Discursos João Paulo II 2000 225

AOS SÓCIOS DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO,


DURANTE O TRADICIONAL ENCONTRO ANUAL


226

Segunda-feira, 5 de Junho de 2000

Caríssimos Sócios
do Círculo de São Pedro

1. Estou feliz por vos receber também neste ano e saúdo-vos com afecto. Dirijo um grato pensamento ao Assistente espiritual, D. Ettore Cunial, e ao vosso Presidente, o Marquês Marcello Sacchetti, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. O encontro hodierno constitui, como sempre, uma ocasião propícia para renovar o meu sincero apreço pelo compromisso que cada um de vós assume no serviço fiel à Igreja e ao Papa, e em concretas iniciativas de caridade para com o próximo. Obrigado pelo vosso duradouro testemunho de amor à Sé Apostólica e de solidária actividade caritativa em relação aos irmãos mais necessitados na nossa Cidade.

2. Com efeito, a vossa benemérita Associação penetra cada vez mais no coração de Roma, impelida pelo desejo de corresponder às urgências dos mais pobres e mais esquecidos. Entre as várias intervenções de solidariedade realizadas em benefício daqueles que sofrem pela falta do necessário, reveste um singular significado a nova iniciativa que empreendestes, por ocasião do grande Jubileu, garantindo quotidianamente uma acção de voluntariado nos refeitórios predispostos junto das Basílicas patriarcais. Exprimo uma vez mais a todos a minha aprovação por terdes generosamente aceite o convite a colaborar no projecto denominado "A caridade do Papa para o Jubileu".

Agradeço-vos outrossim tudo o que fazeis nas paróquias, nas entidades hospitalares e nos Centros de acolhimento, sem jamais vos cansardes de estar ao lado daqueles que sofrem no corpo e no espírito, para lhes levar a consoladora certeza de que Cristo é o Salvador de todos.

O óbolo de São Pedro que, como todos os anos, vós me entregais pessoalmente, constitui um ulterior sinal da vossa silenciosa mas concreta participação nas solicitudes da Sé Apostólica, chamada a intervir de modo cada vez mais incisivo para responder aos apelos das populações mais indigentes em muitas partes do mundo. A vossa louvável disponibilidade na colecta de fundos para a caridade do Papa representa um sinal bastante apreciado de comunhão com o ministério universal do Sucessor de Pedro. Continuai ao longo deste caminho, conscientes de prestardes um serviço útil a Cristo e à sua Igreja.

3. Caríssimos Sócios, já estamos próximos da solenidade do Pentecostes. Convido-vos a invocar de Deus o dom do Espírito, que é fogo vivo de caridade e nascente de luz e de força interior. Deixai que o Espírito Santo guie cada uma das vossas iniciativas e anime todos os vossos esforços.

Na oração assídua haveis de encontrar a energia indispensável para tornar eficaz o vosso apostolado, a fim de que os homens que vos encontrarem vislumbrem em vós um reflexo do amor de Deus e se abram para a novidade do Evangelho.

Não vos detenhais perante as dificuldades! Ao contrário, continuai sem parar, caminhando ao encontro dos irmãos mais necessitados, tornando-lhes visível o amor do Pai celeste.

Admoesta-nos o Mestre divino: "Todas as vezes que fizestes isto a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes" (Mt 25,40).

227 Maria, paradigma incomparável e perfeito da vida e da missão da Igreja, Mãe que gera os cristãos e os conduz à perfeição da caridade (cf. Lumen gentium LG 63-65), vos proteja e acompanhe sempre.

Quanto a mim, garanto-vos a recordação nas minhas preces e, de coração, concedo a vós e às vossas famílias uma especial Bênção.





DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO


EMBAIXADOR DA BOLÍVIA


JUNTO À SANTA SÉ


8 de Junho de 2000

Senhor Embaixador!

1. Apraz-me recebê-lo neste solene acto, durante o qual me apresenta as Cartas mediante as quais é acreditado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Bolívia junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas, desejo agradecer-lhe as suas amáveis palavras, bem como a deferente saudação que o Senhor Presidente, General Hogo Banzer, ouve por bem fazer-me por seu intermédio, ao qual correspondo pedindo a Vossa Excelência a bondade de lhe transmitir os meus melhores votos de paz e bem-estar para todo o povo boliviano.

2. A sua presença hoje aqui, e Vossa Excelência aludiu a isso no seu discurso, traz à minha memória a visita pastoral que realizei ao seu País em 1988. Naquela ocasião pude admirar os dotes preclaros do povo boliviano, formado por uma múltipla realidade cultural e étnica, fruto do encontro entre as culturas autóctones, como a Aimará, Quêchua e outras, e com as que ali chegaram no decurso dos séculos, o que "é riqueza na variedade, partindo do respeito mútuo e do diálogo integrador" (Discurso no aeroporto "El Alto", 9/5/1988, 3; ed port. de L'Osserv. Rom., pág. 1). É desejável que os bolivianos mantenham sempre os valores genuínos que constituem o seu rico património espiritual, com os quais o país poderá progredir para metas melhores, mais justas e solidárias, fiel às raízes cristãs e humanas que formaram a sua história e que há-de continuar a edificar-se e a caminhar rumo ao futuro sobre as bases religiosas, que elevam e reconhecem a pessoa na sua dignidade irrenunciável e inviolável.

