Discursos João Paulo II 2000 409

409 4. Saúdo-vos agora, queridos peregrinos de Civitavecchia, que aqui representais a unidade da vossa Diocese, unida em torno do seu Bispo, D. Girolamo Grillo, para quem vai a expressão do meu reconhecimento pelo seu caloroso discurso. Caríssimos fiéis, vivei com empenho a nova vida recebida no Baptismo. Vós sabeis que Cristo alimenta esta vida nova sobretudo com o dom do seu Corpo e do seu Sangue no banquete divino, ao qual vos chama para serdes "um só corpo" (1Co 10,17).

Na Eucaristia Ele nutre-vos e fortifica-vos, a fim de poderdes aderir sempre de maneira generosa à vontade do Pai. Deixai-vos guiar pela graça do Espírito Santo, fonte de comunhão; caminhai com alegria e disponibilidade pelas veredas da conversão pessoal e da renovação das vossas comunidades.

5. Dirijo agora uma palavra cordial a vós, caríssimos fiéis de Sabina-Poggio Mirteto, aqui presentes com o vosso Pastor, D. Lino Fumagalli, a quem agradeço os sentimentos expressos também em vosso nome. Saúdo de igual modo o Senhor Cardeal Lucas Moreira Neves, Titular da Diocese Sabina, e D. Marco Caliaro, Bispo Emérito. Caríssimos, escolhestes a peregrinação ad Petri sedem para sublinhar o vosso empenho em aderir constantemente ao Evangelho. As sólidas tradições de uma fé forte e bem arraigada no coração caracterizam a vossa comunidade. Disto dão testemunho, entre outros, os frequentados santuários marianos de Ponticelli, de Monterotondo e a vossa própria Catedral, dedicada à Virgem do Louvor. É a Maria que vos convido a confiar todo o vosso projecto pastoral.

Exorto-vos, além disso, a fazer dos ensinamentos dos vossos pais na fé uma herança a conservar e a incrementar, a fim de que, guiados pela contribuição de uma antiga sabedoria, saibais dialogar com todas as instâncias sadias do vosso território. A oração, em especial a litúrgica, seja o sustento das vossas fadigas, a fim de dilatardes cada vez mais o Reino de Cristo.

6. Saúdo, depois, com afecto o grupo da Associação "Comunidade Domenico Tardini", guiado pelo Cardeal Achille Silvestrini e por D. Cláudio Celli. O espírito sacerdotal de D. Domenico Tardini projectara Vila Nazaré, para fazer florescer os dons de inteligência e de coração que Deus tinha posto em muitos jovenzinhos, para que fossem valorizados na vocação de "apóstolos" ao serviço da Igreja, para o bem dos irmãos.

As gerações de jovens cresceram e, do exemplo e ensinamento do grande Cardeal, e da experiência de vida, nasceu a Associação com a finalidade de fazer amadurecer nos seus membros o encontro pessoal com Cristo, o respeito pela dignidade de todo o ser humano, o empenho em prol da liberdade, um serviço mediante a cultura.

Ao atravessardes hoje a Porta Santa, escutastes e acolhestes a voz do Senhor Jesus que proclama a misericórdia do Pai e que ajuda cada um a descobrir o significado de gratuidade dos próprios talentos, para se empenhar em responder às expectativas de que o Reino de Deus se realize entre os homens.

Podereis fazê-lo cultivando uma consciência eclesial no exercício da diaconia da cultura, que vos faça sentir parte da missão confiada à Igreja, desenvolvendo os vossos carismas de homens e de mulheres que, do amor de Cristo, sentem nascer o desejo exigente de acompanhar os caminhos de crescimento e amadurecimento dos jovens na fé.

7. Saúdo cordialmente os membros da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro que participam nesta audiência, acompanhados por D. Joseph Sardou, Arcebispo Emérito de Mónaco. Desejo-lhes uma feliz peregrinação jubilar e concedo-lhes de todo o coração a Bênção Apostólica.
Dirijo-me com uma especial saudação aos fiéis húngaros, aos grupos das Paróquias de São Geraldo e Santa Teresa de Lisieux, em Budapeste. De coração concedo a todos vós e às vossas famílias a Bênção Apostólica.

Louvado seja Jesus Cristo!

