DIscursos João Paulo II 2004

Estou feliz por vos acolher neste último domingo de Setembro, quando está a chegar ao fim o meu descanso de Verão em Castel Gandolfo. De facto, o nosso tradicional encontro oferece-me a oportunidade de manifestar a cada um de vós o meu vivo reconhecimento pelo generoso serviço que desempenhais nesta Residência Pontifícia.

Saúdo em especial o Dr. Savério Petrillo, Director-Geral das Vilas Pontifícias, e agradeço-lhe as gentis palavras que me dirigiu em nome dos presentes. De bom grado estendo esta afectuosa saudação a todos os funcionários das Vilas e às suas famílias. O Senhor vos recompense pelo empenho e fidelidade com que desempenhais as tarefas a vós confiadas.

Ao voltar ao Vaticano, levarei comigo a querida lembrança dos dias serenos e repousantes que pude transcorrer no Castelo, graças também à vossa ajuda. Confio na vossa oração e, da minha parte, garanto-vos que não deixarei de pedir ao Senhor, a fim de que vos acompanhe sempre com a sua assistência. Ao confiar-vos à materna protecção da Virgem Maria, Rainha do Rosário, abençoo-vos com afecto, juntamente com os vossos familiares e com todas as pessoas a vós queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CARDEAL KAZIMIERZ SWIATEK,


ARCEBISPO DE MINSK-MOHILEV (BIELO-RÚSSIA)


E AOS MEMBROS DO INSTITUTO PAULO VI


Segunda-feira, 27 de Setembro de 2004




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
Ilustres Senhores

1. É-me grato realizar este encontro, que me permite entregar-lhe pessoalmente, caríssimo Cardeal Kazimierz Swiatek, o prémio "Fidei testis", conferido pelo Instituto "Paulo VI" de Bréscia, durante o Simpósio realizado nos dias passados, por ocasião do XXV aniversário de fundação.

Saúdo cordialmente os Senhores Cardeais Giovanni Battista Re, Paul Poupard e Georges Cottier, os Bispos D. Sanguinetti e D. Macchi, os Sacerdotes e cada um de vós, ilustres membros do Conselho de Direcção. Estou grato ao Presidente, Dr. Giuseppe Camadini, pelas suas amáveis palavras de saudação.

Ao dirigir-me a Vossa Eminência, venerado e querido Cardeal Swiatek, desejo transmitir-lhe as minhas sinceras felicitações por este prestigioso reconhecimento. Com efeito, para o cristão o título de "Fidei testis" é mais apropriado do que qualquer outro; é-o, com maior razão, para um Pastor distinguido pela Púrpura cardinalícia que, nos anos difíceis da perseguição da Igreja na Europa do Leste, deu testemunho fiel e corajoso de Cristo e do seu Evangelho.

2. Senhor Cardeal, a sua Ordenação sacerdotal teve lugar pouco antes da segunda guerra mundial. Dois anos mais tarde, a Providencia chamou-o a percorrer a via crucis da perseguição, solidário com a paixão do povo cristão que lhe fora confiado, carregando pessoalmente a cruz da prisão, da condenação injusta, dos campos de trabalho forçado, com o seu fardo de cansaço, de frio e de fome. "Só com a fé era possível sobreviver", assim Vossa Eminência confessou. E o Senhor incutiu-lhe uma fé vigorosa e corajosa, para superar aquela provação longa e árdua, no final da qual Vossa Eminência regressou à comunidade eclesial como testemunha do Evangelho, ainda mais credível: Fidei testis.

Esta nova estação da sua vida culminou na eleição a Arcebispo de Minsk-Mohilev, ministério que está a desempenhar ainda nos dias de hoje. Com a palavra e com o exemplo, Vossa Eminência anunciou a todos, crentes e não-crentes, a verdade de Cristo, Luz que a todo o homem ilumina.

3. Vossa Eminência levou a cabo tudo isto com a ajuda de Maria Santíssima, Mater misericordiae, como testifica inclusivamente o seu lema episcopal. Venerado Irmão, confio-o à Virgem com profundo afecto, enquanto tenho a alegria de lhe conferir o prémio "Fidei testis". E a todos concedo do íntimo do coração, com renovada gratidão, a Bênçao Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FUNCIONÁRIOS DO DEPARTAMENTO


DA ADMINISTRAÇÃO DA POLÍCIA


PENITENCIÁRIA ITALIANA


Segunda-feira, 27 de Setembro de 2004




Ilustres Senhores
Gentis Senhoras!

