DIscursos João Paulo II 2004 - AOS SÓCIOS DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA PEREGRINAÇÃO DE JOVENS


DA ARQUIDIOCESE DE RUÃO


24 de Abril de 2004





Estimados jovens

É-me grato receber-vos na manhã de hoje, durante esta Audiência especial. Saúdo o Pe. Christian Nourrichard, Administrador diocesano.

Viestes a Roma para viver uma semana de retiro e de vida fraterna. Rezo especialmente por aqueles dentre vós que receberão a confirmação na segunda-feira. Convido-vos todos a fazer da vossa peregrinação um tempo de revigoramento espiritual. Podereis discernir a vontade do Senhor, que vos quer ajudar a levar uma existência significativa; a vossa vida interior receberá um vigor renovado. Não tenhais medo de abrir o vosso coração e de deixar que Cristo vos fale. Aprendei a dedicar regularmente um tempo à oração e à meditação do Evangelho.

Enquanto vos confio todos à Virgem Maria, encorajo-vos a continuar a vossa busca na Igreja e concedo-vos do íntimo do coração a Bênção Apostólica, assim como aos sacerdotes, aos seminaristas, aos religiosos e aos leigos que vos acompanham.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS ITALIANOS


(A.N.M.I.) NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO


DE GIORGIO LA PIRA


Segunda-feira, 26 de Abril de 2004


Senhor Cardeal!
Ilustres Representantes da Associação
Nacional Municípios Italianos!

1. Sinto-me feliz por vos apresentar as cordiais boas-vindas a este encontro, que se coloca no contexto das celebrações para o centenário do nascimento do Professor Giorgio La Pira. Saúdo cada um de vós e as Cidades que aqui representais. Saúdo, de modo especial, o Cardeal Ennio Antonelli, Arcebispo de Florença, bem como o Presidente Municipal desta Cidade e Presidente da ANCI, Senhor Leonardo Domenici, ao qual agradeço as palavras que me dirigiu fazendo referência ao serviço prestado por Giorgio La Pira à causa da convivência fraterna entre as nações. A este propósito, apreciei que precisamente para recordar de maneira tangível o seu esforço dedicado a favorecer a amizade entre os povos que se reconhecem em Abraão judeus, cristãos e islâmicos a vossa Associação decidiu oferecer uma ajuda concreta ao Caritas Baby Hospital de Belém.

2. Expresso-vos o meu cordial apreço por este generoso gesto, que honra bem a memória de Giorgio La Pira, figura eminente da política, da cultura e da espiritualidade do século que há pouco terminou.

Face aos poderosos da Terra expôs com firmeza as suas ideias de crente e de homem amante da paz, convidando os interlocutores a um esforço comum para promover este bem fundamental nos vários âmbitos: na sociedade, na política, na economia, nas culturas e entre as religiões.

Na teoria e na práxis política, La Pira sentia a exigência de aplicar a metodologia do Evangelho, inspirando-se no mandamento do amor e do perdão. Permanecem emblemáticos os "Congressos pela paz e pela civilização cristã", que promoveu em Florença de 1952 a 1956, com a finalidade de favorecer a amizade entre cristãos, judeus e muçulmanos.

3. Numa carta ao amigo Amintore Fanfani, ele escreveu palavras de uma surpreendente actualidade: "Os políticos são guias civis, aos quais o Senhor confia, através das técnicas que mudam com o tempo, o mandamento de guiar os povos para a paz, a unidade, a promoção espiritual e civil de cada povo e de todos juntos" (22 de Outubro de 1964).

La Pira fez uma extraordinária experiência de homem político e de crente, capaz de unir a contemplação e a oração à actividade social e administrativa, com uma predilecção pelos pobres e por quantos sofrem.

