AUDIÊNCIAS 2000 - AUDIÊNCIA



AUDIÊNCIA

Quarta-feira 29 de Março de 2000




1. Depois da comemoração de Abraão e da breve mas intensa visita ao Egipto e ao Monte Sinai, a minha peregrinação jubilar nos lugares santos conduziu-me à Terra que viu o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo e os primeiros passos da Igreja. Inexprimíveis são a alegria e o reconhecimento que conservo na alma por este dom do Senhor, por mim tão desejado.

Depois de ter estado na Terra Santa durante o Concílio Vaticano II, tive agora a graça de lá retornar, juntamente com alguns dos meus Colaboradores, precisamente no Ano do Grande Jubileu, bimilenário do nascimento do Salvador. Foi como que retornar às origens, às raízes da fé e da Igreja.

Agradeço ao Patriarca latino e aos Bispos das diversas Igrejas orientais católicas presentes na Terra Santa, juntamente com os Franciscanos da Custódia, o caloroso acolhimento e o grande trabalho realizado. Agradeço vivamente às Autoridades jordanianas, israelenses e palestinas, que me acolheram e favoreceram o meu itinerário religioso. Apreciei o empenho por elas prodigalizado para o bom êxito da viagem e renovei-lhes a certeza da solicitude da Santa Sé por uma paz justa entre todos os povos da região. Estou grato às populações daquelas terras pela grande cordialidade que me foi reservada.

2. A primeira etapa no Monte Nebo era em continuidade com a do Sinai: do alto daquele monte Moisés contemplou a Terra prometida, depois de ter realizado a missão que Deus lhe confiara, e antes de Lhe entregar a sua alma. Iniciei o meu itinerário, num certo sentido, precisamente a partir daquele olhar de Moisés, percebendo a sua íntima sugestão que atravessa os séculos e os milénios.

Aquele olhar dirigia-se para o vale do Jordão e o deserto de Judá, onde, na plenitude dos tempos, haveria de ressoar a voz de João Baptista, enviado por Deus, como novo Elias, a fim de preparar o caminho para o Messias. Jesus quis fazer-se baptizar por ele, revelando que era o Cordeiro de Deus que assumia sobre si o pecado do mundo. A figura de João Baptista introduziu-me nos passos de Cristo. Com alegria celebrei uma solene Missa no estádio de Amã para a comunidade cristã ali residente, que encontrei rica de fervor religioso e bem inserida no contexto social do País.

3. Tendo deixado Amã, hospedei-me na Delegação Apostólica em Jerusalém. Dali, a primeira meta foi Belém, cidade que, há três mil anos, deu origem ao rei David e onde, mil anos depois, segundo as Escrituras, nasceu o Messias. Neste ano 2000, Belém está posta no centro da atenção do mundo cristão: de facto, dali surgiu a Luz das nações, Cristo Senhor; dali partiu o anúncio de paz para todos os homens que Deu ama.

Juntamente com os meus Colaboradores, os Ordinários católicos, alguns Cardeais e numerosos outros Bispos celebrei a Santa Missa na praça central da cidade, que está junto da gruta em que Maria deu à luz Jesus e O depositou numa manjedoura. Renovou-se no mistério a alegria do Natal, a alegria do Grande Jubileu. É preciso ouvir de novo o oráculo de Isaías: "Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado" (Is 9,5), juntamente com a mensagem angélica: "Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, o Senhor" (Lc 2,10-11).

Com emoção, à tarde ajoelhei-me na gruta da Natividade, onde senti espiritualmente presente a Igreja inteira, todos os pobres do mundo, no meio dos quais Deus quis armar a sua tenda. Um Deus que, para nos reconduzir à sua casa, se fez exilado e prófugo. Este pensamento acompanhou-me enquanto - antes de partir dos Territórios Autónomos Palestinos - eu visitava, em Belém, um dos tantos campos, onde há muito tempo vivem mais de três milhões de refugiados palestinos. Possa o empenho de todos encontrar finalmente uma solução para este doloroso problema.

4. A recordação de Jerusalém é indelével na minha alma. Grande é o mistério desta cidade, na qual a plenitude dos tempos se fez, por assim dizer, "plenitude do espaço". Com efeito, Jerusalém acolheu o acontecimento central e culminante da história da salvação: o mistério pascal de Cristo. Ali foi revelado e realizou-se a finalidade pela qual o Verbo se fez carne: na sua morte de cruz e na sua ressurreição "tudo se completou" (cf. Jo Jn 19,30). No Calvário a Encarnação manifestou-se como Redenção, segundo o eterno desígnio de Deus.