410 8. Uma saudação particular dirige-se depois aos fiéis provenientes de diversas paróquias italianas; aos grupos de peregrinos vindos de várias localidades; à Comunidade dos Frades Menores Conventuais do Sagrado Convento de Assis; aos participantes no campeonato europeu de automobilismo "Terminillo"; aos voluntários do Corpo Nacional de Socorrro Alpino e Espeleológico; ao clube Swarowski de Palestrina e Merate.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, que esta paragem junto dos túmulos dos Apóstolos vos confirme na fé; vos ajude a voltar às vossas casas revigorados na decisão de servir Cristo e os irmãos: vos faça ser mais entusiastas missionários do Verbo da Vida que cumula de esperança o coração de todo o homem.

Sustente-vos a intercessão da Mãe do Senhor e vos acompanhe a Bênção que, de todo o coração, vos concedo, a vós, às vossas comunidades, às vossas famílias e a quantos vos são queridos.









JUBILEU DOS MILITARES E DA POLÍCIA


Sábado, 18 de Novembro de 2000






1. Saúdo cordialmente todos os que, participando na peregrinação jubilar dos Militares e da Policia, estão aqui presentes para este encontro no Vaticano. Muito me alegra a vossa presença. Dou as boas-vindas ao Bispo Castrense, D. Slawoj Leszek Glódz, a D. Marian Dus, ao Bispo Miron da Igreja ortodoxa, ao Bispo Borski da Igreja evangélico-ausburga, aos Capelães do Exército e da Polícia.

Saúdo o Senhor Ministro da Defesa, o Chefe do Estado Maior e os Comandantes do Exército, da Marinha militar, da Aeronáutica e da Defesa antiaérea. Saúdo o Comandante Supremo da Polícia, o Comandante da Polícia de Fronteira, das Unidades Nadwislanskie e o Chefe do Departamento da Protecção do Governo. Saúdo os Senhores Generais, Oficiais, Marechais-Mores, Suboficiais, Soldados, Funcionários da Polícia e os Dependentes civis do Exército. Agradeço às bandas e coros que, com a música e o belo canto, deram brilho a este encontro. Tudo isto me comove muito e me ajuda a voltar ao passado, trazendo-me muitas recordaçoes.

2. "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre" (He 13,8). Neste Ano Santo do Grande Jubileu, os nossos pensamentos e desejos dirigem-se para Cristo, Redentor do homem. Ele, o Filho de Deus, como diz o Concílio Vaticano II: "Pela sua encarnação (...) uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado" (Gaudium et spes GS 22).

Viestes a Roma como peregrinos, para fortalecer a fé em Cristo e renovar-vos interiormente. Em sentido cristo, a peregrinação é símbolo do caminho do homem crente seguindo os vestígios de Cristo. Quantos vestígios deste tipo se encontram em Roma, quantos sinais da presença de Deus, quantos templos, santuários e lugares sagrados! Um desses sinais é a Porta Santa. Ela simboliza Cristo. Jesus disse de Si mesmo: "Eu sou a porta" (Jn 10,7). Isto significa que há somente uma porta, através da qual se alcança o encontro com Deus, que há apenas uma via que conduz à salvação.

3. Neste contexto, como é eloquente a mensagem do Jubileu dos Militares e da Polícia: "Com Cristo em defesa da justiça e da paz". Que estas palavras acompanhem a vossa peregrinação e a vossa oração nesta permanencia na Cidade Eterna e também o vosso serviço na Pátria e fora dos seus confins. Também hoje, no final do segundo milénio, o mundo tem necessidade de justiça e de paz. É preciso que a estas palavras seja conferido um conteúdo concreto e, às vezes, lhes seja restituído o justo significado. Desejo recordar também os soldados polacos que desempenham a sua missão na Bósnia, no Kossovo, no Líbano e nas Colinas de Golan.

Sei que em todas as guarniçoes, no decurso de quatro anos, empreendestes o esforço de uma renovação espiritual e de preparação para as celebrações do Grande Jubileu. O tempo de preparação foi acompanhado da peregrinação da Imagem de Nossa Senhora "A Protectora do Soldado Polaco". Acolhestes a sua imagem nos quartéis, nas Academias e nos Ateneus militares, nos hospitais e nos polígonos. A Ela confiastes o vosso serviço, para entrardes no terceiro milénio fortes na fé.

