Discursos João Paulo II 2000 98

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NA AUDIÊNCIA À PEREGRINAÇÃO JUBILAR


DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SAGRADO CORAÇÃO


Quinta-feira, 13 de Abril de 2000

Irmãos e Irmãs
99 da Universidade Católica
do Sagrado Coração

1. A todos vós apresento as mais cordiais boas-vindas. Saúdo antes de tudo o Reitor Magnífico, Professor Sérgio Zaninelli, cujo nobre discurso escutei com atenção, apreciando a clareza com que recordou os fundamentais valores que inspiraram, há oitenta anos, a fundação da Universidade Católica e que devem continuar a orientar a vida de quantos também hoje dela fazem parte.

Saúdo o Cardeal Angelo Sodano, que celebrou a Santa Missa para vós; saúdo o Presidente e os outros Membros do Instituto "Toniolo", os Pró-Reitores, Reitores e Professores. Depois, faço extensiva a minha saudação a vós, caríssimos Estudantes, ao Pessoal administrativo, auxiliar e assistencial, em serviço e aposentado, aos amigos da Universidade e a todos aqueles que, a vários títulos, compõem a vossa grande família.

2. Viestes juntos das sedes de Milão, Roma, Bréscia e Placência para realizar a vossa peregrinação jubilar. Ela tem lugar na conclusão do 40º aniversário do falecimento do Padre Agostino Gemelli e na vigília das celebrações pelos oitenta anos da fundação do vosso Ateneu, criado em Dezembro de 1920. Outros o tinham desejado e preparado de longe. Penso em particular no Professor Giuseppe Toniolo, cujo nome está significativamente ligado à vossa Entidade fundadora. Mas foi mérito do Padre Gemelli realizar esta obra, da qual a catolicidade italiana se orgulha.

A coincidência com o iminente aniversário confere à vossa peregrinação uma particular conotação: impele-vos a redescobrir as vossas raízes. E como não recordar, no contexto do Ano Santo, que nas origens da vossa instituição houve uma graça de "conversão"? Foi da descoberta de Cristo, na intensidade própria da tradição franciscana, que Agostino Gemelli hauriu a clarividente sabedoria e a indómita coragem com que deu vida àquele esplêndido complexo de pessoas e de obras, de estudo e de acção que é a vossa Universidade.

Ao virdes celebrar o Jubileu, pondes-vos na esteira do vosso Fundador e de tantos mestres espirituais que, ao longo dos anos, honraram a vossa Instituição. A título especial, recordo o Professor Giuseppe Lazzati, Reitor da Universidade em anos não distantes, que durante o Concílio ofereceu uma contribuição esclarecedora ao debate de alguns temas. Os meus votos são por que lhes possais emular a sabedoria e coerência de vida.

3. Como bem sabeis, há alguns anos dirigi às Universidades Católicas a Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae que hoje, na luz do Jubileu, adquire renovada actualidade. É-me grato recordar-vos sobretudo uma passagem daquela Constituição, precisamente a relativa à profunda unidade que numa Universidade Católica deve subsistir entre as actividades académicas e as iniciativas pastorais. Em referência a estas últimas, eu escrevia: "A pastoral universitária é aquela actividade da Universidade que oferece aos membros da própria Comunidade a ocasião de cooordenar o estudo académico e as actividades paraacadémicas com os princípios religiosos e morais, integrando assim a vida com a fé. Ela concretiza a missão da Igreja na Universidade e faz parte integrante da sua actividade e da sua estrutura. Uma Comunidade universitária, preocupada em promover o carácter católico da instituição, deverá estar consciente desta dimensão pastoral e ser sensível aos modos com os quais pode influir em todas as suas actividades" (n. 38) (cf. ed. port. de L'Osservatore Romano de 30 de Setembro de 1990, pág. 9).

