DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR EMILIO MARIN


NOVO EMBAIXADOR DA CROÁCIA JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 11 de Dezembro de 2004




Senhor Embaixador!

1. Sinto-me feliz em receber Vossa Excelência para a apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Croácia junto da Santa Sé.

Estou-lhe grato pelas cordiais expressões que houve por bem dirigir-me também em nome do Presidente da República, do Governo e do Povo croata que Vossa Excelência aqui representa. Peço-lhe que lhes faça chegar a certeza da minha estima e da minha benevolência, assim como a minha oração pela concórdia e pelo desenvolvimento harmonioso de toda a Nação.

2. Ao receber Vossa Excelência, o meu pensamento dirige-se para a bonita e hospitaleira Croácia, que tive a alegria de visitar três vezes. A última peregrinação apostólica, no ano passado, coincidiu com a minha centésima viagem internacional. Todas as vezes me foi possível aperceber-me directamente como são visíveis os sinais de um cristianismo encarnado na vida do povo.

Haurindo deste imarcessível património religioso, os Croatas continuarão a construir também no futuro a própria história e, fortalecidos pela sua identidade espiritual, poderão dar à comunidade dos povos europeus o contributo da sua experiência. Por isso, faço votos por que tenham êxito positivo os crescentes esforços para fazer parte da Europa unida e partilho a preocupação expressa por alguns, segundo a qual o atraso da entrada da Croácia na União Europeia poderia causar danos ao processo de realização das reformas democráticas não só neste País, mas nas outras Nações daquela parte do Continente, que se estão a encaminhar com fervorosa esperança para a integração europeia.

3. Senhor Embaixador, nas palavras pronunciadas por Vossa Excelência sobre o compromisso do Povo Croata para favorecer o diálogo, a reconciliação e a paz na Pátria e na comunidade mais ampla dos Países euro-atlânticos, captei aquela universal aspiração pela justiça e pela cooperação que o anima desde sempre. Sem dúvida, compete em primeiro lugar aos responsáveis das Instituições encontrar modos práticos e técnicos para transpôr para leis e iniciativas políticas estas aspirações. Contudo, os crentes sabem que a paz não é só fruto de planificações e iniciativas humanas, porque a justiça e o perdão constituem os pilares básicos. A justiça garante o pleno respeito dos direitos e dos deveres, e o perdão cura e reconstrói a partir da base as relações entre as pessoas que ainda ressentem das consequências dos conflitos entre as ideologias do passado recente.

Sim! É verdade, também o País que Vossa Excelência aqui representa precisa da reconciliação e da paz. Penso também no problema ainda existente dos prófugos e dos exilados, sobretudo dos que são originários da Bósnia e Herzegovina, que esperam poder regressar às suas casas.
Desejo exprimir o meu apreço pelos passos concretos empreendidos para o resolver, e formulo fervorosos votos por que seja efectivamente concedido e facilitado a todos o regresso à Pátria. A este propósito, o recente acordo entre a Croácia e a Sérvia constitui um contributo importante e positivo para garantir o reconhecimento pleno e recíproco dos direitos da minoria na Sérvia e Montenegro, e da minoria servia na República da Croácia.

Depois da triste experiência de um totalitarismo que nega os direitos fundamentais da pessoa humana, e tendo superado a triste estação da última guerra, a Croácia encaminha-se agora para um progresso harmonioso, dando provas de paciência, disponibilidade para o sacrifício e optimismo perseverante, tenazmente inclinada para um futuro melhor para todos os seus habitantes. Um desenvolvimento social e económico estável não pode deixar de ter em consideração as necessidades culturais, sociais e espirituais do povo, e deve também valorizar as tradições e os recursos populares mais nobres. E isto na consciência de que o crescente fenómeno da globalização a nível mundial, com consequências negativas para o nivelamento das diversidades sociais e económicas também no seu País, poderia agravar o desequilíbrio que já existe nas relações entre os que tiram vantagens das sempre maiores possibilidades de produzir riqueza, e quantos são deixados à margem do progresso.

5. Senhor Embaixador, o seu País orgulha-se por uma longa tradição de proveitosa colaboração entre a Comunidade eclesial e a civil. A Igreja desempenhou, também no passado recente, um papel positivo para a reconciliação e a solução de não poucos problemas e tensões. Tive a ocasião de encorajar várias vezes os Bispos a não poupar os seus esforços para promover uma evangelização que valorize os elementos válidos da religiosidade popular, e para cooperar activamente com o Estado para o verdadeiro bem da sociedade croata.

A este propósito, resultam positivos os acordos estabelecidos entre a Santa Sé e a Croácia, que estão a demonstrar a sua eficiência, mesmo se em alguns aspectos ainda aguardem a plena realização. E tenho motivos para pensar que as boas relações existentes entre o Governo e a Igreja na Croácia facilitarão qualquer ulterior passo para incrementar o entendimento recíproco em benefício de todos os cidadãos.

6. Senhor Embaixador, tenho a certeza de que, no cumprimento do alto cargo que lhe foi confiado, contribuirá para intensificar as boas relações já existentes entre a Santa Sé a o seu País, e garanto-lhe que poderá contar, para esta finalidade, com a plena disponibilidade de todos os meus colaboradores.

Além disso, desejo-lhe uma estadia agradável na cidade de Roma, rica de história, de cultura e de fé cristã, cujos vestígios de antiguidade são bem conhecidos pela sua grande experiência de estudioso de antiguidades romanas e de arqueologia cristã.

Ao invocar a celeste protecção da Mãe de Deus, venerada como Advocata Croatiae fidelissima, e de São José, Padroeiro da Croácia, sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre os Governantes e sobre todos os habitantes da amada Nação croata, concedo-lhe de coração, assim como às pessoas que lhe são queridas e a quantos aqui representa a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS


PROVENIENTES DA FRANÇA


Sábado, 11 de Dezembro de 2004


Amados Irmãos no Episcopado
Queridos amigos!

Sinto-me feliz de vos acolher, saudando especialmente D. Jacques Perrier, Bispo de Tarbes e Lourdes. Recordo com emoção a minha peregrinação à Gruta de Massabielle, agradecendo o acolhimento caloroso, que me consentiu recolher-me junto de Nossa Senhora nesse 150º aniversário do dogma da Imaculada Conceição.

Agradeço todas as pessoas que contribuíram para a realização da minha estadia. O meu pensamento dirige-se para os doentes e para todos os benfeitores dos Santuários. Uno-me também a todos os peregrinos que vão ali confiar as suas intenções a Maria, Mãe da Igreja e nossa Mãe, convidando cada um a colocar-se na sua escola. Ao confiar-vos a Nossa Senhora e a Santa Bernadete, concedo-vos a Bênção Apostólica, assim como a todos os diocesanos e às pessoas que trabalham nos santuários.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À FRATERNIDADE DOS FILHOS E FILHAS DA CRUZ


13 de Dezembro de 2004



1. É com alegria que vos recebo hoje e vos saúdo cordialmente, queridos Filhos da Cruz. Saúdo o Cardeal Andrea Maria Deskur que vos acompanha, e os responsáveis do vosso Instituto.

Este nosso encontro assume um valor singular porque se realiza a poucos dias depois da solenidade da Imaculada Conceição. Além disso, celebra-se este ano o 150º aniversário da proclamação deste importante dogma mariano por parte do meu predecessor, o beato Pio IX.

2. Queridos Filhos da Cruz! A vossa espiritualidade está impregnada de devoção e de amor à Virgem Mãe de Deus.

Amai Nossa Senhora à qual vos consagrastes totalmente e sede como ela discípulos fiéis de Cristo.

Servi a Igreja com entusiasmo, cultivando a unidade e a plena sintonia com os Pastores das Comunidades cristãs às quais ofereceis a vossa cooperação pastoral. Desta forma, sereis testemunhas eficazes d'Aquele, que do alto da Cruz nos confiou a todos como filhos à sua Mãe dulcíssima.

A Imaculada continue a guiar os vossos passos e vos conforme cada vez mais com Jesus que, daqui a alguns dias, contemplaremos o Menino no mistério do Santo Natal. Formulo a todos vós bons votos para as festas de Natal e abençoo-vos de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR PRADAP PIBULSONGGRAM


NOVO EMBAIXADOR DA TAILÂNDIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Dezembro de 2004




Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e que aceito as Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Tailândia junto da Santa Sé. Estou grato pelas amáveis saudações que Vossa Excelência me comunica da parte de Sua Majestade o Rei Bhumibol Adulyadej, e peço-lhe que tenha a amabilidade de lhe transmitir a certeza das minhas preces pela sua nação e pelo seu povo. Os laços duradouros que existem entre o Reino da Tailândia e a Santa Sé encontram a sua origem no século XVII, quando Sua Majestade o Rei Narai, o Grande, e o Papa Inocêncio XI deram início a um relacionamento cordial e amistoso. Efectivamente, estes vínculos permanecem como uma fonte de orgulho para ambas as partes interessadas.

A Tailândia continua a cultivar, admiravelmente, um clima de tolerância religiosa e de coexistência pacífica entre os seus cidadãos. Com efeito, esta nobre tradição em que os seguidores de diferentes credos vivem em conjunto e harmonia, constitui um dos fundamentos do seu país.

Exemplos disto podem ser encontrados não apenas na função da Coroa como protectora dos valores morais e religiosos da nação, mas inclusivamente na garantia oferecida pela nova constituição ao direito à plena expressão religiosa e também à liberdade de religião. Não obstante, é lamentável que até mesmo nas sociedades mais tolerantes podem existir desafios ao relacionamento pacífico entre os povos e as pessoas. A este propósito, asseguro Vossa Excelência que a Igreja Católica tem uma experiência considerável no campo dos relacionamentos inter-religiosos, enquanto permanece sempre desejosa de participar activamente em vista de promover e facilitar o diálogo, para assim ajudar a resolver os problemas que possam surgir.

Uma das formas primárias de apoio da Igreja à sociedade civil no desenvolvimento do respeito e da compreensão entre os diversos grupos consiste no seu compromisso no campo da educação. A instrução adequada faz com que as pessoas consigam adquirir o conhecimento necessário para se tornar membros que contribuem plenamente para o progresso da sociedade, promovendo a solidariedade e o respeito que une os indivíduos, as famílias, os povos e as nações. A humanidade aspira à harmonia e à tranquilidade, e esta aspiração só pode ser realizada plenamente através de uma participação activa e iluminada de todos os sectores da vida pública. A educação arraigada nos valores autênticos constitui a chave para o futuro, o âmago da comunicação apropriada e o caminho para o verdadeiro desenvolvimento.

Nas suas observações, Vossa Excelência mencionou o reconhecimento da parte de Sua Majestade o Rei Bhumibol Adulyadej, de que os membros da população da Tailândia têm necessidade de se ajudar uns aos outros. A sua filosofia em vista da reforma económica esclarece este conceito, enquanto procura ajudar aquelas pessoas que se encontram nos níveis económicos mais baixos, promovendo o seu acesso aos recursos e às tecnologias locais.

Exorto a sua nação a continuar a ajudar os indivíduos que se encontram em maior necessidade, a fim de que também eles possam alcançar a auto-suficiência económica, à qual de resto têm direito. Uma das maneiras mais eficazes de assegurar que isto se verifique, consiste em salvaguardar a vida familiar. Com efeito, a vida familiar forja a ordem social e ética do trabalho do homem, e constitui o verdadeiro manancial do progresso económico mais genuíno (cf. Carta Encíclica Laborem exercens LE 10). No continente asiático, a família tem gozado tradicionalmente de um elevado nível de estima; ela não é só considerada o fulcro dos relacionamentos interpessoais, mas inclusivamente o lugar onde se alcança a segurança económica para todos os seus membros. "Por conseguinte, a família deve justamente ser considerada como um elemento essencial para a vida económica, orientada não só pela mentalidade do mercado, mas também pela lógica da partilha e da solidariedade entre as várias gerações" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 248). Formulo votos a fim de que o seu Governo consiga promover um respeito cada vez maior pela importância da família, convencendo os seus cidadãos mais jovens de que a riqueza material e o lucro económico rápido não constituem de modo algum uma substituição para o relacionamento amoroso que se encontra no seio da "sociedade doméstica".

Em seguida, Vossa Excelência salientou a importância do papel que está a ser desempenhado pela Tailândia no âmbito das políticas regionais e mundiais. O crescimento da influência do seu país na comunidade internacional constitui um sinal clarividente das suas conquistas nos campos social e político. Rezo para que as autoridades civis continuem a participar de maneira activa na promoção das soluções para os graves problemas globais do tempo presente. Senhor Embaixador, tenha certeza de que a Igreja permanece comprometida em dar a sua assistência para a abordagem deste desafio, promovendo o respeito pela lei internacional e, de modo particular, encorajando a comunidade internacional a dar continuidade à busca de mecanismos multilaterais que possam levar a uma resolução pacífica dos conflitos e um acesso mais amplo à assistência humanitária.

Senhor Embaixador, formulo-lhe os meus melhores votos no início desta sua missão, enquanto lhe garanto a disponibilidade dos vários Departamentos da Santa Sé para o assistir no desempenho do seu trabalho. Invoco as abundantes bênçãos divinas sobre Vossa Excelência e sobre toda a querida população do Reino da Tailândia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR LARS PETTER FORBERG


NOVO EMBAIXADOR DA NORUEGA


JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Dezembro de 2004




Excelência

É-me grato dirigir-lhe as saudações de boas-vindas, no dia hoje, e aceitar as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é designado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Noruega junto da Santa Sé. Não obstante a minha visita ao seu país já tenha sido realizada há vários anos, é com simpatia que me recordo do grande afecto e da hospitalidade que então me foram reservados. Estou grato ao Senhor Embaixador pelas amáveis expressões de saudação que me quis transmitir da parte de Sua Majestade o Rei Harald V e da do Primeiro-Ministro, Sua Ex.cia o Senhor Bondevik. Pediria a Vossa Excelência que comunicasse à Família Real, aos membros do Governo e a todo o Povo da Noruega a manifestação dos meus bons votos, bem como a certeza das minhas orações pelo bem-estar de toda a nação.

No âmago das actividades diplomáticas da Santa Sé existe um compromisso duradouro em defesa da dignidade da pessoa humana. Esta promoção dos direitos do homem, da justiça social e da solidariedade deriva do reconhecimento da origem comum de toda a vida e, ao mesmo tempo, indica o destino conjunto de todos os homens e de todas as mulheres. Nesta amplitude de perspectiva, lança-se luz sobre a dimensão transcendental da humanidade, em vista de contrastar a fragmentação social e o secularismo, tão tristemente imperantes no âmbito de numerosas sociedades contemporâneas e, ao mesmo tempo, oferecendo um fundamento seguro para a solidariedade e para a harmonia no nosso mundo em geral.

No seio da comunidade internacional, a Noruega tem sido reconhecida desde há muito tempo pela sua generosidade em benefício das nações que se encontram em vias de desenvolvimento. Expressões tangíveis desta generosidade podem ser encontradas, por exemplo, na participação da sua nação nas várias operações de manutenção da paz, na contribuição para os projectos de assistência e na disponibilidade a lutar contra o tráfico armamentista, assim como na promoção do desenvolvimento sustentável e na salvaguarda do meio ambiente. Estes gestos de solidariedade constituem a expressão de uma vontade perseverante em ordem a promover o bem comum e, ao seu nível mais significativo, contribuem também para evidenciar o reconhecimento da natureza fundamental da vida humana como uma dádiva e do nosso mundo como uma família de pessoas. Com efeito, os verdadeiros actos de solidariedade constituem mais do que simples gestos unilaterais de boa vontade, dado que eles promovem o desígnio universal de Deus para toda a humanidade e, em sintonia com esta mesma visão, enfrentam os complicados desafios da justiça, da liberdade dos povos e da paz.

Como o Senhor Embaixador justamente desejou observar, no passado a cristandade foi de importância fundamental na história da Noruega. Mas deve sê-lo igualmente no presente e também no futuro. Na visita pastoral que pude realizar ao seu país, fui como um peregrino desejoso de prestar uma homenagem à vida de Santo Olavo e de outros grandes Santos do Norte, cujo exemplo ainda hoje nos fala acerca das profundas verdades e dos valores que forjaram a cultura norueguesa ao longo de um arco de tempo de mais de mil anos. E ainda agora estes princípios-guia conservam o seu significado para a sociedade contemporânea, uma vez que revelam "a esfera mais profunda do homem" e oferecem "o sentido da sua existência no mundo" (cf. Redemptor hominis RH 10). Efectivamente, como podem ser considerados de maneira extraordinária através do testemunho dos Santos, os valores que se encontram no coração da Europa cristã exortam todos os homens e todas as mulheres "a orientar os seus passos também para uma realidade que os transcende" (cf. Fides et ratio FR 5), a fim de que assim o bem consiga prevalecer e Deus possa ser honrado. Quando perdem de vista este objectivo, que é a sua única garantia de liberdade e de felicidade, os indivíduos tornam-se como que prisioneiros de ideologias falazes e então são incapazes de elevar o seu olhar para as alturas da finalidade da vida.

A este propósito, não se pode deixar de observar que o eclipse do sentido de Deus lançou as suas sombras não apenas sobre o seu próprio país, Senhor Embaixador, mas inclusivamente sobre as demais terras espalhadas pelo Norte. No contexto deste inquietador processo de secularização, como já tive a oportunidade de frisar em numerosas ocasiões, é o matrimónio e a família que passam a ser mormente ameaçados. Por este motivo, continuo a exortar tanto os chefes religiosos como os líderes civis em geral a promover a instituição sagrada do matrimónio, desejado por Deus a partir do próprio acto da criação, com a sua correspondente vida familiar estável. A verdade acerca da sexualidade humana manifesta-se na beleza do amor dos casais, como um dom singular e exclusivo de si mesmo ao outro, e na aceitação recíproca daquela maravilhosa dádiva, mediante a qual ambos se tornam cooperadores de Deus na geração da vida de uma nova pessoa humana (cf. Familiaris consortio FC 14). Os desvirtuamentos seculares e pragmáticos da realidade do matrimónio jamais podem ser comparados com o esplendor da aliança que perdura uma vida inteira, fundamentada sobre a entrega pessoal generosa e sobre o amor incondicional, e por isso só prejudicarão a base sobre a qual se consolidam as aspirações legítimas de uma determinada nação.

Desde o início do meu Pontificado, comprometi-me no ecumenismo, escolhendo-o como uma prioridade da minha solicitude e das minhas actividades pastorais. A consciência da história conjunta, compartilhada por todos os cristãos, tem alimentado a fraternidade e o diálogo, unindo o testemunho cristão em prol do desenvolvimento do Reino de Deus no meio de todos nós (cf. Ut unum sint UUS 41). Neste sentido, encorajo todos os líderes religiosos da sua nação a perseverarem ao longo do caminho rumo à unidade cristã. Deste modo, eles contribuirão para ajudar todos os noruegueses a beber da sua rica herança de fé cristã, hoje já ultramilenária: em Cristo, todas as pessoas tanto os autóctones, como os migrantes ou os estrangeiros são irmãos e irmãs, e os nossos gestos de solidariedade em favor deles tornam-se actos de amor e de fidelidade a Jesus Cristo, que veio para que nós pudéssemos ter vida, e vida em abundância (cf. Jo Jn 10,10).

Com estas palavras de encorajamento desejo assegurar-lhe, Senhor Embaixador, que a Igreja Católica continuará a trabalhar pelo enriquecimento espiritual e pelo progresso social de todo o povo norueguês. Mediante o seu testemunho de caridade, a Igreja vai ao encontro de todos os homens e mulheres, independentemente da sua etnia ou da sua religião, fomentando o desenvolvimento de uma "cultura da solidariedade" e dando uma renovada vida aos valores universais da coexistência humana (cf. Ecclesia in Europa, 85).

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a missão que Vossa Excelência começa no dia de hoje há-de contribuir para fortalecer os cordiais vínculos de compreensão e de cooperação já existentes entre a Noruega e a Santa Sé. No momento em que assume as suas novas responsabilidades, o Senhor Embaixador pode ter a certeza de que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SENHORA RAYCHELLE AWUOR OMAMO


NOVA EMBAIXADORA DO QUÉNIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Dezembro de 2004


Excelência

É com prazer que, hoje, faço extensivas as minhas cordiais saudações a Vossa Excelência e que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais é designada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária do Quénia junto da Santa Sé. Embora as minhas visitas pastorais ao seu país tenham sido realizadas há diversos anos, elas permanecem claramente gravadas na minha mente, como acontecimentos de grande alegria. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte do Senhor Presidente Kibaki, do Governo e de todos os cidadãos do Quénia. Peço-lhe que tenha a amabilidade de lhes comunicar os meus sinceros bons votos e a certeza das minhas preces pelo bem-estar da nação.

Quando cheguei a Nairobi, em 1995, pude observar que a sua nação e, efectivamente, todo o continente africano, se encontravam numa encruzilhada (cf. Discurso de chegada, Nairobi, 18 de Setembro de 1995). As suas populações e os seus líderes estavam a ser interpelados a pôr em prática toda a sua sabedoria no cumprimento da difícil e urgente tarefa de promoção de um governo democrático e de um desenvolvimento económico prudente, como elementos essenciais para a edificação de uma sociedade justa. Os "ventos de transformação" que alimentavam aquela aspiração conjunta não diminuíram; na realidade, adquiriram uma força ainda maior, enquanto os povos exigem acções cada vez mais insistentemente concretas, em vista de assegurar o progresso de uma vida cívica caracterizada pelo respeito, justiça e integridade (cf. Ecclesia in Africa ).

Hoje podemos dizer que o Quénia está encaminhado pela vereda da verdade e da paz. Opondo-se às consequências frequentemente inquietantes das tragédias humanas, que continuam a afligir o continente africano e outras regiões, a sua nação assumiu um papel de liderança na promoção de iniciativas de paz e de estabilidade social. A este propósito, a recente Assembleia do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, reunida na capital do seu país, dedicou uma atenção muito positiva ao Quénia, através dos meios de comunicação internacionais, granjeando-lhe a justa estima pela notável participação da sua nação nas missões e projectos de manutenção da paz, especialmente no Sudão e na Somália. Enquanto proporcionam alívio imediato às populações que estão a sofrer há demasiado tempo, porque são directamente atingidas pelos vários conflitos, estes empreendimentos generosos irão despertar também nos seus países confinantes um maior sentido de responsabilidade comum pela defesa e pela promoção dos direitos humanos fundamentais dos povos da vossa região. Quando há hesitação no seio da comunidade internacional, no que se refere à obrigação a respeitar e a realizar os direitos humanos (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, n. 5), a miséria acaba por prevalecer, como actualmente é muito evidente no Darfur.

Além da vontade de participar nos acordos e consensos, em vista de promover as relações internacionais, o desenvolvimento autêntico exige também a adesão dos países a um sólido plano de progresso nacional genuíno. Com efeito, o "vínculo inabalável entre a obra de paz e o respeito pela verdade" (Ibid., n. 8) sugere que o bom êxito da participação de um governo nos processos de paz no estrangeiro há-de depender em grande medida do nível de honestidade e de integridade com que ele mesmo governa no interior da sua nação. A este propósito, a determinação com que o Senhor Presidente Kibaki se esforça em vista de desarraigar o flagelo da corrupção, que debilita o espírito da nação, merece ser elogiada e exige um apoio concreto da parte de todos os líderes políticos e burocratas, a fim de que o bem comum possa florescer. Embora ainda haja muito a fazer, os êxitos já alcançados no Quénia são claramente um sinal de esperança. Ulteriores e vigorosos esforços, em vista de assegurar uma magistratura imparcial e de garantir a segurança através das normas da lei e da ordem, ainda são necessários e hão-de contribuir em grande medida para promover um espírito de optimismo entre os seus cidadãos e para atrair os investimentos necessários para a criação de oportunidades de emprego, que ofereçam um futuro melhor a todos e especialmente aos mais jovens.

A família permanece no coração das culturas da África. Trata-se de um tesouro que deve ser conservado e jamais subestimado, porque o futuro dos jovens do seu país e do mundo inteiro passa através da família (cf. Familiaris consortio FC 86). Por conseguinte, é justo que os líderes civis e religiosos trabalhem em conjunto para assegurar que a sagrada instituição do matrimónio, com a correspondente vida familiar estável, seja confirmada e assistida. A crise da vida familiar constitui sempre uma fonte de problemas insolúveis que, além de causar aflições incalculáveis aos indivíduos, debilita o próprio tecido da sociedade e os seus instrumentos de desenvolvimento seguro.

Embora continuem a ter confiança no futuro, as populações do Quénia estão, contudo, a sofrer devido a alguns profundos problemas sociais. As soluções não podem ser restringidas à mera remoção das dificuldades mas, ao contrário, exigem a coragem de abraçar um estilo de vida em fidelidade ao plano de Deus para todos os homens e mulheres. A este propósito, observo com profunda preocupação as medidas que actualmente estão a ser consideradas no seu país, para facilitar o aborto. Além de violar a dignidade essencial da vida, o aborto causa invariavelmente sofrimentos emotivos e psicológicos inauditos à mãe, que com muita frequência é vítima de circunstâncias contrárias às suas esperanças e aspirações mais profundas. De maneira análoga, no que se refere à tragédia da Sida, que actualmente toda a família humana está a enfrentar, é necessário recordar que, em última análise, se trata de uma questão de comportamento. A proposta de soluções que ignoram ou rejeitam o único fundamento genuíno da saúde e da felicidade a este propósito fidelidade sexual no seio do matrimónio e abstinência fora dele tendem a aumentar, em vez de resolver esta tragédia e, efectivamente, podem ser entendidas como renovadas formas de colonialismo. Portanto, dirijo um apelo à comunidade cristã do Quénia, para que dê um testemunho constante da íntima comunhão de vida e de amor que define a família, que dá alegria às comunidades e oferece um fundamento sobre o qual as aspirações de uma nação podem ser edificadas.

Por sua vez, a Igreja Católica que está no Quénia continuará a apoiar as famílias de todas as maneiras possíveis, trabalhando como uma aliada na busca da paz, da estabilidade e da prosperidade. Através das suas numerosas escolas, dos seus centros de assistência à saúde e dos seus programas de desenvolvimento das comunidades, actualmente ela já está a contribuir em grande medida em vista de assegurar um futuro melhor para o seu país. Neste serviço, a Igreja não aspira a poderes, nem a qualquer privilégio, mas unicamente à liberdade de dar expressão à sua fé e caridade nas obras de bem, de justiça e de paz.

Excelência, no momento em que a Senhora Embaixadora entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, garanto-lhe a pronta assistência dos vários Departamentos da Cúria Romana. Que a sua missão contribua para aprofundar os vínculos de compreensão e cooperação, já vigorosos, existentes entre o Quénia e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR GILTON BAZILIO CHIWAULA


NOVO EMBAIXADOR DO MALAVI


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Dezembro de 2004




Senhor Embaixador

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Malavi junto da Santa Sé. Gostaria de expressar a minha gratidão pelas saudações que Vossa Excelência me transmite da parte do seu Presidente, Sua Ex.cia o Dr. Bingu wa Mutharika. A sua presença aqui traz-me ao pensamento a visita que realizei ao Malavi, no ano de 1989, quando fui acolhido com grande cordialidade. Pedir-lhe-ia que me transmitisse as minhas sinceras saudações a Sua Excelência, assegurando-lhe as minhas preces constantes pela paz e pelo bem-estar da sua Nação.

A população do seu continente tem muito a oferecer ao resto do mundo, naquilo que se refere ao respeito pela família. A este propósito, gostaria de encorajá-la a continuar a promover a estabilidade da vida familiar como ambiente apropriado onde educar os filhos, edificando assim os sólidos fundamentos para o futuro da sociedade. Em particular, encorajo o seu Governo a resistir a quaisquer tentativas de agências externas a impor programas de assistência económica vinculados à promoção da esterilização e da contracepção. Estas campanhas não só constituem "afrontas contra a dignidade da pessoa e da família" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 234), mas também debilitam o crescimento natural e o progresso das nações em geral. Por mais sérios que sejam os problemas sociais e médicos que o seu país e continente estão a enfrentar, o bem do seu povo exige a busca de um autêntico desenvolvimento humano, que corresponda não apenas às suas necessidades materiais, mas inclusivamente às suas aspirações culturais, morais e espirituais. "Um desenvolvimento somente económico não está em condições de libertar o homem; pelo contrário, acaba até por o escravizar mais" (Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis SRS 46).

A difusão rápida e alarmante da sida exige renovados esforços da parte da comunidade internacional e do Governo do Malavi, em ordem a encontrar modos aceitáveis de combater a enfermidade e de oferecer um cuidado apropriado aos doentes e às suas famílias. As autoridades públicas e as comunidades religiosas precisam de trabalhar em conjunto para promover a fidelidade no seio do matrimónio e a abstinência fora do casamento, como a salvaguarda mais eficaz contra a infecção. Dever-se-iam levar a cabo todos os esforços para educar as pessoas acerca da sida, em vista de impedir que recorram a práticas supersticiosas e tradicionais que possam levar a uma ulterior difusão do vírus. Estou-lhe profundamente grato por ter manifestado o seu apreço pela contribuição da Igreja à assistência sanitária no seu país, e garanto o apoio constante de todas as instituições católicas e do pessoal médico envolvido neste importante trabalho.

Vossa Excelência falou sobre o papel desempenhado pelos Bispos católicos na transição do seu país rumo à democracia e agradeço-lhe as amáveis palavras com que desejou descrever a Igreja como "consciência" da nação malaviana. A Igreja Católica aprecia a oportunidade de cooperar com o Governo, educando e informando os fiéis, "particularmente as pessoas que participam na vida política, de tal maneira que as suas acções possam servir sempre como a promoção integral da pessoa humana e do bem comum" (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação dos católicos na vida política, n. 6). Efectivamente, ela tem o dever de agir deste modo, enquanto reconhece, ao mesmo tempo, a autonomia e a independência da comunidade política no campo que lhe é próprio (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 424).

A pobreza extrema que aflige uma boa parte da população do Malavi exige uma acção urgente da parte do resto do mundo. Estou persuadido de que o Governo se esforçará por fazer tudo o que está ao seu alcance para oferecer um apoio financeiro adequado a todos os programas humanitários e educativos. A este propósito, há que realizar todos os esforços em vista de debelar a corrupção e, assim, alcançar a máxima transparência e responsabilidade na promoção da ajuda internacional. Através das suas instituições no campo do ensino e das suas agências caritativas, a Igreja continua decidida a oferecer toda a assistência que pode, de tal maneira que os cidadãos do seu país consigam viver com a dignidade humana que lhes é própria.

Ao oferecer-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de assegurar-lhe que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos a assisti-lo e ajudá-lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e todo o povo do Malavi, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus.




DIscursos João Paulo II 2004