Caríssimos Presidentes Municipais, possa este luminoso testemunho inspirar as vossas opções e acções quotidianas! Seguindo o exemplo de Giorgio La Pira, ponde-vos generosamente ao serviço das vossas comunidades, com uma especial atenção às camadas juvenis, favorecendo também o seu progresso espiritual. Não deixeis de cultivar aqueles valores humanos e cristãos que formam o rico património ideal da Europa. Ele deu vida a uma civilização que, ao longo dos séculos favoreceu o surgimento de sociedades autenticamente democráticas. Sem bases éticas a democracia corre o risco de se deteriorar no tempo e até de desaparecer.

Graças ao contributo de todos, o sonho de um mundo melhor pode tornar-se realidade. Deus conceda que a humanidade veja realizada esta profecia de paz!

Acompanho estes votos com a oração, enquanto abençoo a todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA CONGREGAÇÃO


PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA


NO 25° ANIVERSÁRIO DA "SAPIENTIA CHRISTIANA"


Terça-feira, 27 de Abril de 2004






Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me verdadeiramente feliz por terdes desejado celebrar o vigésimo quinto aniversário da importante Constituição Apostólica Sapientia christiana, que eu assinei quase no início do meu Pontificado. É uma constituição que me é muito querida, porque está directamente relacionada com a prática do "munus docendi" da Igreja. A "tarefa de ensinar" reveste uma importância particular na realidade de hoje, que, por um lado, se distingue por um impressionante progresso técnico e, por outro, pelas mais diversificadas contradições, rupturas e tensões.

Na realidade, o Evangelho exerce o seu efeito benéfico e duradouro unicamente na medida em que, através do seu contínuo anúncio "opportune importune" (cf. Tm 4, 2) influencia os modos de pensar e penetra a cultura em profundidade (cf. Const. apost. Sapientia christiana, Preâmbulo I). Eis a alta vocação que distingue as Universidades e Faculdades eclesiásticas: comprometer-se com toda a sua força para recompor e unir o mundo da ciência e da cultura com a verdade da fé, a fim de fazer descobrir a ordem salvífica do plano divino na realidade deste mundo.

2. Alegro-me pelo crescente número de Centros eclesiásticos de ensino académico. A sua primeira missão permanece o aprofundamento e a transmissão do Mistério divino, que Cristo nos revelou. É o Espírito Santo, efundido na Igreja, que nos introduz no Mistério e que nos guia para que o penetremos mediante o estudo cada vez mais aprofundado (cf. He 6,4).

Revestem um peculiar prestígio e responsabilidade, entre as Faculdades eclesiásticas, as de Teologia, de Direito canónico e de Filosofia, "considerando a sua particular natureza e importância para a Igreja" (Const. apost. Sapientia christiana, art. 65). Mas, além destas disciplinas fundamentais, as Faculdades eclesiásticas incluem muitos outros âmbitos, como o da História eclesiástica, da Liturgia, das Ciências da educação e da Música sacra.

Nos anos recentes, foi dedicado grande empenho para responder às necessidades actuais: foi dedicada particular atenção, por exemplo, à bioética, aos estudos islâmicos, à mobilidade humana, etc. Neste sentido, não posso deixar de encorajar as iniciativas que têm por finalidade aprofundar os vínculos que existem entre a Revelação divina e as áreas sempre novas do saber na realidade de hoje.

3. Actualmente, mais do que nunca, as Universidades e Faculdades eclesiásticas devem desempenhar um papel na "grande primavera" que Deus está a preparar para o Cristianismo (cf. Enc. Redemptoris missio RMi 86). O homem contemporâneo presta mais atenção a certos valores: à tutela da dignidade da pessoa, à defesa dos débeis e dos marginalizados, ao respeito da natureza, à recusa da violência, à solidariedade mundial, etc. À luz da Constituição Sapientia christiana, as Instituições académicas da Igreja estão comprometidas a cultivar esta sensibilidade em sintonia com o Evangelho, com a Tradição e com o Magistério. Sabemos como o mundo contemporâneo está ameaçado por rupturas cada vez mais profundas, por exemplo, entre os países ricos e os países pobres. Trata-se de rupturas que têm na sua origem o facto de o homem se afastar de Deus.

