Discursos João Paulo II 1978 - Segunda-feira, 23 de Outubro de 1978

PALAVRAS DE SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA VISITA A CASTEL GANDOLFO


Quarta-feira, 25 de Outubro de 1978



Seja louvado Jesus Cristo!

Pois bem: tornei-me vosso concidadão! Não poderia dizer muito, mas uma coisa certa: que o nosso primeiro encontro é muito caloroso, e muito rumoroso! Esperemos que seja também muito religioso. Saúdo a todos, e desejo a Castel Gandolfo que este seu novo concidadão venha a ser um cidadão honesto. E como este cidadão é o Papa. ele começa por dar uma bênção a todos os seus concidadãos. Seja louvado Jesus Cristo!

Saúdo as autoridades locais e agradeço a todos os que, um pouco..., me guardaram.

Uma última palavra ainda: Seja louvado Jesus Cristo!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À FEDERAÇÃO INTERNACIONAL


DOS HOMENS CATÓLICOS «UNUM OMNES»


Sábado, 28 de Outubro de 1978

: Caros Amigos

A Federação Internacional dos Homens Católicos Unum Omnes, que reúne Associações nacionais de mais de trinta países dos diversos continentes, celebra este ano o trigésimo aniversário de fundação. Alegra-me, no princípio do meu Pontificado, dirigir-me a primeira vez a uma das Organizações internacionais católicas chamadas a oferecer contributo importante à missão da Igreja, isto é à evangelização e à animação cristã do mundo. Alegra-me tomar contacto especialmente com a vossa Federação que sempre exerceu actividades em grande fidelidade à Igreja, em comunhão íntima com a Hierarquia e preocupando-se constantemente com as aspirações e problemas actuais. Desejo apenas sublinhar hoje algumas características das Organizações nacionais, membros da Federação, numa perspectiva de aprofundamento e de renovação.

A vossa Federado é uma Organização internacional de homens adultos.Ao começar por encarecer este aspecto, não o faço por estimar menos a participação tão importante das mulheres, dos jovens e até das crianças na missão da Igreja, em numerosos campos da vida social e eclesial. Mas trata-se de insistir na necessidade da presença activa no mundo de homens adultos católicos, na necessidade do testemunho cristão e da acção apostólica deles, para que a Igreja, como fermento, penetre realmente em toda a sociedade humana, estruturada como ela está e marcada por tantas ideologias, estranhas ao espírito do Evangelho. Mas como, por outro lado, se hão-de atingir todos esses homens, muitas vezes tão comprometidos e absorvidos por responsabilidades ou preocupações terrestres, os quais por este motivo descuidam ou esquecem mesmo, a dimensão religiosa da própria vida? Não será por meio doutros homens, semelhantes a eles, comprometidos como eles, mas que sem tréguas procuram a Deus e O adoram, seguem e servem o Senhor Jesus Cristo?

Como não se há-de ambicionar que no mundo por toda a parte, homens católicos, de todas as condições sociais e com responsabilidades temporais a todos os níveis, possam unir-se em associações apostólicas bem inseridas nas paróquias e nas cidades, para assim encontrarem a sólida formação cristã que lhes é necessária, para se ajudarem mutuamente e se prepararem para dar verdadeiro testemunho apostólico, adaptado às necessidades presentes e animado pelo espírito de amor, de serviço e de renovação segundo o Evangelho? Esta inserção local reclama evidentemente trocas e combinações no plano diocesano, nacional e internacional.

A vossa Federação e as suas organizações-membros são católicas. uma das características essenciais destas associações de acção católica, bem claramente indicada pelo recente Concílio: continuar, "em união bem estreita com a Hierarquia, a dedicar-se a fins especificamente apostólicos..., à evangelização e santificação dos homens e à formação cristã da consciência deles, de modo que possam imbuir do espírito do Evangelho as várias comunidades e os vários meios" (Decreto Apostolicam Actuositatem AA 20).

A Santa Sé aprecia muito este profundo sentido eclesial da Federação e anima-vos energicamente a que o mantenhais a todos os níveis.

É capital, enfim, que a vossa Federação conserve o cuidado de dar aos seus membros a formação apropriada a fim de que possam assumir plenamente as suas responsabilidades de leigos. porque, num mundo ameaçado pela secularização, eles devem exercer uma acção secular cristã, procurando o reino de Deus ao tratarem das realidades temporais (Cfr. Const. Lumen Gentium LG 31).

