Discursos João Paulo II 2000 203

Segunda-feira, 22 de Maio de 2000


Agradeço ao Monsenhor Reitor as palavras que me dirigiu. Saúdo com afecto os Senhores Cardeais Juan Sandoval e Norberto Rivera, os Arcebispos e Bispos presentes e, de modo muito particular, o Reitor e os alunos deste Colégio, que nos acolhe hoje neste encontro festivo, no dia seguinte à canonização dos vinte e sente santos da vossa Pátria, a amada terra mexicana.

Sinto-me muito à vontade nesta vossa casa, aonde vim outras duas vezes. A primeira foi em Dezembro de 1979 e a segunda, em Novembro de 1992, por ocasião do XXV aniversário. Estar convosco faz-me sentir perto das vossas dioceses e lugares de origem e, ao mesmo tempo, faz-me reviver as inesquecíveis viagens efectuadas ao vosso querido País.

Quero agradecer aos padres Superiores o seu trabalho de orientação e guia espiritual dos presbíteros estudantes, assim como às religiosas Irmãs dos Pobres, Servas do Sagrado Coração de Jesus, que, de maneira silenciosa, juntamente com o pessoal leigo, fazem com que esta comunidade sacerdotal viva como que em família e a sua convivência esteja presidida por um sadio e alegre clima de fraternidade.

O meu desejo é que o Colégio continue a favorecer um ambiente adequado, que vos permita aprofundar e ampliar a formação académica e espiritual, tão necessária para o ministério sacerdotal, que é o objectivo principal da vossa permanência aqui.

Que a Virgem de Guadalupe, Rainha da vossa amada Nação e Mãe de todos os mexicanos, interceda por vós diante do seu divino Filho e vos acompanhe sempre com a sua solícita presença e ternura materna.

MENSAGEM AOS PARTICIPANTES

NA ASSEMBLEIA GERAL DA

CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA



Caríssimos Bispos italianos

1. "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" (2Co 13,13).

É com estas palavras do Apóstolo Paulo que dirijo a cada um de vós a minha saudação fraterna e afectuosa. Transmito o meu cumprimento de maneira especial ao Cardeal Presidente, Camillo Ruini, aos três Vice-Presidentes e ao Secretário-Geral, D. Ennio Antonelli: agradeço-lhes de coração toda a obra que desempenham, com o compromisso diuturno e iluminado, ao serviço da vossa Conferência. Dirijo depois um particular agradecimento aos dois Vice-Presidentes, Cardeal Dionigi Tettamanzi e D. Alberto Ablondi, que nesta Assembleia concluem o seu mandato.

Acompanho-vos com a oração e estou espiritualmente próximo de vós, nos dias que vos preparais para transcorrer juntos em Collevalenza, para viverdes a fraternidade episcopal e a comum solicitude pela Igreja de Deus na Itália. Além disso, desejo agradecer-vos os bons votos e os sentimentos de comunhão que me exprimistes por ocasião do meu 80º aniversário.

2. Desejo manifestar-vos sobretudo a minha mais cordial aprovação e gratidão pessoal pelo espírito e a dedicação com que orientais e animais a celebração do grande Jubileu, tanto nas vossas Igrejas particulares como através das peregrinações a Roma.

204 Neste itinerário de fé e de conversão, que o Senhor está a abençoar de maneira tão abundante, já são iminentes dois encontros particularmente significativos. O primeiro é o Congresso Eucarístico Internacional, que será celebrado nos dias 18-25 do próximo mês de Junho e, num certo sentido, representa o momento culminante deste Ano Santo, "intensamente eucarístico" (Tertio millennio adveniente, TMA 55). O segundo é a Jornada Mundial da Juventude, programada para o mês de Agosto, com a qual desejamos confiar aos jovens católicos do mundo inteiro, para o século e o milénio que se abrem diante de nós, aquela mesma missão de serem testemunhas de Jesus Cristo, a qual no século XX muitíssimos cristãos levaram a cabo até à efusão do sangue.

