Discursos João Paulo II 2000 92


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PARTICIPANTES NO XVI CONGRESSO INTERNACIONAL

DEDICADO AO TEMA "O FETO COMO PACIENTE"


Segunda-feira, 3 de Abril de 2000


Senhoras e Senhores!

1. É-me grato ter a oportunidade de vos dar as boas-vindas ao Vaticano, por ocasião do vosso Congresso internacional. Agradeço ao Professor Cosmi as cordiais palavras que me dirigiu em vosso nome, e asseguro-vos do interesse com que a Santa Sé acompanha os desenvolvimentos do vosso sector.

Permiti-me dizer quanto me sinto feliz pelo tema do Congresso "O feto como paciente". Ao concentrar-se sobre feto como sujeito de intervenção médica e de terapia, o vosso Congresso considera o feto em toda a sua dignidade humana, dignidade que o nascituro possui desde o momento da concepção.

2. Nas últimas décadas em que a percepção da humanidade a respeito do feto esteve ameaçada ou distorcida por interpretações restritas da pessoa humana e por leis que introduzem estados cientificamente privados de fundamento no desenvolvimento da vida concebida, a Igreja diversas vezes afirmou e defendeu a dignidade humana do feto. Com isto entendemos que "o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o momento da concepção; por isso, desde aquele mesmo momento devem ser reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais, em primeiro lugar, o direito inviolável à vida de todo o ser humano inocente" (cf. Instrução Donum vitae, I, 1; cf. Carta Encíclica Evangelium vitae EV 60).

3. As terapias embrionais que emergem agora nos campos genético, cirúrgico e médico oferecem novas esperanças de salvar a vida de quem sofre de patologias que são ou incuráveis ou muito difíceis de serem curadas depois do nascimento. Elas confirmam, por conseguinte, o ensinamento que a Igreja sustentou tendo como base quer a filosofia quer a teologia. Com efeito, a fé não diminui o valor e a validade da razão. Ao contrário, a fé sustenta e ilumina a razão, em particular quando a debilidade humana ou influências psicossociais diminuem a sua perspicácia.

No vosso trabalho, que deveria sempre basear-se sobre a verdade científica e ética, sois chamados a reflectir com seriedade sobre algumas propostas e práticas que derivam das tecnologias de procriação artificial. Na minha Carta Encíclica Evangelium vitae, fiz observar que várias técnicas de reprodução artificial, aparentemente ao serviço da vida, abrem na verdade a porta a novos atentados contra ela. Para além do facto que são moralmente inaceitáveis, uma vez que dissociam a procriação do contexto integralmente humano do acto conjugal, estas técnicas registam altas percentagens de insucesso, que se refere não tanto à fecundação, quanto ao sucessivo desenvolvimento do embrião, exposto ao perigo de morte dentro de tempos em geral muito breves (cf. Evangelium vitae EV 14).

4. Um caso de particular gravidade moral, muitas vezes derivante destes modos de proceder ilícitos, é o da chamada "redução embrional", ou eliminação de alguns fetos quando concepções múltiplas se verificaram no mesmo momento. Este modo de proceder é gravemente ilícito quando as concepções múltiplas acontecem no decurso normal das relações conjugais, mas é duplamente ilícito quando estas são o resultado da procriação artificial.

Aqueles que recorrem a métodos artificiais devem ser considerados responsáveis por concepção ilícita, mas qualquer que seja a modalidade da concepção, uma vez que ocorreu, a criança concebida deve ser absolutamente respeitada. A vida do feto deve ser tutelada, defendida e nutrida no seio materno por causa da sua intrínseca dignidade, uma dignidade que pertence ao embrião e não algo que é conferido ou concedido por outros, nem pelos pais genéticos, nem pelo pessoal médico nem pelo Estado.

