DIscursos João Paulo II 2004

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO COMITÉ "AMERICAN JEWISH JOINT DISTRIBUTION"


Segunda-feira, 29 de Março de 2004





Distintos hóspedes

É para mim um grande prazer receber-vos, Presidente e Membros do Comité "American Jewish Joint Distribution". A vossa visita é mais um sinal dos vínculos de amizade entre o povo hebreu e a Igreja Católica, vínculos que desejamos se tornem cada vez mais fortes.

Deus criou o homem à sua imagem e dotou os seres humanos da capacidade de amar. É através do amor que realizamos o nosso destino de agir à semelhança de Deus. Deriva disto o nosso dever de nos servirmos uns dos outros de acordo com o mandamento que se encontra no Livro do Levítico: "amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor" (19, 18). Somos chamados de modo particular a servir todos aqueles que precisam da nossa ajuda para viver na segurança, na justiça e na liberdade.

Encorajo com prazer a actividade do vosso Comité Conjunto. Deus abençoe os vossos esforços e vos conceda o bom êxito de ajudar todos os que tiverem necessidade.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO


VIII FORO INTERNACIONAL DOS JOVENS PROMOVIDO


PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS


1. Desejo em primeiro lugar enviar a minha cordial saudação a todos vós, queridos estudantes, que vos reunistes nestes dias em Rocca di Papa, a fim de participar no VIII "Foro Internacional dos Jovens" sobre o tema "Os jovens e a universidade testemunhar Cristo no ambiente universitário". A vossa presença é para mim motivo de grande alegria, porque é um testemunho resplandecente do rosto universal, e sempre jovem, da Igreja. De facto, provindes dos cinco continentes e representais mais de 80 Países e 30 entre Movimentos, Associações e Comunidades internacionais.

Gostaria de saudar os Reitores e os Professores universitários presentes no Foro, bem como os Bispos, os sacerdotes e os leigos comprometidos na pastoral universitária, que nestes dias acompanharão os jovens na sua reflexão.

Desejo expressar o meu profundo apreço a D. Stanislaw Rylko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e a todos os seus colaboradores, pela realização desta feliz iniciativa. Permanece viva na minha memória a recordação das precedentes edições do Foro, organizadas em sintonia com as celebrações internacionais da Jornada Mundial da Juventude. Este ano foi decidido renovar a fórmula, atribuindo-lhe um espaço mais definido e acentuando a sua dimensão formativa com a escolha de um tema específico, destinado a aprofundar um aspecto concreto com a opção de um tema específico, destinado a aprofundar um aspecto concreto da vida dos jovens. O tema deste encontro é sem dúvida de grande actualidade e responde a uma necessidade real. Sinto-me feliz porque muitos jovens, provenientes de culturas tão ricas e diferentes, estão reunidos em Rocca di Papa para reflectir juntos, para partilhar as próprias experiências, para se infundirem reciprocamente a coragem de testemunhar Cristo no ambiente universitário.

2. Na nossa época é importante redescobrir o vínculo que une a Igreja e a Universidade. Com efeito, a Igreja não só desempenha um papel decisivo na instituição das primeiras universidades, mas foi ao longo dos séculos a sede da cultura, e ainda hoje se empenha neste sentido mediante as Universidades católicas e as diversas formas de presença no vasto mundo universitário. A Igreja aprecia a Universidade como um "daqueles lugares de trabalho, junto dos quais a vocação do homem ao conhecimento, assim como o vínculo constitutivo da humanidade com a variedade como fim do conhecimento, se tornam uma realidade quotidiana" para tantos professores, jovens pesquisadores e multidões de estudantes (Discurso à UNESCO, n. 19; em Insegnamenti, III/1 1980, pág. 1650 s.).

Queridos estudantes, na Universidade vós não sois apenas destinatários de serviços, mas os verdadeiros protagonistas das actividades que nela se desenvolvem. Não é ocasional que o período dos estudos universitários constitua uma fase fundamental da vossa existência, durante a qual vos preparais para assumir a responsabilidade de opções decisivas que orientarão todo o vosso futuro. Por este motivo é necessário que enfrenteis o percurso universitário em atitude de pesquisa das justas respostas às questões fundamentais sobre o significado da vida, da felicidade da plena realização do homem, da beleza como esplendor da verdade.

