DIscursos João Paulo II 2004

O desenvolvimento autêntico exige um plano coordenado de progresso nacional, que honre as aspirações legítimas de todos os sectores da sociedade e pelas quais os líderes políticos e civis podem considerar-se responsáveis. Com efeito, a história humana ensina-nos constantemente que, se quisermos que tais programas realizem mudanças positivas e duradouras, eles devem fundamentar-se na prática de um governo transparente, acompanhada de um importante sistema jurídico, da liberdade política e de uma vigorosa imprensa independente. Sem estes fundamentos, comuns para todas as sociedades civilizadas, a esperança do progresso, a que cada ser humano justamente aspira, permaneceria uma ilusão. Por este motivo, em numerosas ocasiões recordei que todas as formas de corrupção constituem um flagelo que ofende a dignidade inviolável de cada pessoa, enquanto paralisa o progresso social, económico e cultural das nações.

Senhor Embaixador, foi com gosto que tomei conhecimento dos compromissos assumidos pela sua Nação, em prol das gerações mais jovens e da criação de oportunidades educativas para as mesmas. Efectivamente, o Estado tem o dever de assegurar que todos os seus cidadãos tenham acesso a uma educação adequada e sejam preparados para o exercício oportuno dos seus direitos e deveres. Lá onde as escolas, os institutos de formação e as universidades funcionam a nível profissional e são servidos por indivíduos dotados de integridade pessoal e de amor pelo saber, há esperança para a nação e, sobretudo, para os seus jovens. A educação é um instrumento altamente eficaz para interromper o ciclo da pobreza, que ainda atinge um número demasiado elevado de famílias no mundo de hoje e está a ser cada vez mais reconhecida pela comunidade internacional como a via-mestra para a paz. Através da ciência e da socialização adquiridas mediante a escolarização, os jovens e as jovens de todos os estratos da sociedade são integrados na vida cívica da nação e, desta maneira, podem ter a satisfação de contribuir para a mesma.

No seu serviço à família humana, a Igreja católica está preparada para ir ao encontro de todos os membros da sociedade iemenita, sem qualquer tipo de distinção, lutando juntamente com eles pela promoção dos valores que são comuns de todos os povos: a paz e a justiça. A solidariedade e a liberdade. A sua missão caritativa, particularmente em benefício dos pobres e das pessoas que sofrem, faz parte do seu "compromisso na caridade prática e concreta por todos os seres humanos" (Novo millennio ineunte NM 49) e já é muito estimada no seu País. Enquanto a Igreja tem o desejo de contribuir ainda mais amplamente para os programas de desenvolvimento humano delineados pela sua Nação, há que recordar também que a caridade cristã é sempre muito mais do que uma simples ajuda humanitária. Para a Igreja católica, os seus actos de caridade estão intimamente vinculados à celebração da Eucaristia, de onde ela haure o poder espiritual, necessário para sustentar a vida do seu povo e para cumprir a missão que lhe é própria. Por este motivo, é particularmente importante que a comunidade católica na República do Iêmen receba a autorização como já foi prometido para a construção de uma igreja e de um centro de pastoral em Sana e que, em Aden, lhe seja devolvida a sua propriedade.

Excelência, estou convicto de que a sua missão diplomática, que hoje tem início, fortalecerá ulteriormente os laços de compreensão e de cooperação já existentes entre o Iêmen e a Santa Sé. Asseguro-lhe que os vários Departamentos da Cúria Romana estarão disponíveis para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Com os meus sinceros bons votos, invoco sobre o Senhor Embaixador, a sua família e todo o povo do Iêmen, as abundantes bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ANDERSON KASEBA CHIBWA


NOVO EMBAIXADOR DA ZÂMBIA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


27 de Maio de 2004



Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Zâmbia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmite da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Mwanawasa, e peço que tenha a amabilidade de lhe comunicar, bem como ao seu governo, a certeza das minhas preces pela paz e pelo bem-estar da nação. No corrente ano, o seu país está a celebrar o quadragésimo aniversário de independência e, nesta feliz circunstância, reitero os sinceros bons votos que pude manifestar há quinze anos, em Lusaca: que todos os zambianos possam trabalhar em conjunto, a fim de que a vossa terra venha a ser "um lugar de autêntica liberdade, fraternidade e solidariedade mútua uma nação em que as crianças possam crescer e viver na dignidade e na liberdade dignas dos filhos de Deus" (Discurso na cerimónia de chegada a Lusaca, 2 de Maio de 1989, n. 2).

