Discursos João Paulo II 2000 42

42 4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, daqui a algumas semanas, se Deus quiser, também eu terei a graça de visitar o Santo Sepulcro. Poderei assim deter-me em oração no lugar em que Cristo ofereceu a sua vida e a retomou na ressurreição, fazendo-nos dom do seu Espírito.

Caríssimos Cavaleiros, Damas e Eclesiásticos da Ordem, para esta viagem conto também com a vossa oração, pela qual vos exprimo desde agora o meu reconhecimento. Confio-vos todos à protecção materna da Virgem Rainha da Palestina. Ela vos ampare na especial tarefa "de assistir a Igreja na Terra Santa e de revigorar nos membros a prática da vida cristã" (Directrizes, cit., n. 3).

A Sagrada Família vos proteja, a vós e às vossas famílias. Refulja no coração de cada um de vós a consoladora certeza de que Cristo morreu por nós e verdadeiramente ressuscitou. Ele está vivo: ontem, hoje e sempre.

Com estes sentimentos, de bom grado concedo a cada um de vós uma especial Bênção Apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DE UM GRUPO DE FIÉIS


DA DIOCESE DE PÁDUA, ITÁLIA


Sexta-feira, 3 de Março de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs
da Diocese de Pádua!

1. Saúdo-vos cordialmente e sinto-me feliz em dar-vos as boas-vindas. Sede bem-vindos a Roma e a São Pedro! O tempo providencial do Jubileu trouxe-vos como peregrinos à Cidade de Roma, para confirmar a vossa fé em Cristo e reafirmar o vosso empenho em viver de acordo com o espírito do Evangelho. A vossa numerosa presença confirma os estreitos e ininterruptos vínculos de comunhão e de afecto que unem a vossa Igreja ao Sucessor de Pedro. De facto, segundo uma pia tradição, São Prosdócimo, primeiro Bispo de Pádua, foi enviado pelo apóstolo Pedro a anunciar em terras paduanas a Boa Nova. Desde então a vossa Igreja nunca esqueceu esta sua ligação originária com a Sé Apostólica.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, ao estimado e zeloso Mons. António Mattiazzo, que ocupa a Cátedra da qual ensinaram com grande sabedoria tantos ilustres predecessores seus.

Ao agradecer-lhe os sentimentos manifestados também em vosso nome, desejo saudar todos vós, fiéis duma Igreja rica de santos e de mártires, de antigas e nobres tradições, de vocações sacerdotais e religiosas, de generosas instituições. Saúdo os sacerdotes, os jovens do Seminário Maior, que vieram aqui com o Reitor e os Professores, e os peregrinos brasileiros, juntamente com o presbítero paduano fidei donum, que opera na sua diocese de Itaguaí.

Depois, é com prazer que dirijo uma saudação fraterna ao Arcebispo ortodoxo de Kherson, Ionafhan, Secretário do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Ucraniana, e ao representante da Sede Metropolitana romena de Craiova, que participam neste encontro.

43 2. Estamos a viver o ano do Grande Jubileu, que oferece aos fiéis a possibilidade de haurir abundantemente do tesouro de graça e de misericórdia confiado por Deus à Igreja. O Senhor pede, a quantos desejam uma corajosa renovação interior, que se aproximem dele confiantes: "Se alguém tem sede, venha a Mim... Do seu seio jorrarão rios de água viva" (Jn 7,37-38). Ele pede a cada um de nós uma mudança de mentalidade e de estilo de vida, para seguir "o Cordeiro por onde quer que Ele vá" (Ap 14,4) e, desta forma, enfrentar as vicissitudes quotidianas de acordo com a lógica do Evangelho.

Seguir Cristo com amor generoso exige um crescimento interior intenso e constante. Para esta finalidade, é preciso cultivar com assiduidade a oração, participar todas as vezes que for possível na Eucaristia e no sacramento da Penitência, praticar as virtudes evangélicas, sobretudo a caridade.