1. Sinto-me feliz por vos receber e vos dirigir as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo o Dr. Giovanni Tinebra, Chefe do Departamento da Administração Penitenciária, ao qual agradeço as suas gentis palavras, os Funcionários e o querido Mons. Giorgio Caniato, Inspector-Geral dos Capelães. A minha saudação torna-se extensiva particularmente a vós, Agentes em prova na Polícia Penitenciária Feminina. Este encontro destina-se sobretudo a vós, que concluístes há pouco o ano de formação.

2. Foi com prazer que tomei conhecimento de que durante o curso demonstrastes um louvável empenho, obtendo resultados encorajadores. Congratulo-me convosco e aproveito a ocasião para vos oferecer uma sugestão: tende sempre a preocupação pela vossa vida espiritual. Com efeito, a vossa função exige uma sólida maturidade humana, que vos consinta conjugar a firmeza com a atenção às pessoas. Para esta finalidade, sem dúvida, é uma vantagem o facto de serdes mulheres, com aquelas qualidades propriamente femininas que incidem de modo positivo sobre a relação inter-humana. Mas é sobretudo necessária a força interior que vem da oração, isto é, da união íntima com Deus em qualquer situação da vida, também nas ocupações quotidianas.

3. Celebra-se hoje, por feliz coincidência, a memória litúrgica de São Vicente de Paulo, grande santo da caridade. Ele sofreu pessoalmente o rigor do cárcere, e ensinou às "Damas", depois Filhas da Caridade, uma especial atenção por aquela categoria de pobres que são os "forçados". Pedia que se tivesse com eles compreensão e que se exigisse para eles um tratamento humano. São Vicente estava animado do amor de Cristo, que no Evangelho se identifica também com o encarcerado (cf. Mt Mt 25,36 Mt Mt 25,40 Mt Mt 25,43 Mt Mt 25,45). O valor primário da pessoa humana deve estar na base de qualquer ética civil e profissional e da relativa formação. Por conseguinte, sinto-me feliz por vos recomendar a vós, assim como o vosso trabalho, à protecção de São Vicente de Paulo.

Ilustres Senhores, desejando de coração que a vontade de autêntica promoção da justiça se realize com sucesso em cada sector da Administração Penitenciária italiana, agradeço-vos a gentil visita e concedo de bom grado a todos vós e aos vossos familiares a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À COMUNIDADE MUNICIPAL


DE CASTEL GANDOLFO


Terça-feira, 28 de Setembro de 2004




Senhor Presidente da Câmara Municipal
Caros Membros da Junta e do Conselho Municipal

No final da permanência de Verão em Castel Gandolfo, apraz-me dirigir a minha cordial saudação a cada um. Estou grato de modo particular ao Senhor Presidente da Câmara Municipal, pelas amáveis palavras com que se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Estendo este meu pensamento reconhecido aos membros da Administração municipal e a todos os cidadãos, pela calorosa hospitalidade que me foi reservada durante estes meses.

Nesta risonha e diligente localidade dos Castelos Romanos, que me é tão querida, pude transcorrer dias tranquilos e calmos. Agora, preparo-me para regressar ao Vaticano, confortado também pela vossa proximidade espiritual e oração. Estou-vos cordialmente grato por tudo isto, também em nome dos meus Colaboradores.

Confio todos vós e os vossos entes queridos à protecção maternal da Virgem Maria, Rainha do Santo Rosário, e concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS AGENTES DE POLÍCIA DA GUARDA FISCAL


E OS MILITARES DA ARMA


DOS CARABINEIROS DE CASTEL GANDOLFO


Terça-feira, 28 de Setembro de 2004





Caros Funcionários
Agentes de Polícia da Guarda Fiscal
e Militares da Arma dos Carabineiros

No momento em que me preparo para deixar a residência de Castel Gandolfo, sinto o dever de vos expressar a minha estima e o meu apreço pelo serviço generoso e fiel que desempenhais em vista da salvaguarda da ordem e da segurança.

Estou-vos grato por terdes contribuído para a minha serena e tranquila permanência nesta bonita localidade. Formulo-vos votos a fim de que sejais sempre testemunhas dos valores da justiça, da lealdade e do espírito de sacrifício, que encontram a sua nascente mais profunda no amor a Deus e ao próximo.