Como Vossa Excelência observou, hoje em dia o continente africano continua a enfrentar muitos desafios, especialmente nos campos do desenvolvimento, da dívida externa, da pobreza, dos direitos humanos e da crise do hiv/sida. Com efeito, "as tensões e os conflitos... a violência, o depauperamento e a deterioração do tecido institucional estão a mergulhar povos inteiros no desespero" (Discurso ao Corpo Diplomático, 12 de Janeiro de 2004, n. 1). Sem dúvida, o espírito da solidariedade recíproca, a que antes desejei fazer alusão, e sobre o qual também Vossa Excelência quis falar, constitui um elemento essencial para corresponder a tais desafios. Trata-se de um espírito aberto ao diálogo, radicado na profunda verdade de que todas as pessoas pertencem à única família humana: "Pelo simples facto de termos nascido neste mundo, nós participamos de uma herança e temos em comum a mesma origem, com todos os demais seres humanos" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1987, n. 1). Longe de constituir uma uniformidade rígida, esta unicidade encontra expressão na maravilhosa diversidade da família humana, uma diversidade em que as diferenças de raça, de cultura, de língua e de história não são causas de separação ou de divisão, mas de enriquecimento e de crescimento mútuos.

A solidariedade autêntica representa o caminho seguro para ultrapassar as animosidades étnicas, a intolerância religiosa, a divisão de classes e outros preconceitos que atingem precisamente o núcleo da dignidade humana, geralmente provocando divisões, inimizades, opressão e violência. Uma vez que esta solidariedade se fundamenta necessariamente na igualdade radical de todos os homens e mulheres, deve-se rejeitar qualquer política que entre em contradição com a dignidade essencial e os direitos humanos de cada pessoa ou grupo. Por outro lado, há que encorajar e promover as iniciativas que edificam relações abertas e honestas, que forjam alianças justas e que unem as pessoas numa cooperação que redunde no bem de todos. Esta solidariedade não significa ignorar as diferenças linguísticas, raciais, religiosas, sociais e culturais concretas, nem nega as dificuldades, às vezes enormes, que se encontram para ultrapassar antigas divisões e injustiças; o que ela comporta é a valorização das coisas que se têm em comum, daquilo que une os povos na busca conjunta de paz e de progresso.

Portanto, aqui estamos a falar de uma solidariedade que proteja e salvaguarde a liberdade legítima de cada pessoa e a justa segurança de cada nação. Sem esta liberdade e segurança, estão a faltar as próprias condições para o desenvolvimento, estão ausentes os elementos necessários para o progresso. Em síntese, a liberdade de que os Estados devem gozar, em ordem a assegurar o seu crescimento e desenvolvimento, como parceiros igualitários na família mais vasta das nações, depende do respeito mútuo que existir entre elas. Os indivíduos e os povos têm o direito a uma voz activa nas decisões que influenciam as suas pessoas e o seu futuro, e devem ser livres de exercer este direito. É por este motivo que "procurar a superioridade económica, militar ou política à custa dos direitos de outras nações é algo que faz periclitar qualquer perspectiva de verdadeiro desenvolvimento e de verdadeira paz" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1987, n. 6).

Por conseguinte, é esta solidariedade que deve orientar sempre a assistência económica, a cooperação política e até mesmo as operações militares que visam a manutenção da paz. A este propósito, é-me grato observar que a Zâmbia um dos países do continente africano que goza de maiores estabilidade e paz desde a sua independência está activamente comprometida nos esforços em vista da pacificação e da reconciliação na África, especialmente na região dos Grandes Lagos, mas também noutras partes. Exorto também a comunidade internacional, a fim de que assegure que os programas de ajuda oferecidos ao seu país e às demais áreas da África e do mundo inteiro se fundamentem firmemente numa solidariedade alicerçada no respeito pela liberdade individual e pela dignidade do ser humano.