As pedras de Jerusalém são testemunhas mudas e eloquentes deste mistério. A começar pelo Cenáculo, onde celebrámos a sagrada Eucaristia, no lugar mesmo em que Jesus a instituiu. Lá, onde nasceu o sacerdócio cristão, recordei todos os sacerdotes, e assinei a minha Carta a eles dirigida para a próxima Quinta-Feira Santa.

Testemunham o mistério as oliveiras e a rocha do Getsémani, onde Cristo, tomado de angústia mortal, orou ao Pai antes da Paixão. De modo muito particular, testemunham aquelas horas dramáticas o Calvário e o túmulo vazio, o Santo Sepulcro.No domingo passado, dia do Senhor, renovei precisamente ali o anúncio da salvação que atravessa os séculos e os milénios: Cristo ressuscitou! Foi aquele o momento em que senti a necessidade de voltar a deter-me em oração, na parte da tarde, no Calvário, onde Cristo derramou o seu sangue pela humanidade.

5. Em Jerusalém, Cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos, encontrei-me com os dois Grão-Rabinos de Israel e o Grão-Mufti de Jerusalém. Depois tive um encontro com os representantes das outras duas religiões monoteístas, a judaica e a muçulmana. Embora através de grandes dificuldades, Jerusalém é chamada a tornar-se o símbolo da paz entre todos os que crêem no Deus de Abraão e se submetem à sua lei. Possam os homens apressar o cumprimento deste desígnio!

Em Yad Vashem, Memória do Shoah, prestei homenagem aos milhões de judeus vítimas do nazismo. Mais uma vez expressei profunda tristeza por aquela terrificante tragédia e reafirmei que "nós queremos recordar" para nos empenharmos juntos - judeus, cristãos e homens todos de boa vontade - em destruir o mal com o bem, para percorrermos o caminho da paz.

Na Terra Santa numerosas Igrejas vivem hoje a sua fé, herdeiras de tradições antigas. Esta diversidade é uma grande riqueza, contanto que seja acompanhada do espírito de comunhão na plena adesão à fé dos Padres. O encontro ecuménico, que se realizou no Patriarcado greco-ortodoxo de Jerusalém com intensa participação por parte de todos, assinalou um passo importante no caminho para a plena unidade entre os cristãos. Foi para mim motivo de grande alegria poder entreter-me com Sua Beatitude Diodoros, Patriarca greco-ortodoxo de Jerusalém, e com Sua Beatitude Torkom Manoogian, Patriarca arménio de Jerusalém. Convido todos a orar para que o processo de entendimento e de colaboração entre os cristãos das várias Igrejas se consolide e se desenvolva.

6. Graça singular desta peregrinação foi celebrar a Missa no Monte das Bem-aventuranças, junto do Lago da Galileia, com numerosíssimos jovens provenientes da Terra Santa e do mundo inteiro. Um momento repleto de esperança! Ao proclamar e entregar aos jovens os Mandamentos de Deus e as Bem-aventuranças, vi neles o futuro da Igreja e do mundo.

Sempre à margem do Lago, visitei com grande emoção Tabgha, onde Cristo multiplicou os pães, o "lugar do primado", onde Ele confiou a Pedro a guia pastoral da Igreja, e enfim, em Cafarnaum, os vestígios da casa de Pedro e da sinagoga, onde Jesus se revelou como o Pão descido do Céu para dar a vida ao mundo (Jn 6,26-58).

Galileia! Pátria de Maria e dos primeiros discípulos; pátria da Igreja missionária entre as nações! Penso que Pedro sempre a teve no coração; e é assim também para o seu Sucessor!

7. Na festa litúrgica da Anunciação, como que remontando às nascentes do mistério da fé, fomos ajoelhar-nos na gruta da Anunciação em Nazaré, onde, no seio de Maria, "o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós" (Jn 1,14). Lá, reflectido no "fiat" da Virgem, é possível escutar, em silêncio adorante, o "sim" de Deus repleto de amor ao homem, o amém do Filho eterno, que abre a cada homem o caminho da salvação. Lá, no recíproco doar-se de Cristo e de Maria, estão os fundamentos de qualquer "porta santa". Lá, onde Deus se fez homem, o homem encontra a sua dignidade e a sua altíssima vocação.

