Discursos João Paulo II 2000 195


DISCURSO DE RETRIBUIÇÃO À HOMENAGEM

DOS MEMBROS DO CORPO DIPLOMÁTICO

Sexta-feira, 19 de maio de 2000



1. É com emoção e gratidão que me dirijo a vós, chefes das Missões diplomáticas acreditadas junto da Santa Sé, que viestes aqui para expressar os vossos votos por ocasião do meu 80º aniversário.

O vosso Decano, Prof. Giovanni Galassi, fez-se vosso intérprete com uma delicadeza amável que me sensibilizou profundamente; agradeço-lhe os sentimentos que me exprimiu, os quais aceito de bom grado, remetendo-os a Deus, supremo Autor da vida e de todos os outros bens.

196 Ao saudar-vos, Senhoras e Senhores Embaixadores, cumprimento também as vossas famílias e colaboradores, bem como as autoridades e as populações dos vossos países. Sabeis que eles ocupam um lugar especial no coração do Papa, graças aos intensos e constantes contactos pessoais que se vieram a estabelecer ao longo dos anos, através das audiências particulares, dos encontros comuns e das minhas numerosas viagens apostólicas.

Viestes aqui para agradecer a Deus, juntamente comigo, o dom que Ele me concedeu de uma vida longa e assim confirmar, uma vez mais, as expectativas de paz, dos valores que dão sentido à vida do homem e de compromisso do Bispo de Roma na promoção e na salvaguarda da dignidade de todas as pessoas e povos.

A vossa proximidade espiritual é-me preciosa e permite-me associar-vos à oração que elevo com o salmista, que exclamava com fervor: "Quantas maravilhas realizaste, Javé meu Deus! / Quantos projectos em meu favor! / Ninguém se compara a Ti! / Quero anunciá-los, falar deles / mas ultrapassam qualquer conta" (40 [39], 6).

2. O dom da vida! Sim, a vida é uma dádiva que brota de um acto de amor. Portanto, é com amor que se deve acolhê-la, respeitá-la, cultivá-la e promovê-la de todas as maneiras, defendendo-a quando é ameaçada. Os meus 80 anos transcorreram num século que conheceu inauditos atentados contra a vida, mas ao mesmo tempo testemunhos sublimes em seu favor. Ao longo do meu inteiro Pontificado, encorajado pelas palavras do Apóstolo Pedro a Timóteo: "Insiste no tempo oportuno e inoportuno" (
2Tm 4,2), contei com a vossa generosa colaboração para fazer chegar, aos Chefes de Estado do mundo inteiro, os meus apelos em benefício do respeito e da promoção da vida nos seus diversos momentos e nas suas múltiplas exigências.

As expectativas de que sois porta-vozes constituem para mim um aguilhão no cumprimento diário do meu ministério na Cátedra de Pedro. Após vinte séculos de história, a Igreja "coluna e sustentáculo da verdade" (1Tm 3,15) sente-se chamada, mais do que nunca, a acolher o desígnio de Deus para a humanidade, a escutar a voz que se eleva das diversas sociedades, das culturas e das civilizações do mundo inteiro, a compreender as suas mais profundas exigências, para então se colocar ao seu serviço.

Senhoras e Senhores Embaixadores, renovo-vos a minha cordial gratidão por este gesto solene, mediante o qual quisestes honrar-me numa circunstância da minha vida pessoal.

Confio-vos a expressão do meu deferente agradecimento às autoridades que representais e que, em grande número, me transmitiram gratos testemunhos de bons votos e reconhecimento.

Com estes sentimentos, é de bom grado que invoco sobre as vossas pessoas e a vossa missão a abundância das bênçãos de Deus todo-poderoso.

DISCURSO À COMUNIDADE DA

PONTIFÍCIA FACULDADE DE CIÊNCIAS DA

EDUCAÇÃO "AUXILIUM"


19 de Maio de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Dirijo as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, aqui vindos para encontrar o Sucessor de Pedro e exprimir de novo a vossa comunhão com ele e a vossa plena fidelidade à Igreja.