93 5. Ilustres hóspedes, sois especialistas em acompanhar os inícios maravilhosos e delicados da vida humana no seio materno. Por isso, sabeis melhor do que outros de que modo a doutrina moral da Igreja fortalece e sustenta uma ética moral, baseada no respeito pela inviolabilidade de toda a vida humana. A doutrina moral católica ilumina questões conexas com o processo delicado do início da vida, tão repleto de esperança e rico de promessas para a vida futura, campo já amadurecido pelas descobertas maravilhosas da ciência médica. Confio no facto que o vosso trabalho seja sempre inspirado por um reconhecimento claro da dignidade dos seres humanos, cada um dos quais é um dom incomparável do amor criativo de Deus.

Desejo hoje prestar honra às vossas descobertas científicas e ao modo como as aplicais na tutela da vida e da saúde do nascituro. Invoco sobre vós e o vosso trabalho a ajuda incessante de Deus Omnipotente e, em penhor da assistência divina, concedo de coração a minha Bênção Apostólica.









DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA ACADEMIA DE MINERALOGIA


E SIDERURGIA DE CRACÓVIA (POLÓNIA)


Segunda-feira, 3 de Abril de 2000

Dou cordiais boas-vindas a todos os presentes.

Apraz-me poder acolher tão ilustre grupo de homens de ciência, tendo à frente o Senhor Ministro da Educação. Agradeço ao Reitor Magnífico as benévolas palavras a mim dirigidas. Saúdo os Senhores Pró-Reitores, os Senhores Reitores das Faculdades e todos os Professores, membros do Senado da Academia de Mineralogia e Siderurgia que aqui vieram.

Acabámos de escutar a "Laudatio", pela qual estou grato ao Professor Ryszard Tadeusiewicz. Certamente, os meus méritos no campo da ciência e da técnica não são tão grandiosos, como resultaria do discurso do Professor. Contudo, é verdade que sempre me acompanhou a convicção de que as disciplinas humanísticas, como a filosofia, a teologia, a história, a crítica literária, que me são mais queridas, não poderiam descrever plenamente este ser complexo como é o homem, nem explicar de modo completo a realidade na qual existe e que ele mesmo cria, sem recorrer às ciências naturais e técnicas. Foi também por isso que, desde o início dos meus contactos com os Centros académicos de Cracóvia procurei, na medida do possível, incluir no âmbito dos meus interesses precisamente estes sectores. Fui ajudado por muitas pessoas bem dispostas e pacientes estudantes, leitores e professores que até mesmo criaram um ambiente sui generis, empenhado numa aprofundada reflexão sobre o homem no amplo contexto das conquistas da física, da química, da biologia ou da técnica contemporâneas. Esses contactos não cessaram no momento em que fui chamado à Sé de Pedro. Às vezes encontramo-nos em Castel Gandolfo.

Enquanto nessas ocasiões escuto as intervenções e os debates dos estudiosos, aviva-se em mim uma espécie de enlevo diante da sabedoria do Criador, que no cosmos inscreveu multíplices leis da natureza que estão na base da sua estabilidade e, ao mesmo tempo, do seu incessante desenvolvimento. Por outro lado, um encontro deste género com as ciências, seguindo as suas conquistas e as novas perspectivas e desafios, permite observar a abertura do homem ao infinito. Parece que precisamente no terreno das ciências naturais se vê de modo mais claro que o desenvolvimento das técnicas da investigação e do conjunto metodológico cria sempre novas possibilidades de conhecimento, para superar os limites da razão humana.

Num certo sentido, esta consideração suscita o homem a dar glória ao Criador, que deixou no mundo não só o sinal da própria infinidade, mas também tendo criado o homem à própria imagem e semelhança fez com que mediante um racional conhecimento do mundo ele seja capaz de penetrar sempre mais esta infinidade, até encontrar o próprio Infinito. "O que se pode conhecer de Deus é para eles evidente, pois Deus lho manifestou. De facto, desde a criação do mundo, as suas perfeições invisíveis o seu eterno poder, a sua divindade podem ser contempladas com o intelecto nas obras por Ele realizadas" como escreve São Paulo (cf. Rm Rm 1,19-20). Neste sentido, as ciências servem aos homens não só como fonte do desenvolvimento da técnica e de um incessante melhoramento das condições de vida sobre a terra. Podem tornar-se também portadoras da verdade sobre Deus, o instrumento do seu revelar-Se ao homem.