Renovo a cada um de vós, dilectos Irmãos no Episcopado, o júbilo e a graça destes eventos. Além disso, exprimo sentido apreço e gratidão à vossa Conferência por toda a operosa e generosa colaboração que está a oferecer para a preparação dos mesmos.

3. O principal tema da vossa Assembleia diz respeito às Orientações pastorais que desejais propor às Igrejas na Itália para a próxima década: assim, podereis reconhecer os modos oportunos e eficazes para continuardes a potenciar aquela obra da nova evangelização que é certamente a prioridade pastoral para a Itália, bem como para muitas outras nações de antiga e grande tradição cristã, ameaçadas pelas correntes de secularização e descristianização. A "Missão da Cidade", que se realizou em Roma em preparação para o Jubileu, assim como outras análogas iniciativas levadas a cabo ou ainda em fase de realização em muitas Dioceses italianas, demonstram que os caminhos da evangelização são percorríveis de modo concreto. Além disso, estes oferecem modelos significativos para uma acção missionária que faça frutificar todos os recursos humanos e espirituais presentes no Povo de Deus.

A Igreja que está na Itália encontra-se comprometida desde há algum tempo no projecto cultural orientado em sentido cristão, oferecendo as coordenadas e as indicações para uma evangelização que alcance as pessoas, as famílias e as comunidades no contexto social e cultural em que amadurecem as próprias convicções e opções de vida, com particular atenção a orientarem as transformações em acto e a não se deixarem surpreender nem se marginalizar por estas. Além disso, um instrumento muito importante de que a vossa Conferência dispõe, em vista da evangelização, são os meios de comunicação social, em relação aos quais formulo votos por que sejam revigorados ainda mais: eles oferecem aos católicos italianos a possibilidade de se confrontarem todos os dias com as opiniões e a proposta de modelos de comportamento, o que hoje é indispensável na sociedade da "comunicação global".

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado, compartilho plenamente a vossa solicitude pela dilecta nação italiana, que está a enfrentar uma difícil fase da sua vicissitude histórica. Nestas circunstâncias, é mais necessário do que nunca que ela não deixe perder aquela herança de fé e de cultura que constitui a sua riqueza primordial.

Por conseguinte, podeis contar com o meu persuadido apoio no vosso compromisso em favor da família assente sobre o matrimónio, autêntico sustentáculo da vida social na Itália. Perante a gravidade e a persistente diminuição da natalidade que ameaça o futuro desta nação, é particularmente importante que a obra formativa da comunidade eclesial e as opções políticas e legislativas encontrem como ponto de convergência a promoção do acolhimento da vida humana e o respeito da sua dignidade inalienável.

Estimados Irmãos, conservo além disso uma feliz recordação da grandiosa Assembleia nacional das escolas católicas, que se realizou na Praça de São Pedro no dia 30 de Outubro do ano passado e durante a qual, juntamente com uma multidão de jovens, de pais e de professores, reivindicámos a plena paridade escolar e a abertura de uma nova perspectiva, "na qual não só a escola católica, mas as várias iniciativas escolares que podem surgir da sociedade, sejam consideradas um recurso precioso para a formação das novas gerações, com a condição de terem os indispensáveis requisitos de seriedade e de finalidade educativa" (Discurso às escolas católicas italianas no encerramento da Assembleia nacional, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 13 de Novembro de 1999, pág. 2, n. 3).

Com a família e a educação, o trabalho encontra-se justamente no âmago das vossas e das minhas solicitudes. Os fortes desequilíbrios a este propósito na Itália, que penalizam algumas regiões, os jovens e as mulheres, devem ser enfrentados na valorização das grandes capacidades de iniciativa presentes neste país, à luz dos princípios de solidariedade e subsidiariedade.

Prezados Bispos italianos, o Senhor ilumine e sustente sempre o vosso serviço pastoral e vos conceda a alegria de verdes crescer comunidades cristãs sólidas na fé, operosas na caridade, capazes de um contagioso testemunho missionário. Como penhor de tudo isto, concedo de coração a Bênção Apostólica a vós e às vossas Igrejas.

Vaticano, 22 de Maio de 2000.

