum num clima de liberdade autêntica são condições profícuas para construir um futuro melhor para todos.

De resto, a partir do começo das hostilidades, no início da década de 90, a Sé Apostólica comprometeu-se a instaurar condições de legalidade e de paz nessa região. Senhor Embaixador, «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias» (cf. Gaudium et spes, GS 1) dos habitantes dessa parte da Europa encontraram sempre um eco no coração do Papa.

3. Numerosos são os problemas e os desafios a enfrentar nos planos económico, social e político. Penso, em primeiro lugar, na questão ainda a resolver dos prófugos e dos refugiados da região de Banja Luka, de Posanska Posavina e de outras regiões da Bósnia e Herzegovina, que esperam entrar nas suas terras em plena segurança para ali levar uma vida digna. Estes nossos irmãos e irmãs não podem ser abandonados, nem se podem desliludir as suas esperanças. Quanto mais o tempo passa, tanto mais urgente se torna o dever de dar uma resposta às suas expectativas legítimas: o seu sofrimento interpela a nossa solidariedade.

Eventuais situações de injustiça e de marginalização devem ser enfrentadas e resolvidas, garantindo a cada Povo da Bósnia e Herzegovina os respectivos direitos e deveres, assegurando-lhes iguais oportunidades em todos os âmbitos da vida social, através de estruturas democráticas capazes de impedir a tentação de uns prevaricarem em relação aos outros. Isto exige um compromisso constante e sincero em prol da democracia e do seu desenvolvimento harmonioso, consciente de que a democracia só pode ser promovida através de uma obra constante de educação e que requer a adesão a uma património comum de valores éticos e morais, além de uma atenção incessante às necessidades e às aspirações legítimas dos indivíduos, das famílias e dos grupos sociais. A democracia deve construir-se com tenacidade paciente, no dia-a-dia, utilizando instrumentos e métodos cada vez mais dignos e respeitadores de uma sociedade civil.

4. Encorajo a Bósnia e Herzegovina a percorrer sem hesitar o caminho da paz e da justiça. Ao mesmo tempo, gostaria de recordar que para garantir os direitos dos indivíduos e dos grupos é indispensável uma igualdade efectiva de todos perante a lei e um respeito concreto do próximo. A este propósito, é oportuno criar as condições para um perdão sincero e para uma reconciliação genuína, libertando a memória dos rancores e dos ódios nascidos das injustiças padecidas e dos preconceitos construídos artificialmente.

Esta grande tarefa exige a colaboração efectiva e o compromisso sério de todos os componentes da sociedade, inclusive dos responsáveis políticos. Consciente da sua missão no mundo, a Igreja já fez muito neste sentido e continuará a colaborar com plena disponibilidade.

Sem dúvida, não se podem ignorar as diferenças existentes; pelo contrário, é preciso respeitá-las e ter a devida consideração pelas mesmas, fazendo com que elas não se transformem em pretextos para contendas ou, pior ainda, para conflitos, mas sejam consideradas como um enriquecimento comum. As pessoas que ocupam lugares de responsabilidade a vários níveis são chamadas a empenhar-se em maior medida para resolver os problemas que afligem as populações locais, com soluções vantajosas para todos, colocando no centro da atenção o homem, a sua dignidade e as suas exigências legítimas. Este é o desafio de uma sociedade multiétnica e multicultural, como é precisamente o caso da Bósnia e Herzegovina.

5. Apesar da persistência de não poucas dificuldades, as populações da Bósnia e Herzegovina continuam a alimentar a esperança de poder resolver os problemas actuais, também graças à ajuda da Comunidade internacional, que até agora tem desempenhado um papel de grande relevo. A Bósnia e Herzegovina deseja unir-se aos outros países europeus para edificar uma casa comum. Que esta expectativa se realize quanto antes. Possa essa região da Europa, que sofreu durante vários séculos, oferecer a sua contribuição peculiar para o processo em acto da integração europeia com direitos e deveres iguais.

A Santa Sé contribui para este caminho de unificação e formula votos a fim de que, graças ao concurso de todos, se consiga construir na Europa uma grande família de povos e de culturas. Com efeito, a Unidade da Europa não constitui apenas a ampliação das suas fronteiras, mas o crescimento solidário no respeito por todas as tradições culturais, no empenhamento em favor da justiça e da paz no continente e no mundo inteiro.

6. Senhor Embaixador, desejei transmitir-lhe estes pensamentos, que me estão particularmente a peito, no momento em que Vossa Excelência assume o alto cargo de Representante da Bósnia e Herzegovina junto da Santa Sé. Gostaria de lhe assegurar que os meus colaboradores estarão disponíveis para lhe oferecer toda a ajuda no cumprimento da sua nobre missão.

