Discursos João Paulo II 2000 178

PAPA JOÃO PAULO II



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS MEMBROS DA

PONTIFÍCIA GUARDA SUÍÇA


Sexta-feira, 5 de Maio de 2000

Senhor Comandante
Queridos Guardas
Amados membros
e amigos da Guarda Suíça!

1. Desde o início da Guarda Suíça, o dia 6 de Maio está ligado a vós por uma tradição ininterrupta, que vos recorda o empenho particular pelo bem-estar e a vida do Sucessor de Pedro. Também neste ano, portanto, tenho a feliz ocasião de vos receber no Palácio Apostólico, a vós, aos vossos pais, parentes e amigos. Dirijo uma particular saudação de boas-vindas aos novos recrutas, que mediante o juramento de fidelidade são inscritos no vosso Corpo. Por meio dele, empenham-se em dedicar alguns anos da sua vida a uma missão muito honrosa e plena de responsabilidade, no centro da Igreja universal.

2. A respeito disso, vem-me à mente uma frase que Jesus disse aos seus discípulos: "Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos ou terras por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna" (Mt 19,29).

Caros jovens recrutas! Esta promessa é dirigida inclusive a vós. Também vós deixastes pai e mãe, irmãos e irmãs, terras e casas por causa de um valor espiritual e religioso. Com efeito, estais empenhados em prestar, durante algum tempo, um importante serviço ao Bispo de Roma e Sucessor de Pedro. Estais decididos a garantir-lhe a segurança necessária, de maneira que possa dedicar-se, livremente e sem obstáculos, aos homens e anunciar-lhes o Evangelho.

3. Assim como nos discípulos, no tempo de Jesus, também em vós jovens do início do novo milénio poderiam surgir perguntas inquietantes: valerá verdadeiramente a pena prestar serviço na Pontifícia Guarda Suíça na longínqua Roma? Não adiará ao jovem o momento de se dedicar ao próprio trabalho? Não atrasará muito a formação de uma família?

179 Desejo dizer-vos a verdade: estou profundamente convicto de que o vosso serviço será recompensado. Com isto não se deve pensar no dinheiro, mas numa retribuição, que não é possível corresponder com o dinheiro. Um pressuposto é necessário: o facto de considerardes esta nova fase de vida um chamamento de Deus e concentrardes todas as forças no desempenho das vossas tarefas e na comunidade dos vossos companheiros. De bom grado ofereço-vos um lema para o vosso serviço: o que fizerdes, fazei-o inteiramente!

Se colocardes a vossa permanência na Cidade Eterna sob este lema, então retornareis à vossa pátria, a Suíça, como homens amadurecidos na alma e no corpo, e o vosso amor pela Igreja e pelo vosso Pastor supremo será mais profundo e consciente.

4. Precisamente agora, no ano do Grande Jubileu, muitas pessoas se dirigem a vós, às portas do Vaticano. Assim podereis compreender a multiplicidade de motivos que movem cada um a visitar a Praça de São Pedro e os Museus, a Sala das Audiências e a Basílica de São Pedro: curiosidade, interesse pela arte ou disposição religiosa, mas também autêntica devoção católica, que conduz, através das muitas portas, até à Porta Santa.

A multiplicidade dos motivos também vos pede que tomeis posição. Deveis demonstrar não tanto com as palavras, mas com o testemunho da vossa vida o significado que tem para vós mesmos prestar serviço junto do Túmulo de Pedro. Estou certo de que a experiência no centro da Igreja universal deixará vestígios profundos no vosso coração.

Depois sereis capazes de transmitir às vossas famílias e amigos na Suíça o tesouro duma fé amadurecida em Roma. Ao mesmo tempo, contribuireis para revigorar no vosso País os vínculos com o Sucessor de Pedro.

5. Congratulo-me cordialmente convosco por estardes empenhados na Guarda Suíça. O Papa conta convosco! Dirijo uma saudação de reconhecimento também aos vossos pais, irmãos, irmãs e amigos. Eles aceitaram de bom grado que o próprio filho, o próprio irmão ou amigo partisse durante um período, para prestar serviço no centro da Igreja universal.