197 Saúdo, em primeiro lugar, a Vice-Grã-Chanceler Madre Antónia Colombo, Superiora-Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, e agradeço-lhe as cordiais palavras. Saúdo todos os membros da Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium, da Reitora às Autoridades Académicas, aos Professores, Alunos e Pessoal Técnico e Auxiliar.

Neste providencial tempo jubilar, quereis unir-vos ao louvor eclesial com uma especial nota de gratidão ao Pai celeste pelos trinta anos de vida da vossa Faculdade. Faculdade, portanto, ainda jovem, que está a empenhar-se com entusiasmo em dar o próprio contributo no campo da educação, sustentada pela consciência de contribuir assim para realizar um futuro de esperança para todos.

Obrigado por esta vossa atenção concreta a um dos âmbitos privilegiados, e hoje particularmente urgentes, da acção pastoral, como é precisamente o da educação integral da pessoa.

2. Valorizando os recursos peculiares do vosso ser mulheres e homens empenhados na investigação e colaborando com outras Instituições, quereis compartilhar com a Igreja o empenho de promover, no nome de Cristo e com a ajuda de Maria, Mãe e Educadora do Filho de Deus, uma "cultura da vida".

Por ocasião dos trinta anos da vossa Faculdade, convido-vos a continuar a acreditar nos recursos diversificados e relacionais da pessoa humana, homem e mulher, com a atenção à comum dimensão transcendente. Ao agirdes assim, colaborais sempre mais para a vida e a missão da Igreja, cuja principal via na história é, justamente, a do homem, do homem vivo.

Fazei vossas as exigências da evangelização na hora cultural que estamos a atravessar, de modo especial as que se referem à vida humana, à pessoa, à família, à paz e à solidariedade entre os povos. Oferecei aos jovens da nova geração uma cultura que esteja atenta à vida humana desde o seu surgir, para que com amor e competência profissional eles trabalhem a favor da vida, sobretudo onde ela está ameaçada. A atenção à vida e à pessoa comporta também uma particular atenção à família, "berço da vida e do amor, no qual o homem "nasce"" e "cresce"" (Christifideles laici,
CL 40). Com efeito, a família - precisamente enquanto "igreja doméstica" - em analogia com a Igreja e participando na sua missão, é posta no mundo e na história para a edificação de uma verdadeira civilização do amor (cf. Familiaris consortio, FC 48). Se não nos empenharmos em promover a vida, a pessoa e a família, será difícil realizar a paz nas comunidades e entre os povos.

3. O Ano Jubilar que estamos a viver lança ao mundo uma forte mensagem de vida e de esperança, porque em Jesus todos recebemos "graça sobre graça" (Jn 1,16). É Jesus, Filho de Deus e Filho do homem, o verdadeiro critério para julgar a realidade temporal e todo o projecto que tem em vista a vida sempre mais humana (cf. Incarnationis mysterium, 1).

A vossa Faculdade, que se inspira no humanismo cristão e pedagógico de São João Bosco, considera a pessoa segundo o desígnio de Deus criador e faz-se promotora de um projecto de homem e de mulher arraigado na visão cristã da vida. Nas vossas investigações e iniciativas académicas tende o olhar fixo em Jesus Cristo. N'Ele, todo o caminho rumo à pessoa, considerada na sua sacralidade e dignidade como "imagem de Deus" (Gn 1,27), é, ao mesmo tempo, um ir ao encontro do Pai e do seu amor (cf. Dives in misericordia, DM 1). O ser humano, homem e mulher, é imagem de Deus não só como ser inteligente e livre, mas também como ser relacional que, na comunhão e no dom de si, encontra a verdade e a plenitude da própria realização.

4. A mudança cultural que estamos a viver é para a Igreja inteira, e de modo especial para a vossa Faculdade de Ciências da Educação, um premente apelo a aprofundar com novos paradigmas culturais o "Evangelho da vida e da pessoa". Diante das ameaças contra a vida, as quotidianas e as "programadas de maneira científica e sistemática" (Evangelium vitae, EV 17), que põem em perigo o próprio significado da convivência democrática, é necessário pôr em prática propostas educativas esclarecedoras e sábias, projectos criativos e compartilhados. Este empenho chama em causa as medidas preventivas de educação, cujas vias proféticas foram traçadas por São João Bosco e Santa Maria Domingas Mazzarello. O perigo constante do mundo contemporâneo é a perda do sentido de Deus e a consequente incapacidade de encontrar os vestígios da sua presença na criação e na história. Esse perigo pode ser esconjurado através da redescoberta e promoção da dimensão humana, profunda e interior da educação integral, iluminada pela perspectiva evangélica.