Peço que transmita aos membros da Presidência, às outras Autoridades e aos Povos da Bósnia e Herzegovina, os meus bons votos de um progresso na paz e na justiça, acompanhado da certeza de uma oração diária, para que Deus abençoe todos por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR CARLOS LUÍS CUSTER


NOVO EMBAIXADOR DA ARGENTINA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 28 de Fevereiro de 2004




Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência, por ocasião da entrega das Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Argentina junto da Santa Sé, neste acto que me oferece também a oportunidade para lhe expressar as minhas cordiais boas-vindas e, ao mesmo tempo, os melhores votos para o desempenho da elevada responsabilidade que o seu governo lhe confiou.

Agradeço as amáveis palavras que me dirigiu, com que se fez porta-voz do propósito do Presidente da Nação, Dr. Nestor Kirchner, e do seu governo, de promover as relações quer com esta Sé Apostólica, quer com a Igreja local, na perspectiva de numerosos objectivos comuns e de vasto alcance.

Peço-lhe que transmita ao Senhor Presidente a minha cordial saudação e que lhe comunique a minha estima e proximidade ao povo argentino, que deu e continua a dar numerosas demonstrações de carinho e de adesão ao Sucessor de Pedro.

2. Apraz-me constatar os bons relacionamentos diplomáticos entre a Nação argentina e a Santa Sé, fundamentados no respeito e na estima recíprocos, na vontade de cooperação leal a partir da autonomia das próprias competências e na busca do bem comum integral das pessoas e dos povos. Além de constituírem uma base institucional garantida, eles são como que um reflexo dos laços históricos e espirituais que unem o povo argentino, de profundas raízes católicas, à Cátedra de Pedro.

É precisamente neste ano que se comemora uma das manifestações mais significativas do espírito cristão dos argentinos, que foi a inauguração do monumento a Cristo Redentor nos píncaros andinos confinantes com o Chile. Se nessa época isto foi uma expressão de confiança na ajuda divina, para remover graves obstáculos que se apresentavam à vida nacional, a solenidade com que hoje se celebra o centenário é um grato motivo de esperança, uma vez que faz reavivar aquela fé jubilosa e projecta para o futuro o compromisso de continuar a favorecer os valores inspirados no Evangelho e que contribuem decididamente para construir uma sociedade mais pacífica, solidária e reconciliada, em que se pretende aperfeiçoar cada vez mais as condições de vida de todos os cidadãos, sem qualquer excepção.

3. No marco destas relações, que se propõem o bem integral de um só povo, a Igreja contribui com o que é próprio da sua missão, favorecendo assim também o bem-estar das nações. Alenta o amor ao próximo que, por sua vez, é uma fonte segura de desenvolvimento autêntico, promove atitudes fraternais, que constituem o fundamento sólido de toda a convivência pacífica, ou inculca nas consciências o respeito rigoroso pela dignidade inata da pessoa e pelos direitos humanos, base de uma ordem social verdadeiramente justa.

A Argentina é um testemunho singular dos frutos que se produzem pelas relações cordiais nos diversos âmbitos e o espírito de colaboração entre a Igreja e as nações. Nalgumas ocasiões, para levar a bom termo, ao longo do caminho do diálogo e do entendimento, questões candentes que põem em perigo o valor inestimável da paz. Noutras vezes, para diminuir os factores externos que influem em graves conjunturas económicas, sem por isso deixar de encorajar as pessoas que as padecem, a desenvolver a sua grande capacidade de trabalho e de imaginação para as ultrapassar, sem se eximir das responsabilidades e sem poupar esforços.

Neste contexto, não se pode esquecer o ingente trabalho de numerosas pessoas e instituições católicas, que serviram e ainda servem a sociedade argentina nos campos mais diversificados, como a cultura e a educação, a promoção e o cuidado dos mais necessitados ou, inclusivamente, do trabalho e das várias formas de participação no bem comum da Nação.

Muitas destas formas de cooperação no bem comum do País adquirem um relevo singular, precisamente nos momentos difíceis em que, por diversos motivos, aumenta a incerteza, cresce a necessidade ou definha a esperança. Por isso, salvaguardar e ajudar as instituições que levam a cabo tarefas humanitárias ou de promoção humana e social são medidas próprias de um poder público claro e comprometido em prol do bem de todos os cidadãos.

4. No cumprimento da sua missão, a Igreja não se cansa no seu esforço em vista de convidar todos os homens e mulheres de boa vontade para construir uma sociedade fundamentada em valores essenciais e irrenunciáveis para uma ordem nacional e internacional digna do ser humano.

