DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES DA 4ª REUNIÃO


DO CONSELHO ESPECIAL DA SECRETARIA GERAL


DO SÍNODO DOS BISPOS PARA A EUROPA


14 de Maio de 2004




Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. Dirijo a todos vós a minha saudação, particularmente alegre neste tempo pascal, no momento em que estais reunidos aqui em Roma para a quarta reunião do Conselho Especial da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos para a Europa.

Manifesto-vos a minha gratidão pelo trabalho que levais a cabo, em benefício da Colegialidade episcopal, oferecendo ao Sucessor de Pedro o sustento do vosso conselho prudente e da vossa caridade pastoral.

Juntamente convosco, hoje tenho a alegria de saudar D. Nikola Eterovic, que recentemente chamei, como Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, a desempenhar este serviço especial ao ministério petrino e à colegialidade dos Pastores da Igreja.

2. É a primeira vez que vos reunis, depois da promulgação da Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, sucessiva à segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa. A vossa finalidade consiste em reflectir sobre o acolhimento da mesma e também em promover uma difusão, um conhecimento e uma aplicação desejavelmente melhores deste importante documento, que se formou no clima sinodal da Igreja peregrina nesta nossa Europa.

A vossa reunião realiza-se num momento particular, caracterizado pelo recente alargamento da Uniao Europeia. A Igreja católica formula votos a fim de que este processo continue e chegue a alcançar os confins geográficos do continente, incluindo todos os seus povos. Efectivamente, além de ter vigorosos vínculos históricos entre si, eles compartilham os mesmos valores culturais e religiosos.

3. Uma Europa dos povos, unida no respeito pela pluralidade legítima que enriquece as Nações singularmente, pequenas e grandes, num processo aberto de permuta de dons. Uma Europa em que se respeite a dignidade transcendente da pessoa humana, o valor da razão, da liberdade, da democracia, do Estado de direito e da distinção entre política e religião (cf. Ecclesia in Europa, 109). Esta Europa, fundamentada sobre o direito, destinada para o respeito dos valores humanos e cristãos e orientada para a solidariedade em favor de todos os seus membros, sobretudo dos mais necessitados, tornar-se-á um continente de prosperidade e de paz, cujo exemplo será estimulador para os outros povos e para as demais nações.

A Igreja católica, fortalecida pela mensagem de paz e de esperança que o Senhor ressuscitado lhe oferece, não se cansará de repropor este ideal aos povos europeus neste importante momento da sua história, comprometendo-se nos sectores que lhe competem, na realização deste nobre projecto, a fim de se tornar a fonte de um futuro melhor para todos os seus habitantes e para toda a humanidade.

4. Confio a prática destes propósitos generosos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Esperança, a fim de que a Europa, voltando a encontrar-se a si mesma, seja capaz de construir um futuro melhor para todos os seus concidadãos, no respeito pelos direitos de Deus e do homem, e para se tornar cada vez mais um continente de prosperidade e de paz.

Em sinal de comunhão colegial e de gratidão pelo vosso serviço precioso, também como membros do Conselho Especial da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos para a Europa, é de bom grado que concedo a todos vós a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO LÍBANO,


SUA EXCELÊNCIA O SENHOR ÉMILE LAHOUD


15 de Maio de 2004




Senhor Presidente!

É com alegria que recebo Vossa Excelência e lhe apresento, bem como a toda a delegação que o acompanha, as cordiais boas-vindas.

Conservando uma feliz recordação da minha visita ao seu amado País, formulo cordiais votos pela sua pessoa e por todos os seus compatriotas. Peço a Deus que ajude todos os libaneses a consolidar a unidade da sua Nação, na concórdia e no respeito de quantos a compõem e faço votos por que a canonização de um filho da vossa terra, Pe. Nimatullah Al-Hardini seja, para os seus concidadãos, um exemplo de vida fraterna. Peço a Deus que ampare também os esforços de todos os homens de boa vontade em favor da paz, sobretudo na região do Médio Oriente, tão provada por violências inaceitáveis.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre o amado povo libanês e os seus dirigentes invoco a abundância das Bênçãos divinas.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


À PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ATENAS


SENHORA DORA BAKOYIANNIS


15 de Maio de 2004




Sinto-me feliz em recebê-la, Senhora Presidente, e de apresentar as boas-vindas tanto a Vossa Excelência como à delegação que a acompanha.