Por isso, asseguro-vos a minha lembrança na oração e, enquanto invoco sobre vós e também sobre as vossas famílias a protecção maternal de Maria Santíssima, Virgo Fidelis, concedo-vos a todos a minha afectuosa Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA ROMÉNIA


SENHOR ION ILIESCU


Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004



Senhor Presidente!

Dirijo-lhe as minhas cordiais boas-vindas, expressando a profunda gratidão por esta visita, que coincide com a inauguração, nos Museus do Vaticano, da Exposição com o título emblemático "Estêvão o Grande, ponte entre o Oriente e o Ocidente".

Este encontro oferece-me a oportunidade para recordar com comoção e reconhecimento a memorável visita que tive a alegria de realizar à Roménia em 1999. Peregrino de fé e de esperança, fui recebido com afecto e entusiasmo por Vossa Excelência e pelas Autoridades estatais, por sua Beatitude o Patriarca Teoctisto e por todo o povo da venerável Igreja Ortodoxa da Roménia. Recebi um abraço particularmente fraterno dos Bispos e das amadas Comunidades católicas, de rito tanto bizantino como latino.

Senhor Presidente, formulo a Vossa Excelência, aos seus colaboradores e a toda a Nação romena afectuosos bons-votos de prosperidade e de paz. Acompanho estes votos com a minha oração, invocando sobre todos a bênção do Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AO SEGUNDO GRUPO DE BISPOS DA CONFERÊNCIA

EPISCOPAL DA COLÔMBIA EM VISITA


"AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004




Queridos Irmãos no Episcopado!

1. Apraz-me receber-vos neste encontro que, no final da vossa visita ad Limina, me permite saudar-vos a todos juntos e confortar-vos na esperança, tão necessária para o ministério que generosamente exerceis nas respectivas Arquidioceses e Dioceses das províncias eclesiásticas de Bogotá, Bucaramanga, Ibagué, Nova Pamplona, Tunja e a recentemente erigida Villavicencio.

Com a peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo tivestes a oportunidade de fortalecer os vínculos que unem o vosso compromisso de hoje com a missão confiada por Cristo aos Doze e inspirar-vos no seu exemplo de abnegada e constante dedicação à evangelização de todos os povos. Neste encontro, e nos outros realizados com os diversos Organismos da Cúria Romana, tornam-se evidentes e efectivas a comunhão com a Sé de Pedro e a solicitude que devem ter todos os Bispos pela Igreja universal (cf. Lumen gentium LG 23).

Agradeço ao Senhor Cardeal Pedro Rubiano Sáenz as palavras que me dirigiu em nome de todos, manifestando a vossa adesão e o vosso afecto sincero. Desta forma, reflectis também o profundo espírito religioso do povo colombiano e a grande estima das vossas comunidades pelo Papa. Levai-lhes a minha saudação e recordai-lhes que as conservo particularmente presentes na oração, sobretudo neste difícil momento para a Nação.

2. Para o vosso ministério podeis contar com factores decisivos para realizar a obra da evangelização, tais como o crescente número das vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada, a ampla presença de Institutos religiosos que enriquecem as Igrejas particulares, assim como a existência de tantos centros de estudo e de formação. Tudo isto demonstra a profundidade que a fé cristã alcançou no país e o dinamismo do compromisso apostólico, tanto dos fiéis individualmente como das instituições eclesiásticas. Ao mesmo tempo isto representa um património inestimável para ajudar todos os baptizados a realizar a sua verdadeira vocação: alcançar a santidade (cf. Lumen gentium LG 39).

De facto, são estes a meta e o programa básico de qualquer acção pastoral. "Seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial" (Novo millennio ineunte NM 31).

Precisamente nestes dias, a visita das relíquias de Santa Teresa do Menino Jesus às terras colombianas constituem uma oportunidade para tomar consciência de que todos estamos chamados à santidade, objectivo fundamental da missão da Igreja.

3. Ao analisar a situação da Igreja e da sociedade colombiana verificastes o incremento de um fenómeno realmente preocupante, que é a deterioração moral. Apresenta-se de formas muito diferentes e atinge os âmbitos mais variados da vida pessoal, familiar e social, afectando a importância intrínseca de um comportamento moralmente recto e pondo em sério perigo a própria autenticidade da fé, que "dá origem e exige um compromisso coerente de vida, comporta e aperfeiçoa o acolhimento e a observância dos mandamentos divinos" (Veritatis splendor VS 89).
Este é um fenómeno que se deve, em parte, a ideologias que negam ao ser humano a capacidade de conhecer com nitidez o bem e colocá-lo em prática. Mesmo se, com frequência, se trata de uma consciência ofuscada ou que procura justificar de maneira enganadora o próprio comportamento, com o apoio de um ambiente que, de maneira deslumbrante, apresenta falsos valores que tendem a esconder ou denegrir o bem supremo ao qual a pessoa aspira no íntimo do seu coração.
Trata-se, portanto, de um desafio de grande importância que exige diversas linhas de acção pastoral, tendo como modelo Jesus, o Bom Pastor, que veio precisamente para chamar os pecadores (cf. Mt Mt 9,13), aproximando-se de muitos deles e exortando-os a mudar a sua maneira de viver (cf. Lc Lc 19,8).