Será esta uma das fronteiras de esperança que se abrirão à humanidade no novo milénio. O incessante desenvolvimento tecnológico tem necessidade de um suporte de alma, que só o cuidado da interioridade educativa pode fornecer.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A Igreja espera de vós um específico contributo neste sentido, porque sois uma Faculdade que aproxima os problemas relativos ao mundo da educação com abordagens interdisciplinares, captando a sua complexidade e as suas implicações. Além disso, cultivais o estudo e a investigação com uma particular conotação feminina. "Nessa viragem cultural a favor da vida, as mulheres têm um espaço de pensamento e acção singular e talvez determinante: compete a elas fazerem-se promotoras de um "novo feminismo" que, sem cair na tentação de seguir modelos "masculinizados", saiba reconhecer e exprimir o verdadeiro génio feminino em todas as manifestações da convivência civil, trabalhando pela superação de toda a forma de discriminação, violência e exploração" (Evangelium vitae, EV 99).

198 O desafio a que sois chamados como professores e como estudantes, é precisamente dar rosto à visão antropológica da pessoa homem-mulher, segundo o projecto de Deus, e de a traduzir em categorias pedagógicas adequadas e cientificamente válidas. A proposta cultural, para a qual tende a vossa reflexão através do diálogo respeitoso e crítico com as ciências humanas, continue a arraigar-se no Magistério da Igreja e encontre em Maria, a "primeira crente que acolheu a vida em plenitude", a Mãe e a Mestra. Na sua escola é possível aprender a amar, promover e defender a vida, mesmo à custa de sacrifícios e, talvez, de heroísmo. Maria, a Mãe dos viventes, tem vínculos profundos com o mundo da vida e com o "Evangelho da vida" que Jesus veio anunciar. Com a sua presença de ajuda e de guia, Ela continue a inspirar e abençoar o vosso caminho!

Enquanto de coração vos encorajo a prosseguir no vosso trabalho, a todos concedo uma especial Bênção, que de bom grado faço extensiva a todos aqueles que frequentam a vossa Faculdade de Ciências da Educação.

DISCURSO DO SANTO PADRE

DURANTE O ENCONTRO COM OS

PEREGRINOS E DEVOTOS DE SANTA RITA E


COM OS CAVALEIROS DO TRABALHO


20 de maio de 2000



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho o prazer de vos apresentar cordiais boas-vindas e vos manifestar a minha alegria pelo singular evento que nos reuniu aqui. Viestes em grande número para realizar a vossa peregrinação a Roma e cruzar a Porta Santa do Grande Jubileu. Saúdo o Cardeal Sodano, Secretário de Estado e o caro D. Riccardo Fontana, Arcebispo de Espoleto-Núrsia, e agradeço-lhe as palavras e felicitações que em vosso nome me dirigiu. Saúdo o Cardeal Opílio Rossi, o Patriarca arménio, todos os Bispos presentes, os Superiores-Gerais, os Religiosos e as Monjas da Ordem de Santo Agostinho, assim como as Autoridades presentes de toda a ordem e grau. Esta vossa presença traz à minha memória a paragem que tive a oportunidade de fazer, há vinte anos, no Município de Cássia, para visitar as populações atingidas pelo terremoto de 1979.

No meio de nós está hoje uma peregrina ilustre que, do céu, se une à nossa oração. É Santa Rita de Cássia, cujos restos mortais, transportados para Roma pela Polícia Italiana, acompanham a multidão dos devotos que a invocam com afectuosa familiaridade e, com confiança, lhe manifestam os problemas e as angústias que pesam sobre o seu coração.

