DIscursos João Paulo II 2005

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS, DOENTES E VOLUNTÁRIOS


REUNIDOS NA BASÍLICA DE SÃO PEDRO


POR OCASIÃO DA MEMÓRIA LITÚRGICA


DA BEM-AVENTURADA VIRGEM DE LOURDES


E XIII DIA MUNDIAL DO DOENTE


Sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Caríssimos Irmãos e Irmãs


1. Uno-me com alegria a vós que, como acontece todos os anos, participais na Basílica Vaticana no encontro de peregrinos, doentes e voluntários, organizado conjuntamente pela UNITALSI e pela Obra Romana de Peregrinações. Dirijo a cada um de vós a minha afectuosa saudação.

Em primeiro lugar, saúdo o Cardeal Vigário, os Bispos e os numerosos presbíteros presentes, e depois com profunda simpatia, torno a minha saudação extensiva também a vós, queridos peregrinos vindos para reviver a atmosfera típica de Lourdes; a vós, dilectos responsáveis da UNITALSI e da Obra Romana de Peregrinações; a vós, estimados voluntários; e a vós, prezados doentes, de quem me sinto particularmente próximo.

2. A sugestiva Celebração eucarística e mariana que estais a viver na Basílica de São Pedro adquire um significado particular no dia em que a liturgia recorda a Bem-Aventurada Virgem Maria de Lourdes.

A festa do dia 11 de Fevereiro faz-nos voltar com o pensamento à gruta de Massabielle, nos altos Pirenéus franceses, onde em 1858 Nossa Senhora se manifestou dezoito vezes a Santa Bernadete Soubirous. Daquela gruta, que se tornou um lugar de oração e de esperança para numerosos peregrinos provenientes de todas as regiões do mundo, a Imaculada continua a exortar à oração, à penitência e à conversão. É a própria mensagem de Cristo: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1,15), que nos é oferecida pela liturgia da Quaresma, há pouco iniciada.

Acolhamo-la com adesão humilde e dócil! A peregrinação até aos pés da Virgem, realizada pelos doentes e pelas pessoas que sofrem, constitui uma exortação incessante a confiar em Cristo e na sua Mãe celestial, que jamais abandonam quantos acorrem a eles nos momentos de sofrimento e de provação.

3. Ao morrer na cruz Cristo, o Homem das dores, cumpriu o desígnio de amor do Pai e redimiu o mundo. Queridos doentes, se aos seus sofrimentos unirdes inclusivamente as vossas dores, podereis ser os seus colaboradores privilegiados na salvação das almas. Esta é a tarefa que vos compete na Igreja, que vive perenemente consciente do papel e do valor da enfermidade iluminada pela fé. Por conseguinte, queridos doentes, o vosso sofrimento nunca é inútil! Pelo contrário, é precioso porque constitui uma participação misteriosa mas concreta na própria missão salvífica do Filho de Deus.
Por isso, o Papa conta muito com o valor das vossas orações e dos vossos sofrimentos: oferecei-os pela Igreja e pelo mundo; oferecei-os também por mim e pela minha missão de Pastor universal do povo cristão.

4. Da Basílica de São Pedro, o olhar dirige-se agora para outras numerosas localidades, onde hoje se reúnem as comunidades cristãs, por ocasião do XIII Dia Mundial do Doente e, de maneira particular, para o Santuário "Maria Rainha dos Apóstolos", em Iaundé, nos Camarões. É ali que estão a realizar-se as principais celebrações deste importante acontecimento eclesial, subordinado ao seguinte tema: "Cristo é a esperança para a África". O Continente africano, juntamente com a humanidade inteira, tem necessidade de experimentar o amor misericordioso do Senhor e a assistência da Virgem Maria, acima de tudo nos momentos de cansaço e de doença.

Maria, Mulher do sofrimento e da esperança, seja benigna para com as pessoas que sofrem e obtenha a plenitude de vida para cada um: que Ela estreite todos ao seu Coração de Mãe!

Virgem Santíssima, Rainha da África e do mundo inteiro, rogai por nós! É com afecto que concedo a todos a minha Bênção.





                                                                             Março de 2005

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DO ENCONTRO DE ORAÇÃO


DA III JORNADA EUROPEIA DOS UNIVERSITÁRIOS


Caríssimos jovens universitários


1. Dirijo a minha cordial saudação a todos vós, reunidos na Sala Paulo VI para uma vigília mariana.

Não posso estar presente no meio de vós, mas estou igualmente próximo de vós com o afecto e a oração. Faço a minha saudação extensiva aos vossos coetâneos que, por ocasião da III Jornada Europeia dos Universitários, participam em tal encontro através de especiais ligações televisivas.

