Discursos João Paulo II 2000 448

AOS MEMBROS DA


"FÉDÉRATION INTERNATIONALE


DE FOOTBALL ASSOCIATION"


FIFA


Segunda-feira, 11 de dezembro de 2000




Senhor Presidente
449 Senhoras e Senhores

É com imensa alegria que vos recebo hoje de manhã, por ocasião da Reunião do Comité Executivo da FIFA. Saúdo o o Senhor Presidente Joseph Sepp Blatter e os seus Vice-Presidentes, o Secretário-Geral Senhor Michel Zen-Ruffinen, os Presidentes das Confederações internacionais e todos vós que sois responsáveis pela supervisão do mundo do futebol, uma tarefa verdadeiramente universal.

Com efeito, o futebol é um desporto mundial, e hoje isto é mais evidente do que nunca, se se considera o elevadíssimo nível de interesse popular e dos meios de comunicação que este desporto suscita. A vossa responsabilidade é global pois a vossa Associação conta com mais de duzentos países e cento e vinte milhões de jogadores. Tendes um poder imenso, que deve ser utilizado para o bem da família humana.

Sem dúvida, sois administradores, mas sois também educadores, dado que o desporto pode efectivamente inculcar muitos valores elevados, como a lealdade, a amizade e o espírito de grupo. É muito importante ter isto em mente, numa época em que também o futebol se tornou, por assim dizer, uma indústria planetária. É verdade que o bom êxito financeiro do futebol pode ajudar a promover iniciativas novas e dignas de apreço, como o "Projecto caritativo" da FIFA. Mas pode contribuir também para uma cultura de egoísmo e de avidez. Eis por que se hão-de sublinhar os valores mais nobres do desporto, e transmiti-los através dos organismos representados na vossa Federação.

Como desporto compartilhado por pessoas de diferentes tradições étnicas, raciais, económicas e sociais, o futebol constitui um excelente instrumento de promoção da solidariedade, tão necessária num mundo profundamente caracterizado por tensões étnicas e raciais. A Campanha "Fair Play" da FIFA é um sinal positivo de que desejais realizar a vossa parte, recorrendo ao desporto para edificar um clima de respeito e compreensão entre os povos.

O desporto é educativo, porque transforma os impulsos humanos, mesmo aqueles que são potencialmente negativos, em propósitos positivos. Os jovens aprendem a competir de maneira sadia, sem conflitos. Eles aprendem que podem entrar num campo onde o seu adversário não é um inimigo. Por este motivo, formulo os votos mais sentidos a fim de que a FIFA continue a combater a todos os níveis o problema da violência, que muito prejudica o desporto.

Com efeito, apesar de toda a sua importância como formação para os grandes desafios da vida, o futebol permanece um jogo. Trata-se de uma forma de brincadeira, simples e ao mesmo tempo complexa, em que as pessoas se divertem com as prodigiosas possibilidades da vida humana física, social e espiritual. Seria triste se se perdessem o espírito do jogo e o sentido da alegria na competição correcta. Vós sois as sentinelas do verdadeiro espírito do jogo. Propusestes-vos como lema as palavras "For the Good of the Game" (Para o bem do jogo). Sem dúvida, o bem do jogo pode ser também uma parte importante do bem do mundo! Como penhor de que o Omnipotente está convosco neste empreendimento, invoco sobre vós e todos aqueles que representais os dons divinos da paz e do júbilo.

Deus abençoe todos vós!



MENSAGEM DO SANTO PADRE


POR OCASIÃO DO


75° ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO DO


PONTIFÍCIO INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA CRISTÃ






Ao Venerado Irmão D. ZENON GROCHOLEWSKI
Grão-Chanceler do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã

1. A feliz celebração do 75º aniversário de fundação do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã oferece-me a grata oportunidade de enviar uma cordial saudação a Vossa Excelência, ao Corpo Docente, aos Colaboradores e aos Estudantes. Desejo outrossim manifestar o profundo apreço pela preciosa actividade cultural levada a cabo pelo Instituto nas passadas décadas e ainda hoje fértil de estudos, encontros, debates e publicações.