4. A misericórdia de Jesus e a sua compaixão perante a fragilidade humana não lhe impediam de indicar com clareza qual era o comportamento que devia ser assumido ou as atitudes mais concordes com a vontade divina, desarticulando com frequência os argumentos insidiosos dos seus adversários; isso procurou-lhe a admiração dos povos, "porque ele ensinava-os como quem possui autoridade, e não como os doutores da Lei" (Mt 7,29). O Senhor não se eximia também de denunciar hipocrisias ou desvios. Seguindo os seus ensinamentos, os Apóstolos, na sua pregação, não deixaram de insistir sobre as exigências éticas de quantos estavam chamados a viver "na justiça e na santidade da verdade" (Ep 4,20).

Como seus sucessores, compete aos Bispos ensinar "que as próprias coisas terrenas e as instituições humanas se destinam também, segundo os planos de Deus Criador, à salvação dos homens" (Christus Dominus CD 12). Proclamar a justiça, a verdade, a fidelidade e o amor ao próximo, com todas as suas implicações concretas, é inerente ao anúncio evangélico na sua integridade. Este anúncio contribui para a formação de uma consciência recta e ilumina todos os homens de boa vontade: assim "talvez te ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho" (Jr 26,3).

Este ensinamento, íntegro e em plena sintonia com a doutrina moral da Igreja, será muito mais frutuoso se estiver unido ao exemplo pessoal, ao acompanhamento constante e ao encorajamento incansável. De facto, "o Bispo é o primeiro anunciador do Evangelho por meio das palavras e do testemunho da vida" (Pastores gregis, ). Isto é importante sobretudo no actual momento histórico no qual, por um lado, a força de vontade está circundada pela tentação de uma vida fácil e, por outro, a insistência sobre os direitos oculta a necessidade de assumir os próprios deveres e responsabilidades. Os pastores, as pessoas consagradas, os catequistas e os demais agentes evangelizadores podem fazer muito através do seu alegre testemunho pessoal de vida irrepreensível, realçando os verdadeiros valores humanos.

Desta forma manifestam, por um lado, que a plenitude de vida segundo os critérios do Evangelho consiste em ser e não em ter; por outro, assumir as próprias obrigações, mesmo se por vezes seja difícil, é uma exigência indispensável para afirmar a verdadeira dignidade da pessoa, o que dá origem também a uma paz interior que é fruto do dever cumprido e do esforço realizado por uma causa justa. Uma paz que se difunde também no ambiente social e, em especial, nas instituições, quando elas, baseando-se num autêntico espírito de serviço ao bem comum, estão regidas por critérios de igualdade, justiça, honradez e verdade.

5. Reflectistes recentemente sobre a iniciação cristã como um dos pontos-chave da evangelização. Um assunto ao mesmo tempo crucial e apaixonante, pois corresponde directamente ao mandamento de Cristo: "fazei discípulos de todas as nações [...] ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado" (Mt 28,19-20). Trata-se de cultivar a fé nascente, como rebentos que crescem e dão nova vida à Igreja de Deus. Iniciar na fé é também, para os pastores e para as comunidades, uma magnífica oportunidade para reviver o mistério salvífico de Deus desde o seu princípio: é dom imerecido da graça santificante que nos une mais profundamente a Cristo; a efusão do Espírito Santo que transforma e vivifica, fazendo da vida humana um contínuo crescimento como criatura nova; a incorporação na Igreja para ser com ela germe e início do Reino de Deus na terra (cf. Lumen gentium LG 5). Tudo isto nos apresenta o aspecto sublime da nossa origem como cristãos e a excelsa vocação para a qual estamos chamados.