Um deles é, sem dúvida, o valor da própria vida humana, sem o qual não só se lesa o direito de cada ser humano, desde o momento da sua concepção até ao seu termo natural, e que ninguém pode arrogar-se a faculdade de violar, mas limita-se também o próprio fundamento de toda a convivência humana. Com efeito, é necessário perguntar-se que sentido tem o esforço para melhorar as formas de convivência, se não se garante a própria vida. É preciso, pois, que este valor seja salvaguardado com esmero, impedindo prontamente as múltiplas tentativas de degradar, mais ou menos veladamente, o bem primordial da vida, transformando-o num mero instrumento para obter outras finalidades.

Outro pilar da sociedade é o matrimónio, união de um homem e de uma mulher, aberto à vida, que dá lugar à instituição natural da família. Ela não só é anterior a qualquer outra ordem mais ampla de convivência humana, mas também lhe oferece a base, dado que ela mesma é um tecido primário de relações íntimas, orientadas pelo amor, pela ajuda mútua e pela solidariedade. Por isso, a família tem direitos e deveres próprios, que hão-de ser exercidos no âmbito da sua própria autonomia. Cabe às legislações e às medidas políticas de sociedades mais vastas, segundo o princípio de subsidiariedade, a tarefa de garantir escrupulosamente tais direitos e de ajudar a família nos seus deveres, quando eles sobrepujam a sua capacidade de os cumprir somente com os meios de que dispõem.

A propósito destes aspectos, parece-me oportuno recordar que o legislador, e de maneira particular o legislador católico, não pode contribuir para formular ou aprovar leis contrárias às «normas primordiais e essenciais que regulam a vida moral», expressão dos valores mais excelsos da pessoa humana e, em útlima análise, procedentes de Deus, Legislador supremo (cf. Discurso do Papa, por ocasião do Jubileu dos governantes, parlamentares e políticos, 4 de Novembro de 2000, n. 4).

5. É preciso recordar isto, numa época em que não faltam tentativas de reduzir o matrimónio a um simples contrato individual, de características muito diferentes das que são próprias do matrimónio e da família, e que terminam por levar à degradação da mesma, como se se tratasse de uma associação opcional dentro do tecido social. Por isso, hoje talvez mais do que nunca, as autoridades públicas devem tutelar e favorecer a família, núcleo fundamental da sociedade, em todos os seus aspectos, conscientes de que assim se promove um desenvolvimento social justo, estável e promissor.

A Argentina foi e é particularmente sensível a tais aspectos, convicta de que se trata de questões em que se decide o futuro de toda a humanidade. Por isso, desejo expressar o meu agradecimento pelos esforços realizados em favor do matrimónio, por ocasião de alguns foros internacionais, convidando ao mesmo tempo a continuar a percorrer este caminho.

6. Senhor Embaixador, reitero-lhe os meus melhores votos aos funcionários da Embaixada do seu País junto da Santa Sé, enquanto peço a Nossa Senhora de Luján, tão próxima dos argentinos, que ilumine o seu trabalho como fundamento da cordialidade entre o Papa e esta nobre Nação. Peço também a Nossa Senhora que anime o esforço levado a cabo pelas Autoridades e pelos cidadãos, em ordem a construir uma sociedade mais próspera, equitativa e aberta aos valores do espírito, contribuindo assim não apenas para o bem da sua própria Pátria, mas também para a pátria dos povos irmãos do cone sul-americano e de toda a comunidade internacional.

Com estes bons votos, desejo-lhe uma feliz estada em Roma, enquanto lhe concedo a Bênção Apostólica, que faço extensiva à sua ilustre família e aos seus colaboradores.



                                                                               Março de 2004

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO


«JUSTIÇA E PAZ» POR OCASIÃO


DE UMA CONFERÊNCIA SOBRE O TEMA


«O EMPRESÁRIO: RESPONSABILIDADE


SOCIAL E GLOBALIZAÇÃO»


Ao meu venerável Irmão Card. Renato Raffaele MARTINO
Presidente do Pontifício Conselho «Justiça e Paz»

Foi para mim um prazer ser informado da Conferência sobre o tema: «O empresário: responsabilidade social e globalização», que se está a realizar sob os auspícios do Pontifício Conselho «Justiça e Paz» e da União Cristã Internacional dos Empresários. Pedir-lhe-ia que tivesse a amabilidade de transmitir a todos os presentes as minhas calorosas saudações e bons votos.