Bari, na Itália, e depois Berlim, Bucareste, Lisboa, Zagrábia, Londres, Tirana, Madrid e Kiev: a Europa está idealmente comprometida neste importante momento de oração e de reflexão, em preparação para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar precisamente no coração do Continente europeu, em Colónia.

2. Estou feliz por terdes desejado, como estudantes, oferecer a vossa contribuição específica para a preparação de um encontro tão significativo da juventude mundial com esta vossa reunião, que tem como tema: "A busca intelectual como caminho para encontrar Cristo". Não existe contradição entre a fé e a razão. É o que demonstra também a experiência dos santos Magos, que chegaram a Belém, recorrendo a ambas estas dimensões do espírito humano: a inteligência, que perscruta os sinais; e a fé, que leva a adorar o mistério. Para enfrentar a longa e cansativa viagem em busca do Messias, não bastava a razão; era necessária também a fé, sob o sinal da estrela, para chegar à meta.

A esperança e o desejo ardente dos Magos não foram vãos. Em Belém, eles procuraram o Menino Jesus e, quando chegaram à sua frente, a inteligência teve necessidade da fé, para reconhecer naquele humilde Filho do homem o Messias, esperado e preanunciado pelos profetas ao longo do Antigo Testamento.

3. Caríssimos jovens, sede animados sempre pelo anseio de descobrir a verdade da vossa existência. A fé e a razão sejam as duas asas que vos hão-de conduzir até Cristo, verdade de Deus e verdade do homem. Nele encontrareis a paz e a alegria. Que Cristo constitua o fulcro de toda a vossa existência. Estes são os meus sinceros bons votos, que formulo a todos do íntimo do coração, acompanhando-os com a certeza da minha oração.

Neste primeiro sábado do mês confio-vos, de modo especial, à guia maternal de Maria Santíssima: que Ela vos ensine a seguir fielmente Jesus até à Cruz e vos leve a experimentar a alegria da Ressurreição.

Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos. Feliz Páscoa e boa caminhada rumo a Colónia!


Policlínica "Gemelli", 5 de Março de 2005.


MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

AO SENHOR STAVROS LYKIDIS

NOVO EMBAIXADOR DA GRÉCIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS



Senhor Embaixador!

1. Sinto-me feliz por acreditar Vossa Excelência como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República helénica junto da Santa Sé. Agradeço-lhe por me ter transmitido as saudações de Sua Excelência o Senhor Constantinos Stephanopoulos, Presidente da República helénica. Recordando-me com prazer da visita que ele me fez no Vaticano e da que eu mesmo realizei à Grécia, por ocasião da minha peregrinação apostólica seguindo os passos de São Paulo, ficar-lhe-ia grato por se dignar transmitir-lhe os votos cordiais que formulo para a sua pessoa, assim como para todo o povo grego. No final da sua missão, desejo expressar-lhe os meus votos mais sinceros. Saúdo também Sua Excelência o Senhor Karolos Papoulias que, daqui a poucos dias, assumirá o governo do País.

2. Não posso recordar o seu país sem evocar o apóstolo Paulo, que fundou as primeiras comunidades cristãs na Europa, há mais de dois mil anos. A Grécia de hoje não se esquece da herança da fé cristã, que é um dos elementos constitutivos da Nação. Ela sabe que esta herança permanece, muito mais do que uma recordação do passado, um elemento vivo da sua cultura e das suas instituições, capaz de fecundar de maneira renovada as aspirações nobres e elevadas para o futuro da humanidade, sobretudo na Europa, onde o cristianismo deixou marcas tão profundas.

Senhor Embaixador, estou certo de que o seu País pode continuar a desempenhar um papel importante no seio da União Europeia para que seja reconhecida e manifestada felizmente esta dimensão religiosa, que é tão querida quer à Santa Sé quer à República helénica.

