AUDIÊNCIAS 1979 - AUDIÊNCIA GERAL


JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 1979




A colegialidade episcopal na Conferência de Puebla

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. A terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano é acontecimento em que se concentra a atenção de toda a Igreja e suscita grande interesse mesmo nos ambientes extra-eclesiais. O facto de ser já a terceira Conferência testemunha que a sua história, embora breve, é contudo muito indicativa e frutuosa.

Em 1955 o Papa Pio XII quis convocar a I Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano — celebrada no Rio de Janeiro de 25 de Julho a 4 de Agosto de 1955 — para fazer um exame dos problemas religiosos, que despertavam então graves angústias em todo o Continente: foi como perscrutar os sinais dos tempos, para daí tirar indicações de caminhos cada vez mais apropriados para a renovação e o revigoramento da actividade apostólica da Igreja. Em particular, a penúria de Clero, verificada com dramática evidência, levou a que se procurasse mais estreita colaboração a nível continental, de que devia ser instrumento um conselho representativo de todos os Episcopados nacionais. A instituição do CELAM foi o primeiro e mais importante resultado da Conferência: resultado dinâmico, aberto a desenvolvimentos que assumiram um ritmo e importância crescentes.

Em 1968 o Papa Paulo VI, para conseguir adaptar melhor a missão da Igreja às necessidades da América Latina à luz dos ensinamentos do Concílio Vaticano II, convocou a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, celebrada em Medellín de 24 de Agosto a 6 de Setembro (1968). Finalidade principal do encontro foi o estudo do tema «A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II».

As particularidades supra-indicadas informam suficientemente acerca do modo como se formou e desenvolveu, no decurso dos decénios, este esplêndido órgão de colegialidade do Episcopado actual no Continente Latino-Americano, o qual, neste momento, é o primeiro agente do acontecimento, chamado por brevidade «Puebla». no edifício do Seminário Maior, em Puebla.

Desejaria chamar a atenção sobretudo para o método de trabalho e para o modo muito perspicaz e exacto de preparação da mesma Conferência. Antes de chegar à formulação das principais teses indicadas no «Documento de trabalho», que enche 172 páginas ao todo, cada uma das Conferências Episcopais, da América Latina, seguindo o «Documento de consulta», trabalhou preparando os próprios pareceres, observações e propostas, quanto ao argumento da terceira Conferência, que assim foi formulado: «A Evangelização no presente e no futuro da América Latina». Fácil é reconhecer que as fontes deste argumento se encontram principalmente nos trabalhos das Assembleias ordinárias do Sínodo dos Bispos, realizadas em Roma nos anos de 1974 e 1977: recordemos que o tema dessas Assembleias foi respectivamente a «Evangelização no mundo contemporâneo» e a «Catequese com particular referência aos jovens».

O fruto da troca das experiências, das propostas e das sugestões do Sínodo dos Bispos de 1974 foi a Exortação Apostólica de Paulo VI, Evangelii nuntiandi, um dos documentos mais característicos e frutuosos do Seu pontificado.

Tal é— e como se vê muito límpida — a génese da actual Conferência do CELAM, no que diz respeito ao tema. A iniciativa de tratar este argumento de carácter universal-eclesiástico, isto é a «Evangelização» com referência à América Latina, sobe ao ano de 1976. Todo o ciclo da preparação ocupou dois anos inteiros. Neste período, as Conferências Episcopais Nacionais, aproveitando também os contributos oferecidos por cada elemento das comunidades eclesiais locais, prepararam a sua contribuição para se redigir o «Documento de Trabalho», isto é, aquele Documento que devia servir como ponto de referência dos trabalhos da Conferência de Puebla, e seguindo o qual se devia proceder à troca das experiências, das propostas e das sugestões: exactamente o que agora se está fazendo em Puebla.

Cada Conferência Episcopal, além de estar representada pelo respectivo Presidente, nomeou um número de Delegados proporcional ao número total dos Bispos que fazem parte da mesma Conferência. Além disso, foram enviados a Puebla representantes dos vários elementos do Povo de Deus: sacerdotes, religiosos, religiosas, diáconos e leigos.

3. Pode ser que os supra-indicados dados particulares, relativos à Conferência de Puebla, sejam já conhecidos a alguns dos meus ouvintes de hoje. Julguei todavia oportuno sintetizá-los agora, por dois motivos:

Primeiro que tudo, atendendo à importância do acontecimento que tem o nome de «Puebla». Ao mesmo tempo, para exprimir a minha alegria por a doutrina sobre a colegialidade do Episcopado, recordada pelo Concílio Vaticano II, se encarnar, de modo tão esplêndido, na vida, e frutificar nos nossos dias.