Nas diversas fases da iniciação cristã, quem ensina os mistérios da salvação sente também a necessidade de os aprofundar, sem considerar nada por consabido ou descontado, descobrindo continuamente a sua grandeza e mantendo viva a estupefacção perante o sublime. Isto ser-lhe-á de grande ajuda não só para incrementar a própria fé e consolidar o compromisso baptismal, mas também para tomar consciência da grande responsabilidade que assume perante os catecúmenos e neófitos. O futuro deles como discípulos de Jesus será condicionado, em grande medida, pelo exemplo das pessoas que os formaram, assim como pela capacidade de inculcar nos seus corações uma fé viva, sólida e completa.

A necessidade de uma iniciação cristã organizada, adaptada às condições culturais do nosso tempo e de cada lugar, dirigida por pastores e catequistas exemplares e bem capacitados, converte-se numa prioridade, sobretudo onde o ambiente social é desfavorável ao crescimento na fé ou faltam os canais para a sua transmissão e desenvolvimento, como a família, a escola ou a própria comunidade cristã. Talvez possa ser útil inspirar-se na disciplina dos primeiros séculos, quando, além de comprovar as boas intenções dos candidatos, eram instruídos com esmero na mensagem de Cristo e no comportamento próprio do cristão, examinando depois "se viveram correctamente o seu catecumenado, se honraram as viúvas, se visitaram os enfermos, se praticaram obras boas" (Traditio Apostolica, 20).

6. Ao concluir este encontro, desejo encorajar a vossa esperança, tão necessária sobretudo na difícil situação que a Colômbia vive, de onde chegam contínuas notícias de atentados à vida, à liberdade e à dignidade das pessoas, como se o ser humano fosse uma mercadoria de valor insignificante.

É também conhecida a vastidão adquirida pelo fenómeno do sequestro de pessoas, chaga que assola numerosas famílias e que mostra, mais uma vez, a perversão à qual pode chegar a baixeza humana quando, em nome de infaustos interesses, se perde qualquer perspectiva moral e não se reconhecem nem respeitam os direitos mais fundamentais do homem. Na Colômbia, muitos destes males têm a sua origem no narcotráfico, com ramificações em muitos sectores, e que aflige há anos a Nação com incalculáveis consequências negativas em todos os âmbitos da vida social.
Perante estes factos, partilho convosco o sofrimento e aprecio os numerosos esforços realizados para afastar a violência, eliminar as suas causas e atenuar os seus efeitos, prestando uma atenção adequada às vítimas e confortando incansavelmente quantos desejam abandonar a linguagem das armas para empreender o caminho do diálogo pacífico.

Queridos Irmãos Bispos, peço-vos que leveis o meu conforto e saudação cordial às vossas Igrejas particulares, de modo especial aos sacerdotes, às comunidades religiosas, aos catequistas e demais pessoas dedicadas à apaixonante tarefa de ser portadores da luz de Cristo e mantê-la viva no Povo de Deus.

Ao invocar a protecção de Nossa Senhora de Chiquinquirá sobre as vossas tarefas apostólicas, assim como sobre todos os queridos colombianos, concedo-vos com afecto a Bênção Apostólica.









DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA


REPÚBLICA ISLÂMICA DO PAQUISTÃO


SENHOR GENERAL PERVEZ MUSHARRAF


Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004



Senhor Presidente

É com prazer que o saúdo, bem como as pessoas que o acompanham, no momento em que Vossa Excelência chega ao Vaticano, e agradeço-lhe as amáveis expressões que me manifestou em nome do povo da sua nação.

Neste tempo de tumulto e de violência, encorajo-o, assim como os seus compatriotas, a continuar a promover um espírito de diálogo e de tolerância na sua região. O mundo só pode alcançar a justiça e a paz autênticas, reconhecendo a necessidade da compreensão recíproca entre os povos, através de um intercâmbio de ideias franco e aberto. Sobre a sua pessoa e sobre todo o povo do Paquistão, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



                                                                               Outubro de 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS CROATAS


NO XVII CENTENÁRIO DO PADROEIRO,


SÃO DOMNIO


1 de Outubro de 2004




Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por dirigir a minha cordial saudação a todos vós, que viestes em peregrinação a Roma por ocasião do XVII centenário do Martírio de São Domnio, Padroeiro da vossa Comunidade diocesana e da Cidade de Espálato.

Saúdo com afecto o vosso Arcebispo, D. Marian Barisic, ao qual agradeço as palavras que me dirigiu também em nome de todos vós. Juntamente com ele saúdo o vosso Arcebispo Emérito, D. Ante Juric. E saúdo D. Frane Franic, presente espiritualmente. Dirijo uma saudação também aos sacerdotes. Dirijo de igual modo o meu deferente pensamento ao Presidente da Câmara Municipal de Espálato, ao Presidente do condado de Espálato-Dalmácia e às demais Autoridades que vieram aqui.