O tema estudado na presente Assembleia, "os direitos do homem", é sinal do vosso desejo de estardes presentes nas realidades sociais do nosso tempo. Tal estudo, feito à luz do Evangelho, tem em vista objectivos concretos: o compromisso pessoal e a acção combinada dos cristãos com o fim de promover, defender e fazer respeitar estes direitos na sociedade humana. E por isso mesmo ele contribuirá para acrescer a irradiação da Igreja por meio da acção dos Seus membros leigos.

A Santa Sé aprecia muito este profundo sentido eclesial da Federação e anima-vos energicamente a que o mantenhais a todos os níveis. capital, enfim, que a vossa Federação conserve o cuidado de dar aos seus membros a formação apropriada a fim de que possam assumir plenamente as suas responsabilidades de leigos, porque, num mundo ameaçado pela secularização, eles devem exercer uma acção secular crista, procurando o reino de Deus ao tratarem das realidades temporais . O tema estudado na presente Assembleia, "os direitos do homem", é sinal do vosso desejo de estardes presentes nas realidades sociais do nosso tempo. Tal estudo, feito à luz do Evangelho, tem em vista objectivos concretos: o compromisso pessoal e a acção combinada dos cristãos com o fim de promover, defender e fazer respeitar estes direitos na sociedade humana. E por isso mesmo ele contribuirá para acrescer a irradiação da Igreja por meio da acção dos Seus membros leigos.

Faço votos por que os trabalhos da vossa Assembleia sejam muito frutuosos. Obrigado pela tarefa realizada em serviço da Igreja no decurso destes trinta anos; continuai-a, na fé, na esperança e na caridade. Peço ao Senhor que vos guie e abençoo-vos de todo o coração, a vós que estais aqui presentes com os vossos capelães, do mesmo modo que a todos os membros da Federação e às suas famílias.

Permiti que junte uma palavra em inglês, para expressar a minha alegria hoje, por me ser dado encontrar-me com a Federação Internacional dos Homens católicos. Desejo patentear quanto admiro a vossa dedicação à causa do Senhor Jesus. Pelo Baptismo e pela Confirmação fostes chamados por Ele para participar na missão da Sua Igreja — na Sua própria missão de salvação. E o Papa está profundamente agradecido por tudo o que estais fazendo para dilatar o Reino de Deus, de verdade e vida, de justiça, amor e paz. Sente entusiasmo por contar com a vossa participação no Evangelho de Cristo.

Recomendo as vossas actividades a Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, pedindo-lhe que as mantenha firmes na fé no seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, de maneira que o mundo possa ver as vossas boas obras e glorificar o vosso Pai que está nos céus (Mt 5,16).

Com a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO III CONGRESSO


INTERNACIONAL DA FAMÍLIA


Segunda-feira, 30 de Outubro de 1978



Constitui sempre alegria para o Papa encontrar pais e mães de família, muito conscientes das suas responsabilidades de educadores cristãos. E é uma graça ver surgirem hoje na Igreja numerosas iniciativas de apoio às famílias.

Não é preciso que eu insista diante de vós no papel primordial da família na educação humana e cristã. O recente Concílio, e vários dos seus textos, pôs felizmente em relevo a missão dos pais, "primeiros e principais educadores", dificilmente substituíveis (Declaração Gravissimum educationis GE 3). É para eles um direito natural, uma vez que deram a vida aos filhos; é também a melhor maneira de assegurar uma educação harmoniosa, por causa do carácter completamente original das relações pais-filhos, e da atmosfera de afeição e segurança que os pais podem criar, na irradiação do amor, próprio deles (Cfr. Const. Gaudium et Spes GS 52). A maior parte das sociedades civis tiveram, elas próprias, de reconhecer o papel particular e necessário dos pais na primeira educação. No plano internacional, a "Declaração dos direitos da criança", que é pelo menos sinal duma vastíssima concordância, admitiu "dever a criança, quanto possível, crescer debaixo da salvaguarda e da responsabilidade dos próprios pais" (Declaração dos Direitos da Criança Princípio 6). Façamos votos por que este compromisso se traduza cada vez mais nos factos, sobretudo durante o Ano internacional da Criança que vai começar em breve.