Espero que esta Conferência venha a constituir uma fonte de inspiração e de renovado compromisso para os empresários cristãos, nos seus esforços em vista de dar testemunho dos valores do Reino de Deus no mundo do comércio. Efectivamente, o seu trabalho está arraigado no domínio e na administração que Deus confiou ao homem sobre a terra (cf. Gn Gn 1,27) e encontra a sua expressão singular na promoção de iniciativas económicas criativas, com uma enorme potencialidade de beneficiar os outros e de elevar o seu padrão de vida material. Dado que «nenhuma actividade humana, nem sequer na ordem temporal, pode subtrair-se ao império de Deus» (Lumen gentium, LG 36), os cristãos que ocupam lugares de responsabilidade no mundo empresarial são exortados a unir a busca legítima do lucro a uma solicitude mais profunda pela difusão da solidariedade e à eliminação do flagelo da pobreza, que continua a afligir um elevado número de membros da família humana.

A presente Conferência realiza-se num período em que o sector financeiro e comercial está a tornar-se cada vez mais consciente da necessidade de práticas éticas sólidas, garantindo que as actividades comerciais continuem a ser sensíveis às suas dimensões fundamentalmente humanas e sociais. Visto que a busca do lucro não constitui o único objectivo de tais actividades, o Evangelho exorta os empresários e as empresárias a manifestar respeito tanto pela dignidade e criatividade dos seus empregados e clientes, como pelas exigências do bem comum. A nível pessoal, eles são interpelados a desenvolver virtudes importantes, tais como «a diligência, a laboriosidade, a prudência ao assumir riscos razoáveis, a confiança e a fidelidade nas relações interpessoais, a coragem na tomada de decisões difíceis e dolorosas» (Centesimus annus CA 32). Num mundo tentado por concepções consumistas e materialistas, os empresários cristãos são chamados a confirmar a prioridade do «ser« sobre o «ter».

Entre as importantes questões éticas que, actualmente, se apresentam à comunidade empresarial, encontram-se as que estão ligadas ao impacto do mercado e da publicidade a nível global, sobre as culturas e os valores dos diversos países e povos. Uma globalização sadia, levada a cabo no respeito pelos valores das diferentes nações e grupos étnicos, pode contribuir de maneira significativa para a unidade da família humana e tornar possíveis formas de cooperação que sejam não apenas económicas, mas também sociais e culturais. A globalização deve tornar-se mais do que simplesmente outro nome da relativização absoluta dos valores e da homogeneização dos estilos de vida e das culturas. E para que isto possa acontecer, os líderes cristãos, inclusivamente no âmbito empresarial, são desafiados a dar testemunho do poder libertador e transformador da verdade cristã, que nos inspira a colocar todos os nossos talentos, os nossos recursos intelectuais, as nossas capacidades de persuasão, a nossa experiência e as nossas habilidades ao serviço de Deus, do nosso próximo e do bem comum da família humana.

Com estes sentimentos, formulo os meus sinceros bons votos pelas deliberações da Conferência, enquanto invoco sobre todos os seus participantes as bênçãos divinas da sabedoria, da alegria e da paz.

Vaticano, 3 de Março de 2004.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA,


SUA EX.CIA O SENHOR JOHANNES RAU


Sábado, 6 de Março de 2004





Ilustre Senhor Presidente

1. É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, bem como à sua Esposa e ao Séquito. Vossa Exceclência veio visitar-me para dar expressão das relações de cordialidade entre a República Federal da Alemanha e a Santa Sé. Senhor Presidente, queira aceitar a minha sincera gratidão por isto!

2. A Alemanha apresenta-se à Europa e ao mundo com a riqueza dos seus Estados. A estrutura federal da República, em que a multiplicidade da tradição cultural das suas regiões se une num conjunto tanto harmonioso quanto rico de estímulos, por algumas das suas características fundamentais pode ser considerada um modelo dos povos unidos da Europa. Sem dúvida, da herança espiritual-cultural comum do continente faz parte também o cristianismo. Os Estados alemães são ricos de extraordinárias manifestações da fé cristã, que também hoje oferece uma orientação e uma dimensão à vida de numerosas pessoas, modelando assim a convivência entre as mesmas. Precisamente os cristãos comprometidos na política compartilham a responsabilidade para que esta herança preciosa possa continuar a fecundar abundantemente a sociedade na Alemanha e em toda a Europa.

3. Hoje em dia, a Alemanha goza de uma boa reputação em todas as partes do mundo. Isto depende de modo não secundário do facto de que os alemães estão dispostos a fazer participar no seu bem-estar inclusivamente as pessoas dos países economicamente mais pobres. Assim, desde o início a República Federal colocou à disposição meios notáveis em vista de contribuir para o desenvolvimento. A isto, acrescenta-se a ajuda generosa que o Estado alemão oferece, inclusive através das organizações assistenciais eclesiais, a inúmeros projectos que merecem ser promovidos – e por conseguinte também às pessoas interessadas – nos países menos abastados. São numerosos aqueles que não tiveram a oportunidade de experimentar com gratidão o facto de que os alemães não pensam exclusivamente neles mesmos e nos seus próprios problemas, mas atribuem também importância à justiça, à solidariedade e à educação, não apenas na sua pátria, mas em todas as regiões do mundo.

