AUDIÊNCIAS 2000 - AUDIÊNCIA



AUDIÊNCIA

Quarta-feira 21 de Junho de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs:


1. "Jesus Cristo, único Salvador do mundo Pão para a vida nova": este é o tema do 47º Congresso Eucarístico Internacional que, tendo iniciado no domingo passado, terminará no próximo domingo com a Statio Orbis na Praça de São Pedro.

O Congresso coloca a Eucaristia no centro do grande Jubileu da Encarnação e manifesta toda a sua profundidade espiritual, eclesial e missionária. Com efeito, é da Eucaristia que a Igreja e todo o crente haurem a força indispensável para anunciar a todos o Evangelho da salvação. A celebração da Eucaristia, sacramento da Páscoa do Senhor, é em si mesma um evento missionário, que introduz no mundo o germe fecundo da vida nova.

Esta característica missionária da Eucaristia é recordada de maneira explícita por São Paulo, na Carta aos Coríntios: "Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha" (1Co 11,26).

2. A Igreja retoma as palavras de São Paulo na doxologia após a consagração. A Eucaristia é sacramento "missionário" não só porque dela provém a graça da missão, mas também porque contém em si mesma o princípio e a fonte perene da salvação para todos os homens. A celebração do Sacrifício eucarístico é, portanto, o acto missionário mais eficaz que a Comunidade eclesial pode realizar na história do mundo.

Toda a Missa se conclui com o mandato missionário "ide", "Ite, Missa est", que convida os fiéis a levarem o anúncio do Senhor ressuscitado às famílias, aos ambientes do trabalho e da sociedade, ao mundo inteiro. Precisamente por isso, na Carta Dies Domini convidei os fiéis a imitarem o exemplo dos discípulos de Emaús que, depois de terem reconhecido Cristo ressuscitado "na fracção do Pão" (cf. Lc Lc 24,30-32), sentiram a exigência de ir imediatamente compartilhar com todos os irmãos a alegria do encontro com Ele (cf. n. 45). O "pão partido" abre a vida do cristão e da inteira comunidade à partilha e ao dom de si para a vida do mundo (cf. Jo Jn 6,51). É próprio da Eucaristia realizar aquele nexo inseparável entre comunhão e missão, que faz da Igreja o sacramento da unidade de todo o género humano (cf. Lumen gentium, LG 1).

3. Hoje é particularmente necessário que, da celebração da Eucaristia, toda a comunidade possa haurir a convicção interior e a força espiritual para sair de si mesma e se abrir a outras comunidades mais pobres e necessitadas de apoio no campo da evangelização e da cooperação missionária, favorecendo aquele fecundo intercâmbio de dons recíprocos que enriquece toda a Igreja.

Muito importante é também discernir, a partir da Eucaristia, as vocações e os ministérios missionários. A exemplo da primitiva comunidade de Antioquia, reunida "na celebração do culto do Senhor", toda a comunidade cristã é chamada a escutar o Espírito e a acolher os apelos, reservando para a missão universal as forças melhores dos seus filhos, enviados ao mundo com alegria e acompanhados pela oração e o apoio espiritual e material de que necessitam (cf. Act Ac 13,1-3).

A Eucaristia é, além disso, uma escola permanente de caridade, de justiça e de paz, para renovar em Cristo o mundo circunstante. Os crentes haurem da presença do Ressuscitado a coragem para serem agentes de solidariedade e de renovação, empenhados em mudar as estruturas de pecado em que os indivíduos, as comunidades e, às vezes, povos inteiros estão enredados (cf. Dies Domini, 73).

4. Nesta reflexão sobre o significado e o conteúdo missionário da Eucaristia não pode faltar, por fim, a referência àqueles singulares "missionários" e testemunhas da fé e do amor de Cristo, que são os mártires. As relíquias dos mártires, que desde a antiguidade são colocadas sob o altar, onde se celebra o memorial da "vítima imolada para a nossa reconciliação", constituem um claro sinal do vigor que promana do sacrifício de Cristo. Esta energia espiritual conduz todos os que se alimentam do corpo do Senhor a oferecerem a própria vida por Ele e pelos irmãos, mediante o dom total de si mesmos, até, se for necessário, à efusão do sangue.

Possa o Congresso Eucarístico Internacional, por intercessão de Maria, Mãe de Cristo imolado por nós, reavivar nos crentes a consciência do empenho missionário que promana da participação na Eucaristia. O "corpo entregue" e o "sangue derramado" (cf. Lc Lc 22,19-20) constituem o critério supremo a que eles devem e deverão sempre referir-se no seu doar-se pela salvação do mundo.