Meus queridos, continue a "manha da ressurreição" que experimentei no polígono junto de Koszalin, há dez anos, durante a visita à Polónia! Levai com alegria aos homens e às nações a mensagem de paz e de amor. Uma prova muito eloquente dessa atitude é o dom, por parte da Cáritas junto do Ordinariato Castrense: uma ambulância para o hospital do Kossovo. Ofereceste-la como dom do altar por ocasião do Grande Jubileu. Agradeço-vos este bonito gesto que brotou do coração dos militares.

411 4. Acompanhe-vos nesta peregrinação o exemplo de um soldado corajoso, um homem justo e piedoso: o centurião de nome Cornélio. Foi ele que recebeu o baptismo depois do encontro com Pedro, e juntamente com ele os seus soldados e toda a família (cf. Act Ac 10,1-48). Faço votos por que, após esta peregrinação, volteis para os lugares de serviço e para as vossas famílias fortalecidos espiritualmente, prontos a dar testemunho do Evangelho e da Cruz. Sede fiéis a Cristo, defendendo "a justiça e a paz"!

Por vosso intermédio, saúdo todo o Exército e a Polícia da Polónia, e abençôo todos de coração.



JUBILEU DOS MILITARES E DAS FORÇAS POLICIAIS


SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


Domingo, 19 de Novembro de 2000




No encerramento desta intensa Jornada jubilar, desejo saudar os numerosos representantes das Forças Armadas e das Forças de Polícia, aqui vindos de várias Nações. De coração, faço extensiva a minha saudação aos fiéis presentes nesta noite na Praça de São Pedro.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, obrigado pela vossa jubilosa presença e pela vossa calorosa participação na celebração deste dia. A Igreja está perto de vós! Possa este encontro servir para todos vós de encorajamento e de sustento nos vossos propósitos de bem e no generoso empenho ao serviço da justiça e da paz.

A vós e às vossas famílias formulo votos para que a graça do Ano Santo aumente em cada um o desejo de uma autêntica renovação espiritual e de uma sincera solidariedade para com os irmãos necessitados.

Com estes votos, asseguro a minha constante lembrança na oração e de coração concedo-vos uma especial Bênção.






AOS PEREGRINOS DA


IGREJA SÍRIO-MALANCAR


20 de Novembro de 2000



Caro Arcebispo Baselios
Queridos peregrinos
da Igreja sírio-malancar
412 Professores e estudantes do Pontifício Instituto de São João Damasceno

1. Da Índia e de todos os lugares, juntastes-vos em Roma para celebrar o Grande Jubileu do Ano 2000 e a vossa oração junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo é um sinal luminoso da nossa união profunda em Cristo.

Há setenta anos, o Arcebispo Mar Ivanios, o Bispo Mar Theophiklos e os seus companheiros entraram na plena comunhão com a Sede de Pedro, porque estavam plenamente convencidos da verdade das palavras encontradas debaixo da cúpula da Basílica Vaticana: Hinc una fides mundo refulget, "daqui a única fé resplandece no mundo". Compreenderam que "a Igreja é una, a Igreja de Cristo entre o Oriente e o Ocidente" (Orientale Lumen, n. 20). Sabiam que, entrando na comunhão católica "elas não tinham absolutamente intenção de renegar a fidelidade à sua tradição" (ibid. n. 21). A partir de então Deus abençoou abundantemente a Igreja sírio-malancar nas suas obras de unidade cristã.

Enquanto coroais as vossas celebrações jubilares oferecendo o Santo Qorban, peço-vos que invoqueis o amor de Deus sobre os cristãos das Igrejas orientais a fim de que, de modo novo e mais intenso, saibam que caminham "para o único Senhor e, portanto, uns para os outros" (ibid. n. 28). Rezai também para que esta nova descoberta entre os cristãos do Oriente seja uma bênção para toda a Igreja no dealbar do terceiro milénio.

2. Estou contente por vos acolher, Reitor, corpo docente e sacerdotes estudantes do Instituto Pontifício de São João Damasceno que, neste ano, no dia da Festa do vosso patrono celeste, celebrareis o 60º aniversário do Instituto, criado pelo Papa Pio XII. Hoje agradecemos a Deus pelas numerosas graças que estes anos vos trouxeram.