Agradeço à inteira Academia da Técnica Mineralógica e Siderúrgica de Cracóvia a benevolência, cuja expressão é o título de "Doctor honoris causa" que me foi conferido. A todos os Professores e a cada Estudante quero formular votos por que o conhecimento cada vez mais aprofundado do mundo seja ao mesmo tempo um jubiloso aproximar-se da bondade e da sabedoria de Deus. Rezo a fim de que as conquistas científicas feitas pela Academia tornem o seu nome famoso no mundo e sirvam para o desenvolvimento da indústria e de toda a economia na nossa Pátria.

De coração abençoo todos vós aqui presentes e cada um dos membros da Academia da Técnica Mineralógica e Siderúrgica de Cracóvia.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL


DA CONGREGAÇÃO DOS IRMÃOS


DA INSTRUÇÃO CRISTÃ DE PLOËRMEL


Quinta-feira, 6 de Abril de 2000



Queridos Irmãos
94 da Instrução Cristã de Ploërmel

Sinto-me feliz em vos receber, enquanto estais reunidos em Roma para realizar o vosso Capítulo Geral. Saúdo de maneira particular o Ir. José António Obeso Vega, Superior-Geral, que acaba de ser reeleito para um novo mandato. Neste ano jubilar, as vossas reflexões sobre o tema "Redescobrir e viver o carisma de Jean-Marie de la Mennais com fidelidade criativa" tem um significado particular. De facto, o tempo jubilar estimula-nos a converter o coração e a ampliar o nosso olhar de fé rumo a horizontes novos, para o anúncio do Reino de Deus (cf. Bula Incarnationis mysterium, 2).

Ver Deus e só Deus em tudo, eis o significado do mote que inspirou toda a existência do Venerável Jean-Marie de la Mennais, vosso fundador juntamente com o Pe. Gabriel Deshayes, e que vos deixou como inspiração na vossa missão de educadores da juventude: unicamente Deus.

Numerosos jovens formados nas vossas escolas foram marcados por esta palavra que sintetiza muito bem a vossa espiritualidade e, para eles, é também uma fonte de dinamismo na sua vida cristã. Estimados Irmãos, continuai a ser homens de oração e contemplação, almas sequiosas unicamente de Deus. "Separai-vos do nada a fim de vos apegardes ao todo" (Mémorial, 90), através da renúncia, da pobreza e da humildade. Então, no abandono à Providência, podeis consagrar-vos com fervor à vossa obra educativa e ser para os jovens autênticos mestres de vida.

Num mundo marcado pela fragilidade e por dificuldades sociais e familiares, é fundamental preparar o futuro propondo aos jovens uma formação integral, que os fará descobrir os princípios espirituais, morais e humanos, para que possam edificar a sua personalidade e participar activamente na vida da sociedade.

No espírito apostólico que o Pe. de la Mennais vos transmitiu e que se desenvolveu ao longo da vossa história, encorajo-vos de coração a estimular de maneira cada vez mais vigorosa o empenho missionário do vosso Instituto. Ainda hoje, o anúncio do Evangelho através da educação é mais necessário do que nunca. Ao dardes prosseguimento ao vosso esforço pela formação dos jovens, sobretudo em meios sociais desfavoráveis ou junto de populações mais desvantajadas, manifestais corajosamente que o "amor preferencial pelos pobres encontra uma das suas aplicações particulares na escolha dos meios mais aptos para libertar os homens daquela grave forma de miséria que é a falta de formação cultural e religiosa" (Vita consecrata
VC 97). Nos vossos compromissos assumidos com generosidade todos os dias entre os jovens, sede educadores totalmente dedicados à glória de Deus e ao serviço do seu Reino!