Efectivamente, impelida pela fidelidade ao seu Mestre divino e seguindo o seu exemplo, cheia de misericórdia e de caridade, a própria Igreja vai ao encontro de todos os homens e mulheres com gestos de solidariedade. Na Zâmbia, ela está comprometida no aperfeiçoamento da sociedade através do trabalho que leva a cabo nos campos da educação, da assistência à saúde e da actividade caritativa, enquanto procura defender os direitos humanos, promover os valores morais e fomentar o desenvolvimento integral de todos os homens e do homem todo. Agradeço a Vossa Excelência as suas amáveis palavras de apreço por esta tarefa permanente e pela sua promessa de cooperação nestes mesmos sectores.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que o período do seu mandato contribuirá em grande medida para revigorar os vínculos de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé. Formulo-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, enquanto lhe asseguro que os vários Departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus excelsos deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo da Zâmbia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MOHAMED SALIA SOKONA


NOVO EMBAIXADOR DO MALI JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


27 de Maio de 2004




Senhor Embaixador!

1. É com alegria que lhe dou as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República do Mali junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as suas amáveis palavras, mediante as quais Vossa Excelência me transmite a homenagem respeitadora do Presidente da República e do povo malinês. Ficar-lhe-ia grato por se dignar expressar a Sua Excelência o Senhor Amadou Toumani Touré, Chefe do Estado, em retribuição, os votos cordiais que formulo pela sua pessoa e pelo cumprimento do seu cargo ao serviço de todos os habitantes do País. O meu pensamento dirige-se também aos Responsáveis e a todos os habitantes da Nação.

2. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, realça a firme vontade das Autoridades do seu país de trabalhar activamente para o estabelecimento de relações cada vez mais pacíficas e fraternas entre os homens, não só dentro dos limites das vossas fronteiras, mas também na sub-região à qual pertenceis, bem como no âmbito do Continente Africano. É uma nobre tarefa que honra a sua nação, apesar das preocupações que as Autoridades devem enfrentar, a fim de permitir que todos os habitantes do País gozem de condições de existência que respeitem a sua dignidade e os seus direitos fundamentais. A persistência dos conflitos já em curso ou que ameaçam rebentar, em particular na África do Oeste, torna necessário um tal compromisso, para que todos os habitantes da região possam viver em segurança e encarar o futuro de modo mais sereno. Não dúvido de que os órgãos competentes, a nível regional, mas também a nível continental, não negligenciam esforço algum para trabalhar, com o apoio de parceiros cada vez mais audaciosos, para fazer diminuir a instabilidade que ainda reina em numerosas regiões e procurar caminhos e meios para que a África seja cada vez mais integrada no processo da mundialização.

A crescente desertificação do Mali, constitui também um desafio que deve ser enfrentado com urgência. Relacionada com as condições climáticas extremas da área do Sahel, ela gera precariedade e miséria para um grande número dos seus compatriotas, que com frequência se vêem obrigados a optar pelo exílio em outros países ou continentes, a fim de satisfazerem as suas necessidades elementares e as dos seus familiares. Desejo lançar hoje um apelo à Comunidade internacional, convidando-a a manifestar de maneira cada vez mais significativa a sua solidariedade e o seu apoio aos países que lhe pedem ajuda. Este compromisso inclui necessariamente o respeito das promessas feitas pelos países industrializados aos países pobres, sobretudo no que se refere ao âmbito dos investimentos, das subvenções públicas e da diminuição da dívida, com o objectivo constante de fazer com que as pessoas se tornem cada vez mais as protagonistas e promotoras do seu próprio progresso.

Como recorda Vossa Excelência, o Mali é uma Nação cuja história, cultura, valores e tradições religiosas podem constituir os elementos fundamentais para preservar a harmonia e a convivência no seio da Nação, criando as condições necessárias para uma paz duradoura e suscitando o restabelecimento de relações sociais cada vez mais sólidas. Os esforços realizados para fazer progredir a sociedade rumo à democracia e ao pluralismo devem ser encorajados, para que todos os habitantes do Mali possam beneficiar das vantagens de um crescimento que não se limita ao aumento legítimo do bem-estar material, mas que consinta um verdadeiro desenvolvimento das pessoas e da sociedade, em todas as suas dimensões humanas e espirituais.