Valeria a pena abrir agora de novo o texto da constituição dogmática Lumen Gentium, no capítulo III, e ler com atenção todos os seus parágrafos.

Seria necessário recordar muitas passagens do decreto Christus Dominus, sobre os deveres pastorais dos Bispos.

Detenhamo-nos nalgumas frases: «Assim como, por instituição do Senhor, São Pedro e os restantes Apóstolos formam um colégio apostólico, assim de igual modo estão unidos entre si o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos. A natureza colegial da ordem episcopal, claramente comprovada pelos Concílios ecuménicos celebrados no decurso dos séculos, manifesta-se já na disciplina primitiva, segundo a qual os Bispos de todo o orbe comunicavam entre si e com o Bispo de Roma no vínculo da unidade, da caridade e da paz; e também na reunião dos Concílios, nos quais se decidiram em comum coisas importantes, depois de ponderada a decisão pelo parecer de muitos» (Cfr. Lumen Gentium LG 28).

O Concílio é a mais plena expressão da colegialidade do múnus episcopal na Igreja. As suas outras manifestações não têm significado tão fundamental. São todavia muito necessárias, úteis e algumas vezes absolutamente indispensáveis. Isto refere-se quer às instituições colegiais entre estas, agora, na Igreja ocidental desenvolvem-se principalmente as Conferências Episcopais — quer ainda às diversas formas de actividade colegial.

A presente Conferência em Puebla é exactamente essa forma de actividade colegial do Episcopado Latino-Americano. Certamente, seja cada instituição colegial sejam mesmo as formas da actividade colegial dos Episcopados correspondem, de modo especial, às exigências dos nossos tempos.

4. A Constituição dogmática Lumen Gentium, falando da colegialidade dos Bispos, usa também a expressão «corpo episcopal» (corpus episcopale). Parece incluir-se nela uma analogia ainda mais profunda relativamente a toda a Igreja, que São Paulo, como bem sabemos, chamava «o corpo de Cristo» (Cfr. Rom Rm 12,5 1Co 1,13 1Co 6,12-20 1Co 10,17 1Co 12,12 1Co 27 Ga 3,28 Ep 1,22-23 Ep 2,16 Ep 4,4 Col 1,24 Col 3,15). Por esta última analogia entramos já profundamente no mistério íntimo da Igreja: na união da vida, que ela recebe de Cristo.

O «Corpus episcopale» diz respeito à estrutura exterior mais importante da Igreja: a sua unidade hierárquica. Todavia, esta estrutura exterior fica ao serviço do mistério interior da Igreja: do Corpo Místico de Cristo. Exactamente pela mesma razão e pela mesma finalidade, esta estrutura é também «corpo»: o corpo, ou seja, o colégio episcopal.

No período em que este colégio, isto é, o «corpo», dedica os seus trabalhos ao problema da evangelização «no presente e no futuro» do continente sul-americano, devemos fazer votos por que esteja presente, no meio dos seus membros e por meio deles, o próprio Senhor Jesus. Porque assim lemos na citada constituição Lumen Gentium:

«Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo, pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao corpo dos seus pontífices, mas, antes de mais, por meio do seu exímio ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus administra continuamente aos crentes os sacramentos da fé, incorpora por celeste regeneração e graças à sua actividade paternal (cfr. 1Co 4,15) novos membros ao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e orienta o Povo do Novo Testamento na peregrinação para a eterna felicidade. Estes pastores escolhidos para apascentar o rebanho do Senhor, são ministros de Cristo e dispensadores dos ministérios de Deus (cfr. 1Co 4,1); a eles foi confiado o testemunho do Evangelho da graça de Deus (cfr. Rom Rm 15,16 Ac 20,24) e a administração do Espírito e da justiça em glória (cfr. 2Co 3,8-9)» (Lumen Gentium LG 21).