Agradeço a quantos nas várias dioceses, nas casas religiosas e nas comunidades contemplativas seguiram espiritualmente os passos da minha peregrinação e asseguro que nos lugares visitados levei comigo, na oração, a Igreja inteira. Enquanto exprimo ainda ao Senhor a minha gratidão por esta experiência inesquecível, peço-Lhe com humilde confiança que dela faça produzir frutos abundantes para o bem da Igreja e da humanidade.

Saudações

Apelo em favor das populações da Ilha de Mindanau

Desejo dirigir um pensamento às queridas populações das Filipinas, onde, na grande ilha de Mindanau, infelizmente se intensificaram as tensões, que estão a causar violentos combates.
Oro por todos os habitantes daquela região e, em particular, pelos responsáveis políticos e militares, a fim de que o Senhor os ilumine e os mova a fazer todo o possível para porem fim à violência, procurando soluções pacíficas aos problemas existentes.
Às famílias, que sofrem por causa desta situação, exprimo a minha proximidade e solidariedade.

Saúdo cordialmente os presentes e ouvintes de língua portuguesa, especialmente um grupo de peregrinos brasileiros de Florianópolis, com votos de todo bem e de que o Senhor lhes conceda, como fruto da Páscoa de Cristo, a abundância dos dons do Espírito Santo.



                                                                           Abril de 2000

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 5 de Abril de 2000




Queridos irmãos e irmãs,

1. "Uma única fonte e uma única raiz, uma única forma refulge do tríplice esplendor. Lá onde brilha a profundidade do Pai, irrompe o poder do Filho, sabedoria artífice do universo inteiro, fruto gerado pelo coração paterno! E aí resplandece a luz unificante do Espírito Santo". Assim cantava, no início do século V, Sinésio de Cirene no Hino II, celebrando no alvorecer de um novo dia a Trindade divina, única na fonte e tríplice no esplendor. Esta verdade do único Deus em três Pessoas iguais e distintas não é relegada aos céus; não pode ser interpretada como uma espécie de "teorema aritmético celeste", do qual nada deriva para a existência do homem, como supunha o filósofo Kant.

2. Na realidade, como escutámos na narração do evangelista Lucas, a alegria da Trindade torna-se presente no tempo e no espaço, e encontra a sua epifania mais alta em Jesus, na sua encarnação e na sua história. A concepção de Cristo é lida por Lucas precisamente à luz da Trindade: são as palavras do anjo que o atestam, palavras dirigidas a Maria e pronunciadas no interior da modesta casa da aldeia de Nazaré, na Galileia, descoberta pela arqueologia. No anúncio de Gabriel manifesta-se a transcendente presença divina: o Senhor Deus através de Maria e na linha da descendência de David dá ao mundo o Seu Filho: "Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus dar-Lhe-á o trono de Seu pai David" (Lc 1,31-32).

3. Aqui o valor do termo "filho" é dúplice, porque em Cristo se unem intimamente o vínculo filial com o Pai celeste e com a mãe terrena. Mas na Encarnação participa também o Espírito Santo, e é precisamente a sua intervenção que torna aquela geração única e irrepetível: "O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo que vai nascer há-de chamar-se Filho de Deus" (Lc 1,35). As palavras que o anjo proclama são como que um pequeno Credo, que esclarece a identidade de Cristo em relação às outras Pessoas da Trindade. É a fé coral da Igreja, que Lucas já põe nos exórdios do tempo da plenitude salvífica: Cristo é o Filho do Deus Altíssimo, o Grande, o Santo, o Rei, o Eterno, cuja geração na carne é realizada por obra do Espírito Santo. Por isso, como dirá João na sua Primeira Carta, "todo aquele que nega o Filho, também não reconhece o Pai; aquele que confessa o Filho, reconhece o Pai" (2, 23).

4. No centro da nossa fé está a Encarnação, na qual se revelam a glória da Trindade e o seu amor por nós: "E o Verbo fez-se homem e habitou entre nós, e nós vimos a Sua glória" (Jn 1,14). "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único" (Jn 3,16). "Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco: em ter enviado o Seu Filho unigénito ao mundo, para que, por Ele, vivamos" (1Jn 4,9). Através destas palavras dos escritos joaninos conseguimos compreender que a revelação da glória trinitária na Encarnação não é uma simples iluminação que afasta as trevas durante um instante, mas uma semente de vida divina depositada para sempre no mundo e no coração dos homens.

Emblemática neste sentido é uma declaração do apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas: "Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito que clama: "Abbá! Pai".