O nosso encontro hodierno, nesta audiência, é um primeiro fruto da vossa decisão. Que a permanência em Roma vos possa ajudar a procurar viver cada vez mais em intimidade com Cristo e segui-l'O! Neste Grande Jubileu, a Porta Santa está aberta de par em par, esta porta que representa Cristo, que veio à terra para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância (cf. Jo
Jn 10,10). De todo o coração concedo-vos, a vós e aos vossos pais e amigos a Bênção Apostólica.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

A VÁRIOS GRUPOS VINDOS A ROMA

PARA A PEREGRINAÇÃO JUBILAR


Sábado, 6 de Maio de 2000



Queridos Irmãos e Irmãs do Uruguai

1. Dou as minhas cordiais boas-vindas a todos vós que viestes em peregrinação à Cidade Eterna, centro da catolicidade, vivendo desse modo um momento privilegiado do Grande Jubileu do Ano 2000. Saúdo com afecto todos vós, Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e fiéis que hoje de manhã celebrastes a Santa Missa junto do túmulo do Apóstolo Pedro, depois de terdes passado pela Porta Santa da Basílica do Vaticano. Agradeço as amáveis palavras de D. Raúl Horácio Scarrone Carrero, Bispo de Florida e Presidente da Conferência Episcopal do Uruguai.

Conservo bem presente no meu coração a visita pastoral que realizei à vossa Nação, precisamente há 12 anos. Foi uma grande alegria estar no meio de vós para animar a vossa fé, fortalecer a vossa esperança e encorajar a vossa caridade. A vossa peregrinação jubilar, além disso, coincide com o aniversário do falecimento de D. Jacinto Vera, primeiro Bispo do Uruguai, que soube levar, não sem dificuldades, a presença da Igreja a todos os rincões do País.

180 Exorto-vos, queridos filhos uruguaios, a continuar a ser fiéis à missão que o Senhor vos confiou, e a dar com alegria um testemunho de Cristo na sociedade de hoje. O vosso caminho eclesial será revigorado com a celebração do Congresso Eucarístico Nacional, previsto para o próximo mês de Outubro. Faço votos e desejo que seja um especial momento de graça. Com efeito, o Salvador do mundo, encarnado no seio da Virgem Maria há vinte séculos, continua presente no sacramento da Eucaristia e a oferecer-se a toda a humanidade como fonte de vida divina.

Deus abençoe abundantemente o vosso empenho em serdes fiéis a Deus e à Igreja, e vos acompanhe sempre a materna intercessão da Virgem dos Trinta e Três.

Aos fiéis da Diocese de Arezzo-Cortona-San Sepolcro

2. Dirijo agora uma saudação cordial a todos vós, peregrinos de língua italiana, vindos neste dia a visitar-me, por ocasião do vosso Jubileu. Obrigado antes de tudo a vós, queridos fiéis da Diocese de Arezzo-Cortona-San Sepolcro, aqui presentes juntamente com o vosso Bispo, D. Gualtiero Bassetti. Apresento-lhe o meu reconhecimento pelas amáveis palavras que me dirigiu. O hodierno testemunho de afecto, a sete anos da visita por mim realizada na vossa terra, dá-me grande alegria, pois conservo uma viva recordação daquele inesquecível dia 23 de Maio de 1993 transcorrido no meio de vós, em Cortona e Arezzo, quando fui recebido pelo Bispo de então, D. Giovanni D'Ascenzi, que com prazer vejo hoje presente convosco.

Desejo exprimir o meu encorajamento à vossa inteira comunidade diocesana, em particular aos sacerdotes, consagrados e consagradas, que estão em contacto directo com a vida da Igreja. Exorto-os a prosseguir com generosidade no seu empenho segundo aquele espírito de unidade e de missionariedade, que deve caracterizar a obra de quantos Deus enviou à sua vinha. Com igual afecto saúdo os fiéis leigos que, unidos ao seu Pastor, testemunham a fecundidade da fé na animação das realidades temporais.

Em preparação para o Grande Jubileu, a vossa Diocese reflectiu sobre o tema "Creio na Igreja", esclarecendo três âmbitos qualificadores nos quais desenvolver a própria actividade: a Igreja anuncia a Palavra, celebra a graça e testemunha a caridade. Caríssimos Irmãos e Irmãs, prossegui com coragem neste empenho, levando os fardos uns dos outros (cf. Gl
Ga 6,2), de maneira que a Igreja, corpo bem organizado, resplandeça no mundo como primícias da misericórdia e do amor salvífico de Deus por toda a humanidade.