A vós todos a minha Bênção Apostólica.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira. 14 de Fevereiro de 1979




A libertação substancial do homem está em reconhecermo-nos em Cristo

Queridos Irmãos e Irmãs

1. «A evangelização no presente e no futuro da América Latina»: sobre este tema trabalhou a terceira Conferência Geral do Episcopado daquele Continente, desde 27 de Janeiro até 13 de Fevereiro. Ontem a Conferência terminou os seus trabalhos. Hoje desejo — juntamente com os meus Irmãos no Episcopado participantes naquela Conferência, representando todos os Episcopados do Continente Latino-Americano inteiro — agradecer ao Espírito Santo ter-se realizado todo aquele conjunto de trabalhos. Desejo dar graças ao Espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Sua Mãe, Esposa do Espírito Santo. Precisamente aos seus pés, no Santuário de Guadalupe, iniciamos juntos a terceira Conferência.

Quando ouvimos a palavra «evangelização», vem-nos ao espírito a frase de São Paulo: Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me está imposta essa obrigação. Ai de mim se não evangelizasse! (1Co 9,16). Estas palavras, que brotam do fundo da alma do Apóstolo, são o brado da Igreja dos nossos tempos. Tornaram-se o testamento de Paulo VI, que encontrou a expressão na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. E agora tornam-se as palavras da fé, da esperança e da caridade do Episcopado Latino-Americano. Porque a fé, a esperança e a caridade devem ser traduzidas em linguagem de responsabilidade pelo Evangelho, pelo seu anúncio, assim como o formulou o Apóstolo São Paulo.

2. A Evangelização no Continente Americano é primeiro que tudo herança de séculos. Se falamos do presente e do futuro desta evangelização, não podemos esquecer o seu «ontem», o seu passado. Disto falei na minha primeira homilia, que durante a recente viagem pronunciei na Missa concelebrada em São Domingos. «Desde os primeiros momentos do descobrimento — dizia — a preocupação da Igreja manifesta-se por tornar presente o Reino de Deus no coração dos novos povos, das raças, das culturas ... O solo da América estava preparado por correntes de espiritualidade própria para receber a nova semente cristã».

Aquele «ontem» da evangelização dos homens e dos povos do Continente Latino-Americano fez-se notar constantemente durante a minha visita ao México, e deu nota específica a toda a viagem. Por toda a parte encontrei os esplêndidos templos, que recordam as primeiras gerações da Igreja e do cristianismo naquela terra. Mas sobretudo encontrei os homens vivos, que aceitaram como próprio o evangelho a eles anunciado, no novo mundo, pelos missionários provenientes do velho mundo, e dele fizeram a substância da própria vida. Certamente que não foi fácil aquele encontro dos recém-chegados da Europa com os indígenas. Tem-se a impressão que estes últimos não receberam em tudo o que era europeu; que dalgum modo procuraram esconder-se na sua própria tradição e na cultura tradicional. Mas tem-se ao mesmo tempo a impressão de terem aceitado Jesus Cristo e o seu Evangelho; de naquela comunidade de fé se ter efectuado um encontro do «velho» com o «novo», e isto encontra-se na base não só da vida da Igreja mas até da sociedade mexicana. Essa continuidade da fé atravessou — como todos sabemos — graves provações e duros exames. É difícil resistir à impressão, que se impõe com insistência, de a comunidade se ter reforçado e aprofundado no cadinho dessas provações e desses exames. Traz em si os sinais de grande simplicidade e da vitória espiritual da fé, apesar das circunstâncias que poderiam testemunhar contra e, considerando as coisas do ponto de vista humano, poderiam entristecer.

3. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre (He 13,8).

Os representantes do Episcopado reunidos em Puebla, pensando na evangelização no presente e no futuro da América Latina, tinham consciência de a Igreja, como Corpo de Cristo e sua fiel Esposa, de a Igreja, como Povo de Deus, não se poder separar nunca do passado, da tradição, mas também não poder contentar-se de olhar só para o passado: a ecclesia «retro-occulata» deve ser sempre, ao mesmo tempo, a Igreja que olha para o futuro (ecclesia ante-occulata). A este futuro, aos homens que já existem e aos que virão, deve a Igreja revelar sempre Jesus Cristo, pleno e não diminuído mistério da Salvação. Este mistério é mistério eterno em Deus, que deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. O mistério que se tornou, no tempo, uma Realidade Divino-Humana, que tem o nome de Jesus Cristo.

É Realidade histórica, e ao mesmo tempo Ele está acima da história. é o mesmo ontem, hoje e sempre (He 13,8).

É Realidade que não pára fora do homem; é para o homem a razão de existir, de ser e de agir; constitui a fonte e o fermento da nova vida em cada homem.

Evangelizar significa actuar nesta direcção, para que a fonte e o fermento da nova vida resplandeçam nos homens e nas gerações sempre novas.