4. Ilustre Senhor Presidente! À sua visita hodierna, uno os bons votos e a confiança de que, tanto a cooperação consolidada entre o Estado e a Igreja na Alemanha, como os bons relacionamentos entre a República Federal, os seus Estados e a Santa Sé, possam continuar a ser aprofundados. Imploro de coração, para Vossa Excelência pessoalmente, para os seus colaboradores, para todos os habitantes da República Federal da Alemanha, bem como para a sua família, as abundantes bênçãos de Deus.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO FINAL DA SEMANA DE EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS


COM A CÚRIA ROMANA


Sábado, 6 de Março de 2004






Estimado Professor, é-me grato expressar-te, também em nome de todos os participantes, a mais cordial gratidão no termo dos Exercícios Espirituais, durante os quais tu nos orientaste na contemplação do mistério de Cristo, propondo-nos profundas meditações acerca deste tema: «Seguindo-te a ti, Luz da vida».

Penso com profundo apreço no compromisso de preparação, remota e próxima, que isto comportou para a tua pessoa. Eu e os meus colaboradores da Cúria Romana pudemos beneficiar das reflexões que tu apresentaste gradualmente, com originalidade de intuições e vastidão de conhecimentos teológicos, bíblicos e espirituais. Surpreendeu-nos, outrossim, a paixão com que desejaste expor estes conteúdos, fazendo continuamente referência às experiências ministeriais da vida de cada dia. Obrigado porque, com o estilo que caracteriza a tua investigação teológica e a tua actividade pastoral, nos ofereceste estímulos preciosos à nossa mente e ao nosso coração, em vista de um seguimento cada vez mais comprometedor daquele que é a Luz do mundo.

Desejo manifestar-te também um reconhecimento particular pela tonalidade amistosa e orante que quiseste imprimir no nosso itinerário, ajudando-nos a elevar os espíritos a Deus, naquela atitude contemplativa, imbuída de fé e de amor, para a qual não cesso de convidar o Povo de Deus, exortando as comunidades cristãs a resplandecer no meio do mundo, sobretudo através da «arte da oração» (cf. Novo millennio ineunte NM 32).

Por tudo isto, saberá recompensar-te o Senhor, a quem confio a tua pessoa e o serviço eclesial que tu desempenhas com zelo e fidelidade. A Virgem Santa, que tu nos ajudaste a contemplar no contexto da nossa peregrinação terrestre rumo à pátria celestial, vele sobre ti e sobre todas as tuas actividades apostólicas.

Por fim, dirijo uma saudação carinhosa a todos vós, que quisestes participar nestes Exercícios, transmitindo um pensamento de reconhecimento também àqueles que colaboraram para a realização dos mesmos, cuidando da liturgia e dos cantos.

Confio cada um de vós à protecção celestial da Virgem Santíssima, enquanto concedo a todos vós a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Terça-feira, 9 de Março de 2004



Eminências
Excelências
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo

É-me grato saudar-vos, uma vez mais, a vós membros do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, por ocasião do vosso Encontro plenário. Quero agradecer ao vosso Presidente, o Arcebispo D. John Foley, as suas amáveis palavras.

Dado que este vosso Encontro anual se celebra na circunstância do XL aniversário do Decreto do Concílio Vaticano II sobre os Instrumentos de Comunicação Social, e de fundação desse mesmo Dicastério, bem como do XL aniversário de fundação do vosso Pontifício Conselho, encorajo-vos a inspirar-vos no documento conciliar para dar continuidade à vossa missão de ajuda àqueles que trabalham neste campo, a incutir-lhe «um espírito humano e cristão» (Inter mirifica, IM 3). Desta forma, os mass media encontrar-se-ão numa posição mais privilegiada para haurir da sua «enorme potencialidade positiva para promover valores humanos e familiares sólidos e, desta maneira, contribuir para a renovação da sociedade» (Mensagem para o 38º Dia Mundial das Comunicações, n. 6).

Invoco a luz orientadora do Espírito Santo sobre vós e o vosso trabalho, enquanto vos concedo a todos a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO GRUPO DE BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DOS PAÍSES BAIXOS EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 12 de Março de 2004




Senhor Cardeal
Queridos Irmãos no Episcopado!