Esse espírito vos sustentará na necessária busca de oportunas soluções aos problemas e desafios que chamam a vossa atenção. Penso, de maneira concreta, na pastoral vocacional, numa formação permanente nas paróquias e associações, no diálogo ecuménico e inter-religioso, no apoio aos numerosos sacerdotes idosos, no projecto de um novo plano pastoral diocesano.

Sobre estes vossos empenhos invoco a protecção de Maria, por vós venerada com o bonito título de "Nossa Senhora do Conforto", e dos vossos Santos Padroeiros Donato e Pedro, João Evangelista e Margarida de Cortona.

Aos peregrinos da Diocese de Fiésole

3. Com não menor afecto desejo, depois, apresentar a minha saudação cordial a vós, queridos fiéis da Diocese de Fiésole, vindos em peregrinação aos túmulos dos Apóstolos. Agradeço ao vosso Bispo, D. Luciano Giovannetti, as expressões cordiais que me dirigiu. Através dele, quero fazer chegar o meu pensamento aos sacerdotes, consagrados, consagradas e fiéis leigos. A cada um peço que prossiga com coragem no caminho de um convicto testemunho cristão, nos lugares onde a Providência o colocou. Tenho conhecimento de que, no vosso último Sínodo diocesano, decidistes assinalar de modo eucarístico o vosso caminho eclesial, com particular atenção à pastoral familiar.

Caríssimos, o Grande Jubileu de 2000 é um ano profundamente eucarístico. A própria cidade de Roma, na segunda metade do próximo mês, reflectirá com renovada gratidão sobre o grande dom que Jesus nos deixou. Em torno da Eucaristia fortalecem-se e renovam-se as pessoas, as famílias, as paróquias e as associações. Sabei beber com constância desta inexaurível fonte de vida interior.
181 De coração formulo votos por que a vossa comunidade se empenhe em participar, activa e regularmente, no encontro dominical, para dele haurir a luz e a força necessárias para responder, segundo o pensamento de Cristo, aos desafios que a existência põe à vocação de cada um. Neste itinerário vos sustentem o exemplo e a intercessão de Maria Santíssima, nossa Mãe, do Santo mártir Rómulo e de todos os Santos, vossos protectores.

Ao um grupo de cristãos provenientes da Suíça

4. Com afecto saúdo os peregrinos que vieram da Suíça, por ocasião do juramento da Pontifícia Guarda Suíça, em particular a União instrumental, o Contingente dos Granadeiros de Friburgo e a Fanfarra do Colégio São Miguel.Trata-se duma ocasião para fazerdes uma peregrinação jubilar, orardes pelos jovens Guardas que aceitaram servir o Sucessor de Pedro e, assim, fazer uma experiência de comunhão eclesial particularmente significativa. Os vossos grupos musicais e instrumentais permitem-vos exprimir, com a música, o vosso louvor ao Criador. Dirijo uma cordial saudação a todos os jovens que vos acompanham, convidando-os a seguir Jesus que os quer ajudar a fazer com que a vida lhes seja bela. Que todos encontrem na permanência em Roma um apoio para a própria fé e para a missão de serem testemunhas de Cristo, assim como um encorajamento a participar na vida da Igreja! A todos concedo de coração a Bênção Apostólica.

Aos participantes no "Certamen Ciceronianum"

5. Dirijo agora uma saudação cordial aos participantes na XX Edição do "Certamen Ciceronianum" e de coração faço votos por que o estudo da língua e literatura latinas seja um válido instrumento para conservar e pôr em evidência os valores conexos com a cultura da antiga Roma, mãe de civilização e mestra de direito.

A outros grupos de fiéis italianos

Enfim, saúdo os fiéis das paróquias dos Santos Nazaro e Celso em Arosio, de Santa Maria em Fabriago e de Santa Maria Assunta em Palazzolo sull'Oglio; o Grupo da "Sociedade do Evangelho" do Antonianum de Bolonha, os jovens e os professores do Liceu "Rogasi", de Pozzallo e da Escola "Mosè Mascolo", das Irmãs Geraldinas de Santo António Abade, assim como o grupo de peregrinos de Castelvetrano e o da UNITALSI, de Pesaro.

