AUDIÊNCIAS 2000 - AUDIÊNCIA

Esta íntima comunhão de amor é decantada pelo poeta francês Paul Claudel, que põe nos lábios de Cristo estas palavras: "Vem comigo, onde Eu Estou, em ti mesmo, /e dar-te-ei a chave da existência. / Lá onde Eu Estou, lá eternamente /está o segredo da tua origem... / (...) Onde estão as tuas mãos, que não estejam as minhas? / E os teus pés, que não estejam pregados na mesma cruz? / Morri e ressuscitei uma vez por todas! Estamos muito próximos um do outro / (...) Como fazer para te separar de Mim / sem que tu Me dilaceres o coração?" (La Messe là-bas).

Saudações

As minhas boas-vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente ao grupo brasileiro de amigos da televisão "Rede Vida", guiado pelo presidente desta, D. Antônio Maria Mucciolo, Arcebispo Emérito de Botucatu.

O Céu multiplique e cubra de graças os vossos esforços para levar a todos a Boa Nova de Jesus Cristo; sobre vós e vossas famílias desça a minha Bênção.

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os membros da Família Dehoniana, reunidos para o primeiro Encontro Internacional, assim como os sacerdotes, os religiosos e os leigos pertencentes a Institutos intitulados à Sagrada Família; e a todos desejo um profícuo trabalho de reflexão e diálogo. Além disso, saúdo os membros do Comité de Infra-Estruturas da NATO, assim como os Oficiais e os Capelães italianos da Comissão para a Peregrinação Militar a Lourdes e o Comando do Regimento dos Carros Armados de Persano.

O meu pensamento dirige-se agora aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Nos próximos sábado e domingo realizar-se-á o Jubileu das Famílias. Caros jovens, valorizai estes vossos anos a fim de vos preparardes para formar uma autêntica família cristã. Queridos doentes, sabei fazer da vossa presença na vida familiar um dom, oferecendo ao Senhor os vossos sofrimentos, para o bem de todos. Prezados jovens casais, torne-se a vossa família, dia após dia, sempre mais igreja doméstica e célula viva da sociedade.


Apelo do Papa em prol da paz no Médio Oriente

Com grande angústia, estamos a seguir a grave tensão existente no Médio Oriente, mais uma vez conturbado por acontecimentos que causaram numerosas vítimas e nem sequer pouparam alguns lugares sagrados.

Diante dessa situação dramática, não posso deixar de exortar todos a porem fim, sem demora, a esta espiral de violência, enquanto convido todos os crentes a orarem a Deus a fim de que os povos e os responsáveis dessa região saibam retomar o caminho do diálogo, para reencontrar a alegria de se sentirem filhos de Deus, seu Pai comum.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 18 de Outubro de 2000




Queridos Irmãos e Irmãs,

1. "Tornamo-nos Cristo. Com efeito, se Ele é a cabeça e nós os seus membros, o homem total é Ele e nós" (Agostinho, Tractatus in Jn 21,8). Estas audaciosas palavras de Santo Agostinho exaltam a comunhão íntima que, no mistério da Igreja, se cria entre Deus e o homem, uma comunhão que, no nosso caminho histórico, encontra o seu sinal mais excelso na Eucaristia. Os imperativos: "Tomai e comei... Bebei dele..." (Mt 26,26-27) que Jesus dirige aos seus discípulos naquela sala no andar de cima de uma casa de Jerusalém, na última noite da sua vida terrena (cf. Mc Mc 14,15), são densos de significado. Já o valor simbólico universal do banquete, oferecido no pão e no vinho (cf. Is Is 25,6), remete para a comunhão e a intimidade. Elementos ulteriores mais explícitos exaltam a Eucaristia como convite de amizade e de aliança com Deus. Com efeito, ela como o Catecismo da Igreja Católica recorda é "ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrifical em que se perpetuam o sacrifício da Cruz e o banquete sagrado da comunhão do Corpo e Sangue do Senhor" (n. 1382).

2. Como no Antigo Testamento o santuário móvel do deserto se chamava "tenda da reunião", isto é, do encontro entre Deus e o seu povo e dos irmãos de fé entre si, a antiga tradição cristã chamou "sinapse", isto é, "reunião", à celebração eucarística. Nela "manifesta-se a natureza profunda da Igreja, comunidade dos convocados à sinapse para celebrar o dom d'Aquele que é oferente e oferta: eles, participando nos Santos Mistérios, tornam-se "consanguíneos" de Cristo, antecipando a experiência da divinização no laço, já inseparável, que em Cristo liga divindade e humanidade" (Orientale lumen, 10).