450 Hoje comemorais de forma solene o Motu proprio "I primitivi cemeteri", com que o Papa Pio XI, de venerada memória, instituía este Centro de investigação e de formação. Desejo transmitir a todos vós a certeza da minha proximidade espiritual e do mais caloroso encorajamento a continuar o serviço que desempenhais em favor de quantos têm a peito o conhecimento e o estudo das ricas memórias históricas da comunidade cristã.

A atenciosa solicitude com que o meu venerado predecessor Pio XI quis, a exemplo de muitos outros Papas, promover a conservação e o aprofundamento da vastíssima herança arqueológica da Igreja de Roma, insere-se muito bem na tarefa que os sagrados Pastores têm, de reunir com o máximo cuidado os testemunhos de fé e as riquezas de arte, de liturgia e de teologia que brotam do grande rio da Revelação, como inumeráveis córregos ao longo da história do Cristianismo. Esta tarefa adquire um valor especial no início do novo milénio. A celebração do grande Jubileu da encarnação do Filho de Deus imprimiu um renovado vigor à comunidade dos fiéis, decidida a continuar com renovada confiança a sua obra de evangelização em favor de toda a humanidade.

2. "Sanguis martyrum, semen christianorum", afirmava Tertualiano (cf. Apol. 50, 13) para indicar que a fecundidade da adesão incondicional a Cristo contribuiu para a construção do magnífico edifício vivo que é precisamente a Igreja. Este testemunho, que se expressou também através da multiforme variedade de obras de literatura, de arquitectura e de pintura, realizadas ao longo dos séculos, é um eloquente vestígio de inúmeros "militi ignoti" da grande causa de Deus. A comunidade dos fiéis não pode deixar que se perca este rico património espiritual.

Apraz-me recordar, a este propósito, o que o meu Santo predecessor Dâmaso, cuja memória litúrgica se celebra no dia de hoje, recomendava aos seus fiéis: ele exortava-os a venerar os lugares que conservam as relíquias daqueles que "Christum per astra secuti... aetherios petiere sinus et regna piorum" (Carm. IX, PL 13, 382-383). Conhecer as herança das gerações cristãs do passado permite às gerações sucessivas manter-se fiéis ao depositum recebido, de tal forma que em todos os tempos e lugares ressoe o único Evangelho que salva e dá a vida.

A vasta actividade literária, cultural e académica, assim como a intensa obra de preservação e de conhecimento dos monumentos da Roma cristã, que o vosso benemérito Instituto realiza há já 75 anos, ofereceram contributos preciosos à Igreja, em campos tanto litúrgico, patrístico, hagiográfico, canónico e teológico, como no sector da arquitectura sagrada.

3. Se a principal finalidade do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã é o estudo dos vestígios da vida eclesial ao longo dos séculos, não se pode esquecer o influxo benéfico que ele exerceu na investigação dos sinais deixados pelas outras culturas antigas, que contribuíram para o nascimento e o desenvolvimento das formas expressivas do cristianismo dos primórdios. Assim, a actividade académica desta Instituição entrou em estreito diálogo científico com quantos estudam as civilizações do primeiro milénio cristão, contribuindo com ulteriores conhecimentos e recebendo os seus ensinamentos preciosos, numa relação de osmose cordial e fecunda. A minha ardente esperança é de que se continue a viver no clima de confronto sereno das passadas décadas e que isto contribua para fazer desenvolver uma atitude de sincera investigação da verdade. Com efeito, é possível alcançar preciosas metas científicas e humanas, superando atitudes de superficial abordagem dos eventos e das obras que, na sua estrutura íntima, não podem deixar de trazer vestígios de paixão, ideais, erros e concepções próprios dos seus artífices. E graças à liberdade, à honestidade, à perseverança e à humildade do investigador moderno, pode pôr-se em prática uma pesquisa capaz de alcançar conhecimentos cada vez mais aprofundados de quanto a antiguidade nos legou.