Evangelizar não significa só dizer coisas «a respeito de Cristo». Anunciar Cristo significa fazer que o homem — aquele a quem se dirige este anúncio — «creia», isto é, se veja a si mesmo em Cristo, encontre n'Ele a dimensão adequada da própria vida, numa palavra, se encontre a si mesmo em Cristo.

Executor desta obra é o homem que evangeliza, mas é sobretudo o Espírito Santo, o Espírito de Jesus Cristo. A Igreja, que evangeliza, continua a ser escrava e instrumento do Espírito.

O facto de nos encontrarmos a nós mesmos em Cristo, o que é exactamente o fruto da evangelização, torna-se libertação substancial do homem. O serviço ao Evangelho é serviço à liberdade no Espírito. O homem, que se encontrou a si mesmo em Cristo, encontrou o caminho da consequente libertação da própria humanidade pelo superamento de todas as suas limitações e fraquezas; por meio da libertação da própria situação de pecado e das múltiplas estruturas do pecado que pesam sobre a vida das sociedades e dos indivíduos.

A esta verdade, tão vigorosamente expressa por São Paulo, devemos fazer referência, com não menos clareza, na missão evangelizadora no Continente Americano e em toda a parte.

4. O futuro da evangelização identifica-se com a realização deste grande e múltiplo programa delineado pelo Concílio Vaticano II.

A Igreja, para poder cumprir a sua missão quanto ao «mundo», deve profundamente reforçar-se no próprio ministério, deve construir a fundo a própria comunidade, a comunidade do Povo de Deus, baseada na sucessão apostólica, no ministério jerárquico, na vocação ao serviço exclusivo de Deus no sacerdócio e na vida religiosa, no laicado consciente das próprias obrigações apostólicas.

O mundo latino-americano espera que a Igreja cumpra a própria missão, no que diz respeito a si mesmo. Espera-o também quando, no que diz respeito à Igreja e ao Evangelho, ele manifesta contestação e indiferença.

Não deve tudo isto fazer desanimar os apóstolos de Cristo e os servos do Evangelho do seu amor.

Os meus queridos Irmãos no Episcopado do Continente Latino-Americano dão testemunho de que «o amor de Cristo os constrange» (Cfr. 2Co 5,14), de que estão prontos a «anunciar a palavra, a insistir oportuna e inoportunamente, a repreender, a censurar e exortar com bondade e doutrina» (Cfr. 2Tm 4,2) — como diz São Paulo — para as comunidades, confiadas ao seu cuidado de pastores e mestres, «não afastarem os ouvidos da verdade, aplicando-os às fábulas» (Cfr. 2Tm 4,4).

Os meus Irmãos no Episcopado do Continente Latino-Americano estão prontos — juntamente com os seus sacerdotes, os religiosos e as religiosas, com todo o laicado zeloso — a ler os «sinais dos tempos», para formarem todo o Povo de Deus na justiça, na verdade e no amor.

O Senhor os abençoe em todo este seu trabalho.

Permita que eles vejam os frutos deste zelo e desta cooperação, de que foi prova a terceira Conferência Geral em Puebla.

A Igreja no Continente Latino-Americano, forte pela tradição da primeira evangelização, de novo se tome agora forte com a consciência de todo o Povo de Deus, com a força das próprias vocações sacerdotais e religiosas, com profundo sentimento de responsabilidade quanto à ordem social fundada na justiça, na paz, no respeito dos direitos do homem, na adequada distribuição dos bens, no progresso da instrução pública e da cultura.

Tudo isto lhes desejamos.

Pela consecução de tais finalidades na América Latina queremos continuar a orar incansavelmente, nós todos aqui reunidos e toda a Igreja, invocando a intercessão da Mãe de Deus de Guadalupe, a cujos pés começamos os nossos trabalhos.

Ámen.

Saudações

A Bispos de vários Continentes

A minha saudação cordial vai hoje para o grupo de 40 Irmãos meus no Episcopado, de Continentes e países diversos: trata-se de Bispos "amigos" do Movimento dos "Focolari", reunidos nestes dias no Centro Mariápolis de Rocca di Papa, por iniciativa do Bispo de Aquisgrana, D. Klaus Hemmerle, para viverem juntos uma experiência de comunhão espiritual.

A vós, venerados Irmãos, os votos de que possais realizar — neste período de meditação, de oração e de reflexão comum — aquela unidade de espírito e de coração, que Jesus pediu ao Pai para os discípulos na última ceia: "Todos sejam uma só coisa; como tu ó Pai, estás em mim e eu em ti, também todos eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (Jn 17,21).