MENSAGEM DO SANTO PADRE AO

PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA

ETIÓPIA E ERITREIA





Ao meu Venerável Irmão

BERHANE-YESUS DEMEREW SOURAPHIEL

205 Arcebispo de Adis Abeba
Presidente da Conferência Episcopal da Etiópia e Eritreia

Neste tempo de provações sinto-me particularmente próximo de todos os Bispos da Conferência Episcopal da Etiópia e Eritreia e de quantos estão confiados à sua solicitude pastoral.

À medida que o conflito se agrava e pessoas inocentes, já extenuadas e desprovidas de tudo, são impelidas a abandonar as suas casas e a própria terra, não posso deixar de pedir àqueles que detêm o poder, que lhes poupem outros sofrimentos e restabeleçam o respeito pela integridade territorial dos vossos Países. Todos os dias oro ao Senhor para que os homens de boa vontade retornem ao diálogo, através do respeito pelos princípios do direito internacional, e para que lhes permita ser guiados pelo espírito da sabedoria divina, de maneira que possam ser instrumentos de paz.

Desejo assegurar-vos que a Santa Sé continuará a pedir à Comunidade internacional que contribua na busca de condições que tornem possível o cessar-fogo e o fluxo de ajudas humanitárias.

A África tem direito à paz e à solidariedade, e a isto têm direito em particular os vossos dois Países, que são herdeiros de uma rica tradição de cultura cristã e, durante muito tempo, viveram juntos na harmonia e no respeito mútuo.

Saúdo todos vós com afecto no Senhor, e concedo-vos a minha Bênção Apostólica como penhor de paz em nosso Salvador ressuscitado.

Vaticano, 23 de Maio de 2000.

MENSAGEM DO SANTO PADRE AO

PATRIARCA DE ANTIOQUIA DOS MARONITAS



A Sua Beatitude o Cardeal

NASRALLAH - PIERRE SFEIR

Patriarca de Antioquia dos Maronitas


Tendo sido informado acerca do desenrolar dos eventos no seu País, desejo exprimir-lhe a minha solidariedade e convido todos a sentirem-se solidários com as populações que, na região do Líbano meridional, temem pelo próprio futuro, por causa da situação que ali se criou nestes últimos dias.

206 Sou impelido a recordar a todos os responsáveis o grave dever de respeitarem os direitos dos indivíduos e dos povos, e de não praticarem actos que possam pôr em perigo a vida das pessoas e a coexistência entre as comunidades.

Oro a Deus para que ilumine as mentes e os corações, a fim de que a todas as populações civis sejam poupados novos massacres e se garanta a soberania de cada País, de maneira que todos possam olhar para o futuro com grande esperança.

Como penhor de consolação concedo-lhe, Senhor Cardeal, a Bênção Apostólica, que faço extensiva a todos os fiéis a Cristo, pedindo a Deus que faça descer a abundância dos seus benefícios sobre todos os Libaneses.


Vaticano, 24 de Maio de 2000.

DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO


EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO CONGO


JUNTO À SANTA SÉ


25 de Maio de 2000

: Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por lhe dar as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Congo junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as palavras gentis que me dirigiu e agradeço-lhe profundamente. Por seu intermédio, é-me grato saudar Sua Excelência o Sr. Dénis Sassou Nguesso, Presidente da República, que terei a honra de receber daqui a poucos dias. Dirijo os meus cordiais votos a todo o povo congolês, pedindo a Deus que lhe inspire sentimentos de fraternidade e de compreensão recíproca, para que todos possam viver em paz e segurança, e edificar uma sociedade reconciliada e solidária.

2. No seu discurso, Vossa Excelência comunicou-me os esforços empreendidos no seu país para restabelecer de maneira duradoura a paz civil e permitir que todos os cidadãos rejubilem com os seus direitos fundamentais em liberdade. Alegro-me pelos progressos feitos na busca dum entendimento entre todos os filhos da nação, como o acordo de cessação das hostilidades assinado há alguns meses, que levou a um sensível melhoramento da situação da segurança.

