DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENADO ACADÉMICO DA UNIVERSIDADE


"NICOLAU COPÉRNICO" DE TORUN (POLÓNIA)


23 de Novembro de 2004






Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres membros do Senado e do Corpo Académico
Distintas Autoridades
Caríssimos Irmãos e Irmãs


1. Saúdo-vos a todos cordialmente. Estou feliz por acolher uma representação tão ilustre da Universidade "Nicolau Copérnico" de Torun. Estou grato ao Magnífico Reitor pelas gentis palavras e ao Senado por me ter conferido o título de Doutor honoris causa. Aceito-o com gratidão, como sinal de diálogo, em contínuo progresso entre ciência e fé.

2. Ilustres Senhores, ao receber-vos lembro-me daquele dia do mês de Junho de 1999, em que me foi concedido passar o limiar do vosso Ateneu. Recordo também que nessa ocasião falei precisamente sobre este diálogo, que é chamado a superar a contraposição iluminista da verdade alcançada pela razão e daquela que se conhece mediante a fé. Hoje compreendemos cada vez mais que se trata da mesma verdade e que é necessário que os homens, alcançando-a pelas vias rectas, não caminhem sozinhos, mas procurem a confirmação das próprias intuições também no encontro com os outros. Somente assim os estudiosos e os homens de cultura serão realmente capazes de assumir aquela especial responsabilidade de que falei em Torun: a "responsabilidade em relaçao à verdade tender para ela, defendê-la e viver em conformidade com esta" (Discurso aos Reitores das Instituições Académicas, 7.6.1999, n. 5).

3. Alegro-me porque a Universidade "Nicolau Copérnico" está a desenvolver-se de modo dinâmico, oferecendo a um número cada vez maior de jovens, a possibilidade de estudar a ciência. É um bem que também a Faculdade de Teologia possa participar nisto. Sei que este desenvolvimento está a realizar-se com o apoio das Autoridades locais de uma cidade que certamente pode ser denominada como a "cidade universitária". Que esta obra conjunta sirva a cidade de Torun, a região e toda a Polónia. Não há riqueza maior para uma nação do que a de ser formada por cidadãos cultos.

4. Ilustres Senhores, agradeço-vos mais uma vez a vossa vinda. Peço-vos que transmitais a minha saudação a todos os professores e estudantes da vossa Universidade, bem como a todos os habitantes da cidade de Torun. A bênção de Deus vos acompanhe sempre!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA


DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS


25 de Novembro 2004

Senhores Cardeais

Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs!


1. É com alegria que vos recebo por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para os Leigos. Saúdo com viva cordialidade o Presidente, D. Stanislaw Rylko, e estou-lhe grato pelas palavras que me dirigiu em vosso nome. Saúdo os Membros e os Consultores, os Oficiais e o Pessoal deste Conselho, que desempenha com diligência a sua missão finalizada a revigorar nos baptizados, mediante numerosas iniciativas, a consciência da própria identidade e vocação cristãs.

2. Penso, por exemplo, no Encontro dos católicos da Europa do Leste, organizado no ano passado em Kiev, na Ucrânia, que realçou o papel desempenhado pelos fiéis leigos na reconstrução espiritual e material daquelas Nações depois de longos anos de totalitarismo ateu.

Conheço também a solicitude do vosso Pontifício Conselho pela "nova época agregativa" dos leigos, que se caracteriza por uma colaboração mais estreita entre as diversas associações, comunidades e movimentos. Instrumento precioso é, a este respeito, o "Repertório das associações internacionais de fiéis".

Estou também informado dos primeiros passos dados pela Secção "Igreja e desporto", instituída recentemente, assim como dos confortadores frutos do Foro internacional dos jovens sobre a pastoral universitária.

Além disso, não posso deixar de mencionar a intensa preparação para a Jornada Mundial da Juventude, que se celebrará em Colónia, na Alemanha, em Agosto de 2005. Este encontro, que tem como tema: "Viemos adorá-l'O" (Mt 2,2) solicita toda a Igreja, e sobretudo os jovens, a porem-se a caminho como os Magos para encontrar o Deus feito Homem para a nossa salvação.

3. Tendo-se concluído o ciclo das Assembleias dedicadas aos sacramentos da iniciação cristã, com esta Plenária iniciais a reflectir sobre a paróquia, tema que vos comprometerá nos próximos anos.

A primeira etapa, como emerge da agenda dos trabalhos, consiste em ajudar os fiéis leigos a redescobrir o verdadeiro rosto da paróquia, "expressão mais imediata e visível" da Igreja que "vive no meio das casas dos seus filhos e filhas" (Christifideles laici CL 26). A paróquia é a célula vital na qual a participação dos leigos tem a sua natural colocação na edificação e na missão da Igreja no mundo. É presença que chama constantemente cada homem a confrontar-se com o sentido último da vida; é porta aberta a todos, para que todos possam ter acesso ao caminho da salvação. Numa palavra, a paróquia é o lugar por excelência do anúncio de Cristo e da educação na fé.

Precisamente por isto, precisa de renovar-se constantemente para se tornar verdadeira "comunidade de comunidades", capaz de uma acção missionária verdadeiramente incisiva.

4. Por fim, neste ano dedicado à Eucaristia, como não recordar que a Eucaristia é o coração palpitante da paróquia, fonte da sua missão e presença que continuamente a renova? De facto, a paróquia é "comunidade de baptizados que expressam a sua identidade sobretudo através da celebração do Sacrifício eucarístico" (Ecclesia de Eucharistia EE 32).

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Faço sentidos votos por que a reflexão acerca da paróquia, iniciada pelo Pontifício Conselho para os Leigos com esta reunião, ajude todos a compreender ainda mais que a comunidade paroquial é lugar de encontro com Cristo e com os irmãos. Acompanho-vos com a oração, enquanto vos confio a vós e aos vossos entes queridos à materna protecção de Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja.

Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALI ABDALLAH SALEH


PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO IÊMEN


26 de Novembro de 2004

Senhor Presidente


Estou feliz por saudar Vossa Excelência e o seu Séquito, no momento da vossa visita ao Vaticano, enquanto lhe agradeço os amáveis sentimentos que me quis expressar em nome do povo do Iêmen.


Durante este período de agitação na sua região exorto-vos, assim como todos os homens e mulheres de boa vontade, a combater o terrorismo e a lutar pela paz e pela justiça. E isto só é possível quando as pessoas reconhecem a necessidade constante da tolerância e da compreensão recíproca. A este propósito, encorajo-vos nos vossos esforços em vista de promover o espírito de diálogo franco e aberto entre as diferentes religiões e povos da Península Arábica. Rezo ardentemente para que Deus Todo-Poderoso derrame sobre vós e sobre todo o povo iemenita, as dádivas da paz, da harmonia e da reconciliação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA IX REGIÃO


DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


26 de Novembro de 2004


Estimados Irmãos Bispos

1. É com afecto em Jesus Cristo que vos dou as boas-vindas, meus dilectos Irmãos Bispos, provenientes das Províncias Eclesiásticas de Dubuque, Kansas City, Omaha e São Luís, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Hoje, ao dar continuidade às reflexões sobre o exercício do governo episcopal, desejo considerar juntamente convosco o relacionamento que vos une aos vossos mais estreitos colaboradores no apostolado, ou seja, os vossos irmãos sacerdotes.

Diversas vezes no decurso destes nossos diálogos pude pedir, a vós e aos vossos Irmãos Bispos, que transmitísseis aos sacerdotes dos Estados Unidos da América o meu agradecimento e a minha estima pessoais, pelo seu serviço fiel ao Evangelho. Ao longo destes dias, enquanto vos ajoelhais diante do túmulo de São Pedro, aqui no próprio coração da Igreja, peço-vos não somente que confieis as suas pessoas e o seu ministério ao Senhor, mas que renoveis o vosso compromisso em vista de trabalhar juntamente com eles, "tendo os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos no mesmo espírito e nos mesmosideais"(cf. Fl Ph 2,2).

2. Hinc unitas sacerdotii exoritur. Estas palavras, inscritas acima do altar-mor da Basílica de São Pedro, constituem uma solene lembrança que a comunhão que vos une aos vossos presbíteros nasce, em última análise, da graça das Ordens sagradas e da única missão que o Senhor ressuscitado desejou confiar aos Apóstolos e aos seus sucessores na Igreja (cf. Presbyterorum ordinis PO 7). O Concílio Vaticano II, em particular, exortou a esta visão da unidade do sacerdócio no seu ensinamento, segundo o qual os sacerdotes formam uma única assembleia de presbíteros com o seu Bispo, exercendo juntamente com ele, e sob a sua autoridade, o ofício de Jesus Cristo, Pastor e Cabeça da sua Igreja (cf. Lumen gentium LG 28). O fortalecimento quotidiano desta comunhão hierárquica, no contexto da assembleia de presbíteros diocesanos, constitui uma tarefa primária e essencial, que compete a cada um dos Bispos.

Com efeito, o Concílio Vaticano II exortava os Bispos a serem particularmente solícitos pelo bem-estar dos seus sacerdotes, tratando-os como filhos e amigos e cultivando constantemente aquela caridade sobrenatural que dá origem a uma união das vontades no serviço em prol do Povo de Deus (cf. Christus Dominus CD 16 CD 28). Estou pessoalmente convencido de que o modo mais eficaz de promover esta união é através de um compromisso na vida e na missão da Igreja particular, compartilhado e constantemente renovado. Num amor completo e sacrifical pela comunidade cristã local, os Bispos e igualmente os sacerdotes hão-de descobrir "uma grande riqueza de significado, os critérios para o discernimento e a acção que podem forjar tanto a sua missão pastoral como a sua vida espiritual" (cf. Pastores dabo vobis PDV 31). Demonstrando claramente que ama com um coração inconsútil a Igreja confiada aos seus cuidados, o Bispo será o primeiro a promover entre os seus irmãos presbíteros o crescimento daquela "comunhão de vida, de trabalho e de caridade" (Lumen gentium LG 28), alicerçada sobre o "único amor", que constitui o coração e a alma do apostolado.

3. Além de suscitar as recíprocas confiança e confidência, o diálogo, um espírito de unidade e uma única alma missionária no seu relacionamento com os seus sacerdotes, o Bispo é inclusivamente responsável pela promoção, no meio da sua assembleia de presbíteros, de um sentido de co-responsabilidade pelo governo da Igreja particular. O Concílio Vaticano II justamente recorda que os próprios pastores têm uma participação apropriada no munus regendi (cf. Christus Dominus CD 30), enquanto o Bispo é chamado a governar a sua Diocese "com a cooperação dos membros da sua assembleia de presbíteros" (cf. ibid., CD 11; cf. também o Código de Direito Canónico, cân. CIC 369). O exercício concreto desta co-responsabilidade requer da parte do Bispo acima de tudo uma sólida visão eclesiológica, a solicitude pelas exigências legítimas da subsidiariedade no seio da Igreja e o respeito pelas funções que são próprias dos vários membros da assembleia de presbíteros diocesanos.

Considerando a importância histórica da paróquia na Igreja que está nos Estados Unidos da América, uma finalidade fundamental do vosso governo deveria consistir em encorajar e coordenar o trabalho pastoral que se realiza no interior da grande rede de paróquias e nas respectivas instituições que formam a Igreja particular. Com efeito, "o primeiro responsável desta comunidade [a paróquia], que sobressai entre todas as existentes numa diocese, é o Bispo: a ela sobretudo deve reservar a sua solicitude" (Pastor gregis, 45). A paróquia é, e deveria ser, o primeiro e mais importante lugar onde os fiéis se podem encontrar e onde são convidados a compartilhar plenamente na vida e na missão da Igreja. A Diocese deveria ser sempre entendida como uma existência nas paróquias e para as suas paróquias.

Por este motivo, a renovação da vida eclesial no serviço da nova evangelização deveria, justamente, começar com a revitalização da comunidade paroquial, centralizada como está na pregação do Evangelho e na celebração da Eucaristia (cf. Ecclesia in America ). O Bispo deve desempenhar um papel indispensável nesta revitalização, promovendo de maneira autorizada o ensinamento da Igreja e propondo um plano pastoral unificado, capaz de inspirar e de orientar o apostolado do clero e, ao mesmo tempo, dos leigos. Os pastores têm necessidade de ser ajudados não apenas a "edificar a comunidade", mas inclusivamente a esclarecer de forma cada vez mais completa as finalidades que o seu pastoreio deveria ter em vista, sempre em comunhão com a Igreja particular e universal (cf. Código de Direito Canónico, cânones CIC 528-529), enquanto os fiéis leigos deveriam esforçar-se por compreender e exercer o munus regale que lhes é próprio no serviço ao Reino de Deus (cf. Lumen gentium LG 31). Em síntese, toda a comunidade cristã precisa de ser encorajada a passar "da Missa à "Missão"" (Carta Apostólica Dies Domini, 45), na busca da santidade e no serviço da nova evangelização.

4. Uma preocupação fundamental do governo responsável deve consistir em prover ao futuro. Ninguém pode negar que a diminuição das vocações sacerdotais representa um desafio difícil para a Igreja que peregrina nos Estados Unidos da América, e um desafio que não pode ser ignorado nem deixado de lado. A resposta a este desafio deve ser a oração insistente, em conformidade com o mandamento do Senhor (cf. Mt Mt 9,37-38), acompanhada de um programa de promoção vocacional que inclua todos os aspectos da vida eclesial. Dado que "a responsabilidade de promover vocações para o sacerdócio cabe a todo o Povo de Deus e se realiza principalmente na oração constante e humilde pelas vocações" (Ecclesia in America ), eu gostaria de propor à vossa consideração que a comunidade católica no vosso país reservasse anualmente um dia nacional de oração pelas vocações sacerdotais.

A solicitude pelo futuro exige também que se preste uma atenção particular à formação seminarística, que tem necessidade de incutir nos estudantes que se preparam para o sacerdócio não só uma visão teológica integral, mas inclusivamente um compromisso em prol da santidade e da sabedoria espiritual, assim como a formação para uma liderança prudente e uma dedicação altruísta a toda a grei. A este propósito, gostaria também de encorajar-vos a não poupar qualquer esforço em vista de assegurar ao clero uma sólida educação permanente e, em particular, de considerar como uma parte essencial do vosso governo o envio dos vossos sacerdotes, para os estudos avançados nas ciências eclesiásticas, de maneira especial na teologia e no direito canónico. Esta formação, independentemente dos sacrifícios que possa exigir, deveria ser considerada como um manancial de enriquecimento duradouro para a vida da Igreja particular.

5. Prezados Irmãos, a visão do Concílio Vaticano II, a herança espiritual do Grande Jubileu e as necessidades pastorais dos fiéis que vivem na América contemporânea requerem um renovado compromisso no âmago da missão da Igreja: a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo na sua integridade, o apelo à obediência da fé, a promoção da santidade e a labuta em favor da propagação do Reino de Deus em todos os aspectos da vida pessoal, social e cultural. Enquanto procurais desempenhar esta grande obra de comunhão em companhia dos vossos Irmãos sacerdotes, os vossos diáconos, os consagrados e as consagradas que pertencem às vossas Igrejas particulares, assim como todos os fiéis leigos, na variedade dos seus dotes e das suas vocações, confio todos vós à intercessão amorosa de Maria, Mãe da Igreja, e concedo-vos cordialmente a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e paz duradouras no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL


DAS ADMINISTRAÇÕES PENITENCIÁRIAS DA EUROPA


Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004

Ilustres Senhores e gentis Senhoras!


1. É com verdadeiro prazer que vos recebo hoje, a vós que participais em Roma na Conferência dos Responsáveis das Administrações Penitenciárias dos 45 Estados que aderiram ao Conselho da Europa. Obrigado pela vossa apreciável visita, que me oferece a ocasião de conhecer melhor a vossa actividade e os vossos projectos. Estais a enfrentar temáticas actuais como nunca, que dizem respeito à gestão dos presos e das estruturas carcerárias da Europa.

Saúdo-vos a todos com deferência. Saúdo de modo especial o Director-Geral dos Assuntos Legais no Conselho da Europa e o Chefe de Departamento da Administração Penitenciária Italiana, aos quais exprimo profunda gratidão pelas palavras que gentilmente me dirigiram em nome de todos.

2. Estais a reflectir sobre o modo de adequar cada vez mais às exigências dos presos as normas penitenciárias da Europa. A este propósito, não há dúvida de que se deve reconhecer sempre ao prisioneiro a dignidade de pessoa, como sujeito de direitos e de deveres. Em cada Nação civil deve ser uma preocupação partilhada a tutela dos direitos inalienáveis de cada ser humano.

Portanto, com o compromisso de todos deverão ser corrigidas eventuais leis e normas que os impeçam, especialmente quando se trata do direito à vida e à saúde, do direito à cultura, ao trabalho, à prática da liberdade de pensamento e à profissão da própria fé.

O respeito da dignidade humana é um valor da cultura europeia, que mergulha as suas raízes no cristianismo; um valor humano universal e, como tal, susceptível do mais amplo consenso. Cada Estado deve preocupar-se por que em todas as prisões seja garantido o respeito total dos direitos fundamentais do homem.

3. Medidas simplesmente restritivas ou repressivas, às quais normalmente hoje se recorre, demonstram-se inadequadas para a consecução de objectivos de recuperação autêntica dos presos. Portanto, é necessário reconsiderar, como já estais a fazer, a situação carcerária nos seus próprios fundamentos e nas suas finalidades.

Se o objectivo das estruturas carcerárias não é só a detenção, mas também a recuperação dos presos, é necessário abolir aqueles tratamentos físicos e morais que prejudicam a dignidade humana e comprometer-se a qualificar melhor, sob o ponto de vista profissional, o papel de quem trabalha nos institutos carcerários.

4. Nesta perspectiva, deve ser encorajada a busca de penas alternativas ao cárcere, apoiando as iniciativas de autêntica inserção social dos presos com programas de formação humana, profissional e espiritual.

Neste contexto, é reconhecida a utilidade do papel dos ministros de culto. Eles são chamados a desempenhar uma tarefa delicada e nalguns aspectos insubstituível, que não se limita unicamente aos actos de culto, mas se alarga muitas vezes àqueles ambientes sociais dos presos que a estrutura carcerária nem sempre é capaz de satisfazer.

Como não reconhecer com prazer que se estão a multiplicar as instituições e associações de voluntariado que se dedicam à assistência dos presos e à sua reinserção na sociedade?

5. Preocupação legítima, recordada por alguns, é que o respeito da dignidade humana dos presos não prejudique a tutela da sociedade. Por isso se insiste sobre a necessidade de defender os cidadãos, também com aquelas formas de dissuasão que são representadas pela exemplaridade das punições. Mas a aplicação obrigatória da justiça para defender os cidadãos e a ordem pública não está em contraste com a atenção que se deve aos direitos dos presos e à recuperação das suas pessoas; ao contrário, trata-se de dois aspectos que se integram. Prevenção e repressão, detenção e reinserção na sociedade são intervenções entre si complementares.

Ilustres Senhores e gentis Senhoras! Deus ampare os vossos esforços por fazer com que a prisão seja um lugar de humanidade, de redenção e de esperança. Garanto a minha oração e invoco a bênção de Deus sobre vós aqui presentes e sobre quantos prestam o seu serviço nas prisões europeias, dirigindo um pensamento particularmente afectuoso a todos os detidos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO DA COMUNIDADE


"PAPA JOÃO XXIII"


Segunda-feira, 29 de Novembro de 2004




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Estou feliz por acolher e saudar cada um de vós, aqui reunidos por ocasião desta especial Audiência aos representantes dos numerosos membros da Associação da Comunidade "Papa João XXIII", difundida na Itália e noutros vinte países do mundo.

Saúdo com particular afecto o vosso Fundador e Responsável-Geral, o querido Pe. Oreste Benzi, a quem agradeço as palavras que me dirigiu em nome de todos. Dirijo uma saudação aos seus colaboradores, sacerdotes, consagrados, consagradas e quantos fazem parte, de várias formas, da vossa benemérita Associação, que precisamente nestes dias está a celebrar o trigésimo aniversário de fundação.

2. Desde as origens, ou seja, desde que o Pe. Oreste Benzi fundou a sua primeira casa-família, a vossa Comunidade, que há alguns meses foi reconhecida como Associação internacional desprovida de fiéis de direito pontifício, distinguiu-se por um serviço peculiar aos últimos e por um estilo de partilha autêntica, destinada a regenerar no amor aqueles que, por vários motivos, vivem sem uma família.

Ela é constantemente encorajada pelos vossos Pastores e continua a manter relacionamentos de sintonia cordial com as dioceses e as paróquias em que se encontra a trabalhar. Além disso, as vossas actividades procuram inserir-se no território e abrem-se à colaboração das estruturas sociais públicas e particulares, contudo sem faltar à sua típica inspiração cristã que sempre as orienta e as anima.

3. Vós estais bem conscientes de que a acção caritativa para com os irmãos adquire o seu valor integral, quando se fundamenta no primado do amor de Deus. Para oferecer um amor genuíno aos irmãos é necessário hauri-lo de Deus. É por isso que vós dedicais, oportunamente, prolongados momentos à oração e à escuta da Palavra de Deus, enquanto fundamentais toda a vossa existência em Cristo.

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Continuai a cuidar da vossa formação espiritual e da frequência assídua dos Sacramentos. Em particular, fazei da Eucaristia o coração das casas-família e de todas as outras actividades sociais e educativas. Durante o corrente ano, dedicado ao Sacramento do Altar, reavivai o ardor contemplativo e o amor pelo Redentor divino que, na Eucaristia, se faz para nós alimento de vida imortal. Hauri dele a energia espiritual para serdes trabalhadores incansáveis do seu Evangelho, dando testemunho da sua ternura a quantos vivem em condições de dificuldade e de abandono.

Começa precisamente no dia de hoje a Novena da Imaculada. Confio-vos a Ela, Virgem Mãe de Deus, para que vos torne sempre semeadores de esperança, de amor e de paz. É com estes sentimentos que vos concedo, a vós aqui presentes, a toda a Associação e a quantos contribuem de qualquer forma para a vossa importante obra, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS LEGINÁRIOS DE CRISTO


E AOS MEMBROS DO MOVIMENTO


"REGNUM CHRISTI"


Terça-feira, 30 de Novembro de 2004

Caríssimos Irmãos e Irmãs


1. É-me grato encontrar-me com todos vós, no clima de alegria e de reconhecimento ao Senhor pelo 60º aniversário de Ordenação sacerdotal do Rev.do Pe. Marcial Maciel Degollado, Fundador e Superior-Geral da vossa jovem e benemérita Família religiosa.

Em primeiro lugar, dirijo ao Pe. Maciel a minha afectuosa saudação, que acompanho de bom grado com os cordiais bons votos para um ministério presbiteral repleto dos dons do Espírito Santo.

Além disso, saúdo os Superiores do Instituto, de maneira particular o Vigário-Geral, a quem agradeço as palavras que me dirigiu em nome de todos. Depois, transmito a minha saudação a vós, prezados Sacerdotes e Seminaristas Legionários de Cristo, a vós, estimados membros do Movimento Regnum Christi, e a quantos de vós participastes nas celebrações jubilares realizadas nestes dias.

2. A feliz celebração que reúne todos vós à volta do Fundador, enquanto convida a recordar as dádivas que ele recebeu do Senhor ao longo destes sessenta anos de ministério sacerdotal, constitui ao mesmo tempo uma ocasião para reiterar os compromissos que, como Legionários de Cristo, vós assumistes ao serviço do Evangelho. Em particular no dia hoje, ao encontrar-vos com o Sucessor de Pedro, desejais renovar o compromisso da vossa fidelidade total à Igreja e àquele que a Providência desejou como seu Pastor.

Neste encontro significativo, é com prazer que vos repito aquilo que tive a oportunidade de vos dizer, no termo do Grande Jubileu do Ano 2000: "Hoje, mais do que nunca, é necessária uma confiante proclamação do Evangelho que, abandonando todos os temores paralisantes, anuncie com profundidade intelectual e com coragem a verdade acerca de Deus, do homem e do mundo" (Discurso aos Legionários de Cristo e aos membros do Movimento "Regnum Christi",n. 4).

3. Para completar esta missão comprometedora, é indispensável cultivar uma intimidade constante com Cristo, procurando segui-lo e imitá-lo docilmente. Isto tornar-vos-á sempre prontos a corresponder às expectativas mais autênticas e profundas dos homens e das mulheres do nosso tempo.

O Ano da Eucaristia, que começou em Outubro, constitua para vós uma ocasião propícia para crescer no amor eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã. Para a Igreja, este sumo Mistério é o dom por excelência de Cristo, porque é o "dom dele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação" (Ecclesia de Eucharistia EE 11).

4. Permanecei unidos na Eucaristia! Fiéis ao carisma que vos caracteriza, continuai a vossa missão evangelizadora, alimentando-vos de Cristo e tornando-vos suas intrépidas testemunhas.
Que vos acompanhem os vossos santos protectores; e vos sirva de guia e de sustento sobretudo Maria Santíssima, "Nossa Senhora do Socorro".

Com estes sentimentos e bons votos, é de coração que concedo ao querido Pe. Maciel e a todos vós aqui presentes uma especial Bênção Apostólica que, de bom grado, faço extensiva aos membros da vossa Família religiosa e a quantos encontrais no vosso apostolado quotidiano.

                                                                                Dezembro de 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR TEODORO OBIANG GUEMA MBASOGO


PRESIDENTE DA GUINÉ EQUATORIAL


Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2004


Senhor Presidente

A sua visita proporciona-me a oportunidade de enviar uma saudação à querida população guineense, tantas vezes presente na minha recordação e oração.

No seu País, que tive a honra de visitar em 1982, a Igreja, juntamente com a evangelização, desenvolve com os meios ao seu alcance uma generosa obra no campo da educação, da saúde, e da promoção dos mais necessitados. Inspirando-se no Evangelho, deseja unicamente contribuir para a promoção da dignidade do homem, num clima adequado de liberdade, colaboração, reconciliação, compreensão e respeito, que torne possível a realização pacífica e fecunda da sua missão espiritual e humanitária.

Por conseguinte, faço votos por que este encontro contribua para um entendimento e para relacionamentos cordiais e serenos entre as autoridades públicas e a comunidade cristã, que originarão benefícios para todos os cidadãos na sua aspiração por melhorar as próprias condições de vida, para que se possam realizar como pessoas e como filhos de Deus.

Grato pela sua visita, formulo os meus melhores votos por todo o povo da Guiné e invoco sobre ele abundantes bênçãos divinas que os encoragem nas suas esperanças e aspirações legítimas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO INSTITUTO SECULAR


DOS SERVOS DO SOFRIMENTO


2 de Dezembro de 2004



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por vos apresentar uma cordial saudação a todos vós, que quisestes realizar esta visita ao Sucessor de Pedro, no 10º aniversário de fundação do vosso Instituto. Sede bem-vindos!

Saúdo D. Beniamino Luigi Papa, Arcebispo de Tarento, que vos acompanha, e agradeço-lhe as gentis expressões que me dirigiu em vosso nome. Desejo manifestar também ao vosso fundador, D. Pietro Galeone, e a toda a vossa família dos "Servos do Sofrimento" o meu apreço mais sentido pela obra que desempenhais na Itália e noutras nações, seguindo Cristo que, com a sua Paixão, redimiu o mundo.

2. O vosso Instituto secular surgiu de um explícito desejo de São Pio de Pietrelcina, com a finalidade de servir quantos se encontram no sofrimento. No espaço de dez anos ele cresceu notavelmente, tornando-se veículo de esperança para tantas pessoas duramente provadas no corpo e no espírito. Vós sois chamados a proclamar o Evangelho do sofrimento iluminado pela fé. Escrevi na Carta apostólica Salvifici doloris que para os cristãos "o Evangelho do sofrimento significa não apenas a presença do sofrimento no Evangelho, como um dos temas da Boa Nova, mas também a revelação da força salvífica e do significado salvífico do sofrimento na missão messiânica de Cristo e, em seguida, na missão e na vocação da Igreja" (n. 25).

3. Caríssimos, olhando para a nuvem de sofrimento físico e espiritual que encobre a humanidade, como é necessário o testemunho que dais! Como "Servos do Sofrimento", sede "cireneus" silenciosos que ajudam quantos estão na prova e lhes dão a certeza de que Deus não se esquece de lágrima alguma, mas ao contrário, as reúne todas e as inscreve no seu livro (cf. Sl Ps 56,9).

Segui as pegadas de Padre Pio, cujos ensinamentos são sempre de grande actualidade; inspirai-vos constantemente neles. Sede, como ele, apóstolos da oração e do sofrimento! A oração ilumina o coração e predispõe-no a aceitar o sofrimento; o sofrimento, aceite em dócil abandono a Deus, abre o coração à compreensão do sofrimento do próximo.

A Virgem Santa vos acompanhe e faça com que sejais cada vez mais fiéis à vossa missão na Igreja. Com estes votos abençoo-vos a todos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À FEDERAÇÃO ITALIANA


DOS SEMANÁRIOS CATÓLICOS


Sexta-feira, 3 de Dezembro de 2004


Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Sinto-me feliz por vos receber, por ocasião da trienal Assembleia da Federação Italiana dos Semanais Católicos. Saúdo cordialmente todos vós, que representais os cerca de 150 jornais diocesanos, os vossos colaboradores, e faço o meu cordial pensamento extensivo a todos os vossos leitores. De modo particular saúdo o vosso Presidente, Rev.mo Mons. Vincenzo Rini, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em vosso nome.

2. Graças a Deus a Itália possui uma rica tradição de semanais católicos, com luminosas figuras de sacerdotes e leigos, que marcaram a sua história. Entre eles, gostaria de recordar Mons. Andrea Spada, por vós bem conhecido, que veio a faltar precisamente nestes dias. O contributo de jornalistas católicos manifesta-se ser também hoje precioso como nunca a nível quer pastoral quer cultural e social.

Eles oferecem, em primeiro lugar, um serviço de informação sobre a vida da Igreja, juntamente com oportunos subsídios de documentação e de aprofundamento sobre as iniciativas eclesiais e sobre os seus conteúdos. Depois, considerando a sua vasta difusão a nível local, os semanais diocesanos concorrem validamente para permear as famílias, as paróquias e as cidades com os valores cristãos que formam grande parte do património espiritual do povo italiano. Penso, em particular, na tutela da vida humana na sua integridade; além disso, penso no matrimónio e na família, que uma mal-entendida cultura dos "direitos pessoais" tende a desnaturar; por fim, penso nos valores da verdade, da justiça e da solidariedade.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs, obrigado pelo serviço que, com os vossos jornais, prestais à edificação da "civilização do amor". Na época da comunicação global, esta vossa missão torna-se sempre mais difícil. Caríssimos, não desanimeis perante as dificuldades que encontrardes. Continuai com empenho a anunciar o Evangelho da verdade e da esperança dos "púlpitos" singulares que são os vossos semanários diocesanos, permanecendo sempre abertos às grandes perspectivas da Igreja universal.

4. Para poder cumprir plenamente esta vossa missão tende a preocupação de que não vos falte, primeiro a vós, o necessário alimento espiritual da oração e de uma vida sacramental intensa. Além disso, preocupai-vos por enriquecer a vossa formação ética e cultural, para que as vossas convicções se mantenham em sintonia com o Evangelho e não se deixem desviar por perniciosas tendências dominantes de uma certa cultura moderna.

Que a Virgem Imaculada vos proteja; São Francisco Xavier, padroeiro das missões, do qual se celebra hoje a memória litúrgica, interceda por vós. Garanto-vos a minha recordação na oração e a todos vós, juntamente com os vossos queridos, concedo de coração a Bênção Apostólica.




DIscursos João Paulo II 2004