Procurei indicar, em várias Encíclicas, o caminho para realizar a reconciliação em profundidade entre a fé e a razão (cf. Fides et ratio ), entre o bem e o verdadeiro (cf. Veritatis splendor ), entre a fé e a cultura (cf. Redemptoris missio ), entre as leis civis e a lei moral (cf. Evangelium vitae ), entre o Ocidente e o Oriente (cf. Slavorum apostoli), entre o Norte e o Sul (cf. Centesimus annus ), etc. É necessário que as instituições culturais eclesiásticas recebam estes ensinamentos, os estudem, os apliquem e desenvolvam as suas consequências. Desta forma, em sintonia com a sua vocação, elas podem contribuir para curar o homem dos seus receios e das suas dilacerações internas.

4. São bem conhecidas as actuais insídias do individualismo, do pragmatismo, do racionalismo, que se difundem até nos ambientes que têm a tarefa da formação. As instituições culturais eclesiásticas esforçar-se-ão por unir sempre a obediência da fé com a "audácia da razão" (Fides et ratio FR 48), deixando-se guiar pelo zelo da caridade. Os professores não devem esquecer-se de que a actividade do ensino é inseparável do compromisso do aprofundamento da verdade, sobretudo da verdade revelada. Por conseguinte, eles não devem separar o rigor da sua actividade universitária da abertura humilde e disponível à Palavra de Deus, escrita ou transmitida, recordando-se sempre de que a interpretação autêntica da Revelação foi confiada unicamente "ao Magistério vivo da Igreja", o qual exerce esta tarefa em nome de Jesus Cristo (Const. Dei Verbum DV 10).

5. Neste vigésimo quinto aniversário da Constituição apostólica Sapientia christiana, desejo agradecer calorosamente a todos os que estão comprometidos em dar continuidade à missão eclesiástica do ensino e da investigação científica na Igreja: reitores, deões e decanos de Universidades e Faculdades eclesiásticas, o corpo docente e o pessoal auxiliar, bem como a Congregação para a Educação Católica e, no seu âmbito, a Repartição para as Universidades. Dirijo a cada um a expressão do meu reconhecimento por todo o trabalho desempenhado com generosa dedicação.

Encorajo todos a prosseguir a sua importante missão de evangelização através da inteligência da Revelação, continuando a perseguir aquela "síntese vital" das verdades reveladas e dos valores humanos que é constitutiva da "sabedoria cristã" (Const. Apost. Sapientia christiana, Preâmbulo I). Dela o mundo de hoje tem tanta necessidade.

6. Ao garantir a minha recordação na oração pelo vosso trabalho, concedo de bom grado a todos e a cada um uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO II GRUPO DE BISPOS NORTE-AMERICANOS


DE BALTIMORE E WASHINGTON POR OCASIÃO DA VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 29 de Abril de 2004





Caríssimos Irmãos Bispos

1. Bispos das Províncias Eclesiásticas de Baltimore e de Washington, "amados filhos em Deus, chamados para a santidade" (cf. Rm Rm 1,7), apresento-vos as minhas calorosas saudações no Senhor. Que a vossa peregrinação até aos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e esta visita ao Sucessor de Pedro, vos fortaleçam na fé católica que provém dos Apóstolos (cf. Oração Eucarística I), e no testemunho jubiloso da graça de Cristo ressuscitado!

No corrente ano, no contexto dos meus encontros com os diversos grupos de Prelados provenientes dos Estados Unidos da América, que estão a realizar as respectivas visitas "ad limina Apostolorum", desejo reflectir sobre o mistério da Igreja e, de forma particular, sobre o exercício do ministério episcopal. Formulo votos a fim de que estas reflexões sirvam como ponto de partida para a vossa meditação e oração e, deste modo, cheguem a contribuir para um discernimento pastoral que seja útil para a renovação e a edificação da Igreja que está nos Estados Unidos da América. Assim, podemos começar com uma consideração sobre o munus sanctificandi do Bispo, ou seja, o serviço à santidade da Igreja de Cristo, que ele é chamado a prestar como arauto do Evangelho, como administrador dos mistérios de Deus (cf. 1Co 4,1) e como pai espiritual do rebanho confiado aos seus cuidados.