3. A educação das jovens gerações, mediante a transmissão dos valores fundamentais da vida humana, a alfabetização e a possibilidade de seguir um curso escolar, a iniciação ao sentido do sacrifício, a formação das consciências no sentido moral e cívico, é um elemento fundamental e incomensurável deste progresso duradouro, que todas as nações devem encorajar e promover. Esta educação realiza-se mediante um sistema escolar adequado, do qual ninguém deve ser excluído, e também mediante a promoção de políticas familiares audaciosas, proporcionando aos pais os meios para cumprirem a sua missão de educadores dos seus filhos. É fundamental que os jovens sejam encorajados a dar o melhor de si mesmos, para que possam ser no futuro, no seu próprio país, os protagonistas e os modelos que permitirão conduzir a nação pelos caminhos da unidade, da estabilidade e da prosperidade. Por seu intermédio, gostaria também de sensibilizar de novo os países interessados e toda a Comunidade internacional para os graves flagelos que constituem o tráfico das crianças e o trabalho infantil, que fornecem a mão-de-obra a baixo preço a organizações internacionais pouco escrupulosas. Faço votos por que um despertar de consciência faça surgir as cooperações internacionais necessárias para que seja posto fim a estas práticas inadmissíveis, que constituem uma injúria à dignidade primordial de seres frágeis, criados à imagem de Deus, e que são contrários aos direitos mais fundamentais das crianças.

4. O diálogo respeitador e as relações construtivas entre os membros das diversas comunidades religiosas, que constituem uma nação, são um poderoso apoio ao fortalecimento da paz e da concórdia entre todos os cidadãos. Contudo, é importante, para manter e desenvolver um espírito de confiança e de colaboração entre todos, que os responsáveis civis e religiosos contribuam incessantemente para fortalecer as condições de exercer uma verdadeira liberdade religiosa. Os crentes são convidados a manifestar que Deus os fez membros de uma mesma família, os revestiu de uma mesma dignidade e os chamou a comprometerem-se cada vez mais no serviço do bem comum. É de importância fundamental "ensinar aos jovens o caminho do respeito e da compreensão, para que eles não sejam induzidos a fazer um mau uso da própria religião, para promover ou justificar o ódio e a violência" (Discurso na Mesquita de Omeyyades, Damasco, 6 de Maio de 2001, n. 3). Encorajo os crentes, juntamente com todos os homens de boa vontade, a prosseguir o diálogo da vida, que é a base da consciência e da confiança, necessários para o bem de toda a família humana.

5. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou que a Comunidade católica do Mali, que contribui de numerosas formas para o progresso da nação bem como para a sua unidade, é respeitado e apreciado pelos responsáveis da vida civil. Alegro-me com isto. Num espírito de confiança recíproca, é desejável que um verdadeiro diálogo seja prosseguido entre os diversos órgãos eclesiais e o Estado a fim de permitir que a Igreja católica no Mali beneficie de um reconhecimento efectivo e estável como instituição de pleno direito na sociedade. De igual modo, ela poderá realizar a sua missão espiritual junto dos seus membros e, através das suas obras, pôr-se de maneira cada vez mais eficaz ao serviço de todos os Malineses, sem distinção. Dirijo aos Bispos do Mali e a todos os membros da comunidade católica, por seu intermédio, votos calorosos, convidando-os a ser testemunhas generosas do amor de Deus e a contribuir para a edificação de uma nação unida e fraterna na qual cada um se sente plenamente unido e respeitado.

6. No momento em que começa a sua missão, ofereço-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos pela nobre tarefa que o espera, garantindo-lhe que encontrará sempre aqui um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.
Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência, sobre o povo do Mali e sobre os seus dirigentes, a abundância das Bênçãos divinas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SENHORA SARALA MANOURIE FERNANDO


NOVA EMBAIXADORA DO SRI LANKA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


27 de Maio de 2004




Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas no dia de hoje, no momento em que apresenta as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Democrática Socialista do Sri Lanka junto da Santa Sé. Estou-lhe grato por me transmitir as cordiais saudações da parte da Presidente, Sua Ex.cia a Senhora Chandrika Bandaranaike Kumaratunga, e peço que tenha a amabilidade de lhe retribuir, juntamente com a expressão dos meus bons votos, a certeza das minhas orações a fim de que Deus Todo-Poderoso abençoe todo o povo do Sri Lanka com um futuro de paz e de prosperidade.