O vosso modo característico de viver estes empenhos convida-vos a encontrar na vida comunitária um lugar de santificação e de inspiração para discernir juntos, em união de espírito e de coração, a vontade do Pai e realizar os seus desígnios na fidelidade ao carisma fundador. Oxalá as vossas comunidades, com os colaboradores leigos que participam de maneira específica na espiritualidade e na missão do Instituto, suscitem com audácia respostas evangélicas às grandes questões do mundo dos jovens!

Na alegria do Jubileu, confio-vos à protecção da Virgem Maria, Mãe de misericórdia, e concedo-vos de coração uma particular Bênção apostólica que faço extensiva a todos os Irmãos da Instrução Cristã de Ploërmel e aos seus colaboradores, bem como aos jovens que beneficiam do vosso serviço educativo.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SECRETÁRIO-GERAL E À COMISSÃO ADMINISTRATIVA


DE COORDENAÇÃO DO SISTEMA DA ONU


Sexta-feira, 7 de Abril de 2000

Senhor Secretário-Geral
Ilustres Hóspedes

95 1. É com grande prazer que dou as boas-vindas a todos vós, por ocasião do encontro em Roma da Comissão Administrativa de Coordenação do sistema da ONU. Enquanto reconheço o trabalho empreendido pela sua Comissão, para o bem dos povos do mundo inteiro, rezo para que Deus vos conceda, a vós e a quantos participam no vosso encontro, o dom do sábio discernimento nas vossas deliberações. Obrigado, Senhor Secretário, pelas suas amáveis palavras de apresentação, e estou persuadido de que o seu recente "Millennium Report" servirá como excelente contexto para o trabalho da Comissão durante estes dias.

Como esse relatório esclarece, o milénio que acaba de terminar deixou como sua sequela uma série de desafios inusitados. Estes desafios são incomuns não porque são novos houve sempre guerras, perseguições, pobreza, desastres e epidemias mas porque a crescente interdependência do mundo lhes atribuiu uma dimensão global, que exige novos modos de pensar e renovadas formas de cooperação internacional, se quiserem ser enfrentados de maneira eficaz. No alvorecer do novo milénio, a humanidade possui os instrumentos para realizar isto. Com efeito, as Nações Unidas e a grande família das Organizações especializadas por vós representada constituem o fórum natural para desenvolver esta mentalidade e estrategia de solidariedade internacional.

Na tarefa de formulação desta nova perspectiva, a Comissão Administrativa de Coordenação tem um papel fundamental a desempenhar. Ela congrega os membros mais representativos das diversas Agências especializadas, sob a direcção do Secretário-Geral, com a expressa finalidade de coordenar as várias políticas e programas. Eis o motivo por que a vossa Comissão tem concentrado as suas reflexões e esforços nas implicações da globalização no desenvolvimento; nas causas sócio-económicas da crise humanitária e dos persistentes conflitos na África e em outras partes do mundo; e na capacidade institucional que o sistema da Organização das Nações Unidas tem de enfrentar os novos desafios internacionais.

2. A ilimitada expansão do comércio mundial e o incrível progresso nos campos da tecnologia, das comunicações e do intercâmbio de informações são partes integrantes de um processo dinâmico que tende a eliminar as distâncias que separam os povos e os continentes. Contudo, a capacidade de exercer influência neste novo contexto global não é igual para todas as nações, mas é mais ou menos condicionada pela possibilidade económica e tecnológica dos países. A nova situação é tal que, em muitos casos, as decisões com consequências mundiais são tomadas somente por um pequeno e limitado grupo de nações. Os outros países conseguem não raro com grandes esforços conformar estas decisões aos interesses dos seus próprios cidadãos ou como acontece com as nações mais frágeis simplesmente procuram, na medida do que lhes é possível, adaptar-se a tais decisões, às vezes com consequências negativas para a própria população. Por conseguinte, a maioria das nações do mundo está a experimentar uma debilitação da capacidade que o Estado tem de servir o bem comum e de promover a justiça e a harmonia sociais.