Se quisermos aprofundar o sentido genuíno deste mistério de comunhão entre Deus e os fiéis, devemos retornar às palavras de Jesus na última Ceia. Elas remetem para a categoria bíblica da "aliança", evocada precisamente através da conexão do sangue de Cristo com o sangue sacrifical derramado no Sinai: "Este é o Meu sangue, o sangue da aliança" (Mc 14,24). Moisés declarara: "Eis o sangue da aliança" (Ex 24,8). A aliança prenunciava a nova Aliança, da qual deriva para usar uma expressão dos Padres gregos como que uma consanguinidade entre Cristo e o fiel (cf. Cirilo de Alexandria, In Johannis Evangelium XI; João Crisóstomo, In Matthaeum hom. LXXXII, 5).

3. São sobretudo as teologias joanina e paulina que exaltam a comunhão do fiel com Cristo na Eucaristia. No discurso na sinagoga de Cafarnaum, Jesus diz explicitamente: "Eu sou o pão vivo, descido do céu. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente" (Jn 6,51). O inteiro texto daquele discurso tem em vista ressaltar a comunhão vital que se estabelece na fé, entre Cristo pão de vida e aquele que o come. Em particular, aparece o verbo grego do quarto evangelho para indicar a intimidade mística entre Cristo e o discípulo, ménein, "permanecer, ficar": "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue fica em Mim e Eu nele" (Jn 6,56 cf. Jn 15,4-9).

4. O vocábulo grego da "comunhão", koinonia, emerge depois na reflexão da primeira Carta aos Coríntios, onde Paulo fala dos banquetes sacrificais da idolatria, qualificando-os como "mesa dos demónios" (10, 1), e exprime um princípio válido para todos os sacrifícios: "Os que comem os sacrifícios são participantes do altar" (10, 18). Deste princípio o Apóstolo faz uma aplicação positiva e luminosa em relação à Eucaristia: "O cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão (koinonia) do corpo de Cristo? (...) Todos nós participamos do mesmo pão" (10, 16-17). "A participação na Eucaristia, sacramento da Nova Aliança, é o ápice da assimilação a Cristo, fonte de vida eterna, princípio e força do dom total de si" (Veritatis splendor, VS 21).

5. Esta comunhão com Cristo gera, portanto, uma íntima transformação do fiel. São Cirilo de Alexandria delineia de modo eficaz este evento, mostrando a sua ressonância na existência e na história: "Cristo forma-nos segundo a sua imagem, de maneira que os traços da sua natureza divina resplandeçam em nós através da santificação, da justiça e da vida boa e conforme às virtudes. A beleza desta imagem resplandece em nós que estamos em Cristo, quando nos mostramos homens bons nas obras" (Tractatus ad Tiberium Diaconum sociosque, II, Responsiones ad Tiberium Diaconum sociosque, em: In divi Johannis Evangelium, vol. III, Bruxelas 1965, pág. 590). "Ao participar no sacrifício da Cruz, o cristão comunga do amor de doação de Cristo, ficando habilitado e comprometido a viver esta mesma caridade em todas as suas atitudes e comportamentos de vida. Na vida moral, revela-se e actua-se ainda o serviço régio do cristão" (Veritatis splendor, VS 107). Esse serviço real tem a sua raiz no baptismo, e o seu florescimento, na comunhão eucarística. Por conseguinte, a via da santidade, do amor e da verdade é a revelação ao mundo da nossa intimidade divina, actuada no banquete da Eucaristia.

Deixemos que o nosso desejo da vida divina oferecida em Cristo se exprima com os acentos candentes de um grande teólogo da Igreja arménia, Gregório de Narek (séc. X): "Não é dos seus dons, mas do Dador que tenho sempre nostalgia. Não é a glória a que aspiro, mas é o Glorificado que quero abraçar... Não é o repouso que procuro, mas o rosto d'Aquele que dá o descanço que eu peço, suplicando. Não é pelo banquete nupcial, mas pelo desejo do Esposo que anelo" (XII Oração).