Portanto, já não és servo, mas filho; e se és filho, também és herdeiro pela graça de Deus" (4, 4-7; cf. Rm Rm 8,15-17). O Pai, o Filho e o Espírito estão presentes, portanto, e agem na Encarnação para nos envolver na sua própria vida. "Todos os homens afirmou o Concílio Vaticano II são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos" (LG 3). E, como afirmava São Cipriano, a comunidade dos filhos de Deus é "um povo congregado pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (De Orat. Dom. 23).

5. "Conhecer a Deus e ao Seu Filho é acolher o mistério da comunhão de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, na própria vida que se abre, desde agora, à vida eterna pela participação na vida divina. Por conseguinte, a vida eterna é a própria vida de Deus e simultaneamente a vida dos filhos de Deus. Um assombro incessante e uma gratidão sem limites não podem deixar de se apoderar do crente, diante desta inesperada e inefável verdade que nos vem de Deus em Cristo" (Evangelium vitae EV 37-38).

Neste assombro e neste acolhimento vital devemos adorar o mistério da Santíssima Trindade, que "é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé; é a luz que os ilumina" (Catecismo da Igreja Católica, CEC 234).

Na Encarnação contemplamos o amor trinitário que se abre em Jesus; um amor que não permanece fechado num perfeito círculo de luz e de glória, mas se irradia na carne dos homens, na sua história, penetrando no homem, regenerando-o e tornando-o filho no Filho. É por isso como dizia Santo Ireneu a glória de Deus é o homem vivo: "Gloria enim Dei vivens homo, vita autem hominis visio Dei"; é-o não só para a sua vida física, mas sobretudo porque "a vida do homem consiste na visão de Deus" (Adversus Haereses IV, 20, 7). E ver Deus é ser transfigurado n'Ele: "Seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é" (1Jn 3,2).

Apelo do Santo Padre em favor dos Ciganos

No sábado 8 de Abril, celebrar-se-á a Jornada Internacional dos "Rom" e dos "Sinti", neste ano dedicada à condição dos Ciganos vítimas do conflito no Kossovo.

Formulo votos por que a Jornada sirva para promover o pleno respeito da dignidade humana destes nossos irmãos, favorecendo a sua adequada inserção na sociedade. Além disso, é com particular alegria que penso no encontro que terei por ocasião das celebrações jubilares para os migrantes e os itinerantes, no início do próximo mês de Junho.

Amados peregrinos vindos do Brasil e de Portugal, da cidade de Viseu: sede bem-vindos!
Nos vossos passos de peregrinos neste Ano Santo, nunca percais de vista a cidade eterna que o coração anseia. Há figuras e prenúncios dela na terra, mas ela realmente desce dos Céus: é o Verbo que encarnou, para recapitular em Si toda a criatura.
Vivei como membros, que sois, do seu Corpo, levando a sua bênção a todos os homens!

É-me grato acolher as pessoas de língua francesa. Saúdo em particular os peregrinos da Diocese de Paris, com o seu Arcebispo o Cardeal Jean-Marie Lustiger; os das Dioceses da Bretanha e do Oeste, acompanhados de D. François Saint-Macary, Arcebispo de Rennes, e dos Bispos da região, assim como os peregrinos de Lourdes, com o Bispo de Aire e Dax, D. Robert Sarrabère. Que a vossa peregrinação jubilar seja ocasião para crescerdes na fé em Cristo! A todos concedo de coração a Bênção Apostólica.

Tenho o prazer de dar as boas-vindas aos numerosos grupos de alunos, assim como às peregrinações paroquiais e diocesanas, em especial da Dinamarca, Finlândia, Austrália, Filipinas, Japão e Estados Unidos. Ao rezardes junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, fortalecei-vos na fé e na resolução de servir Cristo nos outros. Sobre vós e as vossas famílias invoco a alegria e a paz do Salvador ressuscitado.

Saúdo, agora, todos os peregrinos de língua italiana. Em particular dirijo um cordial pensamento aos fiéis da Arquidiocese de Lecce, acompanhados do seu Arcebispo, D. Cosmo Francesco Ruppi. Amados Irmãos e Irmãs, obrigado de coração pela vossa presença. Recordo com prazer a visita pastoral de 1994, durante a qual inaugurei o Seminário e dei início ao caminho sinodal da Arquidiocese. De coração formulo votos por que, concluído agora o vosso Sínodo, vos empenheis com entusiasmo em pôr em prática as suas decisões. Promovei uma activa pastoral das vocações e testemunhai o Evangelho do acolhimento dos refugiados, como já há anos estais a fazer, às vezes com grandes sacrifícios, no Centro "Regina pacis". Deus vos ajude a levar a bom termo os vossos propósitos de bem.