Mas não basta afirmar e defender este princípio do direito dos pais. É preciso sobretudo pensar em ajudá-los no bom desempenho deste cargo difícil da educação nos nossos tempos modernos. Neste campo, a boa vontade e até o amor não bastam. Certa habilidade é que os pais devem adquirir com a graça de Deus, primeiro fortificando as suas próprias convicções morais e religiosas, dando exemplo, reflectindo também sobre as próprias experiências — entre si, com outros casais, com educadores experimentados e com sacerdotes. Trata-se de ajudar as crianças e os adolescentes "a estimar rectamente os valores morais e a abraçá-los pessoalmente, bem como a conhecer e a amar a Deus mais pessoalmente" (Decl. Gravissimum educationis GE 1). Esta educação do discernimento, da vontade e da fé deles, é verdadeira arte; a atmosfera familiar deve constar de confiança, logo, firmeza e de respeito bem entendido da liberdade nascente: coisas todas, estas, que permitem uma iniciação progressiva para o encontro com o Senhor e para os hábitos que honram já a criança e preparam o homem de amanhã. Oxalá as crianças adquiram nas vossas famílias uma "primeira experiência da Igreja e da autêntica vida humana em sociedade" (Cfr. ibid.3). Pertencer-vos-á também instrui-las pouco a pouco em comunidades educativas mais amplas que a família. Esta deve então acompanhar os seus adolescentes com amor paciente, na esperança, e, sem renunciar às obrigações, cooperar com o outros educadores. Assim, reforçados na sua identidade cristã para enfrentarem como convém um mundo pluralista — muitas vezes indiferente e hostil mesmo às suas convicções — estes jovens poderão tornar-se fortes na fé, servir a sociedade e tomai parte activa na vida da Igreja, em comunhão com os seus Pastores aplicando as orientações do Concílio Vaticano II.

Na vossa missão magnífica ajudem-vos o exemplo e a oração da Virgem Maria. Tenho o gosto de abençoar as vossas famílias e de animar, para além das vossas pessoas, todos os pais e associações de pais, que têm a peito a educação cristã.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SACRO COLÉGIO DOS CARDEAIS


NA FESTA DE SÃO CARLOS BORROMEO


Sábado, 4 de Novembro de 1978



Desejo de todo o coração agradecer as expressões de benevolência para com a minha pessoa. O dia onomástico leva a que a atenção e a benevolência dos que estão mais perto e dos familiares convirjam sobre a pessoa que tem um nome determinado. Este nome recorda-nos o amor dos nossos pais, que ao imporem-no queriam em certo modo estabelecer o lugar do filho naquela comunidade de amor que é a família. Usando este nome, foram eles os primeiros a dirigirem-se a ele e, juntando-se aos mesmos, os irmãos e as irmãs, os parentes, os amigos e companheiros. E assim o nome traçou o caminho do homem entre os homens; entre os homens mais vizinhos e mais afeiçoados.

Todavia, o mistério do homem vai mais longe. Os pais, que impuseram ao filho o nome no baptismo, queriam definir o seu lugar na grande assembleia de amor que é a Família de Deus. A igreja na terra avança continuamente para as dimensões desta família no mistério da comunhão dos Santos. Impondo o nome ao próprio filho, os pais querem introduzi-lo na continuidade deste mistério.

Os meus queridíssimos pais deram-me o nome de Karol, que era também o nome de meu pai. Certamente não puderam nunca prever (ambos morreram novos) que este nome abriria ao próprio filho o caminho, entre os grandes acontecimentos da Igreja de hoje.

São Carlos! Quantas vezes me ajoelhei diante das suas relíquias na Catedral de Milão, quantas vezes tornei a pensar na sua vida, contemplando no meu espírito a gigantesca figura deste homem de Deus e servo da Igreja, Carlos Borromeo, Cardeal, Bispo de Milão e homem do Concilio! É um dos grandes Protagonistas da profunda reforma da Igreja no século XVI, realizada pelo Concílio de Trento, a qual ficará sempre unida ao seu nome, como é também dos grandes promotores da instituição dos seminários eclesiásticos, reconfirmada em toda a própria substância pelo Concilio Vaticano II. E foi, além disso, servo das almas, que nunca se deixava amedrontar; servo dos que sofriam, dos doentes e dos condenados à morte.

Meu Padroeiro!

No seu nome os meus pais, a minha paróquia e a minha pátria desejavam preparar-me desde o principio para um serviço especial da Igreja, no contexto do hodierno Concílio, com os tão numerosos encargos que andam unidos à sua realização, e também no conjunto das experiências e dos sofrimentos do homem de hoje.

Deus vos retribua, Veneráveis Irmãos, Cardeais da Santa Igreja Romana, terdes querido neste dia venerar comigo São Carlos na minha indigna pessoa. Deus retribua a todos os que o fazem juntamente convosco.

Oxalá eu conseguisse, ao menos em parte, ser imitador seu!