4. Além dos resultados científicos, também importantes, o vosso Instituto pode inclusivamente oferecer uma profícua contribuição para o conhecimento e o aprofundamento da fé. Com efeito, o estudo dos "vestígios do Povo de Deus" facilita a reflexão sobre os conteúdos da sua fé e sobre o animado processo da sua inculturação no arco de muitos séculos. Daqui, é óbvio que a Igreja constitui verdadeiramente um elevado sinal entre as nações, formada por aqueles "que o Senhor abençoou" (
Is 61,9).

Formulo votos cordiais, a fim de que a oportuna celebração da data aniversária do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, válido instrumento académico que ajuda as obras da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, seja para as jovens gerações um motivo de renovado interesse para o estudo da nobre tradição que muitos cristãos nos deixaram como testamento da sua adesão a Cristo.

Enquanto transmito votos de bem aos promotores, relatores e participantes neste significativo evento, confio cada um a Maria, Mãe da Igreja, e de coração concedo a Vossa Excelência, venerado Irmão, aos Prelados, aos estudiosos e a quantos tomarem parte nesta manifestação comemorativa, uma especial Bênção apostólica, como penhor da minha benevolência constante.

Vaticano, 11 de Dezembro de 2000, solenidade litúrgica de São Dâmaso, Papa.



DISCURSO DO SANTO PADRE A SETE NOVOS EMBAIXADORES CREDENCIADOS JUNTO DA SANTA SÉ


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000

Excelências

451 1. É com prazer que vos dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais mediante as quais sois acreditados como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos respectivos países: Nigéria, Malavi, Quénia, Chipre, Índia, Eritreia e Chade. Agradeço as saudações que me comunicais da parte dos Chefes de Estado e de Governo dos vossos respectivos países, e peço-vos que transmitais os meus bons votos e a certeza das minhas orações pela paz e a prosperidade dos vossos povos.

Estamos a aproximar-nos do termo do Ano do Grande Jubileu, durante o qual tive o desejo de despertar as consciências dos cristãos e de todas as pessoas de boa vontade para a importância de começar um novo milénio com um vigoroso empenhamento na edificação de um mundo transformado, um mundo mais solidamente assente sobre os valores humanos e morais fundamentais. Formulamos votos para que os responsáveis pelo destino dos povos trabalhem incansavelmente em benefício de melhores relações entre os indivíduos, as regiões e os países, com especial atenção às necessidades das famílias, sociedades e culturas mais frágeis. Este é o único modo de fundar uma sociedade caracterizada pela solidariedade e pela aspiração a viver juntos em harmonia.

2. A este propósito, desejo exortar os Chefes de Governo, as autoridades civis e religiosas, assim como todas as pessoas empenhadas no campo da educação a serem edificadores de uma genuína cultura da paz. Como se pôde testificar entre os jovens que participaram no Dia Mundial da Juventude em Roma, realizado no mês de Agosto deste ano, os jovens desejam ver especialmente o dia em que a paz reinará sobre a terra. Não podemos desiludi-los. A nossa responsabilidade consiste em não lhes deixarmos um mundo em que os direitos humanos elementares são com demasiada frequência espezinhados e as tensões não raro se transformam em conflito aberto. Um passo essencial nesta direcção é assegurar que todas as crianças e jovens possam receber o ensino escolar de que têm necessidade para amadurecerem e se tornarem cidadãos responsáveis. Esta educação ajudá-los-á a reconhecer e a respeitar as leis, cujo fundamento reside nos princípios da lei natural, e a crescer em atitude de abertura ao próximo, inclusive àqueles que são muito diferentes nas próprias crenças e estilos de vida.