Hoje, como que o santuário de Cássia se transferiu para a Praça de São Pedro. E para a venerar viestes vós, queridos peregrinos de todas as partes do mundo. Juntamente com ela, desejais renovar ao Papa, como ela fez quando vivia, os sentimentos mais profundos de fidelidade e de comunhão.

Os restos mortais de Santa Rita, que neste dia aqui veneramos, constituem um testemunho significativo da obra que o Senhor realiza na história, quando encontra corações humildes e disponíveis ao seu amor. Vemos um corpo franzino de uma mulher, pequena de estatura mas grande na santidade, que viveu na humildade e agora é conhecida no mundo inteiro pela sua heróica existência cristã de esposa, de mãe, de viúva e de monja. Arraigada profundamente no amor de Cristo, Rita encontrou na sua fé inabalável a força para ser em toda a circunstância mulher de paz.

No seu exemplo de total abandono a Deus, na sua transparente simplicidade e na sua granítica adesão ao Evangelho é possível, também a nós, encontrar as indicações oportunas para sermos cristãos autênticos neste alvorecer do terceiro milénio.

2. Mas qual é a mensagem que esta Santa nos transmite? É uma mensagem que emerge da sua vida: humildade e obediência foram a via pela qual Rita caminhou para uma semelhança sempre mais perfeita ao Crucificado. O estigma que brilha na sua testa é a autenticação da sua maturidade cristã. Na Cruz com Jesus, ela de certo modo formou-se naquele amor, que tinha já conhecido e expresso de maneira heróica entre as paredes de casa e na participação nas vicissitudes da sua cidade.

Seguindo a espiritualidade de Santo Agostinho, fez-se discípula do Crucificado e, "perita no sofrer", aprendeu a entender os sofrimentos do coração humano. Rita tornou-se assim advogada dos pobres e dos desesperados, obtendo para quem a tenha invocado nas mais diversas situações inúmeras graças de consolação e de conforto.

199 Rita de Cássia foi a primeira mulher a ser canonizada no Grande Jubileu do início do século XX, a 24 de Maio de 1900. Ao decretar a sua santidade, o meu Predecessor Leão XIII observou que ela agradou a Cristo, tanto que a quis marcar com o selo da sua caridade e da sua paixão. Esse privilégio foi-lhe concedido devido à sua humildade singular, ao afastamento das ambições terrenas e ao admirável espírito penitencial, que acompanharam todos os momentos da sua vida (cf. Carta Apost. Umbria gloriosa sanctorum parens, Acta Leonis XX, PP 152-153).

3. É-me grato neste dia, a cem anos da sua canonização, repropô-la como sinal de esperança especialmente às famílias. Queridas famílias cristãs, imitando o seu exemplo, sabei também vós encontrar na adesão a Cristo a força para realizar plenamente a vossa missão ao serviço da civilização do amor!

Se perguntamos a Santa Rita qual é o segredo para esta extraordinária obra de renovação social e espiritual, ela responde-nos: a fidelidade ao Amor crucificado. Com Cristo e como Cristo, Rita chegou à Cruz sempre e só por amor. Como ela, então, dirijamos o olhar e o coração a Jesus morto na cruz e ressuscitado para a nossa salvação. É Ele, o nosso Redentor, que torna possível, como fez para esta querida Santa, a missão de unidade e de fidelidade que é própria da família, também nos momentos de crise e dificuldade. É ainda Ele que torna concreto o empenho dos cristãos em construir a paz, ajudando-os a superar os conflitos e as tensões, infelizmente tão frequentes na vida quotidiana.

4. A Santa de Cássia pertence à grande plêiade das mulheres cristãs que "tiveram um influxo significativo na vida da Igreja, como também na da sociedade" (Carta Apost. Mulieris dignitatem, MD 27). Rita interpretou bem o "génio feminino", viveu-o intensamente na maternidade tanto física como espiritual.