Faço votos por que a próxima celebração dos Jogos Olímpicos na sua cidade seja uma manifestação de fraternidade para todos os participantes e uma mensagem de paz e de encontro para quantos neles participarem como espectadores em todo o mundo. Neste espírito, invoco sobre Vossa Ex.cia e sobre todos os organizadores desta festa as Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLÉIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO


15 de Maio de 2004



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Dirijo a minha saudação cordial a todos vós, que viestes de diversas regiões do mundo, para participar na Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso.

Saúdo o Presidente, D. Michael Louis Fitzgerald, e agradeço-lhe as palavras que, amavelmente, desejou pronunciar em vosso nome. Saúdo o Secretário e os outros colaboradores do Pontifício Conselho, assim como as pessoas que prepararam este importante encontro, com que se deseja celebrar o 40º aniversário de erecção do Dicastério, ocorrida no dia 19 de Maio de 1964.

A decisão do meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, brotou como ele mesmo pôde anotar "da atmosfera de união e de expectativa que caracterizou claramente o Concílio Vaticano II" (Discurso ao Colégio dos Cardeais, 23 de Junho de 1964). E do próprio Conselho, sobretudo da Declaração Nostra aetate, este novo Organismo recebeu as directrizes para a sua actividade, destinada a promover as relações com os fiéis das outras confissões religiosas.

2. Nos últimos quarenta anos, o Pontifício Conselho desempenhou com um empenhamento zeloso o seu serviço eclesial, encontrando respostas positivas e fecundas em numerosas dioceses, e também em Igrejas e Comunidades cristãs de diferentes denominações.

A importância do trabalho que vós levais a cabo é sentida, outrossim, por não poucas organizações de outras religiões, que no passado tiveram e que ainda hoje continuam ter contactos profícuos com o vosso Pontifício Conselho e, convosco, compartilham diversas iniciativas de diálogo. É necessário intensificar esta fecunda cooperação, orientando a atenção para temas de interesse comum.

3. Os anos vindouros verão a Igreja ainda mais comprometida em enfrentar o grande desafio do diálogo inter-religioso. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, tive a oportunidade de relevar que o milénio, que há pouco iniciou, se insere na perspectiva de um "pluralismo cultural e religioso mais acentuado" (n. 55). Por conseguinte, o diálogo é importante e deve continuar, uma vez que "faz parte da missão evangelizadora da Igreja", em "íntima união" com o anúncio de Cristo e, ao mesmo tempo, distinto dele, sem confusões nem instrumentalizações (Carta Apostólica Redemptoris missio RMi 55). Porém, ao promover este diálogo com os seguidores de outras religiões, há que evitar todo o relativismo e o indiferentismo religioso, esforçando-se por oferecer a todos, com respeito, o alegre testemunho da "nossa esperança" (cf. 1P 3,15).

4. Como observei na Novo millennio ineunte, o diálogo inter-religioso é, de igual modo, importante para "criar um pressuposto seguro de paz" e fazer com que "o nome do único Deus" se torne "cada vez mais aquilo que é: um nome de paz, um imperativo de paz" (n. 55). Em virtude do "ministério da reconciliação", que lhes foi confiado por Deus (cf. 2Co 5,18), os cristãos sabem que podem contribuir para a edificação da paz no mundo, deixando-se animar pelo amor por todos os homens e pelo homem todo, buscando com coragem a verdade, cultivando uma sede profética de justiça e de liberdade. A este esforço deve estar sempre vinculada uma oração perseverante, humilde e confiante a Deus. Efectivamente, a paz é sobretudo um dom divino a implorar incansavelmente.

Que a Virgem Maria acompanhe o trabalho do vosso Pontifício Conselho e torne fecundos todos os vossos projectos. Da minha parte, garanto-vos a lembrança na oração enquanto, do íntimo do coração, vos concedo a todos a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA


A CANONIZAÇÃO DE DOM LUÍS ORIONE


E ACTO DE CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA


15 de Maio de 2004




1. É com grande alegria que me encontro convosco esta tarde, caríssimos Irmãos e Irmãs, que representais toda a família do Beato Luís Orione.

Saúdo os Senhores Cardeais, os Bispos, as autoridades e quantos quiseram estar presentes nesta festa. Dirijo um pensamento especial ao Director-Geral do Instituto, Pe. Roberto Simionato, que desejou fazer-se intérprete dos sentimentos de cada um de vós.