A Sacerdotes de diversas dioceses europeias

Uma afectuosa e paternal saudação desejo dirigir também aos 350 Sacerdotes de várias Dioceses europeias, que participam também na reunião promovida pelo Movimento "Focolari" no Centro Mariápolis.

Estou certo que estes são para vós, filhos caríssimos, dias de graças divinas, que tornarão mais responsabilizado e mais fecundo o vosso ministério. Por isso, rogo com São Paulo "que a vossa caridade cresça cada vez mais em conhecimento e cm todo o género de discernimento para poderdes distinguir sempre o que é melhor" (Ph 1,9 ss), e poderdes levar Jesus às almas.

Abençoo-vos paternalmente.

A Religiosos e Religiosas do Centro de Ecónomos de Comunidades

Quero dirigir agora uma saudação especial aos Religiosos e às Religiosas aqui presentes, que tomam parte nestes dias na sua Reunião anual, organizada pelo Centro Nacional de Ecónomos de Comunidades.

Conheço bem os pesados encargos a vós confiados na delicada administração das vossas Casas religiosas, dos hospitais, das casas de repouso para anciãos, dos asilos infantis, dos centros para diminuídos, etc. Asseguro-vos a minha compreensão e sobretudo a minha oração para que saibais unir a acção à contemplação, e assim cumprir cada vez melhor o vosso dever, tão rico de benemerências e de utilidade diante dos homens, e tão precioso diante de Deus.

Para isso vos seja de conforto a minha especial Bênção, que de coração agora vos concedo e a cada membro dos vossos respectivos Institutos.

A Peregrinos da Paróquia de Portomaggiore (Ravena, Itália)

Sinto ainda o prazer de expressar cordiais boas vindas à numerosa peregrinação da Paróquia de Portomaggiore, da Diocese de Ravena, que traz a esta Sala a "primeira pedra" da Casa de repouso, que deseja a caridade cristã erguer, para os anciãos da mesma Paróquia.

Caríssimos, abençoo da melhor-vontade a iniciativa da nova Casa e com ela a primeira pedra, que disso é sinal tangível e na alegoria bíblica representa Cristo, que se tornou com a sua Ressurreição "pedra angular" do novo Povo de Deus (cfr. 1P 2,4-9).

Manifesto-vos o meu aplauso pelo testemunho de solidariedade cristã que hoje ofereceis e, como sinal de paternal afecto, abençoo todos os promotores desta peregrinação, e juntamente o vosso zeloso Arcebispo, Dom Ersilio Tonini, e o vosso Arcipreste, ao mesmo tempo que, invocando escolhidos dons do Senhor e a celeste protecção de Nossa Senhora, concedo a vós e às vossas pessoas queridas que não puderam vir aqui a propiciadora Bênção Apostólica.

Aos jovens Casais

Sede bem vindos também vós, caríssimos jovens esposos. Obrigado pela vossa presença. A vossa nova vida teve início junto do altar do Senhor, com o selo dum rito sacramental: não esqueçais nunca que sois esposos cristãos, elevados à dignidade de colaboradores de Deus na procriação e educação dos filhos que o Senhor vos der.

O Papa roga por vós c acompanha-vos com os votos duma serena e virtuosa existência familiar e com urna Bênção cordial.

Aos Doentinhos

Desejo reservar uma palavra especial e uma saudação afectuosa aos enfermos aqui presentes. Domingo passado, na sugestiva cerimónia da tarde em São Pedro, os doentes ocuparam o primeiro lugar. Todos os que sofrem, no corpo ou na alma, têm sempre o primeiro lugar no coração do Papa.

Para vós, portanto, queridos doentes, peço que a fortaleza cristã não vos falte nunca em nenhuma circunstância e que seja sempre para vós conforto interior apoiar o vosso sofrimento na cruz de Jesus. Desejando-vos toda a ajuda divina c humana, abençoo-vos cordialmente c ao mesmo tempo abençoo os vossos parentes e todos os que estão perto de vós.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 1979




A libertação nasce da verdade de Cristo

1. Ainda hoje desejo referir-me ao tema da terceira Conferência do Episcopado Latino-Americano: à evangelização. É tema fundamental, tema que é sempre de actualidade. A Conferência, que a 13 de Fevereiro terminou os seus trabalhos em Puebla, dá testemunho disso. É, além disso, o tema «do futuro», o tema que a Igreja deve viver continuamente e prolongar no futuro. O tema constitui, por isso, a perspectiva permanente da missão da Igreja.