A grande tradição de santidade da Igreja de Pádua oferece numerosos exemplos de testemunhas da fé que transmitiram ao Povo de Deus o profundo sentido de uma relação pessoal com Cristo e com o seu Corpo, que é a Igreja. Não se pode deixar de recordar os santos Justina, Daniel, Máximo, Bellino e Fidenzio, os beatos Eustóquio e Jordano Forzatè, ou a maravilhosa figura de São Gregório Barbarigo, citando apenas alguns. É com prazer que, entre eles, menciono Santo António de Pádua e São Leopoldo Mandic que, apesar de não terem nascido na vossa terra, anunciaram nela a Palavra de Deus e administraram a misericórdia divina no Sacramento da reconciliação com grande zelo e evidentes frutos apostólicos. Eis a glória da vossa Diocese. Sabei haurir continuamente dos exemplos e ensinamentos deles o entusiasmo e a coragem para aderir da maneira mais orgânica e perfeita a Cristo. Desta forma estareis preparados para enfrentar com confiança e esperança as dificuldades do nosso tempo e os desafios da nova evangelização.

3. Evangelizar! Eis, caríssimos Irmãos e Irmãs, a missão de cada baptizado. Em qualquer estado de vida, ele é chamado a dar testemunho de Cristo e do Evangelho. Faço votos por que esta vossa peregrinação de os desejados frutos de renovação religiosa e pastoral. A visita aos túmulos dos Apóstolos vos fortaleça na firmeza de evitar o pecado, de vos converterdes ao bem e seguirdes o Senhor.

Confio a Nossa Senhora da Assunção, à qual está dedicada a Catedral da vossa Diocese, as intenções que vos animam nesta vossa peregrinação jubilar. Que ela vos conceda a graça de ser auténticos missionários do amor imperscrutável de Deus, o qual deseja que todos os homens se salvem e alcancem a verdade total (cf. 1Tm 2,4).

Protejam-vos os santos Pedro e Paulo, colunas da Igreja, e os vossos Santos Padroeiros. O Papa reza por vós e concede-vos, bem como aos vossos entes queridos e a todos os fiéis da Diocese de Pádua, uma especial Bênção apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA COREIA


EM VISITA OFICIAL


Sábado, 4 de Março de 2000



Excelência!

1. É com grande alegria que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, por ocasião da sua primeira Visita oficial, que me oferece a oportunidade de reafirmar a estima da Santa Sé pela sua pessoa e a longa amizade com a República da Coreia. Saúdo calorosamente Sua Ex.cia a Senhora Dae-jung Kim e os ilustres membros do seu Séquito.

A sua visita hodierna traz-me ditosas recordações das minhas duas viagens pastorais à "Terra da Calma Matutina", em 1984 e em 1989. Em ambas as ocasiões, tive a alegria de me encontrar com muitos dos seus compatriotas de várias culturas e tradições religiosas. As suas calorosas boas-vindas, amizade e espírito de hospitalidade impressionaram-me profundamente. Pude observar as dificuldades e os desafios que o povo coreano enfrenta na sua aspiração à unidade e no seu anélito de criar uma sociedade próspera e pacífica, edificada sobre os sólidos fundamentos da justiça, da liberdade e do respeito pelos direitos humanos inalienáveis.

2. Nos últimos tempos, Vossa Excelência tem tomado vigorosas iniciativas em vista de fomentar o diálogo intercoreano. Sem dúvida, a vereda da reconciliação será longa e difícil. Contudo, apesar dos obstáculos, não vos desencorajastes nos esforços por instaurar um clima de relações positivas e harmoniosas. Demonstrastes o vosso compromisso de maneira concreta, indo em socorro dos inumeráveis norte-coreanos que foram severamente atingidos por calamidades naturais e por colheitas paupérrimas, cujo trágico flagelo é do conhecimento de todos nós. Encorajo os esforços que estais a despender no sentido de corresponder às suas necessidades neste período difícil e aproveito o ensejo para exortar a Comunidade internacional a continuar a contribuir generosamente para aliviar os sofrimentos das vítimas.

44 3. Recentemente, o seu País também teve de enfrentar os desafios sociais e económicos derivantes da crise financeira asiática. Consciente de que o bem mais precioso da nação é o próprio povo, o seu Governo tem feito estrénuos esforços para assegurar que os efeitos negativos da mesma nos seus concidadãos se reduzam à mínima medida. A produtividade e o lucro não podem ser o único parâmetro do progresso; efectivamente, o desenvolvimento não é autêntico se não beneficiar os indivíduos e a promoção do bem da família, da nação e da comunidade mundial. O progresso genuíno exige que cada homem e cada mulher sejam considerados como sujeitos de direitos e liberdades inalienáveis, e as dimensões sociais, culturais e religiosas da vida sejam salvaguardadas e promovidas sempre e em toda a parte.

