DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JORGE SAMPAIO


PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE PORTUGAL


Sexta-feira, 12 de Novembro de 2004




Senhor Presidente,

É com grande prazer que recebo e saúdo Vossa Excelência, e distinto séquito, recordando a saudação que trocámos durante a Visita que fiz à sua Pátria amada para beatificar dois pequenos grandes portugueses: Francisco e Jacinta Marto.

A Luz benfazeja, que refulgiu nas suas vidas, anela por estender-se a todo o mundo. Este continua a olhar com esperança para Portugal, sobretudo à medida que toma consciência da grave crise de valores sentida pela sociedade actual, cada vez mais insegura perante as decisões éticas indispensáveis para o futuro caminho da humanidade.

A formação duma consciência crítica em ordem ao discernimento do sentido da vida e da história constitui o maior desafio cultural de hoje, que a Igreja e Portugal desejam enfrentar em sã colaboração, como o demonstra a nova Concordata prestes a entrar em vigor. Sobre vós, as vossas famílias e o vosso povo invoco de todo o coração a bênção de Deus omnipotente.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA REPARTIÇÃO CRISTÃ


DAS PESSOAS DEFICIENTES


PROVENIENTES DE PARIS


Sábado, 13 de Novembro de 2004


Queridos amigos da Repartição cristã para os deficientes

1. Sinto-me feliz por vos receber, a vós que viestes com a vossa fundadora, Marie-Hélène Mathieu, por ocasião da peregrinação que realizais para o quadragésimo aniversário da vossa associação. Juntamente convosco desejo dar graças pela obra que realizais em benefício das pessoas deficientes e das suas famílias, mostrando o valor incomparável de qualquer vida.

Mediante a atenção às pessoas que sofrem uma deficiência, recordais aos nossos contemporâneos que a pessoa não se reduz unicamente às suas capacidades e ao lugar que ocupa na vida económica, mas é uma criatura de Deus, por Ele amada por si mesma e não por aquilo que faz.
A minha oração afectuosa dirige-se também aos pais e a quantos aceitam acolher as pessoas deficientes. Conheço os sacrifícios que isto exige, mas também a satisfação que provém de ver a alegria no rosto de uma pessoa deficiente e o afecto que sente por quem se ocupa dela.

2. A vossa obra é ao mesmo tempo um serviço e uma verdadeira missão pela promoção da pessoa humana e pela defesa da sua dignidade, como mostra o tema da vossa peregrinação, Tu escolhestes-nos para servir na tua presença. Realizais no centro da Igreja o serviço insigne da caridade, da ternura e da compaixão pelos deficientes e pelas suas famílias, que "assumiram o rosto de Cristo", como diz São Gregório de Nissa acerca de todos os pobres (cf. O amor pelos pobres).

Vós sois um dos sinais da solidariedade de toda a comunidade cristã em relação a quantos são feridos no seu corpo e no seu espírito, recordando que Cristo veio para dar a vida em abundância a todos os homens e para nos revelar que a salvação se destina a todos, como anunciou na sinagoga de Nazaré (cf. Lc Lc 4, 14, 21). O Concílio Vaticano II realçou oportunamente que "o espírito de pobreza e de caridade é, com efeito, a glória e o sinal da Igreja de Cristo" (Gaudium et spes GS 88).

3. A vossa presença convida-me a apelar mais uma vez de maneira urgente a todos os homens de boa vontade, sobretudo àqueles que desempenham uma função governativa e legislativa, a um despertar de consciência e de humanidade, para que seja protegida qualquer vida humana, sobretudo a dos mais débeis, dos mais pequeninos e dos mais pobres, e para que cessem todas as acções que têm por finalidade eliminar as crianças concebidas e ainda não nascidas, que são indefesas, elegendo-se assim o homem a senhor da vida. Injuriar desta forma as crianças significa, de certa forma, injuriar a nossa própria humanidade, porque entre todos nós existe a mesma fraternidade e solidariedade.

Ao pedir a Nossa Senhora de Lourdes que vos ampare na vossa missão, concedo-vos, assim como a quantos se associam à vossa obra, uma afectuosa Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMETNO DO SIMPÓSIO DOS BISPOS


DA ÁFRICA E DA EUROPA (SECAM E CCEE)


Sábado, 13 de Novembro de 2004




Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com imensa alegria que vos recebo, enquanto saúdo todos com afecto, no encerramento do Simpósio dos Bispos da África e da Europa. Saúdo de modo particular os Presidentes do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SECAM), e estou-lhes grato pelas amáveis palavras que me dirigiram em vosso nome. Exprimo o meu reconhecimento a quantos promoveram e colaboraram para a realização deste encontro, em vista de incrementar a comunhão entre as Igrejas da Europa e da África, enfrentando em conjunto as problemáticas do interesse de todos. É o que confirma o próprio tema do vosso Simpósio: "Comunhão e solidariedade entre a África e a Europa".

2. Venerados Irmãos no Episcopado! Alegro-me por saber que sentistes o desejo de aprofundar os vínculos da fraternidade sacramental, que animam o vosso compromisso pastoral ao serviço de Deus e dos irmãos. Este compromisso não pode deixar de se traduzir numa colaboração constante, segundo o estilo do "intercâmbio de dons". A este propósito, apraz-me evocar o relacionamento de profunda compreensão que, nos meados do século III, unia os Santos Cornélio e Cipriano, respectivamente Bispos de Roma e de Cartago. Das suas cartas sobressai, de maneira clarividente, o facto de que a unidade da Igreja é edificada pela Eucaristia, e que se manifesta numa busca constante da cooperação fraterna e solidária.

Este estilo de amor fraterno constitui um testemunho significativo, que os Pastores das Igrejas que estão na Europa e na África são chamados a oferecer, em ordem a enfrentar os grandes desafios que interpelam a fé cristã nesta nossa sociedade globalizada.

4. Contudo, para realizar esta acção missionária urgente é indispensável cultivar, em primeiro lugar, a oração e o contacto pessoal com Cristo. Justamente, portanto, durante estes dias pedistes a assistência orante das vossas respectivas Comunidades eclesiais, de maneira particular da parte dos numerosos Mosteiros espalhados pelos dois Continentes. A este pedido coral de ajuda celeste, uno-me também eu, invocando sobre todos vós a salvaguarda de Maria Santíssima, Estrela da Evangelização, assim como a especial intercessão de Santo Agostinho de Hipona, cuja figura é como uma ponte entre a África e a Europa. Precisamente hoje, celebra-se o 1.650º aniversário do seu nascimento, e nestes dias as suas relíquias estão presentes em Roma.

5. Por fim, ao acolher os bons votos do Conselho pós-sinodal, intérprete dos desejos dos Pastores africanos, aproveito o ensejo para anunciar a minha intenção de convocar a segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África.

Confio este projecto às vossas orações, enquanto convido calorosamente todos a implorar do Senhor, para a querida terra da África, o dom precioso da comunhão e da paz.

Enquanto renovo o meu agradecimento pela vossa visita, é do íntimo do coração que vos concedo uma especial Bênção, tanto a vós e às Conferências Episcopais da África e da Europa, como a todos os habitantes dos respectivos Continentes.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALBERT EDWARD ISMAIL YELDA


NOVO EMBAIXADOR DO IRAQUE


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 15 de Novembro de 2004




É com prazer que dou as calorosas boas-vindas a Vossa Excelência e aceito as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Iraque junto da Santa Sé.

Agradeço as amáveis palavras de saudação, que Vossa Excelência me comunicou da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Sheikh Ghazi Ajeel Al-Yawar, e é com alegria que transmito os meus próprios bons votos às autoridades e ao povo do seu país. Através da presença do Núncio Apostólico, continuei a permanecer próximo da querida população do Iraque, desde o início deste período de conflito. Gostaria de lhe pedir que assegurasse ao seu povo a minha solicitude constante pelas numerosas vítimas do terrorismo e da violência. Rezo a fim de que lhes sejam poupados ulteriores sofrimentos e que elas possam receber a assistência de que têm necessidade, da parte das organizações humanitárias internacionais.

A vossa antiga cultura foi descrita como "o berço da civilização" e orgulha-se da presença dos cristãos desde os próprios primórdios da Cristandade. Com efeito, ela constitui um exemplo dos numerosos modos como os seguidores das diferentes religiões podem viver em paz e harmonia. Formulo votos ardentes, para que, enquanto o Iraque está a caminhar rumo à realização da sua democracia, estas pedras angulares da sua história voltem a tornar-se uma parte essencial da sociedade.

Vossa Excelência salientou a importância da salvaguarda da dignidade de cada pessoa humana. E para isso é essencial a força do direito, como elemento integrante do governo. A preservação deste princípio básico é fundamental para qualquer sociedade moderna, que realmente procura proteger e promover o bem comum. No cumprimento desta tarefa, a clara distinção entre os sectores civis e religiosos permite que cada um deles desempenhe eficazmente as responsabilidades que lhe são próprias, no respeito recíproco e na completa liberdade de consciência. Faço votos por que o povo iraquiano continue a promover a sua antiga tradição de tolerância, reconhecendo sempre o direito à liberdade de culto e à educação religiosa. Se estes direitos fundamentais forem protegidos pela legislação ordinária e se se tornarem uma parte permanente do tecido vivo da sociedade, hão-de tornar todos os cidadãos, independentemente do seu credo ou afiliação religiosa, capazes de oferecer a sua própria contribuição para a edificação do Iraque. Deste modo, o país pode expressar as convicções religiosas de todos os seus habitantes profundamente arraigadas através da criação de uma sociedade que seja verdadeiramente moral e justa. Posso assegurar-lhe, Excelência, que toda a Igreja Católica e, de maneira particular os cristãos caldeus, presentes no seu país desde os tempos dos Apóstolos, estão comprometidos na assistência à sua população, em vista de construir uma nação mais pacífica e mais estável.

Actualmente, o Iraque está a passar por um difícil processo de transição, de um regime totalitário para a formação de um Estado democrático, em que a dignidade de cada uma das pessoas seja respeitada e todos os cidadãos gozem dos mesmos direitos. A democracia autêntica somente é possível "num Estado de direito", e exige que "se verifiquem as condições necessárias para a promoção quer dos indivíduos, através da educação e da formação nos verdadeiros ideais... e mediante a criação de estruturas de participação e de responsabilidade compartilhada" (cf. Carta Encíclica Centesimus annus CA 46). No momento em que o seu povo se prepara para empreender a tarefa de escolher livremente os homens e as mulheres que hão-de governar o Iraque do futuro, encorajo o actual governo nos seus esforços levados a cabo em vista de garantir que estas eleições sejam justas e transparentes, e que ofereçam a todos os cidadãos elegíveis, iguais oportunidades neste direito democrático, que eles são chamados a exercer.

Hoje, o Iraque está a enfrentar também a dificuldade de resolver os desafios apresentados pela pobreza, pelo desemprego e pela violência. Que o seu governo trabalhe incansavelmente para resolver as contendas e os conflitos, através do diálogo e das negociações, e que só lance mão da força militar como último recurso. Por conseguinte, é essencial que o Estado, com a assistência da Comunidade internacional, promova a compreensão e a tolerância recíprocas entre os seus diversificados grupos étnicos e religiosos. Isto tornará a população dessa região capaz de criar um ambiente que não só se comprometerá nos campos da justiça e da paz, mas que também conseguirá contribuir para o crescimento económico e o desenvolvimento integrais ambos necessários em vista do bem-estar dos seus cidadãos e do próprio país. Em conjunto, os homens e as mulheres somente conseguirão eliminar todas as causas sociais e culturais das divisões e dos conflitos, "ensinando a grandeza e a dignidade da pessoa humana e incentivando uma maior consciência da unidade do género humano" (Mensagem do Papa João Paulo II para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 12).

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a sua missão há-de fortalecer os vínculos de compreensão e de cooperação entre a República do Iraque e a Santa Sé. Tenha a certeza de que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e a querida população do Iraque, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS DE SANTA ISABEL


POR OCASIÃO DO CAPÍTULO GERAL


Segunda-feira, 15 de Novembro de 2004




Caríssimas Irmãs!

1. Estou-vos cordialmente grato pela visita de hoje, que tem lugar durante o Capítulo Geral da vossa Família religiosa. Saúdo com afecto cada uma de vós aqui presentes. De modo particular saúdo a nova Superiora-Geral, Madre Samuela Werbinska, com o seu Conselho e agradeço-lhe as gentis palavras que me dirigiu. Faço o meu pensamento extensivo a todas as Coirmãs comprometidas activamente no testemunho do Evangelho da caridade nas diversas nações.

2. Tivestes a ocasião de reflectir, nestes dias, sobre o carisma que vos distingue. Quando, nos meados de 1800, as vossas Fundadoras, Clara Wolff, Matilde e Maria Merkert e Francisca Werner, começaram a servir os "membros do Corpo de Cristo que sofriam" na cidade de Nysa, na Polónia, tinham como meta e programa do seu apostolado as palavras de Jesus: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt 25,40). Inspirando-se no exemplo de Santa Isabel da Hungria, escolhida como padroeira da nova Congregação, elas dedicaram-se totalmente aos pobres e aos necessitados, contemplando no seu rosto o rosto do Redentor.

A partir de então o vosso Instituto cresceu notavelmente e hoje olha com confiança para o futuro, alargando-seadiversasregiõesdomundo.

3. "Duc in altum!". É o tema que escolhestes para o Capítulo Geral. O vosso apostolado, queridas Irmãs, será tanto mais eficaz quanto mais permanecerdes ancoradas às vossas raízes carismáticas. Segui o exemplo das vossas Fundadoras, que mantiveram um diálogo íntimo com o Senhor. Cada um dos vossos projectos apostólicos brotam de uma comunhão incessante com Ele. Cultivando uma intensa vida de oração e de escuta de Deus, ser-vos-á mais fácil garantir aos irmãos e às irmãs em dificuldade não só o apoio material, mas também o conforto espiritual.

4. Estais a estudar, nestes dias, o modo de responder com "fidelidade criativa" aos desafios da sociedade de hoje. É necessário recomeçar de Cristo e testemunhar, de modo simples e concreto, o seu amor misericordioso por todos, de modo especial por quantos, à margem da nossa sociedade, são considerados os "derrotados" da vida.

A Virgem Mãe do Senhor vos acompanhe e proteja sempre; intercedam por vós Santa Isabel da Hungria e os vossos Santos protectores. Garanto-vos uma especial recordação na oração e abençoo-vos de coração, queridas Irmãs, toda a vossa Congregação, os leigos da Comunidade apostólica de Santa Isabel, assim como quantos encontrardes no vosso apostolado quotidiano.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA 8ª REUNIÃO


DO X CONSELHO ORDINÁRIO DA SECRETARIA


GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS


Terça-feira, 16 de Novembro de 2004




Venerados Irmãos no Episcopado!

1. Na alegria partilhada deste encontro apresento a todos e a cada um de vós a minha saudação, que sai do fundo do meu coração pela renovada experiência de comunhão na ordem episcopal e na solicitude por todas as Igrejas (cf. 2Co 11,28). Chegue até vós o meu abraço de paz e de fraternidade, no espírito de comunhão, que faz com que nos sintamos um só coração e uma só alma (cf. Act Ac 4,32). Saúdo de maneira particular o Secretário-Geral, D. Eterovic, e agradeço-lhe as gentis palavras que me dirigiu.

Como Membros do X Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos continuais a viver e a trabalhar com aquele espírito característico do Sínodo dos Bispos, que é a Comunhão. Quando em 1965 o Papa Paulo VI, de venerada memória, foi levado a instituir este organismo provisório, a Igreja ainda se encontrava imersa no clima do Concílio Vaticano II, no qual ia renascendo a doutrina e a espiritualidade da comunhão com persuasiva intensidade interior.

2. A próxima XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que estais cuidadosamente preparando, ocupar-se-á de um tema crucial para a Igreja: a Eucaristia. Com efeito, a fórmula do tema sinodal é precisamente esta: A Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. A Igreja haure da Eucaristia as energias vitais para a sua presença e a sua acção na história dos homens.

Na Eucaristia encontra-se a prefiguração exemplar da comunhão entre os fiéis e os seus Pastores e da colegialidade entre os Pastores das Igrejas particulares e o Pastor da Igreja universal. Será sem dúvida a Eucaristia que dará espírito e forma a este carácter da Igreja, que é primordial, irrenunciável e difusivo, corpo organicamente compacto, que cresce até à idade adulta de Cristo (cf Ep 4,13 Ep 4,16).

O próximo Sínodo constituirá mais uma vez a ocasião propícia para que na Igreja se confirme a fé no mistério adorável da Eucaristia, se renove a comunhão colegialehierárquicaesepromova a caridade fraterna.

3. Amados Irmãos, a próxima fase de preparação para a XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos coincide não só cronologicamente com o Ano dedicado à Eucaristia. Trata-se de um caso especial de reciprocidade entre a Igreja universal e o próprio Sínodo. Neste ano a Igreja e o Sínodo convergem para um único termo: o Senhor Jesus, presente, vivo e vivificante no sacramento da Eucaristia.

A Encíclica Ecclesia de Eucharistia e a Carta apostólica Mane nobiscum Domine estão confiadas à Igreja para que a doutrina e a práxis eucarística encontrem universalmente os corações preparados para a comunhão com o Senhor e com os irmãos no mandamento da caridade. A principal tarefa dos Pastores da Igreja é serem mestres autênticos da comunhão (cf. Pastores gregis ), para que todo o rebanho do Senhor cresça na unidade de um só corpo (cf. Ef Ep 4, 3ss.), se alarguem os espaços da caridade pastoral (cf. Santo Agostinho, PL 5, 440), a colegialidade e a comunhão hierárquica floresçam para os frutos santos do Espírito (cf. Gl Ga 5,22).
Possa a Igreja, renovada na redescoberta do dom e do mistério da Eucaristia, alargar esta inexaurível riqueza de vida a quem está próximo e aos que estão distantes numa urgente obra de nova evangelização.

Juntamente convosco invoco, sobre estes propósitos e especialmente sobre a preparação para o Sínodo, a protecção da Virgem Santa, Mãe de Deus e da Igreja, do Santo Apóstolo Pedro e de todos os Santos Pastores, enquanto concedo de coração a vós e às vossas amadas Igrejas particulares a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS LÍDERES MUÇULMANOS, JUDEUS


E CRISTÃOS DO AZERBAIJÃO


18 de Novembro de 2004




Dilectos e venerados Irmãos

1. Recebo-vos com afecto e transmito a todos vós a minha saudação de paz.
Bem-vindo, Sheikh-ul-Islam, Chefe da Presidência dos Muçulmanos do Cáucaso que, com abnegação constante, se compromete em vista de construir a paz numa região onde, infelizmente, ainda existem conflitos violentos.

Bem-vindo, Bispo Aleksander de Bacu e da Região do Cáspio, pertencente à Igreja Ortodoxa Russa, à qual me sinto ligado por vínculos de estima e de afecto.

Bem-vindo, Chefe da Comunidade dos Judeus da Montanha, antiga comunidade que, num contexto de esmagadora maioria islâmica, oferece um exemplo de coexistência e de colaboração fraternal.

2. A vossa visita traz-me à mente a viagem que Deus me permitiu realizar ao Azerbaijão, no ano de 2002. Recordo a amabilidade com que ali fui recebido, a cordialidade do Presidente Heydar Aliev, o orgulho com que ele me falou sobre a tolerância religiosa que constitui o âmago da vida do vosso país. Quando recebi a notícia do seu falecimento, desejei confiar a sua alma a Deus na oração. Do mesmo modo, rezo inclusivamente pelo novo Presidente, Ilham Aliev, e por todo o povo azerbaijano, a quem faço votos de uma era de paz e de prosperidade.

E formulo votos cordiais também para que o Azerbaijão volte plenamente à paz, com a resolução da questão do Nagorno-Karabakh. Tanto esta como outras contendas devem ser enfrentadas com a boa vontade, na busca mútua de aberturas recíprocas e da compreensão, e com o espírito de verdadeira reconciliação.

3. Queridos amigos, obrigado por esta vossa visita. Ao voltardes para casa, transmiti a todos o abraço do Papa e da Igreja Católica. Deus vos ajude a construir uma coexistência cada vez mais profunda entre vós e a Comunidade católica que está no Azerbaijão. Tanto a ela como ao seu Ordinário, o prezado Pe. Jan Capla, transmito o meu cordial pensamento, enquanto peço ao Senhor que o ajude a continuar a cumprir a sua missão evangélica no Cáucaso.

4. Que esta vossa visita ao Papa de Roma possa constituir um símbolo para o mundo inteiro: isto é, que ela demonstre que a tolerância é possível e constitui um valor de civilização, que lança as premissas para um desenvolvimento humano, civil e social mais vasto e solidário.

Ninguém tem o direito de apresentar ou de utilizar as religiões como um instrumento de intolerância, como um meio de agressão, de violência e de morte. Pelo contrário, a sua amizade e a sua estima recíprocas, quando são sustentadas também pelo compromisso de tolerância dos Governantes, constituem um rico recurso de progresso autêntico e de paz.

5. Juntos muçulmanos, judeus e cristãos nós desejamos dirigir em nome de Deus e da civilização, um apelo à humanidade, para que ponha fim à violência homicida e percorra o caminho do amor e da justiça para todos. Este é o itinerário das religiões. Que Deus nos ajude a percorrer este percurso com perseverança e paciência!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CONSELHO PÓS-SINODAL


DA SECRETARIA GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS


PARA A ASSEMBLÉIA ESPECIAL PARA A ÁSIA


19 de Novembro de 2004




Caríssimos Irmãos no Episcopado!

1. "Graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1,7). Com estas palavras do apóstolo Paulo saúdo todos vós, membros do Conselho pós-sinodal da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos para a Assembleia Especial para a Ásia.

Desde a sua instituição até ao fim da Assembleia Especial, o vosso Conselho prestou uma preciosa colaboração não só no que se refere à redacção da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Asia, mas também no que diz respeito às avaliações da sua aplicação no Continente asiático. Esta é uma tarefa que exige inevitavelmente um diálogo frutuoso com a "situação pluriétnica, plurireligiosa e pluricultural da Ásia, onde o cristianismo muitas vezes é visto ainda como religião estrangeira" (n. 21).

2. Particularmente adequada à Ásia é a referência bíblica que apresenta o tema do Sínodo: "para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Jn 10,10). A alta percentagem de jovens, que se registra no Continente, representa um motivo de optimismo, para o futuro e um desafio para o presente: motivo de optimismo porque as novas gerações, cheias de promessas, estão dispostas a dedicar-se totalmente a uma causa; um desafio, porque os sonhos não concretizados podem gerar desilusão, e quem os cultiva poderia ser facilmente instrumentalizado pelos promotores de ideologias extremas.

Além disso, a Igreja deseja contribuir para a causa da paz na Ásia, onde vários conflitos e o terrorismo provocam a perda de muitas vítimas humanas. Durante a Assembleia Especial, os Padres sinodais olharam com apreensão para a Terra Santa, "coração do cristianismo" e querida a todos os filhos de Abraão. Infelizmente, nestes anos, os focos de guerra foram-se alastrando e, por conseguinte, é urgente construir a paz, tarefa não fácil que espera o contributo de todos os homens de boa vontade.

3. Para anunciar profundamente o Evangelho na Ásia é necessário que todos os crentes em Cristo compenetrem todos os aspectos da vida com a sua fé, imitando os santos e os mártires asiáticos, que deram à fé católica o extremo testemunho do sangue. Especialmente onde eles sofrem e não têm a liberdade de professar a sua fé, é necessário proclamar o Reino de Deus com um "testemunho silencioso de vida" (n. 23), carregando a cruz e seguindo as pegadas de Cristo sofredor e crucificado, na expectativa paciente de que venha o dia em que haverá plena liberdade religiosa.

4. Além disso, a celebração do Sínodo realçou que o diálogo é um "modo característico da vida da Igreja na Ásia" (n. 3). O espírito de diálogo, que durante a Assembleia sinodal animou os relacionamentos das Igrejas mais jovens com as que fazem remontar as próprias origens aos apóstolos, constitui um itinerário a percorrer com paciência e coragem também em relação às outras comunidades cristãs. Apesar dos obstáculos, ele deve progredir, se a Igreja quiser permanecer fiel ao mandamento que Cristo lhe confiou, de anunciar o Evangelho na sua integridade a todos os povos (cf. Mt Mt 28,19-20), permanecendo sempre dócil à acção do Espírito Santo, que é "o primeiro agente da inculturação da fé cristã na Ásia. O mesmo Espírito Santo que nos guia para a verdade total, torna possível um diálogo frutuoso com os valores culturais e religiosos dos diversos povos, no meio dos quais Ele se encontra já em certa medida..." (n.21).

5. O facto da Igreja na Ásia ser um "pequeno rebanho" (Lc 12,32) não deve levar ao desencorajamento, porque a eficiência da evangelização não depende dos números. Depois do Pentecostes, os Apóstolos e um número limitado de discípulos foram enviados a pregar o Evangelho a todo o mundo (cf. Act Ac 2, 1ss). Mediante as parábolas do fermento na massa (cf. Mt Mt 13,33) e do grão de mostarda (cf. Lc Lc 13,19 Lc 17,6), o próprio Jesus ensina que aquilo que é pequeno e está escondido aos olhos dos homens, graças à intervenção omnipotente de Deus, pode obter resultados inesperados. Por isso, a fé na Divina Providência deve animar constantemente a acção missionária da Igreja na Ásia, Continente da esperança.

Os cristãos da Ásia continuem com confiança a seguir fielmente Cristo; continuem a difundir com toda a solicitude o dom da sua paz e do seu amor.

Sobre todos vigie a Virgem Maria, Mãe da Ásia, e obtenha a paz para cada nação daquele amado Continente. Eu garanto a minha oração e concedo-vos de coração a vós aqui presentes a minha Bênção, que faço de bom grado extensiva a todos os Bispos, aos sacerdotes, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja na Ásia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO CONSELHO INTERNACIONAL


DE ADMINISTRAÇÃO DO HOSPITAL DE SÃO JOSÉ


DE JERUSALÉM


Sábado, 20 de Novembro de 2004




Beatitude
Senhoras e Senhores

Estou feliz por dar as boas-vindas ao Vaticano, aos membros do Conselho Internacional de Administração do Hospital de São José, de Jerusalém. Aproveito este ensejo para vos encorajar, assim como todas as pessoas que estão empenhadas nas obras do Hospital, a dar sempre o melhor de vós mesmos, no serviço generoso em favor dos enfermos, com profundo respeito pela sua dignidade humana e pelo seu valor singular aos olhos de Deus. Aprecio o louvável sentido de solidariedade e de solicitude pelas necessidades da comunidade palestina, que levou ao estabelecimento do Hospital de São José como o único hospital católico em Jerusalém. Faço votos por que este hospital continue a encontrar apoio moral e material, tanto na Terra Santa como no estrangeiro. É de todo o coração que vos concedo, a vós, a todos os benfeitores, aos funcionários e aos doentes, a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA


Sábado, 20 de Novembro de 2004




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com prazer que vos recebo, por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Família. Dirijo a todos vós a minha cordial saudação. Saúdo de maneira especial o Senhor Cardeal Alfonso López Trujillo, a quem agradeço os sentimentos que me transmitiu.

Bem sei que o Dicastério está a trabalhar de maneira intensa, em vista de difundir o "evangelho da família". Esta expressão é apropriada, porque anunciar a "maravilhosa notícia" da família, que mergulha as suas raízes no Coração de Deus Criador, constitui uma missão nobre e determinante. A família fundamentada no matrimónio é uma instituição natural insubstituível e um elemento essencial do bem comum de todas as sociedades.

2. Quem destrói este tecido fundamental da convivência humana, deixando de respeitar a sua identidade e desvirtuando as suas funções, causa uma ferida profunda na sociedade e provoca prejuízos não raro irreparáveis. Por conseguinte, vós tendes justamente a intenção de reflectir sobre os diversificados aspectos que dizem respeito à família, tanto a nível nacional como internacional. Também neste campo, a Igreja não pode afastar-se da norma enunciada pelo Apóstolo Pedro: "Importa mais obedecer a Deus do que aos homens" (Ac 5,29).

Na Exortação Apostólica Familiaris consortio já pude salientar "o lugar especial que, neste campo, compete à missão dos cônjuges e das famílias cristãs, em virtude da graça recebida no sacramento", enquanto recordava que esta missão deve ser posta "ao serviço da edificação da Igreja" e "da construção do Reino de Deus na história" (n. 71). Esta missão nada perdeu da sua actualidade mas, pelo contrário, adquiriu características de uma urgência extraordinária.

3. A propósito do tema principal da vossa Assembleia Plenária "A missão dos casais maduros e experimentados, em relação aos noivos e aos jovens casais" desejo encorajar-vos a um compromisso renovado em favor das jovens famílias. Como tive a oportunidade de afirmar na Familiaris consortio, "na acção pastoral para com as famílias jovens, a Igreja deverá prestar uma atenção específica para as educar a viver responsavelmente o amor conjugal em relação às suas exigências de comunhão e de serviço à vida, como também a conciliar a intimidade da vida de casa com a obra comum e generosa de edificar a Igreja e a sociedade humana" (n. 69).

Além disso, nesse documento observei também que as famílias jovens, "encontrando-se num contexto de novos valores e de novas responsabilidades, estão mais expostas, especialmente nos primeiros anos de matrimónio, a eventuais dificuldades, como as que são criadas pela adaptação à vida em comum ou pelo nascimento dos filhos" (Ibidem). Por conseguinte, exortei os jovens cônjuges a acolher cordialmente e a valorizar de maneira inteligente a ajuda discreta, delicada e generosa dos outros casais, que já estão a viver há muito tempo a experiência do matrimónio e da família.

4. A este propósito, é com prazer que relevo a presença crescente no mundo inteiro, de movimentos que trabalham em benefício da família e da vida. O seu dinamismo, colocado ao serviço daqueles que estão a percorrer o caminho do matrimónio recentemente contraído, garante uma assistência preciosa, suscitando uma resposta oportuna à riqueza da vocação, à qual são chamados pelo Senhor.

Há dez anos, na Carta às Famílias, pude realçar como é importante a rica experiência das demais famílias, de maneira particular quando o "nós" dos pais, do marido e da mulher, se desenvolve por intermédio da geração e da educação, no "nós" da família, com a dádiva extremamente preciosa dos filhos (cf. n. 16). É desta forma que, num clima de colaboração, se edifica a igreja doméstica, santuário da vida e verdadeira coluna principal para o futuro da humanidade.

5. Como conclusão, dirijo o meu pensamento ao V Encontro Mundial das Famílias, que terá lugar no ano de 2006 em Valença, na Espanha. Bem sei que o vosso Pontifício Conselho, juntamente com a Arquidiocese de Valença, está a preparar este acontecimento. Saúdo o Arcebispo, D. Agustín García Gasco, aqui presente, e transmito uma calorosa saudação à querida terra da Espanha, que terá a honra de hospedar este acontecimento.

Ao invocar sobre o vosso trabalho a assistência divina constante, confio-vos à especial intercessão da Sagrada Família de Nazaré, enquanto vos abençoo a todos do íntimo do coração.






DIscursos João Paulo II 2004