Além disso, saúdo os vários componentes da Família de Dom Orione: Filhos da Providência Divina, Pequenas Irmãs da Caridade, leigos consagrados e associados ao Movimento Laical de Dom Orione, devotos e peregrinos provenientes da Europa, da África, da Ásia e das Américas.
Dirijo uma saudação especial aos jovens e aos numerosos portadores de deficiência, aqui presentes, que me oferecem a ocasião para abraçar idealmente todos os hóspedes das vossas casas, que Dom Orione considerava como seus "tesouros" e suas "pérolas" preciosas. Saúdo de bom grado também a Rai (Rádiotelevisão italiana), que oferece a muitos italianos espalhados pelo mundo a possibilidade de participarem nesta manifestação.

2. Foi com grande surpresa que acabei de escutar a voz de Dom Orione! Quantos corações esta voz consolou, quantas pessoas aconselhou! Ela indicou a todos o caminho do bem.
Humilde e audacioso, em toda a sua vida ele esteve sempre pronto a debruçar-se sobre as necessidades dos pobres, a tal ponto que chegou a ser honrado com o epíteto de "carregador da Providência Divina".

O seu testemunho permanece de grande actualidade. O mundo, demasiadas vezes dominado pela indiferença e pela violência, tem necessidade de pessoas que, como ele, "cumulem de amor os sulcos da terra, repletos de egoísmo e de ódio" (Escritos, 62, 99). São necessários bons Samaritanos que estejam prontos a responder ao "brado angustiante de muitos dos nossos irmãos que sofrem e aspiram a Cristo" (Ibid., 80, 170).

3. Estimados Irmãos e Irmãs, Dom Orione intuiu com clareza que a primeira obra de justiça consiste em dar Cristo aos povos, porque "é a caridade que a todos edifica, a todos unifica em Cristo e na sua Igreja" (Ibid., 61, 153).

Eis o segredo da santidade, mas também da paz, a que aspiramos ardentemente para as famílias e para os povos. Dom Orione interceda de maneira particular pela paz na Terra Santa, no Iraque e nas outras regiões do mundo, atingidas por guerras e conflitos sanguinolentos.

Agora, dirijamo-nos a Nossa Senhora, de quem o vosso Fundador foi sempre um grande devoto, a fim de que continue a salvaguardar a Pequena Obra da Providência Divina, chamada a anunciar e a dar testemunho do Evangelho aos homens do terceiro milénio.

Concedo a todos a minha Bênção!

Saudação especial

Gostaria de recordar aqui ainda um filho espiritual de Dom Orione, que conheci na Polónia... era Mons. Bronislaw Dabrowski, Secretário-Geral do Episcopado Polaco. Recordo-me dele sempre com grande simpatia e reconhecimento, porque ele nos ensinou, naquela época difícil, que é necessário ser corajoso, humilde e forte. Que a sua alma descanse em paz!
Uma vez mais, obrigado a todos vós!
***

Acto de Consagração

a Nossa Senhora


1. Maria, Mãe de Cristo
e da Igreja,
enquanto contemplamos
ao teu lado na glória
Luís Orione, pai dos pobres
e benfeitor da humanidade
dolorosa e abandonada,
consagramos-te a Pequena
Obra da Providência Divina,
que é tua obra desde o início.
Dá aos teus pequenos filhos
e filhas, ó Mãe,
aquela inesgotável
capacidade de amar,
que brota do Coração
trespassado
do Crucificado.
Dá-lhes fome e sede
de caridade apostólica
segundo o exemplo
do Fundador,
que suspirava: Almas, almas!

2. Recorda-te, ó Virgem Santa,
da humilde
Família religiosa que,
depois de uma oração
intensa e prolongada
diante da tua venerada
Imagem,
Dom Orione entregou à Igreja.
Tu quiseste valer-te
da Pequena Obra, chamando
os seus filhos e as suas filhas
ao altíssimo privilégio
de servir Cristo nos pobres.
Desejaste que fossem animados
por uma caridade ardente,
confiantes na Providência
Divina.
Nunca se extinga
o seu fogo sagrado
do amor a Deus e ao próximo.

3. Incute-lhes amor devoto
ao Sucessor de Pedro,
obediência primorosa
aos Bispos,
disponibilidade generosa
no serviço
à comunidade cristã.
Faz com que sejam sensíveis
às necessidades do próximo,
atentos e amorosos aos irmãos
mais pobres e abandonados,
aos excluídos e a quantos
são considerados
como um refugo da sociedade.
Faz com que as filhas
e os filhos
de Dom Orione,
sustentados por um ardor
ilimitado por Cristo,
saibam acolher
com misericórdia inesgotável
todas as formas
de miséria humana,
manifestando
amor e compaixão
por todos.