Acolho com alegria os numerosos peregrinos vindos hoje de algumas Dioceses italianas, guiados pelos respectivos Bispos: de Terni-Narni-Amélia, com D. Vincenzo Paglia; de Acqui, com D. Lívio Maritano; da Abadia Territorial da Santíssima Trindade de Cava de' Tirreni, com o Abade Benedetto Chianetta.

Caríssimos, viestes em grande número a esta Praça para viver, em comunhão com as vossas amadas Comunidades diocesanas, um singular momento de graça e de renovação interior. Esta vossa peregrinação jubilar é, de facto, uma ocasião privilegiada para aprofundar os vínculos de unidade com a Sé de Pedro, que "preside à caridade", e para prosseguir com maior vigor o anúncio do Evangelho.

De coração formulo votos por que o Jubileu vos fortaleça no empenho de serdes guia e fermento da inteira sociedade civil. Tende consciência das responsabilidades do momento histórico actual, no limiar do terceiro milénio cristão, que exorta os crentes a ajudar os homens e as mulheres do nosso tempo a redescobrirem as suas profundas raízes espirituais e culturais.

Caríssimos, formulo a todos vós os afectuosos votos de uma jubilosa e profícua celebração jubilar, que acompanho com uma especial Bênção Apostólica!

Saudações


Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha afectuosa saudação para todos os presentes; apraz-me mencionar o grupo paroquial de Alcains e os brasileiros de S. Paulo. Pisais terra santa, banhada pelo sangue dos mártires. Quiseram obrigá-los a deixar Cristo para salvar a vida, mas eles responderam que a sua vida era Cristo; e, certos disso, preferiram Cristo à própria vida. Possa a mesma certeza iluminar a vida de cada um de vós e dos vossos familiares, que de coração abençoo.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa, nomeadamente os fiéis da diocese de Clermont com o seu bispo, D. Simon, Auxiliares do Apostolado das dioceses de África, os membros da Ordre des Palmes académiques, os jovens suíços das paróquias de Lutry e Cully, alguns dos quais são neoconfirmados. O meu pensamento vai também para todas as famílias que foram provadas pela perda de um ente querido por causa das inundações de domingo passado. Aos feridos e aos socorredores, dirijo os meus melhores votos. A todos concedo a afectuosa Bênção apostólica.

Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola, especialmente os Sacerdotes de Valença que celebram as suas Bodas de Ouro de ordenação, assim como os outros grupos vindos de Espanha, México, Honduras, Peru, Chile e Argentina. Neste Ano jubilar animo-vos a todos a aprofundar a relação com Cristo, sempre presente na Eucaristia, fonte do compromisso para viver com o seu mesmo amor todas as atitudes e comportamentos da nossa existência.

Enquanto saúdo os peregrinos de língua italiana, o meu pensamento vai, antes de tudo, para as populações do Norte do País, atingidas pelas recentes inundações. Tenho presente, em particular, o Vale de Aosta, que me é tão querido, e a vasta zona do Piemonte, que sofreram graves prejuízos. Ao participar profundamente e em espírito convosco, asseguro uma sentida oração junto do altar do Senhor, de forma especial pelas vítimas e os seus familiares, por quantos perderam a casa e todos aqueles que sofrem devido a esta calamidade natural.

Estou contente por acolher o grupo de responsáveis da Comunidade de Santo Egídio e os participantes no Encontro internacional das famílias, promovido pelo Movimento dos Focolares.
Agora saúdo, juntamente com os vários grupos paroquiais, os fiéis Nigerianos residentes na Região das Marcas e na Romanha; a Associação Nacional das Mulheres Operadas aos Seios; o grande grupo da União Nacional das Armas dos Carabineiros, oriundo de Conversano, e a Fanfarra dos Alpinos, de Trento.

Além disso, saúdo o Círculo dos Remadores "Roma", os jovens "Alferes do Trabalho", a delegação do Município de Jelsi, que traz uma reprodução da Porta Santa de São Pedro feita com espigas de trigo, e os numerosos estudantes, especialmente os do Instituto do Sagrado Coração, de Turim, do Liceu "Santili" de Santa Elia Fiumerapido e da Escola Primária de Colleferro.