A cada um de vós chegue o meu mais vivo encorajamento a seguir sempre Cristo com fidelidade, para serdes em toda a parte suas testemunhas coerentes e jubilosas. Confio-vos à materna protecção de Maria, venerada de modo particular durante este mês de Maio, enquanto com grande benevolência abençoo todos vós.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS REPRESENTANTES DA UNIÃO

DAS FEDERAÇÕES EUROPEIAS DE FUTEBOL


(U.E.F.A.)


Segunda-feira, 8 de Maio de 2000

Ilustres Senhores!

1. Apresento cordiais boas-vindas a cada um de vós, provenientes dos cinquenta e um Países membros da União das Federações Europeias de Futebol, vindos a Roma para o Grande Jubileu do Ano 2000. O encontro hodierno vê representada a quase totalidade das Nações europeias. Em particular, a presença das Federações do Leste, que depois da queda do Muro de Berlim aderiram à vossa União, testemunha ainda mais a vontade de paz e de fraternidade que anima as vossas Federações, assim como o empenho em ampliar os seus horizontes, em superar todas as barreiras e criar uma sistemática comunicação entre os diversos povos, a fim de oferecer um efectivo contributo à construção da unidade europeia.

182 Portanto, estou-vos grato por esta visita que me permite apreciar as nobres finalidades que inspiram o vosso serviço, voltado para sustentar um desporto capaz de promover todos os valores da pessoa humana. Saúdo o Advogado Luciano Nizzola, Presidente da Federação Italiana de Futebol, e agradeço-lhe as cordiais expressões que me quis dirigir em nome dos presentes.

2. Na sociedade contemporânea o futebol é uma actividade desportiva muito difundida, que envolve um grande número de pessoas e, em particular, os jovens. Neste desporto, independentemente da possibilidade de recriação salutar, eles têm também a oportunidade de se desenvolver fisicamente e de obter metas atléticas, que requerem sacrifício, empenho constante, respeito pelos outros, fidelidade e solidariedade.

O futebol é também um dos maiores fenómenos de massa e envolve muitos indivíduos e famílias, desde os torcedores no estádio e os espectadores televisivos a quantos trabalham, a vários níveis, no campo da organização dos eventos desportivos, da formação dos desportistas e no vasto sector dos meios de comunicação de massa.

Este facto evidencia a responsabilidade de quantos administram a organização e promovem a difusão desta actividade desportiva a nível tanto dos profissionais como dos amadores. São chamados a jamais perder de vista as importantes possibilidades educativas que o futebol, como outras semelhantes disciplinas desportivas, pode desenvolver.

Em particular, os desportistas, sobretudo os mais famosos, nunca deveriam esquecer que constituem modelos para o mundo dos jovens. Portanto é importante que além das capacidades tipicamente desportivas, eles desenvolvam com atenção qualidades espirituais e humanas que os tornarão exemplos verdadeiramente positivos para o público em geral. Além disso, dada a difusão do desporto, seria conveniente que os promotores, os organizadores a diversos níveis e os agentes de comunicação se empenhassem em esforços conjuntos, a fim de assegurar que o futebol jamais perca a sua característica autêntica de actividade desportiva e não seja submergido por outras prioridades, em particular de tipo financeiro.

3. Caros Amigos, viestes a Roma para celebrar o Grande Jubileu. No decurso do Ano Santo, a Igreja convida todos os crentes e os homens de boa vontade a considerarem os seus pensamentos e acções, as suas expectativas e esperanças, à luz de Cristo, "o homem perfeito que restitui aos filhos de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado" (Gaudium et spes
GS 22).

Isto supõe um caminho de conversão autêntica, ou seja, a renúncia à mentalidade mundana que fere e deprime a dignidade do homem; isto pressupõe também a adesão, com uma confiança total e um empenho corajoso, ao modo liberatório de agir e de pensar proposto pelo Evangelho. Como não ver no evento jubilar um convite a fazer com que o desporto seja também uma ocasião de autêntica promoção da grandeza e da dignidade do homem? Nesta perspectiva, as estruturas do futebol são convidadas a ser um terreno de autêntica humanidade, onde os jovens são incentivados a aprender os grandes valores da vida e a difundir em toda a parte as grandes virtudes, que estão na base duma digna convivência humana, tais como a tolerância, o respeito da dignidade humana, a paz e a fraternidade.