4. Dá, ó Maria,
à Família de Dom Orione
um coração
nobre e magnânimo,
que saiba aliviar todas as dores
e enxugar cada lágrima.
Derrama as tuas graças
copiosas
sobre quantos,
com confiança recorrem a ti
em todas as necessidades.
A vida da Pequena Obra
da Providência Divina,
seja consagrada para dar
Cristo ao povo
e o povo a Cristo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR RICARDO MADURO


PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE HONDURAS


Segunda-feira, 17 de Maio de 2004




Senhor Presidente!

É com muito prazer que o recebo e lhe apresento as mais cordiais boas-vindas, e ao mesmo tempo agradeço-lhe pela sua visita, formulando os melhores votos para a sua pessoa e para a sua nobre missão ao serviço do povo de Honduras. Nesta ocasião desejo renovar o meu afecto pelos habitantes do seu País, que recordo sempre na minha oração, pedindo a Deus que abençoe cada um deles, as famílias e os diversos grupos sociais para que possam ter um presente sereno e um futuro esperançador, construindo uma sociedade baseada na justiça e na paz, na fraternidade e na solidariedade, o que há-de favorecer o progresso integral de todos, especialmente dos mais desfavorecidos.

Sobre Vossa Excelência, sobre os seus colaboradores no Governo e sobre todo o povo católico de Honduras invoco a abundância das bênçãos de Deus providente e misericordioso, pela intercessão da Virgem Santíssima de Suyapa, tão venerada nessa amada Nação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA


A CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO


Segunda-feira, 17 de Maio de 2004





Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Depois da Solene celebração de ontem, em que tive a alegria de proclamar seis novos Santos, sinto-me feliz por me encontrar convosco, que estais ligados por vínculos especiais de afecto espiritual a cinco deles: Aníbal Maria de França; José Manyanet e Vives, Nimatullah Kassab Al-Hardini, Paula Isabel Cerioli e Joana Beretta Molla.

Ao dirigir-vos a minha cordial saudação, desejaria agora juntamente convosco deter-me a reflectir brevemente sobre a devoção mariana destes Santos.

2. Aníbal Maria de França orgulhava-se por levar desde o baptismo o nome de Nossa Senhora, que gostava de chamar "minha Mãe". Nutria para com ela uma devoção terníssima e fervorosa, e invocava-a como Mãe da Igreja e Mãe das vocações. Quis que a Imaculada fosse considerada "Superiora absoluta, imediata e efectiva" das Filhas do Divino Zelo e dos Rogacionistas, por ele fundados, recomendando a sua devoção como segredo de santidade e especial glória dos dois Institutos.

3. Saúdo-vos agora com afecto, peregrinos de língua espanhola, que viestes para participar na canonização de São José Manyanet, sacerdote espanhol que no século XIX foi instrumento escolhido para promover o bem da família e a instrução das crianças e dos jovens.

Fixou o seu coração na Sagrada Família. O "Evangelho da família", vivido por Jesus em Nazaré com Maria e José, foi o motor da caridade pastoral do Padre Manyanet e inspirou a sua pedagogia. Além disso, procurou fazer com que a Sagrada Família fosse conhecida e imitada no seio das famílias. Eis a sua herança, e com as suas palavras, na sua língua materna catalana hoje digo-vos a vós, religiosos e religiosas por ele fundados, aos pais e mães de família, aos alunos e ex-alunos dos seus centros: "Fazei dos vossos lares uma Nazaré e das vossas famílias uma Sagrada Família". Ajude-vos a intercessão de São José Manyanet!

4. A recitação do Rosário ritmou as jornadas de São Nimatullah Kassab Al-Hardini desde a sua infância. Ao longo da sua vida, ele encontrou na Mãe de Deus, a Imaculada Conceição, o próprio modelo de fidelidade a Cristo, à qual ele aspirava. Segundo o exemplo de Maria de Nazaré que vigia sobre o menino divino, ele viveu os seus votos monásticos na paciência e no escondimento, abandonando-se totalmente à vontade divina.

Que o seu testemunho desperte em todos nós um amor sincero e filial a Maria, nossa Mãe e nossa protectora!