Recomendo-vos, caríssimos estudantes e professores, que busqueis com todas as vossas energias aquele ideal para o qual a pastoral não é algo a fazer ao lado de outras coisas, mas uma dimensão que atravessa tudo aquilo que se faz, coordenando-o ao projecto educativo próprio de uma Universidade Católica. Deste modo, a Universidade torna-se uma grande comunidade educativa na qual estudantes, professores e pessoal técnico-administrativo colaboram para alcançar o mesmo objectivo, assegurando aos jovens estudantes uma formação integral digna deste nome.

4. Quando falo de "formação", o meu pensamento dirige-se espontaneamente ao exemplo que Jesus Mestre nos deu e nos foi conservado nos Evangelhos. Jesus é o "mestre bom" (cf. Mc
Mc 10,17), o mestre manso e humilde de coração (cf. Mt Mt 11,29), o mestre por excelência. Todos nós devemos inspirar-nos na sua pedagogia, se quisermos estar à altura da tarefa que nos foi confiada. A pedagogia de Jesus, que está impregnada de sabedoria, prudência e paciência; uma pedagogia atenta aos outros, capaz de interpretar as suas exigências e expectativas, sempre pronta a deixar-se interpelar pelas várias situações humanas.

Ao dirigir-me sobretudo a vós, caríssimos professores da Universidade Católica do Sagrado Coração, sinto o dever de vos dar uma recomendação: sede verdadeiros e autênticos educadores, cuidai de manifestar com clareza em que projecto educativo vos inspirais, dando razão, como verdadeiros discípulos de Cristo, daquela esperança que está em vós (cf. 1P 3,15). Seja vosso empenho e vossa honra oferecer à Igreja e ao País jovens bem preparados do ponto de vista profissional, cidadãos politicamente sensíveis e, em particular, cristãos esclarecidos e corajosos.

100 5. Na vossa peregrinação cruzastes a Porta Santa, símbolo de Cristo que abre de par em par ao homem o ingresso na vida de comunhão com Deus. Entrar por esta Porta significa converter profundamente a Cristo os próprios pensamentos e vida. O próprio empenho cultural é sensibilizado de maneira íntima por esta opção.

O estudioso cristão, docente ou discente, distingue-se pela sua capacidade de conjugar o rigor da investigação científica com a certeza da fé de que Jesus Cristo, como Verbo eterno de Deus, é a Verdade no seu sentido mais pleno. Daqui a sua vocação a pesquisar, analisar e explicar cada uma das verdades à luz de Cristo, Verdade absoluta, acompanhando o estudo com a oração e a coerência de vida. Sede conscientes desta vossa vocação. Não vos canseis de converter os vossos corações ao único Salvador, a cujo Coração está consagrada a vossa instituição.

Sei que nestes tempos estais empenhados em reflectir sobre os empreendimentos conexos com a iminente reforma do sistema universitário; é uma reforma exigente e complexa, que apresenta aspectos também de inovação radical. Precisamente por isso ela chama em causa os valores fundamentais do vosso ser e agir. Estou certo de que não deixareis, também nesta ocasião, de interpretar as instâncias de transformação de maneira sábia, em coerência com a inspiração cristã que caracteriza o vosso Ateneu e em sintonia com as indicações do Magistério. A tradição de autonomia, de que sempre gozastes, consentir-vos-á satisfazer as próximas mudanças, de modo que se garanta a liberdade que desde sempre é uma condição essencial para o desenvolvimento da ciência.

Resta, depois, sempre de vital interesse para a vossa Universidade a promoção de uma estreita ligação aliás já amplamente em acto entre as vossas estruturas e a Igreja que está na Itália, a partir de um fecundo vínculo com a Conferência Episcopal Italiana e com o projecto cultural por ela promovido, para uma incisiva presença no País, nos diversos âmbitos culturais e, em particular, no campo da revisão do sistema formativo.