No sexto centenário do seu nascimento, eu recordava que a sua lição "se concentra nestes elementos típicos de espiritualidade: a oferta do perdão e a aceitação do sofrimento, não por uma forma de resignação passiva [...], mas pela força daquele amor a Cristo que precisamente no episódio da coroação sofreu, com as outras humilhações, uma atroz paródia da sua realeza" (Insegnamenti V/1 [1982], 874).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, no mundo a devoção a Santa Rita é simbolizada pela rosa. É para esperar que também a vida de todos os seus devotos seja como a rosa recolhida no jardim de Roccaporena, no inverno que precedeu a morte da Santa. Isto é, seja uma vida sustentada pelo amor apaixonado pelo Senhor Jesus: uma existência capaz de responder ao sofrimento e aos espinhos com o perdão e o dom total de si, para difundir em toda a parte o bom perfume de Cristo (cf. 2Co 2,15), mediante o anúncio coerente e vivido do Evangelho. A cada um de vós, amados devotos e peregrinos, Rita entrega de novo a sua rosa: ao recebê-la espiritualmente, empenhai-vos em viver como testemunhas de uma esperança que não engana, e missionários da vida que vence a morte.

5. Dirijo agora o meu pensamento cordial aos sócios da Federação Nacional Italiana dos Cavaleiros do Trabalho, vindos a Roma para celebrar o seu Jubileu. A todos dou as minhas boas-vindas. Caríssimos, a vossa actividade está ao serviço da elevação económica e social dos trabalhadores. Desejo-vos que, graças ao vosso esforço, possais constantemente contribuir para o bem comum, a formação dos jovens que se inserem no mundo da produção, a progressiva eliminação das injustas desigualdades e a solução do preocupante problema do desemprego.
Diante das rápidas mudanças que investem a sociedade moderna, estai prontos a enfrentar os desafios actuais da economia e da globalização, sem nunca perderdes de vista os fundamentais valores da dignidade do homem, da solidariedade com os mais débeis, da humanização da fadiga e da sociabilidade do trabalho.

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs, invoco sobre vós a protecção de Maria, neste mês a Ela dedicado de modo particular. Por sua intercessão, por intercessão também de Santa Rita e de São Bento sejam concedidas todas as graças necessárias a vós e aos vossos entes queridos. Asseguro-vos para isto a minha oração, enquanto de coração abençoo todos vós.

DISCURSO DO SANTO PADRE À

DELEGAÇÃO DA EX-REPÚBLICA

JUGOSLAVA DA MACEDÓNIA


22 de Maio de 2000

Senhor Presidente
200 Senhoras e Senhores!

Tenho o prazer de vos acolher hoje no Vaticano. Mais uma vez, neste ano, segundo uma tradição já consolidada, uma Delegação de dignitários da ex-República Jugoslava da Macedónia veio aqui para fazer uma respeitosa visita ao túmulo de São Cirilo. Obrigado, Senhor Presidente, pelas suas cordiais palavras em nome de todos os presentes.

A cerimónia solene, por meio da qual a vossa representação deseja comemorar os Santos Cirilo e Metódio, co-Padroeiros da Europa, realiza-se numa antiga Basílica, situada perto do Coliseu, que conserva as veneráveis relíquias de São Clemente de Roma, terceiro Sucessor de Pedro, e de São Cirilo, o mais jovem dos Santos Irmãos de Salonica, os Apóstolos dos Eslavos. Os nomes destas grandes testemunhas da fé evocam nobres recordações.

Hoje em particular, os nossos pensamentos dirigem-se para o rico património cultural da Europa oriental, edificada sobre os fundamentos lançados pelos Santos Cirilo e Metódio. Com efeito, estes dois ilustres irmãos ofereceram "uma contribuição valiosa para a formação das raízes cristãs comuns da Europa, raízes estas que, pela sua solidez e pela sua vitalidade, constituem um dos pontos de referência mais seguros, de que não pode prescindir qualquer esforço sério no sentido de recompor, de modo novo e actual, a unidade do continente" (Encíclica Slavorum Apostoli, 25). Para o Leste e o Oeste, através do intercâmbio recíproco de dons, o desafio hoje consiste em tornar a "casa comum da Europa" sempre mais um lugar de civilização, de fraternidade, de solidariedade e de respeito.

Estes vínculos de solidariedade entre os povos da Europa assumem um significado particular neste Ano jubilar, no qual a Igreja celebra o bimilenário da Encarnação do Filho de Deus. O grande Jubileu é um tempo de graça e de renascimento espiritual, nos quais aquele que crê em Cristo é chamado a participar, compartilhando a própria alegria com todos os homens e mulheres de boa vontade.

