DIscursos João Paulo II 2004

Louvado seja Jesus Cristo!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO IV CONGRESSO


INTERNACIONAL DO CLERO


EM LIGAÇÃO TELEVISIVA COM MALTA


Segunda-feira, 19 de Outubro de 2004




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Sacerdotes!

1. É de bom grado que me uno idealmente a vós, reunidos em Malta para participar num significativo encontro espiritual. Saúdo-vos com afecto e, em vós, saúdo as comunidades das quais provindes. Reunistes-vos em Malta, ilha que conserva a memória viva da passagem de São Paulo. Conquistado por Jesus, ele fez-se humilde e corajoso servidor do Evangelho, chegando a afirmar com vigor: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Ga 2,20).

2. Cada sacerdote, chamado pela Providência divina a ajudar os homens e as mulheres, os jovens e os adultos a seguir as pegadas do Mestre divino, pode reconhecer nestas palavras de Paulo o seu programa. A Igreja tem necessidade de presbíteros santos, que sejam, por sua vez, "forjadores de santos para o novo milénio".

Caríssimos, o Senhor convida-vos a ser seus apóstolos antes de tudo com a santidade da vossa vida. Compete a vós fazer ressoar em todos os lugares o poder da palavra de verdade do Evangelho, a única que pode mudar profundamente o coração do ser humano e dar-lhe a paz.

3. Queridos sacerdotes, se deixardes que Cristo se apodere de vós como o apóstolo Paulo, também vós sereis capazes de proclamar pelos caminhos do mundo a misericórdia do Pai celeste, "que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,4). Tornar-vos-eis assim mestres credíveis de vida evangélica e profetas de esperança.
Num mundo agitado e dividido, marcado por violência e conflitos, há quem se pergunte se ainda é possível falar de esperança. Mas precisamente neste momento é indispensável apresentar com coragem a esperança verdadeira e total do homem, que é Cristo Senhor.

4. A Virgem Maria permanece sempre o modelo celeste no qual inspirar-vos. A jovem humilde de Nazaré manifestou ao Anjo Gabriel a sua plena disponibilidade para cumprir a vontade divina: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

Depois, ela confirmou aquele "fiat" inicial em todos os momentos da vida até ao Calvário, onde Jesus moribundo a confiou a João: "Eis aí a tua mãe" (Jn 19,27). A partir daquele dia Maria tornou-se a mãe de todos os crentes; tornou-se de modo especial vossa mãe, queridos sacerdotes, para vos acompanhar no caminho de todos os dias.

5. Recorrei constantemente a ela no vosso ministério. A Virgem ajudar-vos-á a apresentar às crianças e aos jovens, às famílias e aos doentes, aos empresários e aos trabalhadores, aos intelectuais e aos políticos, isto é, a toda a humanidade, o Fruto abençoado do seu seio, o Redentor crucificado e ressuscitado. Que todos o possam acolher, amar e ser-lhe fiéis até ao fim da sua existência!

Concedo a todos a minha afectuosa Bênção!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DE ANGOLA, SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


22 de Outubro de 2004




Prezados Irmãos no Episcopado,

1. Com grande alegria e afecto em Cristo Senhor dou as boas-vindas e saúdo a todos vós, Pastores da Igreja de Deus peregrina em terras de Angola e São Tomé e Príncipe, que estais realizando a visita ad limina Apostolorum movidos pelo desejo de confirmar a vossa fé e o vosso ministério pastoral – «expondo, em particular aos mais considerados, o Evangelho que pregais, com receio de correr ou ter corrido em vão» (cf. Gal Ga 2,2) – e de testemunhar a dedicação dos vossos fiéis à Igreja una, santa, católica e apostólica, fundada por Cristo sobre a rocha de Pedro.

Agradeço a D. Damião Franklin, Arcebispo de Luanda e Presidente da vossa Conferência Episcopal, as palavras que acaba de me dirigir em nome de todos, exprimindo tais sentimentos juntamente com os sinais de esperança e as preocupações pastorais da vossa Igreja local. Uma saudação especial para a nova diocese do Dundo com o seu Bispo e para quantos mais, dentre vós, entraram recentemente a fazer parte do Colégio Episcopal. Quando voltardes, dizei aos vossos sacerdotes, consagrados e consagradas, catequistas e demais fiéis leigos que o Papa reza por eles e encoraja-os a enfrentarem os desafios colocados pelo Evangelho, semente de vida nova para as vossas nações. E a todos os vossos compatriotas transmiti os meus cordiais votos de paz e fraternidade em Deus, Pai de todos.