1. Sinto-me feliz em vos receber, Bispos dos Países Baixos, que viestes a Roma como peregrinos aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, para viver uma bonita experiência de comunhão fraterna com o Sucessor de Pedro e entre vós. Faço votos por que esta visita constitua para vós o apoio e a ocasião para um dinamismo renovado, para que desempenheis sempre com coragem e confiança o cargo do ministério apostólico nas vossas dioceses. Agradeço ao Senhor Cardeal Simonis as suas palavras, mediante as quais me expressou as vossas preocupações de pastores e as vossas esperanças para o futuro.

2. Como é evidenciado nos vossos relatórios quinquenais, o vosso país conhece desde há trinta anos um fenómeno intenso de secularização, que atingiu plenamente a Igreja católica e que infelizmente continua a marcar a sociedade holandesa, "a tal ponto que a referência evangélica parece desaparecer de certas opções e orientações dos indivíduos e da vida pública, sobretudo no âmbito ético" (Mensagem para o 150° aniversário do restabelecimento da hierarquia episcopal nos Países Baixos, n. 2). Ao mesmo tempo, as vossas dioceses e comunidades cristãs que as constituem enfrentaram uma debilitação notável e contínua, que diz respeito ao número dos fiéis e dos Pastores, e que representa para vós objecto de grave preocupação. Em 1980 eu convoquei em Roma um Sínodo especial dos Bispos dos Países Baixos para manifestar a minha solicitude pela vossa Igreja e para fortalecer nela os vínculos "da comunhão da Igreja; comunhão, ao mesmo tempo, local e universal" (Homilia da Missa conclusiva, n. 3). Face às persistentes dificuldades, antigas e novas, poderíamos ser tentados pelo desencorajamento ou por um fechamento, como fizeram também os discípulos (cf. Lc Lc 24,17-21). Como recordei recentemente, (cf. Pastores dabo vobis, PDV 26), é a palavra de Cristo ressuscitado que nos indica da maneira mais clara o caminho a seguir: "Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova" (Mt 16,15). De facto, "a Boa Nova da esperança, entregue à Igreja e por ela assimilada, pede para ser anunciada e testemunhada todos os dias. Eis a vocação própria da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares" (Ecclesia in Europa, n. 45).

3. A necessidade de anunciar a Boa Nova do amor de Cristo é particularmente evidente entre os jovens, que já não são orientados por pontos de referência válidos, e que vivem numa sociedade que se caracteriza cada vez mais pelo relativismo moral e pelo pluralismo religioso. É necessário que, juntamente com as famílias, as paróquias e as escolas católicas garantam, por seu lado, a transmissão da herança cristã, não só oferecendo às crianças e aos jovens os conhecimentos necessários para assimilar e compreender a doutrina católica, mas proporcionando-lhes também, através do testemunho quotidiano, o exemplo de uma vida cristã exigente, alimentada pelo amor de Deus e do próximo. Nesta perspectiva, convido a instrução católica a conservar e a fortalecer a sua própria identidade, harmonizando-a com as exigências sempre novas da educação no seio de uma sociedade pluralista, no respeito do próximo, mas sem renunciar ao que constitui a sua riqueza original. Faz parte da vossa responsabilidade de Pastores fazer com que isto se realize, encorajando todos os professores a trabalhar neste sentido.

4. Ser testemunhas de Cristo com as palavras e as acções é uma responsabilidade partilhada por todos os baptizados e que requer diversas condições. Como se pode oferecer aquilo que não se possui? Como se pode falar de Cristo e suscitar a vontade de o conhecer se não somos, primeiro, seus discípulos? Para anunciar o Evangelho temos todos necessidade de voltar a partir de Cristo (cf. Novo millennio ineunte ), e haurir a nossa força apostólica da fonte de água viva, que é Ele. Sinto-me feliz por tomar conhecimento de que as vossas comunidades paroquiais redescobrem a Eucaristia dominical como fundamento e centro da sua vida cristã. Curando a beleza da celebração litúrgica e preocupando-se por respeitar fielmente as normas litúrgicas estabelecidas pela Igreja, elas acolhem os ensinamentos da palavra transmitida e realizada pelos Pastores da Igreja, e alimentam-se e nutrem-se com o Pão da Vida. Como recordei a toda a Igreja, ""o Sacrifício Eucarístico, mesmo sendo sempre celebrado numa comunidade particular, nunca é celebração apenas daquela comunidade" (...). Disto deriva que uma comunidade verdadeiramente eucarística não pode fechar-se em si mesma, como se fosse auto-suficiente, mas deve manter-se em sintonia com todas as outras comunidades católicas. A comunhão eclesial da assembleia eucarística é comunhão com o próprio Bispo e com o Romano Pontífice" (Ecclesia de Eucharistia EE 39).