Vossa Excelência falou sobre a importância do restabelecimento dos debates sobre a paz e da promoção do diálogo e das negociações, em vista de alcançar uma resolução política para a contínua agitação civil no Sri Lanka. Com efeito, o cessar-fogo actual representa uma oportunidade inestimável para ambas as partes em conflito, a fim de concentrarem os seus esforços na edificação da confiança e da paz duradouras, fundamentadas no respeito pelas diferenças e no compromisso em prol da reconciliação, da justiça e da solidariedade. Formulo votos para que o progresso realizado no processo de paz sirva também como incentivo para a comunidade internacional oferecer o seu apoio e a sua assistência, no momento em que o Sri Lanka está a enfrentar a tarefa desafiadora de reconstrução e de busca de um desenvolvimento sólido que há-de beneficiar todo o seu povo.

Neste contexto, aprecio profundamente a sua referência à longa tradição cingalesa de tolerância religiosa e de diversidade, como um dom precioso que deve ser salvaguardado e promovido. Em cooperação com todos os homens e mulheres de boa vontade, os seguidores das várias religiões têm um papel singular a desempenhar na promoção da reconciliação, da justiça e da paz, em todos os sectores da sociedade em geral. Precisamente em virtude das suas convicções comuns acerca da sacralidade da criação, da dignidade de cada um dos indivíduos e da unidade de toda a família humana, eles são chamados a trabalhar juntos para lançar os fundamentos espirituais de uma harmonia social genuína. Renovo a esperança que expressei durante a minha Visita Pastoral ao Sri Lanka, de que todos continuem "a percorrer este caminho que, sem dúvida, é o que mais corresponde à sua história e ao génio do seu povo" (Discurso de despedida, Colombo, 21 de Janeiro de 1995). Uma sociedade multiétnica e tão diferente sob o ponto de vista religioso, como é a do Sri Lanka, certamente encontrará nas suas ricas tradições culturais e espirituais a inspiração necessária para a edificação da unidade dentro da diversidade, num espírito de solidariedade que reconheça e valorize a contribuição oferecida por todos os seus membros.

Não obstante a comunidade católica no Sri Lanka represente uma minoria, ela está plenamente comprometida em alcançar esta finalidade, enquanto procura, através das suas escolas e das suas instituições de caridade, tornar-se um instrumento de paz, ensinando a tolerância e o respeito, sobretudo aos jovens, que constituem o futuro da nação. A Igreja deseja oferecer toda a contribuição possível para o processo permanente de pacificação. Como cidadãos cingaleses, os católicos justamente esperam que as suas liberdades religiosas e civis sejam integralmente garantidas, inclusive o seu direito a propor aos outros a verdade salvífica, que eles puderam conhecer e decidiram abraçar. A liberdade religiosa, como expressão da dignidade inviolável da pessoa humana em busca da verdade, é verdadeiramente o fundamento de todos os direitos do homem. Esta liberdade que, como Vossa Excelência observou, inclui também o direito a adoptar uma religião ou um credo da própria escolha, foi reconhecido há muito tempo como um direito humano fundamental pela comunidade internacional, tendo então sido inserido na constituição do seu país.

É precisamente em nome da liberdade religiosa que a Igreja católica, no cumprimento da sua missão, deplora com determinação toda a violência perpetrada contra os outros em nome da religião. De igual modo, ela rejeita todas as formas de proselitismo, entendido como a tentativa de violar a liberdade de consciência das outras pessoas, através da coerção moral ou financeira. Tais actos representam uma ofensa contra a natureza autêntica da religião, que deve ser "uma fonte inesgotável de respeito e de harmonia entre os povos; com efeito, a religião é o principal antídoto à violência e ao conflito" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 14). Aproveito este ensejo para reiterar a minha convicção de que o diálogo respeitador e a cooperação permanente entre os líderes religiosos e as autoridades civis continuam a constituir o caminho rumo a uma solução duradoura para os problemas inquietadores levantados pelos actos de fanatismo e de agressão, associados a determinados indivíduos ou grupos, garantindo ao mesmo tempo as exigências da justiça e o exercício da liberdade religiosa.