Os vossos sacerdotes residentes no Instituto provêm das Igrejas sírio-malabar e sírio-malancar e, por isso, são todos filhos de São Tomé, Apóstolo, a cuja obra missionária deveis a vossa fé cristã. Sede justamente orgulhosos não só da rica herança da vossa Igreja, mas também do seu fervor apostólico, da sua energia pastoral e das suas numerosas vocações. Esta é a vitalidade cristã que trazeis convosco a Roma, enquanto, por sua vez, a Igreja de Roma vos oferece os seus dons. Podeis, assim, aliar a um sentido mais profundo da missão especial do Sucessor do Apóstolo Pedro, o primeiro servidor da unidade de todos os fiéis de Cristo. Podeis aprender mais acerca do significado da pertença à Igreja universal e acerca da alegria e gratidão que ela suscita no coração dos cristãos.

Caros irmãos Bispos, queridos amigos em Cristo!

no decurso das vossas celebrações jubilares, que as palavras do salmista ecoem em cada um de vós: "Vede como é bom, como é agradável os irmãos viverem unidos!" (
Ps 132,1). Que a Mãe Santíssima de Deus, através da qual a luz iluminou a terra, vos guie na vossa peregrinação!
Como penhor de graça e de paz no Seu divino filho, Jesus Cristo nosso Senhor, concedo-vos do coração a minha Bênção Apostólica.




AOS PEREGRINOS JUBILARES DO


PATRIARCADO DE ANTIOQUIA DOS SÍRIOS


23 de Novembro de 2000

Beatitude
413 Caros Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos peregrinos

1. É-me grato acolher-vos e dar-vos as boas-vindas. Saúdo, em primeiro lugar, Sua Beatitude Inácio Moussa I, Patriarca de Antioquia dos Sírios, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, e todos os fiéis que os acompanham.

Desde as origens do cristianismo, os Apóstolos Pedro e Paulo estiveram intimamente ligados a Antioquia. Por outro lado, "em Antioquia, pela primeira vez, os discípulos foram chamados cristãos" (
Ac 11,26). Como não recordar a figura de Santo Inácio, Bispo de Antioquia, que sofreu o martírio em Roma e que, na sua Carta aos Romanos, afirmou que a Igreja de Roma presidia à caridade? Ele preocupou-se também pela unidade da Igreja, convidando os fiéis a formarem um só coração e um só corpo à volta de Cristo (cf. Carta aos Magnésios, 1, 6-7; Carta aos Ep 4). Portanto, sinto-me feliz por vos acolher ao realizardes a vossa peregrinação jubilar.

2. A Igreja de Antioquia tem uma veneração particular pelo seu santo Bispo Inácio, que faz com que todos os Patriarcas tenham este nome como primeiro título patriarcal, manifestando assim a própria adesão à Sé de Pedro e desejando seguir o exemplo do seu ilustre predecessor.

Uma peregrinação jubilar é uma ocasião para revigorar o próprio amor por Cristo, o único Salvador, e pela Igreja. Então, convido-vos a haurir dos sacramentos, sobretudo da Penitência e da Liturgia divina, "ápice" e "fonte" da vida cristã (cf. Const. Sacrosanctum concilium, SC 10), a força espiritual para serdes fiéis ao ensinamento dos Apóstolos e continuardes a ser testemunhas da Boa Nova, através da vossa palavra e de uma vida quotidiana conforme a Cristo. Com efeito, quando recebemos o seu Corpo, o Senhor conduz-nos à intimidade da relação trinitária, a fim de vivermos do amor que Ele nos comunica graças à força do Espírito Santo.

Confio-vos à intercessão da Mãe de Deus, a Théotokos, a fim de que sejais dóceis como Ela à Palavra do Senhor e vos coloqueis constantemente a caminho para servir os vossos irmãos, pois dedicar-se a Deus e aos homens é o único serviço da caridade. Ao voltardes para o vosso país, dizei aos irmãos cristãos das vossas dioceses que estou próximo deles com a oração e os encorajo, consciente de que às vezes devem enfrentar provações difíceis. A esperança de Cristo esteja no coração de cada um! A todos concedo uma afectuosa Bênção apostólica.




POR OCASIÃO DA ASSINATURA


DO ACORDO ENTRE A


SANTA SÉ E A REPÚBLICA ESLOVACA


24 de Novembro de 2000

Ilustres Senhores, Gentis Senhoras

Tenho a alegria de poder acolher-vos no termo da solene assinatura do acordo-base entre a Santa Sé e a República Eslovaca sobre algumas matérias relativas às relações entre a Igreja e o Estado.