3. No mundo de hoje, debilitado pelo perigo do terrorismo e pela permanência de conflitos persistentes e sempre ameaçadores, a União europeia é para muitos um modelo de vontade política em favor da união dos povos e pela paz. A Santa Sé alegra-se com isso, e convida os povos europeus que nela estão comprometidos a trabalhar com todas as suas forças em favor do diálogo e do entendimento entre os povos, assim como do fortalecimento das instituições internacionais encarregadas de as garantir. Como recordei com frequência, um esforço como este só se poderá concretizar se for acompanhado por uma vontade de justiça a nível internacional, e por conseguinte, por uma política corajosa de desenvolvimento em benefício dos países mais desfavorecidos, sobretudo no continente africano. Os acontecimentos dramáticos que se verificaram recentemente no Sudeste Asiático realçaram a capacidade que a comunidade internacional tem de se mobilizar de modo eficaz em favor das populações provadas; de igual modo, os Jogos Olímpicos que se realizaram em Atenas no ano passado manifestaram com evidência o desejo de fraternidade que os homens sentem e que pode vencer o ódio e a violência. Por conseguinte, devemos poder esperar com confiança uma mobilização equivalente e duradoura das nações e das pessoas em favor da paz e ao serviço do homem.

4. Senhor Embaixador, permita que eu saúde calorosamente, por seu intermédio, as comunidades de fiéis católicos que vivem na Grécia. Na maioria elas são pequenas e distantes, mas unidas na sua fé e desejosas de a testemunhar de modo vivo aos seus irmãos ortodoxos. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, realçou a importância que o seu Governo dá à presença da Igreja Católica no seu País. A este propósito, seria oportuno que a Igreja Católica, dando continuidade a um diálogo aberto e construtivo entre todos os responsáveis envolvidos, possa ter o estatuto jurídico que ainda não possui e que constituiria o sinal do reconhecimento pleno dos seus direitos, como acontece no conjunto dos países da União Europeia. Por seu lado, a Igreja Católica está comprometida num diálogo fraterno com a Igreja ortodoxa e está consciente de que os fiéis que vivem na Grécia outro desejo não têm do que viver quotidianamente este diálogo, tendo também a preocupação de participar plenamente na vida económica, política e social do país, com a qual já estão bastante comprometidos. Garanto a toda a comunidade católica e aos seus pastores a oração do Bispo de Roma, Sucessor de Pedro. Saúdo cordialmente também os pastores e os fiéis da Igreja ortodoxa da Grécia, sobretudo sua Beatitude Christodoulos, Arcebispo de Atenas, que me recebeu fraternalmente por ocasião da minha peregrinação, alegrando-me pelos vínculos que foram estabelecidos nessa ocasião, e reconfirmo-lhe a vontade de diálogo fraterno da Igreja católica.

5. Senhor Embaixador, no momento em que inicia a sua nobre missão de representação junto da Santa Sé, dirijo-lhe os meus melhores votos para o seu feliz cumprimento. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores o acolhimento e a compreensão de que tiver necessidade.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e os seus colaboradores, assim como sobre todo o povo grego e os seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.

Da Policlínica Gemelli, 7 de Março de 2005.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR HELMUT TÜRK,


NOVO EMBAIXADOR DA ÁUSTRIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS



Excelentíssimo
Senhor Embaixador, Dr. Türk

1. Por ocasião da apresentação das suas Cartas Credenciais como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Áustria junto da Santa Sé, congratulo-me com Vossa Excelência do íntimo do coração pela sua nova e honrada missão, que lhe foi confiada pelo Presidente da República da Áustria, Sua Ex.cia o Senhor Heinz Fischer. Formulo votos a fim de que as relações seculares e tradicionalmente positivas entre a Áustria e a Sé Apostólica sejam configuradas, também no futuro, como bases sólidas para uma colaboração fecunda entre o Estado e a Igreja, para o bem de todos os homens.

2. Realizei três viagens pastorais ao seu querido país. Já durante minha primeira visita, ocorrida em 1983, por ocasião do "Österreischen Katholikentag", desejei ir em peregrinação até ao Santuário de Mariazell para prestar homenagem a Maria, Magna Mater Austriae, e para lhe confiar as instâncias de todos os cristãos e sobretudo do povo austríaco. O tema daquela peregrinação foi o seguinte: Spes nostra salve! No mês de Maio do ano passado, voltei a Mariazell, unindo-me aos numerosos peregrinos que, no encerramento do "Mitteleuropäischen Katholikentag", deram testemunho de "Christus Hoffnung Europas". Este grande encontro de fiéis de oito Estados da Europa Central e Oriental, onde vivem 60 milhões de católicos, constituiu uma evidente manifestação da vontade de caminhar em conjunto no futuro, tendo como fundamento a fé católica, que une os homens.