6. Esta específica atenção à vossa identidade e à pastoral da Igreja não deve obviamente ser interpretada como fechamento cultural nem como intolerância e renúncia a dialogar. Já dentro da experiência comunitária cristã própria da Universidade Católica, aliás, é preciso exercitar-se para o espírito de escuta recíproca, recordando que é riqueza da comunidade cristã a diversidade dos dons que o próprio Espírito distribui como quer (cf.
1Co 12,11). Na relação, depois, com a sociedade civil, a Universidade Católica do Sagrado Coração encontra-se hoje diante dum desafio extraordinário, posta como está a prestar o seu serviço no areópago de culturas diversas que se estão a entrelaçar também na Itália, como em muitos outros países do mundo. O facto de ser "Católica" exige da vossa Universidade o empenho em conjugar as exigências imprescindíveis da sua pertença eclesial com uma cordial abertura para toda a séria proposta cultural, em atitude de reflexão crítica sobre o presente e o futuro duma sociedade que se está a tornar multiétnica e multirreligiosa.

7. Enquanto cada um de vós depõe sob os olhos do Senhor os propósitos do próprio coração, como noutras circunstâncias, repito-vos: sede conscientes daquilo que exige de vós a qualificação de Católica, que conota a vossa Universidade. Ela não mortifica, mas exalta o vosso empenho em favor dos valores humanos autênticos.

Sede orgulhosos de pertencer à "Católica" e esforçai-vos por estar à altura das responsabilidades que daí resultam. Exige-o a recordação da vossa tradição, solicita-o a natureza mesma da vossa instituição, impõe-no a admirável missão educativa a vós confiada.

"É a hora de tarefas grandes - escrevia o Padre Gemelli no longínquo ano de 1940. Em qualquer lugar em que vos encontrardes, mostrai-vos conscientes desta vossa missão. Sede chamas que ardem, iluminam, guiam e confortam" (Foglio agli studenti, Outubro de 1940).

Faço minha esta sua advertência e vo-la entrego de novo, invocando sobre os vossos propósitos e iniciativas a materna assistência da Virgem, Sedes sapientiae. Com estes sentimentos, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a vós aqui presentes e a quantos trabalham no âmbito da vossa Universidade.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS FRANCESES DA


ARQUIDIOCESE DE RUÃO,


VINDOS A ROMA PARA O ANO SANTO


Sexta-feira, 14 de Abril de 2000

Caro Irmão no Episcopado
101 Queridos jovens da Arquidiocese de Ruão

Acolho-vos com alegria por ocasião da vossa peregrinação jubilar a Roma, que é simultaneamente um tempo de retiro, de reflexão e de oração. Saúdo com afecto todas as pessoas que vos acompanham no vosso caminho, sustentando-vos no vosso crescimento humano e espiritual, e ajudando-vos a responder aos interrogativos que vos pondes a vós mesmos.

A vossa permanência na cidade de Pedro e Paulo permite-vos descobrir que a Igreja tem uma história e uma tradição, que é um povo vivo, animado pelo Espírito Santo. Ao acolherdes o testemunho de fé das primeiras comunidades cristãs, sois convidados a ser testemunhas e a ocupar o vosso lugar no seio do povo de Deus. A Igreja conta convosco: ela precisa da vossa juventude, generosidade e dinamismo, para se tornar cada vez mais o povo que Deus ama e a fim de que se manifeste uma esperança nova para o mundo.

Mediante a oração pessoal e comunitária, os sacramentos, os intercâmbios que podeis ter, as visitas aos lugares significativos da história da Igreja e às riquezas artísticas de Roma, conhecereis melhor Cristo e a sua Igreja, e encontrareis os meios para testemunhar a Boa Nova, de que o nosso século tanto precisa. Sem dúvida, são necessárias coragem e audácia para irdes às vezes contra a corrente das propostas sedutoras do mundo actual e para vos comportardes de acordo com as exigências evangélicas do amor verdadeiro. Mas descobrireis que a vida com Cristo, a busca da Verdade, a prática dos valores humanos e morais fundamentais, o respeito de si e dos outros são os caminhos da autêntica liberdade e da verdadeira felicidade. Para realizardes o ideal que conservais em vós, pedi aos adultos que vos indiquem o caminho e vos ajudem a progredir!