2. Desde a vossa última visita ad limina, foi concedido à humanidade cruzar o limiar de um novo milénio, o terceiro banhado pela luz do Filho de Deus que «por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus, e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria». Em sintonia com a Igreja inteira, as comunidades cristãs de S. Tomé e Príncipe e de Angola viveram a rica experiência do Grande Jubileu do ano 2000, que culminou com este apelo do divino Mestre: «Faz-te ao largo!» (Lc 5,4) para anunciares a minha Boa Nova a tantos que ainda não a conhecem. Sim, amados Irmãos, «essas multidões têm o direito de conhecer as riquezas do mistério de Cristo, nas quais nós acreditamos que toda a humanidade pode encontrar, numa plenitude inimaginável, tudo aquilo que ela procura às apalpadelas a respeito de Deus, do homem, do seu destino, da vida e da morte e da verdade (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 53). Por isso, continuai com ardor o anúncio da Boa Nova do único e suspirado Salvador da humanidade!

Sabendo da responsabilidade colegial e da comunhão que vos irmana no serviço da única «família de Deus» (Ep 2,19), suplico ao nosso Pai comum que fortaleça em todos vós o espírito de solidariedade e solicitude eclesial para que a Conferência Episcopal possa cumprir cada vez melhor a sua função de espaço de confronto fraterno de ideias e de colaboração, frutificando numa partilha dos recursos, tanto materiais como espirituais, com as vossas dioceses que passam maior necessidade. Bem sabeis como «Deus é poderoso para vos cumular com toda a espécie de graças, para que, tendo sempre em todas as coisas o necessário, vos fique ainda muito para toda a espécie de boas obras» (2Co 9,8). Deste modo, sereis capazes de reconstruir as comunidades destroçadas pela guerra, aliviar os seus corações feridos e ajudar as pessoas que vos estão confiadas a progredirem no caminho do Evangelho.

3. Hoje mais do que nunca, Angola necessita de paz com justiça; precisa de reconciliação, repelindo qualquer tentação de violência. A todos recordo que esta não é capaz de resolver os problemas da humanidade, nem ajuda a superar os contrastes. É preciso ter a coragem do diálogo. Estou persuadido de que o esforço e a boa vontade das partes envolvidas nas questões em aberto podem ajudar a construir uma cultura de respeito e de dignidade.

Esta é hora duma profunda reconciliação nacional; há que trabalhar, sem cessar, para oferecer às gerações futuras um país onde convivam e colaborem fraternalmente todos os componentes da sociedade. A Igreja, que sofreu enormemente sob os conflitos, deve manter a sua vigorosa posição a fim de proteger os indivíduos que não têm voz. Meus prezados Irmãos no Episcopado, exorto-vos a trabalhar incansavelmente pela reconciliação e a dar testemunho autêntico de unidade mediante gestos de solidariedade e apoio às vítimas de décadas de violência.

4. Não percais de vista o longo caminho a percorrer para que o Evangelho transforme o espírito e o coração dos fiéis cristãos a partir de dentro, e eles se reconheçam como irmãos e irmãs em Cristo. Para tal, serve uma adequada iniciação cristã que leve os baptizados, por um lado, a superarem concepções ancestrais como a feitiçaria ou o amigamento e, por outro, a rebelarem-se contra a mentalidade secularizada ou mesmo agnóstica reinante. Na verdade, antigas práticas que ainda não foram purificadas pelo Espírito de Cristo, dificuldades de se considerarem membros duma única família redimida pelo sangue de Cristo, perigos duma sociedade materialista e ateia tornam frágeis os vínculos nas famílias e entre os grupos humanos.

