Discursos João Paulo II 1978 - Quarta-feira, 13 de Dezembro de 1978

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CONSELHO DA SECRETARIA GERAL


DO SÍNODO DOS BISPOS


Sábado, 16 de Dezembro de 1978

Veneráveis Irmãos

Sinto muito gosto por ter ocasião de vos falar. Na verdade, o Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos é um grupo a mim caro e familiar; constitui realmente um meio em que eu próprio, por assim dizer, cresci. Seja-me lícito recordar que, depois de terminada no mês de Outubro de 1977 a última sessão do Sínodo dos Bispos, eu fui de novo eleito por três anos membro do mesmo Conselho. Se este mandato foi extinto por outra deliberação, a que procedeu este ano, no dia 16 do mês de Outubro, o Colégio dos Cardeais, sinto-me todavia intimamente unido a este Conselho; por isso — como gostamos de repetir uma coisa agradável — apraz-me de maneira especial ver-vos aqui. O que propondes faz também parte — talvez não mínima — da minha experiência pessoal.

Tal experiência manifesta, na verdade, a doutrina do Concílio Vaticano II sobre a forma colegial dos Bispos. Esta colegialidade é cada ver mais exigida pela vida mesma da Igreja nesta época.

Isto se ouviu no primeiro discurso de João Paulo I, que disse estas palavras: "saudamos todos os Bispos da Igreja de Deus", cada um dos quais representa a sua Igreja, e todos, juntamente com o Papa, representam a Igreja inteira no vínculo da paz, do amor e da unidade (Lumen Gentium LG 25), e a colegialidade dos mesmos queremos firmemente valorizá-la" (Primeira Mensagem de João Paulo I, 27 de Agosto de 1978); o mesmo, decorridas poucas semanas, foi confirmado pelo seu sucessor na primeira alocução, desta forma: "Recomendamos, em especial, que se aprofunde... aquilo que o vínculo colegial comporta, associando intimamente os Bispos ao Sucessor de Pedro, e eles todos entre si, nas altas funções de iluminar com a luz do Evangelho, de santificar com os instrumentos da graça, e de guiar com a arte pastoral todo o Povo de Deus. Colegialidade quererá também dizer, sem dúvida, desenvolvimento apropriado de Organismos, em parte novos em parte actualizados, que podem garantir a melhor união dos espíritos, das intenções e das iniciativas, no trabalho da edificação do corpo de Cristo... A este propósito, nomeamos primeiramente o Sínodo dos Bispos..." (AAS, LXX, 1978, p. 922).

O princípio, enunciado pelo Concílio sobre a colegialidade, pode com certeza de muitos modos mostrar-se e pôr-se em prática. Deste assunto tratou o meu ilustre Predecessor Paulo VI, falando aos Padres reunidos para o Sínodo extraordinário de 1969: "Julgamos ter demonstrado — afirmou — quanto desejamos promover esta colegialidade dos Bispos em si mesma e no seu exercício, quer instituindo o Sínodo dos Bispos, quer aprovando as Conferências Episcopais, quer ainda escolhendo para cargos, próprios da Nossa Cúria Romana, alguns Irmãos no episcopado e Pastores de almas, que vivem nas suas dioceses. E se Nos ajudar a divina graça e se a concórdia fraterna tornar mais fáceis as Nossas relações mútuas, poderá dilatar-se mais o exercício desta colegialidade sob outras formas canónicas... O Sínodo... poderá também esclarecer com apropriadas regras canónicas qual deva ser e como desenvolver-se a colegialidade dos Bispos, e simultaneamente poderá também confirmar os princípios dos Concílios Vaticanos I e II sobre o poder do Sucessor de São Pedro e também do colégio dos Bispos, com o Sumo Pontífice como cabeça" (AAS, LXI, 1969, PP 717-718 Oss. Rom. em língua port., 22.10.78, p. 2). Destes pontos trataram todas as sessões passadas, que têm a maior força para conseguir, na prática, aquele propósito da renovação da Igreja, que está expresso na doutrina do Concílio Vaticano II.

Isto nos ensinam claramente os argumentos de que se tratou nas duas últimas sessões ordinárias do Sínodo dos Bispos; a questão principal e, por assim dizer, eixo de todo o assunto parece ser a evangelização, logo a seguir a catequese graças à qual ela é principalmente levada a efeito. Fruto do Sínodo, celebrado em 1974, foi a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI; mas o fruto do Sínodo, realizado em 1977, ainda não foi publicado; espero que o seja na primeira parte do próximo ano. Precisamos verdadeiramente destes documentos, que nascem da prática da Igreja, fecunda mas às vezes difícil, e, por sua vez lhe trazem certo fermento novo de vida.