Contudo, a fim de consolidar o estado de não-beligerância para alcançar a paz verdadeira e duradoura à qual o povo congolês aspira, é preciso aprofundar um diálogo sem exclusivismos e banir definitivamente o recurso às armas como forma de resolução dos conflitos políticos.

O caminho da concórdia entre todos os congoleses no qual se empenhou o vosso país é também um caminho rumo à democracia, que passa pela defesa das liberdades públicas e dos direitos fundamentais da pessoa e das comunidades humanas. O respeito total delas é o caminho mais certo para tecer relações solidárias entre os cidadãos duma mesma nação, além das clivagens internas, e edificar desta forma um Estado de direito que garanta a todos, sobretudo aos jovens e às pessoas mais débeis, uma inserção estável na vida social bem como a possibilidade de viver com dignidade. Com efeito, "está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitosindivisíveis: o direito à paz e o direito a um processo integral e solidário" (Mensagem para o Dia mundial da paz de 2000, n. 13).

207 Depois de tantos anos de sofrimento, para chegar a uma paz verdadeira, é necessário que todo o país se empenhe cada vez com mais coragem e determinação nas vias da reconciliação e do perdão. O início do novo milénio é uma ocasião privilegiada para se empenhar pela justiça em favor das vítimas inocentes dos conflitos, eliminar as violências que geram o domínio de uns sobre outros e criar uma nova cultura da solidariedade.

3. Por seu lado, a Igreja católica, que também foi duramente atingida pela violência, empenhou-se decididamente numa pastoral que possa ajudar e favorecer a cura interior. Alegro-me por saber que as Autoridades do seu País desejam assegurar-lhe cada vez mais a possibilidade de exercer livremente a sua missão. Pondo-se de modo incánsavel ao serviço da paz e da fraternidade entre os homens, procurando incrementar uma maior tomada de consciência dos valores morais universais indispensáveis para enfrentar as situações presentes, ela realiza a sua missão evangelizadora, partilha a sua esperança no futuro e participa na edificação social.

Por outro lado, perante as graves ameaças que hipotecam o futuro dos jovens, a Igreja católica deseja contribuir de maneira eficaz para a sua formação humana, espiritual, moral e cívica, através das suas obras de educação, sobretudo as escolas. De facto é primordial que as novas gerações sejam educadas com paciência e tenacidade para a justiça, a paz e o respeito fraterno, a fim de que sintam prazer com o que é justo e verdadeiro, e rejeitem firmemente a tentação do ressentimento e da violência.

4. Por seu intermédio, Senhor Embaixador, permita-me dirigir aos Bispos e à comunidade católica do seu País a minha afectuosa saudação. Conheço as provações que enfrentaram com todos os seus compatriotas e dou graças a Deus pela sua coragem e fidelidade ao Evangelho. Eles são as testemunhas de quanto Cristo realizou nos seus corações, a fim de fazer de todos mensageiros de amor. Neste ano jubilar, convido-os a serem artífices de paz e de reconciliação cada vez mais eficazes, manifestando aos seus irmãos e irmãs que Deus não os abandonou nem os esqueceu.

Que eles se recordem que o nome de cada qual está gravado nas mãos de Cristo, trespassadas pelos pregos da crucifixão (cf. Ecclesia in Africa, )! Faço votos por que neste momento particular da história do povo congolês, os católicos unam os seus esforços aos dos homens de boa vontade para construir uma nação solidária e próspera.

5. No momento em que inicia a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus melhores votos pela sua feliz realização. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá ter necessidade.
Sobre Vossa Excelência, o povo congolês e quantos presidem ao seu futuro, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.

DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO

EMBAIXADOR DO KUAIT

JUNTO À SANTA SÉ


25 de maio de 2000



Senhor Embaixador

1. Seja bem-vindo ao Vaticano; para mim é um prazer receber Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Estado do Kuait junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe a saudação que Vossa Excelência me transmitiu da parte de Sua Alteza o Emiro Sheikh AL-Ahmad Al-Sabah. Peço-lhe a amabilidade de lhe retribuir, bem como a todo o povo do Kuait, os meus sentimentos de estima e os meus cordiais votos de bem-estar e prosperidade; peço ao Altíssimo que conceda a todos viver na fraternidade e na solidariedade.