Saúdo também os fiéis da Diocese de Tortona com o seu Bispo, D. Martino Canessa, os de Ventimiglia-San Remo, guiados pelo Bispo D. Giacomo Barabino, assim como os da Diocese de Susa. Caríssimos, obrigado pela vossa visita. De coração formulo votos por que a vossa peregrinação jubilar seja rica de frutos espirituais e pastorais, em benefício das vossas respectivas Comunidades diocesanas, às quais envio um afectuoso pensamento de bênção.

Saúdo depois a numerosa peregrinação dos Alpinos com os seus familiares, os Oficias do Instituto Superior do Estado-Maior Interforças, os Oficiais e os Suboficiais do Aeroporto militar de Capodichino, os Soldados do Comando das Forças de Defesa de Vitório Véneto, os Adidos militares das Embaixadas acreditadas na Itália, os Alunos Sargentos do Exército italiano e os membros da Escola técnica da Polícia de Estado.

A todos agradeço a afável presença. Deus vos ajude a cumprir com grande fidelidade a vossa missão ao serviço da paz e da segurança da inteira Comunidade italiana.

Uma cordial saudação, enfim, aos Jovens, aos Doentes e aos jovens Casais. Neste tempo de Quaresma, exorto-vos a prosseguir com generosidade o caminho rumo à Páscoa, mistério central da nossa fé.

Com particular afecto penso em vós, caros jovens estudantes, que em tão grande número estais hoje presentes e encorajo-vos a testemunhar com fé viva a salvação que brota da cruz de Cristo.
A vós, queridos doentes, faço votos por que olheis para Jesus crucificado e ressuscitado, a fim de poderdes viver os sofrimentos sempre como acto de amor.

E vós, prezados jovens esposos, imitando a incessante fidelidade de Cristo para com a Igreja, sua Esposa, fazei da vossa existência um dom recíproco e jubiloso.





AUDIÊNCIA

Quarta-feira 12 de Abril de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs:


1. A leitura há pouco proclamada leva-nos às margens do Jordão. Detemo-nos hoje espiritualmente nas margens do rio que corre ao longo dos dois Testamentos bíblicos, para contemplarmos a grande epifania da Trindade, no dia em que Jesus se apresenta à ribalta da história, precisamente naquelas águas, a fim de iniciar o seu ministério público.

A arte cristã personificará este rio sob as semelhanças dum ancião, que assiste admirado à visão que se realiza no seu seio aquático. Nele, com efeito, como afirma a liturgia bizantina, "se lava o Sol Cristo". Esta mesma liturgia, no Ofício da manhã do dia da Teofania ou Epifania de Cristo, imagina um diálogo com o rio: "Jordão, o que viste para te perturbares de maneira tão forte? - Vi o Invisível despido e fui abalado por um tremor. De facto, como não tremer nem ceder diante d'Ele? Os anjos tremeram à sua vista, o céu enlouqueceu, a terra tremeu, o mar retornou atrás com todos os seres visíveis e invisíveis. Cristo apareceu no Jordão para santificar todas as águas".

2. A presença da Trindade naquele evento é afirmada de maneira límpida em todas as redacções evangélicas do episódio. Há pouco escutámos aquela mais ampla de Mateus, que introduz também um diálogo entre Jesus e o Baptista. No centro da cena emerge a figura de Cristo, o Messias que cumpre em plenitude toda a justiça (cf. Mt Mt 3,15). Ele é aquele que realiza inteiramente o projecto divino de salvação, fazendo-se humildemente solidário com os pecadores.

A sua humilhação voluntária obtém-Lhe uma elevação maravilhosa: sobre Ele ressoa a voz do Pai que o proclama "Meu Filho muito amado, no Qual pus toda a Minha complacência" (ibidem, v. 17). É uma frase que une em si dois aspectos do messianismo de Jesus, o davídico, através da evocação dum poema régio (cf. Sl Ps 2,7), e o profético, através da citação do primeiro cântico do Servo do Senhor (cf. Is Is 42,1). Tem-se, portanto, a revelação do íntimo vínculo de amor de Jesus com o Pai celeste, juntamente com a sua investidura messiânica diante da humanidade inteira.