Evangelizar quer dizer tornar presente Cristo na vida do homem enquanto pessoa, e ao mesmo tempo na vida da sociedade. Evangelizar significa fazer todo o possível, segundo as nossas capacidades, para que o homem «creia»; para que o homem se encontre a si mesmo em Cristo; para que encontre n'Ele o sentido e a dimensão adequada da própria vida. Este encontro é, ao mesmo tempo, a fonte mais profunda da libertação do homem. Exprime-o São Paulo quando escreve: Foi para que ficássemos livres que nos libertou Cristo (Ga 5,1). Assim a libertação é certamente uma realidade de fé, um dos fundamentais temas bíblicos, inscritos profundamente na missão salvífica de Cristo, na obra da Redenção e no Seu ensinamento. Este tema não deixou nunca de constituir o conteúdo da vida espiritual dos cristãos. A Conferência do Episcopado Latino-Americano testemunha que este tema volta em novo contexto histórico; por isso deve ele retomar-se no ensinamento da Igreja, na teologia e na pastoral. Deve retomar-se na sua profundidade própria, e na sua autenticidade evangélica.

Muitas circunstâncias fazem que ele seja muito actual. Difícil é, aqui, mencioná-las todas. Recorda-o certamente aquele «universal desejo da dignidade» do homem, de que fala o Concílio Vaticano II. A «teologia da libertação» é frequentemente relacionada (algumas vezes demasiado exclusivamente) com a América Latina; é necessário porém dar razão a um dos grandes teólogos contemporâneos (Hans Urs von Balthasar), que justamente exige uma teologia da libertação de dimensão universal. Só são diversos os contextos, mas a realidade mesma da liberdade «para que nos libertou Cristo» (Cfr. Gál Ga 5,1). é universal. A missão da teologia é encontrar o seu verdadeiro significado nos diversos e concretos contextos históricos contemporâneos.

2. O próprio Cristo relaciona, de modo especial, a libertação com a consciência da verdade: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jn 8,32). Esta frase garante sobretudo o significado íntimo da liberdade para a qual nos liberta Cristo. Libertação significa transformação interior do homem, que é consequência do conhecimento da verdade. A transformação é portanto processo espiritual, em que o homem se aperfeiçoa na justiça e na santidade verdadeira (Ep 4,24). O homem, assim amadurecido internamente, torna-se representante e porta-voz dessa «justiça e santidade verdadeira» nos diversos meios da vida social. A verdade tem importância não só para o crescimento da consciência humana, aprofundando deste modo a vida interior do homem; a verdade tem ainda significado e força profética. Constitui o conteúdo do testemunho e requer um testemunho. Encontramos esta força profética da verdade no ensinamento de Cristo. Como Profeta, como testemunha da verdade, Cristo opõe-se repetidamente à não-verdade; fá-lo com grande força e decisão e muitas vezes não hesita em deplorar o que é falso. Tornemos a ler cuidadosamente o Evangelho; nele encontraremos não poucas expressões severas, por exemplo sepulcros caiados (Mt 23,27), guias cegos (Mt 23,16), hipócritas (Mt 23,13 Mt 23,15 Mt 23 Mt 25 Mt 27 Mt 29), expressões que pronuncia Cristo, consciente das consequências que O esperam.

Portanto, este serviço prestado à verdade, como participação no serviço profético de Cristo, é missão da Igreja, que procura cumpri-la nos diversos contextos históricos. É necessário chamar com os devidos nomes a injustiça, a exploração do homem pelo homem, ou a exploração do homem por parte do Estado, das instituições, dos mecanismos dos sistemas económicos e dos regimes, que operam algumas vezes sem sensibilidade. É preciso chamar com os devidos nomes toda a forma de injustiça social, discriminação e violência, infligidas ao homem contra o corpo, contra o espírito, contra a sua consciência e contra as suas convicções. Cristo ensina-nos especial sensibilidade para com o homem, para com a dignidade da pessoa humana, para com a vida humana e o corpo humano. É esta sensibilidade que dá testemunho do conhecimento daquela verdade que nos torna livres (Jn 3,32). Não é permitido ao homem esconder esta verdade diante de si mesmo. Não é permitido «falsificá-la». Não é permitido fazer desta verdade objecto de «luta pelo exclusivo». É necessário falar dela de modo claro e simples. E não para «deplorar» os homens, mas para servir a causa do homem. A libertação, também no sentido social, parte do conhecimento da verdade.