Saudações



Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente um grupo de visitantes de Portugal, com votos de paz e de prosperidade em vossas comunidades e famílias. Com penhor de abundantes dons divinos que sirvam de estímulo para a sua vida cristã, concedo benevolamente a minha Bênção Apostólica.

Queridos peregrinos de língua francesa, convido-vos a pôr a Eucaristia no centro da vossa existência cristã, para serdes, no seguimento de Cristo, testemunhas generosas do amor do Pai.
Abençoo-vos de todo o coração.

Dou as boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua inglesa, de modo especial aos da Inglaterra, Irlanda, Filipinas, Hong-Kong e Estados Unidos da América. Mediante o dom do Corpo e Sangue de Cristo, oxalá sejais renovados na fé, esperança e caridade, e de boa vontade assumais a tarefa de testemunhar o Evangelho na vossa vida diária.

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola, de modo especial os numerosos representantes da Federação Mundial da Adoração Nocturna, aos quais convido a renovar a sua devoção a Jesus Sacramentado durante o actual Congresso Eucarístico; saúdo também os membros da Associação Boliviana da Soberana Ordem de Malta, assim como os diversos grupos vindos da Espanha, México, El Salvador, Bolívia, Argentina e demais países latino-americanos.

Aos peregrinos de língua italiana dirijo a minha saudação cordial, em primeiro lugar aos numerosos catequistas, que celebram o seu Jubileu. Caríssimos, a catequese é uma estrutura fundamental da vida da Igreja: estai sempre conscientes disto e acompanhai o vosso precioso serviço com a oração e o testemunho da vida. Encorajo-vos e abençoo-vos com afecto.

Além disso, saúdo os representantes da Sociedade dos administradores dos aeroportos europeus; os sócios da União Nacional de Escritores; a Associação "Amigos da Úmbria"; os participantes no Congresso Geográfico Italiano e as delegadas ao encontro do Movimento italiano das donas de casa.

Dirijo depois um pensamento especial às crianças da Associação Emanuel "Escolhe a vida" e a quantos participam na Assembleia da Associação "Mundo Amigo", de Nápoles.
A minha saudação dirige-se agora aos Jovens, aos Doentes e aos jovens Casais. No domingo passado, festa da Santíssima Trindade, iniciámos o Congresso Eucarístico Internacional, que se concluirá no próximo domingo.

Caros jovens, hauri da Eucaristia a força para serdes testemunhas de Cristo. Queridos doentes, a comunhão com o Senhor Jesus seja para vós conforto na provação. E vós, prezados jovens esposos, fazei da Eucaristia o centro da vida conjugal, difundindo o amor de Deus, uno em três Pessoas.




AUDIÊNCIA

Quarta-feira 28 de Junho de 2000

Queridos Irmãos e Irmãs,


1. "Enquanto, na terra, a Igreja peregrina longe do Senhor, tem-se por exilada, buscando e saboreando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em Deus, até que apareça com seu esposo na glória" (LG 6). Estas palavras do Concilio Vaticano II delineiam o itinerário da Igreja que sabe não ter "aqui uma cidade permanente", mas que está "em busca da futura" (He 13,14), a Jerusalém celeste, "a cidade do Deus vivo" (ibid., 12, 22).

2. Tendo chegado àquela meta final da história, como Paulo nos anuncia, já não veremos "como por um espelho, de maneira confusa; mas então veremos face a face... Então, conhecerei exactamente, como também sou conhecido" (1Co 13,12). E João repete-nos que "quando (Deus) se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é" (1Jn 3,2).
Espera-nos portanto, para além da fronteira da história, a epifania luminosa e plena da Trindade.

Na nova criação Deus nos brindará com a comunhão perfeita e íntima com Ele, à qual o quarto Evangelho chama "a vida eterna", fonte de um "conhecimento" que na linguagem bíblica é precisamente comunhão de amor: "E a vida eterna consiste nisto: Que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste" (Jn 17,3).

3. A ressurreição de Cristo inaugura este horizonte de luz que já o Primeiro Testamento canta como reino de paz e de alegria, no qual "o Senhor Deus aniquilará a morte para sempre, enxugará as lágrimas de todas as faces" (Is 25,8). Então finalmente "misericórdia e verdade se encontrarão, justiça e paz se beijarão" (Ps 85,11). Porém são sobretudo as últimas páginas da Bíblia, isto é a gloriosa visão conclusiva do Apocalipse, que nos revelam a cidade que é meta última da nossa peregrinação, a Jerusalém celeste.