Ao aproximar-se o ano novo, a paz é uma questão de urgente solicitude internacional. A este respeito, é oportuno reflectir sobre os esforços despendidos pelas instituições internacionais e supranacionais, com vista a encontrar maneiras de organizar as realidades económicas e sociais, de promover o diálogo e o acordo, de resolver conflitos, de maneira especial as lutas que já perduram há muito tempo, causando miséria, pobreza, enfermidades e deslocamento de pessoas. Todos nós podemos alegrar-nos com o recente acordo entre os Governos da Eritreia e da Etiópia, persuadidos de que ele há-de abrir a porta para um novo período de tranquilidade e de alívio nessa problemática região da África.

3. A vossa experiência ensina-vos o significado da diplomacia como instrumento para a superação das crises que atingem inúmeros países no mundo inteiro, e a importância da diplomacia de proximidade em favor das negociações locais. A diplomacia contribui para os processos democráticos que tornam os cidadãos capazes de desempenhar uma parte concreta no desenvolvimento dos seus próprios países. Ela ajuda as partes interessadas a dar os passos que conduzem ao progresso nas negociações, enquanto oferece nova esperança às pessoas que entretanto buscam melhores padrões de vida para si mesmas e para os seus filhos. Mediante o sábio uso das habilidades e do compromisso da diplomacia, as apirações dos indivíduos concretizam-se e torna-se-lhes possível levar uma vida plenamente pessoal e familiar, e assumir as suas responsabilidades na sociedade. Neste sentido, cada um de vós tem uma magnífica oportunidade de ser um autêntico construtor de justiça, de paz e de harmonia no mundo.

Ao dardes início às vossas tarefas como representantes diplomáticos dos vossos países junto da Santa Sé, apresento-vos os meus cordiais bons votos. Peço ao Todo-Poderoso que abençoe cada um de vós e as vossas famílias, bem como os vossos colegas e os povos dos países que vós representais. Oxalá os compromissos que estais a assumir dêem fruto para o benefício de todos.




AO NOVO EMBAIXADOR DA NIGÉRIA


JUNTO À SANTA SÉ


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000





Senhor Embaixador Samuel A. Otuyelu

No momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais através das quais é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federal da Nigéria junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus bons votos e dou-lhe as boas-vindas ao Vaticano. Esta ocasião, assim como o encontro cordial que há três meses tive com o seu Presidente, Sua Excelência o Senhor Olusegun Obasanjo, evocam as memórias da minha Visita pastoral ao seu país em 1998: o povo nigeriano é-me querido e está sempre próximo do meu coração. Peço-lhe que transmita ao Senhor Presidente Obasanjo as minhas saudações e a certeza das minhas orações pela sua nação, de maneira especial num período em que se têm registado tensões e novos focos de violência em várias partes do País.

Efectivamente, a República Federal da Nigéria está a enfrentar um momento muito delicado e até mesmo crítico na sua história. A transição da lei militar para um governo eleito democraticamente teve lugar há mais de um ano; contudo, como Vossa Excelência observou, os desafios permanecem arrojados. Os indivíduos e os Estados continuam a enfrentar diversos problemas, tanto antigos como modernos: rivalidades étnicas e antagonismos religiosos, terminando em confrontos violentos que já ceifaram muitas vidas, representam um dos principais obstáculos para os duradouros desenvolvimento e bem-estar da Nigéria; a corrupção, às vezes extrema, aos vários níveis da administração pública aumenta ulteriormente as dificuldades de uma situação já por si só preocupante. Estes problemas apresentam um sério desafio ao progresso, ao longo do caminho da unidade e solidariedade nacionais, e o próprio equilíbrio social do país está em perigo.