O jubileu é uma ocasião particularmente importante para fazermos a experiência do amor misericordioso de Deus que, ao dar-nos o seu perdão, nos abre um futuro novo e nos comunica a plenitude da vida divina ao fazer-se-nos alimento na Eucaristia. Não tenhais medo de retornar incessantemente a Cristo, fonte da Vida! Ele quer sustentar-vos no caminho de conversão, cumular-vos de graça e dar-vos a sua alegria! No período presente da vossa existência, interrogais-vos legitimamente sobre o vosso futuro. Ao manifestar-vos a sua confiança, Jesus fixa em vós o seu olhar e chama-vos a fazer da vossa existência algo de belo, frutificando os talentos que vos foram confiados, para o serviço da Igreja e dos irmãos, assim como para a edificação duma sociedade mais solidária, justa e pacífica.

Cristo chama-vos a colocar a vossa esperança n'Ele e a segui-Lo no caminho do matrimónio, do sacerdócio ou da vida consagrada. No silêncio do vosso coração, não tenhais medo de escutar o Senhor que vos fala! Através dos sacerdotes, dos religiosos, das religiosas e dos leigos, a Igreja está ao vosso lado para vos ajudar a discernir aquilo que corresponde à vossa vocação autêntica. Jesus dar-vos-á a graça necessária para responderdes ao seu apelo. Infundir-vos-á a alegria profunda dos verdadeiros discípulos.

A todos vós desejo um bom caminho pascal. Que a vossa peregrinação jubilar reavive em vós o desejo de viverdes intensamente o grande mistério de Cristo morto e ressuscitado! É de bom grado que concedo a Bênção Apostólica a vós e a todas as pessoas que vos são queridas.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA ARGENTINA


JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sexta-feira, 14 de Abril de 2000

Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Argentina junto da Santa Sé. Agradeço-lhe sinceramente as palavras que houve por bem dirigir-me, que são uma demonstração das boas relações existentes entre a Sé Apostólica e essa nobre Nação do Cone Sul-Americano cujos habitantes, como Vossa Excelência ressaltou, conservam profundos valores humanos nas suas tradições e, ao mesmo tempo, se sentem muito radicados na fé católica, da qual nasce um sentido da vida e uma guia moral com repercussões benéficas para a vida social argentina.

Agradeço de igual modo a amável saudação da parte do Senhor Presidente da Nação, Dr. Fernando de la Rúa, na qual manifesta os seus sentimentos pessoais e o desejo de aumentar a tradicional cooperação entre a Igreja e o Estado para a obtenção do bem comum. Peço-lhe, Senhor Embaixador, que se faça intérprete do meu reconhecimento disto diante do primeiro Mandatário do País, a quem formulo os meus melhores votos pela sua alta e delicada responsabilidade.

102 2. Nos últimos anos, Vossa Excelência representou a sua Nação em Israel, que tive a ventura de visitar recentemente no contexto da grande peregrinação aos lugares relacionados com a história da salvação. Agora, depois de ter cumprido a sua missão diplomática na terra onde viveu o Filho de Deus feito homem, Vossa Excelência vem continuar o seu trabalho junto desta Sé Apostólica, na mesma representação diplomática em que já há alguns anos prestou os seus serviços.

Nestas circunstâncias, resultar-lhe-á familiar a natureza desta nova e importante responsabilidade que o seu Governo lhe confiou. É, de certo modo, uma missão muito singular, tendo-se em conta o papel que desempenha a Santa Sé no concerto das nações, para conseguir um melhoramento das relações entre os povos, uma convivência mais pacífica e uma colaboração mais estreita entre todos. A sua actividade, de carácter eminentemente espiritual, inspira-se na convicção de que "a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova e faz conhecer o desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espírito para soluções plenamente humanas" (Gaudium et spes
GS 11). Por isso, a Santa Sé, além de prestar atenção às Igrejas particulares de cada nação, preocupa-se também pelo bem de todos os cidadãos e procura fazer valer nos fóruns internacionais aqueles direitos das pessoas e dos povos, que honram a sua dignidade e a excelsa vocação que Deus outorgou a cada ser humano.