Felizmente hoje diminuiu muito a influência das ideologias e das utopias fomentadas por aquele ateísmo messiânico que tanto incidiu no passado em muitos ambientes universitários. Contudo, não faltam novas correntes de pensamento que reduzem a razão ao unicamente ao horizonte da ciência experimental e, por conseguinte, dos conhecimentos técnicos e instrumentais , para a encerrar por vezes numa visão céptica e niilista. Além de serem inúteis, estas tentativas de evitar a questão do sentido profundo da existência podem tornar-se também perigosas.

3. Mediante o dom da fé encontramos Aquele que se apresenta com estas palavras surpreendentes "Eu sou a verdade" (Jn 14,6). Jesus é a verdade da criação e da história, o sentido e o destino da existência humana, o fundamento de qualquer realidade! A vós, que acolhestes esta Verdade como vocação e certeza da vossa vida, compete demonstrar a racionalidade também no ambiente e no trabalho universitário. Então, impõe-se a pergunta quanto incide a verdade de Cristo no vosso estudo, na pesquisa, no conhecimento da realidade, na formação integral da pessoa? Pode acontecer, mesmo entre os que se professam cristãos, que alguns nas Universidades se comportem realmente como se Deus não existisse. O cristianismo não é uma simples preferência religiosa subjectiva, em última análise irracional, limitada ao âmbito privado. Como cristãos, temos o dever de testemunhar quanto afirma o Concílio Vaticano II na Gaudium et spes "a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova e faz-nos conhecer a vontade divina sobre a vocação integral do homem, orientando assim o espírito para soluções plenamente humanas" (n. 11). Devemos demonstrar que fé e razão não são inconciliáveis, aliás, "a fé e a razão são como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade" (cf. Fides et ratio, Intr. FR 1).

4. Jovens amigos! Vós sois os discípulos e as testemunhas de Cristo na Universidade. Por conseguinte, o tempo universitário seja para todos vós, um tempo de grande maturação espiritual e intelectual, que vos leve a aprofundar a vossa relação pessoal com Cristo. Mas se a vossa fé está relacionada simplesmente com fragmentos de tradição, de bons sentimentos ou de uma genérica ideologia religiosa, certamente não estareis em condições de enfrentar o impacto ambiental. Procurai, pois, permanecer firmes na vossa identidade cristã e radicados na comunhão eclesial. Alimentai-vos por isso com a oração assídua. Escolhei, sempre que seja possível, bons mestres universitários. Não permaneçais isolados em ambientes que muitas vezes são difíceis, mas participai activamente na vida das associações, dos movimentos e das comunidades eclesiais que trabalham no âmbito universitário. Aproximai-vos das paróquias universitárias e deixai-vos ajudar pelas capelanias. É preciso ser construtores da Igreja na Universidade, isto é, de uma comunidade visível que crê, reza, que diz a razão da esperança e que acolhe na caridade qualquer vestígio de bem, de verdade e de beleza da vida universitária. Tudo isto não só dentro do "campus" universitário, mas onde quer que vivam e se encontrem os estudantes. Tenho a certeza de que os Pastores não deixarão de reservar um cuidado especial aos ambientes universitários e destinarão a esta missão sacerdotes santos e competentes.

5. Queridos participantes no VIII Foro Internacional dos Jovens, estou feliz por saber que estareis na Praça de São Pedro, quinta-feira próxima, no encontro com os jovens da diocese de Roma e domingo na Missa de Ramos, quando celebraremos juntos a XIX Jornada Mundial da Juventude sobre o tema "Queremos ver Jesus" (Jn 12,21). Será a última etapa de preparação espiritual para o grande encontro de Colónia em 2005. Não é suficiente "falar" de Jesus aos jovens universitários é preciso também "mostrar-lho" através do testemunho eloquente da vida (cf. Novo millennio ineunte NM 16). Faço votos por que este encontro em Roma contribua para fortalecer o vosso amor pela Igreja universal e o vosso compromisso ao serviço do mundo universitário. Conto com cada um e cada uma de vós para transmitir às vossas Igrejas locais e aos vossos grupos eclesiais a riqueza dos dons que nestes dias intensos estais a receber.

Ao invocar a protecção da Virgem Maria, Sede da Sabedoria, para o vosso caminho, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a vós e a quantos, juntamente convosco estudantes, reitores, professores, capelães e pessoal administrativo compõem a grande "comunidade universitária".

Vaticano, 25 de Março de 2004.