Excelência, transmito-lhe os meus sinceros bons votos no momento em que a Senhora Embaixadora assume as suas altas responsabilidades. Estou persuadido de que o cumprimento dos seus deveres diplomáticos há-de contribuir para fortalecer ainda mais as relações de amizade entre o Sri Lanka e a Santa Sé. Sobre a Senhora Embaixadora e sobre todas as pessoas a cujo serviço Vossa Excelência se põe, invoco cordialmente as copiosas bênçãos divinas da sabedoria, do júbilo e da paz.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR EDGARD STEPHANUS RAGOENATH AMANH


NOVO EMBAIXADOR DO SURINAME JUNTO


DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


27 de Maio de 2004


Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no dia de hoje, e que aceito as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Suriname junto da Santa Sé. Aprecio muito a sua referência ao desejo do Presidente Venetiaan de uma íntima cooperação entre o seu país e a Santa Sé, e gostaria de pedir a amabilidade de lhe transmitir as minhas cordiais saudações. Ao governo e ao povo do Suriname, ofereço a certeza das minhas orações pela paz e a prosperidade da Nação.

As relações diplomáticas da Igreja fazem parte da sua missão de serviço em favor da família humana e estão orientadas especificamente para a promoção da paz e da harmonia entre os povos do mundo. Eis as condições essenciais para o progresso na obtenção do bem comum e do desenvolvimento integral dos indivíduos e das nações, que só podem ser alcançados na medida em que a dignidade própria de cada ser humano for protegida pelas estruturas legislativas da nação e reiterada pelas suas instituições civis.

Senhor Embaixador, no seu país, com as suas tradições culturais e religiosas particularmente ricas e diversificadas, a importância de reconhecer a dignidade humana inata de cada indivíduo salta imediatamente aos olhos. Sem a defesa e promoção vigorosas dos valores comuns, radicados na própria natureza da pessoa humana, a coexistência pacífica das comunidades de diferentes tradições étnicas e religiosas ficaria desprovida de um fundamento sólido. Além disso, em situações de pluralismo cultural e religioso, é cada vez mais óbvio que a compreensão e o respeito mútuos pelas diferenças desempenham um papel vital na manutenção da unidade nacional, necessária para o progresso genuíno e para afastar o tremendo espectro do conflito inter-religioso ou interétnico. A este propósito, é-me grato observar as notáveis contribuições oferecidas pelo Conselho das Igrejas Cristãs, instituído há muito tempo, e pelo Conselho Inter-Religioso, ambos particularmente activos quando se trata de ajudar a sociedade surinamesa a desenvolver-se em conformidade mais estreita com a dignidade e os direitos dos seus cidadãos.

Como Vossa Excelência observou, o Suriname e o resto da comunidade internacional estão a enfrentar os prementes problemas de um mundo contemporâneo cada vez mais globalizado e do nascimento de uma nova ordem internacional. Embora a globalização em si mesmo seja um fenómeno neutral, não hesitei em tornar conhecida a minha solicitude, à vista de uma globalização que exacerba as condições dos necessitados, que não contribui de maneira suficiente para resolver as situações de fome, pobreza e desigualdade social, e que não salvaguarda o meio ambiente natural. Para contrastar estas injustiças, a comunidade internacional deve procurar garantir que a globalização seja eticamente responsável, tratando as pessoas como parceiros igualitários e não como instrumentos passivos. Desta maneira, a globalização pode servir toda a família humana, não já beneficiando apenas poucas pessoas privilegiadas, mas suscitando progresso do bem comum de todos (cf. Encontro Plenário da Pontifícia Academia para as Ciências Sociais, 2 de Maio de 2003).