Lá encontraremos antes de tudo o Pai, "o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim" de toda a criação (Ap 21,6). Ele se manifestará em plenitude como o Emanuel, o Deus que habita com a humanidade, cancelando lágrimas e renovando todas as coisas (cf. Ap Ap 21,3-5). Mas no centro daquela cidade se erguerá também o Cordeiro, Cristo, a Quem a Igreja está unida com vínculo nupcial. D'Ele recebe a luz da glória, com Ele está intimamente unida não mais mediante um templo, mas de modo directo e total (cf. Ap Ap 21,9 Ap Ap 21,22 Ap Ap 21,23). O Espírito Santo impele-nos rumo àquela cidade. É Ele que sustenta o diálogo de amor dos eleitos com Cristo: "O Espírito e a Esposa dizem: "Vem!"" (Ap 22,17).

4. Para esta plena manifestação da glória da Trindade dirige-se o nosso olhar, indo para além do limite da nossa condição humana e do peso da miséria e da culpabilidade, que penetram o nosso existir terreno. Para este encontro, nós imploramos todos os dias a graça duma contínua purificação, conscientes de que na Jerusalém celeste "não entrará nada de impuro; nem os que se entregam à mentira e à abominação, mas unicamente aqueles que estão inscritos no Livro da vida do Cordeiro" (Ap 21,27). Como ensina o Concílio Vaticano II, a liturgia que celebramos no fluir dos nossos dias é como que uma "amostra" daquela luz, daquela contemplação, daquele amor perfeito: "Pela liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos, nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo" (SC 8).

Por isso, já agora nos dirigimos a Cristo para que, por meio do Espírito Santo, nos ajude a apresentar-nos puros diante do Pai. É quanto nos convida a fazer Simeão Metafraste numa oração que a liturgia das Igrejas do Oriente propõe aos fiéis: "Vós, que pela descida do Espírito consolador fizestes dos vossos discípulos santos vasos de honra, fazei de mim uma habitação digna da sua vinda. Vós, que deveis vir de novo para julgar o universo com toda a justiça, permiti também a mim que me apresente diante de Vós, meu Juiz e meu Criador, com todos os vossos santos, para Vos louvar e Vos cantar eternamente, com o vosso Pai eterno e com o vosso santíssimo, bom e vivificante Espírito, agora e sempre" (Orações para a comunhão).

5. Juntamente connosco também "a criação aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus... e nutre a esperança de ser, também ela, libertada da servidão da corrupção para participar, livremente, da glória dos filhos de Deus" (Rm 8,19-21). O Apocalipse anuncia-nos "um novo céu e uma nova terra", porque o primeiro céu e a primeira terra desaparecerão (cf. Ap Ap 21,1). E Pedro, na sua Segunda Carta, recorre a imagens apocalípticas tradicionais para reafirmar o mesmo conceito: "Os céus passarão com grande estrondo, os elementos abrasados dissolver-se-ão e a terra e todas as obras, que nela há, serão consumidas. Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos céus novos e uma nova terra, onde habita a justiça" (2P 3,12-13).

À espera da harmonia e do pleno louvor, toda a criação deve entoar desde agora, com o homem, um hino de alegria e de esperança. Façamo-lo também nós, com as palavras de um hino do século III, descoberto no Egipto: "Todas juntas, as maravilhosas criações de Deus não se calam, nem de manhã nem de noite! Nem sequer se calam os astros luminosos, nem as altas montanhas nem os abismos dos mares, nem as fontes dos rápidos rios, enquanto cantamos nos nossos hinos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Todos os anjos dos céus respondem: Amém! Amém! Amém!" (texto editado por A. Gastoné, em La Tribune de saint Gervais, Setembro-Outubro de 1922).

No final desta Audiência geral de quarta-feira, 28 de Junho, o Santo Padre ao referir-se às violências contra os cristãos na Índia e na Indonésia, assim se expressou:


Infelizmente não parece aplacar-se a onda de desordens de índole étnico-religiosa, que desde Janeiro de 1999 assola o arquipélago indonesiano das Moluscas. Os repetidos e sangrentos ataques armados de extremistas muçulmanos contra aldeias cristãs estão a provocar numerosíssimas vítimas e ruínas sem limites.

Notícias igualmente preocupantes chegam da Índia, onde ultimamente se registaram múltiplas agressões contra as comunidades cristãs e as outras minorias, "as mais graves - ressaltaram aqueles Bispos - desde a independência do País".