2. A missão santificadora do Bispo encontra o seu manancial na santidade indefectível da Igreja. Dado que "Jesus Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de a santificar" (cf. Ef Ep 5,25-26), ela foi dotada de uma santidade infalível, tornando-se "em Cristo e através de Cristo, a fonte e a origem de toda a santidade" (Gaudium et spes, GS 47). Esta verdade fundamental da fé, confirmada em toda a recitação do Credo, tem necessidade de ser mais claramente compreendida e estimada por todos os membros do Corpo de Cristo, porque constitui uma parte essencial da autoconsciência da Igreja e o fundamento da sua missão universal.

A fé da Igreja na santidade que lhe é própria constitui, em primeiro lugar, uma confissão humilde da fidelidade misericordiosa de Deus ao seu plano de salvação em Jesus Cristo. Considerada sob esta luz, a santidade da Igreja torna-se uma nascente de gratidão e de alegria pela dádiva completamente gratuita da redenção e da vida nova que recebemos em Cristo, através da pregação apostólica e dos sacramentos da nova e eterna Aliança. Renascendo no Espírito Santo e tornando-nos filhos adoptivos do Pai no seu amado Filho, somos um reino de sacerdotes, um povo santo (cf. Êx Ex 19,6 Ap 5,10), chamados a oferecer-nos "como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (cf. Rm Rm 12,1), intercedendo por toda a família humana.

Ao mesmo tempo, a santidade da Igreja sobre a terra permanece real e contudo imperfeita (cf. Lumen gentium, LG 8). A sua santidade é um dom e um chamamento, uma graça constitutiva e uma exortação à fidelidade constante à graça. O Concílio Vaticano II, como fundamento deste programa em vista da renovação do testemunho eclesial de Cristo perante o mundo, apresentou a todos os baptizados os elevados ideais da vocação universal à santidade, recebida de Deus. O mesmo Concílio confirmou que "todos os cristãos, em qualquer condição ou estilo de vida, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade" (Lumen gentium, LG 40), convidando todos os membros da Igreja a um reconhecimento honesto do pecado e da necessidade da conversão permanente, ao longo do caminho do arrependimento e da renovação.

A grandeza da visão da fé da santidade infalível da Igreja e do reconhecimento realista da pecaminosidade dos seus membros deveria inspirar todos a comprometer-se de modo mais determinado na fidelidade à vida cristã. Em particular, ela exorta-nos, como Bispos, a um discernimento permanente sobre a direcção e a finalidade da nossa actividade de ministros da graça de Cristo. O desafio que nos foi apresentado, assim como a toda a Igreja, tanto pelo Concílio como pelo grande Jubileu, permanece mais válido do que nunca: a vida de cada cristão e as estruturas da Igreja devem ser claramente orientadas para a promoção da santidade.

3. A busca da santidade pessoal deve constituir um elemento fulcral da vida e da identidade de cada Bispo. Ele há-de reconhecer a sua própria necessidade de ser santificado, enquanto se compromete também na santificação dos outros. O próprio Bispo é, em primeiro lugar e sobretudo, um cristão vobiscum sum Christianus (cf. Santo Agostinho, Sermo 340.1) chamado a ser obediente na fé (cf. Rm Rm 1,5), consagrado mediante o baptismo e dotado de vida nova por intermédio do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, graças ao dom da sua Ordenação e ao carácter sagrado que ela lhe impõe, cada Bispo ocupa o lugar do próprio Cristo e age em sua Pessoa (cf. Lumen gentium, LG 21). Assim, ele é chamado a progredir ao longo do caminho específico da santidade (cf. Pastores gregis ): o âmago do seu apostolado deve ser aquela caridade pastoral que conforma o seu coração com o Coração de Jesus Cristo, num amor sacrifical pela Igreja e por todos os seus membros.