208 2. Alegro-me por saber que no seu País a comunidade católica goza da faculdade de professar livremente a sua fé. De facto, como tive várias vezes a ocasião de declarar, a liberdade religiosa constitui o próprio centro dos direitos humanos. Na profissão da sua religião, a pessoa exprime as suas aspirações mais profundas e desenvolve o que tem de mais íntimo: a sua interioridade, o santuário do ser, que ninguém jamais pode fracturar. É também indispensável que cada qual possa seguir a sua consciência em qualquer circunstância e que ninguém o possa obrigar a agir contra ela. Por outro lado, o direito à liberdade religiosa, hoje reconhecido pela maior parte dos Estados, "inclui a possibilidade de manifestar as próprias crenças, quer individualmente quer em comum, tanto em público como em privado" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 1999, 5).

3. A paz no Médio Oriente, e sobretudo na região do Golfo, é uma preocupação constante da Santa Sé. Com efeito, os recursos à guerra não podem resolver os problemas entre as nações. A via da paz é a única digna do homem! É urgente que desapareçam todos os germes de antagonismo que ainda subsistem. As consequências nefastas das guerras, que martirizaram os povos da sua região, causaram divisões e tensões. Por conseguinte, para as vencer é desejável que os problemas humanos relacionados com os últimos conflitos, em particular o regresso dos presos de guerra aos seus lares, encontrarão uma solução rápida, a fim de permitir a consolidação do necessário processo de reconciliação entre os povos da região. Faço sentidos votos por que cada nação possa ver respeitado o seu direito à existência e à paz e viver com disposições pacíficas e solidárias a respeito do próximo.

4. Ouvi com interesse, Senhor Embaixador, quanto Vossa Excelência me disse acerca do contributo dado pelo seu País ao diálogo entre os muçulmanos e os cristãos. A Igreja católica, por seu lado, empenhou-se decididamente no caminho dum encontro fraterno entre os homens, a fim de favorecer a paz e a solidariedade entre os povos. Ao progredir cada vez mais no conhecimento recíproco e ao empenhar-se generosamente em promover os valores fundamentais do homem, como o direito à vida e ao progresso material e espiritual, os crentes contribuem para manifestar plenamente a dimensão transcendente do ser humano e para responder às aspirações legítimas das pessoas e dos povos em benefício do bem da humanidade inteira. A convivência pacífica entre os crentes é uma forma de respeito do desígnio de Deus, o Qual dispôs que os homens constituam uma só família e mantenham relações fraternas. Cristãos e muçulmanos são chamados a unir os seus esforços a fim de participarem numa luta digna do homem, isto é, que se opõe às desordens das suas paixões, a todas as formas de egoísmo, às tentativas de submeter o próximo e a qualquer espécie de violência, ou seja, a tudo o que se opõe à paz e à reconciliação (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 7).

5. Senhor Embaixador, permita-me saudar calorosamente, por seu intermédio, a comunidade católica do Kuait. Unida ao seu Bispo, ela presta a Deus o testemunho da adoração que lhe é devida e os seus membros participam, segundo as suas competências, no progresso do País. Convido todos os católicos a viver com um ardor renovado, entre si próprios e com todos, o mandamento novo que o Senhor nos deixou. Neste ano do Grande Jubileu, encorajo-os a permanecer firmes na fé e a viver na confiança, depondo toda a sua confiança Naquela que não deixa de guiar a humanidade rumo ao verdadeiro destino.

6. No momento em que inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos pela nobre tarefa que o espera. Garanto-lhe, Senhor Embaixador, que encontrará sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento atento e uma compreensão cordial.

Sobre Vossa Excelência, sobre Sua Alteza o Emir do Estado do Kuait, e sobre o povo kuaitiano, invoco de todo o coração a abundância do Todo-Poderoso.