De resto, a globalização da economia está a levar para a globalização da sociedade e da cultura. Neste contexto, as Organizações não-governamentais, enquanto representam um vastíssimo espectro de interesses especiais, estão a tornar-se cada vez mais importantes na vida internacional. E talvez um dos melhores resultados da sua acção até agora seja a consciência que estão a despertar acerca da necessidade de passarem de uma atitude de defesa e de promoção de interesses particulares e contrastantes para uma visão mais completa do desenvolvimento. Um exemplo disto é o seu sucesso crescente em despertar nos países industrializados uma consciência mais intensa da sua comum responsabilidade em relação aos problemas que os países menos desenvolvidos estão a enfrentar. A campanha para reduzir ou cancelar a dívida externa das nações mais pobres constitui outro exemplo, embora não seja o único, de um medrado sentido de solidariedade internacional.

3. O aumento desta nova consciência na sociedade apresenta ao sistema da Organização das Nações Unidas uma oportunidade única de contribuir para a globalização da solidariedade, servindo de ponto de encontro para os Estados e a sociedade civil, e de convergência para os diversificados interesses e necessidades regionais e particulares do mundo em geral. A cooperação entre as Agências internacionais e as Organizações não-governamentais ajudarão a assegurar que os interesses dos Estados mesmo que sejam legítimos e dos diferentes grupos dentro deles não sejam invocados ou defendidos em detrimento dos interesses ou direitos dos outros povos, especialmente dos menos afortunados. A actividade política e económica levada a cabo num espírito de solidariedade internacional pode e deve conduzir à limitação voluntária das vantagens unilaterais, a fim de que os demais países e povos possam compartilhar os mesmos benefícios. Desta forma, serve-se o bem-estar social e económico de todos.

Na aurora do século XXI, o desafio consiste em edificar um mundo em que os indivíduos e os povos aceitem plena e inequivocadamente a responsabilidade para com o seu irmão em humanidade e todos os habitantes da terra. O vosso trabalho pode contribuir em grande medida para fortalecer o sistema multilateral, em vista de concretizar esta solidariedade internacional. A premissa de todo este esforço é o reconhecimento da dignidade e da centralidade de cada ser humano como membro igualitário da família humana e, para os fiéis, como iguais filhos de Deus. Assim, a tarefa consiste em assegurar a aceitação a cada nível da sociedade das consequências lógicas da nossa comum dignidade humana, e de garantir o respeito por essa dignidade em todas as situações.

4. A este propósito, devo expressar a minha profunda solicitude quando observo que determinados grupos procuram impor na comunidade internacional pontos de vista ideológicos ou padrões de vida defendidos somente por pequenos e particulares segmentos da sociedade. E talvez isto seja mais óbvio em campos como a tutela da vida e a salvaguarda da família. Os governantes das nações devem acautelar-se para não transtornar aquilo que a comunidade e o direito internacionais elaboraram denodadamente em vista de preservar a dignidade da pessoa humana e a coesão da sociedade. Este é o património comum que ninguém tem o direito de malbaratar.

Enquanto invoco a guia divina sobre todos os esforços e empreendimentos da vossa Comissão na sua missão de coordenação das actividades do sistema da Organização das Nações Unidas, rezo para que o vosso trabalho seja completamente imbuído de um espírito generoso e ávido de solidariedade global. Deus o abençoe, Senhor Secretário-Geral, e quantos estão congregados com Vossa Excelência neste encontro!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS FIÉIS E PEREGRINOS DE ALGUMAS


REGIÕES DA ITÁLIA VINDOS


PARA O ANO SANTO


Sábado, 8 de Abril de 2000

1. Caríssimos peregrinos, sede bem-vindos!

96 Recebo todos vós com grande afecto. Saúdo em primeiro lugar a vós, queridos fiéis da Diocese de Aversa e, de maneira especial, D. Mário Milano, vosso Pastor, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu. Saúdo D. Crescenzio Sepe, vosso conterrâneo e meu estreito colaborador no que se refere ao Grande Jubileu. Saúdo também os sacerdotes, os consagrados, as consagradas e todos os fiéis leigos aqui reunidos.