O Sínodo dos Bispos mais recente insistiu sobre o facto de que a santificação objectiva, que deriva da Ordenação e do exercício do ministério episcopal, há-de coincidir com a santificação subjectiva, em que o Bispo, com o auxílio da graça de Deus, deve progredir de maneira contínua (cf. Pastores gregis ). Analogamente, o princípio unificador do ministério do Bispo será a sua contemplação do rosto de Cristo e a sua proclamação do Evangelho da salvação: uma interacção dinâmica de oração e de acção, que enriquecerá espiritualmente tanto a sua actividade exterior como a sua vida interior.

4. Com efeito, o Sínodo desafiou os Bispos a tornar-se, de maneira cada vez mais activa, ouvintes da palavra de Deus, através da oração quotidiana e da leitura contemplativa da Sagrada Escritura. Efectivamente, para a renovação da Igreja na santidade, é essencial que o Bispo seja não apenas uma pessoa contemplativa; ele deverá ser também um mestre no caminho da contemplação (cf. Pastores gregis ). A sua oração deveria ser alimentada sobretudo pela Eucaristia: "Não apenas quando aparece à vista de todo o povo de Deus como Sacerdos et Pontifex, mas inclusive quando dedica uma parte razoavelmente longa do seu próprio tempo à adoração diante do Sacrário" (cf. ibid., n. 16). Para que a sua oração alcance a realização e o cumprimento na Eucaristia, deve ser alimentada também pelo recurso regular ao sacramento da Penitência e, de maneira especial, pela celebração da Liturgia das Horas. Desta maneira, toda a sua vida de oração, tanto pessoal como litúrgica, se tornará fonte de fecundidade apostólica, dado que é apresentada ao Pai no Espírito Santo como intercessão de todo o Corpo de Cristo.

Por este motivo, o Bispo deverá certamente cultivar a espiritualidade eclesial, "porque tudo na sua vida está orientado para a amorosa edificação da Santa Igreja" (Ibid., n. 11). No início do recente Sínodo dos Bispos, desejei estabelecer um vínculo entre esta atitude de serviço à comunidade eclesial e a adopção de um estilo de vida que imite a pobreza de Cristo; assim, convidei os Bispos a "verificar até que ponto a conversão pessoal e comunitária à pobreza evangélica efectiva se está a realizar no seio da Igreja" (Homilia de abertura, 30 de Setembro de 2001, n. 3). Agora encorajo-vos, assim como os vossos irmãos Bispos, a empreender este discernimento no que diz respeito ao exercício concreto do ministério episcopal no vosso país, em ordem a garantir que seja considerado de maneira cada vez mais evidente como uma forma de serviço sacrifical no meio do rebanho de Cristo. Sem dúvida, isto dará frutos abundantes, criando mais liberdade interior no exercício do ministério, um testemunho mais evangélico de Jesus Cristo, "que completou a obra da redenção na pobreza e opressão" (Lumen gentium, LG 8), e mais solidariedade diante das dificuldades e dos sofrimentos dos pobres.

5. Estou profundamente persuadido de que, numa Igreja chamada de maneira permanente à renovação interior e ao testemunho profético, o exercício da autoridade episcopal deve alicerçar-se sobre o testemunho da santidade pessoal. O grande desafio representado pela nova evangelização, ao qual a Igreja é chamada neste nosso tempo, requer uma credibilidade que derive da fidelidade pessoal ao Evangelho e às exigências do discipulado cristão. Em conformidade com as palavras memoráveis do Papa Paulo VI, "será pois, pelo seu comportamento e pela sua vida que a Igreja há-de, antes de mais nada, evangelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, pelo testemunho de santidade" (Evangelii nuntiandi EN 41).