Estou certo, caros Amigos, que representais as Federações europeias, de que compartilhais os meus bons votos, a fim de que o futebol constitua sempre mais um lugar de serenidade e que toda a competição realize aquilo que o desporto deve ser: uma inteira valorização do corpo, um sadio espírito de competição, uma educação para os valores da vida, a alegria de viver, o jogo e a festa.

4. Que o futebol, como qualquer outro desporto, se torne sempre mais expressão do primado do ser sobre o ter, libertando-se - como oportunamente fez observar há pouco o vosso Representante - de tudo aquilo que lhe impede ser proposta positiva de solidariedade e de fraternidade, de respeito mútuo e de leal confronto entre os homens e as mulheres do nosso mundo.

Além disso, tive conhecimento do recente empenho da vossa Federação, que com os próprios recursos empreendeu uma louvável obra de assistência aos Países pobres e de especial cooperação com os Países do Leste europeu, para difundir o futebol entre os jovens e os iniciar numa existência sadia, inspirada em sólidos princípios morais. Seja este o estilo constante de toda a vossa iniciativa.

Peço-vos, enfim, que vos façais intérpretes dos meus cordiais sentimentos junto das sociedades desportivas que representais, dos atletas, de todo o pessoal e das respectivas famílias.

183 Sobre todos invoco a bênção de Deus.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA GERAL

DO CONSELHO SUPERIOR


DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS


Quinta-feira, 11 de Maio de 2000



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Queridos Directores Nacionais,
Colaboradores e Colaboradoras
das Pontifícias Obras Missionárias!

1. Apresento com afecto as minhas boas-vindas a cada um de vós. Em primeiro lugar, ao Senhor Cardeal Jozef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, que se fez intérprete dos vossos sentimentos e agradeço-lhe as amáveis expressões que me dirigiu. Saúdo D. Charles Schleck, Secretário Adjunto dessa Congregação e Presidente das Pontifícias Obras Missionárias, e os Secretários-Gerais das quatro Obras.

Reservo um particular pensamento a vós, caros Directores Nacionais, que realizais com perícia e empenho a vossa tarefa de animação da cooperação missionária nos vossos respectivos Países. Através de vós, quero saudar todos os vossos colaboradores e colaboradoras que, impelidos por generosidade evangélica, têm a peito a proclamação da Palavra de Deus em todos os lugares e situações do mundo.

2. O encontro hodierno acontece no tempo e no espírito do Grande Jubileu, que a Igreja universal está a viver com grande fervor. Este é um singular Ano de graça, no qual a comunidade cristã está a fazer uma mais viva experiência da bondade de Deus, que se manifestou na encarnação do Filho e foi anunciada com gratidão pela Igreja a todas as nações. Ressoam no nosso espírito as palavras do Apóstolo: "É este o tempo favorável; este é o dia da salvação" (2Co 6,2).

A celebração do Grande Jubileu apresenta-se, portanto, como uma ocasião mais do que nunca oportuna para reflectir sobre a misericórdia que Deus Pai, mediante a obra do Espírito Santo, ofereceu em Cristo à humanidade inteira. O Grande Jubileu é "anúncio de salvação", que se deve fazer ressoar em todos os cantos da terra, a fim de que quem o ouvir se torne, por sua vez, testemunha e se faça seu instrumento para a salvação da humanidade inteira. Todos somos chamados a abrir os olhos diante das necessidades das numerosas ovelhas sem pastor (cf. Mc Mc 6,34), para nos colocarmos ao seu serviço, a fim de fazer com que elas conheçam o nome do Senhor e, confessando-o, também elas participem na salvação (cf. Rm Rm 10,9).