Estais sem dúvida persuadidos da grande importância do argumento, que foi proposto para o Sínodo do ano de 1980. Assim se formula "O papel da família cristã no mundo de hoje". Este argumento não está separado dos primeiros, continua na mesma direcção. Deve porém notar-se que a família não é só "objecto" de evangelização e de catequese, mas também, e principalmente, seu "sujeito fundamental". Isto se conclui da doutrina do Concílio Vaticano II sobre o Povo de Deus e sobre o apostolado dos leigos. Isto mesmo é, digamos, o principal campo, em que a mesma doutrina se põe em prática e onde, por consequência, se realiza a renovação da Igreja segundo o espírito do mesmo Concílio.

Grande trabalho tendes de tomar e prosseguir, Veneráveis Irmãos! Muito vos agradeço a diligência, primeiramente ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Ladislaw Rubin, Bispo Titular de Serta, e a cada um dos exímios membros do Conselho ala Secretaria Geral. Nem quero esquecer os peritos e os oficiais, que na mesmo Secretaria se aplicam aos seus cargos. A todos confirmo, e a todos exorto a que prossigam neste nobre trabalho, graças ao qual oxalá nesta época se comunique à Igreja grande vigor e progresso.

Por último, abraçando-vos com efusão de caridade, com a melhor vontade vos concedo, como penhor do celestial auxilio, a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA REPARTIÇÃO DE VIGILÂNCIA


Segunda-feira, 18 de Dezembro de 1978



Filhos caríssimos

É-me grato encontrar-me hoje aqui convosco para um encontro breve, mas muito cordial e festivo, a fim de vos saudar com particular efusão de sentimentos. Dois são os motivos que me levam a dirigir-vos a palavra.

O primeiro consiste no particular serviço que desempenhais com infatigável solicitude nesta Cidade do Vaticano. Sei quanto ele é exigente e que sentido de responsabilidade requer de cada um de vós. Pois bar, eu estou aqui para vos agradecer os vossos serviços, a dedicação e a fadiga com que cumpris a tarefa que vos está confiada. O vosso empenho de vigilância a fim de que tudo decorra dentro dos limites da segurança e da ordem pode tornar-se ocasião e fonte para uma vossa disciplina pessoal e, por conseguinte, para urna auto-educação humana e espiritual. Neste sentido talvez não seja inoportuno recordar que o Evangelho convida todos os cristãos a uma constante atitude de fecunda "vigilância" na expectativa da vinda do Senhor.

O facto de desempenhardes a vossa actividade perto do Túmulo de São Pedro, centro da catolicidade, é sem dúvida urna grande honra e deve ser para vós também um motivo de íntima alegria mas também de salutares reflexões. Deve ser estímulo a viver em plenitude a vida cristã. O vosso emprego e o vosso serviço não são um emprego ou um serviço quaisquer; são um compromisso que exige fé e coerência, de modo que também vós, na vida quotidiana, possais testemunhar as vossas convicções religiosas e o vosso amor a Cristo, à Igreja e ao Papa.

A minha visita e a minha saudação inspiram-se hoje também num segundo motivo. O Natal já está próximo. Todos devemos esperar o Senhor e estar prontos a recebê-1'O devidamente: com fé, com empenho e com alegria. Quando Ele nasceu em Belém, os primeiros a acolherem-n'O e a prestarem-Lhe homenagem foram os pastores vigilantes. Assim escreve Lucas: alguns pastores vigiavam de noite, guardando os seus rebanhos (Lc 2 Lc 8). Esta é a atitude exacta, necessária a todos. Também vós, portanto, sois convidados a ser como aqueles guardas de rebanhos, ou como aquelas virgens prudentes que à chegada do esposo se encontravam preparadas para lhe irem ao encontro (Cfr. Mt Mt 25,6-10). Se assim for, o Natal torna-se realmente uma "festa" no pleno sentido da palavra, com reflexos sobre a vida de cada dia: aqueles pastores, de facto depois da visita a Jesus voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto (Lc 2,20).

Neste ponto, a minha palavra transforma-se num voto, verdadeiramente sentido, para vós e para as vossas Famílias. Que este próximo Natal seja uma verdadeira ocasião de amor, de paz e de intimidade nas vossas casas: só com estas realidades é possível uma autêntica e duradoura prosperidade humana e cristã, que de todo o coração invoco sobre vós. E que o Senhor vos proteja, vos recompense e vos encorage com a abundância das Suas graças, de que é penhor a minha especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA EUROPA


Terça-feira, 19 de Dezembro de 1978



Caros Irmãos

Tenho muito gosto em vos receber, porque atribuo grande importância a estas reuniões plenárias do vosso Conselho, em que participam Bispos que delegou cada uma das Conferências Episcopais do conjunto do Continente europeu.

1. Esta colaboração efectua-se em conformidade com os estatutos que foram canonicamente aprovados pela Santa Sé a 10 de Janeiro de 1977. Consiste em trocar com regularidade informações, experiências e pontos de vista sobre os principais problemas pastorais que se apresentam nos vossos países. Leva-nos também a assumir deveres que tornam uma dimensão europeia.