O compromisso da Igreja católica na educação, na assistência médica e na prosperidade social deriva da sua inflexível convicção da dignidade inata da pessoa humana e da primazia do povo sobre as coisas. Esta persuasão impele-a a procurar formas práticas de cooperação com os governos e os organismos internacionais, empenhados em benefício do progresso das populações.

Nesta área, a tarefa da Igreja não consiste em prescrever particulares paradigmas sociais, políticos ou económicos. Como sua principal contribuição, ela oferece o próprio ensinamento social como orientação ética e ideal que, enquanto reconhece o valor positivo do mercado e da empresa, insiste que estes devem ter sempre em vista o bem comum dos povos (cf. Centesimus annus
CA 43). O respeito pela dimensão moral essencial e pelos imperativos éticos do desenvolvimento é a chave do autêntico progresso humano, constituindo a única fundação viável para uma sociedade verdadeiramente digna da família humana.

4. O século que acaba de terminar foi testemunha de muitas violências, perseguições e guerras, que não pouparam o seu país. Tudo isto levou ao aumento da consciência da necessidade do acordo e da cooperação entre as nações, a fim de evitar conflitos, preservar a paz, defender os direitos e a liberdade dos indivíduos e dos povos, e garantir a observância da justiça. Gradualmente, os países da Ásia estão a aproximar-se uns dos outros, enquanto se realizam sérios esforços que visam a prática da reconciliação entre os povos divididos por dolorosas reminiscências da história passada.

Em muitas nações verifica-se um crescente compromisso em renovar a ordem social e em eliminar a corrupção que, com demasiada frequência, deteriora a vida pública. As pessoas estão a tornar-se mais conscientes de que o campo da política não é moralmente neutro, mas deve ser orientado por ideais e princípios fundamentais. Estes desenvolvimentos e iniciativas positivos devem ser louvados e encorajados, mas a um nível mais profundo só poderão obter bom êxito se o singular e inalienável valor da pessoa humana for respeitado e salvaguardado.

Como a experiência dos últimos cem anos demonstra claramente, o não-reconhecimento da existência da verdade transcendental em obediência à qual o homem adquire a sua plena identidade debilita os princípios que garantem as justas relações entre os povos e podem levar ao nascimento de várias formas de totalitarismo (cf. ibid., n. 44). Com efeito, se não houver uma verdade última que guie e oriente a actividade política, então as ideias e convicções podem ser facilmente manipuladas por motivos de poder (cf. ibid., n. 46). Hoje em dia as nações individualmente e a comunidade internacional enfrentam o desafio de formular os princípios fundamentais, necessários para garantir a prosperidade das pessoas, o bem comum e o genuíno desenvolvimento da sociedade. Exprimo a esperança e a confiança de que o povo da Coreia do Sul consiga haurir do seu rico património cultural e espiritual, para encontrar a sabedoria e a disciplina da mente e do coração, exigidas para edificar uma sociedade digna das antigas tradições do seu País.

5. Excelência, na feliz ocasião da sua visita, exprimo novamente os meus bons votos pelos seus esforços em vista de promover a renovação e a reconciliação social entre todos os membros da Família coreana. Rezo para que o povo coreano salvaguarde estes valores espirituais e as qualidades do carácter que sustentam a liberdade, a dignidade e a verdade, promovendo uma segura orientação para o futuro. A República da Coreia prospere no caminho do progresso genuíno e da paz verdadeira. Estes são os votos que lhe formulo, Senhor Presidente, assim como ao seu povo.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE FIÉIS LITUANOS


EM PEREGRINAÇÃO JUBILAR


Sábado, 4 de Março de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs lituanos!