Espero que as vossas orações, as orações de todos os homens bons, nobres e benévolos, meus irmãos e irmãs, me ajudem em tal propósito.

E agora, antes de pôr fim a este discurso, seja-me permitido dirigir-me de maneira muito particular a si, venerável e caro Decano do Sacro Colégio, portador do mesmo nome de Carlos.

Temos um Padroeiro comum e no mesmo dia festejamos o onomástico.

Retribuo os melhores votos augurais. E faço-o do fundo do coração, com reconhecimento vivíssimo.

O Decano do Sacro Colégio mostrou-me grande benevolência nestes primeiros dias do meu pontificado. As suas palavras, todas as vezes que fala, estão cheias de amor e dedicação; e eu recebo as expressões que me dirigiu hoje como sinal de singular apoio aos meus primeiros passos ao iniciar-se a minha nova Missão. Agradeço-lhe de coração.

E peço que São Carlos, nosso Padroeiro comum, abençoe a sua pessoa durante toda a vida, durante todos os dias cheios de amor à Igreja e marcados pelo espírito de dedicação e serviço, que nos edifica a todos.

Com a minha especial Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA VISITA A SÃO FRANCISCO DE ASSIS


Domingo, 5 de Novembro de 1978

Eis-me em Assis neste dia que desejei consagrar de modo particular aos Santos Patronos desta terra: a Itália; terra à qual Deus me chamou para servir como sucessor de São Pedro. Uma vez que não nasci neste solo, sinto mais que nunca a necessidade dum "nascimento" espiritual nele. E por isso, neste domingo, venho como peregrino a Assis, aos pés do Santo "Poverello" Francisco, que escreveu com caracteres bem marcados o Evangelho de Cristo nos corações dos homens do seu tempo. Não podemos admirar-nos de que os seus concidadãos tenham querido ver nele o Patrono da Itália.


O Papa que, por motivo da sua missão, deve ter diante dos olhos toda a Igreja universal, esposa de Cristo nas várias partes do mundo, precisa especialmente, na sua sede de Roma, da ajuda do Santo Patrono da Itália, precisa da intercessão de São Francisco de Assis.

Por isso, chega hoje aqui.

Vem para visitar esta cidade, sempre testemunha da maravilhosa aventura divina, decorrida entre os séculos XII e XIII. Ela é testemunha daquela surpreendente santidade, vivida aqui como grande sopro do Espírito. Sopro de que participou São Francisco de Assis, a sua irmã espiritual Santa Clara e tantos outros Santos nascidos da sua espiritualidade evangélica. A mensagem franciscana estendeu-se ao longe, além das fronteiras da Itália, e bem depressa chegou também ao solo da Polónia, de que eu provenho. E lá continua sempre a actuar com frutos copiosos, como aliás nos outros países do mundo e nos outros continentes.

Dir-vos-ei que, como Arcebispo de Cracóvia, habitava perto duma antiquíssima igreja franciscana, e de vez em quando ia rezar, fazer a Via-Sacra e visitar a capela de Nossa Senhora das Dores. Momentos inesquecíveis para mim! Não se pode deixar de recordar aqui que exactamente deste magnífico tronco da espiritualidade franciscana brotou o beato Maximiliano Kolbe, patrono especial dos nossos difíceis tempos. Não posso deixar de recordar que, exactamente aqui em Assis, nesta Basílica, no ano de 1253, o Papa Inocêncio IV proclamou Santo o Bispo de Cracóvia, o Mártir Estanislau, agora Patrono da Polónia, de que eu até há pouco era indigno sucessor.

Por isso hoje, como Papa, ao entrar a primeira vez aqui, nas fontes desse grande sopro do Espírito, desse maravilhoso renascimento da Igreja e da cristandade no século XIII, derivado da figura de São Francisco de Assis. o meu coração abre-se para o nosso Patrono e brada:

"Tu, que tanto aproximaste Cristo da tua época, ajuda-nos a aproximar Cristo da nossa época, dos nossos tempos difíceis e críticos. Ajuda-nos! Estes tempos esperam Cristo com grandíssima ansiedade, embora de tal coisa não dêem conta muitas pessoas da nossa época. Aproximamo-nos do ano 2000 depois de Cristo. Não serão estes, tempos que nos preparem para um renascimento de Cristo, para um novo Advento? Nós, todos os dias, na oração eucarística exprimimos a nossa expectativa, dirigida a Ele só, nosso Redentor e Salvador, a Ele que é termo da história do homem e do mundo.

Ajuda-nos, São Francisco de Assis. ajuda-nos a aproximar Cristo da Igreja e do mundo de hoje.