É uma das maneiras de encarnar a colegialidade, em cujo quadro a doutrina do Concílio Vaticano II pode dar todos os seus frutos. Colegialidade significa abertura recíproca e cooperação fraterna dos Bispos ao serviço da evangelização, da missão da Igreja. São necessárias uma abertura e uma cooperação deste género, não só ao nível das Igrejas locais e da Igreja universal, mas também ao nível dos Continentes, como o testemunha a vitalidade doutros organismos regionais — embora os estatutos sejam um pouco diferentes — tais como o Conselho Episcopal Latino-Americano (C.E.L.A.M.), o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (S.C.E.A.M.) ou a Federação das Conferências dos Bispos da Ásia (F.A.B.C.), para citar apenas estas grandes assembleias. O Papa e a Santa Sé consideram obrigação sua promover tais organismos, nos diversos escalões da cooperação social, entendendo-se que as instâncias regionais ou continentais não se substituem à autoridade de cada Bispo nem de cada uma das Conferências Episcopais no que se refere às decisões, e que elas situam a própria investigação no quadro das orientações mais gerais da Santa Sé, em ligação íntima com o Sucessor de Pedro. E, no caso presente, a dimensão europeia apresenta-se ao Papa como muito importante e até mesmo necessária.

2. O Conselho das Conferências Episcopais da Europa (C.E.E.E.), entre os seus numerosos intercâmbios e actividades, tomou uma iniciativa importante: organiza, de três em três anos, um simpósio dos Bispos da Europa. O simpósio previsto para este ano não pôde realizar-se devido à morte dos meus Predecessores e aos Conclaves que vieram depois; continua a preparação sobre o terna: a juventude e a fé. Constitui isto tema importantíssimo: é preciso encará-lo com muita objectividade e com a esperança dos apóstolos que sabem poder e dever a mensagem de Cristo atingir os jovens de cada geração.

Tive a felicidade de participar no Simpósio de 1975 e nele pronunciar urna conferência. Desejo ao menos recordar alguns dos pensamentos que Paulo VI nos expressou então ao receber-nos. Tratava-se de pensamentos respeitantes à Europa, à sua herança cristã e ao seu futuro cristão. Convidava-nos a "despertarmos a alma cristã da Europa em que a sua unidade se enraíza"; a purificarmos e reconduzirmos à sua fonte os valores evangélicos ainda presentes mas desarticulados, pois servem objectivos puramente terrestres: a despertarmos e fortificarmos as consciências à luz da fé, pregada oportuna e inoportunamente; e a fazermos convergir a chama delas vencendo todas as barreiras... (AAS 67, 1975. pp. PP 588-589).

Paulo VI, seguindo estes pensamentos, constituiu São Bento padroeiro da Europa, e agora aproxima-se o 15º centenário do seu nascimento.

3. A Europa não é o primeiro berço do Cristianismo. Mesmo Roma recebeu o Evangelho graças ao ministério dos Apóstolos Pedro e Paulo, que chegaram aqui vindos da pátria de Jesus Cristo. Mas, apesar disso, é verdade que a Europa se tornou, durante dois milénios, como que o leito dum grande rio onde correu o Cristianismo, tornando fértil a terra da vida espiritual dos Povos e das Nações deste Continente. E, com este impulso, tornou-se a Europa um centro de missão a irradiar para os outros Continentes.

O Conselho das Conferências Episcopais da Europa constitui uma representação especial dos Episcopados católicos da Europa. Devemos fazer votos por que todos os Episcopados estejam plenamente representados nesta organização, com a possibilidade de nela participarem efectivamente. Só nestas condições poderá ser completa a análise dos problemas essenciais da Igreja e do Cristianismo. Trata-se de problemas da Igreja e do Cristianismo encarados também numa perspectiva ecuménica. Porque se é verdade que a Europa não é católica, ela é quase toda cristã. O vosso Conselho deve em certo modo tornar-se o viveiro em que despontam, se desenvolvem e amadurecem não só a consciência do que era o Cristianismo ontem, mas a responsabilidade do que ele deve ser amanhã.

É com estes sentimentos que eu vos expresso os meus votos de bom Natal e Ano novo, para cada um de vós, para o vosso Conselho e para todos os Episcopados que vós representais e para todas as Nações deste Continente, a que a Providência ligou a história do Cristianismo de maneira tão eloquente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE O ENCONTRO COM OS JOVENS


NA BASÍLICA VATICANA


Quarta-feira, 20 de Dezembro de 1978



Queridos meninos e meninas, e caros jovens

Também nesta quarta-feira se realiza o costumado mas cordial e significativo encontro, nesta Basílica Vaticana, entre o Papa e vós todos, tão numerosos, alegres e eloquentes nos vossos rostos vivos e nas vossas homenagens afectuosas.

O Papa, que representa a juventude de Cristo e da Igreja, sempre se alegra ao encontrar-se com aqueles que são a expressão da juventude e da humanidade.