3. Limitamo-nos a este ponto. É difícil num breve discurso exprimir tudo o que encerra este tema longo, que tem muitos aspectos e sobretudo muitos níveis. Repito: muitos níveis, porque neste tema é preciso ver o homem segundo os diversos elementos de toda a riqueza da sua entidade pessoal e ao mesmo tempo social: entidade «histórica», e dalgum modo, «supratemporal». (Desta «supratemporalidade» do homem dá testemunho também a história). A entidade que é a «cana pensante» (Cfr. B. Pascal, Pensées, 347). — é sabido como é frágil a cana — exactamente porque «pensante», supera-se sempre a si mesma; leva dentro de si o mistério transcendental e uma e uma «inquietação criativa», que dele promana.

Por agora detemo-nos neste ponto. A teologia da libertação deve sobretudo ser fiel a toda a verdade sobre o homem, para evidenciar— não só no contexto latino-americano mas em todos os contextos contemporâneos — a realidade que é esta liberdade «para que nos libertou Cristo».

Cristo! É necessário falar da nossa libertação em Cristo, é necessário anunciar esta libertação. É necessário inseri-lo em toda a realidade contemporânea da vida humana. Requerem-no muitas circunstâncias, muitas razões. Exactamente nestes tempos — em que se pretende que a condição da «libertação do homem» seja a sua libertação «de Cristo», isto é, da religião — precisamente nestes tempos deve tornar-se, para nós todos, cada vez mais evidente e cada vez mais plena a realidade da nossa libertação em Cristo.

4. Para isto nasci e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade (Jn 18,37).

A Igreja, olhando para Cristo que dá testemunho da verdade, em toda a parte e sempre deve perguntar a si mesma, e em certo sentido também ao «mundo» contemporâneo, de que modo se há-de fazer sobressair o bem do homem: para que ele seja mais forte que o mal, que qualquer mal moral, social, etc. A terceira Conferência do Episcopado Latino-Americano dá testemunho da disponibilidade para assumir este encargo. Queremos não só recomendar a Deus este encargo, mas também i-lo conseguindo para o bem da Igreja e de toda a família humana.

Saudações

A uma Peregrinação de Ferrara e Comacchio (Itália)

Dirijo uma cordial e afectuosa saudação à numerosa peregrinação da Arquidiocese de Ferrara e da Diocese de Comacchio, presidida pelo Arcebispo Dom Filipo Franceschi. Tenho presente neste momento, caríssimos irmãos e irmãs, a gloriosa história das vossas cidades, as suas muitas e benéficas instituições para serviço do homem, e sobretudo conheço a fé sincera que anima as vossas Comunidades eclesiais, e é vida do Seminário e ele todas as formas do apostolado cristão, que aplicam com felicidade as indicações do Concílio Vaticano li. Ao agradecer-vos esta vossa visita, que tanto apreciei, exorto-vos e animo-vos a cada vez mais generosa fidelidade às vossas nobres e genuínas tradições, a que a façais progredir continuamente nuns clima de aberta e leal solidariedade. A todos concedo a minha Bênção Apostólica.

A Peregrinos de Patti (Itália)

Uma saudação também aos peregrinos da Diocese de Patti, aqui reunidos com o seu Pastor Dom Carmelo Ferraro, não só para demonstrarem ao sucessor de Pedro o seu amor, mas também para levarem benzida a "primeira pedra" do "Centro de promoção pela vida", que será levantado junto do célebre santuário de Nossa Senhora de Tíndari. Ao manifestar-vos reconhecimento, caríssimos irmãos e irmãs, por este duplo testemunho de respeito, e ao abençoar a "primeira pedra", desejo exprimir votos de que a obra, que vai começar, seja sustentada generosamente por todos vós, a fim de que não só se erga de modo que seja digno da importância da nobre finalidade em vista, mas sobretudo contribua para a valorosa defesa do homem, fazendo ressaltar os seus valores sagrados e o inalienável direito à vida. A vós e às vossas famílias a minha Bênção Apostólica propiciadora da divina assistência.

Ao Capítulo Geral das Franciscanas de Salzkotten (República Federal da Alemanha)

Desejo dirigir uma saudação particular ao Capítulo geral das Franciscanas de Salzkotten. A vossa comunidade tem conto carisma próprio seu a oração pela Igreja. juntamente com o serviço social pelos necessitados e os doentinhos. Mantende-vos fiéis à missão que vos foi confiada pela vossa fundadora, missão actual e bastante urgente também hoje.