3. Recordo-me também da Peregrinação dos Povos até Mariazell, com a minha sincera gratidão pelo compromisso da República da Áustria. A grande participação da Federação e do Land Steiemark contribuíram de maneira relevante para fazer das celebrações conclusivas do "Mitteleuropäischen Katholikentag", um foro para numerosos e inestimáveis encontros entre representantes políticos e responsáveis sociais a vários níveis dos oito países participantes. O determinador comum de todos estes encontros e colóquios foi o arraigamento da confissão católica.

Todavia, não só a grande festa da fé aos pés da Mãe das Graças de Mariazell, no passado mais próximo, manifestou a identidade católica da Áustria e dos seus habitantes, mas também a despedida comovedora ao Cardeal Franz König, caracterizada por uma enorme participação popular, demonstrou ao mundo o facto de que não obstante algumas questões críticas em relação à Igreja e o vigoroso impulso à secularização, um elevado número de austríacos considera-se sempre solidamente firmes na fé cristã.

4. Senhor Embaixador! A Peregrinação dos Povos até Mariazell, sob os auspícios dos católicos austríacos, recordou a muitos que o seu país está a ser chamado a uma acção política no grande grande europeu. As motivações disto encontram-se na história da Áustria e na sua posição geopolítica, no coração do continente. Como já afirmei precedentemente, de país de fronteira, a Áustria transformou-se em "país-ponte". Este significado da sua querida nação tornou-se cada vez mais evidente ao longo dos últimos anos, sobretudo mas não só do ponto de vista político. É necessário lançar pontes em todos os âmbitos em que as linhas de demarcação ameaçam a convivência humana.

A Igreja Católica, que se compromete com determinação para favorecer um clima ecuménico nas diversas confissões cristãs, enfrentando o desafio do diálogo com as outras religiões do mundo, reconhece o interesse e o apoio do Estado austríaco. As questões sociopolíticas são, justamente, prioritárias na acção do Estado. Com a ajuda da vontade divina, cada governo deve aspirar ao serviço da ordem justa da vida civil e do bem terreno. O Governo está ao serviço do bem comum, cuja garantia é o dever prioritário da sua política. Hoje em dia este bem depende mais do que nunca, evidentemente, não só dos factores nacionais, mas também do clima político geral do espaço europeu.

Se a Áustria, comprometida nas circunstâncias hodiernas, quiser vincular-se à grande tradição de coesão entre os povos, no presente e no futuro terá muito a oferecer à Europa e ao mundo. Com efeito, como intermediário entre o Oriente e o Ocidente desta região do mundo, a Áustria promoveu corajosamente o ampliamento da União Europeia rumo ao Leste e acompanhou-o de modo concreto. A união pacífica de tantas nações da Europa Central e Oriental com os seus vizinhos ocidentais deu vida e fortaleceu uma comunidade política, económica e de segurança política, cujas países membros se encontram tendo como fundamento direitos e deveres iguais, como parceiros que colaboram no serviço aos seus compatriotas.

5. Contudo, não se pode ignorar o facto de que, sozinhas, as coordenadas económicas e políticas não podem garantir a longo prazo o bem de todos os seus participantes.
Além disso, a União Europeia consiste sobretudo "num consenso sobre os valores a exprimir no direito e na vida" (Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 110). É nesta "comunhão europeia de valores" que se insere o papel de restabelecedora de sentido e de identidade da Igreja Católica. Efectivamente, a Igreja no seu país distingue-se sempre deste ponto de vista como geradora de impulsos. Este facto é acompanhado do compromisso concreto na política e nas instituições governamentais por parte dos cristãos praticantes.

Um consenso genuíno sobre os valores constitui o pressuposto indispensável de uma "comunidade solidária" que vai além das fronteiras e não se esgota, como a História demonstra, no bem-estar económico mutável de quem alcançou o sucesso. Em primeiro lugar, os valores que o seu povo haure da fé cristã conferem à união um sólido fundamento, sobre o qual a Casa Comum europeia pode edificar-se, crescer e ser constantemente plasmada. Em sintonia com outras nações católicas a Áustria tem, tanto hoje como amanhã, uma tarefa importante, que deve ser desempenhada por todos os políticos que se sentem comprometidos nos valores cristãos e sociais, independentemente da sua própria pertença partidarista.

6. A fé cristã inspira o compromisso sociopolítico de inúmeras pessoas no mundo inteiro. Em muitos lugares, agir com responsabilidade cristã significa estar pronto a empenhar-se de maneira concreta em prol do próximo e, por último, do bem comum. Este compromisso não tem somente uma configuração particular, mas realiza-se muitas vezes de forma significativa, em união com outras pessoas e a nível institucional. Também a Igreja, com as suas orientações, deseja oferecer a sua própria contribuição para o bem comum. O caminho primário e fundamental, que a Igreja percorre no cumprimento da sua missão, é o homem (cf. Carta Encíclica Redemptor hominis RH 14). Por isso, ela sente-se chamada a agir onde está em jogo a salvação do homem.