1. Sede bem-vindos à "casa de Pedro", meta da vossa peregrinação jubilar! Quase todas as semanas, nas Audiências gerais tenho ocasião de saudar grupos de fiéis provenientes da Lituânia. Hoje estais aqui em grande número a representar a inteira Nação. Saúdo o Arcebispo de Kaunas, D. Sigitas Tamkevicius, Presidente da Conferência Episcopal, e agradeço-lhe as calorosas palavras que me dirigiu em nome de todos. Saúdo também o Arcebispo de Vilna e os outros Bispos presentes, com um pensamento de cordial felicitação ao Senhor Cardeal Vincentas Sladkevicius que, pelas más condições de saúde, ficou em casa. Além disso, dou as boas-vindas aos sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como a todos vós.

O meu pensamento retorna espontaneamente à visita pastoral ao vosso amado País, em Setembro de 1993, bem como ao VI centenário do seu "baptismo" em 1987, celebrado solenemente na Basílica do Vaticano, na presença de numerosos Bispos de toda a Europa. A Lituânia foi o último dos Países bálticos a tornar-se cristão e o único a permanecer fiel à Igreja católica no período da Reforma luterana.

45 Demos graças a Deus pela fidelidade do povo lituano à Igreja e ao Sucessor de Pedro, e pelo testemunho de fé oferecido por inúmeros Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, em muitos casos até ao martírio, de modo particular durante o trágico período de cinquenta anos de ocupação e perseguição comunistas.

2. Hoje, tendo readquirido a liberdade civil e religiosa, a Lituânia encontrou de novo o seu lugar no seio da família europeia. Liberdade comporta responsabilidade: a vossa Nação, queridos lituanos, com o seu património cultural corroborado pelos sofrimentos suportados na heróica fidelidade à vocação crista, é chamada a contribuir para a renovação espiritual da Europa e a reconciliação entre os povos. O vosso Padroeiro São Casimiro, cuja festa ocorre precisamente hoje, foi grande artífice de unidade no nome de Cristo e do Evangelho. O seu exemplo vos ilumine e vos guie.

Possa o testemunho do passado ser um encorajamento para o novo esforço de evangelização.

No alvorecer do terceiro milénio, os cristãos sentem ressoar com força nova nos seus corações as palavras do Apóstolo Paulo: "Caritas Christi urget nos o amor de Cristo nos constrange" (
2Co 5,14). Com efeito, o homem contemporâneo tem mais do que nunca necessidade do Evangelho para caminhar pelas vias da verdade, da liberdade, da justiça e da paz. Antes de tudo, tem necessidade dele para conhecer a Deus e a si mesmo, e para alimentar o sentido da própria dignidade e o respeito pelo valor da vida, remida pelo sacrifício de Cristo.

3. Formulo votos de coração por que esta peregrinação jubilar a Roma abra ainda mais as vossas Comunidades à dimensão universal da Igreja. Caríssimos, a visita às memórias dos apóstolos e dos mártires, o encontro com o Sucessor de Pedro, a oração elevada a Deus com tantos fiéis de todos os continentes vos sirvam de estímulo, para amar e servir a Igreja. Empenhai-vos em aprofundar o conhecimento do Concílio Vaticano II, a fim de traduzirdes a sua doutrina na prática da vida eclesial e social, a partir das vossas famílias e paróquias. A misericórdia, o perdão, o amor pelos pequeninos e os pobres, o serviço generoso e abnegado sejam vossos sinais distintivos e prova eloquente de que estais unidos fraternalmente em Cristo.

Ele, que é o mesmo ontem, hoje e sempre, vos acompanhe e guie os vossos passos. Cristo está convosco! Esta consoladora certeza jamais vos abandone! Sede anunciadores corajosos e testemunhas jubilosas da sua presença viva no mundo!

O Papa ora por vós e com grande afecto abençoa todos.





DISCURSO DO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DE UM GRUPO DE FIÉIS


DA DIOCESE DE CREMONA (ITÁLIA)


Sábado, 4 de Março de 2000

1. Saúdo com alegria os componentes da peregrinação proveniente de Cremona. Caríssimos Irmãos e Irmãs, viestes a Roma para celebrar o Jubileu.

Sinto-me particularmente contente de vos acolher e exprimir a minha satisfação por esta visita, que constitui um momento significativo no itinerário jubilar que estais a realizar, como novos "romeiros", aos lugares do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo.