Tu, que trouxeste no Teu coração os altos e baixos dos teus contemporâneos, ajuda-nos, com o coração vizinho ao coração do Redentor, a abraçar as alternativas dos homens da nossa época. Os difíceis problemas sociais, económicos e políticos, os problemas da cultura e da civilização contemporânea, todos os sofrimentos do homem de hoje, as suas dúvidas, as suas negações, as suas debandadas, as suas tensões, os seus complexos e as suas inquietações... Ajuda-nos a traduzir tudo isto em simples e frutuosa linguagem do Evangelho. Ajuda-nos a reduzir tudo a categorias evangélicas, de maneira que possa ser Cristo 'Caminho, Verdade e Vida' para o homem nosso contemporâneo.

Isto te pede a Ti, filho santo da Igreja, filho da terra italiana, o Papa João Paulo II, filho da terra da Polónia. E espera que não lho recuses, que o ajudes. Sempre foste bom e sempre te apressaste a levar auxílio a todos os que a Ti se dirigiram".

Agradeço vivamente ao Eminentíssimo Cardeal Sílvio Oddi, Delegado Pontifício para a Basílica de São Francisco de Assis, e ao Excelentíssimo Bispo de Assis, D. Dino Tomassini, e a todos os Arcebispos e Bispos da Região pastoral umbra, como aos sacerdotes das várias Dioceses.

Uma saudação e um agradecimento especial aos Ministros-Gerais das quatro Famílias Franciscanas, à Comunidade da Basílica de São Francisco, a todos os Franciscanos, a todas as Famílias Religiosas — Religiosos e Religiosas —, que se inspiram na Regra, no estilo de vida de São Francisco de Assis.

Digo-vos aquilo que sinto no fundo do coração:

O Papa está-vos agradecido pela fidelidade à vossa vocação franciscana.

O Papa está-vos agradecido pela vossa diligência apostólica e missão evangélica.

O Papa agradece as vossas orações por ele e segundo as suas intenções.

O Papa assegura que se lembrará de vós na oração.

Servi o Senhor com alegria.

Sede servos do Seu povo com alegria, porque São Francisco quis-vos servos alegres da humanidade, capazes de acender por toda a parte a lâmpada da esperança, da confiança e do optimismo de que é fonte o Senhor mesmo. Seja-vos de exemplo, hoje e sempre, o vosso, o nosso comum Santo Patrono, São Francisco de Assis.

Apresento, em seguida, a minha cordialíssima e deferente saudação às Autoridades civis aqui presentes:

ao Senhor Presidente da Câmara de Assis, aos Membros da Junta Comunal e do Conselho, às Autoridades civis da Região Umbra e da Província de Perúsia, aos Parlamentares da Região. Obrigado! Obrigado pelas presenças, obrigado por terem querido associar-se à oração comum junto do Túmulo de São Francisco!

Aos sentimentos da minha gratidão profunda uno os votos mais fervorosos de bem, de prosperidade e de progresso, para as suas pessoas e para toda a caríssima população da Umbria.

De Assis ainda, deste lugar sagrado, tão querido a todos os Italianos, uma saudação comovida e uma bênção especial a toda a Itália, a todos os Italianos espiritualmente presentes a este nosso encontro de oração, a todo o povo italiano.

Um pensamento afectuoso e especial recordação desejo reservar para os emigrados italianos, para os italianos dispersos em todos os continentes do globo. Sei que nas suas casas, muitas vezes bem distantes de Assis e da Itália, há sempre uma recordação levada da Itália e ligada com Assis, uma imagem de São Francisco, e no coração uma devoção sincera e vivida ao "Poverello" de Assis. E em seguida uma saudação a todos os que se honram com o nome de "Francisco", encontrando no nosso Santo Patrono exemplo de vida, protector celeste, guia espiritual e uma inspiração interior!

Para todos, presentes em Assis, uma especial oração do Papa!

E para todos, enviada de Assis, uma especial Bênção Apostólica!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA IGREJA DE SANTA MARIA "SOPRA MINERVA"


JUNTO DO TÚMULO DE SANTA CATARINA DE SENA


Domingo, 5 de Novembro de 1978

Aproxima-se do fim este dia que desejei consagrar, de modo especial, aos santos Patronos da Itália. Eleito pelo Sacro Colégio dos Cardeais como sucessor de São Pedro, com profunda agitação aceitei este serviço, considerando-o vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando me veio à mente não ser eu natural desta terra, mas estrangeiro para ela, ocorreu-me a figura de São Pedro, também ele estrangeiro em Roma. Assim, em espírito de fé, aceitei por obediência. essa eleição, em virtude da qual me tornei Sucessor de Pedro e Bispo de Roma.