Dirijo-me agora aos Jovens, aos Doentes e aos novos Esposos, recordando que hoje é a festa litúrgica do Evangelista São Lucas. Caros jovens, São Lucas vos ajude a meditar todos os dias o Evangelho, para vos tornardes autênticos discípulos de Jesus; o Evangelista da misericórdia vos dê coragem, queridos doentes, para suportar com paciência todas as enfermidades humanas; e a vós, prezados novos esposos, São Lucas mostre sempre como modelo a Sagrada Família de Nazaré.








AUDIÊNCIA

Quarta-feira 25 de Outubro de 2000

A Eucaristia abre ao futuro de Deus

Caríssimos Irmãos e Irmãs:


1. "Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste" (SC 8 cf. GS GS 38).

Estas palavras tão límpidas e essenciais do Concílio Vaticano II apresentam-nos uma dimensão fundamental da Eucaristia: o seu ser "futurae gloriae pignus", penhor da glória futura, segundo uma bonita expressão da tradição cristã (cf. SC SC 47). "Este sacramento observa S. Tomás de Aquino não nos introduz imediatamente na glória mas dá-nos a força de chegar à glória e, por isso, é chamado "viático" (Summa Th. III, 79, 2, ad I). A comunhão com Cristo, que agora vivemos enquanto somos peregrinos a caminhar pelas estradas da história, antecipa o encontro supremo do dia em que "seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é" (1Jn 3,2). Elias, que a caminho no deserto se sentou, privado de forças, debaixo de um junípero e foi revigorado por um pão misterioso até atingir o cume do encontro com Deus (cf. 1R 19,1-8), é um tradicional símbolo do itinerário dos fiéis, que no pão eucarístico encontram a força para caminhar rumo à meta luminosa da cidade santa.

2. É este também o sentido profundo do maná preparado por Deus aos pés do Sinai, "alimento dos anjos" capaz de proporcionar todas as delícias e de satisfazer todos os gostos, manifestação da ternura de Deus para com os seus filhos (cf. Sb Sg 16,20-21). Será o próprio Cristo a fazer evidenciar este significado espiritual da vicissitude do Êxodo. É Ele que nos faz pregustar na Eucaristia o dúplice sabor de alimento do peregrino e de comida da plenitude messiânica na eternidade (cf. Is Is 25,6). Para permutar uma expressão dedicada à liturgia sabática hebraica, a Eucaristia é uma "amostra de eternidade no tempo" (A. J. Heschel). Assim como Cristo viveu na carne permanecendo na glória de Filho de Deus, assim também a Eucaristia é presença divina e transcendente, comunhão com o eterno, sinal da "compenetração da cidade terrena com a celeste" (GS 40). A Eucaristia, memorial da Páscoa de Cristo, é por sua natureza portadora do eterno e do infinito à história humana.

3. Este aspecto que abre a Eucaristia para o futuro de Deus, embora a deixe ancorada na realidade presente, é ilustrado pelas palavras que Jesus pronuncia sobre o cálice do vinho na Última Ceia (cf. Lc Lc 22,20 1Co 11,25). Marcos e Mateus evocam naquelas mesmas palavras a aliança no sangue dos sacrifícios do Sinai (cf. Mc Mc 14,24 Mt 26,28 Ex 24,8). Lucas e Paulo, ao contrário, revelam o cumprimento da "nova aliança" anunciada pelo profeta Jeremias: "Dias virão oráculo do Senhor em que firmarei nova Aliança com as casas de Israel e de Judá. Porém, será diferente da que concluí com os seus pais" (31, 31-32). Com efeito, Jesus declara: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue". "Novo", na linguagem bíblica, indica normalmente progresso, perfeição definitiva.

Sempre Lucas e Paulo evidenciam que a Eucaristia é antecipação do horizonte de luz gloriosa própria do reino de Deus. Antes da Última Ceia, Jesus declara: "Tenho ardentemente desejado comer convosco esta páscoa, antes de padecer, pois digo-vos que já não a comerei até ela ter pleno cumprimento no reino de Deus. Tomando uma taça, deu graças e disse: "Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira até chegar o reino de Deus"" (Lc 22,15-18). Também Paulo recorda de maneira explícita que a ceia eucarística está voltada para a última vinda do Senhor: "Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" (1Co 11,26).