Dirijo uma saudação fraterna ao vosso Pastor, D. Giulio Nicolini. Saúdo também os sacerdotes, diáconos, consagrados, religiosos, religiosas, membros dos Institutos seculares, seminaristas e todos os fiéis leigos, com especial menção a quantos estão empenhados nos organismos pastorais e nas tarefas da nova evangelização. Com deferência e cordialidade saúdo, enfim, o Presidente da Câmara Municipal de Cremona e todas as Autoridades que quiseram participar neste encontro.

46 2. A vossa presença recorda-me a visita de Novembro de há quatro anos, quando o vosso Bispo me entregou o "Livro do Sínodo", como sinal de obediência e fidelidade ao Sucessor de Pedro. Foi o acto conclusivo, como que o selo do percurso sinodal e o prelúdio, por assim dizer, do "Ano de Santo Omobono", que celebrastes no VIII centenário da morte e canonização do Santo Padroeiro, do qual a Diocese e a Cidade de Cremona conservam uma memória fiel e devota.

A extraordinária figura de Omobono, comerciante de tecidos, esposo e pai de família, que se converteu ao mistério da Cruz e se tornou "pai dos pobres", artífice de reconciliação e de paz, assume um valor exemplar como chamada à conversão. O seu exemplo põe em evidência que a santificação não é vocação reservada a alguns, mas proposta a todos.

Ao lado do vosso ilustre Padroeiro, há três presbíteros da vossa terra que, nos últimos cinquenta anos, alcançaram a honra dos altares: Vicente Grossi, beatificado por Paulo VI durante o ano santo de 1975; o camiliano Henrique Rebuschini; e Francisco Spinelli, ambos beatificados por mim. Estas figuras exemplares estejam sempre presentes em vós e constituam para todos estímulo e encorajamento a seguirem o Evangelho de maneira fiel.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs, viestes a Roma para cruzar a Porta Santa. É uma belíssima experiência que aqui, no coração do mundo católico, no sepulcro do Apóstolo Pedro e no solo irrigado pelo sangue dos primeiros mártires romanos, exige ser vivida em profundidade. As palavras de Jesus: "Estou convosco todos os dias" é o sustento do cristão, que se faz peregrino penitente, para obter o fortalecimento na fé, esperança e caridade. É o que desejo para cada um de vós, os vossos entes queridos e a inteira comunidade diocesana. Com o voto particular por que a "Casa da esperança", que está a surgir sobre fundamentos novos para acolher doentes terminais de sida, corresponda à ideia que a inspirou: ser testemunho de caridade, do qual as gerações vindouras podem haurir amplamente.

Caríssimos peregrinos de Cremona! Sei que as vossas quatro igrejas jubilares, a começar pela magnífica Catedral, são todas dedicadas a Maria. De coração me alegro com isto. A Ela, "mulher do silêncio e da escuta" (Incarnationis mysterium, 14), confio as necessidades da Igreja de Cremona no início do novo século e do novo milénio.

Com a minha afectuosa bênção.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

À COMUNIDADE DO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO

NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA


Sábado, 4 de Março de 2000



Caríssimos!

1. Volto sempre com alegria ao Seminário Romano, situado nas proximidades da Catedral de Roma. Venho com mais profunda emoção neste ano jubilar que nos introduz no terceiro milénio. Saúdo todos vós, Reitor, educadores, seminaristas e amigos. Obrigado pelo afecto com que me recebestes!

Dirijo uma saudação particular ao Cardeal Vigário e ao Conselho Episcopal, aos párocos e aos colaboradores diocesanos e paroquiais, empenhados com o Seminário num generoso esforço de incrementação da pastoral vocacional.

2. Contemplámos juntos o início da história da salvação nos mistérios gozosos do Rosário. Maria recorda-nos São Bernardo, "crê, confia e aceita" (Homilia IV, 8). Seguindo o seu exemplo e, graças à sua intercessão, também nós aprendemos a crer, a ter confiança e a receber os abundantes dons de graça que o Senhor nos deseja conceder. É Maria quem revela às nossas comunidades e à Igreja inteira a pedagogia de Deus na história das pessoas e dos povos. Torna-nos disponíveis para a fé, confiança e aceitação humilde.