5. Paula Isabel Cerioli, esposa e mãe, mas privada em breve tempo dos filhos e do marido, uniu-se ao mistério de Maria das Dores e da sua maternidade espiritual. Dedicou-se então ao acolhimento das crianças órfãs e pobres inspirando-se na Sagrada Família de Nazaré. Na escola de Maria, soube transformar o amor natural no sobrenatural, deixando que Deus dilatasse o seu coração de mãe.

Que o seu exemplo continue a falar aos numerosos corações de esposas, de mães, de almas consagradas!

6. Também Joana Beretta Molla alimentou uma profunda devoção a Nossa Senhora. A referência à Virgem é frequente nas cartas ao namorado Pedro e nos anos que se seguiram na sua vida, sobretudo quando foi internada para a extracção do fibroma, sem deixar que o menino que trazia no seio corresse perigo algum. Foi precisamente Maria quem a sustentou no extremo sacrifício da morte, como confirmação de quanto ela mesma sempre gostava de repetir: "Sem a ajuda de Nossa Senhora para o Paraíso não se vai".

7. Caríssimos, que estes novos Santos vos ajudem a fazer tesouro da sua lição de vida evangélica. Segui as suas pegadas e imitai, de maneira particular, a devoção filial à Virgem Maria, para progredir, na sua escola, pelo caminho da santidade.

Com estes votos, que acompanho com a oração, renovo a todos vós e aos vossos queridos a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA


A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES


18 de Maio de 2004




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio!

1. Sinto-me feliz por me encontrar convosco por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Dirijo a todos a minha cordial saudação. Dirijo um pensamento especial ao vosso Presidente, o Cardeal Stephen Fumio Hamao, e agradeço-lhe as gentis palavras com que interpretou os sentimentos comuns. Saúdo o Secretário e os colaboradores do Pontifício Conselho, congratulando-me pelo seu trabalho que se refere a um sector cada vez mais importante da Comunidade mundial.

Também o tema do vosso actual encontro, "O diálogo intercultural, inter-religioso e ecuménico no contexto das actuais migrações", realça a actualidade e a importância do serviço que o vosso Pontifício Conselho está chamado a desempenhar neste momento histórico.

2. A comunidade cristã está chamada hoje a confrontar-se com situações profundamente mudadas em relação ao passado. Uma destas é sem dúvida o maciço fenómeno migratório, que, por vezes, se apresenta conotado por tragédias que abalam as consciências. Deste fenómeno surgiu o pluralismo étnico, cultural e religioso, que caracteriza em geral as sociedades nacionais de hoje.
O confronto com a realidade actual das migrações torna urgente, por parte das comunidades cristãs, um renovado anúncio evangélico. Isto chama em causa o compromisso pastoral e o testemunho da vida de todos: clero, religiosos e leigos.

3. Com efeito, se "globalização" é a palavra que, mais do que qualquer outra, conota a hodierna evolução histórica, também a palavra "diálogo" deve caracterizar a atitude, mental e pastoral, que todos somos chamados a assumir em vista de um novo equilíbrio mundial. O grande número de migrantes, aproximadamente duzentos milhões, torna-o ainda mais urgente.

A integração a nível social e a interacção no plano cultural tornaram-se, por conseguinte, o pressuposto necessário para uma verdadeira convivência pacífica entre as pessoas e as nações. Isto é exigido, o que antes nunca aconteceu, pelo processo de globalização, que une de maneira crescente os destinos da economia, da cultura e da sociedade.

4. Cada cultura constitui uma abordagem ao mistério do homem também na sua dimensão religiosa e isto explica, como afirma o Concílio Vaticano II, o motivo pelo qual alguns elementos de verdade se encontrem também fora da mensagem revelada, até junto dos não-crentes que têm o culto de nobres valores humanos, apesar de não conhecerem a sua origem (cf. Gaudium et spes, GS 92). Por isso, é necessário aproximar-se de todas as culturas com uma atitude respeitadora de quem está consciente de que não tem apenas algo a dizer e a oferecer, mas também muito para ouvir e receber (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, 12).

Tal atitude não é apenas uma exigência imposta pelas transformações do nosso tempo, mas é necessária para que o anúncio do Evangelho possa alcançar todos. Surge disto a necessidade do diálogo inter-cultural: trata-se de um processo aberto que, assumindo tudo o que existe de bom e de verdadeiro nas diversas culturas, faz com que sejam removidos alguns obstáculos ao caminho da fé.