Por conseguinte, o momento actual apresenta um pedido urgente a todos os nigerianos, a fim de que trabalhem juntos para libertar a sociedade de tudo aquilo que ofende a dignidade da pessoa humana ou viola os direitos humanos. Isto significa reconciliar as diversidades, ultrapassar os contrastes étnicos e incutir honestidade, eficácia e competência em todas as camadas da vida social. Na Nigéria do novo milénio, não deveria haver lugar para intimidação e domínio sobre os mais pobres e frágeis; para a exclusão arbitrária de indivíduos e grupos da vida política; ou para o abuso da autoridade ou do poder. De facto, a chave para a resolução dos conflitos económicos, políticos, culturais e ideológicos tanto na Nigéria como na África em geral é a justiça; e a justiça não está completa sem o compromisso na solidariedade concreta e efectiva, sem uma atitude de serviço humilde e generoso em prol do bem comum.

452 É precisamente para promover estas atitudes e ajudar as pessoas, os Estados e as nações a construírem um mundo cada vez mais unido pelos vínculos da amizade, irmandade e solidariedade que a Santa Sé está activamente presente na comunidade internacional. Com efeito, a Igreja católica é um pronto e sincero parceiro de todos os nigerianos, que lutam para obter as condições necessárias para uma sociedade mais justa e pacífica. Efectivamente, tanto a Igreja como a comunidade política, embora sejam independentes e autónomas, trabalham pelo bem-estar pessoal e social dos mesmos seres humanos. Por sua vez, a Igreja "contribui para que floresçam a justiça e a caridade dentro de cada nação e entre as nações. Pregando a verdade evangélica e iluminando todos os sectores da actividade humana com a sua doutrina e o testemunho dos cristãos, ela respeita e promove a liberdade política e a responsabilidade dos cidadãos" (Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudium et spes, GS 76).

A principal destas liberdades e responsabilidade, e a pedra miliar de todos os direitos humanos é a liberdade de religião, porque esta liberdade é um elemento insubstituível do bem dos indivíduos e da socieade em geral. Portanto, apraz-me ouvir Vossa Excelência reconfirmar o compromisso do seu governo em trabalhar pela tolerância, a coexistência pacífica e o respeito recíproco entre as diferentes tradições religiosas presentes na Nigéria. Com efeito, a liberdade dos indivíduos na busca da verdade e na correspondente profissão da própria fé religiosa deve ser especificamente salvaguardada, no contexto da estrutura jurídica da sociedade. Isto significa que a liberdade religiosa deve ser reconhecida e confirmada pela legislação civil, como direito pessoal inalienável, e há-de de ser tutelada de qualquer espécie de coerção por parte de indivíduos, grupos sociais ou qualquer poder humano (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1988, n. 1). Este direito à liberdade de religião não constitui meramente um direito entre inúmeros outros mas, pelo contrário, é um direito verdadeiramente fundamental. A sua observância é uma autêntica medida do compromisso de uma sociedade na promoção e na defesa da dignidade e dos direitos de todos os seus membros.

É este contexto de liberdade religiosa que torna os fiéis católicos na Nigéria capazes de continuar a cooperar com os seus compatriotas na edificação do bem-estar, do progresso e da paz na nação.

Um ambiente em que existe a tolerância religiosa não só faz com que todos os cidadãos se empenhem de maneira activa na vida nacional, mas também permite à Igreja dar continuidade à sua missão de serviço em favor de todos os nigerianos, independentemente da sua afiliação religiosa, de forma especial nos campos da educação, da assistência médica e dos demais serviços sociais.
Senhor Embaixador, ao começar a sua missão, asseguro-lhe toda a cooperação e assistência no cumprimento dos seus deveres. Estou persuadido de que os seus esforços servirão para reforçar ainda mais as relações de amizade que já existem entre a Santa Sé e a República Federal da Nigéria. Sobre Vossa Excelência e todo o povo do seu País, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DO MALAVI


JUNTO À SANTA SÉ


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000


Senhor Embaixador Silas Samuel Ncozana

É com enorme prazer que lhe dou as boas-vindas hoje e aceito as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Malavi junto da Santa Sé. Estou grato pelos bons votos que me comunicou da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Bakili Muluzi, e peço que lhe transmita a minha cordial saudação e a certeza das minhas orações ao Deus Omnipotente pela paz e o bem-estar da nação.