DISCURSO DO SANTO PADRE À NOVA

EMBAIXADORA DA NOVA ZELÂNDIA

JUNTO À SANTA SÉ


: 25 de Maio de 2000



Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas no início da sua missão como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da Nova Zelândia junto da Santa Sé. Ao receber as suas Cartas Credenciais, faço extensivas as minhas saudações ao Governador-Geral, Sua Excelência o Senhor Michael Hardie Boys, e à Primeira-Ministra, a ilustríssima Senhora Dona Helen Clark. Peço que lhes transmita, bem como ao povo da Nova Zelândia, os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela harmonia e a prosperidade da nação.

Estou-lhe grato pelas suas palavras de apreço em relação à actividade diplomática da Santa Sé, mediante a qual ela consegue ser uma parceira activa dos povos do mundo, enquanto estes lutam por uma vida e um trabalho plenamente humanos, em vista do seu próprio desenvolvimento e do progresso dos outros. Vossa Excelência afirmou que a paz, a justiça e o respeito pelos direitos humanos são importantes para o seu país, e estes valores e objectivos são também fulcrais para aquilo que Vossa Excelência definiu como a singular perspectiva da Santa Sé perante as questões internacionais.

A actividade da Santa Sé no foro mundial deriva da perspectiva que é o resultado de uma visão específica da pessoa humana, e da convicção de que quando esta visão é ameaçada ou abandonada, debilita-se o próprio fundamento da sociedade humana. Trata-se de uma perspectiva assente no respeito pela dignidade inalienável de cada ser humano, uma dignidade intrínseca à própria vida, que não é dada nem concedida por qualquer indivíduo, grupo ou Estado. É uma visão que exige a perfeição da liberdade, mas de uma liberdade vinculada à verdade de modo especial, à verdade acerca da pessoa humana, a única que garante uma base sólida para a actividade política e diplomática construtiva. Em toda a parte, mesmo num país como o seu, a liberdade é uma conquista frágil; e o século passado ensinou-nos como é fácil que a liberdade se debilite, quando é negada a verdade da pessoa humana.

209 As falsidades mais destruidoras acerca da pessoa humana, a que o século XX deu origem, derivavam de pontos de vista materialistas do mundo e da própria pessoa. Pode ser que os sistemas totalitários tenham desaparecido, mas entretanto emergiram novas formas de materialismo, talvez menos ideologicamente orientados e menos espectaculares nas suas manifestações, e contudo arrasadores no seu efeito sobre as pessoas e o tecido da sociedade.

Estamos rapidamente a tomar consciência de como é vital respeitar a ecologia da natureza, se não quisermos causar sérios prejuízos ao mundo que as gerações futuras hão-de herdar de nós. Ainda mais urgente, embora mais difícil, é a necessidade de aprender a respeitar a ecologia do mundo humano, com a qual me refiro à própria pessoa humana e às suas implicações sociais. A acção da Santa Sé no campo internacional flui da sua convicção de que determinados elementos fundamentais desta ecologia humana devem absolutamente ser compreendidos e salvaguardados.

Um destes elementos é a família, a célula básica da sociedade e o indicador mais seguro da saúde e da estabilidade de uma nação. As tentativas de definir a família como algo diferente da solene união perpétua entre um homem e uma mulher, em vista da procriação e da educação dos próprios filhos, estão destinadas a demonstrar-se destruidoras. Esta reivindicação não é um problema de apego a um modelo cultural do passado, que se rejeita a encarar os factos, mas precisamente o reconhecimento de uma verdade fundamental: a família é a célula básica da sociedade humana não só porque é nesse contexto que nasce a vida do homem, mas porque é ali que os filhos aprendem melhor as disposições e as habilidades de que têm necessidade para crescer como seres humanos sazonados, capazes de contribuir para a vida comum e o bem da sociedade. É na família que eles aprendem da melhor forma a verdade daquilo que significa ser uma pessoa dotada de inteligência e vontade, chamada à liberdade e à responsabilidade, desafiada por direitos e deveres. Os factos sugerem uma lógica que é clarividente e infalível: quando as famílias são débeis, significa que a sociedade é incapaz de tutelar os seus membros, especialmente os jovens, na edificação do bem comum. Os indivíduos e até mesmo as estruturas sociais são depauperados por formas de egoísmo e de escapismo, que deixam pouco espaço ao compromisso, ao amor abnegado e à solidariedade para com os membros mais frágeis da sociedade.