A vossa peregrinação constitui, duma certa forma, a restituição da visita que tive a alegria de realizar na vossa terra há quase dez anos. Mantenho ainda uma viva recordação daquela viagem.

Naquela data, ao dirigir-me às várias componentes eclesiais, pedi aos sacerdotes que fossem convictos e entusiastas da missão que lhe fora confiada. Às almas consagradas recordei que o povo de Deus precisa de reconhecer nelas a adesão convicta à radical vocação evangélica. Convidei os leigos a assumirem com coragem no âmbito da Igreja as suas responsabilidades particulares. Hoje apraz-me retomar estas exortações, como que prolongando um diálogo que não se interrompeu ao longo destes anos.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, continuai pelo caminho da fidelidade evangélica, na certeza de que Cristo, o Vivente, está convosco ontem, hoje e sempre (cf. Hb
He 13,8). Ele é a rocha firme sobre a qual deve basear-se a fé inabalável de cada um dos seus discípulos. Ele é a Porta da salvação, que atravessais durante esta vossa peregrinação. Regressareis às vossas casas fortalecidos na fé e animados pelo desejo de servir mais generosamente a causa do Evangelho, seguindo com coragem as pegadas dos vossos antepassados e enriquecendo com o vosso contributo a preciosa herança espiritual deles recebida.

Neste itinerário, seja para vós exemplo eficaz S. Paulo, titular da vossa Catedral, apóstolo e missionário incansável. Caríssimos, segui o seu exemplo, fazei vossos os seus sentimentos e o seu vigor apostólico. Estai sempre unidos entre vós e com o vosso Pastor.

3. Conheço a vossa intensa actividade pastoral em todos os âmbitos da evangelização. Tenho também conhecimento dos vossos louváveis esforços para estardes próximos dos elementos mais débeis e esquecidos da sociedade, sobretudo no que se refere ao desemprego juvenil e à situação das famílias pobres. Sede testemunhas de solidariedade. A missão profética, característica da comunidade cristã, não pode deixar de vos estimular a ser válidos arautos no vosso ambiente; depois, a missão real empenha-vos a preparar, no limite das vossas competências e possibilidades, iniciativas que podem aliviar os sofrimentos causados por fenómenos como a marginalização, a desigualdade salarial e o mal-estar social.

Dedicai uma especial atenção aos jovens. "Uma Igreja para os jovens e com os jovens" seja o vosso empenho comunitário. Trata-se de uma iluminada estratégia pastoral, que tem em vista o futuro. Isto ajudar-vos-á também a intensificar a pastoral vocacional, que desde há algum tempo está a ser realizada na Diocese. Desejaria recordar, a este propósito, que até em períodos de crise, jamais faltaram na vossa Diocese sacerdotes e religiosos, e que muitos deles actualmente estão ao serviço da Santa Sé. Obrigado por esta vossa generosidade.

Com razão, a família ocupa um lugar de relevo no vosso programa pastoral, dado que é no seu âmbito que se realiza a primeira transmissão da fé; nela são perpetuados os valores e as nobres tradições da vossa terra, começando pela defesa da vida, preciosíssimo dom de Deus, o amor e o respeito para com os idosos, a serena colaboração entre velhas e novas gerações.

4. Queridos fiéis de Aversa, confio todos vós à Mãe de Cristo, por vós tão amada como testemunham a pequena "Casetta di Loreto" que se encontra na vossa Catedral; o Santuário de Casapesenna, do qual há quinze anos benzi a primeira pedra; o ícone de Nossa Senhora de Casaluce, co-padroeira da Diocese, diante do qual rezaram príncipes, reis e imperadores; o Santuário de Maria Santíssima Anunciada, visitado por personagens ilustres, como o rei Ludovico da Hungria e a rainha da Polónia, Maria Casimira; e a igreja de Maria Santíssima de Briano. Que ela guie os vossos passos na fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho.