Dirijo a minha cordial e deferente saudação a Vossa Excelência, Senhor Primeiro-Ministro, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu também em nome do Presidente da República eslovaca. Saúdo também o Senhor Vive-Presidente do Conselho Nacional, o Senhor Ministro para os Negócios Estrangeiros e as outras Autoridades da Delegação. A minha saudação estende-se também a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, ao Núncio Apostólico, aos Bispos presentes, assim como aos outros componentes do séquito e aos representantes da imprensa e das comunicações sociais.

414 O momento que vivemos reveste uma notável importância para a posição jurídica da Igreja e das suas instituições em relação ao Estado. Com o novo Acordo internacional é, de facto, garantido à Igreja o livre exercício da sua missão, em particular no que concerne ao culto, ao governo pastoral, ao ensino e aos outros aspectos da vida eclesial.

Estou convicto de que a nova atmosfera criada pelo Acordo favorecerá um sempre melhor entendimento entre as Autoridades do Estado e os Pastores da Igreja, em vantagem do bem comum da Nação.

Como não ver, por exemplo, a importância de um entendimento na formação dos jovens que representam o futuro da Igreja e da sociedade? Nem se deve esquecer a incidência que sobre o autêntico progresso da sociedade exerce a salvaguarda do património cultural, no qual tão grande parte têm os valores religiosos, que constituem o fundamento sobre o qual se desenvolveu a rica tradição do povo eslovaco.

Senhor Primeiro-Ministro, ao confiar-lhe a tarefa de transmitir a minha deferente e cordial saudação ao Senhor Presidente da República eslovaca, asseguro uma especial oração pelo amado povo eslovaco, sobre o qual invoco abundantes favores de Deus. Confio todos os fiéis à protecção de Maria, Nossa Senhora das Dores, venerada com particular devoção na Basílica de Sastin.

Acompanho estes meus sentimentos e votos com uma especial Bênção, penhor do meu afecto e da minha constante recordação.






AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO PROMOVIDO


PELA UNIÃO INTERNACIONAL DOS JURISTAS CATÓLICOS


24 de Novembro de 2000


Senhor Presidente
Estimados Amigos

1. Estou feliz por vos receber, membros da União internacional dos Juristas católicos, no momento em que realizais o vosso jubileu e vos reunis em assembleia plenária: agradeço ao vosso Presidente, Sua Ex.cia o Sr. Joël-Benoît d'Onorio.

Alegro-me pelo facto de a União internacional dos Juristas católicos pôr em contacto Juristas católicos do mundo inteiro, relacionados com realidades não só políticas mas também tradicionais e históricas muito diferentes: desta forma, ela corresponde à sua vocação profunda e recorda a característica universal do direito. Não é por acaso que a vossa revista tem o significativo título de Juristas do mundo inteiro. A característica católica não é unicamente um sinal de separação e de fechamento mas, pelo contrário, um distintivo de abertura e uma manifestação do serviço, que os juristas desejam prestar à comunidade humana na sua totalidade.

2. É preciso reconhecer que o perigo do particularismo incide sobre o direito. Se, por um lado, o particularismo age legitimamente a fim de salvaguardar o génio específico de cada povo e cultura, por outro, com muita frequência, na medida em que se perde de vista a unidade fundamental do génio humano, ele dá origem não somente a separações mas também a situações de fractura e de conflitos injustificados. Não há dúvida que a própria abordagem do estudo e da teoria do direito pode ser diferenciada de maneira legítima, apesar de a grande tradição científica do direito romano, à qual a Igreja católica se sentiu extremamente sensível ao longo da sua história, ter deixado uma marca à qual nenhum jurista, independentemente da escola a que pertence, pode ficar insensível. Mas antes de qualquer distinção entre os sistemas, as escolas e as tradições jurídicas, impõe-se um princípio de unidade. O direito surge de uma profunda exigência humana, presente em todos os homens e que não pode ser alheio ou marginal a nenhum deles: trata-se da exigência de justiça que é a realização de uma ordem equilibrada das relações interpessoais e sociais, aptas para garantir que a cada um seja dado tudo aquilo a que tem direito e não se exclua ninguém de quanto lhe cabe.