A missão da vossa Congregação, que não conhece fronteiras de países nem culturas, é algo de precioso. O equilíbrio entre unidade e pluralismo que vos propondes sempre restabelecer com inteligência, realismo e não raro mesmo com sacrifícios, constitui um grande auxílio para toda a Igreja, cuja unidade universal se reflecte na vossa comunidade. De coração desejo ao vosso Capitulo geral a bênção e assistência de Deus a fim de chegar a resultados que sejam dons para a Igreja em louvor do Senhor.

As Irmãzinhas de Jesus

Entre tantos outros grupos, tenho o gosto de saudar o grupo das Irmãzinhas de Jesus, com a sua querida Fundadora. As vossas fraternidades asseguram no coração do mundo uma presença de Cristo, num clima de oração e de amizade. Acompanham-vos os meus votos e a minha Bênção onde quer que vos encontreis.

Aos Ugandeses residentes em Roma

Tenho hoje especial prazer em dirigir boas-vindas aos Ugandeses que vivem em Roma. A vossa presença aqui é elemento da vossa participação no centenário da evangelização do vosso País. A vossa presença dá-me igualmente oportunidade para expressar de novo a minha estima e amor pela Igreja na vossa terra, e para dar louvor e acção de graças a Deus, que por meio do poder do Espírito Santo produziu abundantes frutos de santidade e justiça na vida de várias gerações do Ugandeses. E nesta ocasião importante, oxalá todos vos renoveis na alegria e na fortaleza de vida em Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador do mundo.

Aos jovens Casais

Desejo, depois, reservar uma palavra particular de saudação aos jovens casais e aos 150 esposos que participam num curso para animadores de catequese conjugal, promovido pela Acção Católica Italiana.

Obrigado pala vossa presença. Sois portadores dum grande sacramento, que põe o vosso amor em relação misteriosa mas real com o amor mesmo de Cristo pela Igreja: o amor de Deus que, em Cristo, se manifestou plenamente na história humana, deseja tornar-se visível diante do mundo no vosso amor nupcial. Tendes uma alta missão, vós esposos cristãos. Deveis testemunhar diante de todos que é possível, e belo e nobre, o amor fiel em todas as circunstâncias, generosamente aberto à vida, capaz sempre de compreensão e de perdão em diálogo confiante e constante com a paternal bondade de Deus. Acompanhe-vos nesta missão de responsabilidade o meu augúrio e a minha afectuosa Bênção.

Aos Membros da IV Conferência Interparlamentar
da Comunidade Europeia
e aos Membros do Parlamento Latino-Americano

Dentre os grupos de língua espanhola que participam nesta audiência quero fazer notar a presença qualificada dos membros da Quarta Conferência Interparlamentar da Comunidade Europeia e dos Membros do Parlamento Latino-Americano. Para todos eles a minha especial e deferente saudação, junta aos meus melhores desejos de bem-estar das suas pessoas e suas respectivas Nações.

Aos Alunos da "Escola da Fé", de Friburgo (República Federal da Alemanha)

Saúdo também os alunos da Escola da Fé, de Friburgo: queridos amigos, aprendei a descobrir melhor a Cristo, no estudo da sua Palavra, na oração litúrgica e na vida fraternal, e sabei repartir em seguida, muito abundantemente, a sua Boa Nova, como verdadeiros discípulos. Animo-vos de todo o coração.

Aos Doentinhos

O meu pensamento dirige-se agora, com afecto paternal, para os doentes aqui presentes, em especial para os internados no Hospital romano de "Santa Maria delta Pietà".

Caríssimos, vós tendes lugar privilegiado no coração do Papa, como bem sabeis. Gostaria, se fosse possível, de me aproximar de cada um de vós, como ainda de todos os outros cristãos provados pelo sofrimento, para lhes ouvir as confidências e dizer-lhes pessoalmente um sincero "obrigado" em nome de toda a Igreja, pois cada um — sofrendo — "está completando na sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja" (cfr. Col Col 1,24). Ajude-vos o Senhor a dar sentido pleno, mediante a fé e o amor, às quotidianas tribulações, sustenha-vos com o interior conforto da sua fortalecedora presença e conceda-vos chegar depressa, se Lhe aprouver, à cura completa. Para todos vós e para quem vos assiste invoco os dons da divina bondade mediante uma especial Bênção Apostólica.



AUDIÊNCIAS 1979 - AUDIÊNCIA GERAL