3. Na cena irrompe também o Espírito Santo sob a forma de "pomba", que "desce e pousa" sobre Cristo. Pode-se recorrer a várias referências bíblicas para ilustrar esta imagem: à pomba que indica o fim do dilúvio e o surgir duma nova era (cf. Gn Gn 8,8-12 1P 3,20-21), à pomba do Cântico dos Cânticos, símbolo da mulher amada (cf. Ct 2,14 Ct 5,2 Ct 6,9); à pomba que é como um brasão para indicar Israel nalgumas passagens veterotestamentárias (cf. Os Os 7,11 Ps 68,14).
É significativo um antigo comentário judaico do texto do Génesis (cf. Gn 12), que descreve o esvoaçar do Espírito, com ternura materna, sobre as águas do início: "O Espírito de Deus pairava sobre a superfície das águas como uma pomba que esvoaça sobre os seus filhotes sem os tocar" (Talmude, Hagigah 15 a). O Espírito Santo desce sobre Jesus, como força de amor superabundante.

Precisamente ao referir-se ao Baptismo de Jesus, o Catecismo da Igreja Católica ensina: "O Espírito, que Jesus possui em plenitude desde a sua conceição vem repousar sobre Ele e Jesus será a fonte do mesmo Espírito para toda a humanidade" (CEC 536).

4. No Jordão, portanto, toda a Trindade está presente para revelar o seu mistério, autenticar e sustentar a missão de Cristo e para indicar que com Ele a história da salvação entra na sua fase central e definitiva. Ela abrange o tempo e o espaço, a vicissitude humana e a ordem cósmica, mas em primeiro lugar as três Pessoas divinas. O Pai confia ao Filho a missão de cumprir totalmente, no Espírito, a "justiça", isto é, a salvação divina.

Cromácio, Bispo de Aquileia, no século IV, numa sua homilia sobre o baptismo e o Espírito Santo, afirma: "Assim como a nossa primeira criação foi obra da Trindade, de igual modo a nossa segunda criação é obra da Trindade. O Pai nada faz sem o Filho e sem o Espírito Santo, porque a obra do Pai é também do Filho e a obra do Filho é também do Espírito Santo. Não há senão uma só e mesma graça da Trindade. Por conseguinte, somos salvos pela Trindade porque na origem fomos criados só pela Trindade" (Sermão 18 A).

5. Depois do baptismo de Cristo, o Jordão tornou-se também o rio do baptismo cristão: a água da fonte baptismal é, segundo uma tradição querida às Igrejas do Oriente, um Jordão em miniatura. Prova disto é a seguinte oração litúrgica: "Nós Vos pedimos, então, ó Senhor, que a acção purificadora da Trindade desça sobre as águas baptismais e lhes sejam dadas a graça da redenção e a bênção do Jordão no poder, na acção e na presença do Espírito Santo" (Solenes Vésperas da Sagrada Teofonia de Nosso Senhor Jesus Cristo, Bênção das águas).

Parece inspirar-se nessa semelhante ideia também São Paulino de Nola, nalguns versículos concebidos como legenda para o baptistério: "Esta fonte, geradora das almas necessitadas de salvação, desprende um rio vivo de luz divina. O Espírito Santo desce do céu sobre este rio e une as suas águas sagradas com a fonte celeste; a onda torna-se prenhe de Deus e, da eterna semente, gera uma santa progénie com as suas águas fecundas" (Carta 32, 5). Ao sair da água regeneradora da fonte baptismal, o cristão inicia o seu itinerário de vida e de testemunho.

Saudações

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, desejando-lhes muitas felicidades; e dou as boas-vindas a um grupo de visitantes de Portugal e a outro do Brasil, representado por antigos meninos de rua da Casa do Menor São Miguel Arcanjo do Rio de Janeiro, que quiseram vir a Roma para testemunhar a esperança cristã por uma vida melhor, mais digna e mais justa.

A todos, e aos demais participantes na Audiência, desejo uma Feliz Páscoa, com os votos de que o Ressuscitado infunda sempre em seus corações paz e amor.

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola; em especial, a Associação das Domésticas "Tiryus" de Valença, assim como a Irmandade do Refúgio e Piedade de Madrid, a Junta Pró-Semana Santa de Valhadolid, e todos os alunos dos diversos centros educativos presentes.

Ao meditar hoje sobre o baptismo de Jesus no Jordão, convido-vos a aprofundar no vosso próprio baptismo, por meio do qual iniciastes o vosso itinerário de vida e de testemunho cristão no mundo.

Saúdo agora todos os peregrinos belgas e holandeses, em particular os professores e alunos do Colégio Santa Catarina de Geraardsbergen, aqui presentes neste Ano Jubilar, por ocasião do 150° aniversário da fundação do Colégio.

A vossa peregrinação vos inspire a percorrer o caminho de renovação interior, o caminho de reconciliação com Deus e com os outros.