A vossa presença oferece-me a oportunidade de recordar com prazer o caloroso acolhimento, que me destinastes durante a minha Visita pastoral à vossa Arquidiocese, a 4 de Outubro de 1998.

2. Provindo dos lugares onde São Domnio e os demais Mártires das vossas regiões testemunharam Cristo, desde os primeiros séculos até aos nossos dias, viestes junto dos Túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e dos demais Mártires de Roma. Quisestes manifestar desta forma a vossa adesão à fé que eles mesmos professaram.

Esta adesão exige um compromisso de constante fidelidade a Cristo e à Igreja para um testemunho corajoso e coerente na família, nos lugares de estudo e de trabalho e nos restantes ambientes da sociedade. Por conseguinte, esforçai-vos por promover um humanismo cristão coerente em qualquer manifestação da vossa vida, tanto privada como pública. Sirva-vos de guia e de amparo o heróico São Domnio e os restantes Mártires que, estimulados por uma sólida fé em Cristo, se entregaram a si mesmos pelo bem dos irmãos.

3. Assista-vos com a sua protecção materna a Bem-Aventurada Virgem, Rainha dos Mártires, e acompanhe-vos sempre a intercessão do vosso Padroeiro celeste.

Sobre cada um de vós, sobre as vossas famílias, a vossa Arquidiocese, assim como sobre a vossa amada Pátria desça a abundância das graças divinas, das quais quer ser penhor a Benção Apostólica que vos concedo de coração.

Louvados sejam Jesus e Maria!





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA ENTREGA


DO "PRÉMIO DA CORAGEM POLÍTICA"


2 de Outubro de 2004


Senhor Cardeal
Amados Irmãos no Episcopado
Minhas Senhoras e meus Senhores!

Sinto-me feliz por vos receber, saudando cordialmente o Senhor Cardeal Lustiger, assim como o Sr. Patrick Wajsman, Director da revista Politique International, e os membros da KTO, televisão católica francesa, agradecendo-vos por me terdes conferido o "Prémio da coragem política". Isto demonstra a atenção que a Igreja dedica à missão da paz num mundo no qual os conflitos infelizmente são numerosos. Gostaria de lançar um novo apelo à paz, para construir uma sociedade de fraternidade entre os povos.

O meu pensamento dirige-se aos jornalistas que, mediante os seus testemunhos e publicações, são os artífices da paz e da liberdade, e que pagam um pesado tributo nos conflitos. Penso também nos reféns e nos seus familiares, vítimas inocentes da violência e do ódio, convidando todos os homens de boa vontade ao respeito pela vida das pessoas. Nenhuma reivindicação pode ter como resultado a negociação das vidas humanas. O caminho da violência é uma estrada sem saída.

Ao confiar-vos à Virgem Maria e implorando para o mundo o dom da paz, que vem de Deus, concedo-vos, bem como às pessoas que vos são queridas, a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA AOS PEREGRINOS


VINDOS A ROMA PARA A SOLENE


CERIMÓNIA DE BEATIFICAÇÃO


Segunda-feira, 4 de Outubro de 2004


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É-me grato encontrar-me novamente convosco, no dia seguinte à solene Liturgia de Beatificação. Desejamos voltar a reflectir em conjunto sobre a actualidade da mensagem e da espiritualidade destes cinco novos Beatos.

2. A vida dos Beatos Pedro Vigne e José Maria Cassant exorta-nos a voltar amorosamente para o Senhor Jesus, Cabeça da Igreja, presente no sacramento da Eucaristia. Ambos contemplaram prolongadamente este mistério no silêncio da oração e encontraram neste alimento espiritual o desejo de seguir Cristo e também a graça da conversão. Que o seu exemplo e a sua intercessão ajudem as comunidades cristãs de hoje a colocar a Eucaristia, fonte e ápice da vida da Igreja, no centro da sua existência. Que ela suscite o impulso missionário de que o mundo tem necessidade para ouvir a Boa Nova!