5. A fim de predispor melhor a Igreja que está nos Países Baixos às necessidades da missão, destes início com coragem à adaptação das instituições eclesiais, sobretudo reorganizando os serviços da vossa Conferência Episcopal e reagrupando nas vossas Dioceses as paróquias em unidades mais coerentes. Vigiai para que esta actualização não se limite apenas a uma restruturação formal, mas constitua também a ocasião para uma redescoberta do papel fundamental da paróquia e da missão própria dos fiéis que a compõem, para um melhor envolvimento de todos, em vista do anúncio do Evangelho. Convido-vos a propor aos fiéis leigos meios para alimentar a sua fé, através de uma vida sacramental forte, da leitura frequente da Palavra de Deus e do aprofundamento dos ensinamentos que o Magistério oferece a todos. Estou consciente de que muitos fiéis estão comprometidos como voluntários no serviço da comunidade cristã, na catequese e no cuidado pastoral dos jovens, nos serviços aos doentes. Muitos deles desempenham por um determinado período de tempo uma missão que lhes é confiada pelo Bispo, trabalhando ao lado dos sacerdotes e dos diáconos. A Igreja apraz-se por isto, porque precisa da colaboração de todos para desempenhar a sua missão. Como Bispos, sabei chamar e formar autênticos responsáveis e demonstrar-lhes o vosso apoio, sobretudo propondo-lhes uma formação e um acompanhamento espirituais adequados. Possam estas pessoas sentir-se enviadas e apoiadas pela Igreja diocesana, respeitando as diferenças e a necessária complementaridade dos papéis na comunidade cristã, da qual o sacerdote é pastor (cf. 1Co 12,12-30)! Em muitas das vossas paróquias, hoje, as assembleias assumiram um rosto mais cosmopolita graças à presença dos fiéis imigrados. Encorajo-vos a acolhê-los como irmãos, para que contribuam com a sua pedra para a construção da casa comum, pondo o seu dinamismo ao serviço de todos, e para que este intercâmbio de dons, que é sempre uma riqueza para a Igreja, reavive em todos a consciência da fraternidade cristã.

6. Preocupai-vos por dar às vossas comunidades os sacerdotes de que têm necessidade, apesar da crise das vocações que continua a atingir gravemente o vosso País. Para esta finalidade fizestes esforços notáveis para promover uma pastoral vocacional mais vigorosa nas vossas Dioceses, e para oferecer aos futuros pastores uma formação humana, teológica, espiritual e pastoral de qualidade. Não poupeis esforços neste âmbito, mesmo se os investimentos feitos nas pessoas vos podem parecer muito dispendiosos num tempo em que os sacerdotes são tão necessários. Sem dúvida, o que vós preparais é o futuro da Igreja, e isto constitui uma missão absolutamente prioritária. Algumas dioceses servem-se da presença de jovens sacerdotes que vêm de outras Igrejas locais, e até de outros continentes, para realizar os seus estudos, e sentem-se felizes desta colaboração pastoral e deste "intercâmbio de dons". Mesmo se é legítimo apreciar estas partilhas, sabemos bem que cada uma das Igrejas se deve comprometer a suscitar vocações, para dar a si mesma os meios para a própria vida em Jesus Cristo, fazendo frutificar os dons que recebeu. Conto em primeiro lugar com os jovens do vosso País, para que sintam, como Pedro, a chamada do Senhor: "Não tenhas receio, de agora em diante serás pescador de homens" (Lc 5,10), e para que respondam com generosidade. Convido também as famílias a serem lugares de fé e centros de vocações, sem recear transmitir aos jovens a chamada do Senhor.

Os jovens sacerdotes são pouco numerosos nas vossas Dioceses, e com frequência são chamados a desempenhar muito cedo responsabilidades pastorais numerosas e importantes. Devem ser acompanhados no seu ministério, sobretudo através de programas de formação permanente, e devem poder contar com o seu Bispo como com um Pai (cf. Pastores dabo vobis, PDV 47), esperando também um apoio por parte da comunidade cristã que os recebe, sobretudo na colaboração com os seus irmãos e irmãs leigos comprometidos. Todos se recordem que a missão, qualquer que seja, é antes de mais um serviço a Cristo e à sua Igreja! Por conseguinte, é no amor do Senhor, que nunca abandona os seus (cf. Is Is 49,15) e que os convida a permanecer com ele (cf. Mc Mc 3,14), que eles encontrarão a força e a alegria do seu apostolado. Proporcionai-lhes os meios para esta amizade com Cristo através dos tempos de retiro, para que possam ler de novo a sua vida diante de Deus e dar graças por tudo aquilo que recebem dele no serviço generoso aos seus irmãos e irmãs!