4. O quarto evangelista, João, exalta esta tensão da Eucaristia para a plenitude do reino de Deus, dentro do célebre discurso sobre o "pão da vida" que Jesus pronunciou na sinagoga de Cafarnaum. O símbolo por Ele usado como ponto de referência bíblico é, como já foi acenado, o do maná oferecido por Deus a Israel peregrino no deserto. A propósito da Eucaristia, Jesus afirma solenemente: "Se alguém comer deste pão viverá eternamente (...). Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia (...). Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; o que come deste pão viverá eternamente" (Jn 6,51 Jn 6,54 Jn 6,58). A "vida eterna", na linguagem do quarto evangelho, é a mesma vida divina que ultrapassa as fronteiras do tempo. A Eucaristia, sendo comunhão com Cristo, é portanto participação na vida de Deus, que é eterna e vence a morte. Por isso Jesus declara: "A vontade d'Aquele que Me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele Me deu, mas que Eu os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de Meu Pai: que todo o homem que vê o Filho e n'Ele acredita tenha a vida eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia" (Jn 6,39-40).

5. Nesta luz como dizia sugestivamente um teólogo russo, Sergej Bulgakov "a liturgia é o céu na terra". Por esta razão, na Carta Apostólica Dies Domini, repetindo as palavras de Paulo VI, exortei os cristãos a não negligenciarem "este encontro, este banquete que Cristo nos prepara no seu amor. Que a participação em tal celebração seja, ao mesmo tempo, digna e festiva. É Cristo, crucificado e glorificado, que passa entre os seus discípulos para conduzi-los todos juntos, consigo, na renovação da sua Ressurreição. É o ápice, aqui neste mundo, da Aliança de amor entre Deus o seu povo: sinal e fonte de alegria cristã, preparação para a Festa eterna" (n. 58; cf. Gaudete in Domino, conclusão).

Saudações

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente os brasileiros da Basílica de Nossa Senhora do Carmo de Campinas, junto a um numeroso grupo de visitantes, e os portugueses da Paróquia de Amadora, com os votos de que esta passagem por Roma para ganhar o Jubileu, sirva de estímulo para a nova vida em Cristo e para testemunhar a esperança de que são depositários pela fé no Redentor dos homens. Que a Virgem Maria vos acompanhe sempre e proteja os vossos lares, com a minha Bênção Apostólica. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Estou feliz por acolher os peregrinos de língua francesa aqui presentes nesta manhã. Saúdo em particular os Irmãos Maristas, os membros da Associação França-Itália, assim como as pessoas idosas de Martinica. Desejo que a vossa peregrinação jubilar vos ajude a crescer no conhecimento de Cristo e a viver na fidelidade ao seu Evangelho. Concedo-vos a todos com um coração magnânimo a Bênção Apostólica.

Desejo saudar os fiéis de língua espanhola, em particular as Irmãs Missionárias Catequistas de Cristo Rei, da Argentina. Saúdo igualmente os fiéis da diocese espanhola de Santander, assim como os grupos paroquiais vindos da Espanha, México, República Dominicana e os peregrinos de outros países latino-americanos. Que a vossa participação na Eucaristia seja muito digna e festiva, porque é a antecipação da ressurreição futura. Obrigado!

Saúdo cordialmente os fiéis húngaros, especialmente o grupo de Somlóvásárhely e Velence. A minha Bênção Apostólica vos acompanhe durante a vossa peregrinação.
Seja louvado Jesus Cristo.

Caros Irmãos e Irmãs lituanos
Com alegria saúdo os membros do coro da Faculdade das Artes de Klaipéda, aqui presentes. Tenho-vos a todos no coração e na minha oração e desejo-vos que Cristo, neste Ano Santo, se torne ainda mais profundamente presente no vosso estudo e na vossa criatividade artística.
Com afecto vos abençoo a todos.

Saúdo cordialmente os fiéis croatas aqui presentes, provenientes da sua Pátria e do estrangeiro, em particular os participantes na peregrinação jubilar da Diocese de Hvar acompanhados pelo seu Bispo, D. Slobodan Stambuk. Sede bem-vindos!

Caríssimos, na celebração do Ano Santo em curso, ressoa um premente convite a ter confiança na misericórdia do Pai, à luz do mistério que nos une a Seu Filho, Jesus Cristo. Tal confiança enche os corações humanos de esperança, da qual o cristão deve ser mensageiro. Dou-vos, de todo o coração, a Bênção Apostólica. Sejam louvados Jesus e Maria!