Há entre nós, portanto, uma afinidade de espírito; afirma-se urna quase exigência de nos encontrarmos como verdadeiros amigos; descobre-se um gosto de comunicar alegrias, esperanças e ideais; refloresce vivo e espontâneo o desejo do diálogo. Este, enquanto, por parte do Papa, se desdobra em ensinamento de verdade e bondade, em exortação e estímulo, em benevolência e bênção, por vossa parte — meninos e jovens — manifeste-se no acolhimento, livre e cheio de boa vontade, desses ensinamentos paternos, exprime-se em promessa de levardes à prática tudo o que vos é dito, concretiza-se no propósito de serdes testemunhas, entre os da vossa idade, da verdadeira alegria, que floresce em corações bons, puros e ricos da graça do Senhor.

Para esta graça — que de maneira especialíssima e comovedora se manifesta na Encarnação do Verbo de Deus ou no nascimento temporal de Jesus — desejo hoje chamar a vossa atenção, para que também vós, contemplando o grande mistério de amor e de luz, que irradia do Celestial Menino, possais, como os pastores de Belém, voltar às vossas casas cheios de alegria, cantando hosanas a Deus no alto dos céus pelo dom inefável do seu Filho unigénito oferecido aos homens, e comunicando esta mesma alegria também aos outros.

"O Senhor está perto!", repete-nos a Liturgia nestes dias, com inflexões cada vez mais vibrantes e comovidas. Devemos dizer sinceramente que, se o coração se alegra com tal anuncio, o espírito faz a si mesmo esta pergunta: Porque vem a nós o Senhor? A tal interrogação respondo eu, continuando e completando o discurso sobre o Advento, iniciado nas semanas passadas. Nele foram esboçadas três grandes verdades fundamentais: Deus, criador e que nesta criação se revela, ao mesmo tempo, a Si mesmo; o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, "é espelho" de Deus no mundo visível criado; Deus concede generosamente a sua graça, isto é, quer que "todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade". Quer que todos os homens se tornem participantes da Sua verdade, do Seu amor e do Seu ministério, a fim de poderem tomar parte na Sua mesma vida divina.

Que maravilhoso destino! Viver de Deus e com Deus sempre, para ser feliz eternamente junto a Ele!

Deus, porém, não deseja pessoas salvas e felizes de maneira inconsciente ou à força, mas requer a nossa consciente e livre colaboração, colocando-nos diante da "árvore da ciência do bem e do mal", ou propõe-nos uma escolha, exige de nós uma prova de fidelidade.

Bem sabemos como Adão e Eva, eles primeiro, e os seus descendentes depois, seguindo-lhes o nefasto exemplo, conheceram mais a "ciência do mal" que a do bem. Assim apareceu no mundo o pecado original, início e símbolo de tantos pecados, de imensa ruína, de morte física e espiritual. q pecado! Diz-nos o catecismo que é transgressão do mandamento de Deus. Bem sabemos que se ofende o Senhor com ele, se quebra a amizade com Deus, se perde a Sua graça, se foge do caminho certo correndo para a ruína. Deus por meio dos Seus mandamentos ensina-nos praticamente como devemos comportar-nos para viver de maneira digna, humana e serena; com eles nos inculca o respeito dos pais e dos superiores (4° mandamento), o respeito da vida em todas as suas manifestações (5º mandamento), o respeito do corpo e do amor (6º mandamento), o respeito das coisas alheias (7° mandamento) e o respeito da verdade (8º mandamento). O pecado está em não fazer caso destas regras, espezinhá-las e transgredi-las, regras essas sábias e úteis que nos foram dadas pelo Senhor; por isso é que o pecado é desordem e ruína. Na verdade, com muitas "vozes" dentro e fora de nós, tenta-nos, impele-nos a não crermos em Deus, a não ouvirmos os convites paternais e a preferirmos o nosso capricho à Sua amizade. Cometendo o pecado, estamos longe do Deus, contra Deus e sem Deus

O Advento diz-nos que o Senhor vem "por e para nossa salvação", isto é, a fim de livrar-nos do pecado, restituir-nos a Sua amizade, iluminar com a Sua luz a nossa mente e aquecer com o Seu amor o nosso coração.

Jesus está quase a chegar: na Noite de Natal vamos ao Seu encontro para Lhe dizermos o nosso sincero e como vido "muito obrigado", pedindo-Lhe a força de nos conservarmos sempre longe do pecado e nos mantermos constantemente fiéis ao Seu infinito amor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMISSÃO DE BENEFICÊNCIA


DO CRÉDITO ITALIANO


Quinta-feira, 21 de Dezembro de 1978

Filhos caríssimos

Com muita cordialidade vos exprimo a minha satisfação por este encontro, que está ligado idealmente com os que teve convosco o meu Predecessor Paulo VI de venerada memória, o qual teve a felicidade de conhecer, já como Arcebispo de Milão, a vossa instituição, as suas finalidades e as suas realizações.