Semelhante diálogo comporta uma mudança profunda de mentalidade e também de estruturas pastorais, e portanto, tudo o que os pastores investirem em formação espiritual e cultural, também através dos encontros e confrontos inter-culturais, caminha rumo ao futuro, e constitui um elemento da nova evangelização.

5. Os processos de mundialização não só chamam a Igreja ao diálogo inter-cultural, mas também ao inter-religioso. Com efeito, a humanidade do terceiro milénio tem urgente necessidade de reencontrar os comuns valores espirituais, sobre os quais fundar o projecto de uma sociedade digna do homem (cf. Centesimus annus CA 60).

Contudo, a integração entre populações pertencentes a culturas e a religiões diferentes nunca está privada de incógnitas e de dificuldades. Isto é válido, em particular, para a imigração de crentes, os quais apresentam problemas específicos. É necessário que os pastores assumam, em relação a isto, específicas responsabilidades promovendo um testemunho evangélico dos próprios cristãos cada vez mais generoso. O diálogo fraterno e o respeito recíproco nunca constituirão um limite ou um impedimento ao anúncio do Evangelho. Aliás, o amor e o acolhimento constituem em si a primeira e a mais eficaz forma de evangelização.

Por conseguinte, é necessário que as Igrejas particulares se abram ao acolhimento, também com iniciativas pastorais de encontro e de diálogo, mas sobretudo ajudando os fiéis a superar os preconceitos e educando-os a tornaremse, eles também, missionários ad gentes nas nossas terras.

6. A presença, cada vez mais numerosa, de imigrantes cristãos não em plena comunhão com a Igreja Católica oferece também às Igrejas particulares novas possibilidades para a fraternidade e para o diálogo ecuménico, estimulando a realizar, longe de fáceis irenismos e do proselitismo, uma maior compreensão recíproca entre Igrejas e Comunidades eclesiais (cf. Erga migrantes caritas Christi, 58; Directório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo, 107).

A actual entidade das migrações induz a reflectir sobre a condição do Povo de Deus, a caminho rumo à pátria do céu. Portanto, o mesmo movimento ecuménico pode ser entendido como um grande êxodo, uma peregrinação, que se mistura e se confunde com os êxodos actuais de populações em busca de uma condição de vida menos precária. Neste sentido o compromisso ecuménico constitui um ulterior incentivo a acolher fraternalmente pessoas que têm modos de viver e de pensar diversos dos que para nós são habituais. Fenómeno migratório e movimento ecuménico tornam-se assim um estímulo, nos respectivos âmbitos, para um melhor entendimento humano.

Invocando a ajuda de Deus sobre os vossos trabalhos, cujo desenvolvimento confio à protecção da Virgem Santíssima, concedo a todos a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL


SENHOR JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO


POR OCASIÃO DA ASSINATURA DA NOVA CONCORDATA


ENTRE A SANTA SÉ E PORTUGAL


Terça-feira, 18 de Maio de 2004




Senhor Primeiro Ministro,
Senhor Cardeal Patriarca
Ilustres Senhores e Senhoras!

Acaba de ter lugar a assinatura da nova Concordata, que confirma os sentimentos de consideração recíproca que animam as relações entre a Santa Sé e Portugal. Dou as minhas cordiais boas-vindas a Vossa Excelência Senhor Durão Barroso, aos membros da Delegação oficial e ao Embaixador de Portugal junto da Santa Sé. Saúdo também o Senhor Cardeal José Policarpo, o Núncio Apostólico e os membros da Conferência Episcopal que participaram na solene cerimónia.

Enquanto exprimo meu profundo apreço pela atenção que o Governo e a Assembleia da República portuguesa demonstram em relação à missão da Igreja, culminada na hodierna assinatura, faço votos de que a nova Concordata favoreça um entendimento sempre melhor entre as Autoridades do Estado e os Pastores da Igreja a vantagem do bem comum da Nação. Com estes sentimentos e votos invoco sobre vós, vossas famílias e o vosso povo a Bênção de Deus Omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALEKSANDER KWASNIEWSKI


PRESIDENTE DA POLÓNIA NO 60° ANIVERSÁRIO


DA BATALHA DE MONTE CASSINO


Terça-feira, 18 de Maio de 2004




Ilustre Senhor Presidente
Ilustres Senhores e Senhoras!