Saúdo com afecto as peregrinações diocesanas provenientes de Treviso, Altamura-Gravina-Acquaviva das Fontes e Cuneo-Fossano, guiadas respectivamente pelos Bispos, D. Paulo Magnani, D. Mário Paciello e D. Natalino Pescarolo.

Caros Irmãos e Irmãs, sede bem-vindos! Saúdo-vos e agradeço-vos a todos a vossa grata visita. Desejo de todo o coração que a vossa paragem junto do túmulo dos Apóstolos traga frutos espirituais e pastorais, para benefício das vossas Comunidades diocesanas, às quais envio um benévolo e afectuoso pensamento.

Domingo passado celebrámos o Dia Missionário Mundial. Tal acontecimento chama todos os baptizados ao seu empenho para serem anunciadores da Mensagem de salvação trazida pelo Senhor.

Possam o Jubileu e a recente celebração consolidar-vos na fé no Redentor e levar-vos a ser sempre autênticas e credíveis testemunhas do Evangelho nas vossas famílias e na sociedade.
Saúdo, agora, os numerosos peregrinos de língua italiana. Em particular dirijo um pensamento cordial aos organizadores e aos participantes na Jornada Jubilar do "Pizzaiolo". Caríssimos, enquanto vos agradeço a vossa participação tão numerosa, asseguro-vos a minha oração pelas vossas famílias e pela vossa característica actividade profissional tão apreciada.

Saúdo, depois, os participantes no Fórum promovido em Florença pela Associação Internacional dos Lions Club, os membros da Academia da Guarda de Finanças e o Sindicato Autónomo de Trabalhadores Financiários. Do coração invoco sobre todos a constante protecção do Senhor.
Agora, saúdo-vos a vós, caros jovens, queridos doentes e estimados novos esposos.

No próximo sábado, 28 de Outubro, ocorre o 42º aniversário da eleição para a Cátedra de Pedro do meu venerado Predecessor João XXIII, que recentenmente tive a alegria de proclamar Beato. Ele permaneceu na história como o Papa da bondade, o "Papa bom".

Que a sua memória vos ajude, caros jovens a ser testemunhas corajosas de Cristo no compromisso de cada dia; vos sustente, queridos doentes, no confiante acolhimento da vontade de Deus; seja para vós, estimados novos esposos, encorajamento constante para construir uma família acolhedora e aberta ao dom da vida.



                                                                             Novembro de 2000

AUDIÊNCIA

Quarta-feira 8 de Novembro de 2000

A Eucaristia, sacramento de unidade

Caríssimos Irmãos e Irmãs:


1. "Sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade!". A exclamação de Santo Agostinho no seu comentário ao Evangelho de João (In Johannis Evangelium 26, 13) reúne idealmente e sintetiza as palavras que Paulo dirigiu aos Coríntios e que há pouco escutámos: "E como há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois, participamos todos desse único pão" (1Co 10,17). A Eucaristia é o sacramento e a fonte da unidade eclesial. E isto foi reafirmado desde as origens da tradição cristã, baseando-se precisamente no sinal do pão e do vinho. Assim, na Didaqué, um escrito composto nos primórdios do cristianismo, afirma-se: "Da mesma forma que este pão partido se tinha dispersado pelos montes e, recolhido, se tornou uma só realidade, de igual modo se congregue no teu reino a tua Igreja, desde os confins da terra" (9, 1).

2. São Cipriano, Bispo de Cartago, fazendo eco no século III a estas palavras, afirma: "Os próprios sacrifícios do Senhor põem em evidência a unanimidade dos cristãos, confirmada com sólida e indivisível caridade. Pois, quando o Senhor chama ao seu corpo o pão composto pela união de muitos grãos, indica o nosso povo reunido, que Ele sustenta; e quando chama ao seu sangue o vinho espremido de muitos cachos e bagos e depois fundido, indica de modo semelhante o nosso rebanho composto de uma multidão unida num só conjunto" ( Magnum 6). Este simbolismo eucarístico em relação à unidade da Igreja volta com frequência nos Padres e nos teólogos da escolástica. "O Concílio de Trento resumiu esta doutrina, ensinando que o nosso Salvador deixou a Eucaristia à sua Igreja "como símbolo da unidade desta e da caridade que Ele quis que unisse intimamente todos os cristãos uns aos outros", "mais ainda, como símbolo daquele único corpo, de que Ele é a Cabeça"" (Paulo VI, Mysterium fidei: Ench. Vat., 2, 424; cf. Conc. Trid., Decr. de SS. Eucharistia, proémio e c. 2). O Catecismo da Igreja Católica sintetiza com eficácia: "Os que recebem a Eucaristia são mais intimamente unidos a Cristo. Por ela, Cristo une todos os fiéis num único Corpo: a Igreja" (n. 1396).