1. A vossa obra, que tem agora 32 anos de vida, nasceu com finalidades não única nem exclusivamente económicas, mas também beneficentes: os frutos das várias iniciativas deviam destinar-se ao incremento de obras católicas. É este o aspecto interessante e, poderíamos dizer, exemplar da vossa acção, que, embora em primeiro lugar no jogo das chamadas regras da economia, quer e deve respeitar, com absoluta coerência, a ética profissional e a lei de Deus no que diz respeito, em especial, à justiça na sua significação mais global.

Mas as vossas perspectivas vão mais além. Inspirando-vos na concepção cristã da vida e das relações entre os homens, vós não quereis deixar-vos prender pela pura e simples lógica individualista do ganho e do proveito, mas quereis aplicar concretamente o ensinamento do Concílio Vaticano II, que assim sintetizou a tradição cristã e o ensinamento do Magistério: "Deus destinou a terra, com tudo o que ela contém, para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade" (Const. Gaudium et spes GS 69).

2. Ao meu sincero aplauso unem-se cordiais votos. No mundo hodierno, apesar dos grandes e reais progressos, há ainda tanta necessidade de solidariedade e de comparticipação, porque há ainda tanta pobreza e miséria: muitos irmãos nossos e irmãs sofrem fome, sede e doenças de todo o género; não têm ainda habitação decente e conforme à dignidade da pessoa humana. Fica portanto espaço imenso para a caridade, para a "beneficência", consideradas e vividas não como o gesto orgulhoso daquele que, soberbo da sua riqueza, deixa cair ostensivamente no tesouro do Templo uma mão-cheia de moedas, mas como a dádiva pudica e humilde da "pobre viúva" do Evangelho, que deu duas moedinhas, que eram porém tudo quanto ela tinha para viver (Cfr. Mc Mc 12,41-44 Lc 21,1-4). A caridade — diz São Paulo — não falta ao respeito, não procura o seu interesse (1Co 13,5).

3. Continuai, filhos caríssimos, a seguir estas linhas decisivas, as linhas do Evangelho, que deve manter-se sempre como sólido e seguro fundamento do vosso proceder individual e social. Seja a vossa profissão iluminada e orientada pela luz da fé, que se exprima e se traduza em testemunho coerente de vida cristã.

Juntamente com estes votos, concedo da melhor vontade a vós, a todos os membros do Crédito Artesanal e às suas famílias, urna especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE A AUDIÊNCIA AOS CARDEAIS


PARA OS CUMPRIMENTOS DE BOAS-FESTAS


Sexta-feira, 22 de Dezembro de 1978



1. À saudação que me acaba de ser dirigida em nome de todos vós aqui presentes, unicamente posso responder com urna palavra brevíssima mas cheia de intenso afecto: de todo o coração obrigado! Sim, obrigado também pela vossa visita, nesta vigília da sagrada festividade do Natal. Não é simples gesto de protocolo que se inspire num costume tradicional embora delicado, mas é um acto rico de tal calor de sentimento, que forma para mim outra prova, se fosse necessária., mas não o é, de eu — eleito Papa apenas há dois meses, deixando a terra amada da Polónia e a minha Diocese de Cracóvia — de eu ter recebido em troca outra terra aqui em Roma e uma Igreja tão vasta quanto o mundo inteiro.

O Natal é a festividade dos afectos domésticos: é, ao lado do Menino Jesus vindo como nosso irmão, um regresso ao nosso mesmo nascimento e, percorrendo um itinerário interior, às raízes primordiais da nossa existência, circundada pelas queridas figuras dos nossos pais, dos parentes e dos compatriotas. O Natal é, portanto, convite para tornarmos a pensar no nosso nascimento, na consistência das circunstâncias peculiares a cada um. Como é natural para mim regressar com o pensamento, seguindo a vaga de memórias sugestivas, à minha casa e à minha Wadowice, assim como é natural para cada um de vós voltar ao calor dos vossos lares

Mas eis que a vossa devota e desvelada presença desta manhã vem entrelaçar-se com estes meus pensamentos pessoais e particulares e, soltando quase a indomável comoção, reconduz-me a outra e bem mais alta realidade: refiro-me à nova realidade que me sobreveio em virtude da escolha que vós precisamente, Senhores Cardeais, com os outros Irmãos vossos espalhados pelo mundo, fizestes no dia para mim determinante, 16 de Outubro. Vos estis corona mea — vós sois a minha coroa, repetir-vos-ei com o Apóstolo (Cfr. Flp Ph 4,1): vós alargastes o círculo da minha família e tornastes-vos, a titulo especialíssimo, meus "parentes" segundo aquela comunhão transcendente, mas realíssima e criadora de laços tão sólidos como os da família humana, que se chama e é de facto, a vicia eclesial.

Obrigado, portanto, por este testemunho coral de augúrios e bons votos, que não só me ofereceis mas convosco me oferecem aqueles que representais aqui. Eu vo-lo retribuo "toto corde", desejando para cada um de vós, como para todos os que vos estão unidos, uma abundante dádiva da graça sobrenatural e da benignidade humaníssima do Salvador nosso Jesus Cristo (Cfr. Tit Tt 2,11).