                                                                              Abril de 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMUNIDADE DO PONTIFÍCIO COLÉGIO


PIO BRASILEIRO POR OCASIÃO


DO 70° ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO


1 de Abril de 2004




Senhor Reitor e Superiores
queridos alunos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro de Roma

1. É-me muito grato dar-vos as boas-vindas a este encontro com o qual quereis renovar o afeto e a adesão ao Sucessor de Pedro em coincidência com o septuagésimo aniversário de fundação do vosso Colégio. Agradeço ao Reitor, Padre Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J., as amáveis palavras que me dirigiu para manifestar-me vossos sentimentos e esperanças.

Vossa presença aqui me traz à memória a visita que realizei ao Colégio em 1982, quando celebrei a Eucaristia na vossa Capela e tive a oportunidade de vos dirigir a palavra e visitar algumas instalações do centro.

2. O Pio Brasileiro foi inaugurado a 3 de Abril de 1934, por vontade do Papa Pio XI e do Episcopado do Brasil, de modo especial pelo Cardeal Dom Sebastião Leme. Enviado cada um pelo seu Bispo, o Colégio Pio Brasileiro vos acolhe proporcionando-vos um ambiente propício para uma mais ampla formação acadêmica e espiritual, tão necessária em vossa missão sacerdotal. Residir alguns anos em Roma vos oferece muitas possibilidades de entrar em contato com as memórias históricas dos primeiros séculos do cristianismo, de abrir-vos à dimensão universal da Igreja, de fomentar a comunhão eclesial e a boa disposição a acolher os ensinamentos do Magistério.

3. Mesmo que longe fisicamente, sei que em vosso coração tendes viva a lembrança das pessoas que estavam sob os vossos cuidados pastorais; na verdade, o pastor não pode se esquecer dos seus fiéis, quando vive a caridade pastoral ao estilo de Cristo. Apraz-me recordar aquela mensagem sempre nova que vos deixei na minha precedente visita: A Igreja no Brasil tem necessidade de ministros de Cristo bem formados (cf. Discurso de 24 de Janeiro de 1982). É uma responsabilidade que recai de modo especial em vossos formadores, não só das Universidades que freqüentais, mas, nomeadamente, nos religiosos da Companhia de Jesus, encarregados da direção e animação deste Colégio. Deus queira que o espírito fundacional deixado por Santo Inácio vos anime continuamente, pois o Episcopado brasileiro e todo o Povo de Deus anseiam por sacerdotes santos e doutos, verdadeiros pastores de almas. Essa responsabilidade faz-se ainda maior, se pensamos que alguns sacerdotes provêm de outros países latino-americanos e da África, Oceania e Europa.

4. Não quero terminar estas palavras sem deixar de agradecer a Comunidade de religiosas, e todos os que colaboram para o atendimento do Colégio, e peço a Deus que vos saiba recompensar pela generoso e dedicado serviço que prestais à Comunidade.

Nossa Senhora Aparecida, venerada no vosso Colégio, que sempre acompanhou a todos seus filhos, ela, que é a Mãe dos Sacerdotes, vos alcance as graças necessárias para imitar a Jesus Cristo Sumo e Eterno Sacerdote. Como confirmação destes vivos desejos, vos concedo uma propiciadora Bênção Apostólica, que, de coração estendo aos vossos familiares e amigos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM A JUVENTUDE

DA DIOCESE DE ROMA EM PREPARAÇÃO


PARA O DOMINGO DE RAMOS


Quinta-feira, 1 de Abril de 2004


1. "Senhor, nós queremos ver Jesus" (Jn 12,21). É o pedido que alguns "gregos", que chegaram a Jerusalém para a Páscoa, fazem a Filipe. O Mestre, avisado deste desejo, compreende que chegou a sua "hora"! A "hora" da cruz, da obediência ao Pai no seguimento do destino do grão de trigo que, ao cair na terra, desaparece e morre para dar fruto!

Também para Jesus chegou a "hora" da glória! A "hora" da paixão, morte, ressurreição e ascenção ao céu. A "hora" em que oferecerá a sua vida para depois a retomar novamente e oferecê-la a todos. A "hora" em que, na cruz, vencerá o pecado e a morte para benefício de toda a humanidade.

Também nós somos chamados a viver aquela "hora" para sermos, com Ele, "honrados" pelo Pai.