Por isso, não poupem esforços para fazer com que os baptizados assimilem plenamente a mensagem evangélica e a ela conformem a sua vida, sem terem de renunciar aos autênticos valores africanos. Trata-se de conseguir que eles se deixem conquistar por Cristo, aceitem depender radicalmente d’Ele, desejem viver a sua vida e segui-Lo pela estrada duma verdadeira santidade (cf. 1Th 4,3); para isso, convidai os fiéis das vossas dioceses a voltarem o seu olhar para Cristo, ajudando-os a contemplar o seu rosto. A pastoral sacramental e litúrgica, a formação catequética, bíblica e teológica, as diversas expressões artísticas e musicais, e ainda os vários meios de comunicação social tradicionais ou modernos: tudo deve servir para que os crentes assimilem e vivam as riquezas da sua fé a fim de participar de forma plena na vida da respectiva comunidade eclesial.

Esta participação torna-se visível e concreta na frequência dominical da assembleia cristã, que se reúne – praza a Deus, o maior número de vezes possível – para celebrar e comungar a Eucaristia; não é sem razão que esta constitui o ponto culminante da iniciação cristã. No corrente ano àquela dedicado, a Igreja «encontre novo impulso para a sua missão e reconheça cada vez mais na Eucaristia a fonte e o apogeu de toda a sua vida» (Carta ap. Mane nobiscum Domine, 31). Neste momento, penso sobretudo em tantos baptizados das vossas comunidades, cuja situação matrimonial irregular impede de abeirar-se frutuosamente da Eucaristia (cf. Carta enc. Ecclesia de Eucharistia EE 37). Que a graça de Deus se revele em todo o seu poder no meio das suas vidas, aliciando-as à conversão com a consoladora perspectiva de finalmente tomarem lugar à mesa de Deus!

5. A par desta sombra, os vossos relatórios quinquenais evocam também o testemunho oferecido por inúmeras famílias que vivem de maneira heróica a fidelidade ao sacramento do matrimónio cristão, no contexto duma legislação civil ou de costumes tradicionais pouco favoráveis ao matrimónio monogâmico. Este vê-se insidiado por fenómenos tão variados como o amigamento já citado, a poligamia, o divórcio, a prostituição; várias destas actividades imorais levam à propagação do HIV/SIDA, uma epidemia que não pode ser ignorada pelas inúmeras vítimas ceifadas e pela grave ameaça que constitui para a estabilidade social e económica da nação.

Fazendo tudo o que está ao vosso alcance, queridos Bispos, para defender a santidade da família e o lugar prioritário que ela ocupa no seio da sociedade, não deixeis de proclamar em voz alta e clara a mensagem libertadora do amor cristão autêntico. Os diversos programas educativos, tanto religiosos como seculares, hão-de realçar o facto de que o amor verdadeiro é um amor casto, e que a castidade nos oferece uma sólida esperança de superar as forças que ameaçam a instituição da família e, ao mesmo tempo, de libertar a humanidade deste flagelo devastador que é a SIDA. Repito aqui a recomendação que vos deixei na Exortação apostólica Ecclesia in Africa: «A amizade, a alegria, a felicidade, a paz que o matrimónio cristão e a fidelidade propiciam, bem como a segurança que a castidade oferece, devem ser continuamente apresentadas aos fiéis, particularmente aos jovens» (n. 116).

6. Os jovens reclamam, da vossa parte, uma especial atenção pela luta que devem travar por um futuro digno no meio da situação geral de pobreza, frequentemente agravada pela carência da família, porque dispersa ou desfeita, e pelas sequelas da guerra que os traumatizou. Ajudai-os a rejeitarem «as tentações de empreender atalhos ilegais para chegar a falsas miragens de sucesso ou de riqueza» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1998, n. 7), fruto muitas vezes duma publicidade enganosa que pode exercer, especialmente sobre eles, uma grande atracção; para neutralizá-la, têm de compreender que são verdadeiramente uma nova geração de construtores, chamados a edificar a civilização do amor, na liberdade e na solidariedade. Que os jovens, nas dificuldades encontradas, nunca percam a confiança no futuro! Como demonstram as Jornadas Mundiais da Juventude, eles têm uma especial capacidade de consagrar o melhor das suas energias à solidariedade em favor dos necessitados e à procura da santidade cristã. Mediante uma vida de oração e uma vida sacramental forte, permaneçam unidos a Cristo para transmitir os valores do Evangelho nos seus âmbitos de vida e assumir generosamente o seu papel na transformação da sociedade.