3. Desejo assegurar-lhe, Senhor Embaixador, que na minha solicitude por todas as Igrejas me sinto muito próximo da Argentina, me alegro com as suas realizações e compartilho as suas preocupações.

Neste sentido, é motivo de satisfação o facto de a Nação ter podido viver nos últimos anos num clima de serenidade política, sem grandes sobressaltos, mesmo quando teve de enfrentar uma herança de sérias dificuldades na convivência e delicadas situações no campo económico.

Demonstrou assim que o País pode enfrentar o seu próprio destino, mediante uma normal actividade democrática, que assegure a participação dos cidadãos nas opções políticas e a alternância ordenada dos governantes, no reconhecimento do contributo que cada um deu à vida da Nação. Desejo ardentemente que esta maturidade cívica se apoie cada vez mais numa recta concepção da pessoa humana. Não obstante as legítimas diferenças, a profunda consciência destes valores favorecerá a realização de uma confluência entre as diversificadas forças políticas para resolver as questões mais prementes que afectam os interesses gerais da Nação e, sobretudo, as exigências da justiça e da paz.

Nesta tarefa, o seu Governo está consciente da importância que deve ser dada, não só às medidas próprias da técnica administrativa ou financeira, mas também à consciencialização dos cidadãos para que participem, com esperança e espírito de colaboração, no bem comum, sem que as legítimas divergências se transformem em antagonismos irredutíveis. Para isso são necessários ideais verdadeiramente profundos e duradouros, ancorados na verdade objectiva sobre o ser humano, dos quais os mais altos responsáveis da sociedade devem dar testemunho com o seu afã de serviço, transparência e lealdade, contagiando, por assim dizer, todo o povo com o próprio compromisso de construir um futuro melhor.

4. Também é importante que os programas de um Governo para incentivar de maneira decisiva o crescimento da Nação, tenham em conta a integridade do progresso do ser humano, que é individual e ao mesmo tempo social, e o facto de os valores espirituais e religiosos não serem menos básicos que os materiais.

Com efeito, o crescimento de um País não se pode medir exclusivamente pela riqueza que produz, mesmo que esta seja uma condição indispensável e, portanto, um objectivo a perseguir. Por isso, quando se relegam algumas das dimensões essenciais do desenvolvimento integral corre-se o risco de criar novos desequilíbrios e, em suma, põem-se em perigo inclusive as conquistas já alcançadas. O seu Governo está consciente de que não basta um incremento da produção, se esta não se transforma em bem-estar real para todos, de que não existem um verdadeiro bem-estar sem uma adequada educação nos diversos níveis e acessível a todos, uma ordem social justa e uma ágil administração da justiça.

Tão-pouco se construirá um futuro sólido e esperançoso se se abandonam os valores e instituições básicas de toda a sociedade, como a família, a protecção dos menores e dos mais necessitados e, menos ainda, se se corroem os fundamentos mesmos do direito, a liberdade e a dignidade das pessoas, atentando contra a vida desde o momento da sua concepção. Como Vossa Excelência salientou, estes valores são um património comum, que deve ser defendido também nos fóruns internacionais para oferecer um futuro mais esperançoso a todo o género humano.

5. Senhor Embaixador, neste momento em que inicia o exercício da alta função para a qual foi designado, faço votos por que a sua tarefa seja frutuosa e contribua para que se consolidem cada vez mais as boas relações existentes entre esta Sé Apostólica e a República da Argentina, para o que poderá contar sempre com o acolhimento e o apoio dos meus colaboradores. Ao pedir-lhe que, junto do Senhor Presidente da Nação e do querido povo argentino, se faça intérprete dos meus sentimentos e bons votos, asseguro-lhe a minha oração ao Todo-poderoso, por intercessão da Virgem de Luján, para que assista sempre com os seus dons Vossa Excelência e a sua distinta família, o pessoal dessa Missão diplomática e os governantes e cidadãos do seu País, que recordo com afecto, e sobre o qual invoco as abundantes bênçãos do Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS NUMEROSOS PEREGRINOS DE VÁRIAS


DIOCESES ITALIANAS E A UM GRUPO


DE JOVENS DE MARSELHA (FRANÇA)


Sábado, 15 de Abril de 2000



103 Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Dou as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, vindos em peregrinação a Roma para atravessar a Porta Santa do Grande Jubileu. Obrigado pela vossa visita, com a qual quereis também exprimir os sentimentos de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro.