3. Esta doutrina tradicional está fortemente arraigada na Escritura. Paulo, no trecho já citado da Primeira Carta aos Coríntios, desenvolveu-a partindo de um tema fundamental, o da koinonia, isto é, da comunhão que se instaura entre o fiel e Cristo na Eucaristia. "O cálice da bênção que abençoamos não é comunhão (koinonia) com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão (koinonia) com o corpo de Cristo?" (10, 16). Esta comunhão é descrita com mais clareza, no evangelho de João, como uma relação extraordinária de "interioridade recíproca": "Ele em mim e eu n'Ele". De facto, Jesus declara na sinagoga de Cafarnaum: "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue vive em Mim e Eu nele" (Jn 6,56).

É um tema que será sublinhado também nos discursos da Última Ceia mediante o símbolo da videira: o ramo só é verdejante e frutífero se estiver enxertado no tronco da videira, da qual recebe linfa e sustento (cf. Jo Jn 15,1-7). Doutra forma, é só um ramo seco e destinado ao fogo: aut vitis aut ignis, "ou a videira ou o fogo", comenta de modo lapidar Santo Agostinho (In Johannis Evangelium 81, 3). Delineia-se aqui uma unidade, uma comunhão, que se realiza entre o fiel e Cristo presente na Eucaristia, tendo como base o princípio que Paulo formula desta maneira: "Os que comem as vítimas sacrificadas, não estão em comunhão com o altar?" (1Co 10,18).

4. Esta comunhão-koinonia de tipo "vertical", porque nos une ao mistério divino, gera ao mesmo tempo uma comunhão-koinonia que podemos definir "horizontal", ou seja, eclesial, fraterna, capaz de unir num vínculo de amor todos os participantes da mesma mesa. "Embora muitos, somos um só corpo recorda-nos Paulo pois participamos todos desse único pão" (1Co 10,17). O discurso sobre a Eucaristia antecipa a grande reflexão eclesial que o Apóstolo desenvolverá no capítulo 12 da mesma Carta, quando falará do Corpo de Cristo na sua unidade e multiplicidade. Também a célebre descrição da Igreja de Jerusalém, oferecida por Lucas nos Actos dos Apóstolos, delineia esta unidade fraterna ou koinonia, pondo-a em conexão com a fracção do pão, isto é, com a celebração eucarística (cf. Act Ac 2,42). É uma comunhão que se realiza a nível concreto da história: "Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações (...) Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas" (Ac 2,42-44).

5. Renega-se por isso o significado profundo da Eucaristia, quando ela é celebrada sem ter em consideração as exigências da caridade e da comunhão. Paulo é severo com os Coríntios porque, quando se reúnem, "o que fazem não é comer a Ceia do Senhor" (1Co 11,20), por causa das divisões, das injustiças, dos egoísmos. Nesse caso, a Eucaristia já não é ágape, ou seja, expressão e fonte de amor. E quem participa de modo indigno, sem fazer com que ela se transforme em caridade fraterna, "come e bebe a própria condenação" (Ibid., v. 29). "Se é verdade que a vida cristã se exprime no cumprimento do maior mandamento, ou seja, no amor de Deus e do próximo, este amor tem a sua fonte exactamente no Santíssimo Sacramento, que comummente é chamado Sacramento do Amor" (Dominicae coenae, 5). A Eucaristia recorda, torna presente e gera esta caridade.

Acolhamos, então, o apelo do Bispo e mártir Inácio que exortava à unidade os fiéis de Filadélfia, na Ásia Menor: "Uma só é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo, um só é o cálice na unidade do seu sangue, um só é o altar, assim como um só é o Bispo" ( Philadelphenses 4). E com a liturgia oremos a Deus Pai: "Concedei-nos, com o Corpo e o Sangue do vosso Filho, ser repletos do Espírito Santo e tornar-nos em Cristo um só corpo e um só espírito" (Oração Eucarística III).