De coração concedo-vos a Bênção Apostólica.

Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo os peregrinos vindos da Lituânia. A vossa visita a Roma, cidade dos Apóstolos e dos mártires, vos ajude a preparar-vos para a Páscoa do Senhor já próxima, com nova coragem no caminho da fé. Este Ano Santo seja um ano de graça para vós, as vossas famílias e todos os compatriotas. Deus vos abençoe! Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo com afecto os peregrinos húngaros de Budapeste e de Ajka. De coração invoco a minha Bênção Apostólica sobre todos vós e os vossos entes queridos. Louvado seja Jesus Cristo!


Saúdo, agora, todos os peregrinos de língua italiana. Em particular, os Superiores e Alunos do Pontifício Seminário Inter-Regional da Campânia. Ao exprimir-vos, caríssimos, os votos por que a peregrinação a Roma fortaleça a vossa fé, asseguro-vos uma especial lembrança na oração, a fim de poderdes responder com generosidade ao chamado do Senhor.

Além disso, dirijo um pensamento afectuoso às crianças bielo-russas, hóspedes da Paróquia romana de Cristo Rei. O Senhor vos proteja, queridas crianças, e a quantos vos acolheram com generosidade.

Enfim, saúdo os Jovens, os Doentes e os jovens Casais.

A Quaresma encaminha-se rapidamente para a sua conclusão e nós já nos preparamos para celebrar o Domingo de Ramos, que abrirá os ritos da Semana Santa. Reviveremos no Tríduo Sagrado a paixão, morte e ressurreição de Cristo e contemplaremos o mistério central da nossa salvação.

Nele, vós, queridos jovens, encontrareis uma fonte de luz, de esperança e de entusiasmo; vós, amados doentes, um motivo de conforto, sentindo a proximidade do rosto sofredor do Salvador. A vós, prezados jovens esposos, desejo que aprofundeis o vosso encontro com Cristo morto e ressuscitado, para progredirdes com confiança no caminho que juntos empreendestes.

Com estes sentimentos, concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.




AUDIÊNCIA

Quarta-feira 19 de Abril de 2000




Queridos Irmãos e Irmãs,

1. O itinerário quaresmal, que iniciámos na Quarta-Feira de Cinzas, atinge o seu ápice nesta Semana oportunamente denominada "Santa". De facto, preparamo-nos para reviver nos próximos dias os eventos mais sagrados da nossa salvação: a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo.
Nestes dias a Cruz está diante de nós, como símbolo eloquente do amor de Deus pela humanidade. Ao mesmo tempo, ressoa na Liturgia a invocação do Redentor moribundo: "Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?" (Mt 27,46 Mc 15,34). Sentimos-lo muitas vezes como "nosso" este brado de sofrimento nas várias e penosas situações da existência, que podem causar íntimo desalento, gerar preocupações e incertezas. Nos momentos de solidão e desorientação, não raros na vida do homem, na alma do fiel pode brotar a exclamação: o Senhor abandonou-me!

Porém, a paixão de Cristo e a sua glorificação no lenho da Cruz oferecem uma diferente chave de leitura destes eventos. No Gólgota, no auge do sacrifício do seu Filho unigénito, o Pai não O abandona mas, antes, leva à plena realização o desígnio de salvação em favor da humanidade inteira. Na sua paixão, morte e ressurreição é-nos revelado que a última palavra na existência humana não é a morte, mas a vitória de Deus sobre a morte. O amor divino, manifestado em plenitude no mistério pascal, vence a morte e o pecado, que lhe é a causa (cf. Rm Rm 5,12).

2. Nestes dias da Semana Santa entramos no âmago do plano salvífico de Deus. De modo particular durante este Ano jubilar, a Igreja quer recordar a todos que Cristo morreu por todos os homens e mulheres, porque o dom da salvação é universal. A Igreja mostra o rosto de um Deus crucificado, que não suscita temor, mas comunica somente amor e misericórdia. Não é possível ficar indiferente diante do sacrifício de Cristo! Na alma de quem se detém a contemplar a paixão do Senhor brotam de forma espontânea sentimentos de profunda gratidão. Ao subirmos espiritualmente com Ele ao Calvário, chegamos a experimentar de algum modo a luz e a alegria que promanam da sua ressurreição.

Reviveremos isto, com a ajuda de Deus, no Tríduo pascal. Através da eloquência dos ritos da Semana Santa, a Liturgia mostrar-nos-á a inseparável continuidade existente entre a paixão e a ressurreição. A morte de Cristo já traz em si o germe da ressurreição.