415 3. O antigo e sempre inigualável princípio de justiça "unicuique suum" supõe que, em primeiro lugar, cada homem tenha aquilo que lhe pertence como próprio e ao que não poderia renunciar: reconhecer o bem de cada um e promovê-lo é um dever específico para todos os homens. A ordem da justiça não é estática mas dinâmica, precisamente porque também a vida dos indivíduos e das comunidades é dinâmica; como dizia S. Boaventura, não uma ordo factus mas uma ordo factivus, a que requer o exercício contínuo e apaixonado da sabedoria, que os Latinos chamavam iurisprudentia, sabedoria que pode empenhar todas as energias da pessoa e cujo exercício constitui uma das práticas virtuosas mais elevadas do homem. A possibilidade de dar o que é devido não só ao parente, ao amigo, ao concidadão, ao correligionário, mas também a todos os seres humanos, simplesmente porque são pessoas e porque a justiça o exige, faz parte da honra do direito e dos juristas. Se existe uma manifestação da unidade do género humano e da igualdade entre todos os seres humanos, esta manifestação é justamente dada pelo direito, que não pode excluir ninguém do seu horizonte, sob pena de alterar a sua identidade específica.

Nesta perspectiva, os esforços da comunidade internacional desde há alguns decénios para proclamar, defender e promover os direitos humanos fundamentais constituem a melhor forma para o direito realizar a sua vocação profunda. Eis por que os juristas se devem sentir sempre empenhados em primeira linha na defesa dos direitos do homem porque, através deles, é defendida a própria identidade da pessoa humana.

4. O nosso mundo precisa de homens e mulheres que, com coragem, se oponham de maneira pública às inúmeras violações dos direitos, que infelizmente continuam a enganar as pessoas e a humanidade. Por sua vez, os juristas são chamados e esta é uma das tarefas da União internacional dos Juristas católicos a denunciar todas as situações em que não é reconhecida a dignidade da pessoa ou as situações que, embora pareçam agir em sua defesa, na realidade a ofendem profundamente. Hoje, com muita frequência, não é reconhecido à liberdade de pensamento e à liberdade de religião o estatuto jurídico dos direitos fundamentais que lhes corresponde; em numerosas partes do mundo, até mesmo em nosso redor, os direitos das mulheres e das crianças são espezinhados injustificadamente. Vêem-se cada vez mais casos em que o legislador e o magistrado perdem a consciência dos valores jurídico e social específicos da família, e outros em que se demonstram dispostos a pôr no mesmo plano legal outras formas de vida comum, que geram numerosas confusões no âmbito das relações conjugais, familiares e sociais, negando de certa forma o valor do empenho específico de um homem e de uma mulher, e o valor social fundador de um empenho como esse.

Para um grande número dos nossos contemporâneos, o direito à vida, direito primordial e absoluto que não depende do direito positivo mas do direito natural e da dignidade de todos os homens, não é reconhecido ou considerado devidamente, como se se tratasse de um direito disponível e não fundamental; basta pensar no reconhecimento jurídico do aborto, que suprime um ser humano frágil na sua vida pré-natal, em nome da autonomia de decisão do mais forte sobre o mais débil, e na insistência com que hoje alguns procuram fazer reconhecer um pretendido direito à eutanásia, um direito de vida e de morte, para si mesmos e para o próximo. Existem mesmo casos em que o magistrado e o legislador tomam as decisões independentemente de qualquer valor moral, como se o direito positivo pudesse ser por ele mesmo o próprio fundamento de si mesmo e dispensar os valores transcendentes. Um direito que se afasta dos fundamentos antropológicos e morais traz em si numerosos perigos, porque submete as decisões ao livre arbítrio das pessoas que o promulgam, sem ter em consideração a insigne dignidade do próximo.

Para o mundo jurídico, é importante dar continuidade a uma abordagem hermenêutica e recordar constantemente os fundamentos do direito à memória e à consciência de todos, legisladores, magistrados, simples cidadãos, pois o que está em questão não é apenas o bem de um determinado indivíduo ou comunidade humana, mas o bem comum, que transcende a totalidade dos bens particulares.

5. Por conseguinte, o âmbito de acção é vasto e, ao mesmo tempo, repleto de insídias. Por sua vez, os juristas católicos não são depositários de uma forma particular do saber: a sua identidade católica e a fé que os anima não lhes proporcionam conhecimentos específicos dos quais seriam excluídos aqueles que não são católicos. O que os juristas católicos e quantos partilham a mesma fé possuem é a consciência de que o seu trabalho apaixonado em favor da justiça, da igualdade e do bem comum se inscreve no projecto de Deus, que convida todos os homens a reconhecerem-se como irmãos, filhos de um Pai único e misericordioso, que deu à humanidade a missão de defender todos os indivíduos, sobretudo os mais débeis, e construir a sociedade terrestre em conformidade com as exigências evangélicas. O restabelecimento da fraternidade universal não pode ser apenas o resultado dos esforços dos juristas, mas o contributo deles para a realização desta tarefa é específico e indispensável. Ele faz parte da sua responsabilidade e missão.