Vossa Excelência observou que, para o Malavi, este é um tempo tanto de promessas como de ameaças. Com a chegada da democracia, a sociedade foi notavelmente beneficiada em muitos sectores, e este é um motivo de satisfação. Entretanto, todos os habitantes do Malavi reconhecem a necessidade de fortalecer ainda mais as estruturas da vida democrática, que são sempre mais frágeis do que parecem. Enquanto o verdadeiro sentido de participação e de responsabilidade mútua pelo bem comum não criar raízes profundas na vida nacional, existirá sempre a ameaça da divisão e da violência, uma vez que as pessoas são tentadas a escolher a força, e não o diálogo, como instrumento de organização da comunidade política. As recentes eleições a que Vossa Excelência fez referência constituem um sinal esperançoso de que o Malavi está a caminhar na direcção justa, rumo ao desenvolvimento integral de todos os sectores da sociedade. Seguir este caminho não significa adoptar formas de organização social sem qualquer critério, as quais podem ser apropriadas em outras sociedades, mas inoportunas no Malavi. O seu povo deve forjar uma vida democrática que seja verdadeiramente africana e respeite o génio da cultura do Malavi. Contudo, existem valores comuns entre todas as sociedades e cada uma das democracias consolidadas; e serão elas que indicarão o caminho para o futuro, pelo qual agora o povo do Malavi está a lutar.

Vossa Excelência mencionou os arrojados problemas que o seu país deve enfrentar, e a Santa Sé compartilha o seu sentido de solicitude. Algumas das questões não são novas. Desde há muito tempo o Malavi tem sido vítima de uma pobreza endémica, que cria uma situação de dependência dos países doadores. As causas são tanto internas como externas, e quaisquer tentativas de resolver o problema devem ser nacionais e ao mesmo tempo internacionais.

A educação é claramente um factor vital num país em vias de desenvolvimento, dado que a ignorância e a pobreza sempre conspiram para debelar a dignidade humana e o tecido da sociedade. Toda a educação se inspira numa particular compreensão da vida e da condição humana. Neste sentido, a educação religiosa desempenha um papel singular no processo educativo, uma vez que nunca é a mera transmissão de conhecimentos acerca da religião em geral, mas atinge os recantos da consciência de cada um e diz respeito ao direito inviolável que cada pessoa tem à liberdade neste sector básico da vida. Eis o motivo por que o Estado é obrigado a respeitar as opções que os pais fazem em relação à educação religiosa dos próprios filhos. O dever do Estado consiste em assegurar a liberdade que os seus cidadãos têm de fazer tais escolhas e não em procurar limitá-los ou controlá-los.

453 A Igreja católica sempre dedicou recursos notáveis ao campo da educação, e também no caso do Malavi, como Vossa Excelência quis gentilmente reconhecer. A educação que a Igreja promove tem em vista o desenvolvimento integral da pessoa humana. O seu objectivo é cultivar a inteligência e desenvolver a capacidade de um juízo recto, ajudar os jovens a assimilar a sua herança cultural e formar um sentido dos valores morais e éticos, na disponibilidade às suas futuras responsabilidades profissionais, cívicas, familiares e nacionais (cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Gravissimum educationis, GE 5). A educação integral procura desenvolver cada um dos aspectos do indivíduo físico, intelectual, emocional, moral e espiritual. Pois existe uma ecologia do crescimento humano que significa que, se qualquer um desdes elementos for espezinhado, todos os outros hão-de ser prejudicados. Trata-se da visão da educação, que deve inspirar os líderes do Malavi na sua luta em prol da elevação dos níveis da educação.