Enquanto consideramos com fé o desígnio de Deus para a família humana reconciliada e unida em Jesus Cristo, de quem a Igreja constitui o sacramento e a visão profética, podemos observar com clarividência cada vez mais acentuada a relação inseparável entre a santidade e a missão da Igreja (cf. Redemptoris missio, RMi 90). Por conseguinte, uma parte essencial da nova evangelização deve ser um renovado zelo pela santidade, que inspire todas as nossas iniciativas e encontre a sua expressão concreta numa renovação da fé e da vida cristã. Não podemos deixar de escutar a exortação profética dirigida a toda a Igreja, através da experiência do grande Jubileu: a Igreja é chamada a oferecer uma genuína "formação na santidade", adaptada às necessidades de todos, em vista de assegurar que cada comunidade cristã se torne uma autêntica escola de oração e de santificação pessoal (cf. Novo millennio ineunte NM 33).

6. Assim, este é o grande desafio que a Igreja está a enfrentar no alvorecer do novo milénio e o caminho seguro para a sua autêntica renovação interior. Enquanto a comunidade católica que vive nos Estados Unidos da América, sob a vossa liderança, procura assumir este desafio, garanto-vos as minhas preces para que vós e todo o clero, os religiosos e igualmente os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados pastorais, cresçam diariamente em santidade e se tornem o verdadeiro fermento do Evangelho no seio da sociedade norte-americana.

Queridos Irmãos, nos esforços em vista do cumprimento do vosso exigente ministério de santificação na Igreja que está nos Estados Unidos da América, tendes a bênção de poder contar com o modelo eminente de santidade episcopal, oferecido por São João Neumann, cuja vida foi despendida no serviço generoso e incondicional à sua grei. Inspirados pelo seu exemplo e orientados pelas suas orações, oxalá possais crescer todos os dias na graça do vosso ministério, de maneira a poderdes cumprir o dever perfeito do amor pastoral (cf. Lumen gentium, LG 41).

Enquanto confio todos vós à sua intercessão, concedo-vos cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e de paz no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UMA DELEGAÇÃO CROATA POR OCASIÃO


DA ENTREGA DA CIDADANIA HONORÁRIA



Venerado Irmão no Episcopado
Senhora Presidente da Câmara Municipal
Estimados Irmãos e Irmãs!

1. Recebo-vos com grande alegria. Sede bem-vindos!

O motivo desta vossa visita é a entrega do documento relativo à cidadania honorária, que a cidade de Dubrovnik quis conferir-me, confirmando os profundos e plurisseculares vínculos que a unem aos Papas e para recordar a Visita pastoral que tive a felicidade de realizar em 6 de Junho do ano passado. Recordo ainda com emoção os vários momentos daquela Peregrinação apostólica na qual, precisamente em Dubrovnik, proclamei Beata uma ilustre filha da Croácia: Maria de Jesus Crucificado Petkovic.

2. Volta à minha mente que no final da Santa Missa celebrada naquela circunstância quis dirigir um agradecimento especial à querida Cidade. Renovo também agora este meu profundo agradecimento pela calorosíssima hospitalidade.

Do mesmo modo, sinto-me feliz e agradecido porque me quisestes incluir entre os Cidadãos da antiga e bonita Dubrovnik, autentica pérola do Adriático croata, centro milenar de cultura, permeada pela fé católica e marcada pela constante fidelidade aos Sucessores de Pedro, mesmo em tempos muito difíceis. Possa este património cultural e religioso desenvolver-se e crescer também no futuro, dando frutos abundantes a favor da própria Dubrovnik e de toda a nação croata.

3. Sobre os habitantes de Dubrovnik e do Condado de Dubrovnik-Neretva, assim como sobre todos os Croatas velem a Santíssima Mãe de Deus, invocada como Nossa Senhora do Grande Voto Baptismal Croata, São José e São Brás.

Deus abençoe Dubrovnik, de hoje em diante também minha cidade, e toda a terra croata.
Louvados sejam Jesus e Maria!