Apresento-vos as minhas cordiais boas-vindas. O nosso encontro de hoje realiza-se em circunstâncias particulares. De facto, coincide com o 60° aniversário da Batalha de Monte Cassino. Cada polaco recorda com orgulho aquele combate que, graças ao heroísmo do exército comandado pelo general Anders, abriu aos aliados o caminho para a libertação da Itália e para a derrota dos invasores nazistas. No cimitério militar de Monte Cassino encontram-se túmulos sobre os quais foram colocadas cruzes latinas e gregas, e também lápides com a estrela de David. Repousam ali os heróis vítimas da guerra, unidos ao ideal de lutar pela "nossa e pela vossa liberdade", que inclui em si não só o amor pela própria pátria, mas também a solicitude pela independência política e espiritual de outras nações. Todos sentiram o dever de se opor decididamente não só aos vexames físicos dos indivíduos e das nações, mas também à tentativa de exterminar as suas tradições, culturas e identidade espiritual.

Falo disto para recordar que, ao longo dos séculos, o património cultural e espiritual da Europa foi formado e defendido inclusivamente com o preço da vida por quantos confessaram Cristo e por quantos, no seu credo religioso, se reconhecem em Abrãao. Parece ser necessário recordar isto no contexto da formação das bases constitucionais da União Europeia, na qual recentemente também a Polónia foi inserida. O sangue dos nossos concidadãos derramado em Monte Cassino constitui hoje um dos temas principais do debate acerca da forma espiritual que deve ser dada à Europa. A Polónia não pode esquecer isto e não pode deixar de o recordar a quantos, em nome da laicidade das sociedades democráticas, parecem esquecer o contributo do cristianismo na edificação da sua própria identidade.

Desejo expressar o meu apreço ao Senhor Presidente e às Autoridades da República da Polónia, porque não poupam esforços para defender a presença dos valores cristãos na Constituição Europeia. Tenho esperança em que tais iniciativas dêem um proveitoso resultado. Faço votos, de coração, por que tudo isto se realize na Polónia e em toda a Europa.

Estou informado acerca das dificuldades políticas que a Polónia vive actualmente. Espero que sejam superadas oportunamente. Tenho esperança em que acontecerá de maneira que todos, e sobretudo os mais pobres, as famílias numerosas, os desempregados, os doentes e os idosos se possam sentir seguros na nossa Pátria. É uma tarefa difícil. Por isso desejo-lhe, Senhor Presidente, que tenha força e coragem suficientes, para poder orientar de maneira oportuna, tanto no âmbito do Estado polaco como no da Uniao Europeia, os esforços de todos os que assumem a responsabilidade de formar a Europa e o mundo de hoje.

A todos os meus concidadãos garanto a minha lembrança na oração e abençôo todos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA 53ª ASSEMBLEIA GERAL


DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA


Quinta-feira, 20 de Maio de 2004



Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. "Que a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco" (Ga 1,3). É com estas palavras do Apóstolo Paulo que apresento a minha carinhosa saudação a cada um de vós, enquanto vos asseguro a minha proximidade na oração, a fim de que o Senhor ilumine e sustente o vosso quotidiano cansaço de Pastores, ao serviço da Igreja e da amada Nação italiana.

Saúdo de maneira particular o vosso Presidente, Cardeal Camillo Ruini, a quem agradeço as palavras que me dirigiu em nome de todos vós. Saúdo também os outros Cardeais, os Vice-Presidentes da vossa Conferência e o Secretário-Geral.

2. Nesta vossa Assembleia Geral, destes continuidade à vossa reflexão sobre a paróquia, à qual já dedicastes a Assembleia do passado mês de Novembro, em Assis, em vista de apresentar algumas propostas conjuntas para a renovação necessária na perspectiva da nova evangelização desta realidade eclesial fundamental. Especialmente na Itália, a paróquia assegura a proximidade constante e amorosa da Igreja a toda a população, enquanto vai ao encontro das suas necessidades espirituais, sem deixar de se interessar com frequência também pelas outras necessidades, em ordem a oferecer a cada um a possibilidade de um caminho de fé que o introduza mais profundamente na vida da Igreja, tornando-o assim partícipe da sua missão apostólica.