Renovo o meu premente apelo a fim de que cessem essas violências cruéis. Ouso esperar que, quantos as realizam ou as instigam, compreendam que não se pode matar nem destruir em nome da religião nem manipular a mesma segundo interesses próprios. Às autoridades peço que se esforcem com firmeza por fazer com que a situação melhore; a todos, que deponham o ódio e trabalhem de maneira incansável para o restabelecimento da harmonia religiosa, no respeito e no amor recíproco. A vós aqui presentes dirijo o convite a orardes com fé por estas intenções.



                                                                        Julho de 2000

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 5 de Julho de 2000




Caríssimos Irmãos e Irmãs:

1. Na Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo repropõe não sem assombro um oráculo do livro de Isaías (cf. 65, 1), no qual Deus chega a dizer pelos lábios do profeta: "Fui encontrado pelos que não Me procuravam; manifestei-Me àqueles que não perguntavam por Mim" (Rm 10,20). Pois bem, depois de termos contemplado nas catequeses precedentes a glória da Trindade, que se manifesta no cosmo e na história, queremos agora empreender um itinerário interior ao longo das estradas misteriosas, pelas quais Deus vai ao encontro do homem, para o tornar partícipe da sua vida e da sua glória. De facto, Deus ama a criatura plasmada à sua imagem e, como o pastor solícito da parábola há pouco escutada (cf. Lc Lc 15,4-7), não se cansa de a procurar, mesmo quando ela se mostra indiferente ou até incomodada pela luz divina, semelhante à ovelha que se separou do redil e se perdeu em lugares impérvios e repletos de perigos.

2. Seguido por Deus, o homem já percebe a sua presença, já é irradiado pela luz que está atrás de si, já se sente envolvido por aquela voz que o chama de longe. E assim, ele mesmo começa a procurar o Deus que o busca: procurado, põe-se a buscar; amado, começa a amar. Hoje, começamos a delinear este sugestivo entrelaçamento da iniciativa de Deus com a resposta do homem, descobrindo-o como componente fundamental da experiência religiosa. Na realidade, o eco dessa experiência é sentido também nalgumas vozes distantes do cristianismo, sinal do desejo da humanidade inteira de conhecer a Deus e de ser objecto da sua benevolência. Até mesmo um inimigo do Israel bíblico, o rei babilónico Nabucodonosor, que em 587-586 a.C. destruiu a cidade santa, Jerusalém, se dirigia à divindade com estes termos: "Sem Ti, Senhor, o que seria do rei que Tu amas e por nome chamaste? Como poderia ele ser bom diante dos teus olhos? Tu guias o seu nome, conduze-lo pelo caminho recto (...) Pela tua graça, ó Senhor, da qual tornas todos ricamente partícipes, faze com que a tua excelsa majestade seja misericordiosa e o temor da tua divindade venha habitar no meu coração. Dá-me aquilo que é bom para Ti, pois foste Tu que plasmaste a minha vida!" (cf. G. Pettinato, Babilonia, Milão 1994, pág. 182).

3. Também os nossos irmãos muçulmanos testemunham uma semelhante fé, repetindo muitas vezes no arco da sua existência quotidiana a invocação com que tem início o livro do Alcorão e que celebra precisamente a via pela qual Deus, "o Senhor da Criação, o Clemente, o Misericordioso", guia aqueles em quem efunde a sua graça.

Sobretudo a grande tradição bíblica impele o fiel a dirigir-se com frequência a Deus, para d'Ele obter a luz e a força necessárias para fazer o bem. Assim ora o Salmista no Salmo 119: "Instruí-me, Senhor, nos Vossos mandamentos e os guardarei com fidelidade. Ensinai-me a observar a Vossa lei; guardá-la-ei com todo o coração. Dirigi-me pela senda dos Vossos preceitos, porque neles me deleito... Desviai os meus olhos da vaidade, fazei-me viver nos Vossos caminhos" (vv. 33-35.37).

4. Na experiência religiosa universal, e de modo especial naquela transmitida pela Bíblia, encontramos portanto a consciência do primado de Deus, que se põe à procura do homem para o conduzir ao horizonte da sua luz e do seu mistério. No início há a Palavra que interrompe o silêncio do nada, o "agrado" de Deus (Lc 2,14) que jamais abandona a criatura a si mesma.

Certamente, este início absoluto não cancela a necessidade da acção humana, não elimina o empenho de uma resposta por parte do homem, que é solicitado a deixar-se alcançar por Deus e a abrir-Lhe a porta da sua vida. A este propósito, são estupendas as palavras que o Apocalipse põe nos lábios de Cristo: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele Comigo" (Ap 3,20). Se Cristo não se encaminhasse pelas estradas do mundo, nós permaneceríamos solitários no nosso pequeno horizonte. É preciso, porém, abrir-Lhe a porta, para O ter à nossa mesa, em comunhão de vida e de amor.