47 Queridos seminaristas, amai Maria, nossa Mãe celeste, durante os anos da vossa formação, e depois no decurso do vosso ministério generoso e santo, a fim de a honrar um dia no céu. Participam hoje na festa de Nossa Senhora da Confiança todos os amigos do seminário e, sobretudo, os jovens que caminham convosco e vos seguem, desejosos também eles de conhecer o segredo da vossa vida. O vosso exemplo ajude muitos jovens a vencer os numerosos receios da vida e a abrirem-se à confiança e ao empenho. Hoje é, duma certa forma, um dia de festa para toda a comunidade diocesana e, de maneira particular, para aquelas paróquias e realidades pastorais, onde trabalhais e entre as quais se verifica e reforça o vosso "sim" ao Senhor.

3. No santo Rosário vimos Maria pôr-se à escuta de Deus e abrir-se ao diálogo com Ele. Na sua atitude interior, contemplamos o nosso modelo de oração. Ela ensina-nos que para rezar é preciso entrar no próprio quarto e, com a porta fechada, falar com o Pai no escondimento. Maria sabe que só os olhos do Pai vêem no segredo e ultrapassam a porta do coração de cada homem (cf. Mt
Mt 6,5-6). Sabe que só o encontro íntimo com o Pai celeste proporciona aquele fogo de caridade, que estimula a sair do quarto e seguir a chamada de Cristo. Maria é modelo de sabedoria e de fé. Na expectativa, não tira os olhos do Esposo que vem; aliás, põe sabiamente o óleo na lâmpada da fé na noite do medo, para passar pela porta da alegria nupcial (cf. Mt Mt 25,1-13).

Caríssimos jovens seminaristas, aprendei de Nossa Senhora da Confiança o modo de se tornar confiantes e vigilantes, servos do Evangelho na expectativa da vinda do Senhor na glória. Maria vos ensine a maturar na vocação e a plasmar em vós o coração de seu Filho. O seu exemplo vos leve a transformar a vida em generosidade para com o pobre (cf. 1Jn 3,17) e também em disponibilidade com o hóspede dos momentos incómodos (cf. Lc Lc 11,5-8). Acompanhados por ela, também vós conhecereis a confiança jubilosa dos apóstolos que, obedecendo a Deus e não aos homens, descobriram como a Palavra de Deus penetra as portas fechadas de qualquer cárcere (cf. Act Ac 5,17-25) ou impedimento.

4. Salve radix, salve porta, ex qua mundo lux est orta!

Caríssimos, continuemos ao longo do Ano Santo a confiar a Maria os empenhos que nos esperam. Nossa Senhora da Confiança guie o Seminário e acompanhe a comunidade diocesana no conhecimento do Vivente, que vence o receio e dá a paz (cf. Jo Jn 20,19). Oxalá o ajude a imitar o bom samaritano, que derrama óleo e vinho nas feridas de quantos vivem em Roma ou chegam aqui de todas as partes do mundo (cf. Lc Lc 10,29-36). Maria ensine o regozijo do espírito a cada jovem que entra no Seminário.

A oliveira do pórtico, que acabei de abençoar, represente para o Seminário o sinal do serviço às vocações. Jesus Cristo é o centro de cada vocação. Ele é o mestre sob cuja protecção vos detereis em escuta; Ele é o servo sofredor, que vos leva consigo ao Getsémani, quando sereis abandonados pelos homens. Jesus é a raiz e a árvore nas quais fomos inseridos como ramos de holocausto, tornado fecundo pela cruz. Do Senhor recebemos a vocação, como óleo perfumado de vida nova. O Pai, que ungiu o Filho Jesus com óleo de exultação (cf. Hb He 1,5-14), faça resplandecer sobre a cabeça de cada um de vós o mesmo óleo de santidade.

Bom Ano Santo! O Senhor multiplique os chamados, como rebentos da oliveira em redor da mesa! Abençoo todos vós com grande afecto.

Desejo agradecer a todos a hospitalidade. Também desta vez, neste ano jubilar pensei, encontrando-me no Seminário Romano, no que deixei há tantos anos: no Seminário de Cracóvia.