Outro elemento-chave da ecologia humana é a inviolabilidade da vida do homem, de modo especial no seu início e no seu termo. A Santa Sé proclama com insistência o facto de que o direito humano primordial e mais fundamental de todos é o direito à vida, e quando este é espezinhado, todos os outros são ameaçados. A presunção de que o aborto e a autanásia são direitos humanos merecedores de uma sanção legislativa é considerada pela Santa Sé como uma contradição que corresponde à negação da dignidade e liberdade humanas, as quais deveriam ser tuteladas pela lei.

A sociedade será julgada com base no modo de tratar os seus membros mais frágeis; e entre os mais vulneráveis, contam-se naturalmente os nascituros e os moribundos. Um ponto de vista materialista da pessoa humana atribuirá pouco valor e dignidade a ambos. Desta forma, o que é decantado como uma vitória dos direitos humanos, na realidade é a sanção de uma liberdade separada da verdade. Em última análise, esta não é de modo algum uma liberdade, mas uma decadência na arbitrariedade e no domínio dos fortes sobre o fracos. Por conseguinte, a Santa Sé formula votos por que as comunidades políticas e diplomáticas reflictam profundamente sobre os enormes desafios que acompanham o início do novo milénio: o desafio de assegurar um novo florescimento do espírito humano, mediado através de uma autêntica cultura da liberdade, da esperança e da confiança (cf. Discurso na 50ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 5 de Outubro de 1995, n. 16).

Excelência, no momento em que assume o seu lugar na comunidade dos diplomatas acreditados junto da Santa Sé, asseguro-lhe a pronta colaboração dos vários departamentos e agências da Cúria Romana. A sua missão sirva para fortalecer os vínculos de amizade e de cooperação já existentes entre o seu Governo e a Santa Sé. Sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas neozelandeses, invoco as abundantes bênçãos do Omnipotente.

DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO

EMBAIXADOR DE GANA

JUNTO À SANTA SÉ


25 de maio de 2000



Senhor Embaixador

Dou calorosas boas-vindas a Vossa Excelência no momento em que aceito as Cartas Credenciais mediante as quais é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Gana junto da Santa Sé. A sua presença aqui hoje traz-me à mente as recordações da primeira visita pastoral que, como Sucessor de Pedro, realizei ao continente africano: aquela viagem levou-me ao seu país, onde tive a graça de poder experimentar pessoalmente a hospitalidade, o entusiasmo e as ricas tradições culturais do povo ganense. Com esta viva lembrança à minha frente, estou grato pelas saudações e pelos bons votos que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Jerry John Rawlings. É de bom grado que retribuo estes amáveis sentimentos, enquanto lhe peço que comunique às Autoridades e ao povo de Gana a expressão da minha estima e a certeza das minhas orações pelo bem-estar e a prosperidade do seu país.

A família humana encontra-se no alvorecer de um novo milénio e sente-se enormemente favorecida pelo grandioso progresso que se realizou, de maneira especial nos últimos cem anos, nas áreas social, económica e científica. Contudo, não obstante estes inúmeros desenvolvimentos culturais e tecnológicos, ainda existem importantes sectores da vida contemporânea em que houve pouco progresso ou que até mesmo padecem um certo declínio. Penso de modo especial na urgente necessidade de enfrentar os desafios da desigualdade e da pobreza, com eficazes estruturas de solidariedade e cooperação mundial entre as nações. Como Vossa Excelência quis salientar, há necessidade de reorganizar os relacionamentos económicos internacionais para que, tanto na África como alhures, os menos afortunados possam compartilhar os recursos do mundo de maneira equitativa; e é também preciso promover canais de diálogo, tendo em vista uma resolução pacífica das crises dentro dos países e entre as nações. De maneira muito concreta, a senda que a família das nações e a família dos homens devem percorrer no século XXI é o caminho da solidariedade e da paz.