5. O itinerário do encontro entre Deus e o homem realizar-se-á sob a égide do amor. Por um lado, o amor divino-trinitário antecede-nos, envolve-nos, abre-nos constantemente o caminho que conduz à casa paterna. Ali o Pai espera-nos para nos dar o seu abraço, como na parábola evangélica do "filho pródigo", ou melhor, do "Pai misericordioso" (cf. Lc Lc 15,11-32). Por outro, é-nos pedido o amor fraterno como resposta ao amor de Deus: "Caríssimos adverte-nos, de facto, João na sua primeira Carta se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros (...) Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1Jn 4,11 1Jn 4,16). Do abraço do amor divino e humano florescem a salvação, a vida e a alegria eterna.

Neste clima de oração, saúdo quantos me escutam de língua portuguesa. Em particular, quero cumprimentar os portugueses da Paróquia de Penalva do Castelo, e um grupo de peregrinos vindos do Brasil. Grato pela vossa presença, desejo-vos todo o bem na paz de Cristo. Faço votos por que esta passagem por Roma vos confirme na fé e nos propósitos de vida e testemunho cristão. É o que imploro para todos, por intercessão da Virgem Santíssima, com a minha Bênção Apostólica.




AUDIÊNCIA

Quarta-feira 26 de Julho de 2000



Queridos Irmãos e Irmãs,

1. "Quem dera rasgasses o céu e descesses!". Não foi vã a grande invocação de Isaías (63, 19), que bem sintetiza a espera de Deus presente, antes de tudo, na história do Israel bíblico, mas também no coração de todo o homem. Deus Pai cruzou o limiar da sua transcendência: mediante o seu Filho, Jesus Cristo, pôs-se nos caminhos do homem e o seu Espírito de vida e de amor penetrou no coração das suas criaturas. Ele não nos deixa vaguear distante das suas veredas, nem deixa que o nosso coração se endureça para sempre (cf. Is Is 63,17). Em Cristo, Deus faz-se próximo de nós, sobretudo quando o nosso "rosto está triste" e então, ao calor da sua palavra, como aconteceu aos discípulos de Emaús, o nosso coração começa a arder (cf. Lc Lc 24,17 Lc Lc 24,32). A passagem de Deus, porém, é misteriosa e requer olhos puros para ser descoberta, e ouvidos disponíveis à escuta.

2. Nesta perspectiva, queremos hoje focalizar duas atitudes fundamentais a assumir em relação a Deus-Emanuel, que decidiu encontrar o homem quer no espaço e no tempo, quer no íntimo do seu coração. A primeira atitude é da espera, bem ilustrada no trecho do Evangelho de Marcos, que há pouco escutámos (cf. 13, 33-37). No original grego encontramos três imperativos que marcam o ritmo desta espera. O primeiro é: "Estai atentos", literalmente: "Olhai, cuidado!". "Atenção", como a própria palavra diz, significa tender, estar voltado para uma realidade com toda a alma. É o oposto da distracção, que infelizmente corresponde à nossa condição habitual, sobretudo numa sociedade frenética e superficial como a contemporânea. É difícil podermos estar fixos num objectivo, num valor, e perseguirmo-lo com fidelidade e coerência. Corremos o risco de fazer assim também com Deus que, ao encarnar, veio a nós para se tornar a estrela-guia da nossa existência.

3. Ao imperativo da atenção sucede o do "velar", que no original grego do Evangelho equivale a "permanecer acordado". É forte a tentação de nos deixarmos cair de novo no sono, envolvidos na espiral da noite tenebrosa, que na Bíblia é símbolo de culpa, de inércia, de rejeição da luz.

Compreende-se, portanto, a exortação do apóstolo Paulo: "Mas vós, irmãos, não viveis nas trevas (...) Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os outros. Estejamos acordados e sóbrios" (1Th 5,4-6). Só se nos libertarmos da obscura atracção das trevas e do mal é que conseguiremos encontrar o Pai da luz, no Qual "não há fases ou períodos de mudança" (Jc 1,17).

4. Há o terceiro imperativo, repetido duas vezes com o mesmo verbo grego: "Vigiai!". É o verbo da sentinela que deve estar alerta, enquanto espera com paciência o passar do tempo nocturno para ver despontar no horizonte a luz da aurora. O profeta Isaías representa de modo intenso e vivo esta longa espera, introduzindo um diálogo entre duas sentinelas, que se torna um símbolo do uso justo do tempo: ""Guarda, quanto falta para acabar a noite?". O guarda responde: "O amanhecer vai chegar, mas a outra noite também. Se quereis perguntar, perguntai. Voltai novamente"" (Is 21,11-12).