184 3. De modo particular, quero aqui recordar quantos, homens e mulheres, ao dedicarem-se "ad vitam" à missão "ad gentes", fizeram desta actividade a razão de ser da própria existência. Eles são um exemplo incomparável de dedicação à causa da difusão do Evangelho. Agradeço e abençoo de coração aqueles que, de formas tanto discretas quanto eficazes, se empenham no trabalho da animação e da cooperação missionária. São inúmeros. Aos sacerdotes, às consagradas e consagrados unem-se numerosos leigos, individualmente ou como família, desejosos de dedicar à missão alguns anos da própria vida ou, até mesmo, a sua inteira existência. Não poucas vezes eles proclamam a Boa Nova e manifestam a sua fé em ambientes hostis ou indiferentes. Levai-lhes, caríssimos Irmãos e Irmãs, o meu reconhecimento e o meu encorajamento a continuarem com generosidade este vigoroso empenho missionário. Deus, que não se deixa vencer em generosidade, saberá recompensá-los.

A recente comemoração das Testemunhas da Fé do século XX, celebrada no Domingo passado no Coliseu, recorda-nos que não raro, para a missão, a prova suprema é o dom da vida até à morte. "Como sempre, na história cristã, os "mártires", isto é, as testemunhas, são numerosas e indispensáveis no caminho do Evangelho. Também na nossa época, há tantos: bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, tantas vezes heróis desconhecidos que deram a vida para testemunhar a fé. São esses, os anunciadores e as testemunhas por excelência" (Carta Encíclica Redemptoris missio
RMi 45).

Ao dar graças a Deus por estes nossos irmãos e irmãs na fé, oremos para que o trabalho missionário da Igreja seja sempre animado por grande generosidade.

4. Vós, caríssimos, sois chamados a desempenhar o papel capilar de sensibilização entre todos os cristãos. O vosso constante anseio seja trabalhar para que cada um sinta a urgência de continuar a mesma missão de Jesus que, antes de morrer, disse aos seus discípulos: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio" (Jn 20,21). Transmiti este espírito aos vossos colaboradores e às muitas pessoas de boa vontade que compartilham convosco esta mesma missão eclesial.

Com efeito, a chamada à missão, além de um dever para todo o baptizado, é uma graça. Bem o sabem aqueles que dela fizeram a opção preferencial da existência. Quem é enviado em nome da Igreja a anunciar a Boa Nova, está associado de modo singular à pessoa e à missão do próprio Cristo. A respeito disso, São João afirma: "Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os envio ao mundo" (Jn 17,18). Por Cristo, nós somos enviados ao mundo!

Em virtude desta vocação e missão, a vós compete, queridos Directores Nacionais, em estreita colaboração com os vossos legítimos Pastores, a formação e a animação missionária do Povo de Deus no mundo inteiro, tendo bem presente que a obra missionária "compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais" (Redemptoris missio RMi 2).

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs, como sabeis, a vossa Congregação estabeleceu celebrar o "Congresso Missionário Mundial do ano 2000" de 18 a 22 do próximo mês de Outubro, em concomitância com o Dia Mundial Missionário. Alegro-me com esta oportuna iniciativa.
A preparação desse evento, precedida pela celebração de Congressos Nacionais, nos quais estão envolvidos os responsáveis das Pontifícias Obras nos vários níveis, está a revelar-se desde agora ocasião propícia para sensibilizar o inteiro Povo de Deus acerca da imprescindível tarefa missionária, confiada pelo Senhor a todo o baptizado.

Todos os que participarem nesse importante encontro reflectirão sobre o tema: "Jesus, fonte de vida para todos". De coração faço votos por que essa providencial reunião contribua para renovar com vigor na Igreja um incisivo esforço missionário, para prosseguir com entusiasmo e coragem na sempre actual obra da primeira evangelização. Espero, além disso, que o empenho por vós despendido a favor das missões possa ser abençoado por frutos abundantes e suscite numerosas vocações "ad gentes". Eis o precioso contributo que vos é pedido para a nova evangelização, na qual a Igreja está hoje empenhada (cf. Redemptoris missio RMi 2), a fim de oferecer a todos a possibilidade de haurir abundantemente das fontes de água viva do Evangelho.

6. Irmãos e Irmãs caríssimos, continuai de maneira incansável na tarefa que empreendestes e à qual dedicais o melhor das vossas energias, sem vos deixardes perturbar pelas dificuldades nem deter pelos obstáculos. Perseverai no convicto serviço à acção missionária da Igreja e sereis dóceis instrumentos que contribuem para edificar no mundo a civilização do amor.