Aos fiéis da Diocese de Fabriano-Matelica

Saúdo antes de tudo vós, queridos fiéis da Diocese de Fabriano-Matelica, com D. Luigi Scuppa, vosso amado Bispo, que vos guiou neste encontro. Agradeço-lhe cordialmente as amáveis expressões que, em vosso nome, me dirigiu. Desejo, depois, fazer chegar o meu afectuoso pensamento aos sacerdotes, consagrados, consagradas e fiéis leigos da vossa Comunidade diocesana, com especial atenção aos doentes, crianças, jovens, famílias em dificuldade e a quantos, embora o tenham desejado, hoje não puderam estar presentes aqui connosco.

Sei que a fé cristã está profundamente arraigada nas populações da vossa terra e que, desde o século V, os vossos Pastores sempre mantiveram estreitos vínculos de união com a Sé Apostólica. Também a peregrinação hodierna reafirma esta vibrante comunhão, que tive a oportunidade de experimentar há nove anos, quando fui visitar a vossa Diocese. Fortalecidos pelas antigas tradições, que sustentaram na fé o caminho dos vossos antepassados, prossegui confiantes rumo ao futuro e transmiti às jovens gerações o amor por Jesus, único Redentor do homem. Perseverai firmes na vossa adesão a Ele e à sua Igreja.

2. Viestes a Roma para celebrar o vosso Jubileu e levar depois às vossas casas o testemunho das insondáveis riquezas do amor de Deus. O tempo providencial deste Ano Santo constitui um premente convite a aprofundar a própria fé em Cristo, que veio ao mundo para revelar o amor infinito do Pai celeste. Há hoje a urgente necessidade, para quem deseja ser seu discípulo, de ir beber constantemente nas fontes do seu Evangelho para o anunciar sem hesitação. É assim que as pessoas se tornam apóstolos da nova evangelização.

O horizonte dos crentes, de maneira especial neste nosso tempo, jamais se deve limitar apenas ao âmbito das actividades intra-eclesiais. Os grandes desafios da época actual requerem coragem e audácia missionária. Não vos canseis, queridos Irmãos e Irmãs, de trabalhar para a renovação da sociedade, mediante um testemunho eficaz, um anúncio explícito, uma esclarecida atenção aos sinais dos tempos. Ponde em prática todas as iniciativas apropriadas no campo do apostolado.

Assim, servireis de guia para todos aqueles que Deus vos fizer encontrar quotidianamente. Sei que já vos estais a esforçar nesse sentido. O anélito pela nova evangelização seja sempre acompanhado por uma profunda oração e pela escuta constante da Palavra de Deus. Além disso, procurai ser dóceis instrumentos do amor divino, cuidando de maneira concreta de quem é provado pelas dificuldades ou se encontra afastado da fé. Ao constatarem a vossa conduta, também os que dizem que não acreditam serão impelidos pela graça a interrogar-se sobre o próprio destino eterno. Poderia ser essa a premissa providencial para o encontro deles com Cristo.

Aos peregrinos das paróquias da Santíssima Trindade de Niquelino e de São Zenão de Cambiago

3. Saúdo agora com muito afecto os fiéis das paróquias da Santíssima Trindade de Niquelino, na província de Turim, e de São Zenão de Cambiago, da Arquidiocese de Milão. Caríssimos, obrigado pela vossa visita, a mim muito grata. Com a vossa peregrinação jubilar a Roma, experimentais que todo o baptizado é chamado a ser parte activa do Corpo místico de Cristo, presente em cada recanto do mundo. Sabei nutrir-vos e fortalecer-vos com os dons sacramentais, para serdes nas respectivas comunidades instrumentos da ternura de Deus, abertos às exigências da inteira humanidade. Maria, Mãe da Igreja, acompanhe sempre o vosso caminho.