A Igreja deseja colaborar com o Estado para o bem do homem, onde pode oferecer a sua contribuição específica. A Santa Sé constata com satisfação que na Áustria existe uma colaboração fecunda e provada entre o Estado e a Igreja, em vista do bem e do interesse de todos os cidadãos e cidadãs, independentemente da sua pertença confessional e religiosa. Neste momento, desejo sublinhar de maneira expressa a colaboração entre a Igreja e o Estado nos sectores da educação, da assistência no campo da saúde e dos serviços sociais. Beneficiárias desta colaboração são as pessoas de todas as camadas sociais e de todas as faixas etárias. A este propósito, é necessário recordar que o Governo austríaco através de uma série de medidas de política familiar, empreende acções positivas e encorajadoras. Seria desejável que o fundamental "sim à vida" se traduzisse cada vez mais e melhor, sob o ponto de vista político, num "sim aos filhos".

A ninguém jamais pode ser negado o direito à vida, que constitui o pressuposto de todos os demais direitos. Uma sociedade pode definir-se verdadeiramente "humana", se a vida humana em todas as suas fases, ou seja, desde a concepção até à morte natural, goza da plena e efectiva salvaguarda do direito. A Igreja jamais se cansa de recordar isto. Ela sabe que, na sua promoção da tutela incondicional da vida humana e da dignidade do indivíduo, pode contar sempre com a compreensão e o apoio das pessoas de boa vontade. E verifica-se com satisfação que os jovens estão prontos a comprometer-se com isso.

7. Nos longos anos do seu serviço diplomático, o Senhor Embaixador pôde conhecer as posições da Santa Sé no âmbito do direito internacional. Sei que Vossa Excelência sustém o compromisso universal do Sucessor de Pedro em favor da reconciliação, da justiça e da paz, e estou persuadido de que esta sua nova missão lhe proporcionará alegria e satisfação. É de bom grado que volto a retribuir os bons votos que Vossa Excelência me transmitiu em nome do Senhor Presidente da República da Áustria. Enquanto confio o seu querido país à intercessão de Maria, de São Carlos da Áustria e de todos os Padroeiros da nação, concedo-lhe do íntimo do coração a minha Bênção Apostólica, assim como aos demais funcionários da Embaixada da República da Áustria junto da Santa Sé e aos membros da sua família.

Da Policlínica "Gemelli", 7 de Março de 2005.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CURSO SOBRE


O FORO ÍNTIMO ORGANIZADO


PELO TRIBUNAL DA PENITENCIARIA APOSTÓLICA


Caríssimos Irmãos!


1. Com grande alegria dirijo uma cordial saudação a todos vós que participais no Curso sobre o Foro íntimo, organizado pelo Tribunal da Penitenciaria Apostólica. Dirijo uma especial saudação ao Senhor Cardeal James Francis Stafford, Penitenciário-Mor, aos seus Colaboradores, assim como aos Confessores das Basílicas da Urbe que desenvolvem um serviço mais do que precioso e importante.

O Curso sobre o Foro íntimo interessa os jovens sacerdotes alunos das Universidades e Ateneus Pontifícios e constitui um encontro formativo de notável interesse, pois revela a necessidade de uma contínua actualização teológica, pastoral e espiritual dos presbíteros, aos quais é "confiado o ministério da reconciliação" (cf. 2Co 5,18).

2. As páginas evangélicas propostas à nossa atenção pela liturgia neste tempo de Quaresma ajudam a melhor compreender o valor deste singular ministério sacerdotal. Elas mostram o Salvador enquanto converte a Samaritana e é para ela fonte de alegria; cura o cego de nascença e torna-se para ele uma fonte de luz; ressuscita Lázaro, e manifesta-se como vida e ressurreição que vence a morte, consequência do pecado. O seu olhar penetrante, a sua palavra e o seu juízo de amor iluminam a consciência de quantos encontra provocando-lhes conversão e profunda renovação.

Vivemos numa sociedade que parece frequentemente ter perdido o sentido de Deus e do pecado. Mais urgente se faz, portanto, o convite de Cristo à conversão que pressupõe a confissão consciente dos próprios pecados e o relativo pedido de perdão e de salvação. O sacerdote, no exercício do seu ministério, sabe agir "na pessoa de Cristo e sob a acção do Espírito Santo" e por isso deve nutrir em si mesmo os Seus sentimentos, aumentar em si mesmo o amor de Jesus mestre e pastor, médico das almas e dos corpos, guia espiritual, juiz justo e misericordioso.