É preciso interrogar-se, voltar e ir ao encontro do Senhor. Os três apelos de Cristo: "Prestai atenção! Velai, vigiai!" resumem de modo límpido a expectativa cristã do encontro com o Senhor.

A espera deve ser paciente, como nos adverte São Tiago na sua Carta: "Irmãos, sede pacientes até à vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do Outono e da Primavera. Tende também vós paciência; fortalecei os corações, pois a vinda do Senhor está próxima" (5, 7-8). Para que uma espiga cresça e floresça há tempos que não podem ser forçados; para o nascimento duma criatura humana são necessários nove meses; para compor um livro ou uma música de valor muitas vezes é preciso empenhar anos em paciente pesquisa. Esta é também a lei do espírito. "Tudo aquilo que é frenético / logo passará", cantava um poeta (R. M. Rilke, Os sonetos a Orfeu). Para o encontro com o mistério requerem-se paciência, purificação interior, silêncio, espera.

5. Antes falámos de duas atitudes espirituais para descobrir Deus que vem até nós. A segunda depois da espera atenta e vigilante é da admiração, da maravilha. É necessário abrir os olhos para admirar a Deus que se esconde e, ao mesmo tempo, se mostra nas coisas e nos introduz nos espaços do mistério. A cultura tecnológica, e mais ainda a excessiva imersão nas realidades materiais, impedem-nos muitas vezes de captar o rosto escondido das coisas. Na realidade, todas as coisas, qualquer evento, para quem o sabe ler em profundidade, trazem uma mensagem que, em última análise, conduz a Deus. Os sinais reveladores da presença de Deus, portanto, são múltiplos.

Mas para não os deixarmos escapar, devemos ser puros e simples como crianças (cf. Mt Mt 18,3-4), capazes de admirar, ficar estupefactos, maravilhar-nos, encantar-nos com os gestos divinos de amor e de proximidade em relação a nós. Num certo sentido, pode-se aplicar ao tecido da vida quotidiana aquilo que o Concílio Vaticano II afirma acerca da realização do grande desígnio de Deus, mediante a revelação da sua Palavra: "Deus invisível, na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele" (Dei Verbum DV 2).

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, dou-vos as boas vindas a Roma, com votos de que vos seja possível fazer aquilo que aqui vos trouxe de tão longe: parar junto das memórias dos Apóstolos e dos Mártires, meditando sobre o fim glorioso do seu combate por Cristo, e receber deles a investidura do mesmo Espírito para idênticas batalhas em prol do triunfo do Evangelho no seio das nações. Sobre vós, vossa família e comunidade cristã, desça a minha Bênção Apostólica.



                                                                              Agosto de 2000

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 2 de Agosto de 2000




A escuta da Palavra e do Espírito na revelação cósmica

1. "Como são agradáveis todas as Suas obras, ainda que delas se veja apenas uma faísca... Por mais coisas que disséssemos, nunca teríamos acabado. Mas, para concluir, podemos dizer: "Ele é tudo"... Ele é o Grande, e está acima de todas as Suas obras" (Si 42,22 Si 43,27-28). Estas estupendas palavras do Sirácide resumem o canto de louvor que, em todas as épocas e sob todos os céus, se eleva ao Criador, que se revela através da imensidade e do esplendor das suas obras.

Embora de formas ainda imperfeitas, muitíssimas pessoas reconheceram na criação a presença do seu Artífice e Senhor. Um antigo rei e poeta egípcio, ao dirigir-se à sua divindade solar, exclamava: "Como são numerosas as tuas obras! Elas estão escondidas ao nosso rosto; tu, ó Deus único, fora do qual ninguém existe, criaste a terra segundo a tua vontade, quando estavas sozinho" (Hino a Aton, cf. J. B. Pritchard [ed.], Ancient Near Eastern Texts, Princeton 1969, PP 369-371). Alguns anos depois, também um filósofo grego celebra num hino admirável a divindade, que se manifesta na natureza e em particular no homem: "Nós somos da tua estirpe, e nós, os únicos dentre todos os seres animados que têm vida e movimento sobre a terra, temos a palavra como reflexo da tua mente" (Cleantes, Hino a Zeus vv. 4-5). O apóstolo Paulo recolherá esta elevação, citando-a no discurso no Areópago de Atenas (cf. Act Ac 17,28).