5. Dirijo depois o meu pensamento cordial aos peregrinos das Dioceses de Gorízia, Cesena e Isquia, que vieram aqui com os seus Pastores. Estimados Irmãos e Irmãs, as vossas comunidades diocesanas estão chamadas a oferecer a imagem duma única realidade unida e concorde. Com efeito, mesmo nas suas várias componentes, a Igreja é um só corpo, reunido no Espírito Santo para dar testemunho do amor do Pai, que se manifestou em Cristo, nosso Senhor.

Um só depósito de verdade, uma indefectível esperança, uma sincera caridade: eis as características que devem distinguir a presença da Igreja no mundo. Tende a constante preocupação de testemunhar o vosso amor a Cristo e de anunciar com as palavras e com os exemplos o seu Evangelho. Desta forma, estareis sempre preparados para responder acerca da esperança que vos anima (cf. 1P 3,15).

97 6. Saúdo ainda os Superiores e os Seminaristas do Pontifício Seminário Regional de Molfetta, os fiéis das paróquias do Decanato de Val d'Elsa, da Diocese de Sena, e os Sócios da Arquiconfraria da Santíssima Trindade de Nápoles.

Caríssimos, deixai-vos plasmar por Cristo, para que a vossa vida, enriquecida pela sua graça, seja um fervoroso testemunho do seu amor por toda a humanidade. Ao atravessar a Porta Santa do Jubileu, hauri d'Ele o vigor necessário para serdes seus discípulos. Vós, estimados Seminaristas, e vós queridos fiéis, sede sempre conscientes da chamada à santidade, que Deus faz a cada um. Sabei corresponder à sua graça, a fim de dar um sentido pleno à vossa existência.

7. Por fim, saúdo-vos a vós, queridos Sócios do "Camper Club Capitolino", e a vós, Sócios do Banco de Crédito Cooperativo de "Cascia de Regello", na província de Florença. Tende sempre sentimentos inspirados na caridade, que é a plenitude da lei cristã. Movidos pela solidariedade, sabereis realizar iniciativas úteis para aliviar as múltiplas pobrezas da sociedade hodierna.

Deus ajude cada um de vós e torne frutuosos todos os vossos esforços ao serviço do bem.

A todos abençoo de coração.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA A BEATIFICAÇÃO


DOS CINCO SERVOS DO SENHOR


Segunda-feira, 10 de Abril de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Estou feliz por me encontrar de novo convosco, vindos de várias partes do mundo para a Beatificação de Mariano de Jesus Euse Hoyos, Francisco Xavier Seelos, Ana Rosa Gattorno, Maria Isabel Hesselblad e Maria Teresa Chiramel Mankidiyan. Saúdo a todos com afecto: os Bispos, os Sacerdotes, as Religiosas, os Religiosos e os numerosos fiéis leigos.

Enquanto prolongamos a alegria da celebração de ontem, temos a oportunidade de dirigir o olhar, com crescente veneração, para os novos Beatos, a fim de aprofundar alguns aspectos do seu testemunho.

2. Desejo saudar com muito afecto todos os peregrinos vindos para participar na beatificação do Sacerdote colombiano Mariano de Jesus Euse Hoyos.Saúdo os Senhores Cardeais, Bispos, Sacerdotes e fiéis colombianos, que dão graças a Deus pelas maravilhas que operou por meio do Padre Marianito.

Sacerdote profundamente dedicado à sua missão, ele foi sempre guiado por uma fé sólida, arraigada na vida e comprometida em favor do próximo. Foi misericordioso e esteve muito perto de todos, de modo especial dos pobres e necessitados. A sua fama perdura entre vós e é um exemplo a imitar, em particular neste momento crucial da história da vossa querida Pátria.

98 Oxalá a figura radiante do Beato Mariano Euse apareça aos olhos de toda a sociedade colombiana como "um dom de paz" no marco deste Ano Jubilar. A Colômbia alcançará a paz, se respeitar sempre e em todas as partes o sagrado e inviolável direito à vida. A paz, dom de Deus, é também tarefa do homem. Por isso, todos os colombianos, sem excepção alguma, devem colaborar para a construir, rejeitando qualquer forma de violência, lutando contra a pobreza, a fome, o desemprego, os conflitos armados, os sequestros de pessoas, o narcotráfico e a degradação da natureza. Que o exemplo do Padre Marianito vos ajude a ser cada vez mais conscientes de que a paz e o desenvolvimento integral e solidário devem caminhar sempre unidos.