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Saúdo os peregrinos e visitantes de língua portuguesa. Em particular, saúdo os dirigentes e jogadores do Boavista Futebol Clube, de Portugal, e o grupo de brasileiros da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, de Juazeiro do Norte; as Irmãs de Santa Catarina da Província de Novo Hamburgo e um Coral de Brasília. Sede bem-vindos! Peço a Deus por vossas famílias e invoco a protecção de Maria Santíssima para que vos guie no caminho da unidade e da paz. E a todos vós concedo de coração a minha Bênção Apostólica.

Saúdo calorosamente o grupo do Santuário de Nossa Senhora de Walsingham, na Inglaterra, e os membros da peregrinação internacional Caminho para Roma. Saúdo também os peregrinos dos Estados Unidos, da Diocese de Hartford, guiados pelo Arcebispo D. Cronin; os das Dioceses de Youngstown, com o seu Bispo D. Tobin; de Knoxville e o seu Bispo D. Kurtz; de Joliet e o seu Bispo D. Kaffer. Sobre todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa, especialmente da Inglaterra, Tailândia, Japão, Malavi, Canadá e Estados Unidos da América, invoco a alegria e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.

Dou as cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua espanhola, em particular aos grupos procedentes de Espanha, México, Porto Rico, Guatemala, Argentina e outros países latino-americanos. Convido-vos a renovar a fé e a receber com alegria a misericórdia de Deus nesta visita jubilar a Roma. Tornai as vossas famílias e comunidades paroquiais participantes da experiência jubilar, levando-lhes também a afectuosa saudação e a bênção do Papa. Obrigado.

Saúdo afectuosamente as peregrinações diocesanas provenientes de Asti e Otranto, acompanhadas dos respectivos Pastores, D. Francisco Ravinale e D. Donato Negro. Caríssimos Irmãos e Irmãs, sede bem-vindos e obrigado pela vossa visita! Desejo de todo o coração que a celebração jubilar e o contacto com a sagrada memória dos Apóstolos Pedro e Paulo vos reforcem na adesão a Cristo. Desejo, além disso, que a vossa peregrinação traga abundantes frutos espirituais e pastorais em benefício das vossas famílias e da Comunidade diocesana, às quais de boa vontade dirijo um pensamento de afecto e de bênção.

Saúdo agora os demais peregrinos de língua italiana. Em particular, dirijo um pensamento cordial aos missionários das diversas Congregações e Dioceses que participam no curso promovido pela Pontifícia Universidade Salesiana. Saúdo ainda os participantes no encontro dos párocos franciscanos. Para cada um invoco a contínua assistência do Senhor, a fim de que as iniciativas que estais a seguir vos reavivem no empenho generoso de fidelidade ao Evangelho.

Saúdo, além disso, as numerosas paróquias presentes e, de modo especial, as dos Santos Anjos da Guarda, em Riccione, Santíssima Anunciada, de Arzano, São Pancrácio, nos Jardins Naxos. Saúdo os organizadores e participantes no Concurso "O Voluntário na relva", promovido pelo Centro de Estudos meridionais de Giovinazzo, os administradores municipais e os habitantes de São Martinho Valle Caudina, a Federação Italiana de Agentes Imobiliários Profissionais, os alunos do Instituto Técnico Comercial "Michele Amari" de Ciampino e "Spataro" de Gissi, como também a Associação das pessoas que receberam transplantes de Órgãos, provenientes das Marcas e da Lombardia. Sobre todos vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, e as vossas famílias, invoco de todo o coração a constante protecção do Senhor.

Enfim, dirijo a minha saudação aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

O mês de Novembro, dedicado à memória e à oração pelos defuntos, oferece-nos a oportunidade de considerar mais em profundidade o significado da existência terrena e o valor da vida eterna.

Caros jovens, estes dias sejam para vós um estímulo para compreender que a vida tem valor se for despendida para amar a Deus e ao próximo; sejam para vós, queridos doentes, um convite a unir de modo cada vez mais profundo as vossas dores ao mistério pascal do Senhor; e constituam para vós, amados novos casais, uma ocasião propícia para receber daqueles que vos precederam a preciosa herança da fé cristã.



AUDIÊNCIAS 2000 - AUDIÊNCIA