Ao haurirdes inspiração da riqueza e do vigor da herança que os Santos Cirilo e Metódio vos deixaram, oxalá os habitantes da ex-República Jugoslava da Macedónia encontrem nova força interior para continuar na grande tarefa de edificar o próprio País na paz e na harmonia. Com afecto asseguro-vos a minha lembrança na oração e invoco sobre a vossa nação as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS MEMBROS DA DELEGAÇÃO DA BULGÁRIA

VINDOS A ROMA PARA A FESTA


DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO


Segunda-feira, 22 de Maio de 2000

Excelência
Prezados amigos!

1. A festa anual dos Santos Cirilo e Metódio, co-Padroeiros da Europa, oferece-me a feliz ocasião para vos saudar cordialmente, a vós que representais o querido povo búlgaro. Inscrito no contexto territorial e cultural do velho continente, ele tem muito a oferecer aos outros povos em matéria de tradições, de energias humanas e espirituais, de tesouros de civilização.

Através de vós, Membros da Delegação vinda aqui para visitar o Bispo de Roma, desejo exprimir aos vossos concidadãos os meus sentimentos mais afectuosos e assegurar-lhes a minha lembrança constante e a minha oração fervorosa a fim de que Deus lhes conceda todo o bem que desejam.

201 2. Ao evocar as grandes figuras dos dois irmãos de Salonica, "filhos do Oriente, bizantinos por pátria, gregos por origem, romanos por missão, eslavos por apostolado", o meu predecessor Pio XI fazia observar que eles despenderam todas as suas energias, doando-se sem reserva, para conquistar os povos a Cristo (cf. Carta Apostólica Quod S. Cyrillum, 13 de Fevereiro de 1927: AAS 19, 1927, pág. 95).

A obra evangelizadora de Cirilo e Metódio fortaleceu de igual modo no povo búlgaro os fundamentos do processo de identidade nacional e de abertura ao encontro com outros povos do continente, a ponto de fazer da nação búlgara o instrumento insubstituível do diálogo entre o Oriente e o Ocidente.

A dimensão universal da pregação dos Santos Cirilo e Metódio e o apostolado intenso que exerceram a fim de que todos pudessem chegar ao conhecimento da verdade e, na unidade, participar no amor salvífico de Deus, ajudam-nos a compreender que "todos os homens, todas as nações e todas as civilizações têm um papel próprio a desempenhar e um lugar próprio no plano misterioso de Deus e na história universal da salvação" (Encíclica Slavorum apostoli, 2 de Junho de 1985, n. 19).

A sua recordação traz à nossa mente eventos antigos mas jamais esquecidos. Das suas imponentes figuras provém ainda hoje uma luz de santidade e de graça que honra a Igreja de Cristo. O seu intrépido testemunho impele-nos a procurar constantemente vias de diálogo e a criar projectos de unidade.

Sei que o querido povo búlgaro está determinado a enfrentar com coragem e confiança as inevitáveis dificuldades, e formulo votos por que saiba construir um presente sempre mais sereno e pacífico, de onde possa haurir um futuro rico de bons frutos.

3. A vossa peregrinação ao túmulo de São Cirilo inscreve-se no contexto mais amplo do grande Jubileu, evento que recorda os dois mil anos transcorridos desde o nascimento de Cristo. Possa este tempo ser testemunha duma renovada vontade de paz, de diálogo, de colaboração com todos, a fim de que a compreensão entre os povos e o intercâmbio dos dons que Deus lhes fez progridam de maneira cada vez mais intensa!