3. Apresento cordiais boas-vindas aos Bispos dos Estados Unidos e da Alemanha, assim como aos membros da Congregação redentorista e a todos os peregrinos presentes na beatificação do Padre Francisco Xavier Seelos.Ele estava atento a discernir as exigências espirituais das comunidades que servia, e a sua dedicação à pregação e à celebração dos sacramentos conduziu muitas pessoas a Cristo.

Neste ano do Grande Jubileu, que o exemplo do Beato Francisco Xavier inspire um número cada vez maior de jovens a responderem com generosidade à exortação de Cristo a empenharem-se na tarefa da evangelização, no sacerdócio e na vida religiosa.

4. Numa sociedade como a actual, com frequência angustiada pelos bens materiais e tentada a esquecer Deus, Sumo Bem, a Beata Ana Rosa Gattorno lança o desafio duma vida totalmente despendida por Ele e pelos irmãos mais pequeninos e pobres. Os sofrimentos e sacrifícios que marcaram o seu matrimónio e a sua maternidade chamaram-na logo a abraçar, com singular intensidade de fé e de amor, Jesus Crucificado, para O seguir com toda a sua vida. O Instituto das "Filhas de Santa Ana, mãe de Maria Imaculada", por ela fundado é fruto da sua exemplar síntese entre o abandono à Providência e o empenho incessante em favor do próximo. Quando faleceu, em 1900, Madre Rosa deixou três mil e quinhentas Irmãs, em vários Países do mundo.

A sua força foi sempre a comunhão eucarística quotidiana e a apaixonada união com Cristo crucificado e glorioso. A nova Beata dirige a todos nós um forte apelo a amar, defender e promover a vida, indicando-nos a profundidade e a ternura do amor divino para com toda a criatura.

5. É para mim um grande prazer dar as boas-vindas às Irmãs da Ordem do Santíssimo Salvador e aos peregrinos provenientes da Suécia e de outros Países, por ocasião da Beatificação da Irmã Maria Isabel Hesselblad. De modo especial, faço extensivas as calorosas boas-vindas aos fiéis luteranos que aqui vieram para este evento. A Beata Isabel ensina-nos a dirigir-nos à cruz de Cristo, fonte de força em tempos difíceis. O seu empenho ecuménico, a caridade concreta e a profunda espiritualidade são um modelo para todos os seguidores de Cristo, em particular para quantos vivem a vida consagrada. Mediante a intercessão de Isabel, que a causa da unidade cristã continue a fazer progressos e que a sua obra e o seu carisma recordem aos cristãos da Europa as únicas raízes evangélicas da sua cultura e civilização.

6. Faço extensivas as minhas cordiais saudações aos Bispos da Índia, aos membros da Congregação da Sagrada Família, aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos que exultam pela beatificação da Irmã Maria Teresa Mankidiyan. A Beata Maria Teresa dedicou-se generosamente à prática dos conselhos evangélicos e a uma intensa vida de oração, que não lhe pouparam sofrimentos, a sustentaram nas suas obras de caridade e na determinação de procurar quantos estavam perdidos. Mediante a sua intercessão, seja a Igreja na Índia abençoada com um aumento das vocações à vida religiosa, impregnada de espírito de oração e caridade.

7. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a caridade divina acrescentou outros cinco nomes à longa plêiade de Santos e Beatos que, há dois mil anos, se articula de geração em geração. Enquanto os admiramos e os veneramos, imitemos a sua fé, para que a graça de Cristo Redentor possa realizar em cada um a sua obra santificadora. Ao retornardes aos vossos Países e às vossas Comunidades, sede testemunhas das grandes coisas que ouvistes e vistes.

Com afecto vos concedo a minha Bênção, que de bom grado faço extensiva aos vossos familiares e a todos as pessoas queridas.




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