Ao confiar-vos a Maria, Estrela da evangelização, assim como as vossas actividades e as pessoas que vos são queridas, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a cada um de vós, e de bom grado faço-a extensiva a quantos colaboram no vosso incansável trabalho de animação, formação e cooperação missionária em todos os Continentes.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA AUDIÊNCIA À PEREGRINAÇÃO JUBILAR

DA VENEZUELA


185

Quinta-feira, 11 de Maio de 2000



Amadíssimos irmãos e irmãs da Venezuela

1. Saúdo-vos cordialmente e alegro-me por vos dar as boas-vindas. Sede bem-vindos tanto a Roma como ao Vaticano, onde se conserva a memória do Apóstolo São Pedro! O tempo providencial do Jubileu trouxe-vos como peregrinos à cidade de Roma, para confirmardes a vossa fé em Cristo e reafirmardes o empenho de viver segundo o espírito do Evangelho. A vossa presença, tão numerosa, testemunha os vínculos estreitos e ininterruptos de comunhão e afecto que unem a Igreja da Venezuela ao Sucessor de Pedro. Ela também me faz recordar a memória dos inesquecíveis dias que a Providência me concedeu transcorrer na vossa Pátria, por ocasião das minhas duas viagens apostólicas. Durante essas viagens pude verificar a firmeza da vossa fé e a acção que a Igreja desempenha entre vós, contribuindo com a sua palavra e as suas instituições para melhorar a vida de todos os venezuelanos.

2. Agradeço a D. Ignácio Velasco García, Arcebispo de Caracas, as amáveis palavras que me dirigiu, transmitindo-me os sentimentos que vos animam nesta peregrinação jubilar à Cidade Eterna, testemunho do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja. Ao agradecer-lhe os sentimentos que exprimiu também em vosso nome, desejo saudar cada um de vós: sacerdotes, religiosos, religiosas, jovens e todos os fiéis que fazem parte deste grupo.

3. Estamos a viver o ano do grande Jubileu, que nos oferece a possibilidade de aceder ao tesouro de graça e misericórdia que Deus confiou à Igreja. A quantos aspiram por uma profunda renovação interior, o Senhor pede que se aproximem dele com confiança. A cada um de nós pede uma mudança de mentalidade e de estilo de vida, a fim de seguir de perto o Senhor e, desta forma, enfrentar as realidades quotidianas segundo o espírito do Evangelho.

Seguir Cristo de maneira radical exige um intenso e constante crescimento interior. Para esta finalidade é necessário praticar com assiduidade a oração, participar com a maior frequência possível na Eucaristia e no Sacramento da Penitência, e praticar as virtudes evangélicas. No vosso País já tendes testemunhas de Cristo que foram elevadas às honras dos altares. Refiro-me à Beata Maria de São José, que tive a honra de beatificar perante a alegria de todos os venezuelanos.

Oxalá o seu exemplo e ensinamentos vos infundam continuamente o entusiasmo e a força de aderir de maneira cada vez mais decidida a Cristo. Desta forma, estareis preparados para enfrentar com confiança e esperança as dificuldades do nosso tempo e os desafios da nova evangelização.

4. Entre estas dificuldades não posso esquecer a indescritível tragédia que no ano passado atingiu o vosso País e causou tantos mortos e grande destruição. Desde o primeiro momento elevei a minha oração ao Senhor pelos falecidos, pedindo conforto, serenidade e luz para os que, no meio de tanto sofrimento, se encontravam perante a difícil tarefa da reconstrução. A minha voz elevou-se também solicitando a cooperação internacional, exortando os povos irmãos que não deixaram a Venezuela sozinha nesses momentos e colaboraram na reparação dum desastre natural de tão grandes proporções.

Por conseguinte, estimulo-vos a permanecer ao lado de quantos ainda sofrem as trágicas consequências daquela situação, a sentir-vos sempre solidários uns com os outros, a preocupar-vos com o destino do próximo, mesmo se custa sacrifícios.