Pensei o seguinte: em Cracóvia pude falar com todos os seminaristas, em Roma posso apenas apertar a mão de cada seminarista. Mas, graças a Deus, temos o Cardeal Vigário para a Diocese de Roma! Deixo que seja ele a ter o gosto de falar convosco. O Cardeal diz-me que fala muito convosco. Isso é bom!

O Ano Santo foi inaugurado muito bem. Ultrapassou as previsões. Foi quanto notámos nos primeiros dias, nas primeiras semanas, no primeiros dois meses.

Desejo também a vós, seminaristas do Seminário Romano Maior, que aproveiteis este ano de graça e que passeis com fé pela Porta Santa de São Pedro, que nos conduz simbolicamente à salvação.

Então, bom ano jubilar; bom Ano Santo; bom ano 2000; bom ano académico; bom ano seminarístico!

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PEREGRINOS VINDOS PARA A

BEATIFICAÇÃO DOS 44 MÁRTIRES


Segunda-feira, 6 de Março de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Acolho-vos com alegria nesta manhã, no dia seguinte à solene Beatificação de um numeroso grupo de testemunhas da fé. Vós provindes de diversos Países, de modo especial do Brasil, da Bielo-Rússia, das Filipinas, da Tailândia, do Vietnã. A todos a minha mais cordial saudação.

Os novos Beatos sacerdotes, religiosas, leigos e leigas são todos mártires. É-me grato ressaltar a particular eloquência deste facto: a primeira beatificação do Ano Santo 2000 é posta sob o sinal do martírio, isto é, do dom total de si por Cristo e pelo Evangelho. Estes mártires fizeram da sua vida uma resposta generosa ao dom de Deus, e para todos nós são eloquentes modelos de testemunho cristão.

2. Saúdo com muita cordialidade o Senhor Cardeal Paul Joseph Pham Dinh Tung, Arcebispo de Hanoi, os Bispos e os peregrinos vietnamitas, assim como os seus amigos, vindos aqui para a beatificação de André de Phu Yên. Neste jovem, o Padre Alexandre de Rhodes percebera uma grande inteligência e uma intensa vida espiritual. Para ajudar os sacerdotes no anúncio do Evangelho, em primeiro lugar ele acolheu-o entre os seus mais próximos colaboradores e, depois, na associação dos catequistas Maison Dieu. A partir daquele momento, atraído por Cristo, André empenhou-se publicamente em dedicar a sua vida ao serviço da Igreja, aceitando com generosidade compartilhar até ao fim o sacrifício do Senhor crucificado, certo de O seguir na sua ressurreição.

Após mais de trezentos e cinquenta anos, os católicos do Vietnã não esqueceram esta testemunha do Evangelho, protomártir do seu País. Encontraram nele um modelo de fé serena e de amor generoso para com Cristo e a sua Igreja. Oxalá eles descubram ainda hoje no seu exemplo a força para permanecerem fiéis à própria vocação cristã, na lealdade para com a Igreja e ao seu País! O Beato André, cujo zelo ardente permitiu que o Evangelho fosse proclamado, arraigado e desenvolvido, dê a todos os catequistas a audácia de serem autênticas testemunhas da fé, através duma vida inteiramente dedicada a Cristo e aos irmãos!

3. Apresento cordiais saudações ao Cardeal Michael Michai Kitbunchu e aos Bispos da Tailândia, assim como aos sacerdotes, aos religiosos e aos fiéis que vieram a Roma para a Beatificação do Padre Nicolau Bunkerd Kitbamrung. A Igreja na Tailândia rejubila com o facto de um dos seus filhos ter sido elevado às honras dos altares. O Beato Nicolau dedicava-se completamente ao seu ministério sacerdotal, que demonstrou no seu amor aos outros, no seu empenho na transmissão da fé e no seu testemunho corajoso nos tempos difíceis. Oro para que, graças à intercessão do Padre Nicolau, a comunidade católica no vosso País seja sempre abençoada com sacerdotes imbuídos do seu mesmo espírito.

Com afecto dou as boas-vindas ao Cardeal Ricardo Vidal e aos Bispos das Filipinas, assim como aos numerosos peregrinos que os acompanham. Durante muito tempo o povo das Filipinas, em particular os que nasceram na região de Visayas, aguardaram a beatificação de Pedro Calungsod. Ainda jovem, o Beato Pedro ouviu o chamamento de Cristo, e jamais vacilou no seu desejo de fazer a vontade de Deus, mesmo à custa da sua vida. Oremos para que muitos jovens sigam o exemplo do Beato Pedro e se dediquem ao Senhor nas múltiplas formas do apostolado leigo, no sacerdócio ou na vida religiosa.