2. A escuta da palavra, que o Criador confiou às obras das suas mãos, é requerida também pelo fiel muçulmano: "Ó homens, adorai o vosso Senhor que vos criou, a vós e àqueles que existiram antes de vós, e temei a Deus, o qual para vós fez da terra um tapete e do céu um castelo, e fez descer do céu água, com a qual extraís da terra aqueles frutos que são o vosso alimento quotidiano" (Alcorão II, 21-22). A tradição hebraica, que floresceu no terreno fértil da Bíblia, descobrirá a presença pessoal de Deus em todos os rincões da criação: "Onde quer que eu vá, ali Tu estás! Onde quer que eu pare, Tu ali estás! Só Tu, ainda Tu, sempre Tu!... No céu, Tu, na terra, Tu, no alto Tu, em baixo Tu! Por onde quer que eu vá, em toda a parte admiro somente Tu, ainda Tu, sempre Tu!" (M. Buber, I racconti dei Chassidim, Milão 1979, pág. 276).

3. A Revelação bíblica insere-se nesta ampla experiência de sentido religioso e de oração da humanidade, pondo nela o selo divino. Ao comunicar-nos o mistério da Trindade, ela ajuda-nos a captar na própria criação não só o vestígio do Pai, fonte de todo o ser, mas também o do Filho e do Espírito. Para a inteira Trindade afinal dirige-se o olhar do cristão, quando com o Salmista contempla os céus: "Pela palavra do Senhor isto é, pelo seu Verbo eterno foram feitos os céus; pelo sopro da Sua boca isto é, pelo seu Espírito Santo todos os seus exércitos" (Ps 33,6). "Os céus", portanto, "narram a glória de Deus e a obra das suas mãos anuncia o firmamento. Um dia transmite ao outro a sua palavra; uma noite à outra noite dá a sua notícia. Não há ditos nem discursos de que não se perceba a voz; por toda a terra caminha o seu eco e até aos confins do universo, a sua palavra" (Ps 19,2-5).

É preciso ter o ouvido da alma livre de ruídos para perceber esta voz divina, que ressoa no universo. Ao lado da revelação propriamente dita, contida nas Sagradas Escrituras, há, portanto, uma manifestação divina no despontar do sol e no calar da noite. Também a natureza é, num certo sentido, o "livro de Deus".

4. Podemos perguntar-nos como é possível desenvolver, na experiência cristã, a contemplação da Trindade através da criação, ao perceber nela não só de maneira genérica o reflexo do único Deus, mas também o vestígio de cada uma das Pessoas divinas. Com efeito, se é verdade que "o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios da criação, mas um só princípio" (Concílio de Florença: DS 1331), contudo, é também verdade que "toda a Pessoa divina realiza a operação comum segundo a sua propriedade pessoal" (Catecismo da Igreja Católica CEC 258).

Quando então admirados contemplamos o céu na sua grandeza e beleza, devemos louvar a inteira Trindade, mas de modo especial o nosso pensamento dirige-se ao Pai, do Qual tudo provém, como plenitude fontal do próprio ser. Se depois nos detivermos na ordem que sustém o cosmos e admirarmos a sabedoria com que o Pai o criou, dotando-o de leis que regulam a sua existência, é espontâneo elevarmo-nos até ao Filho eterno, que a Escritura nos apresenta como Palavra (cf. Jo Jn 1,1-3) e Sabedoria divina (cf. 1Co 1,24 1Co 1,30). No admirável cântico que a Sabedoria entoa no livro dos Provérbios e que foi proposto no início deste nosso encontro, ela mostra-se "constituída desde a eternidade, desde o princípio" (Pr 8,24). A Sabedoria está presente no momento da criação "como arquitecto", pronta a pôr as suas delícias "entre os filhos do homem" (cf. ibid., vv. 30-31). Sob estes aspectos a tradição cristã viu nela o rosto de Cristo, "imagem do Deus invisível, o Primogénito de toda a criação... Tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas elas têm n'Ele a própria subsistência" (CL 1,15-17 cf. Jo Jn 1,3).

5. À luz da fé cristã, a criação evoca depois de modo particular o Espírito Santo no dinamismo que caracteriza as relações entre as coisas, no interior do macrocosmos e do microcosmos, e que se manifesta sobretudo lá onde a vida nasce e se desenvolve. Em virtude desta experiência, inclusivamente em culturas distantes do cristianismo se percebeu de algum modo a presença de Deus, como "espírito" que anima o mundo. Célebre, neste sentido, é a expressão virgiliana: "spiritus intus alit", "o espírito alimenta-se a partir de dentro" (Eneida, V, 726).