Com efeito, sem a solidariedade não pode haver uma paz genuína. Como escrevi na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, "está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitos indivisíveis: o direito à paz e o direito a um progresso integral e solidário" (n. 13). Pareceria que chegou o momento de reflectir sobre a natureza da economia tanto nacional como internacional e a finalidade que ela verdadeiramente deveria servir. Portanto, a nível mundial, nas nações abastadas não menos do que nos países em vias de desenvolvimento, deve reconhecer-se que os pobres têm direito aos bens materiais da terra e a renderem de modo apropriado a sua capacidade de trabalhar, "criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos. A elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural e até económico da humanidade inteira" (Carta Encíclica Centesimus annus, CA 28). É necessário reconsiderar "a própria concepção do bem-estar, para que não seja dominada de maneira estrita por uma perspectiva utilitarista, deixando um espaço completamente marginal para valores como a solidariedade e o altruísmo" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, n. 15).

210 Ao mesmo tempo, o século que acaba de terminar ofereceu uma ampla evidência da violência, destruição e morte que são ocasionadas quando os povos e as nações buscam as armas em vez de recorrer ao diálogo, quando a guerra é preferida ao caminho da mútua compreensão e diálogo, que com frequência é uma via mais árdua. Se a paz quiser ser genuína e duradoura, assente nas aspirações legítimas das pessoas e dos grupos sociais, então deve ser procurada num contexto de diálogo: o diálogo em vista da paz não só é possível, mas constitui a única senda digna do homem.

É bastante paradoxal o facto de, após a violência e a devastação da guerra terem sido perpetradas, subsistir a exigência do diálogo; recorrer ao confronto armado jamais resolve os conflitos ou as disputas, mas simplesmente atrasa a sua resolução e sempre com consequências trágicas, como hoje nos é dado testemunhar em várias partes da África. O diálogo autêntico pressupõe uma busca sincera da verdade, do bem e da justiça para cada pessoa, grupo e sociedade; trata-se de um esforço sincero no sentido de identificar aquilo que as pessoas têm em comum, para além das tensões, oposições e conflitos. De resto, o diálogo genuíno está ligado cada vez mais intimamente à solidariedade, enquanto os povos e as nações da terra reconhecem a sua interdependência nos campos da economia, política e cultura (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1983, n. 6).

A Santa Sé participa activamente na arena internacional, de modo específico para promover este diálogo e suscitar tal solidariedade. Como Vossa Excelência observou, a própria Igreja está sinceramente comprometida na causa da paz. Com efeito, o seu divino Fundador confiou-lhe uma missão religiosa e humanitária, diferente da que compete à comunidade internacional, uma presença orientada unicamente para o bem da família humana: a promoção da paz, a salvaguarda da dignidade humana e dos direitos do homem, a acção em prol do desenvolvimento integral dos povos. Este é um dever que deriva necessariamente do Evangelho de Jesus Cristo, e uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos. Por este motivo, a Santa Sé continua a ser uma activa parceira do seu país, enquanto Gana procura incrementar o próprio desenvolvimento político, social e económico e constituir uma força em benefício da estabilidade e da paz, tanto na sua região da África setentrional como no seio da comunidade das nações.

A este propósito, apraz-me observar que Vossa Excelência reconhece a significativa contribuição oferecida pelas Instituições da Igreja católica à sociedade ganense em geral, especialmente nos campos da educação e da assistência médica. Com efeito, a Igreja considera o seu apostolado nestas áreas como um elemento essencial da sua missão religiosa, e sente-se cada vez mais desejosa de desempenhar esta missão em harmonia com os outros, que são activos nestes mesmos campos. A cooperação entre a Igreja e o Estado é de grande importância no desenvolvimento da formação intelectual e moral dos cidadãos, que assim serão melhor preparados para edificar uma sociedade verdadeiramente justa e estável.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a sua missão na Santa Sé há-de fortalecer os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. Vossa Excelência pode estar certo de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus excelsos deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido povo de Gana, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso.

Discursos João Paulo II 2000 203