3. A existência da Madre Ludovida De Angelis foi consagrada à glória de Deus e ao serviço dos homens. Os longos anos passados no Hospital para crianças de La Plata centro que actualmente tem o seu nome tiveram como programa: "Fazer o bem, sem olhar a quem". Nesta tarefa, ela interessou-se veementemente pela cura das crianças enfermas, trabalhando de modo competente com o pessoal no campo da saúde e como exemplar superiora da comunidade, em benefício das suas Irmãs. A sua vida foi um caminho incessante para a santidade, enquanto se apresenta à nossa consideração como intercessora e testemunha da caridade.

4. Em profunda união com o Salvador sofredor, a "Mística da região de Monastério" realizou a missão do Apóstolo, de completar aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo pelo Corpo de Cristo, que é a Igreja (cf. Cl CL 1,24). Por intercessão da Beata Ana Catarina, que o Senhor torne os vossos corações disponíveis para as necessidades interiores e exteriores do vosso próximo. O exemplo da Beata revigore em todos a virtude da paciência e o espírito de sacrifício!

Carlos da Áustria desejou cumprir sempre a vontade de Deus. A fé foi o critério da sua responsabilidade de governador e de pai de família. Na esteira do seu exemplo, que a fé em Deus determine também a orientação da vossa vida! Que a Beata vos acompanhe ao longo da vossa peregrinação rumo à Pátria celestial!

É-me grato saudar os Bispos e os Representantes das Autoridades civis, assim como os Irmãos Trapistas, as Irmãs do Santíssimo Sacramento e todos os peregrinos francófonos, presentes hoje de manhã. Que os novos Beatos vos ajudem sempre a dar graças a Deus!

Saúdo os Bispos, sacerdotes, fiéis e, com especial carinho, as Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia, que participam nesta Audiência. Confio todos à intercessão dos novos Beatos.
Dirijo uma alegre saudação de fé aos Bispos, aos sacerdotes e aos religiosos, assim como aos numerosos fiéis provenientes dos países de língua alemã. Deus vos conserve na sua graça!

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Invocando a intercessão celestial da Virgem Maria e dos novos Beatos, abençoo-vos de todo o coração, juntamente com as vossas Comunidades de proveniência e com quantos vos são queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA COMISSÃO


TEOLÓGICA INTERNACIONAL


Quinta-feira, 7 de Outubro de 2004




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Reverendos e Ilustres Professores

1. Durante a Sessão plenária que está a realizar-se nestes dias, vós dais início aos trabalhos de um novo "quinquénio", o sétimo desde a fundação da Comissão Teológica Internacional. É com muito prazer que vos recebo nesta ocasião, no momento em que começais um período de reflexão teológica que, estes são os meus votos, será fecunda para o bem da Igreja inteira. Saúdo de maneira especial o Presidente da Comissão, Senhor Cardeal Joseph Ratzinger, a quem agradeço profundamente os sentimentos que expressou no seu discurso de homenagem.

2. Os temas escolhidos para o estudo da Comissão, durante os próximos anos, são do máximo interesse. Em primeiro lugar, a questão do destino das crianças que morrem sem terem recebido o Baptismo. Não se trata simplesmente de um problema teológico isolado. Há muitos outros temas fundamentais que se entrelaçam intimamente com este: a vontade salvífica universal de Deus, a mediação única e universal de Jesus Cristo, o papel da Igreja, sacramento universal de salvação, a teologia dos sacramentos, o sentido da doutrina sobre o pecado original... É a vós que caberá perscrutar o "nexus" entre todos estes mistérios, em vista de oferecer uma síntese teológica que possa servir de ajuda para uma práxis pastoral mais coerente e mais iluminada.

3. E o segundo tema, o da lei moral natural, não é de menor importância. Como sabeis, já falei sobre este tema nas Cartas Encíclicas Veritatis splendor e Fides et ratio. Desde sempre, a Igreja está convicta de que Deus deu ao homem a capacidade de alcançar, mediante a luz da sua razão, o conhecimento de verdades fundamentais sobre a vida e o seu destino e, de modo concreto, sobre as normas da sua acção recta. Realçar esta possibilidade diante dos nossos contemporâneos é de grande importância para o diálogo com todos os homens de boa vontade e para a convivência aos mais diversificados níveis, numa base ética comum. A revelação cristã não torna inútil esta busca mas, pelo contrário, impele-nos rumo à mesma, iluminando o seu caminho com a luz de Cristo, em Quem tudo tem consistência (cf. Cl CL 1,17).

A vossa experiência nos diversos países do mundo e o vosso conhecimento sobre os problemas teológicos ajudar-vos-ão a dar forma e organicidade à vossa reflexão.