É neste espírito de serviço aos vossos irmãos que cumpris a vossa peregrinação jubilar. Oxalá o Espírito Santo vos assista na vossa tarefa! Confio-vos à intercessão da Virgem Maria e de S. Isidoro de Sevilha, que foi um eminente jurista, e concedo-vos de coração a Bênção apostólica, extensiva às vossas famílias e a todos os membros da vossa União internacional.



DISCURSO AOS PEREGRINOS VINDOS


PARA O JUBILEU DO ANO SANTO


Sábado, 25 de Novembro de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Saúdo-vos com afecto, a todos vós, vindos para a celebração jubilar junto do túmulo de S. Pedro, nesta vigília da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Segundo as imagens do Apocalipse, Cristo é "o Alfa e o Omega, o Primeiro e o Último, o princípio e o fim" (Ap 22,13). Verdadeiramente "Rei do Universo", Ele governa tudo e tudo renova para poder, no fim, "entregar" o mundo ao Pai, "para que Deus seja tudo em todos" (1Co 15,28). Vindes hoje, caríssimos, confiar-Lhe novamente as vossas vidas. Aplicai-vos para que a sua realeza se manifeste no vosso esforço de viver as realidades do mundo, transfigurando-as com o amor e o louvor de Deus.
Saúdo cordialmente agora o Cardeal Vigário, Camilo Ruini, que celebrou a Eucaristia e agradeço-lhe pela homenagem que, em nome de todos, me dirigiu. Juntamente com ele, saúdo os Bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas aqui presentes.

416 2. O meu pensamento vai, depois, para vós, que realizais a peregrinação dos funcionários de vários órgãos constitucionais da República italiana: a Presidência da República, o Conselho de Ministros, o Senado da República, a Câmara dos Deputados e o Tribunal de Contas. A todos saúdo cordialmente.

Recentemente, no Jubileu dos Governantes, dos Parlamentares e dos Políticos, tive a ocasião de exaltar a nobreza da política, confirmando a exigência de que ela seja vivida com um alento espiritual, marcado pela competência e a moralidade. Hoje, estou contente por me dirigir a vós, que ajudais o trabalho dos políticos e dos governantes. Com o vosso serviço permanente no interior das Instituições, sois chamados a garantir a sua continuidade, tom profissional e elevação moral.

3. O vosso trabalho, na realidade, vai para além dos vossos simples ofícios, contribuindo para o funcionamento global de um aparato institucional que é de primordial relevância para o bem comum. Para isto aponta, antes de tudo, o serviço prestado à unidade da Nação pela Presidência da República e o do governo desempenhado pela Presidência do Conselho de Ministros. De não menor significado é o papel do Senado da República e da Câmara dos Deputados para o desempenho da função legislativa, assim como o papel de garantia desenvolvido pela Corte Constitucional em referência à conformidade das leis com a Carta magna da República, e o controlo sobre a gestão da finança pública levado a cabo pelo Tribunal de Contas.

Trabalhando em sectores tão prestigiosos, de certo modo sois pessoas privilegiadas. E, todavia, é fácil compreender que também no vosso serviço profissional não faltam dificuldades e desafios. No vosso, como em todos os outros sectores humanos, a realidade quotidiana está sempre distante do ideal e, por vezes, também vós, confrontados pelo desafio, sois tentados a abandonar-vos à "rotina". Não cedais a esta tentação! Dai sempre alma mesmo ao trabalho mais burocrático. Olhai sempre as pessoas, os seus problemas e sofrimentos, mesmo quando deveis ocupar-vos delas só através de papéis e números, artigos de código e áridos regulamentos. Fazei do vosso trabalho um espaço de verdadeira humanidade e uma ocasião de aperfeiçoamento moral. A um discípulo de Cristo nunca é consentido acomodar-se na mediocridade: cada trabalho pode ser caminho de santidade.

4. Entre as virtudes que devem brilhar em vós, está, sem dúvida, a lealdade nas confrontações da Instituição, que sois chamados a servir com pleno respeito, com o primado de Deus: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (cfr. Mc
Mc 12,17).