O Senhor Embaixador mencionou também os problemas de saúde que hoje a sua nação deve enfrentar, como por exemplo o hiv/sida, que lança uma grave sombra sobre essa terra. O mundo depende da investigação médica para oferecer uma resposta a este vírus mortal, e existem sinais de esperança nesta frente. Mas entretanto existem desafios enormes em países como o seu: ajudar os doentes; cuidar dos sobreviventes, de maneira especial dos órfãos; amadurecer a consciência geral acerca da natureza e da difusão deste problema; resistir à erosão moral que favorece a propagação desta enfermidade; evitar estilos de vida que agravam esta debilitação; revigorar a família de todas as formas possíveis, reconhecendo que ela é a unidade básica da sociedade humana e o primeiro lugar em que a virtude moral e a cultura da vida devem radicar-se. Nestas tarefas, o Malavi encontrará sempre na Igreja católica um parceiro de confiança. Como Vossa Excelência disse, a assistência médica católica faz parte da história do seu país, e não o será em menor medida no futuro. Tanto as necessidades do seu País como as exigências do Evangelho impõem este dever sobre nós.

Senhor Embaixador, estou convicto de que, ao cumprir a sua missão, as relações cordiais que já existem entre a República do Malavi e a Santa Sé serão ulteriormente revigoradas e enriquecidas. Formulo-lhe os meus melhores votos e asseguro que os departamentos da Santa Sé estarão sempre prontos a assisti-lo. Sobre Vossa Excelência e todos os cidadãos da sua amada Nação, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DO QUÉNIA


JUNTO À SANTA SÉ


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000


Senhor Embaixador Boaz Kidiga Mbaya

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais com as quais Sua Excelência o Senhor Presidente Daniel T. Arap Moi o elegeu Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Quénia junto da Santa Sé. Estou grato pelos bons votos do Senhor Presidente e peço que lhe assegure as minhas orações incessantes pelo progresso, a paz e a prosperidade do seu País.

Vossa Excelência referiu-se aos esforços que a Santa Sé tem despendido para promover a justiça e a paz no mundo, e é precisamente este compromisso que caracteriza a presença da Santa Sé no seio da comunidade internacional. Com efeito, as relações fecundas e amistosas que já existem entre nós inspiram-se na comum convicção de que a dignidade e os direitos da pessoa humana devem ser defendidos em todos os tempos e em qualquer circunstância.

Senhor Embaixador, a sua presença hoje aqui constitui um sinal da prontidão do seu Governo em trabalhar pela justiça e a paz a que os povos do Quénia e de toda a África aspiram com tanto ardor. De facto, o compromisso concreto em favor destes ideais é um pressuposto necessário para o desenvolvimento genuíno e o progresso autêntico. Assim, renovo hoje a esperança que expressei há cinco anos, enquanto me encontrava em solo queniano: oxalá cada cidadão do seu País, independentemente da religião, tradição étnica ou classe social, viva em liberdade e ajude a edificar uma sociedade assente no decidido respeito pela dignidade humana e os direitos do homem (cf. Discurso de despedida de Nairobi, 20 de Setembro de 1995, n. 2). Este é o único percurso recto para promover a justiça e o progresso, combater o subdesenvolvimento, dar esperança aos pobres e aos que sofrem, resolver os conflitos através do diálogo e criar uma solidariedade verdadeira e duradoura entre todos as camadas da sociedade.

Tanto na África como no mundo inteiro, a Igreja católica está profundamente comprometida na luta em benefício do desenvolvimento humano integral, e a Santa Sé está muito empenhada nos esforços que visam incrementar a compreensão e a harmonia entre os povos e as nações. Um elemento essencial deste empreendimento consiste em fazer com que os líderes mundiais se tornem cada vez mais conscientes das próprias responsabilidades nestas áreas e das prioridades que eles devem propor para si mesmos e para as instituições dos seus países. Uma das principais destas prioridades é o aprofundamento da compreensão dos seus direitos e responsabilidades pessoais.