2. Bem sei que o meu Predecessor Paulo VI de venerável memória, durante semelhantes encontros realizados nesta sala, durante o período operoso e luminoso do seu pontificado de quinze anos, preferiu sempre dilatar o olhar para os deveres da sua missão pastoral. Costumava recordar os factos mais notáveis da Igreja e do mundo, não só para dar um conteúdo determinado ao colóquio com os seus mais qualificados Colaboradores, mas também "para tomar as alturas" da situação por meio do exame atento dos acontecimentos mais recentes. Tal oportunidade apresenta-se-me também hoje a mim, de forma semelhante e ao mesmo tempo diversa, mas talvez mais fácil... Que sucedeu este ano? E mais determinadamente: que é que sucedeu desde o pôr cio sol de 6 de Agosto, quando aquele insigne Pontífice fechou os olhos sobre a cena deste mundo a fim de os abrir para a luz do céu, aonde entrava para receber o prémio do servo bom e fiel (Cfr. Mt Mt 25,21)? Os acontecimentos são bem conhecidos, e não é certamente necessário recordá-los, muito menos diante de vós que deles fostes não já espectadores mas actores e, em grande escala, protagonistas. Nenhum de nós — diria eu com o discípulo de Emaús — é tão forasteiro em Roma para ignorar quae facta sunt in illa his diebus — o que lá se passou nestes dias (Cfr. Lc Lc 24 Lc Lc 18).

Em termos jornalísticos ou burocráticos, falou-se de revezamento, melhor, de duplo revezamento, no vértice da Igreja, de maneira que num ano — foi observado — houve três Papas! E objectivamente verdade, mas é também certo que esta palavra não diz tudo sobre a sucessão operada na Sê Apostólica, e sobre aquilo que ela contém de mais substancial e determinante: refiro-me à formidável herança do ministério mesmo de Pedro, como ela se caracterizou no decurso destes anos cruciais, durante o pontificado de Paulo VI, e se enriqueceu ao mesmo tempo de germes e de seiva, de aspirações renovadoras e de orientações programáticas durante a assembleia conciliar.

É necessário acrescentar que também o rápido mas intensíssimo serviço prestado pelo Papa João Paulo I influenciou esta já complexa herança, imprimindo-lhe uma mais definida caracterização pastoral. Por isso eu, que fui chamado a recolhê-la, sinto quotidianamente o peso verdadeiramente enorme de tanta responsabilidade. Será então o caso de falar de vértice ou de poderes? Oh não, Irmãos: o serviço de Pedro — corno insinuei na Capela Sistina no dia seguinte ã minha eleição — é essencialmente uni compromisso de dedicação e de amor. Assim exactamente deseja ser o meu humilde ministério.

Nisto conforta-me, primeiro que tudo, a certeza, ou melhor, a fé inabalável no poder de Jesus Senhor, que prometeu à sua Igreja urna indefectível assistência (Cfr. Mt Mt 28,20) e ao seu Vigário, como e mais ainda que aos outros Pastores, segreda persuadindo: Modicae fidei, quare dubitosti? — Homem de pouca fé, porque duvidaste? (Mt 14,31). Mas conforta-me também a ajuda que me ofereceis vós, da qual já neste primeiro período de adestramento pontifício, em tantos modos e com tanta eficácia, tive confirmação todos os dias. E neste ponto volto ao discurso dos bons votos, para o concluir com o renovado convite a elevardes por mini as vossas orações. Seja a comunhão na oração e na caridade, mesmo intencionalmente, a primeira forma nossa preciosa colaboração

3. Depois do olhar dirigido à Igreja, volta-se o pensamento, por nexo natural — como costumava fazer o Papa Paulo — para o mundo que a envolve. Como andou, neste ano que se está a concluir, a sociedade humana? E como está andando nestes dias? Mais que para os factos, a todos conhecidos, é necessário olhar para o nexo deles, para lhes descobrir — quanto é possível — o sentido e a direcção. Podemo-nos perguntar, por exemplo: progride ou estagna-se, entre os homens, a causa da paz? E a resposta torna-se assustada e incerta, quando se descobre em vários países a persistência de virulentas tensões, que não raro dão origem a explosões furiosas de violência.

A paz, infelizmente, continua bastante precária, sendo fácil divisar os motivos fundamentais que estão presentes e a ameaçam. Onde não há justiça — quem o não sabe? —, não pode haver paz, porque a injustiça é já desordem e sempre se conservam verdadeiras as palavras do Profeta: Opus iustitiae pax — A paz é obra da justiça (Is 32,17). Do mesmo modo, quando não há respeito pelos direitos humanos — refiro-me aos direitos inalienáveis, inerentes ao homem precisamente porque o é —, não pode haver paz, pois toda a violação da dignidade pessoal favorece o rancor e o espírito de vingança. E mais: onde não há formação moral que favoreça o bem, não pode haver paz porque é necessário sempre vigiar e conter as tendências más que se aninham no coração.