Caríssimos jovens de Roma e do Lácio, sinto-me feliz por me encontrar convosco. Saúdo o Cardeal Vigário, os demais Bispos aqui presentes, aqueles que, em nome de todos vós, me dirigiram saudações oferecendo o próprio testemunho. Saúdo os vários artistas que participam neste encontro e a todos vós, caríssimos amigos, presentes na Praça e que nos seguis através da televisão.

2. Há vinte anos, no final do Ano Santo da Redenção, entreguei aos jovens a Cruz, o madeiro sobre o qual Cristo foi elevado da terra e viveu a "hora" para a qual viera ao mundo! Desde então esta Cruz, peregrinando de uma Jornada da Juventude para outra, está a caminhar pelo mundo levada pelos jovens e anuncia o amor misericordioso de Deus que vai ao encontro de cada uma das suas criaturas para lhe restituir a dignidade perdida por causa do pecado.

Graças a vós, queridos amigos, milhões de jovens, olhando para aquela Cruz, mudaram a sua existência comprometendo-se a viver como autênticos cristãos.

3. Caríssimos jovens permanecei unidos à Cruz! Olhai para a glória que um dia será também a vossa. Quantas feridas afligem os vossos corações, muitas vezes causadas pelo mundo dos adultos! Confiando-vos idealmente à Cruz, convido-vos a crer que somos muitos a ter confiança em vós, que Cristo tem confiança em vós e que somente n'Ele se encontra a salvação que procurais!

Quanta necessidade há, hoje, de reconsiderar o modo de se aproximar dos jovens para lhes anunciar o Evangelho. Devemos sem dúvida pôr-nos em questão para evangelizar o mundo juvenil, mas com a certeza de que também hoje Cristo deseja fazer-se ver, que também hoje deseja mostrar a todos o seu Rosto!

4. Queridos jovens, não tenhais medo de empreender também novos caminhos de doação total ao Senhor e de missão; sede criativos e sugeri-vos vós mesmos como levar hoje a Cruz ao mundo!

A este propósito desejo congratular-me pela preparação, que se está a realizar na Diocese de Roma, de uma Missão dos jovens para os jovens, no centro histórico, de 1 a 10 de Outubro próximos, com o significativo título "Jesus no centro!". Congratulo-me de igual modo com o Pontifício Conselho para os Leigos que nestes dias quis organizar um Foro internacional de jovens. Saúdo-vos queridos participantes no Foro e encorajo-vos a comprometer-vos generosamente na realização do projecto de uma presença cristã cada vez mais eficaz no mundo da Universidade.

Alimentados pela Eucaristia, unidos à Igreja, aceitando as próprias cruzes, fazei explodir no mundo a vossa carga de fé e anunciai a todos a misericórdia divina!

5. Neste caminho, não receeis confiar-vos a Cristo. Sem dúvida amais o mundo, e fazeis bem, porque o mundo foi criado para o homem. Contudo, a um certo ponto da vida, é preciso fazer uma opção radical. Sem renegar nada do que é expressão da beleza de Deus e dos talentos que d'Ele recebemos, devemos saber declarar-nos do lado de Cristo, para testemunhar face a todos o amor de Deus.

A respeito disto, apraz-me recordar o fascínio espiritual que suscitou na história da minha vocação a figura do Santo Frei Alberto, Adam Chmielowski era este o seu nome que não era sacerdote. Frei Alberto era um pintor de grande talento e cultura. Pois bem, a um certo ponto da sua vida cortou as relações com a arte, porque compreendeu que Deus o chamava para tarefas muito mais importantes. Foi para Cracóvia e fez-se pobre entre os mais pobres, oferecendo-se a si próprio para servir os mais desfavorecidos. Encontrei nele um particular apoio espiritual e um exemplo para o meu afastamento da literatura e do teatro, para fazer a opção radical da vocação ao sacerdócio. Sucessivamente, uma das minhas maiores alegrias foi a de elevá-lo às honras dos altares como, anteriormente, a de lhe dedicar uma obra dramática "Irmão do nosso Deus".

Vede, seguir Cristo não significa mortificar os dons que Ele nos concede, mas optar por uma vida de doação radical a Ele! Se Ele nos chama a isto, este "sim" torna-se necessário! Por conseguinte, não tenhais medo de vos entregar a Ele. Jesus sabe como deveis levar hoje a sua Cruz ao mundo, para encontrar as expectativas de muitos outros corações juvenis.