Não se trata meramente de tornar acessíveis o conhecimento e a informação; mas também de incutir um perspicaz sentido de responsabilidade pelo bem comum, uma atitude que prepare para todos os sectores da sociedade o caminho rumo a uma participação esclarecida nos assuntos públicos. Esta é a alma do progresso social, a chave para o porvir, o elemento necessário para programas de desenvolvimento genuinamente eficazes.

Como se pode ver de forma muito clara através das dificuldades insolúveis e até mesmo crescentes presentes em muitas partes da África, e não menos na sua própria região continental o progresso não é um processo simples, automático e ilimitado, como se as sociedades fossem capazes de progredir infinitamente rumo a uma espécie de perfeição (cf. Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis, SRS 27). Enquanto o desenvolvimento social e político é necessário para a consecução e a manutenção da paz e a segurança nas nações e entre elas, não pode ser autenticamente alcançado sem o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. O bom governo e o desenvolvimento de cada país só pode ser o resultado da acção concertada, de modo especial no que diz respeito à defesa da dignidade humana, à protecção dos direitos humanos e à administração da justiça. Em última análise, todos os problemas básicos de justiça têm como causa principal o facto de que a pessoa não é suficientemente respeitada, considerada ou amada por aquilo que é em si. As pessoas devem aprender ou aprender de novo a olhar umas para as outras, a escutar-se de forma recíproca e a caminhar juntas (cf. Discurso ao Corpo Diplomático, 16 de Janeiro de 1993, n. 6).

454 Neste contexto, desejo expressar uma vez mais a minha esperança de que a comunidade internacional mostre uma preparação cada vez maior no momento de abordar os desequilíbrios e as injustiças que se edificam sobre as estruturas da economia global e que têm sérias repercussões para os povos da África. Uma iniciativa que procurei apresentar à opinião mundial, durante este ano do grande Jubileu, foi a redução da dívida externa de países como o de Vossa Excelência; contudo, este não pode constituir um gesto isolado. Ele deve ser acompanhado de uma reavaliação compreensiva dos modos de funcionamento da economia mundial, especialmente numa época em que as forças da globalização se estão a tornar sempre mais poderosas.

O processo de globalização traz consigo uma promessa de maiores coesão e prosperidade. Todavia, há também o perigo de agravar os desequilíbrios económicos, deixando os países em vias de desenvolvimento, como o de Vossa Excelência, ainda mais seriamente prejudicados. Senhor Embaixador, asseguro-lhe que a Santa Sé deseja continuar a fazer tudo o que for possível para convencer os governantes e as instituições mundiais de que a globalização da economia deve ser acompanhada e "humanizada" pela "globalização da solidariedade". Sem ela, é improvável que obtenhamos bom êxito na edicação de um futuro digno da humanidade.

Naturalmente, em todos estes empreendimentos os católicos do Quénia estão prontos a oferecer o próprio apoio e a contribuir para a vida e o desenvolvimento da sua Nação. Com efeito, isto faz parte da missão espiritual que foi confiada à Igreja pelo seu Fundador divino e, em fidelidade a esta missão, ela procura servir as pessoas, de forma especial os indivíduos mais necessitados. A sua fé no Evangelho de Jesus Cristo impele os cristãos a responder ao brado dos iletrados, dos enfermos, dos que sofrem e dos marginalizados. Em cooperação com os seus compatriotas, os membros da comunidade católica hão-de continuar a despender as próprias energias ao serviço do bem comum, e agradeço a Vossa Excelência o seu reconhecimento pela obra da Igreja católica no Quénia e a sua influência positiva na sociedade em geral.

Senhor Embaixador, faço extensivos a Vossa Excelência os meus bons votos pelo encargo como representante da sua missão junto da Santa Sé e garanto-lhe toda a assistência necessária no cumprimento da sua alta missão. Que Deus Omnipotente o abençoe abundantemente, bem como os seus compatriotas.





Discursos João Paulo II 2000 448