7. Não tenhais medo de recordar a importância do testemunho da vida consagrada. Ela deixou no vosso País uma marca profunda; infelizmente, hoje, os membros das comunidades presentes são bastante idosos e elas correm o risco, em parte, de desaparecer se não se trabalhar para suscitar novas vocações. Isto exige que, nas famílias, os pais estejam atentos a suscitar uma liberdade autêntica para os seus filhos, sem os orientar demasiado cedo segundo critérios de bons êxitos meramente sociais. A escola católica deve, por sua vez, contribuir para este despertar, fazendo com que os jovens descubram, sobretudo através dos santos, o exemplo de homens e mulheres que souberam responder à chamada do Senhor e que testemunham a beleza de uma vida totalmente devotada. Isto exige também que as comunidades cristãs saibam pôr em relevo a variedade e a complementaridade das vocações, e que os jovens possam descobrir a vida consagrada, na qual se reconhecem e que corresponde às suas exigências. Exorto os religiosos e as religiosas a viver o seu carisma com fidelidade e confiança, sem recear o surgimento de comunidades religiosas mais jovens ou de novos movimentos eclesiais, que certamente podem contribuir para tornar a vida consagrada mais próxima e mais visível, e que poderiam também reavivar as comunidades mais idosas.

8. Verificais hoje nos vossos compatriotas um renovado interesse pelas questões religiosas e uma nova sede de espiritualidade que se manifesta em alguns, sobretudo nas jovens gerações. Alegro-me por isto, exortando todos os Pastores a ter em consideração estes desenvolvimentos e a propor ao Povo de Deus caminhos espirituais fortes. Faço votos por que todos os filhos da Igreja, de modo particular os fiéis leigos, tenham verdadeiramente a peito testemunhar a sua fé, levando a luz do Evangelho aos diversos sectores da vida social. Mostrem a grandeza do matrimónio e a beleza da família numa sociedade caracterizada pela renúncia aos compromissos definitivos em favor de modelos de união mais efémeros! Além disso, é importante que testemunhem a dignidade inalienável de cada pessoa humana nas realidades do trabalho e das relações sociais, assim como nas questões éticas, suscitadas continuamente pelo progresso da técnica e da pressão económica, e que dêem testemunho dos valores cristãos que contribuíram para forjar a actual Europa. Convido os fiéis leigos a adquirir a formação humana e cristã necessária para participar nos debates que animam a sociedade dos Países Baixos, num espírito de diálogo, e preocupados por fazer descobrir a riqueza da visão cristã do homem e o seu exigente apelo a superar todos os egoísmos para viver segundo o Evangelho.

9. No final do nosso encontro, exorto-vos a modelar cada vez mais a vossa acção pastoral segundo Cristo Bom Pastor (cf. Pastores gregis ). Vós, que sois "princípio e fundamento de unidade" na vossa Diocese, sede, com coragem e abnegação, as guias do rebanho, não hesitando em tomar a palavras em tempos oportunos e inoportunos, para iluminar o seu caminho e para garantir que procedam na fé! Saúdo de modo particular os sacerdotes e os diáconos, vossos colaboradores no ministério, que precisam das vossas iniciativas e do vosso estímulo, para trabalhar juntos e estreitar os vínculos da comunhão fraterna entre todos os fiéis. Que eles tenham a certeza do encorajamento do Papa e da sua oração! Além das vossas dificuldades actuais, não esqueçais a tradição missionária da vossa Igreja: também a missão ad gentes, em terras distantes, precisa de trabalhadores! Nas vossas Dioceses vivem comunidades cristãs pertencentes a outras confissões com as quais mantendes boas relações. Encaminhai-vos com passos firmes pelo caminho do ecumenismo, prosseguindo o diálogo apesar das dificuldades e encorajando as ocasiões possíveis para manifestar o nosso comum desejo de unidade. Que os fiéis católicos se mostrem aos olhos de todos como artífices de paz, preocupados por dialogar na verdade, e animados pelo respeito do homem!

Estimados Irmãos no Episcopado, acabastes de celebrar o 150° aniversário do restabelecimento da hierarquia católica nos Países Baixos, como ocasião para dar graças a Deus por todos os dons recebidos, para fortalecer os vínculos de comunhão fraterna e para vos mobilizardes em vista da missão confiada a toda a Igreja. Ao recomendar-vos à intercessão materna da Virgem Maria, estrela da Evangelização, concedo-vos a vós, assim como aos sacerdotes, aos diáconos e a todos os fiéis das vossas Dioceses, uma afectuosa Bênção Apostólica.




DIscursos João Paulo II 2004