Não quero insistir, Irmãos, nestes pensamentos, mas urge que de tudo isto deduza urna indicação: estudando estes temas, mais necessário se torna consolidar as bases espirituais da paz, continuando com valor e perseverança aquela pedagogia da paz, de que Paulo VI foi autorizado mestre. Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, publicada ainda ontem, retomei o seu argumento sobre a educação para a paz, e dirijo também a vós — como a todos os homens meus irmãos — o convite para o aprofundardes e assimilardes.

E quanto é urgente a necessidade de fazer esforços em favor da paz, é o que também confirmam as tristes notícias chegadas há pouco do Continente Sul-americano.

A pendência que se foi tornando mais aguda neste último período entre a Argentina e o Chile, apesar do vibrante apelo em favor da paz dirigido aos Responsáveis por parte dos Episcopados daqueles dois países, vivamente apoiado e tornado próprio belo meu Predecessor João Paulo I, é motivo de profunda dor e de íntima preocupação.

Movido pelo afecto paternal que tenho por aquelas duas queridas Nações, também eu, na vigília do encontro realizado a 12 de Dezembro em Buenos Aires entre os seus Ministros dos Negócios Estrangeiros e no qual tantas esperanças se tinham colocado, manifestei directamente aos dois Presidentes as minhas preocupações, os meus votos e apoio para que se procurasse, no exame sereno e responsável, o modo de salvaguardar a paz tão vivamente desejada por ambos os povos.

As respostas recebidas estão cheias de respeito e de expressão de boa vontade. Todavia, apesar da aceitação, em princípio, por parte de ambos os contendentes, dum recurso à intervenção medianeira desta Sé Apostólica, devido às dificuldades concretas que depois surgiram, o propósito comum não teve aplicação prática. A Santa Sé não se recusaria a esse apelo, conhecendo embora a delicadeza e complexidade da questão, por considerar que, acima dos aspectos políticos e técnicos da desinteligência, se encontravam os interesses superiores da paz.

Depois, no dia de ontem, diante das notícias cada vez mais alarmantes que chegavam sobre o agravamento, e sobre o possível, e mesmo temido por não poucos como iminente, precipitar-se da situação, dei conhecimento às Partes da minha disposição — mais até, desejo — de enviar às duas Capitais um representante meu especial, para conseguir mais imediatas e concretas informações sobre as respectivas posições e para se examinarem e procurarem em conjunto as possibilidades duma honrosa composição pacífica do litígio.

De tarde chegou a notícia da aceitação de tal proposta por parte de ambos os Governos, com expressões de gratidão e de confiança que, ao mesmo tempo que me confortam, fazem sentir mais e mais a responsabilidade que semelhante intervenção comporta. Mas a Santa Sé entende que não deve subtrair-se a ela. E como ambas as partes insistem concordemente na urgência de tal intervenção, a Santa Sé procederá com toda a possível prontidão.

Entretanto, desejo renovar o meu amargurado apelo aos Responsáveis a fim de se evitarem passos que poderiam trazer consigo consequências imprevisíveis — ou até demasiado previsíveis — de danos e sofrimentos para as populações dos dois países irmãos. E convido a todos para que elevem uma fervorosa oração ao Senhor a fim de que a violência das armas não venha a prevalecer sobre a paz.

4. Agora desejo comunicar-vos algumas notícias como alegres primícias de iniciativas e acontecimentos, que, diferindo embora entre si, apresentam a multiforme presença e actividade da Santa Igreja.

a) A primeira notícia é que, por fins de Janeiro próximo, faço tenção de dirigir-me — se Deus quiser — ao México, a fim de participar na III Assembleia Geral do Episcopado Latino-Americano, que se realizará — como sabeis — em Puebla de los Angeles. É acontecimento de altíssima importância eclesial não só porque — no vasto Continente da América Latina, chamado Continente da esperança — se encontram em evidente maioria os fiéis católicos, mas também por causa do especial interesse e, mais ainda, das grandes expectativas que naquela reunião se têm em vista. Será autêntico mérito histórico para os Bispos, que presidem àquelas Igrejas antigas e novas, transformar essas expectativas em consoladoras realidades. Mas, antes de chegar à sede da Conferência, deter-me-ei no célebre Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe. É dele, na verdade, que desejo tirar o superior conforto e o necessário incitamento — quase os bons auspícios — para a minha missão de Pastor da Igreja e, nomeadamente, para o meu primeiro contacto com a Igreja na América Latina. O ponto essencial do desejadíssimo encontro com esta Igreja será exactamente tal peregrinação religiosa aos pés da Virgem Santa, para a venerar, lhe apresentar súplicas e lhe pedir inspiração e conselho para os Irmãos desse Continente inteiro.