3. Na tradição da Igreja, a reconciliação sacramental sempre foi considerada em estreita relação com o banquete sacrificial da Eucaristia, memorial da nossa redenção. Neste ano, particularmente dedicado ao Mistério eucarístico, parece-me ainda mais útil chamar a vossa atenção para a relação vital existente entre estes dois Sacramentos.

Já nas primeiras comunidades cristãs se advertia sobre a necessidade de se preparar com uma digna conduta de vida para celebrar a fracção do pão eucarístico, que é "comunhão" com o corpo e com o sangue do Senhor, e "comunhão" (koinonia) com os crentes que formam um só corpo, porque nutridos do mesmo corpo de Cristo (cf. 1Co 10,16-17).

Como é útil recordar as exortações de Paulo aos fiéis de Corinto, os quais participavam levianamente da celebração da "ceia eucarística", não atentos ao sentido profundo do memorial da morte do Senhor e às suas exigências de comunhão fraterna (cf. 1Co 11,17 ss)! As suas palavras de grande severidade admoestam também a nós para nos aproximarmos da Eucaristia com autênticos comportamentos de fé e de amor (cf. ibid., 11, 27-29).

No rito da Santa Missa muitos elementos sublinham esta exigência de purificação e de conversão: do acto penitencial inicial à oração para se obter o perdão, da saudação da paz às orações que os sacerdotes e os fiéis recitam antes da comunhão. Somente quem está sinceramente consciente de não ter cometido um pecado mortal pode receber o corpo de Cristo. Di-lo claramente o Concílio de Trento quando afirma que "ninguém, consciente de estar em pecado mortal, por quanto possa considerar-se arrependido, se aproxime da santa Eucaristia sem ter procurado a confissão sacramental (Sessão XIII, cap. 7; DS 1646-1647). E isto continua a ser ensinado pela Igreja também hoje (cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 1385, Catecismo da Igreja Católica n. 1385, e Carta enc. Ecclesia de Eucharistia EE 36-37).

4. Caríssimos irmãos, sede solícitos ao celebrar vós mesmos o Mistério eucarístico com pureza de coração e amor sincero. O Senhor nos admoesta para que não nos tornemos ramos separados da videira. Com clareza e simplicidade pregai a reta doutrina sobre a necessidade do sacramento da Reconciliação para se aproximar da comunhão, quando se é consciente de não estar na graça de Deus. Ao mesmo tempo, encorajai os fiéis a receber o corpo e o sangue de Cristo para serem purificados dos pecados veniais e das imperfeições, de modo que as Celebrações eucarísticas resultem agradáveis a Deus e nos associem à oferta da Víctima santa e imaculada, com o coração contrito e humilhado, confiante e reconciliado. Sede para todos ministros assíduos, disponíveis e competentes do sacramento da Reconciliação, verdadeiras imagens de Cristo, santo e misericordioso.

Maria, Mãe de misericórdia, vos ajude, e a todos os sacerdotes, a ser "instrumentos" dóceis da misericórdia e da santidade de Deus. Torne-se cada presbítero consciente da alta missão que está chamado a cumprir com pureza de coração e docilidade à acção do Espírito Santo, para derramar no mundo, com a fantasia e o ardor da caridade, o dom que ele mesmo recebe sobre o altar.
Com tais sentimentos, de todo o coração vos abençoo.

Da Policlínica "Gemelli", 8 de Março de 2005.

JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


À PRINCESA KHÉTÉVANE BAGRATION DE MOUKHRANI


NOVA EMBAIXADORA DA GEÓRGIA


JUNTO DA SANTA SÉ


Alteza


1. Transmito-lhe uma cordial saudação, no momento em que Vossa Alteza apresenta as Cartas mediante as quais foi nomeada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da Geórgia junto da Santa Sé. Sinto muito por não me ser possível, em virtude da minha convalescença, recebê-la pessoalmente, para formular os melhores votos no momento em que se prepara para dar início à sua missão. Peço-lhe que comunique os meus cumprimentos ao Senhor Presidente, Sua Excelência o Senhor Mikhail Saakashvili, juntamente com a certeza da minha oração pela prosperidade e pela paz de toda a nação georgiana.