3. Prelúdio do Tríduo pascal será a celebração da Santa Missa Crismal amanhã de manhã, Quinta-Feira Santa, que verá reunidos nas catedrais diocesanas os presbíteros à volta dos seus respectivos Pastores. Serão benzidos o Óleo dos enfermos e dos catecúmenos, e o Crisma, para a administração dos Sacramentos. Um rito denso de significado, acompanhado do gesto igualmente significativo da renovação dos compromissos e das promessas sacerdotais por parte dos presbíteros. É a jornada dos sacerdotes, que todos os anos nos leva, a nós ministros da Igreja, a redescobrir o valor e o sentido do nosso sacerdócio, dom e mistério de amor.

No final da tarde, reviveremos o memorial da instituição da Eucaristia, sacramento do amor infinito de Deus pela humanidade. Judas trai a Jesus; Pedro, apesar de todas as suas afirmações, renega-O; os outros apóstolos, no momento da paixão, desaparecem. Poucos permanecem ao seu lado. No entanto, é a estes homens frágeis que o Senhor confia o seu testamento, oferecendo-Se a Si mesmo no corpo dado e no sangue derramado para a vida do mundo (cf. Jo Jn 6,51). Incomensurável mistério de condescendência de bondade!

Na Sexta-Feira Santa ressoará o relato da Paixão e seremos convidados a venerar a Cruz, símbolo extraordinário da misericórdia divina. Ao homem, não poucas vezes incerto em distinguir o bem do mal, o Crucificado indica a única via que dá sentido à existência humana. É o caminho do total acolhimento da vontade de Deus e do generoso dom de si aos irmãos.

No Sábado Santo, numa jornada de grande silêncio litúrgico, deter-nos-emos a reflectir sobre o sentido destes eventos. A Igreja vigiará solícita com Maria, Mãe das Dores, e com Ela esperará a aurora da ressurreição. Com efeito, ao apresentar-se "o primeiro dia depois do sábado", o silêncio será rompido pelo jubiloso anúncio pascal, proclamado pelo festivo cântico do Exultet, durante a solene Liturgia da Vigília de Páscoa. O triunfo de Cristo sobre a morte virá abalar, com a pedra do sepulcro, os corações e as mentes dos fiéis e a inundá-los do mesmo júbilo provado por Madalena, pelas mulheres piedosas, pelos Apóstolos e por aqueles aos quais o Ressuscitado Se manifestou no dia de Páscoa.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, disponhamos o coração para vivermos intensamente este Tríduo Sagrado. Deixemo-nos invadir pela graça destes dias santos e, como já exortava o Santo Bispo Atanásio, "sigamos também nós o Senhor, isto é, imitemo-l'O, e assim encontraremos o modo de celebrar a festa não só exteriormente, mas da maneira mais efectiva, a saber, não só com as palavras, mas também com as obras" (Cartas pascais, Carta 14, 2).

Com estes sentimentos, desejo a todos vós e aos vossos entes queridos um profícuo Tríduo Sagrado e uma alegre Páscoa de ressurreição.

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, dou as boas-vindas a todos, nomeadamente aos grupos académicos do Porto e Coimbra.

Sede daqueles que param para contemplar a paixão de Cristo! No vosso coração, sentireis crescer uma profunda gratidão e um vivo desejo de partilhar a sua Cruz e de saborear a luz e a alegria que brotam da sua Ressurreição.

Com votos de feliz Páscoa a Páscoa dos ressuscitados em Cristo dou-vos a Bênção Apostólica, extensiva aos vossos entes queridos.

Desejo saudar os peregrinos de língua espanhola, em especial os grupos apostólicos e escolares vindos da Espanha, assim como os peregrinos de El Salvador, Venezuela e outros países latino-americanos. Ao convidar-vos a viver de maneira intensa estes dias da Semana Santa, desejo a todos uma feliz Páscoa de ressurreição. Muito obrigado!

Enfim saúdo todos vós, caros Jovens, queridos Doentes e prezados jovens Casais.
Amanhã entraremos no Tríduo Sagrado que comemora os mistérios centrais da salvação.
Disponde os vossos corações, caros jovens, para renovar a adesão a Cristo, que na Cruz se imola por nós.

Queridos doentes, encontrareis em Cristo crucificado e ressuscitado conforto e apoio no vosso sofrimento.

O mistério pascal oferecer-vos-á, prezados jovens esposos, um vigoroso estímulo a fazerdes da vossa existência um dom recíproco, aberto ao amor fecundo de bem.

Com estes sentimentos, concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.



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