Agradeço a vossa visita e formulo ardentes votos por que os vossos concidadãos possam perseverar ao longo do caminho da reconstrução espiritual e material já em curso. Confio estes votos a Deus e, mediante a intercessão dos Santos Cirilo e Metódio, invoco a abundância das bênçãos divinas sobre vós e sobre aqueles que representais.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

AOS PEREGRINOS MEXICANOS

VINDOS PARA A MISSA DE CANONIZAÇÃO


Segunda-feira, 22 de Maio de 2000


Queridos Irmãos e Irmãs

1. É-me grato ter este encontro com todos vós, queridos peregrinos mexicanos, que ontem participastes na solene canonização de Cristóvão Magallanes e Companheiros mártires, de José Maria de Yermo y Parres, fundador das Servas do Sagrado Coração de Jesus e dos Pobres, e de Maria de Jesus Sacramentado Venegas, fundadora das Filhas do Sagrado Coração.

Alegra-se convosco toda a Igreja, que vê assim proclamada a glória destes filhos seus e também da vossa nobre Pátria, que conta com o exemplo da sua entrega ao Senhor e da sua poderosa intercessão nas necessidades. Eles anunciam com testemunho eloquente a força transformadora do amor a Deus e ao próximo, essência da vida cristã, e animam-nos a viver com renovada fidelidade a nossa condição de filhos seus, chamados a dar testemunho da fé, a manter viva a esperança e a praticar a caridade em todos os momentos da vida.

202 Saúdo com afecto os Senhores Cardeais, os Arcebispos e Bispos, os sacerdotes e fiéis, e de modo muito especial as religiosas que viram ser canonizados os seus Fundadores. Dou a todos as minhas mais cordiais boas-vindas a este encontro, caracterizado pela alegria, no Grande Jubileu da Encarnação.

2. A vossa presença aqui faz-me recordar as intensas jornadas que vivi no México por ocasião das quatro viagens apostólicas, que a Providência me concedeu realizar ali, culminando com a do ano passado para apresentar a Exortação Apostólica pós-sinodal "Ecclesia in America", aos pés da Virgem de Guadalupe. Sob o seu amparo coloquei a vida de todas as Comunidades eclesiais no Continente da esperança, para que as abençoe com novos e abundantes frutos de santidade.

O povo mexicano distinguiu-se sempre pelo seu grande amor a Deus, à Virgem, à Igreja e ao Papa, com uma forte radicação da fé católica que, apesar das vicissitudes da história, faz parte integrante e fundamental da alma da vossa Nação. Por isso, desejo repetir-vos o que já vos disse na Santa Missa no Autódromo da Capital Federal: "Não deixeis extinguir a luz da fé! O México continua a precisar dela, para poder construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária [...]! Fazei com que a palavra de Cristo chegue aos que ainda a ignoram! Tende a coragem de testemunhar o Evangelho nas ruas e praças, nos vales e montanhas desta Nação!" (cf. Homilia, 25 de Janeiro de 1999).

3. Estamos a viver o ano do Grande Jubileu, que oferece a possibilidade de nos aproximarmos do infinito tesouro de graça e misericórdia, que Deus confiou à Igreja. Para isso é necessário desde a particular vocação de cada um seguir a Cristo com radicalidade. Ele é o caminho que deu força a São Cristóvão Magallanes e Companheiros mártires, para vencerem no martírio; a São José Maria de Yermo y Parres, para se converter em "Gigante da Caridade"; e a Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas, para se submeter com humildade e generosidade à vontade de Deus. Oxalá os seus exemplos e ensinamentos vos infundam continuamente o entusiasmo e a coragem para seguirdes Cristo com renovada fidelidade. Deste modo, estareis preparados para enfrentar com confiança e esperança as dificuldades do nosso tempo e os desafios da nova evangelização.

3. Os Estados de Jalisco, Zacatecas, Durango, Chiuhahua, Guanajuato, Morelos, Guerrero e Colima são as terras de origem do grupo dos novos Santos mártires. A recordação das suas pessoas e da sua generosa e heróica entrega continua viva e a sua glória diante de Deus será imperecedoura. Estes sacerdotes, que ofereceram a sua vida por fidelidade ao seu ministério sacerdotal, são um claro exemplo para os sacerdotes de hoje, tal como se deve esperar dos próprios fiéis, inclusive com o risco da vida. Juntamente com eles, os três leigos são um precioso testemunho do compromisso eclesial e da vocação à santidade, própria de todos os baptizados, que nos deve levar a viver em comunhão de fé e amor, de maneira particular ao lado de quem necessita de nós, sempre com confiança em Deus.