Caríssimos Irmãos Bispos, a este propósito conheço e compartilho profundamente a vossa solicitude pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, e desejo dirigir, também em vosso nome, um caloroso convite aos jovens e às jovens da Itália, a fim de que tomem em consideração atenta e serena, e eventualmente acolham não com medo mas com alegria, o chamamento que o Senhor quiser dirigir-lhes: trata-se de um dom extraordinário, que abre novos horizontes de vida para aqueles que são chamados e para muitos dos seus irmãos e irmãs.

Dirijo este mesmo convite à disponibilidade e à confiança, também às famílias das pessoas chamadas, hoje muitas vezes preocupadas pelo futuro dos seus filhos. Digo-lhes: não vos detenhais em considerações a curto prazo. Sabei que o Senhor não se deixa vencer na generosidade e que cada um dos seus chamamentos constitui uma bênção grandiosa também para a família daquele que é chamado.

3. Outro tema que foi abordado pela vossa Assembleia é o das comunicações sociais, também de grande importância, com a apresentação e a análise do Directório intitulado "Comunicação e Missão".

Conhecemos muito bem a influência incisiva que os mass media exercem, nos dias de hoje, sobre os modos de pensar e sobre os comportamentos tanto individuais como colectivos, orientando para uma visão da vida que, infelizmente, muitas vezes tende a debilitar os valores éticos fundamentais, de modo particular os que dizem respeito à família.

Não obstante, os meios de comunicação podem ser utilizados também tendo em vista diferentes finalidades e com diversos resultados, contribuindo de maneira notável para a afirmação de modelos de vida positivos e para a própria difusão do Evangelho.

Por conseguinte, caríssimos Bispos italianos, o Papa está ao vosso lado no compromisso com que, já há muitos anos, sustentais e promoveis o diário católico e os semanários diocesanos, e com que, mais recentemente, tendes cuidado de uma presença cristã qualificada no âmbito radiotelevisivo.

Formulo votos cordiais a fim de que todos os católicos italianos compreendam e compartilhem a importância deste compromisso, contribuindo desta maneira também para tornar mais positivo e tranquilo o clima cultural em que todos nós vivemos.

4. Estimados Irmãos Bispos, o terrorismo, os actos bélicos e as violações dos direitos humanos, que tornam tão difícil e perigosa a situação internacional, pesam grandemente no nosso coração. Continuo a unir-me à vossa oração, em particular pelos reféns no Iraque, por quantos arriscam a sua vida e por todos aqueles que a perdem no cumprimento do seu dever.

Estimo muito a iniciativa que tomastes, há mais de um ano, em vista de vos tornardes promotores de peregrinações de paz à Terra Santa, e encorajo este vosso empreendimento de todo o coração. Muitos de vós fostes pessoalmente àqueles lugares, levando convosco numerosos peregrinos. Este constitui também um vigoroso sinal de proximidade e de solidariedade para as comunidades cristãs que vivem nessa região e que têm grande necessidade da vossa assistência.

5. Caríssimos Bispos italianos, compartilho cordialmente a atenção que dedicais à vida desta dilecta Nação. Em particular nos casos de contraste e de oposição, é necessário que prevaleça a busca sincera do bem comum, a fim de que o caminho da Itália possa tornar-se mais rápido e para que tenha início uma nova fase de desenvolvimento, com a criação de lugares de trabalho mais numerosos, hoje tão necessários, especialmente em determinadas regiões meridionais.

Um tema decisivo, acerca do qual se devem multiplicar os esforços, permanece o da família fundamentada sobre o matrimónio, da salvaguarda e do acolhimento da vida e da responsabilidade primordial dos pais na educação. Hoje, repito convosco as palavras que, no corrente ano, constituíram o tema do Dia pela Vida: "Sem filhos, não há futuro!". Para o porvir da Itália, é verdadeiramente necessário e urgente um esforço convergente das políticas sociais, da pastoral da Igreja e de todas as pessoas que são capazes de influir sobre o sentimento comum, a fim de que os jovens casais voltem a descobrir a alegria de gerar e de educar os filhos, participando de maneira singular na obra do Criador.

6. Caríssimos Bispos italianos, asseguro-vos a minha oração diária por vós, pelas vossas Igrejas e por toda a comunidade nacional, a fim de que o povo italiano possa manter sempre viva e colocá-la ao serviço da Europa unidade que se vai construindo a sua grande herança de fé e de cultura.

É com sentimentos de profundo afecto que concedo a todos vós, aos vossos sacerdotes, a cada uma das vossas dioceses e a todas paróquias italianas, uma especial Bênção Apostólica.




DIscursos João Paulo II 2004