Bem sinto a necessidade de inserir-me nesta nova terra, Roma, que Pedro escolheu, vindo de Jerusalém e passando por Antioquia. E escolheu-a para fundar nela a sua cátedra apostólica. Esta terra sempre a considerei vizinha; mas agora deve tornar-se a minha segunda pátria, e por isso pensei em expressar hoje, de modo especial, a minha união com esta terra, com a Itália. Desejo fazer parte dela em toda a sua riqueza histórica e, ao mesmo tempo, em toda a sua realidade hodierna. Particular testemunho de cada pátria terrena dos homens são os santos dela, entre os quais estes dois: Santa Catarina de Sena e São F rancisco de Assis, que foram proclamados Patronos da Itália.

Aqui, diante das relíquias de Santa Catarina, devo uma vez mais agradecer à divina Sabedoria ter querido servir-se deste simples e ao mesmo tempo profundo coração de mulher para mostrar, num período de incerteza, o caminho à Igreja e especialmente aos sucessores de Pedro. Quanto amor e quanta coragem! Quanta simplicidade maravilhosa, mas também quanta profundidade maravilhosa de ânimo! Alma aberta a todas as inspirações do Espírito, consciente da sua missão.

Desejo sinceramente que, na nossa época, Santa Catarina, Doutora da Igreja, continue a ser patrona da consciência da vocação cristã de todos. Consciência que, de maneira especial, deve atingir a maturidade e enraizar-se, para a Igreja poder cumprir a missão que lhe confiou Cristo e cumpri-la segundo as necessidades dos nossos tempos!

Em Santa Catarina de Sena vejo um sinal visível da missão da Mulher na Igreja. Desejava dizer muito sobre este assunto, mas não mo permite o breve espaço de tempo neste dia. A Igreja de Jesus Cristo e dos Apóstolos é ao mesmo tempo Igreja-mãe e Igreja-esposa. Tais expressões bíblicas revelam, de modo claro, a grande profundidade com que a missão da Mulher está inscrita no mistério da Igreja. Oxalá pudéssemos juntos descobrir o multiforme significado de tal missão — acompanhando, de mãos dadas, o mundo feminino de hoje, baseando-nos nas riquezas que, desde o início, o Criador depositou no coração da Mulher, e baseando-nos na sabedoria admirável deste coração que Deus quis revelar, há tantos séculos, em Santa Catarina de Sena.

Como naqueles tempos ela foi mestra e guia dos Papas afastados de Roma, seja hoje inspiradora do Papa vindo para Roma e aproxime deste não só a pátria dela mas ainda todas as terras do mundo, num abraço único da Igreja universal.

Desejava, além disso, exprimir a minha especial gratidão ao Em.mo Cardeal Ciappi, pertencente à Ordem de São Domingos; ao Mestre-Geral dos Dominicanos e a todos os seus Irmãos (ao mesmo tempo Irmãos de Santa Catarina de Sena), como também a todos os Bispos aqui presentes; uma saudação especial ao Ex.mo Arcebispo de Sena, Dom Ismael Castellano, e a todos os membros da peregrinação de lá vinda: devo pedir desculpa de não me ter dirigido à vossa belíssima cidade, mas espero que venha a encontrar-se outra ocasião.

Saúdo a todos, a todos me recomendo, e de todo o coração a todos abençoo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS E CRIANÇAS DE ASSOCIAÇÕES


E PARÓQUIAS ITALIANAS


Quarta-feira, 8 de Novembro de 1978



Sede bem-vindos, caríssimos meninos e meninas, e caríssimos jovens.

Saúdo-vos com todo o coração e digo-vos que é especialmente grande a alegria que me trazeis hoje com a vossa numerosa e afectuosa presença. Sempre se está bem com os jovens.

O Papa quer bem a todos, a cada homem e a todos os homens, mas tem preferência pelos mais jovens, porque eles tinham lugar de preferência no coração de Cristo, que desejava estar com as crianças (Mc 10,14 Lc 18 deter-se com os jovens; aos jovens especialmente dirigia sua chamada (Mt 19, 21); João, o Apóstolo mais jovem, fizera o Seu predilecto.

Agradeço-vos portanto vivamente terdes vindo visitar-me, trazendo-me o dom precioso da vossa juventude, dos vossos olhos cheios de alegria e vida, dos vossos rostos a irradiarem ideais.