5. Outro desafio do momento presente é prosseguir pelo caminho da nova evangelização. Amadíssimos irmãos e irmãs, bem sabeis que a evangelização é missão de todos os baptizados. Qualquer que seja o seu estado de vida, cada um é chamado a dar testemunho de Cristo e do Evangelho. Faço votos por que a vossa peregrinação dê os almejados frutos de renovação religiosa e pastoral. A vossa visita aos túmulos dos Apóstolos reforce a determinação de evitar o pecado, de vos converter ao bem e seguir o Senhor.

Além disso, a evangelização contribuirá para que os valores do Reino de Deus estejam presentes na sociedade neste momento em que a vossa Nação está a rever a sua organização legislativa e institucional. A este respeito, é necessário que os cristãos façam ouvir a sua voz para que os valores evangélicos continuem presentes na vossa Pátria e não sejam absolutamente esquecidos.

186 6. Confio à Virgem Maria, que venerais com o título de Coromoto, e que tive a honra de coroar, as intenções que vos animam na vossa peregrinação jubilar. Imploro-lhe para vós a graça de ser missionários autênticos do amor insondável de Deus na sociedade venezuelana. Protejam-vos os Santos Pedro e Paulo, cujos túmulos visitastes com devoção. O Papa renova-vos o seu afecto e concede-vos, bem como aos vossos familiares e a todos os fiéis venezuelanos, uma especial Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS DIRIGENTES E ATLETAS DA 83ª VOLTA


À ITÁLIA DE CICLISMO INICIADA EM ROMA


POR OCASIÃO DO ANO SANTO


Sexta-feira, 12 de Maio de 2000



Ilustres Senhores e gentis Senhoras
Caríssimos organizadores, promotores
e participantes na Volta à Itália!

1. Tenho o prazer de vos acolher na vigília do início da popular corrida ciclística, que a partir de amanhã verá muitos de vós protagonistas pelas estradas da Península. Ao apresentar a todos as minhas cordiais boas-vindas, agradeço de modo especial ao Dr. Cesare Romiti e ao Dr. Cândido Cannavó as amáveis palavras que quiseram dirigir-me em nome dos presentes e, com as quais, evocaram ideais e valores que animam esta grande manifestação desportiva.

Dirijo uma particular saudação aos participantes na Estafeta ciclística de Nossa Senhora do Ghisallo, vindos a Roma por ocasião do início da Volta à Itália, para recordar o quinquagésimo aniversário da proclamação, por parte do meu venerado Predecessor Pio XII, da Bem-aventurada Virgem Maria do Ghisallo como principal Padroeira dos ciclistas italianos.

A estima, o interesse e a admiração que a vossa histórica corrida de bicicletas desde sempre desperta, não só entre os partidários do desporto mas também entre os operadores da informação jornalística e radiotelevisiva, assim como entre as pessoas em geral, fizeram com que a Volta à Itália se tornasse uma manifestação de alto relevo desportivo e de grande impacto social na história e no costume italianos.

2. A edição deste ano assume, em coincidência com o Grande Jubileu do Ano 2000, um significado especial. Como há pouco foi oportunamente recordado, a Volta à Itália partirá de Roma, concluindo a primeira etapa na Praça de São Pedro. Poder-se-ia por isso dizer que a fracção de amanhã é não só o "prólogo" da Volta à Itália, mas constitui como que uma "primeira etapa" do Jubileu dos desportistas que, se Deus quiser, teremos a alegria de celebrar juntos no último domingo do mês de Outubro no Estádio Olímpico.

Este entrelaçamento de manifestações desportivas e celebrações jubilares contribui para pôr bem em evidência a relação que deve sempre unir a actividade desportiva e os valores espirituais. Antes, deve constituir uma importante oportunidade de reflexão e de renovação, a fim de que o desporto resplandeça com aquelas características de limpidez, coerência, honestidade e partilha que o tornam um dos veículos significativos de altos valores de humanidade.

Com efeito, toda a actividade desportiva, a nível tanto de amadorismo como de espírito de competição, requer dotes humanos fundamentais, tais como o rigor na preparação, a constância no treinamento, a consciência dos limites das capacidades da pessoa, a lealdade na competição, a aceitação de regras precisas, o respeito pelo adversário, o sentido de solidariedade e de altruísmo. Sem estas qualidades, o desporto reduzir-se-ia a um simples esforço e a uma discutível manifestação de força física sem alma.


Discursos João Paulo II 2000 178