É alegria para mim afirmar tudo isto na vigília do Natal, no momento em que todos — Pastores e fiéis — nos reunimos à volta da Mãe que, assim como um dia deu ao mundo Jesus Salvador na gruta de Belém, assim no-lo dá ainda agora na fecundidade inexaurível da sua virginal e espiritual maternidade. Oxalá a minha presença, no seu belo Santuário em terra mexicana, contribua para d'Ela obter novamente Cristo, por meio d'Ela como Mãe, não só para o povo daquela terra, mas para todas as Nações da América Latina.

O tema marcado para a Reunião de Puebla já vós o conheceis, juntamente com as sábias indicações encerradas no documento preparatório, elaborado pelo CELAM: "A evangelização no presente e no futuro da América Latina". Ora a importância deste argumento, as suas implicações teológicas, eclesiológicas e pastorais, doutrinais e práticas, a amplitude mesma da área em que será necessário aplicar todas as resoluções concretas, tão evidentes são que não vale a pena explicar o motivo da decisão por mim tomada. Como já Paulo VI quis estar presente na II Assembleia durante o Congresso Eucarístico Internacional de Bogotá, assim estarei eu entre os Irmãos reunidos para a nova Assembleia, com o objectivo de lhes testemunhar — e aos seus sacerdotes e fiéis — a estima, a confiança e a esperança da Igreja universal e de aumentar-lhes a coragem no comum esforço pastoral. Alguém disse que o futuro da Igreja "se joga" na América Latina. Ainda que, num plano geral, tal futuro esteja escondido em Deus segundo um desígnio que vai além dos projectos humanos e dos condicionamentos histórico-sociais (Cfr. Rom Rm 11 Rom Rm 33, Rm 16,6-9), aquela frase contém a sua verdade, pois significa quanto está ligada a sorte da Igreja no Continente centro e sul-americano com a da única e indivisa Igreja de Cristo. Vá, portanto desde já, para aquela escolhida assembleia, a minha saudação de bons votos.

b) O segundo anúncio tem por objecto a decisão de abrir aos estudiosos o Arquivo Secreto Vaticano até ao fim do pontificado de Leão XIII. Esta decisão, ambicionada de há tempos pelo mundo da cultura, vem a propósito neste ano de 1978, que marcou — corno bem sabeis — um duplo centenário: o da morte do Servo de Deus Pio IX, e o da sucessiva elevação à cátedra de Pedro de Joaquim Pecci, cujo ministério durou nada menos de 25 anos, "usque ad summam senectutem" (até à extrema velhice), e atingiu os primeiros anos do nosso século. Eis portanto que a Santa Sé — consentindo a livre consulta dos papéis e documentos relativos a este longo e não secundário período que, estendendo-se de 1878 a 1903, marcou a passagem para o século XX — abre à investigação um panorama de singular amplitude ao serviço da verdade histórica e para testemunhar também da sempre activa presença da Igreja no mundo da cultura.

c) Na mesma ordem de ideias inscreve-se também a iniciativa de honrar a memória do meu insigne Predecessor Paulo VI. Por um lado, em sua perpétua memória, a grande Sala das Audiências, que ele desejou e confiou à arte genial do Arquitecto Pier Luigi Nervi, será doravante denominada "Sala Paulo VI"; por outro lado, para valorizar um património que se constituiu durante o último ano do seu Pontificado, serão tornados acessíveis os "autógrafos" de tantas insignes personalidades que lhe foram oferecidos ao decorrer o seu octogésimo aniversário. Considero, com efeito, dever bem meu continuar e desenvolver o interesse que Paulo VI mostrou constantemente pelas causas da cultura e da arte: o que foi para ele não pequeno título de glória e reverte em não escasso prestígio para a Igreja.

Assim, Irmãos e Filhos caríssimos, respondi aos vossos votos; dei-vos conta oficialmente dalgumas iniciativas; recomendei-vos que rezeis e façais que se reze por mim. Os contactos até agora tidos convosco impelem-me a encarecer o significado desta comunhão. Graças a Deus, pude já. tomar conhecimento pessoal com parte dos meus mais próximos colaboradores, os da Secretaria de Estado, e tenho a intenção de continuar, logo que me seja possível, as visitas aos outros Dicastérios da Cúria Romana, convencido como estou de que o recíproco conhecimento favorece a melhor coordenação dos nossos esforços tendentes — segundo as respectivas funções, a cada um atribuídas — a um mesmo e focal centro de referência: o crescimento do Povo de Deus na fé e na caridade.

Eis que vem o Natal, vem o Senhor Jesus: oxalá ele nos encontre a todos — segundo os desejos expressos pelo prefácio do Advento — vigilantes na expectativa, exultantes no louvor e ardentes na caridade, sob o olhar docemente tranquilizador d'Aquela que, como Mãe de Jesus, foi e é ainda Mãe nossa. Assim seja, com a minha mais cordial Bênção.




Discursos João Paulo II 1978 - Quarta-feira, 13 de Dezembro de 1978