Um elevado sentido de interpedendência económica, política e cultural exige uma maior solidariedade entre as nações desenvolvidas e os países em vias de desenvolvimento. Um sinal certo do compromisso positivo da comunidade internacional em prol do bem comum, que tal solidariedade fomenta, é o aumentado reconhecimento da necessidade urgente de aliviar a pobreza, onde quer que ela se encontre (cf. Carta Apostólica Novo millennio ineunte NM 14). A Santa Sé, por sua vez, continuará a contribuir para as finaldiades do chamado "Desenvolvimento do Milénio", assim como para as novas iniciativas, tais como a "Promoção Internacional das Finanças", que tem como seu dúplice objectivo financiar projectos de desenvolvimento sustentável e alcançar a meta da ajuda correspondente a 0,7% da Renda Nacional Bruta. A redução da dívida esmagadora, que escraviza muitos países em vias de desenvolvimento, é essencial se quisermos salvaguardar a sua potencialidade económica.

O exercício da solidariedade exige também um esforço incondicional, a realizar no seio de cada uma das sociedades (cf. Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis SRS 39). Se quisermos alcançar um progresso autêntico ao longo do caminho de uma igualdade de parceria, então os gestos concretos de assistência por parte das nações ricas devem realizar-se com transparência e responsabilidade políticas da parte dos países receptores. O governo responsável, a manutenção da lei e da ordem em todo o país, a participação de todos os sectores da sociedade em geral e o apoio das instituições civis comprometidas no desenvolvimento genuíno da nação, tudo isto desempenha uma função particular na promoção de uma cultura da paz e da colaboração. Na sua nação, estas são algumas das condições necessárias para atrair os inventimentos exigidos para estimular o crescimento económico necessário para permitir que os surinameses que vivem no estrangeiro possam regressar à sua pátria com uma perspectiva de trabalho e de um futuro seguro.

A Igreja católica que está no Suriname, por sua vez, continuará também a contribuir para a consecução das finalidades da paz e da prosperidade. Fiel à sua missão espiritual e humanitária, ela desempenha um papel concreto nas iniciativas inter-religiosas e nas actividades multiculturais que visam servir o bem-estar dos povos. Através das suas numerosas escolas, instituições de assistência médica e programas de desenvolvimento comunitário, a Igreja procura edificar um futuro melhor para o país. Neste serviço, ela não busca o poder nem o privilégio, mas apenas a liberdade de expressão da sua fé e da sua caridade nas obras de bem, de justiça e de paz.

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe a assistência pronta dos vários departamentos e agências da Cúria Romana. A sua missão sirva para revigorar os vínculos de compreensão e de cooperação entre o Suriname e a Santa Sé, que se tornaram mais profundos desde o estabelecimento das relações diplomáticas, há dez anos. Sobre a sua pessoa e os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR AFIF HENDAOUI


NOVO EMBAIXADOR DA TUNÍSIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


27 de Maio de 2004



Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência no Vaticano por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Tunísia junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as gentis palavras que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Zine Le Abidine Ben Ali, Presidente da República, e ficaria grato se se dignasse expressar-lhe os meus votos mais cordiais pela sua pessoa e pelos seus compatriotas. Peço ao Altíssimo que ampare os esforços de todos os tunisianos para edificar uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária, na qual cada cidadão possa beneficiar do progresso e realizar as suas justas aspirações a viver na justiça e na paz.

2. Vossa Excelência recordou a longa tradição de tolerância e de acolhimento que caracteriza a Tunísia, bem como o profundo apego do seu País à causa da paz. Perante a actual situação internacional, marcada pela violência intolerável do terrorismo e abalada pela instabilidade de várias regiões do mundo, sobretudo no Médio Oriente, é urgente unir os esforços dos homens de boa vontade em favor da paz. A Santa Sé não poupa esforço algum para a alcançar, recordando sobretudo a cada um dos membros da comunidade internacional as suas próprias responsabilidades nesta matéria. Como afirmei com frequência, unicamente o recurso às negociações, num diálogo franco e exigente, poderá permitir aos adversários e aos beligerantes encontrar caminhos novos para resolver os conflitos e para restabelecer uma situação de justiça e de respeito recíproco. Por conseguinte, faço de novo apelo às pessoas responsáveis no processo de guerra. Elas devem recordar-se que a sua missão primária é transmitir aos homens e aos povos o dom da paz, para que cada um possa enfrentar o seu futuro com confiança e serenidade. A violência e a guerra, sabemo-lo muito bem, não podem resolver os conflitos. Ao contrário, elas geram com muita frequência feridas e danos que suscitam ódio perene entre as pessoas e entre os povos e impedem, por vezes durante períodos longos, qualquer possibilidade de diálogo e de respeito.