4. Confio os vossos trabalhos à intercessão de Maria Santíssima, enquanto peço ao Senhor que a vossa Sessão plenária seja animada por um intenso espírito de oração e de comunhão fraterna, sob a luz da Sabedoria, que advém do Alto.

Enquanto vos expresso a minha confiança, exorto-vos a perseverar na reflexão acerca dos temas indicados e acompanho todos vós com a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO XI GRUPO DE BISPOS AMERICANOS


DA PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE NOVA IORQUE


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sexta-feira, 8 de Outubro de 2004


Prezados Irmãos Bispos

1. É com imensa alegria que vos acolho no dia de hoje, Pastores da Igreja que está em Nova Iorque, no contexto da continuação da série de visitas ad limina Apostolorum, que se está a realizar por parte dos Bispos dos Estados Unidos da América. Saúdo-vos em nome do nosso Salvador Jesus Cristo, através de Quem damos sempre graças ao nosso Pai celestial, "Àquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós" (Ep 3,20).

Nos encontros precedentes com os vossos Irmãos no Episcopado dos Estados Unidos da América, dedicámos a nossa atenção ao dever sagrado de santificar e de ensinar o Evangelho ao Povo de Deus. Com o grupo que vos precedeu, comecei a reflectir acerca da enorme responsabilidade de orientar os fiéis. Continuemos, hoje, a examinar este mesmo munus regendi, que deve ser sempre levado a cabo no espírito da exortação contida no Rito de Ordenação Episcopal: "O episcopado significa trabalho, não honra; e o Bispo, mais do que presidir, tem a obrigação de servir. Segundo o ensinamento do Mestre, o que é maior seja como o mais pequeno, e o que preside como quem serve" (Pontifical Romano, Rito de Ordenação Episcopal: Homilia; Pastores gregis, ).

2. Nas vossas Igrejas particulares, vós sois chamados a agir em nomine Christi. Efectivamente, é como vigários e embaixadores de Cristo que vós governais a porção do rebanho a vós confiado (cf. Lumen gentium LG 27). Como pastores, vós tendes "o dever de congregar a família dos fiéis e... fomentar a caridade e a comunhão fraterna" (Pastores gregis, ). Contudo, a vossa função imediata como pastores não pode ser isolada da vossa responsabilidade mais ampla em relação à Igreja universal; com efeito, como membros do Colégio dos Bispos, cum et sub Petro, vós participais na solicitude por todo o povo de Deus, partilha esta que recebestes através da ordenação episcopal e da comunhão hierárquica (cf. Lumen gentium LG 23). Além disso, enquanto garantis a comunhão das vossas Dioceses com a Igreja espalhada pelo mundo inteiro, tornais também a Igreja universal capaz de haurir da vida e dos carismas da Igreja local, num espiritual "intercâmbio de dons". A unidade "católica" autêntica pressupõe este enriquecimento mútuo num único Espírito.

Considerado num contexto teológico apropriado, o "poder de governo" sobressai como algo mais do que uma simples "administração" ou como a mera prática de capacidades organizativas: ele constitui um instrumento em vista da edificação do Reino de Deus. Portanto, gostaria de vos encorajar a continuar a governar com o vosso exemplo, em ordem a evangelizar o vosso rebanho para a sua própria santificação, preparando-o deste modo para compartilhar a Boa Nova também com os outros. Promovei a comunhão no meio do vosso povo, visando a sua preparação para a missão da Igreja. Ao abraçardes amorosamente o tríplice munera que vos foi confiado, recordai que a vossa responsabilidade de ensinar, santificar e governar não pode ser delegada a ninguém: ela é a vossa vocação pessoal.

3. Estou grato pelo profundo afecto que os católicos norte-americanos tradicionalmente nutrem pelo Sucessor de Pedro, assim como pela sensibilidade e pela generosidade que eles manifestam diante das necessidades da Santa Sé e da Igreja universal. Os Bispos dos Estados Unidos da América demonstraram sempre um grande amor por aquele que o Senhor instituiu como "o princípio e o fundamento perpétuos e visíveis da unidade de fé e de comunhão" (Lumen gentium LG 18). A vossa lealdade permanente ao Sumo Pontífice romano leva-vos a procurar formas de fortalecer os vínculos de união entre a Igreja que está nos Estados Unidos da América e a Santa Sé. Estes sentimentos de devoção constituem o fruto da comunhão hierárquica que une todos os membros do Colégio dos Bispos ao Papa.


DIscursos João Paulo II 2004