4. São José Maria de Yermo y Parres, proveniente do clero de Puebla de los Angeles, levou uma existência repleta de oração e sacrifício, de ardente confiança na divina Providência e de heroísmo na caridade. A sua vida é um convite aos cristãos a seguirem Cristo, mediante o amor ao próximo no esquecimento de si mesmo e, quando for necessário, aceitando a cruz. Ao mundo actual, tão necessitado de fraternidade e solidariedade, o novo Santo ensina a estabelecer novas relações, nas quais o serviço generoso, criativo, concreto e dinâmico seja capaz de favorecer um clima novo de fraternidade de todos em Cristo.

Para prosseguir na sua obra, o seu espírito eminentemente sacerdotal promoveu a fundação das Servas do Sagrado Coração de Jesus e dos Pobres, às quais deixou o testemunho de uma entrega única à causa de Cristo e dos pobres. Vós, queridas religiosas, filhas de São José Maria de Yermo, mantende sempre vivos os seus traços evangélicos de humildade e simplicidade no serviço do amor misericordioso ao irmão necessitado, atendendo-os com os mesmos sentimentos do divino Coração. Isto ajudar-vos-á a manter vivo o sentido eclesial e missionário do vosso carisma e a recta orientação no apostolado social e espiritual em favor dos pobres.

5. Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas nasceu no Estado de Jalisco. Depois duma infância vivida num ambiente familiar em que, não obstante os problemas, se favorecia um intenso clima espiritual, ela foi levada por Deus ao Hospital do Sagrado Coração em Guadalajara, unindo-se a outras mulheres piedosas que se dedicavam ao cuidado dos doentes. Como enfermeira competente e abnegada, prodigalizou-se ali ao serviço da saúde e, a partir de 1921, quando foi eleita Superiora, dedicou-se a consolidar o nascente Instituto, infundindo nas Irmãs o amor à Igreja e às almas, às privações e aos sacrifícios. Não recuou diante da perseguição religiosa, ao contrário, promoveu novas fundações em diferentes Est ados da República. A sua vida espiritual alimentava-se da oração assídua, a recepção dos Sacramentos e a devoção filial à Virgem Maria, tudo isto dentro da mais estrita obediência às Regras do seu Instituto.

A sua mensagem conserva plena actualidade. Com efeito, a firmeza da sua fé, a confiança ilimitada em Deus e o amor incansável até ao esquecimento de si fizeram dela uma mulher consagrada digna de ser imitada. Ela soube fortalecer a Congregação das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, onde se prolongou a sua entrega, a exemplo do bom samaritano, àqueles que, como ela dizia, "nos seus corpos e nas suas almas são mais semelhantes a Cristo sofredor". Com uma existência como a sua, preocupada em fazer a vontade de Deus acima de todas as coisas, vive-se em paz e serenidade, aspirações humanas tão necessárias para a vida de hoje. Hoje no México felizmente vive-se uma primavera de vocações à vida religiosa, da qual são pioneiras as pessoas da estatura da Madre Maria de Jesus Sacramentado.

6. Queridos peregrinos mexicanos: ontem participastes num acontecimento excepcional: a canonização de 27 compatriotas vossos no Grande Jubileu. Retornai ao México com o compromisso de renovar a vossa fidelidade a Deus e à Igreja, de dar sempre e em todas as partes um testemunho corajoso da vida cristã, de colaborar na nova evangelização para que Cristo seja conhecido e amado por todos os mexicanos. Defendei também a causa da vida, da família, dos pobres e necessitados.

Ajude-vos nesta missão a intercessão dos novos Santos, vos acompanhe a materna protecção da Virgem de Guadalupe, Rainha do México e Imperatriz da América. Seja penhor de favores celestes a Bênção Apostólica que, com afecto, vos concedo e de bom grado faço extensiva aos vossos familiares, amigos e entes queridos.

DISCURSO DE JOÃO PAULO II

DURANTE A VISITA AO

PONTIFÍCIO COLÉGIO MEXICANO


203

Segunda-feira, 22 de Maio de 2000


Discursos João Paulo II 2000 195