Este luminoso princípio evangélico orientou a Igreja desde as origens, levando-a a nutrir um grande respeito pelas Instituições civis. Nisso e nos homens que assumem a sua responsabilidade, temos de ver um sinal da presença de Deus que guia os acontecimentos da história. Omnis potestas a Deo (Rm 13,1): todo o poder vem de Deus. Funda-se nisto o dever do respeito que se deve à lei e aos que exercem a autoridade.

Tudo, porém, está sempre sujeito à soberania de Deus, a ponto de que em nenhum caso se pode tornar obrigatório o que vai contra a sua lei. O cristão deve ser testemunha firme deste princípio, indo, se e quando necessário, "contra a corrente". Encontrará, então, apoio na força da oração. Como a primeira comunidade de Roma, nos princípios do século II, os crentes invocam o auxílio divino para quantos estão investidos de responsabilidade pública, para que o Senhor dirija as suas decisões segundo o que é bom e agradável a seus olhos (cfr. I Carta de Clemente, 61).

5. Saúdo-vos, depois, a vós, queridos trabalhadores do mundo dos transportes, funcionários da ATAC e de outras empresas do Lácio e de toda a Itália. A vossa realidade é vasta, com uma densa rede de serviços que em cada dia vos são confiados em favor dos cidadãos. Neste ano do Grande Jubileu tornastes-vos particularmente beneméritos pelo acolhimento de numerosos peregrinos: agradeço-vos de coração.

O transporte público, nas actuais condições de cada vez mais intensos intercâmbios das pessoas e de um trânsito muitas vezes caótico, é chamado a desenvolver um papel de crescente relevância. É uma exigência geral, do ponto de vista ecológico e humano, garantir uma "qualidade de vida" melhor na nossa Cidade. É preciso que as nossas paisagens não se tornem cada vez mais degradadas ou poluídas, e que seja salvaguardada a dimensão humana da Cidade. E não depende talvez, tudo isto, também do modo como o transporte é organizado? E não é necessário demonstrar quão importante é isto para Roma, para a sua função conjunta de capital da Itália e de centro da cristandade.

Com efeito, os peregrinos, como os turistas, que chegam de longe, antes de mergulharem na história de Roma, na sua arte, no seu significado religioso, antes de mais, é convosco que se encontram. A vossa disponibilidade, cordialidade e eficiência é como um cartão de apresentação da "Cidade eterna".

De certo, quem não imagina as dificuldades que podem tornar difícil o vosso serviço? Esforçai-vos por o desempenhar, apesar de tudo, como um verdadeiro acto de amor. Empenhai-vos neste particular, abrindo o coração à graça jubilar que Cristo hoje vos dá. Sede para as pessoas que transportais outros tantos "cristóforos", portadores de Cristo, que quer ser encontrado e tratado com amor em cada pessoa, especialmente nos mais pobres (cfr Mt 25,35).

417 6. É-me grato saudar agora o grupo de associados do círculo da agência ANSA. É conhecido o papel da vossa agência no panorama da informação. A vossa presença leva-me a invocar o Senhor para que ilumine quantos trabalham neste sector e os ajude a desenvolver do melhor modo o seu serviço, hoje tornado particularmente comprometedor e cheio de responsabilidade, pelas condições gerais do sistema dos mass media e a influência, não raro exorbitante, exercida por poucos e grandes detentores do poder informativo.

Ao mesmo tempo que a vós, dou as minhas boas-vindas a numerosos outros grupos presentes: grupos paroquiais, escolares e associativos de diversos tipos e proveniência. Desejo-vos, caríssimos, que vivais este Jubileu como um momento de conversão e de renovação interior. Cristo pede-vos que adirais com mais força ao seu Evangelho e que o mostreis por um testemunho coerente. Confiai-vos a Ele! Frente às "sereias" sedutoras de uma cultura que, quando se afasta d'Ele, promete em vão a felicidade verdadeira e duradoira, dizei-lhe com a convicção do apóstolo Pedro: "a quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!" (
Jn 6,68).

Maria, Mãe da Igreja, vos obtenha que Cristo, Rei do Universo, seja o Rei dos nossos corações, das nossas famílias, da nossa comunidade. Abençoo-vos a todos, em nome do Senhor!






Discursos João Paulo II 2000 409