Sobre vós e as vossas famílias invoco a alegria e a paz do Salvador Ressuscitado!

4. É com viva satisfação que saúdo agora o Senhor Cardeal Eugênio de Araújo Sales e os numerosos Bispos presentes com os peregrinos brasileiros que vieram a Roma para participar na solene beatificação dos mártires de Natal: o jesuíta André de Soveral, o padre diocesano Ambrósio Francisco Ferro e suas comunidades de 28 leigos que, nos primórdios da história do Brasil, deram a própria vida para se manterem fiéis à própria fé.

49 Esses mártires que ontem foram beatificados saíram das Comunidades de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte. Foi lá que germinou a semente do martírio para se transformar na grande colheita de frutos sazonados pela diuturna ação evangelizadora e santificadora da Igreja no Brasil, ao longo destes cinco séculos de história. Seu sangue regou o solo pátrio, tornando-o fértil para a geração de novos cristãos. Eles são as primícias do trabalho missionário, e foram chamados Protomártires do Brasil do Evangelho naquelas paragens, que receberam o nome de Terra de Santa Cruz.

Vamos pedir a Deus que o exemplo de fidelidade destes primeiros cristãos, especialmente daquelas famílias de mártires - muitas delas com crianças de tenra idade -, e da grande massa de anónimos não identificados, possa levar-nos a renovar nosso compromisso de uma evangelização fecunda e audaz em todos os níveis da sociedade. E que Nossa Senhora Aparecida, Mãe de Deus e Mãe nossa, caminhe ao nosso lado por todas as estradas da vida.

5. Saúdo cordialmente os peregrinos da Polónia e da Bielo-Rússia.

Dirijo uma saudação particular às Irmãs da Congregação da Sagrada Família de Nazaré, que vieram aqui para dar graças a Deus pelo dom da beatificação das onze Coirmãs mártires de Nowogródek.

Quando comemoramos estas heróicas Nazaretanas, retornam à mente as palavras de Jesus: "Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos" (
Jn 15,13). Elas confirmaram perfeitamente a verdade destas palavras com a sua vida plena de dedicação e com a própria morte. Antes da guerra e durante a ocupação serviam com desvelo os habitantes de Nowogródek, participando de maneira activa na pastoral, na educação e realizando diversas obras de caridade. O seu amor para com aqueles, entre os quais exerciam a sua missão, adquiriu um particular significado diante da atrocidade do invasor nazista. De modo concorde e unânime ofereceram a Deus a própria vida, pedindo que em troca fosse poupada a vida dos pais e mães de família, assim como do sacerdote, pastor da localidade. O Senhor acolheu com benevolência a sua oferta e, como cremos, recompensou-a abundantemente na sua glória.

Hoje, juntamente com toda a Congregação das Irmãs de Nazaré glorificamos a Deus por esta graça, em virtude da qual o carisma monástico e o zelo humano puderam produzir tão maravilhosos frutos de martírio. O sangue destas Beatas Irmãs seja a semente de novas vocações religiosas e o sustento para muitos nos caminhos da santidade.

As novas Beatas, Maria Stella Mardosewicz e as dez Coirmãs, intercedam junto de Deus por todo o povo da Bielo-Rússia, que saúdo com muito afecto.

Abençôo todos os peregrinos aqui presentes. Louvado seja Jesus Cristo!

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs, demos graças a Deus pelo dom destas luminosas testemunhas do Evangelho! Louvemo-l'O com a vida, e procuremos imitar, com a sua graça, os exemplos destes mártires.

Assista-nos a Virgem Maria, Rainha dos Santos e Auxílio dos cristãos. Ao retornardes aos vossos países e às vossas casas, levai convosco a recordação destas solenes celebrações: que elas vos façam sentir a alegria de pertencer à Igreja una e santa, e levai também aos vossos entes queridos a bênção que o Papa com afecto vos concede.

Discursos João Paulo II 2000 42