O cristão bem sabe que essa evocação do Espírito seria inaceitável se fosse referida a uma espécie de "anima mundi", entendida em sentido panteísta. Mas, excluindo este erro, é verdade que toda a forma de vida, de animação, de amor, remete em última análise àquele Espírito, do qual o Génesis diz que "pairava sobre as águas" (Gn 1,2) no alvorecer da criação e no qual os cristãos, à luz do Novo Testamento, reconhecem uma referência à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Com efeito, no seu conceito bíblico, a criação "comporta não só o chamamento à existência do próprio ser do cosmos, isto é, o dom da existência, mas comporta também a presença do Espírito de Deus na criação, ou seja, o início do comunicar-se salvífico de Deus às coisas que cria. Isto aplica-se, antes de mais, quanto ao homem, o qual foi criado à imagem e semelhança de Deus" (Dominum et vivificantem, DEV 12).

Diante do manifestar-se da revelação cósmica, anunciamos a obra de Deus com as palavras do Salmista: "Envias o Teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra" (Ps 104,30).

Saúdo os peregrinos aqui presentes de língua portuguesa, em particular os grupos de visitantes vindos de Portugal e do Brasil; desejo a todos felicidades, paz e graça no Senhor! Grato pela vossa presença, desejo-vos todo o bem; e que Roma vos confirme na fé e nos propósitos de vida e de testemunho cristão. É o que imploro para todos, por Nossa Senhora, com a Bênção Apostólica.

Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos, sobretudo os cooperadores da Obra de Santa Doroteia, vindos dos Camarões, do Burundi e do Congo democrático, orando para que a África inteira reencontre a paz. De todo o coração dou-vos a Bênção Apostólica.

Dou especiais boas-vindas à peregrinação ecuménica jubilar da Diocese de Portsmouth e ao numeroso grupo de peregrinos de Hong-Kong. Sobre todos os visitantes de língua inglesa, de modo especial aos da Inglaterra, de Gozo na Ilha de Malta e dos Estados Unidos da América, invoco as abundantes graças de Deus Todo-poderoso.

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola, e de modo especial os grupos vindos da Espanha, México, El Salvador e Chile. A todos desejo que a contemplação das maravilhas da criação e o seu recto uso os ajudem a descobrir a presença providente da Trindade.

Saúdo agora o grupo romeno de escuteiros de Piatra Neamt, da Diocese de Iasi (Roménia). Caríssimos, formulo votos de coraçao por que a peregrinaçao jubilar reavive o vosso empenho de testemunho evangélico na vossa Pátria. Com estes sentimentos, de bom grado abençoo-vos, a vós e rs vossas famílias.

Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo os peregrinos de língua italiana. Antes de tudo, os religiosos e as religiosas presentes, em particular os participantes nos Capítulos Gerais das Congregaçoes das Irmas Coleginas da Sagrada Família, das Missionárias Filhas do Calvário, das Irmas Dominicanas de Santa Catarina de Sena e das Irmas de Jesus Redentor. Ao invocar a bençao de Deus sobre as respectivas assembleias capitulares, faço votos de coraçao por que este nosso encontro sirva para todos de estímulo a seguirem o Evangelho com renovado entusiasmo, sustentados e iluminados sempre pela graça do Senhor.

Saúdo, depois, os fiéis da Diocese de Patti que, guiados pelo Bispo, o dilecto D. Ignazio Zambito, vieram para a sua peregrinaçao jubilar. Queridos Irmaos e Irmas, obrigado pela vossa visita. Esta paragem nos lugares sagrados da Cidade eterna seja rica de frutos espirituais e pastorais, para vós e para a inteira comunidade diocesana, r qual envio um afectuoso pensamento de bençaos e bons votos.

Dirijo-me por fim aos Jovens, aos Doentes e aos jovens Casais.

Caros jovens, usai o período de Verao, que é tempo de viagens, visitas culturais, peregrinaçoes, retiros espirituais e campos-escola ou trabalho, como preciosos momentos de crescimento humano e religioso.

Queridos doentes, o Senhor vos conceda conforto e alívio, neste período muitas vezes difícil para vós, e vos torne ainda mais conscientes da força salvífica do sofrimento.

E vós, prezados jovens esposos, aproveitai o Verao para viverdes intensamente a comunhao familiar, dedicando mais tempo r oraçao e r escuta recíproca.

A todos a minha Bençao.



AUDIÊNCIAS 2000 - AUDIÊNCIA