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA ACADEMIA


DAS CIÊNCIAS SOCIAIS POR OCASIÃO


DO X ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO


Sexta-feira, 30 de Abril de 2004

Eminências

Excelências
Queridos membros da Academia

1. Saúdo-vos a todos com afecto e estima, no momento de celebrar o X aniversário de fundação da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Agradeço à vossa nova Presidente, Professora Mary Ann Glendon, e formulo-lhe os meus votos mais cordiais no momento em que dá início ao seu serviço. Ao mesmo tempo, exprimo a minha profunda gratidão ao Professor Edmond Malinvaud, pelo seu compromisso no trabalho da Academia, em vista de estudar problemas complexos como o trabalho e o desemprego, as várias formas de desequilíbrio social, a democracia e a globalização. Estou grato também a D. Marcelo Sánchez Sorondo, pelos seus esforços em ordem a tornar o trabalho da Academia acessível a um maior número de pessoas, através dos recursos das comunicações modernas.

2. O tema que estais a estudar no presente o das relações entre as gerações está intimamente relacionado com a vossa investigação sobre a globalização. Antigamente, não se questionava o cuidado que os filhos adultos deviam prestar aos seus pais. A família constituía o lugar essencial da solidariedade entre as gerações. Havia a própria solidariedade conjugal, em que os esposos se aceitavam no bem e no mal, comprometendo-se em oferecer assistência recíproca por toda a vida. Esta solidariedade do casal transmitia-se depressa para os seus filhos, cuja educação exigia um vínculo vigoroso e duradouro. E isto levava, por sua vez, à solidariedade entre os filhos adultos e os seus pais idosos.

Actualmente, as relações entre as gerações estão a passar por modificações significativas, como resultado de vários factores. Em muitos sectores, houve um debilitamento do vínculo matrimonial, que é compreendido frequentemente como um mero contrato entre dois indivíduos. As pressões exercidas por uma sociedade consumista pode levar as famílias a divergir a atenção da casa para o lugar de trabalho ou para uma vasta gama de actividades sociais. Por vezes os filhos são vistos, até mesmo antes do seu nascimento, como um obstáculo à realização pessoal dos pais, ou são considerados como um objecto a ser escolhido entre outros. Assim, influenciam-se os relacionamentos entre as gerações, uma vez que agora numerosos filhos adultos deixam ao Estado ou à sociedade em geral o cuidado dos seus pais idosos. A instabilidade do vínculo matrimonial, em determinados contextos sociais, levou também a uma tendência crescente entre os filhos adultos, a distanciar-se dos seus pais e a delegar a terceiros a obrigação natural e o mandamento divino de honrar o pai e a mãe.

3. Considerando a importância fundamental da solidariedade na edificação de sociedades humanas abastadas (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 38-40), encorajo-vos no estudo destas realidades significativas e expresso a minha esperança, a fim de que ele leve a uma estima mais evidente da necessidade de uma solidariedade que ultrapasse as gerações e una os indivíduos e os grupos na assistência e no enriquecimento mútuos. Estou persuadido de que a vossa investigação neste campo oferecerá uma contribuição inestimável para o desenvolvimento do ensinamento social da Igreja.

Há que prestar atenção especial à situação precária de numerosas pessoas idosas, que varia em conformidade com as nações e regiões (cf. Evangelium vitae EV 44 cf. também Centesimus annus CA 33). Muitos destes idosos dispõem de recursos ou pensões insuficientes, alguns sofrem de enfermidades físicas, enquanto outros já não se sentem úteis ou ficam envergonhados porque exigem cuidados especiais, e muitos deles se sentem simplesmente abandonados. Sem dúvida, estas problemáticas serão mais evidentes, na medida em que o número de pessoas idosas aumenta e a população envelhece, como resultado do declínio demográfico.

4. Cada geração e grupo social tem um papel a desempenhar, no momento de enfrentar estes desafios. Há que prestar atenção especial às respectivas competências do Estado e da família, na edificação de uma solidariedade efectiva entre as gerações. No pleno respeito pelo princípio da subsidiariedade (cf. Centesimus annus CA 48), as autoridades públicas devem preocupar-se por reconhecer as consequências de um individualismo que como os vossos estudos já demonstraram podem prejudicar seriamente os relacionamentos entre as diferentes gerações. Por sua vez a família, como origem e fundamento da sociedade humana (cf. Apostolicam actuositatem, AA 11 cf. também Familiaris consortio FC 42), tem também um papel insubstituível a desempenhar na construção da solidariedade entre as gerações. Não existe uma idade em que se deixa de ser pai ou mãe, filho ou filha. Temos uma responsabilidade especial não apenas em relação àqueles que receberam de nós o dom da vida, mas também no que diz respeito às pessoas de quem nós recebemos este mesmo dom.