Neste primeiro encontro desejo exprimir-vos, além da intensidade dos meus sentimentos de afecto, a minha esperança. Sim, a minha esperança, porque vós sois a promessa do dia de amanhã. Vós sois a esperança da Igreja e da sociedade. Contemplando-vos, penso com inquietação e também com esperança, no que vos espera na vida e naquilo que vireis a ser no mundo de amanhã, e desejo deixar-vos, como viático para a vossa vida, três pensamentos:

— procurai Jesus,
— amai Jesus,
— testemunhai Jesus.

1) Primeiro que tudo, "procurai Jesus"!

Hoje menos que nunca nos podemos contentar com uma fé cristã superficial ou de tipo sociológico; os tempos, bem o sabeis, estão mudados. O aumento da cultura, a influência continua dos "mass-media", o conhecimento das vicissitudes humanas passadas e presentes, o aumento da sensibilidade e da exigência de certeza e clareza sobre as verdades fundamentais, a presença compacta na sociedade e na cultura de concepções ateias, agnósticas e até anticristãs reclamam uma fé pessoal, quer dizer, procurada com a ansiedade de atingir a verdade, para a fé depois ser vivida integralmente.

Numa palavra, é preciso chegar à convicção clara e certa da verdade da fé cristã em si mesma, isto é, em primeiro lugar, da historicidade e da divindade de Cristo, e da missão da Igreja por Ele querida e fundada.

Quando se está verdadeiramente convencido de Jesus ser o Verbo encarnado e estar ainda hoje presente na Igreja, então aceita-se totalmente a sua "palavra", porque é palavra divina que não engana, não se contradiz e nos dá o sentido único e verdadeiro da vida e da eternidade. Só Ele, de facto, tern palavras de vida eterna! Só Ele é o caminho, a verdade e a vida!

Repito-vos portanto: procurai Jesus, lendo e estudando o Evangelho; lendo algum bom livro. Procurai Jesus aproveitando em especial a lição de Religião na Escola, os catecismos e os encontros nas vossas Paróquias.

Procurar Cristo pessoalmente, com a ansiedade e a alegria de descobrir a verdade, dá profunda satisfação interior e grande força espiritual para depois se levar à prática o que Ele exige, embora custe sacrifício.

2) Em segundo lugar, digo-vos, "amai Jesus"!

Jesus não é uma ideia, um sentimento, uma recordação! Jesus é uma "pessoa", sempre viva e presente connosco!

— Amai Jesus presente na Eucaristia. Ele está presente de modo sacrifical na Santa Missa, que renova o Sacrifício da Cruz. Ir à Missa significa ir ao Calvário para nos encontrarmos com Ele, nosso Redentor.

Ele vem a nós na Sagrada Comunhão e fica presente no Tabernáculo das nossas igrejas, porque Ele é o nosso amigo, é o amigo de todos e deseja ser especialmente o amigo e o sustentáculo no caminho da vossa vida, meninos e jovens, que tanto precisais de confidência e de amizade.

— Amai Jesus presente na Igreja, mediante os seus sacerdotes; presente na família, mediante os vossos pais e os que vos amam.

— Amai Jesus presente especialmente nos que sofrem dalguma maneira: física, moral ou espiritualmente. Seja vosso empenho e programa, amar o próximo descobrindo nele o rosto de Cristo.

3) Por fim, digo-vos, "testemunhai Jesus" com a vossa fé corajosa e com a vossa inocência.

Não vale a pena lamentarmo-nos da malvadez dos tempos. Como já escrevia São Paulo, é necessário vencer o mal fazendo o bem (Rm 12,21). O mundo estima e respeita a coragem das ideias e a força das virtudes. Não temais recusar palavras, gestos e atitudes não conformes com os ideais cristãos. Sede corajosos em afastar o que destrói a vossa inocência ou mancha a frescura do vosso amor a Cristo.

Procurar, amar, testemunhar Jesus! Eis o vosso compromisso; eis a recomendação que vos deixo! Procedendo assim, não só conservareis na vossa vida a verdadeira alegria, mas beneficiareis também a sociedade inteira, que precisa sobretudo de coerência com a mensagem evangélica.