Toda a comunidade eclesial deve trabalhar para que as jovens gerações sejam oportunamente formadas e preparadas para as responsabilidades que as esperam e que, de certa maneira, já lhes competem. Um meio particularmente eficaz para assegurar uma tal formação são as escolas católicas. A sua identidade específica deve reflectir-se tanto no programa global de estudos como em cada um dos ambientes da vida escolar, tornando-se comunidades onde os alunos encontrem alimento para a fé e se preparem para a sua missão na Igreja e na sociedade. Além disso, é preciso continuar a promover o ensino moral e religioso, inclusivamente nas escolas públicas, procurando criar na opinião pública um consenso acerca da importância deste tipo de formação; este serviço, que pode derivar de uma colaboração mais estreita com o Governo, constitui uma importante forma de participação católica activa na vida social dos vossos países. Grandes esperanças, para o cumprimento desta vossa tarefa de garantir professores adequadamente formados para oferecerem uma educação católica no mundo da escola, estão postas na Universidade Católica de Angola.Esta veio permitir que a contribuição oferecida pela Igreja no campo da educação elementar e secundária produzisse os seus frutos também no sector da educação superior.

7. Nas vossas opções pastorais, nunca descuideis a formação dos diferentes agentes da evangelização, para que possam garantir o seu papel insubstituível na Igreja e na sociedade; isto torna-se hoje mais necessário em virtude da ofensiva das seitas, que se aproveitam da situação de miséria e da credulidade dos fiéis para afastá-los da Igreja e da palavra libertadora do Evangelho. Assim, continuai a dedicar uma particular atenção à formação dos catequistas, que saúdo com afecto, apreciando a sua dedicação incansável; encorajo-vos a conceder a estes preciosos colaboradores da vossa missão apoio material, moral e espiritual, e a fazer com que beneficiem duma formação doutrinal tanto inicial como permanente. Que eles sejam modelos de caridade e defensores da vida, pois o seu exemplo quotidiano de vida cristã é um testemunho precioso para aqueles que devem orientar em nome e para Cristo.

Como primeiros responsáveis da Igreja, assegurai-vos de que todos os candidatos ao sacerdócio sejam atentamente escolhidos e formados para poderem depois entregar-se totalmente à sua missão. Contando com formadores e professores de comprovada maturidade humana e sacerdotal, possam os seminaristas adquirir uma séria instrução espiritual, intelectual e pastoral, juntamente com uma sólida formação humana, que neles crie a maturidade afectiva e o amor responsável necessários numa pessoa chamada ao celibato, isto é, chamada a «oferecer, pela graça do Espírito e com a resposta livre da própria vontade, a totalidade do seu amor e da sua solicitude a Jesus Cristo e à Igreja» (Exort. ap. Pastores dabo vobis, 44). Os sacerdotes que de maneira tão especial se consagram a Cristo, Cabeça da Igreja, são chamados a desapegar-se dos bens materiais e a consagrar-se ao serviço dos seus irmãos através do dom pessoal completo no celibato. Os comportamentos escandalosos hão-de ser sempre analisados, investigados e corrigidos.

O florescimento de vocações para a vida consagrada, especialmente para a vida religiosa feminina, é um magnífico dom do Céu à Igreja de S. Tomé e Príncipe e de Angola, dom pelo qual é preciso dar graças e ao qual não podeis renunciar porque as pessoas consagradas não só enriquecem as vossas Igrejas particulares com a eficiência dos seus serviços, mas também e sobretudo com o seu testemunho pessoal e comunitário do Evangelho; «sem este sinal concreto, a caridade que anima a Igreja inteira correria o risco de refrear-se, o paradoxo salvífico do Evangelho de atenuar-se e o "sal" da fé de diluir-se num mundo em fase de secularização» (Exort. ap. Vita consecrata, 105).