Aos Sócios da Federação dos Aposentados de São Marinho e aos Sócios do "Lyons" Clube de Roma-Panteão

104 4. Dirijo, depois, o meu pensamento afectuoso aos Sócios da Federação dos Aposentados de São Marinho e aos Sócios do "Lyons" Clube de Roma-Panteão. Caros Irmãos e Irmãs, obrigado pela vossa presença. A peregrinação jubilar, que estais a realizar, com certeza encorajar-vos-á a prosseguir no vosso caminho de fé. Retomai com renovada energia a estrada das vossas actividades quotidianas. À maneira do bom Samaritano, fazei-vos "próximo" de todo o irmão e irmã que a Providência vos conceder encontrar, anunciando aquela esperança que não engana, porque promana do Evangelho.

A um grupo de jovens de Marselha

5. Saúdo cordialmente o grupo de jovens de Marselha. Na vigília do Domingo de Ramos, que nos introduz no mistério central da nossa fé, convido-vos a seguir Cristo. A Sexta-Feira e a festa da Páscoa recordam-nos que, para além de todo o sofrimento, há a luz divina. Ao contemplardes a Cruz do Salvador, descobrireis o amor infinito de Deus, que se ofereceu para a nossa salvação e vos chama a fazer da vossa vida algo de belo. Neste Ano jubilar, a vossa peregrinação a Assis e Roma reavive a vossa fé em Cristo morto e ressuscitado, e vos ajude a construir o vosso futuro! A exemplo de Pedro e Paulo, assim como do Pobrezinho, oxalá sejais, na Igreja e no mundo, testemunhas generosas do Senhor!

6. Queridos Irmãos e Irmãs, ao retornardes a casa, levai às vossas famílias, entes queridos e Comunidades a certeza de que o Papa está próximo deles com o seu afecto. Confiai todo o vosso desejo a Nossa Senhora, da qual sei que sois muito devotos. Será precisamente Ela que vos encorajará no compromisso de caminhar de maneira mais livre nas veredas da santidade, vocação de todo o cristão. Acompanho-vos com a minha oração e abençoo-vos.



DISCURSO DO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL DO


"UNIV 2000"


Segunda-feira, 17 de Abril de 2000

1. Queridos jovens participantes no Congresso Universitário Internacional UNIV 2000, saúdo-vos a todos com afecto.

Bem-vindos a este encontro, que também neste ano se realiza na proximidade das festas pascais. A minha saudação, nesta Semana Santa do Ano Jubilar, reveste um significado particular: é um convite cordial a deixar-vos conquistar cada vez mais totalmente por Cristo, Redentor do homem.

E através de vós, desejaria fazer chegar este convite aos jovens do mundo inteiro. Estai profundamente persuadidos de que a sociedade tem necessidade de encontrar, no vosso coerente testemunho de jovens cristãos, um estímulo importante para uma sólida renovação espiritual e social.

2. O tema do Congresso convida-vos a tornar-vos sempre mais conscientes da vossa missão de crentes, no alvorecer do terceiro milénio. É extraordinário: a imagem do homem dois mil anos depois. Sois convidados a ponderar dois mil anos de história. De facto, o evento central da história humana, a vinda de Cristo à terra, divide o curso da história em duas partes: antes e depois de Cristo. Para os cristãos, entretanto, a centralidade de Jesus não é só uma questão de medida do passar do tempo. O Verbo encarnado é o verdadeiro protagonista da história, e a redenção, sempre em acção no fluxo muitas vezes complicado dos acontecimentos humanos, é a definitiva chave hermenêutica da história.

Poderíamos afirmar que os dois mil anos há pouco terminados não são apenas dois milénios depois de Cristo, mas, em sentido mais concreto, dois milénios de Cristo. Esta é a verdade expressa no tema do Grande Jubileu: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre" (He 13,8). Não obstante a experiência humana, muitas vezes constituída de fracassos, guerras, violências e injustiças, Cristo venceu o mal uma vez por todas, pregando na Cruz a sentença da nossa condenação (cf. Cl Col 2,14). Como escreve o Apóstolo Pedro: "pelas suas chagas fostes curados" (1P 2,25). Por isso todo o momento pertence completamente a Ele.