É isto o que de coração vos desejo, ao mesmo tempo que abençoo com toda a alma as vossas pessoas, todos os que vos são caros, e todos os que se dedicam h vossa formação.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS NORTE-AMERICANOS


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Quinta-feira, 9 de Novembro de 1978



Caros Irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo

Uma das maiores consolações do novo Papa é saber que tem por si o amor e apoio de todo o Povo de Deus. Como o Apóstolo Pedro o foi, segundo os Actos dos Apóstolos, assim o Papa é muito ajudado pelas orações fervorosas dos fiéis. Constitui pois alegria especial para mim estar hoje convosco, meus Irmãos no Episcopado, pastores de Igrejas locais nos Estados Unidos da América. Sei que trazeis convosco a profunda fé do vosso povo, o seu profundo respeito pelo mistério do cargo de Pedro no desígnio de Deus em favor da Igreja universal, e o seu amor por Cristo e seus irmãos. Graças à providência de Deus, pude visitar a vossa terra e conhecer algumas personalidades do vosso povo. Assim, estarmos agora aqui juntos, é já uma celebração da unidade da Igreja. E é também testemunho da nossa aceitação de Jesus Cristo, na totalidade do seu ministério de salvação.

Como Servo, Pastor e Pai da Igreja universal, desejo neste momento expressar o meu afecto a todos os questão especialmente chamados a trabalhar pelo Evangelho, todos quantos activamente colaboram convosco nas vossas Dioceses, para construir o Reino de Deus. Como vós, aprendi eu como Bispo a ouvir em primeira mão qual o ministério dos sacerdotes, os problemas que dizem respeito à vida de cada um, os esplêndidos esforços que estão fazendo, os sacrifícios que fazem parte do serviço que prestam ao povo de Deus. Como vós, estou eu bem ciente em que medida depende Cristo dos seus sacerdotes para realizar na devida altura a sua missão redentora. E como vós trabalhei eu com religiosos, esforçando-me por dar testemunho da estima que a Igreja nutre por eles na vocação que têm de amor consagrado, e insistindo sempre para conseguir perfeita e generosa colaboração da sua parte na vida colectiva da comunidade eclesiástica. Todos nós vimos exemplos numerosos de autêntica evangelica testificatio.Agora peço-vos a todos que leveis as minhas saudações ao clero e aos religiosos, para os certificar a todos da minha compreensão, da minha solidariedade e do meu amor em Cristo Jesus e na Igreja.

Estou ainda consciente de as minhas obrigações pastorais abarcarem toda a comunidade dos fiéis. Durante esta audiência desejaria procurar oferecer algumas reflexões básicas, que eu estou firmemente convencido serem importantes para cada Igreja local no seu conjunto. Estabelecendo prioridades, os meus Predecessores Paulo VI e João Paulo I escolheram assuntos de extrema importância, e eu ratifico com pleno conhecimento e convicção pessoal todas as exortações e directrizes aos Bispos Americanos. No último discurso aos Bispos Americanos, em visita ad limina, o meu imediato predecessor falou sobre a família cristã. Já durante as primeiras semanas do meu Pontificado, tive ocasião de falar deste assunto e de enaltecer-lhe a importância. Sim, oxalá todas as admiráveis famílias cristãs da Igreja de Deus saibam que o Papa está com elas em união de orações, de esperança e de confiança. O Papa confirma-as na missão que lhes foi dada pelo próprio Cristo, proclama a dignidade delas e abençoa os esforços em que se empenham.

Com a protecção de Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, desejo consagrar o meu Pontificado a continuar a genuína aplicação do Concílio Vaticano II, sob o impulso do Espírito Santo. E para este fim, nada é mais esclarecedor do que recordar as palavras com que, no dia da inauguração, João XXIII desejou manifestar a orientação deste grande acontecimento eclesiástico: "O que mais importa ao Concilio Ecuménico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e proposto de forma mais eficaz". Esta visão a longo alcance, do Papa João, conserva ainda hoje o seu valor. É a única base perfeita para um Concílio ecuménico orientado para a renovação pastoral; é a única base perfeita para todos os nossos esforços como Bispos da Igreja de Deus. Constitui hoje portanto a minha esperança mais profunda quanto aos pastores da Igreja na América, e quanto também a todos os pastores da Igreja universal: "que o depósito da sagrada doutrina cristã seja guardado e proposto de forma mais eficaz". O depósito sagrado da palavra de Deus, transmitido pela Igreja, é a alegria e força da vida do nosso povo. É a única solução pastoral para os muitos problemas dos nossos dias. Apresentar este sagrado depósito da doutrina cristã em toda a sua pureza e integridade, com todas as suas exigências e em todo o seu alcance, eis a santa responsabilidade pastoral; é, além disso, o mais sublime serviço que podemos prestar.


Discursos João Paulo II 1978 - Segunda-feira, 23 de Outubro de 1978