8. Ao início de um novo milénio, o nosso compromisso episcopal, prezados Irmãos, «aparece marcado por novas urgências, que exigem a dedicação concorde de todas as componentes do Povo de Deus» (Exort. ap. Pastores gregis, 74). Ora, na terra, não há nada de mais eficaz que a Eucaristia para levar os cristãos a serem e a sentirem-se todos um só; não há momento algum em que se encontrem e fundam uns nos outros tão intimamente como quando comungam Jesus Eucaristia, que a todos abraça e interliga em Si mesmo. Assim se realiza na terra o que já sucede no Céu: Cristo une, a Si e uns aos outros, todos os que vivem n’Ele. Basta comungá-Lo como se deve, para vos encontrardes verdadeiramente juntos.

A este foco de atracção de todos os corações humanos, que é a Eucaristia, quis dedicar um ano para a sua maior e generalizada consciencialização dos fiéis. Deus concedeu-me a graça de encaminhar a Igreja ao longo do seu itinerário jubilar pelo bimilénio de Cristo que, com este Ano da Eucaristia, atinge por assim dizer o apogeu. Deixo à vossa solicitude pastoral, amados Bispos de Angola e de São Tomé e Príncipe, a decisão sobre as iniciativas mais oportunas para avivar uma tal consciência nas vossas comunidades eclesiais «até que Cristo seja formado em todos e cada um dos seus membros» (cf. Gal Ga 4,19), como encarnou no seio da Virgem Mãe, Senhora vossa e Padroeira. Sobre todos vós, extensiva aos sacerdotes, aos consagrados e consagradas, aos catequistas e a todos os fiéis leigos das vossas dioceses, desça, propiciadora dos dons do Alto, a minha Bênção Apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE ESCOTEIROS ITALIANOS


Sábado, 23 de Outubro de 2004




1. Saúdo-vos com afecto, queridos membros da MASCI e da AGESCI, que estais a celebrar alguns aniversários importantes das vossas Associações, e dou-vos as boas-vindas nesta Praça. A vossa presença tão numerosa enche o meu coração de alegria.

Ao agradecer cordialmente àqueles que se fizeram intérpretes dos vossos sentimentos, saúdo de modo particular os Bispos, os Assistentes Eclesiásticos e os Responsáveis que vos acompanham com dedicação e competência.

2. Hoje, quisestes renovar a vossa "Promessa" diante do Papa, e estou feliz por ser testemunha do vosso propósito de permanecer fiéis a Deus, que vos convida a viver a comunhão e a amizade com Ele; fiéis a vós mesmos, na busca e na realização do projecto que o Pai, no seu amor, elaborou para cada um; e fiéis ao próximo, que espera de vós a dádiva de um compromisso plenamente humano e cristão.

Neste compromisso de fidelidade, podeis contar com a ajuda da Lei escutista mediante a qual, como o vosso fundador Lord Baden-Powell gostava de dizer, podeis tornar possível o impossível.

3. O Papa olha para vós com confiança e esperança, enquanto vos acompanha na grande aventura da vida com a sua oração e simpatia.

Peço-vos, joaninhas e lobitos, que façais todos os dias "o melhor que puderdes" para crescer alegremente no Círculo e no Grupo, descobrindo as maravilhas da criação.

Exorto-vos, guias a exploradores, a "estar sempre prontos" para o bem, enquanto viveis com a Secção a experiência da responsabilidade e aprendeis a ser membros activos das comunidades eclesial e civil a que pertenceis.

Peço-vos, sentinelas e caminheiros, que vos empenheis a fazer com que o verbo "servir" seja o lema da vossa vida, persuadidos de que a entrega de vós mesmos constitui o segredo que pode tornar a existência humana bela e fecunda.

4. Por fim penso em vós que, na Associação, desempenhais o papel difícil e exaltante de Chefes. A vós é confiada a responsabilidade de acompanhar pelo caminho da vida muitos adolescentes e jovens, os quais esperam que os ajudeis a crescer harmoniosamente, a fim de poderdes contribuir para a edificação de um mundo de amizade e de solidariedade.

Sede homens e mulheres que, fazendo referência ao Evangelho de Jesus, sabem educar os outros a viver na liberdade e na responsabilidade, a "nadar contra a corrente" para vencer a tentação do individualismo, da indolência e da indiferença.

5. Prezados amigos, como sabeis, há poucos dias toda a Igreja entrou no Ano da Eucaristia. Convido-vos a fazer do mistério do "Corpo doado" e do "Sangue derramado" um ponto de referência constante nas vossas opções quotidianas.