Alegro-me pela ampla convergência de pontos de vista, que Vossa Excelência realçou, entre o seu País e a Santa Sé sobre esta questão, e desejo que os nossos votos recíprocos sejam a fonte de progressos significativos para a paz do mundo, pois não é possível permanecermos passivos face aos dramas que dilaceram o mundo presente e constituem um peso enorme para as gerações futuras. Penso sobretudo no conflito que persiste há tantos anos na Terra Santa e que fere gravemente a consciência de todos os crentes.

3. A longa experiência da fé cristã no seu diálogo com as sociedades humanas ao longo da história fez compreender que a religião, na sua essência verdadeira, é um veículo poderoso de humanização para o homem. Ela convida ao respeito pelo Criador e sua criação; ela faz-lhe descobrir a sua dignidade de criatura chamada a dominar o mundo, guiando a sua história segundo o desígnio de Deus, procurando sempre a verdade e orientando-se segundo as exigências da justiça e do direito. Estas características de um comportamento "humano" aplicam-se às relações entre as pessoas e entre os grupos, no seio da sociedade, mas são válidas também para as relações entre as nações, na ordem internacional. Como recordei na minha última Mensagem para o Dia Mundial da Paz, "o direito é certamente a primeira estrada a seguir para se chegar à paz; e os povos devem ser educados para o respeito do mesmo. Mas, não será possível chegar ao termo do caminho, se a justiça não for integrada pelo amor. Justiça e amor aparecem às vezes como forças antagonistas, quando, na verdade, não passam de duas faces de uma realidade" (n. 10).

4. Não há dúvida de que as diferentes religiões, sobretudo o cristianismo e o Islão, ainda têm muito a fazer, cada qual na medida que lhe compete, para estabelecer entre elas um diálogo verdadeiro, respeitador e fecundo, para denunciar todas as formas de manipulação da religião ao serviço da violência, e para convencer os homens, e sobretudo os responsáveis políticos, a comprometer-se em perspectivas novas para edificar a fraternidade e uma paz justa e duradoura entre todos. Por conseguinte, alegro-me pelo compromisso do vosso país em favor da instauração de um diálogo sincero entre as culturas e as religiões. Eis um objectivo importante, que deve permitir o estabelecimento de relações mais solidárias entre as comunidades humanas e religiosas.

5. Por sua vez, a modesta comunidade católica que vive na Tunísia não tem outra ambição a não ser testemunhar a dignidade do homem, criada à imagem de Deus, e pôr-se fraternalmente ao seu serviço. Permita-me saudar, Senhor Embaixador, por seu intermédio, o Pastor daquela comunidade, o Bispo de Tunes, e todos os fiéis católicos que a compõem. Comprometidos sobretudo nas tarefas de educação e de saúde, eles trabalham e desejam continuar a trabalhar de coração para o desenvolvimento do país, e dedicam-se a dar continuidade a um diálogo de vida, aberto e leal, com os crentes muçulmanos. Encorajo-os a crescer no amor recíproco, a ser acolhedores dos irmãos provenientes de outras Igrejas, testemunhando desta forma o seu sentido de fraternidade e de amor à paz.

6. No momento em que inicia a sua nobre missão ao serviço da paz e das boas relações entre o seu país e a Santa Sé, desejo garantir-lhe, Senhor Embaixador, os meus calorosos votos e o apoio dos meus colaboradores. Vossa Excelência será sempre bem-vindo ao Vaticano, onde encontrará junto deles a ajuda de que poderá ter necessidade. Sobre a sua pessoa, a sua família e todo o pessoal da sua Embaixada, invoco a abundância das Bênçãos divinas.




DIscursos João Paulo II 2004