Na presente circunstância, é com grande prazer que recordo a minha homenagem, prestada no início da minha visita pastoral ao seu país em 1999, ao rico património cristão da Geórgia. Exprimo a minha firme convicção de que os valores espirituais e culturais, presentes na tradição do povo georgiano, não deixarão de desempenhar um papel importante na promoção de um renovado florescimento de civilização, a partir das raízes do passado cristão da Geórgia, e no encorajamento da consolidação de uma sociedade digna da sua nobre nação (cf. Discurso de chegada, Tbilisi, 8 de Novembro de 1999).

2. Desde que empreendeu o caminho da independência e da reconstrução nacional, a Geórgia teve de enfrentar numerosos e árduos desafios, que puseram à dura prova a generosidade e o espírito de sacrifício dos cidadãos ao serviço do bem comum. Além da difícil tarefa de instituir estruturas políticas e económicas sólidas, os Georgianos tiveram que assumir também o compromisso de manter com determinação o sentido da unidade, apesar da abertura à mais vasta Comunidade, tanto europeia como internacional. Como tem demonstrado a experiência de muitas nações, no decurso dos últimos vinte anos, enfrentar tais desafios não é possível, senão graças a um equilíbrio sábio e prudente entre as exigências da unidade e o respeito pelas diversidades legítimas.

Por conseguinte, aquilo de que se sente mais necessidade é o desenvolvimento de um sólido modelo de unidade na diversidade, firmemente alicerçado na experiência histórica, que é própria do seu país mas, ao mesmo tempo, aberto ao enriquecimento que brota do diálogo e da cooperação com os outros. Efectivamente, "o mundo de hoje desafia-nos... a conhecermo-nos a nós mesmos e a respeitarmo-nos uns aos outros na e mediante a diversidade das nossas culturas" (Discurso aos Representantes do mundo da ciência e da cultura, Tbilisi, 9 de Novembro de 1999). Somente deste modo será possível abrir o caminho, a todos os níveis da vida social, económica e cultural, a um futuro de solidariedade, de compreensão e de paz.

3. A Igreja Católica que está na Geórgia deseja oferecer a sua própria contribuição para o renascimento da nação e o progresso do bem comum, não apenas através do cumprimento da sua missão religiosa específica, mas inclusivamente mediante o seu compromisso em prol das obras de caridade e na promoção de intercâmbios culturais e de oportunidades educativas em benefício dos jovens, que constituem o porvir da Geórgia.

Não obstante os católicos georgianos representem uma minoria, desejo assegurar-lhe o seu fervoroso desejo de trabalhar, num espírito de colaboração e de pleno respeito, em companhia das das suas irmãs e dos seus irmãos ortodoxos, assim como de todos os homens e mulheres de boa vontade, em vista de edificar um futuro de liberdade, de justiça e de harmonia social. Hoje, mais do que nunca, os fiéis são chamados a unir as suas forças para lançar as bases sólidas de uma autêntica renovação social, contribuindo desta maneira para a formação das consciências nos caminhos da paz e do respeito pela dignidade inviolável e pelos direitos de cada indivíduo e, ao mesmo tempo, cooperando para a eliminação radical de todas as formas de hostilidade, de preconceito e de discórdia.

Neste contexto, desejo formular os bons votos de um diálogo construtivo entre a Igreja Católica e as Autoridades governamentais, a fim de que à comunidade católica seja garantida uma adequada salvaguarda legal, no exercício da missão que lhe é própria.

4. Estes são os sentimentos com que lhe apresento os meus bons votos, acompanhados da oração, no momento em que Vossa Alteza assume a sua alta responsabilidade. Estou convicto de que o cumprimento das suas tarefas contribuirá para um ulterior revigoramento das relações de amizade entre a Geórgia e a Santa Sé. Nesta perspectiva, garanto-lhe a disponibilidade constante dos meus colaboradores para tudo o que precisar no cumprimento da sua exigente missão.

Sobre Vossa Alteza e todo o povo georgiano, invoco do íntimo do coração as copiosas Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

Da Policlínica "Gemelli", 9 de Março de 2005.

JOÃO PAULO II




MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR FÉLIX OUDIANE


NOVO EMBAIXADOR DO SENEGAL JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS



Senhor Embaixador!

1. Sinto-me feliz por acreditar Vossa Excelência como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Senegal junto da Santa Sé. Agradeço-lhe por me ter transmitido os votos cordiais de Sua Excelência o Senhor Abdoulaye Wade, Presidente da República, recordando-me com prazer da visita que me fez ao Vaticano há alguns meses. Tenha a amabilidade de lhe transmitir a minha alta consideração e os meus sentimentos de estima pela sua pessoa.