Que a celebração dominical da Eucaristia nas vossas paróquias e os passeios das Unidades vos tornem atentos e partícipes na escuta e na animação, e constitua uma fonte e um alimento constantes do vosso compromisso.

6. "Duc in altum", AGESCI! "Duc in altum" MASCI! Não tenhais medo de progredir, com fantasia, sabedoria e coragem, ao longo dos caminhos da educação das jovens gerações. O futuro do mundo e da Igreja depende inclusivamente da vossa paixão educativa.

Caríssimos, é com estes sentimentos que confio todos vós, as vossas Unidades e as vossas famílias à intercessão de Nossa Senhora do Caminho e de São Jorge, vosso Padroeiro, e concedo-vos a todos, do íntimo do coração, a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS TERCIÁRIAS CAPUCHINHAS


DA SAGRADA FAMÍLIA


Segunda-Feira, 25 de Outubro de 2004




Às Irmãs Capitulares
Terciárias Capuchinhas da Sagrada Família

1. É-me grato saudar-vos com afecto por ocasião do XX Capítulo Geral, que se celebra em coincidência com o 150º aniversário do nascimento do vosso Fundador, o Venerável Mons. Luís Amigó y Ferrer. São dois acontecimentos significativos que vos oferecem a oportunidade de dar novo vigor à experiência espiritual do próprio carisma e estimular a vossa característica missão evangelizadora.

De facto, a recordação do Fundador é uma nova chamada a imitar aqueles desejos de viver santamente, seguindo de perto Jesus, que se fez totalmente pobre para que os homens obtivessem a riqueza da misericórdia divina (cf. Hb He 2,17-18). Por seu lado, além de fortalecer a fidelidade ao espírito original, o Capítulo Geral tem a missão de o tornar presente de maneira apropriada no momento actual, discernindo o que "o Espírito sugere às diversas comunidades" (Tertio millennio adveniente TMA 23) e procurando o modo mais adequado para dar testemunho de Cristo e anunciá-lo ao mundo de hoje, cada vez mais globalizado, como indica o lema escolhido para as reflexões capitulares.

Saúdo com afecto a Madre Júlia Apesteguía Mariaezcurrena, recém-eleita para o cargo de Superiora-Geral, assim como a Madre Lígia Elena Llano, que desempenhou este serviço nos últimos anos. Saúdo também as novas Conselheiras e todas as Irmãs capitulares, que representais nas diversas circunscrições do Instituto, actualmente presente na Europa, na Ásia, na América e na África. Peço-vos que transmitais a minha estima às vossas Irmãs que seguem com interesse os trabalhos capitulares e vos acompanham com a sua oração.

2. Desejo expressar o sincero reconhecimento da Igreja pela vossa obra a favor dos mais necessitados, dos idosos e enfermos, dos jovens e das crianças que necessitam de apoio, de educação, de alegria de viver e crescer em Cristo. Ao mesmo tempo, partilho convosco a esperança no futuro, aquela história que deveis construir, para a qual vos projecta "o Espírito a fim de realizar convosco ainda grandes coisas" (Vita consecrata VC 110).

São coisas grandiosas, de facto, porque prolongam a missão e o estilo de Jesus, que dignifica e eleva a humanidade mediante o sacrifício de si próprio, a abnegação, o acompanhamento fraterno e a plena confiança na força de Deus. Para o vosso percurso espiritual sabeis que a salvação verdadeira, a que não tem limites e não caduca com o tempo, só se obtém com a redenção, mesmo se isto está em contraste com uma mentalidade que, muitas vezes, tem unicamente em conta a promoção e o sucesso imediato.

3. Por conseguinte, convido-vos a intensificar cada vez mais a união com Cristo mediante a contemplação e a oração assídua e a dar vitalidade aos vossos trabalhos imitando a sua atitude redentora, porque "quanto mais se vive de Cristo, tanto melhor se pode servi-Lo nos outros, aventurando-se até aos postos de vanguarda da missão e aceitando os maiores riscos" (Vita consecrata VC 76). Além disso, partindo de uma profunda e rica experiência interior, será mais fácil transmitir a atracção que Jesus desperta nas novas gerações, insinuando nelas a voz penetrante da vocação, como a daqueles discípulos chamados "para estarem com Ele e para os enviar a pregar" (Mc 3,14).

Confio os trabalhos capitulares e as actividades destinadas a comemorar o 150º aniversário do nascimento do vosso Fundador a Maria, mestra incomparável no acompanhamento do seu Filho Divino até à Cruz e em fazer presente com alegria o seu triunfo glorioso entre a comunidade cristã, como o recebeu e fez crescer no seio da Sagrada Família.

Com estes sentimentos e desejos, e invocando a intercessão dos Beatos mártires da família Amigoniana, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva a todas as Irmãs da Congregação, assim como a quantos, partilhando o mesmo espírito, colaboram nas vossas obras apostólicas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS


DA DIOCESE ANGLICANA DE ROCHESTER


(GRÃ-BRETANHA)


Segunda-feira, 25 de Outubro de 2004






Queridos amigos
da Diocese anglicana de Rochester

Estou feliz por vos saudar, no momento em que empreendeis uma peregrinação de Roma à Inglaterra, em comemoração do 1.400º aniversário da Ordenação de São Justo, primeiro Bispo de Rochester. Vós estais a seguir as pegadas de Santo Agostinho de Cantuária e de São Justo, que foram enviados pelo meu grande predecessor São Gregório, para anunciar o Evangelho no vosso país.

Que a vossa peregrinação constitua uma ocasião de enriquecimento espiritual e um encorajamento a perseverar ao longo do caminho rumo à plena comunhão. Acompanho-vos com as minhas orações e a minha bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS


DA DIOCESE DE BYDGOSZCZ (POLÓNIA)


Terça-feira, 26 de Outubro de 2004


Prezados Irmãos e Irmãs

Saúdo cordialmente o Bispo D. Jan, as autoridades civis, os habitantes de Bydgoszcz, assim como o clero e os fiéis da Diocese. Viestes a Roma em peregrinação, para dar graças a Deus pela fundação da vossa Diocese e, contemporaneamente, para expressar o vínculo que une cada uma das Igrejas locais à Santa Sé e ao Sucessor de Pedro.

Estou feliz por saber que a instituição da nova Diocese foi acolhida com alegria e que vos esforçais de todos os modos, para que surjam todas as estruturas necessárias em vista do seu bom funcionamento. Formulo votos a fim de que os vossos esforços e a estreita colaboração dos sacerdotes, das comunidades religiosas e de todos os fiéis com o Bispo produzam frutos abundantes. Num trabalho conjunto, comprometei-vos na promoção do desenvolvimento espiritual de todos e procurai salvaguardar particularmente aqueles que exigem a atenção da parte da Igreja.

Uno-me a vós em acção de graças, peço a Deus que derrame sobre a vossa comunidade diocesana os favores necessários e abençoo-vos de coração. Levai esta Bênção aos vossos lares e aos vossos ambientes. Que ela inclua também a juventude, as crianças e sobretudo as pessoas que sofrem.

Que Deus vos recompense pela vossa visita!





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA


NA ASSINATURA DO TRATADO


CONSTITUCIONAL EUROPEU


Quinta-Feira, 28 de Outubro de 2004




Senhor Presidente!

1. Saúdo-o muito cordialmente assim como as distintas Personalidades que o acompanham e agradeço-lhe esta gentil visita.

A sua presença em Roma, nestes dias, é motivada pelo solene acto da assinatura do Tratado Constitucional Europeu, por parte dos vinte e cinco Estados que agora fazem parte da União Europeia. O lugar escolhido o mesmo onde em 1957 nasceu a Comunidade Europeia assume um evidente valor simbólico: de facto, quem diz Roma diz irradiação de valores jurídicos e espirituais universais.

2. A Santa Sé favoreceu a formação da União Europeia, ainda antes que ela se estruturasse juridicamente, seguindo depois com interesse activo as suas várias etapas. Ela sentiu-se também sempre no dever de expressar abertamente as justas expectativas de um grande número de cidadãos cristãos da Europa, que pediam o seu apoio.

Por isso, a Santa Sé recordou a todos como o Cristianismo, nas suas várias expressões, contribuiu para a formação de uma consciência comum dos povos e para a sua civilização. Sendo reconhecido ou não nos documentos oficiais, ele é um facto inegável que nenhum historiador poderá esquecer.

3. Hoje desejo, em particular, congratular-me com Vossa Excelência, Senhor Presidente, pela obra desempenhada durante o seu mandato para guiar da Comissão Europeia, e ao mesmo tempo formulo votos por que as dificuldades que surgiram nestes dias em relação à nova Comissão possam encontrar uma solução de respeito recíproco em espírito de concórdia entre todas as forças em questão.

Senhor Presidente, invoco sobre Vossa Excelência e sobre as Personalidades que o acompanham a bênção do Senhor, assim como sobre todos os Representantes dos Estados reunidos em Roma para a iminente assinatura do tratado constitucional, e sobre todos os povos da Europa.

Possa a União Europeia expressar sempre o melhor das grandes tradições dos seus Estados membros, trabalhar activamente no âmbito internacional pela paz entre os povos, e oferecer uma ajuda generosa pelo crescimento das populações mais necessitadas dos outros continentes.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SOCIEDADE EDITORA


"LA SCUOLA" DE BRÉSCIA


Quinta-feira, 28 de Outubro de 2004




Queridos Irmãos e Irmãs!

1. Estou grato ao Senhor por este encontro. É no seu nome que vos saúdo a todos com alegria e afecto. Agradeço ao Presidente da Editora "La Scuola" pelas palavras com que interpretou os sentimentos comuns e dirijo um pensamento especial ao Cardeal Giovanni Battista Re e ao Bispo de Bréscia, D. Giulio Sanguineti, que vos acompanham.

Quisestes vir a Roma junto do Túmulo do apóstolo Pedro para concluir da maneira mais nobre as manifestações do centenário da Sociedade Editora "La Scuola". Fundada em Maio de 1904 por um grupo de leigos católicos, entre os quais o pai do Papa Paulo VI, Giorgio Montini, e por alguns sacerdotes, a vossa Instituição atravessou todo o século procurando permanecer sempre fiel, mesmo com a mudança das situações sociais e culturais, ao desígnio e às finalidades dos fundadores.

2. Agradeço juntamente convosco ao Senhor, fonte de todos os bens, por ter inspirado esta iniciativa e a ter defendido nos dias difíceis, como os do bombardeamento aéreo que se abateu sobre a Editora durante a segunda guerra mundial e a destruiu. Com a ajuda de Deus e com a coragem de tantas pessoas generosas foi possível recomeçar. Dirijo o meu reconhecido apreço a elas, assim como a todos os que, ao longo de um século, deram o seu contributo de trabalho e de ideias.

Depois, desejo dirigir uma especial palavra de louvor a quantos colaboraram para que a Editora permanecesse fiel aos ideais das origens. Como sabeis, ela foi idealizada e querida como um instrumento para garantir à escola italiana a inspiração cristã. Tarefa que não é fácil, considerando as orientações de grande parte da cultura actual. Mas vós continuais pelo caminho empreendido. A verdade de Cristo, apresentada com respeito pelas posições dos demais e testemunhada com a coerência da própria vida, é um bem para todos os agentes escolares: pais, filhos, professores, estudantes, escolas estatais e não estatais.

3. O centenário que estais a celebrar constitui também uma ocasião para dirigir o olhar para o futuro. Não faltam provas e problemas. A Igreja tem grande esperança em vós para a preparação das oportunas propostas para a formação escolar das novas gerações. Em comunhão com o vosso Bispo e em cordial diálogo com a comunidade católica italiana, continuai a ser semeadores de esperança, permanecendo fiéis aos ideais dos fundadores.

A Editora "La Scuola" foi sempre vista e seguida com confiança, afecto e apreço pelos meus Predecessores no decurso do século XX. Uno-me a eles de coração sincero. Faço meus os votos que expressou o Papa Paulo VI a 28 de Junho de 1965, quando recebeu em Audiência especial os responsáveis da época. Tributando um caloroso reconhecimento à sua experiente perícia pedagógica e à profunda sensibilidade pelos problemas escolares mais modernos, exortava-os "não só à preservação da eficiência alcançada, mas também à ousadia de novos progressos e conquistas" (Insegnamenti 3 [1965], pág. 318).


DIscursos João Paulo II 2004