O Ano Santo que estamos a celebrar põe em evidência de modo especial o facto que Cristo é o centro e o significado de quanto acontece, mesmo quando, humanamente falando, os eventos parecem iludir a lei da sua Providência. Ele mesmo prometeu: "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Sabendo isto, somos encorajados a agir sempre com grande confiança, porque é Cristo que age em nós e porque reconhecemos que n'Ele Deus está a realizar plenamente o seu plano eterno de salvação (cf. Ef Ep 3,11).

105 3. O "facto" da Redenção, queridos jovens, abre de par em par diante de nós, no nosso compromisso quotidiano, um horizonte repleto de perspectivas: inclusive nas contradições que muitas vezes experimentamos no presente, sabemos que caminhamos constantemente para uma meta segura. O verdadeiro progresso tende para Jesus Cristo, para aquela plena união com Ele, a santidade, que é também perfeição humana. São Paulo evidencia-o bem na Carta aos Efésios, onde escreve que o Senhor estabeleceu tudo "para a edificação do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos... ao estado de homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (4, 13). Deste modo os crentes lêem e interpretam a história: é história de Cristo e nós vivemos com Ele, imersos n'Ele e progredindo rumo a Ele. Escreve o Beato Josemaria Escrivá: "Na ordem religiosa, o homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus. Neste campo o vértice do progresso já foi alcançado: é Cristo, o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim" (É Cristo que passa, 104).

Queridos jovens do UNIV, hauri desta consciência uma firme confiança: o esforço do cristão jamais é em vão. O cristão nunca trabalha sozinho. Não o esqueçais! Cada crente é um instrumento de Deus e com ele actua Cristo, mediante a força do Espírito Santo. Deixai que Deus actue em vós e por meio de vós. E para que isto se realize, bem sabeis a que meios se deve recorrer: trata-se dos sacramentos, da oração, da prática das virtudes, da santificação do trabalho, assim como da direcção espiritual.

Tendes necessidade de Cristo, mas também Cristo precisa de vós para que O deis a conhecer aos vossos coetâneos, com os quais compartilhais experiências e esperanças. A Igreja confia-vos a missão de lhes levar a luz da verdade de Cristo, o seu anúncio universal da salvação. Estai sempre dispostos a pensar nos outros, esquecendo-vos de vós mesmos para aproximardes de Deus os irmãos. Desse modo podereis contribuir para a construção dum mundo melhor e mais solidário, porque a conversão e o compromisso de um são um germe de salvação para todos.

4. Confio-vos, caríssimos jovens, juntamente com o vosso empenho quotidiano, a Maria, Rainha dos Apóstolos. Invocai-a com frequência e imitai as suas virtudes. Ela vos ajudará a conhecer Jesus de maneira mais íntima e a segui-l'O com crescente fidelidade e alegria.

De coração apresento a vós e às pessoas que vos são queridas ardentes votos para a Santa Páscoa e, enquanto garanto a cada um a minha lembrança na oração, abençoo-vos de coração.



VIA-SACRA

COLISEU

Sexta-feira Santa, 21 de Abril de 2000


MEDITAÇÕES E ORAÇÕES


DO SANTO PADRE


JOÃO PAULO II


ORAÇÃO INICIAL



O Santo Padre:


Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amen.

"Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me" (Mt 16,24).

Noite de Sexta-feira Santa.
Há vinte séculos que a Igreja se reúne nesta noite para recordar e reviver os acontecimentos da última etapa do caminho terreno do Filho de Deus. Hoje, como nos demais anos, a Igreja que está em Roma concentra-se no Coliseu, para seguir os passos de Jesus que, "carregando às costas a cruz, saiu para o lugar chamado Crânio, que em hebraico se diz Gólgota" (Jn 19,17).


Discursos João Paulo II 2000 98