Agradeço-lhe as palavras gentis que me dirigiu. Elas são o sinal das relações de confiança recíproca que não cessaram de se desenvolver entre o Senegal e a Sé Apostólica, manifestando também a importância dada pelo seu País à dimensão espiritual do homem e de todo o povo. Por fim, dirijo a todos os seus compatriotas as minhas calorosas saudações, garantindo-lhes a minha oração pela prosperidade material e espiritual da inteira nação.

2. O Senegal tem uma longa tradição de boa convivência entre todas as comunidades que a compõem. Por conseguinte, alegro-me profundamente com os resultados prometedores dos esforços feitos no seu país, tanto para fortalecer a paz civil no interior da nação como para erradicar todas as causas que podem estar na origem de desentendimentos e de confrontos violentos. Com efeito, é fundamental que todos os habitantes possam viver na segurança e na concórdia. Como tive várias vezes a ocasião de realçar, "a paz é um bem supremo da qual depende a obtenção de todos os outros bens fundamentais" (Discurso ao Corpo Diplomático,15 de Janeiro de 2005, n. 7). Ela é fundamental para que se possa realizar a justa aspiração das populações a uma vida digna e solidária. É também necessário como nunca educar as novas gerações para os ideais de fraternidade, de justiça e de solidariedade.

O compromisso do Senegal na busca e na consolidação da paz para a África é conhecido e apreciado pela comunidade internacional. Nesta perspectiva, encorajo vivamente os esforços feitos para favorecer o restabelecimento do entendimento e da fraternidade em vários países da região, consolidando os vínculos de solidariedade entre os povos vizinhos. A África tem urgente necessidade de paz e de estabilidade. A violência nunca é uma solução satisfatória para regular as desavenças entre os grupos humanos. A coragem e a perseverança são os caminhos mais eficazes para obter uma reconciliação autêntica. Em relação a isto, a Igreja Católica está plenamente convencida de que a paz nunca é possível sem a justiça, e que não há justiça sem perdão (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2002). Ela deseja também que todos se deixem guiar pela luz do bem verdadeiro do homem, numa busca constante do bem comum.

3. No nosso mundo, muitas vezes obscurecido por grandes sombras, consequências de oposições, por vezes violentas, que se procuram justificar com motivos religiosos, é preciso antes de tudo evidenciar que não faltam testemunhos de convivência entre os crentes de diferentes religiões, e de modo particular entre cristãos e muçulmanos. Sinto-me feliz em verificar que o seu País está comprometido desde há muito tempo neste caminho, mostrando desta forma que o diálogo entre os crentes e entre as culturas é um elemento fundamental para a edificação da paz entre os povos. O Senegal mostra-se particularmente sensível à necessidade de viver a diversidade das pertenças religiosas na unidade da nação. Esta é uma das condições de um progresso pleno da sociedade.

Apesar das dificuldades inevitáveis relacionadas com a existência entre as diferentes comunidades humanas, o diálogo consente reconhecer a riqueza da sua diversidade. Elas podem ter nessas diversidades a melhor salvaguarda das suas particularidades, bem como uma autêntica compreensão recíproca fundada no respeito e na amizade. Mas este diálogo deve, em primeiro lugar, ter a sua expressão concreta numa convivência autêntica entre as comunidades, para servir o bem comum da única família humana. O caminho a percorrer juntos ainda é longo, trata-se do caminho do conhecimento mútuo, do perdão e da reconciliação, abrindo-se a colaborações recíprocas que contribuam para edificar uma sociedade pacífica e fraterna. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, sabe muito bem que a Igreja Católica está resolutamente comprometida neste caminho. Compete aos crentes fazer dele uma esperança para o mundo.

4. Nesta solene circunstância, através de Sua Excelência, gostaria de saudar calorosamente a comunidade católica do Senegal. Convido-a a permanecer sempre unida aos seus Bispos, para fazer reinar cada vez mais o amor de Cristo, partilhando com todos a alegria da paz que incessantemente recebe d'Ele. O Evangelho chama todos os discípulos de Cristo a trabalhar incessantemente, com todos os homens de boa vontade, para construir a unidade da família humana, cuja fonte está em Deus!

5. No momento em que inicia a sua missão junto da Sé Apostólica, faço-lhe os meus melhores votos para o seu feliz cumprimento. Tenha a certeza de que encontrará sempre, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e a compreensão cordial de que tiver necessidade.

DIscursos João Paulo II 2005