Estimados membros da Academia, enquanto dais continuidade ao vosso importante trabalho, transmito-vos os meus bons votos e, cordialmente, invoco sobre vós e os vossos entes queridos as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA ORGANIZADA


PELA FUNDAÇÃO "CENTESIMUS ANNUS PRO PONTIFICE"




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Sinto-me feliz por enviar a minha saudação a todos os ilustres Congressistas, reunidos em Roma para a Conferência internacional sobre o tema "Confronting Globalization: Global Governance and the Politics of Development", organizada pela Fundação Vaticana Centesimus Annus Pro Pontifice.

Dirijo um grato pensamento ao Senhor Cardeal Attilio Nicora, Presidente da Administração do Património da Sé Apostólica. Saúdo o Conde Lorenzo Rossi de Montelera, Presidente da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, os Relatores e quantos se ocuparam da organização do encontro.

Como se sabe, a globalização constitui um vasto fenómeno social e apresenta numerosos desafios à comunidade internacional e aguarda respostas eficazes e eticamente responsáveis. Precisamente por isto, torna-se útil como nunca a reflexão que nestes dias o vosso Congresso deseja desenvolver, pondo-se à escuta dos órgãos emergentes no contexto social, cultural e económico mundial.

2. A vossa Conferência parte da consideração de que no processo de globalização mundial o abismo entre os Países ricos e os pobres infelizmente se vai alastrando cada vez mais. Face às populações que vivem em condições de miséria inaceitáveis, face a quantos se encontram em situações de fome, de pobreza e de crescentes desigualdades sociais, é urgente intervir para a salvaguarda da dignidade e para a promoção do bem comum.

Justamente vos interrogais acerca do modo como podem a globalização e a solidariedade integrar-se reciprocamente de forma a dar origem a dinâmicas mundiais que comportem um crescimento económico harmonioso e, ao mesmo tempo, um desenvolvimento equitativo.

Dar vida a uma globalização solidária é o desafio que permanece sempre, detectando as causas dos desequilíbrios económicos e sociais, e perspectivando escolhas de actuação adequadas que garantam a todos um futuro ao serviço da solidariedade e da esperança.

3. É necessário que o processo de globalização em acto esteja animado pelos valores éticos básicos e finalizado para o desenvolvimento integral de cada homem e de todo o homem; é preciso que as consciências sejam educadas num elevado sentido de responsabilidade e de atenção para o bem de toda a humanidade e de cada um dos seus componentes.

Só com estas condições a família humana, constituída por povos diversos entre si devido à raça, à cultura e à religião, poderá dar vida a formas de cooperação económica, social e cultural inspiradas pela humanidade fraterna.

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Tenho a certeza de que também deste vosso encontro surgirão indicações úteis para enfrentar com competência e abertura de ânimo estas amplas e emergentes problemáticas económicas e sociais.

A vossa Fundação, no respeito das várias culturas e dos estilos de vida, poderá dar o seu contributo para a tutela da dignidade da pessoa, em sintonia com o Magistério da Igreja. Trata-se de uma forma nobre de testemunho cristão destinado a imbuir a sociedade actual dos perenes valores evangélicos. Deus abençoe cada um dos vossos esforços e torne frutuosa a vossa actividade!

Por fim, aproveito de bom grado a circunstância para renovar a esta benemérita Instituição o meu vivo apreço pelo trabalho que há anos vai desenvolvendo ao serviço da Igreja e, de modo particular, do Sucessor de Pedro.

Ao garantir a cada um de vós e às vossas famílias uma recordação diária na oração, envio a todos uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 29 de Abril de 2004.




DIscursos João Paulo II 2004 - AOS SÓCIOS DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO