DIscursos João Paulo II 2005




                                                                              Janeiro de 2005

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CLUBE DE FUTEBOL "CRACÓVIA" DA POLÓNIA


Terça-feira, 4 de Janeiro de 2005


Saúdo-vos a todos cordialmente. Estou feliz por poder receber os representantes de um Clube tão insigne, que já há cem anos se inscreve no panorama da nossa cidade. Bem sei que, no decurso deste século, houve anos de esplendor, mas não faltaram também períodos difíceis. Tenho o prazer de saber que nos últimos anos foram alcançados novos êxitos. Faço votos a fim de que se alcancem sempre mais. Que o Clube "Cracóvia" dê testemunho de que o desporto, formando as índoles e ensinando a nobreza na competição e a solidariedade no esforço, pode constituir uma expressão dos mais elevados valores humanos e sociais.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR RAUL ROA KOURÍ


NOVO EMBAIXADOR DE CUBA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


8 de Janeiro de 2005




Senhor Embaixador

1. Apraz-me dar-lhe as boas-vindas, por ocasião da apresentação das Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Cuba junto da Santa Sé. Agradeço as suas amáveis palavras, assim como as saudações da parte do Dr. Fidel Castro Ruz, Presidente do Conselho de Estado e de Governo da República, a quem lhe peço que expresse os meus desejos pela sua saúde, assim como os bons votos pela prosperidade da Santíssima Virgem, venerada no seu país com o bonito nome de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, para que sejam incrementados os sentimentos de entendimento mútuo e de fraternidade genuína, permitindo que a Pátria seja realmente casa e obra de todos.

2. Ao mesmo tempo, posso manifestar-lhe o interesse com que acompanho o compromisso das autoridades cubanas, em vista de manter e de desenvolver as finalidades alcançadas com esforço no campo da assistência à saúde, da educação nos seus vários níveis e da cultura nas suas diferentes expressões. A Santa Sé considera que, assegurando estas condições da existência humana, se instauram alguns dos pilares do edifício da paz, que não é apenas a ausência da guerra, mas poder desfrutar da promoção humana integral, na saúde e no crescimento harmónico do corpo e do espírito, de todos os membros da sociedade.

De igual modo, a Santa Sé deseja vivamente que se possam ultrapassar quanto antes os obstáculos que impedem a livre comunicação e o intercâmbio entre a Nação cubana e uma parte da comunidade internacional, garantindo assim, mediante um diálogo respeitoso e aberto com todos, as condições necessárias para um desenvolvimento autêntico.

3. Por sua vez, Cuba distingue-se por um espírito de solidariedade, posto em evidência através do envio de pessoas e de recursos materiais, diante de necessidades básicas de várias populações, por ocasião de calamidades naturais, conflitos ou pobreza. A Doutrina Social da Igreja desenvolveu-se muito nestes últimos anos, precisamente para iluminar as situações que requerem esta dimensão solidária, a partir da justiça e da verdade. A este propósito, a Igreja que está em Cuba, com a sua presença evangelizadora e com espírito de serviço sincero e efectivo em prol do povo cubano, esforça-se em vista de ressaltar este magistério social não só com palavras, mas também com os seus compromissos e as suas realizações concretas. O conjunto de valores e de propostas que integram a Doutrina e a subsequente acção social da Igreja fazem parte da sua missão evangelizadora e, por conseguinte, da sua própria identidade.

Para que a acção da Igreja no meio do povo cubano chegue a ser mais eficaz em ordem à promoção do bem comum, é oportuno que, num ambiente de liberdade religiosa autêntica (cf. Dignitatis humanae DH 13), possa conservar e incrementar os vínculos de solidariedade já existentes com outras Igrejas irmãs, que não hesitem em apoiar generosamente, de muitas maneiras diferentes e, em particular, pondo à disposição sacerdotes, religiosos e religiosas, que favoreçam a obra da Igreja Católica peregrina em Cuba, cujos membros constituem uma parte do povo cubano, vivendo unidos em comunhão e sintonia com a Sé Apostólica.

4. Na realidade, em toda a sociedade pluralista a Igreja apresenta as suas orientações e propostas, que podem levar a diferentes pontos de vista entre quem compartilha a fé e quem não a professa. Neste sentido, as divergências não devem produzir qualquer forma de conflitualidade social, mas sim favorecer um diálogo construtivo e mais vasto.

A este propósito, há temas a respeito dos quais a Igreja que está em Cuba deseja iluminar a realidade social, como por exemplo a vasta problemática suscitada pela promoção da dignidade humana; a consideração da realidade familiar e a educação das novas gerações, numa cultura da paz, da vida e da esperança; a complicada relação entre a economia e os valores do espírito; e a atenção global da pessoa humana, aspectos estes em que é oportuno um diálogo com todos os grupos que formam o povo cubano.

5. Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência dá início às suas funções na chefia desta Missão diplomática, desejo confirmar-lhe a boa disposição da Santa Sé e da Igreja que está em Cuba, na sua vontade de perseverar no serviço aos homens e às mulheres que vivem no seu país, assim como superar quaisquer diferenças ao longo do caminho de um diálogo construtivo.

Renovo a minha saudação às Autoridades cubanas e invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus colaboradores, assim como sobre toda a Nação cubana, que recordo sempre com afecto, a ajuda de Deus e a abundância das suas bênçãos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO 31° ESQUADRÃO DA AERONÁUTICA ITALIANA


Sábado, 8 de Janeiro de 2005




Queridos membros
do 31º Esquadrão
da Aeronáutica Militar Italiana

Recebo-vos com alegria e saúdo-vos com afecto! Saúdo de maneira particular o vosso Comandante e agradeço-lhe as amáveis palavras que desejou dirigir-me em vosso nome. É de bom grado que retribuo os cordiais votos pelo novo ano, que há pouco teve início: desejo que ele seja tranquilo e proveitoso para todos!

Em 2005, a Igreja continuará a contemplar com especial intensidade o mistério da Eucaristia, "pão vivo que desceu do céu" (Jn 6,51) para a nossa salvação. Este pão de vida eterna é Cristo, manancial da nossa esperança, fonte de amor a partir do qual são derramadas constantemente no mundo dádivas de justiça, de perdão e de paz. Caríssimos, nós podemos experimentar a riqueza deste mistério sobretudo participando na Santa Missa dominical, que para o cristão constitui o centro e o ápice da semana!

São estes os bons votos que formulo, enquanto invoco sobre vós e as vossas famílias a protecção maternal da Virgem Maria. Além disso, nesta circunstância é-me particularmente grato renovar-vos a expressão da minha gratidão pela cooperação generosa e singular que vós ofereceis ao meu ministério pastoral.

Com tais sentimentos, é de coração que vos concedo a todos a minha Bênção!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO


JUNTO DA SANTA SÉ NO ENCONTRO


DE INTERCÂMBIO DOS VOTOS DE ANO NOVO


10 de Janeiro de 2005




Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores!

1. A alegria marcada pela suave comoção, característica deste tempo em que a Igreja revive o mistério do nascimento do Emanuel e o da sua família humilde de Nazaré, caracteriza hoje este meu encontro convosco, Senhoras e Senhores Embaixadores e ilustres membros do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, que aqui reunidos conferis, por assim dizer, visibilidade à grande família das Nações.

Este encontro, jubiloso e esperado, foi inaugurado com as expressões amáveis de bons votos, de estima e de participação na minha solicitude universal que me foram dirigidas pelo vosso digno Decano, Sr. Prof. Giovanni Galassi, Embaixador de São Marinho. Estou-lhe profundamente grato e retribuo com os votos de serenidade e de alegria para todos vós e para as vossas famílias e com os auspícios de paz e bem-estar para os vossos Países.

Dirijo uma saudação particularmente cordial de boas-vindas com votos de bom trabalho aos 37 Embaixadores e às suas esposas que, desde Janeiro do ano passado até hoje, iniciaram a sua missão junto da Santa Sé.

2. Verdadeiramente, estes sentimentos de alegria são obscurecidos pela enorme catástrofe natural que a 26 de Dezembro passado atingiu diversos Países do Sudeste Asiático, alcançando também a costa da África Oriental. Ela marcou com grande dor o final do ano passado: um ano provado também por outras calamidades naturais, como outros devastantes ciclones no Oceano Índico e no mar das Antilhas ou a chaga dos gafanhotos, que desolou vastíssimas regiões da África Norte-Ocidental. Depois, outras tragédias afligiram o ano de 2004, como os actos de terrorismo bárbaro que ensanguentaram o Iraque e outros Estados do mundo, o cruel atentado de Madrid, o massacre terrorista de Beslan, as violências desumanas infligidas à população do Darfur, e os episódios de violência perpetrados na região dos Grandes Lagos na África.

Por isto o nosso coração está perturbado e angustiado, e não conseguiríamos libertar-nos de tristes dúvidas acerca do destino do homem, se não nos viesse precisamente do berço de Belém uma mensagem, ao mesmo tempo humana e divina, de vida e de maior esperança: em Cristo, que nasce irmão de cada homem e se coloca ao nosso lado, é o próprio Deus que nos dirige o convite a jamais desanimar, mas a superar as dificuldades, por maiores que sejam, fortalecendo e fazendo prevalecer os vínculos comuns de humanidade sobre qualquer outra consideração.

3. E de facto, a vossa presença, Senhoras e Senhores Embaixadores, que aqui representais quase todos os povos da terra, apresenta ao nosso olhar, como com uma visão de conjunto, o grande cenário da humanidade com os graves problemas comuns que a perturbam, mas também com as grandes e sempre vivas esperanças que a animam. A Igreja católica, devido à sua natureza universal, está sempre directamente envolvida e torna-se sempre partícipe das grandes causas devido às quais o homem de hoje sofre e espera. Ela não se sente estrangeira a povo algum, porque em toda a parte onde há um cristão seu membro, todo o corpo da Igreja é envolvido; muito mais, onde quer que haja um homem, ali existe para nós um vínculo de fraternidade. Nesta sua presença partícipe do destino do homem em todos os lugares da terra, a Santa Sé sabe que em vós, Senhores Embaixadores, tem interlocutores altamente qualificados, porque é próprio da missão dos diplomatas superar os confins e reunir os povos e os seus governos numa vontade de concórdia laboriosa, no respeito atento das recíprocas competências, mas também na busca de um bem comum mais nobre.

4. Na Mensagem que enviei este ano para o Dia Mundial da Paz quis propor à atenção dos fiéis católicos e de todos os homens de boa vontade o convite do Apóstolo Paulo: "Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem" vince in bono malum (Rm 12,21). Na base deste convite encontra-se uma verdade profunda: em âmbito moral e social o mal tem o aspecto do egoísmo e do ódio, que é negação, e só o amor o pode vencer, o qual tem a força positiva do dom generoso e desinteressado, até ao sacrifício de si. É isto que se exprime precisamente no mistério do nascimento de Cristo: para salvar a criatura humana do egoísmo do pecado e da morte, que é o seu futuro, o próprio Deus entra com amor, em Cristo, plenitude de vida, na história do homem, e eleva-o à dimensão de uma vida maior.

Agora, gostaria de dirigir-vos, Senhores Embaixadores, e por vosso intermédio aos amados povos que representais e aos vossos Governos, esta mesma mensagem vence o mal com o bem que tem um valor preciso também nas relações internacionais, e pode guiar todos ao responder aos grandes desafios da humanidade de hoje. Gostaria de indicar aqui alguns dos principais.

5. O primeiro é o desafio da vida. A vida é o primeiro dom que Deus nos fez, é a primeira riqueza da qual o homem pode gozar. A Igreja anuncia "o Evangelho da Vida". E o Estado tem como tarefa primária precisamente a tutela e a promoção da vida humana.

O desafio da vida vai-se tornando nestes últimos anos cada vez mais amplo e crucial. Ele foi-se concentrando sobretudo no início da vida humana, quando o homem é mais frágil e deve ser mais protegido. Concepções opostas confrontam-se sobre os temas do aborto, da procriação medicamente assistida, do uso de células estaminais embrionárias humanas para finalidades científicas, da clonagem. A posição da Igreja, favorecida pela razão e pela ciência, é clara: o embrião humano é sujeito idêntico ao homem nascituro e ao homem nascido que dele se desenvolve. Por conseguinte, tudo o que viola a sua integridade e dignidade é eticamente inadmissível. E também uma pesquisa científica que degrade o embrião a instrumento de laboratório não é digna do homem. A pesquisa científica em campo genético deve ser encorajada e promovida, mas, como qualquer outra actividade humana, jamais pode estar livre dos imperativos morais; de resto, ela pode desenvolver-se com prometedoras perspectivas de sucesso no campo das células estaminais adultas.

O desafio da vida tem lugar ao mesmo tempo naquele que é propriamente o sacrário da vida: a família. Ela é hoje, com frequência, ameaçada por factores sociais e culturais que fazem pressão sobre ela tornando difícil a sua estabilidade; mas em alguns Países ela está ameaçada também por uma legislação, que afecta e por vezes também directamente a sua estrutura natural, a qual é e pode ser exclusivamente a de uma união entre um homem e uma mulher fundada no matrimónio. Não permitamos que a família, fonte fecunda da vida e pressuposto primordial e imprescindível da felicidade individual dos esposos, da formação dos filhos e do bem-estar social, aliás, da própria prosperidade material da nação, seja minada por leis ditadas por uma visão restritiva e inatural do homem. Prevaleça um sentimento justo, nobre e puro do amor humano, que encontre na família uma sua expressão verdadeiramente fundamental e exemplar. Vince in bono malum.

6. O segundo desafio é o do pão. A terra, tornada maravilhosamente fecunda pelo seu Criador, possui alimentos abundantes e variados para todos os seus habitantes, actuais e futuros. Não obstante, os dados publicados sobre a fome no mundo são dramáticos: centenas de milhar de seres humanos sofrem gravemente de subalimentação, e todos os anos milhões de crianças morrem devido à fome ou pelas suas consequências.

Na realidade, já desde há tempos o alarme foi lançado, e as grandes organizações internacionais propuseram-se objectivos imperiosos, pelo menos para reduzir a emergência. Foram também elaboradas propostas operativas concretas, como as que se apresentaram na Reunião de Nova Iorque sobre a fome e a pobreza, de 20 de Setembro de 2004, na qual quis ser representado pelo Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, precisamente para demonstrar o grande interesse da Igreja por esta dramática situação. Também muitas associações não governamentais se empenharam generosamente para prestar socorro. Mas tudo isto não é suficiente. Para responder à necessidade que aumenta em vastidade e urgência, é exigida uma ampla mobilização moral da opinião pública, e ainda mais dos responsáveis políticos, sobretudo daqueles Países que alcançaram um nível de vida satisfatório e próspero.

A este propósito, gostaria de recordar um grande princípio do ensinamento da Igreja, por mim novamente recordado na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, e ilustrado também no Compêndio da Doutrina Social da Igreja: o princípio do destino universal dos bens da terra. É um princípio que não justifica sem dúvida formas colectivistas de política económica, mas deve motivar um compromisso radical de justiça e um esforço mais atento e decidido de solidariedade. Eis o bem que poderá vencer o mal da fome e da pobreza injusta. Vince in bono malum.

7. Há depois o desafio da paz. Bem supremo, que condiciona a consecução de tantos outros bens fundamentais, a paz é o sonho de todas as gerações. Mas quantas são, quantas continuam a ser as guerras e os conflitos armados entre Estados, etnias, povos e grupos que vivem num mesmo território estatal que de um extremo ao outro do globo causam numerosas vítimas inocentes e são fonte de tantos outros males! O nosso pensamento dirige-se espontaneamente para diversos Países do Médio Oriente, da África, da Ásia, da América Latina, onde o recurso às armas e à violência, enquanto provoca danos materiais incalculáveis, fomenta o ódio e aumenta as causas da discórdia, tornando cada vez mais difícil a busca e a consecução de soluções capazes de conciliar os legítimos interesses de todas as partes envolvidas. A estes males trágicos acrescenta-se o fenómeno cruel e desumano do terrorismo, flagelo que alcançou uma dimensão planetária que as precedentes gerações não conheceram.

Como vencer o grande desafio da paz contra estes males? Vós, Senhoras e Senhores Embaixadores, enquanto diplomáticos sois por profissão e sem dúvida também por vocação pessoal os homens da paz. Vós conheceis quais e quantos são os instrumentos de que a sociedade internacional dispõe para garantir a paz, ou para reconduzir a ela. Eu próprio, como os meus venerados Predecessores, em intervenções públicas sobretudo com a mensagem anual para o Dia Mundial da Paz mas também através da diplomacia da Santa Sé, tomei a palavra numerosas vezes, e continuarei a fazê-lo, para indicar os caminhos da paz e convidar a percorrê-los com coragem e paciência: à prepotência deve opor-se a razão, ao confronto da força o confronto do diálogo, às armas apontadas a mão estendida: ao mal o bem.

Numerosos são os homens que trabalham com coragem e perseverança neste sentido, e não faltam sinais encorajadores, que demonstram como o grande desafio da paz pode ser vencido. Assim na África, onde, apesar das graves recaídas em desavenças que pareciam superadas, aumenta a vontade comum de comprometer-se pela solução e a prevenção de conflitos através de uma cooperação mais intensa entre as grandes organizações internacionais e continentais, como a União Africana: evoquemos por exemplo, em Novembro do ano passado, a reunião de Nairobi do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a emergência humanitária no Darfur e sobre a situação na Somália, assim como a Conferência internacional sobre a região dos Grandes Lagos.

Assim no Médio Oriente, na terra tão querida e sagrada para os crentes no Deus de Abraão, onde o cruel confronto das armas parece ter abrandado, e se abriu uma solução política para o diálogo e a negociação. Como exemplo de paz possível, sem dúvida privilegiado, pode ser apresentada a Europa: Nações outrora orgulhosamente adversárias e opostas em guerras mortais encontram-se hoje juntas na União Europeia, que durante o ano passado se propôs consolidar-se ulteriormente com o Tratado constitucional de Roma, enquanto permanece aberta ao acolhimento de outros Estados, dispostos a aceitar as exigências que a sua adesão requer.

Mas para garantir uma paz verdadeira e duradoura neste nosso planeta ensanguentado é necessária uma força de bem que não hesite perante dificuldade alguma. Trata-se de uma força que o homem sozinho não consegue obter nem conservar: é um dom de Deus. E Cristo veio precisamente para a trazer ao homem, como cantaram os anjos no presépio de Belém: "Paz na terra aos homens do seu agrado" (Lc 2,14). Deus ama o homem, e deseja para ele a paz. A nós é pedido que sejamos seus instrumentos activos, vencendo o mal com o bem. Vince in bono malum.

8. Desejaria mencionar ainda outro desafio: o desafio da liberdade. Senhoras e Senhores Embaixadores, vós sabeis como me é querido este tema, precisamente devido à própria história do povo do qual provenho; mas ele é sem dúvida querido também a todos vós, que devido ao vosso serviço diplomático sois justamente ciosos da liberdade dos povos que representais e estais atentos a defendê-la. Mas a liberdade é, antes de tudo, um direito do indivíduo. "Todos os seres humanos nascem como diz justamente a Declaração Universal dos Direitos do Homem no artigo 1 livres e iguais em dignidade e direitos". E o artigo 3 declara: "Cada indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança da própria pessoa". É também sagrada a liberdade dos Estados, os quais devem ser livres, antes de mais para poderem desempenhar adequadamente o seu dever primário de tutelar, juntamente com a vida, a liberdade dos cidadãos em todas as suas manifestações justas.

A liberdade é um bem grande, porque unicamente com a paz o homem pode realizar-se de maneira correspondente à sua natureza. A liberdade é luz: consente escolher responsavelmente as próprias metas e o caminho para as alcançar. No mais íntimo da liberdade humana encontra-se o direito à liberdade religiosa, porque se refere à relação mais essencial do homem: a relação com Deus. Também a liberdade religiosa está expressa na mencionada Declaração (cf. art. 18). Ela foi objecto como todos vós bem sabeis de uma solene declaração do Concílio Ecuménico Vaticano II, que começa com as significativas palavras "Dignitatis humanae".

A liberdade de religião permanece em numerosos Estados um direito não suficiente ou não adequadamente reconhecido. Mas o anseio pela liberdade de religião não se pode suprimir: ele permanecerá sempre vivo e insistente, enquanto o homem viver. E por isso dirijo também hoje o apelo já tantas vezes expresso pela Igreja: "Em todo o mundo a liberdade religiosa seja protegida por uma eficaz tutela jurídica e sejam respeitados os deveres e os direitos supremos dos homens para viver livremente na sociedade a vida religiosa" (DH 15).

Não se tenha receio de que a justa liberdade religiosa limite as outras liberdades ou danifique a convivência civil. Ao contrário, com a liberdade religiosa desenvolve-se e floresce também qualquer outra liberdade: porque a liberdade é um bem indivisível, é prerrogativa da própria pessoa humana e da sua dignidade. Nem se tema que a liberdade religiosa, quando é reconhecida à Igreja Católica, interfira no campo da liberdade política e das competências próprias do Estado: a Igreja sabe distinguir bem, como seu dever, aquilo que pertence a César e o que pertence a Deus (cf. Mt Mt 22,21); ela coopera activamente para o bem comum da sociedade, porque repudia a mentira e educa para a verdade, condena o ódio e o desprezo e convida à fraternidade; promove sempre e em toda a parte como é fácil ver na história as obras de caridade, a ciência e a arte. Ela pede unicamente liberdade, a fim de poder oferecer um válido serviço de colaboração com todas as instituições públicas e privadas, preocupada pelo bem do homem. A verdadeira liberdade é para vencer sempre o mal com o bem. Vince in bono malum.

9. Senhoras e Senhores Embaixadores, no ano há pouco iniciado tenho a certeza de que vós, no cumprimento do vosso mandato, continuareis a estar ao lado da Santa Sé no seu compromisso quotidiano de responder, segundo as suas responsabilidades específicas, aos mencionados desafios, que afligem a humanidade inteira. Jesus Cristo, do qual celebrámos o nascimento nos dias passados, foi prenunciado pelo profeta como "Admirabilis Consiliarius, Princeps Pacis" (Is 9,5). Possa a luz da sua Palavra, o seu espírito de justiça e de fraternidade, o dom da sua paz, tão necessária e desejada, que Ele a todos oferece, resplandecer na vida de cada um de vós, das vossas amadas famílias e de todos os vossos entes queridos, dos vossos nobres Países e de toda a humanidade.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO SÍNODO INTEREPARQUIAL


DAS EPARQUIAS ÍTALO-ALABANESAS DA ITÁLIA


11 de Janeiro de 2005

Beatitude

Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Recebo-vos com alegria e saúdo-vos cordialmente. Saúdo em primeiro lugar o Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais e agradeço-lhe as amáveis palavras com que me homenageou em nome de todos os presentes. Torno extensiva a minha saudação às Comunidades que aqui representais, e àqueles que participam no vosso Sínodo, que tem como tema: "Comunhão e anúncio do Evangelho".

Trata-se de um tema mais actual do que nunca para as vossas duas Eparquias e para o mosteiro exárquico de Grottaferrata. Herdeiros de um património espiritual conjunto, estas vossas realidades eclesiais são chamadas a dar testemunho da unidade da mesma fé em diferentes contextos sociais. Sob o ponto de vista pastoral, elas colaboram com as comunidades de tradição latina e revigoram cada vez mais a sua identidade, valorizando a sua bimilenária tradição bizantina.

2. Para favorecer tudo isto, o vosso Sínodo pôs em evidência alguns temas essenciais, como a catequese e a mistagogia, em vista de um adequado crescimento espiritual de todo o Povo de Deus. Além disso, promoveu percursos teológicos e ascéticos para a preparação do clero e dos membros dos Institutos de vida consagrada. De resto, para evitar uma transformação indevida da identidade espiritual que vos caracteriza, tendes a intenção de oferecer uma formação sólida, arraigada na tradição oriental e apta para corresponder de maneira eficaz aos desafios crescentes da secularização.

Mediante a Congregação para as Igrejas Orientais, a Santa Sé não deixará de oferecer a sua própria assistência a esta acção renovadora, enquanto nos textos do Concílio Vaticano II e no Código de Direito Canónico das Igrejas Orientais vos será possível encontrar pontos de referência úteis para corroborar estes vossos esforços.

3. No rito bizantino, os mirabilia Dei pela humanidade e, a este propósito, as Anáforas de São João Crisóstomo e de São Basílio, são de excelsa exemplaridade. As Orações Eucarísticas e a celebração dos outros Sacramentos, como toda a comemoração litúrgica e o Culto divino com a rica hinografia, constituem um poderoso veículo de catequese para o povo cristão.

Quase diariamente, vós celebrais a Divina Liturgia de São João Crisóstomo que, pela sua arte oratória e pelo seu conhecimento das Sagradas Escrituras, era conhecido como "Boca de Ouro". As suas palavras penetram também hoje nos ouvidos e no coração do homem. Portanto, vós justamente fazeis ressoá-las de modo compreensível nas línguas do nosso tempo.

4. Encorajo-vos a dar continuidade aos contactos, graças à tradição litúrgica conjunta, com as Igrejas ortodoxas, também elas desejosas de dar glória ao único Deus e Salvador. O Senhor Todo-Poderoso, que no Natal há pouco celebrado revelou a sua ternura divina na luminosa encarnação do Verbo, conceda a todos os fiéis em Cristo viver plenamente a unidade da mesma fé. Por isto rezo e peço ao Senhor que o vosso Sínodo contribua para favorecer um anúncio renovado do Evangelho em cada uma das vossas Comunidades, assim como um vigoroso impulso ecuménico.

Confio estes votos ardentes à Santíssima Mãe de Deus, enquanto vos concedo de todo o coração, a vós aqui presentes e às vossas Eparquias, uma especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS REPRESENTANTES DA REGIÃO DO LÁCIO,


DO MUNICÍPIO E DA PROVÍNCIA DE ROMA


Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2005

Ilustres Senhores e gentis Senhoras!


1. Sinto-me feliz em vos receber, no início do novo ano, para o tradicional intercâmbio dos bons votos, e dirijo a cada um de vós a minha saudação mais cordial.

Saúdo com deferência o Presidente da Região do Lácio, Deputado Francesco Storace, o Presidente da Câmara Municipal de Roma, Deputado Walter Veltroni, e o Presidente da Província de Roma, Deputado Enrico Gasbarra. Agradeço-lhes por se terem feito intérpretes dos sentimentos comuns dos presentes. Saúdo também os Presidentes e os Membros das três Assembleias do Conselho e os seus colaboradores. Depois, o meu pensamento dirige-se a todos os habitantes da Cidade, da Província e da Região, aos quais desejo com afecto um ano de serenidade, de crescimento espiritual e civil, e de paz.

2. Gostaria de renovar antes de tudo, nesta ocasião, a minha satisfação pela aprovação do Estatuto da Região do Lácio. De facto, ele além de realçar o papel de Roma como centro do Catolicismo, reconhece explicitamente a primazia da pessoa e o valor fundamental da vida. Reconhece também os direitos da família como sociedade natural fundada no matrimónio e propõe-se apoiá-la no cumprimento da sua função social, mencionando explicitamente o Observatório regional permanente sobre as famílias. O Estatuto prevê também que a Região garanta o direito ao estudo e à liberdade de opção educativa.

3. Ulterior motivo de satisfação é a assinatura do Protocolo de entendimento entre o Vicariato, o Município e a Região em vista da realização de novas instalações paroquiais nas periferias da Cidade. Esse acordo, justamente inspirado no princípio de novas paróquias que, além de prover ao cuidado pastoral, desempenham a função de centros de agregação social e de requalificação urbana. Está prevista também, paralelamente com outras iniciativas de carácter social, a colaboração entre a Igreja e as Instituições do Município, da Província e da Região para a promoção de acontecimentos culturais que valorizem o nosso grande património artístico, histórico e espiritual.

4. Entre os problemas que merecem particular atenção, desejo assinalar em primeiro lugar o da casa, sobretudo para as jovens famílias com recursos económicos modestos. É indispensável em relação a isto um esforço comum da parte das Instituições, considerando as implicações sociais que a falta de habitações adequadas implica para a constituição de novas famílias e a geração dos filhos.

Os tristes fenómenos da toxicodependência e mais amplamente do mal-estar juvenil exigem por sua vez uma atenção e um compromisso cada vez mais vigilante para preservar o mais possível o futuro da juventude.

Que dizer, depois, do trânsito urbano, que de ano para ano se torna mais congestionado e cansativo? Ele causa grandes dificuldades na vida quotidiana de muitas pessoas e famílias. Faço sentidos votos por que, com a contribuição de todas as Instituições responsáveis, possa ser enfrentada de maneira orgânica a questão do trânsito e dos transportes urbanos. A abertura de novas artérias de trânsito, sob este ponto de vista, é certamente útil.

5. Distintos Representantes das Administrações regional, provincial e municipal, garanto a vós e ao vosso trabalho quotidiano o apoio da minha oração. Com estes sentimentos concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que faço extensiva de bom grado às vossas famílias e a quantos vivem e trabalham em Roma, na sua Província e em todo o Lácio.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À DELEGAÇÃO DA UNIVERSIDADE DA SILÉSIA


EM KATOWICE (POLÓNIA)


Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2005




Dou-vos cordiais boas-vindas. Agradeço ao Arcebispo e ao Reitor as suas palavras. Sinto-me feliz por poder hospedar representantes tão ilustres da Silésia juntamente com o Ordinário de Katowice e o Presidente da Câmara Municipal da cidade.

Na concepção clássica a universidade não podia existir sem a faculdade teológica seria incompleta. Hoje já não é assim. Contudo revela-se que a presença das ciências teológicas entre os outros sectores de aprofundamento na universidade cria as possibilidades para um válido intercâmbio do pensamento. Fides et ratio encontram-se na investigação da sabedoria. Servem-se de diversos instrumentos e métodos, mas enriquecem-se reciprocamente no caminho da descoberta das numerosas dimensões da verdade.

Faço votos por que a Universidade da Silésia em Katowice possa gozar dos frutos abundantes desta colaboração que começou há quatro anos. Peço ao Senhor Reitor e a todos vós, ilustres senhores, que transmitais as minhas saudações e a minha bênção a todos os professores e estudantes do vosso Ateneu. Deus vos abençoe!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À DELEGAÇÃO ECUMÉNICA DA FINLÂNDIA


Sábado, 15 de janeiro de 2005



Excelências

DIscursos João Paulo II 2005