6. Como são diferentes os jovens de hoje em relação aos de há vinte anos! Como mudou o contexto cultural e social no qual vivemos! Mas Cristo não, Ele não mudou! Ele é o Redentor do homem ontem, hoje e sempre!

Portanto, colocai os vossos talentos ao serviço da nova evangelização, para criar de novo um tecido de vida cristã!

O Papa está convosco! Acreditai em Jesus, contemplai o seu Rosto de Senhor crucificado e ressuscitado! Aquele Rosto que muitos desejam ver, mas que com frequência está escondido pela nossa escassa paixão pelo Evangelho e pelo nosso pecado!

Ó Jesus amado, ó Jesus procurado, revela-nos o teu Rosto de luz e de perdão! Preserva-nos, renova-nos, envia-nos!

Muitos jovens aguardam-Te e, se não Te virem, não serão capazes de viver a sua vocação, não serão capazes de viver a vida por Ti e Contigo, para renovar o mundo sob o teu olhar, dirigido ao Pai e ao mesmo tempo à nossa pobre humanidade.

7. Caríssimos amigos, com criatividade sempre nova sugerida pelo Espírito Santo na oração, continuai juntos a levar a Cruz que vos entreguei há vinte anos.

Os jovens de então mudaram, como também eu mudei, mas o vosso coração, como o meu, está sempre sequioso de verdade, de felicidade, de eterno, e por conseguinte, é sempre jovem!

Eu, esta tarde, volto a propôr a minha confiança em vós, esperança da Igreja e da sociedade! Não tenhais medo! Levai a toda a parte e em qualquer ocasião oportuna e inoportuna (cf. 2Tm 4,2) a poder da Cruz, para que todos, também graças a vós, possam continuar a ver e a crer no Redentor do homem! Amém.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR NAJI ABI ASSI


NOVO EMBAIXADOR DO LÍBANO


JUNTO DA SANTA SÉ


Sexta-feira, 2 de Abril de 2004




Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz em receber Vossa Excelência no Vaticano por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República do Líbano junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as palavras gentis que houve por bem dirigir-me e ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir a Sua Excelência o General Emílio Lahoud, Presidente da República libanesa, os meus agradecimentos pelos votos cordiais que me transmitiu por seu intermédio. Através da sua pessoa, desejo saudar com afecto todo o povo libanês, recordando-me com emoção o seu acolhimento caloroso por ocasião da minha viagem no seu país.

2. Senhor Embaixador, Vossa Excelência recordou as incertezas da actual situação internacional, marcada por uma instabilidade profunda das relações entre as Nações sob a pressão dos acontecimentos que se verificaram no Iraque, mas também e sobretudo devido à recrudescência injustificável e preocupante do terrorismo internacional. Face a esta situação precária, a Santa Sé não deixa de se comprometer em favor de um regresso à estabilidade e à ordem internacional, graças ao reconhecimento do papel regulador das Organizações internacionais, sobretudo a Organização das Nações Unidas, e ao fortalecimento dos seus meios de decisão e de acção, a fim de diminuir os focos de tensão e de garantir a paz.

A terra do Líbano, que foi tão provada pelos sofrimentos de uma longa e terrível guerra, procura restabelecer de novo a sua tradição exemplar de diálogo e de equilíbrio entre os diversos componentes culturais e religiosos que constituem desde sempre a nação libanesa. Os habitantes retomaram as suas actividades a fim de reconstruir o seu país e de restabelecer condições económicas e sociais que consintam a renovação do Líbano e que façam florescer as variadas riquezas da cultura libanesa. É desejável que o vosso país reencontre condições estáveis, que favoreçam um desenvolvimento económico e social duradouro, proveitoso para todos, sobretudo para os mais desfavorecidos. Evitar-se-á também deixar que se proliferem situações de injustiça ou de dificuldades económicas, e sentimentos de frustração que podem enfraquecer o tecido social, desencorajando certas camadas da população de permanecer no país e favorecendo a emigração, que empobrece a nação, privando-a dos seus recursos mais preciosos, que são os homens. Faço votos para que todos os libaneses se esforcem corajosamente por participar na vida económica, social e política da sua terra e por garantir um futuro de paz e de progresso aos seus filhos, o que exige também, como já tive ocasião de realçar, "que o país adquira a sua independência total, uma soberania completa e uma liberdade sem ambiguidades" (Uma renovada esperança para o Líbano, n. 121). Que os seus concidadãos não tenham receio de se comprometerem activamente ao serviço do bem comum, a fim de promover uma prática sadia dos costumes políticos e de garantir o bom funcionamento da democracia, para a salvaguarda e a consolidação da identidade do Líbano, cuja vocação é ser "luz para os povos da região e sinal da paz que vem de Deus" (ibid., n. 125).

Desejo que as diferentes comunidades humanas e religiosas que formam o Líbano gozem sempre dos mesmos direitos e do mesmo respeito condição primordial do caminho democrático e da liberdade das pessoas e que participem, por seu lado, nesta obra comum, convidando incessantemente ao respeito e ao diálogo recíprocos, expressando-se no seio de uma sociedade civil para recordar a todos os princípios que devem orientar o caminho comum, participando principalmente na educação da juventude, a fim de despertar cada vez mais o amor pela justiça e pela paz, e o respeito da dignidade de cada homem.

Como Vossa Excelência, Senhor Embaixador, realçou com vigor, a posição geográfica do Líbano situa-o no centro do Médio Oriente e do terrível conflito que continua a dilacerá-lo, começando pelo confronto permanente dos povos Israelita e Palestino que dura há mais de cinquenta anos, e o seu país, que deve enfrentar uma afluência de pessoas ao seu território, evidentemente sente-se parte em causa deste drama. Como recordei em várias ocasiões, a comunidade internacional não deve evitar as suas responsabilidades sob o pretexto de outras urgências, mas deve assumi-las corajosamente, convidando todas as partes em causa, e em primeiro lugar os Israelitas e os Palestinos, a restabelecer imediatamente o diálogo, para pôr fim ao ciclo infernal das violências recíprocas. Eis o preâmbulo necessário para um regulamento global do conflito que deverá associar o conjunto dos países da região. Desejo recordar de igual modo que nunca se poderá restabelecer uma paz duradoura nesta região do mundo sem a coragem política, sem a firme determinação a reconhecer os direitos de cada um, inclusive os do adversário, para se pôr com ele no caminho da paz no respeito da justiça, nem sem a aceitação do recurso ao perdão recíproco, para curar as terríveis feridas infligidas pelas violências recíprocas durante longuíssimos anos e por tantas vidas arruinadas. Possam todos os responsáveis políticos ouvir este apelo, a fim de trabalhar activamente para não adiar a instauração tão desejada da paz!

4. Permita-me Senhor Embaixador, alcançar agora, por seu intermédio, os Patriarcas, os Bispos e todos os fiéis das comunidades católicas do Líbano. Sei quanto estão afeiçoados ao seu país e a parte activa que assumem, em nome da sua fé, para o seu desenvolvimento material e espiritual. Encorajo-os a trabalhar juntos, católicos de diferentes ritos, ao serviço da comunhão, e a prosseguir o caminho da unidade com os irmãos de outras confissões. Que eles se dediquem, de modo específico, ao diálogo inter-religioso com os muçulmanos, sobretudo no campo da educação dos jovens através das instituições universitárias e escolares, bem como no diálogo da vida desta forma, eles serão verdadeiros artífices da paz, contribuindo para edificar um Líbano novo, capaz de vencer as incompreensões e de promover o bem comum, ao serviço de todos os seus filhos!

5. No final do nosso encontro, Senhor Embaixador, sinto-me feliz por lhe dirigir os meus calorosos votos pela feliz realização da nobre tarefa que inicia hoje junto da Santa Sé. Saiba que encontrará sempre um bom acolhimento junto dos meus colaboradores dos diferentes serviços da Cúria Romana.

Sobre Vossa Excelência, os seus colaboradores da Embaixada, os seus familiares, os responsáveis da Nação e sobre todo o povo libanês, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS


DE ATLANTA E MIAMI E DO ORDINARIATO MILITAR


DOS E.U.A. EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 2 de Abril de 2004


Estimados Irmãos Bispos!

1. "Graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Ep 1,2). No início desta série de visitas ad limina Apostolorum dos Bispos dos Estados Unidos da América, apresento-vos cordiais boas-vindas a vós, meus Irmãos no Episcopado das províncias eclesiásticas de Atlanta, Miami e do Ordinariato Militar.

A vossa visita ao túmulo de Pedro e à casa do seu Sucessor é, de facto, uma peregrinação espiritual ao centro da Igreja. Que ela seja para vós um convite a um encontro mais intenso com Jesus Cristo, uma pausa de reflexão e de discernimento à luz da fé, e um estímulo para um renovado vigor na missão! Tenho confiança em que esta série de visitas ad Limina dará também frutos particulares através de uma consideração mais aprofundada do mistério da Igreja em toda a sua riqueza, e um amplo discernimento dos desafios pastorais que se apresentam aos Bispos dos Estados Unidos da América no alvorecer do novo milénio.

Os nossos encontros realizam-se num momento difícil na história da Igreja nos Estados Unidos. Muitos de vós já me falaram acerca do sofrimento suscitado pelo escândalo dos abusos sexuais nos últimos dois anos e da urgente necessidade de restabelecer a confiança e de promover a reconciliação entre os Bispos, os sacerdotes e os leigos no vosso País. Tenho a esperança de que a disponibilidade que demonstrastes em reconhecer e enfrentar os erros e as faltas do passado, procurando simultaneamente tirar deles uma lição, contribuirá muito para esse trabalho de reconciliação e de renovação. Este tempo de purificação levará, com a graça de Deus, "a um sacerdócio mais santo, a um Episcopado mais santo e a uma Igreja mais santa" (Discurso aos Cardeais e aos Bispos dos Estados Unidos, 23 de Abril de 2002, n. 4), a uma Igreja cada vez mais convencida da verdade da mensagem cristã, da força redentora da Cruz de Cristo e da necessidade de unidade, fidelidade e convicção ao testemunhar o Evangelho ao mundo.

2. A história da Igreja demonstra que não pode verificar-se uma reforma eficaz sem uma renovação interior. Isto é válido não só para os indivíduos, mas também para cada grupo e instituição na Igreja. Na vida de cada Bispo, o desafio da renovação interior deve incluir uma compreensão integral do seu serviço como pastor gregis, por vontade de Cristo, de um ministério específico de governo pastoral na Igreja, e das responsabilidades e do poder apostólico que acompanham esse ministério. Para ser um pastor gregis eficaz, o Bispo deve procurar também constantemente ser forma gregis, (cf. 1P 5,3); a sua autoridade apostólica deve ser vista, em primeiro lugar e antes de mais, como um testemunho religioso do Senhor Ressuscitado, da verdade do Evangelho e do mistério da Salvação presente e operante na Igreja. A X Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos recordou que "a vida (do Bispo) deve estar totalmente submetida à palavra de Deus na dedicação quotidiana à pregação do Evangelho com toda a paciência e doutrina" (Pastores gregis cf. 2Tm 4,2).

Por conseguinte, a renovação da Igreja está estreitamente relacionada com a renovação do mistério episcopal. Visto que o Bispo é chamado de maneira única a ser um alter Christus, um vigário de Cristo na sua Igreja local e para ela, ele deve ser o primeiro a conformar a própria vida com Cristo na santidade e na conversão constante. Só assumindo ele próprio os sentimentos de Cristo (cf. Ph 2,5) e renovando-se "no espírito da [...] mente" (Ep 4,23), poderá desempenhar de maneira eficaz o seu papel de sucessor dos Apóstolos, guia da fé da comunidade e coordenador daqueles carismas e missões que o Espírito Santo infunde constantemente sobre a Igreja.

3. O recente Sínodo dos Bispos e a Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis falaram com insistência acerca da necessidade de fazer própria uma eclesiologia de comunhão e de missão, que "é necessário ter sempre presente" (Pastores gregis ). Assim fazendo, retomarão a visão fundamental do Concílio Vaticano II, que exortou a uma compreensão renovada do mistério da Igreja, fundada na vida trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Ad gentes, AGD 2 Lumen gentium, LG 24) como base para reconfirmar a sua unidade e o seu impulso missionário no mundo. Este apelo do Concílio é válido hoje como nunca. O retorno ao centro da Igreja, a recuperação de uma visão de fé sobre a natureza e a finalidade da Igreja no desígnio de Deus e a compreensão mais clara da sua relação com o mundo, devem formar uma parte fundamental daquela constante conversão à palavra revelada de Deus que é exigida a cada membro do Corpo de Cristo, renascido no Baptismo e chamado a comprometer-se na difusão do Reino de Deus na terra (cf. Lumen gentium, LG 36).

Ecclesia sancta simul et semper purificanda. O convite premente do Concílio a rezar, a comprometer-se e a ter esperança para que a imagem de Cristo possa resplandecer cada vez mais claramente no rosto da Igreja (cf. Lumen gentium, LG 15), exige uma reconfirmação constante do consentimento da fé à palavra revelada de Deus e um regresso à única fonte de qualquer renovação eclesial autêntica as Sagradas Escrituras e a Tradição Apostólica, como foram autorizadamente interpretadas pelo Magistério da Igreja. De facto, a visão do Concílio, que encontrou expressão nas grandes Constituições Lumen gentium e Gaudium et spes, permanece "uma bússula certa que nos orienta no caminho do século que começa" (Novo millennio ineunte NM 57).

4. Queridos Irmãos, no início destes encontros do Sucessor de Pedro com os Bispos dos Estados Unidos, desejo reconfirmar a minha confiança na Igreja que está na América, o meu apreço pela fé profunda dos católicos na América e a minha gratidão pelos numerosos contributos que eles dão à sociedade americana e à vida da Igreja em todo o mundo. Visto com os olhos da fé, o actual momento de dificuldades é também um tempo de esperança, daquela esperança que "não desilude" (Rm 5,5) porque se radica no Espírito Santo, que suscita sempre novas energias, novas chamadas e novas missões no interior do Corpo de Cristo.

A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, celebrada após os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, observou justamente que o Bispo é chamado a ser profeta, testemunha e servidor do mundo (cf. Pastores gregis ) não só porque proclama a todos o fundamento da nossa esperança cristã (cf. 1P 3,15), mas também porque torna presente essa esperança através do seu ministério pastoral, estando ele centrado sobre três munera santificar, ensinar e guiar. O exercício deste testemunho profético na sociedade americana contemporânea, como muitos de vós realçaram, tornou-se cada vez mais difícil devido às consequências do recente escândalo e da hostilidade aberta ao Evangelho em certos sectores da opinião pública, mas contudo ele não pode ser evitado ou delegado a outrem. Precisamente porque a sociedade americana se encontra perante uma perda preocupante do sentido do transcendente e o afirmar-se de uma cultura materialista e transitória, ela tem urgente necessidade de um tal testemunho de esperança. Foi na esperança que fomos salvos (cf. Rm Rm 8,24); o Evangelho da esperança permite-nos discernir a presença confortadora do Reino de Deus neste mundo, e oferece confiança, serenidade e orientação no lugar daquela falta de esperança que inevitavelmente gera receio, hostilidade e violência no coração das pessoas e na sociedade em geral.

5. Por este motivo, rezo a fim de que os nossos encontros não só fortaleçam a comunhão hierárquica que une o Sucessor de Pedro com os seus Irmãos Bispos nos Estados Unidos, mas dêem também abundantes frutos para o crescimento das vossas Igrejas locais na unidade e no zelo missionário para a difusão do Evangelho. Desta forma, elas reflectirão cada vez mais plenamente o "grande mistério" da Igreja que, nas palavras do Concílio, está em Cristo como que "sacramento [...] da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium, LG 1), primeiros frutos do Reino de Deus e previsão profética de um mundo reconciliado e em paz.

Nos próximos meses desejo comprometer-vos a vós e os vossos Irmãos no Episcopado numa série de reflexões sobre a prática do ministério episcopal à luz do tríplice múnus mediante o qual o Bispo, através da ordenação sacramental, é conformado com Jesus Cristo, sacerdote, profeta e rei. Faço votos por que uma firme reflexão sobre o dom e sobre o mistério que nos foram confiados contribuam para o desenvolvimento do vosso ministério como anunciadores do Evangelho e para a renovação da Igreja nos Estados Unidos.

6. Queridos Irmãos, asseguro-vos as minhas orações por cada um de vós e por todo o clero, os religiosos e os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados pastorais. Enquanto procuramos enfrentar os desafios que se nos apresentam, nunca deixemos de agradecer a Deus Uno e Trino a rica variedade de dons que ofereceu à Igreja na América e de olhar com confiança para o futuro que a sua providência, também agora, está a abrir à nossa frente. Recomendo com grande afecto todos vós à amorosa intercessão de Maria Imaculada, Padroeira dos Estados Unidos da América, e concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e de paz no Senhor.




DIscursos João Paulo II 2004