3. Vossa Excelência referiu-se também às mudanças de estruturas que se estão a verificar na Bolívia para enfrentar a crise que atormenta grande parte da população, procurando aliviar com isso a situação em que vivem as regiões mais pobres. Fico contente por saber que este é um dos objectivos do seu governo, esperando que ele prossiga essa iniludível tarefa com decisão e firme empenho. De facto, a pobreza material nunca pode ser considerada um mal endémico, mas comocarência dos bens essenciais para o desenvolvimento da pessoa, como resultado de diversas circunstâncias. A respeito disso, a Igreja sente como sua a difícil situação que vivem tantos irmãos submersos pela rede da pobreza, muitas vezes extrema, e por exigência evangélica confirma sempre o seu empenho pelos pobres como expressão do amor misericordioso que Jesus Cristo lhes manifestou. Por este motivo, a própria Igreja, com a sua doutrina e as suas obras de assistência, apoia quantos trabalham seriamente a fim de que a promoção humana seja um empenho eficazmente assumido também pelas instituições sociais, a fim de atenuar as precárias situações nas quais se encontram tantas pessoas e famílias, sobretudo indígenas.

A respeito disto, há algumas semanas, os Bispos da Bolívia entregaram ao Senhor Presidente da República, como resultado de uma séria reflexão, o documento "Conclusões do Foro Jubileu 2000", iniciativa da Conferência Episcopal Boliviana encaminhada para debater o delicado problema da pobreza estrutural do País e para permitir aos cidadãos das diversas camadas sociais e das diferentes tendências políticas expressar-se sobre a maneira de usar os fundos liberados pelo perdão da dívida externa.

A lesão moral e social da pobreza requer sem dúvida soluções de carácter técnico e político, fazendo com que as actividades económicas e os benefícios que legitimamente geram se convertam também em bem comum. Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1993 escrevi a propósito disto: "Um Estado, seja qual for a sua organização política e o seu sistema económico, permanece em si mesmo frágil e instável, se não demonstra uma contínua atenção pelos seus membros mais débeis, e não faz tudo o que pode para garantir a solução pelo menos às suas necessidades mais elementares" (n. 3). Sem dúvida, não se pode esquecer que todas estas medidas seriam insuficientes se não fossem animadas por valores éticos e espirituais autênticos. Por isso, a erradicação da pobreza também é um empenho moral no qual a justiça e a solidariedade cristãs desempenham um papel imprescindível.

4. A Igreja no seu País, sob a orientação solícita e prudente dos Bispos, trabalha com generosidade e entusiasmo no cumprimento da sua missão, fazendo com que, desta forma, os valores morais e a concepção cristã da vida, tão arraigada nessa terra, continuem a inspirar a vida dos cidadãos e para que todos os que de qualquer maneira desempenham responsabilidades de vários graus, tenham em consideração os mencionados valores, a fim de construir dia após dia uma Pátria cada vez melhor e mais próspera, e na qual cada um veja plenamente respeitados os seus dieitos inalienáveis.

Desta forma, a Igreja exerce a missão que lhe foi confiada pelo seu divino Fundador em vários âmbitos, tais como, entre outros, a defesa da vida e da instituição familiar, a promoção da justiça e a atenção aos mais necessitados. Simultaneamente, procura promover, baseando-se na Doutrina Social, a pacífica e ordenada convivência entre os cidadãos e as Nações. A mesma Igreja, que jamais pretende impor critérios concretos para o governo do povo, sem dúvida tem o dever iniludível de iluminar a partir da fé o progresso social no qual está imergida. Neste sentido, como Vossa Excelência indicou, a Conferência Episcopal da Bolívia empenhou-se e continuará a fazê-lo, a fim de difundir a sua mensagem de premente apelo à solidariedade e ao empenho em benefício de todos, sem excluir ninguém, sobretudo porque existem situações que requerem uma rápida solução. A este respeito, a Conferência Episcopal Boliviana publicou recentemente uma carta pastoral com o título "Terra, Mãe fecunda para todos", na qual oferece uma reflexão sobre a maneira de enfrentar o problema da reforma agrária, tão necessária para atenuar a dramática situação em que vivem os indígenas e os camponeses.

228 5. Senhor Embaixador, no final deste encontro desejo apresentar-lhe os meus mais cordiais votos pelo desempenho da sua missão junto da Sé Apostólica, sempre desejosa de consolidar cada vez mais as boas relações já existentes com a República da Bolívia e ajudar de boa vontade a superar as dificuldades que possam surgir entre a Igreja e o Estado no seu País. Garanto-lhe a minha oração ao Todo-Poderoso para que, por intercessão de Nossa Senhora de Copacabana, assista sempre com os seus dons Vossa Excelência e a sua distinta família, os seus colaboradores, os Governantes e cidadãos do seu nobre País, o qual recordo com grande afecto e sobre o qual invoco abundantes bênçãos do Altíssimo.





AUDIÊNCIA NO FINAL DO CONSERTO OFERECIDO


AO PAPA PELA REPÚBLICA AUSTRÍACA


Quinta-feira, 8 de junho de 2000

Ilustres Senhores e gentis Senhoras

1. Desejo exprimir um cordial agradecimento por este particular Concerto que a República Austríaca desejou oferecer-me, por ocasião do grande Jubileu. Este constitui um momento de intenso significado espiritual, que se insere no já rico programa artístico do Ano Santo 2000.

É com reconhecimento que penso sobretudo no Ministro do Interior da República Austríaca, Sua Ex.cia o Senhor Strasser, a quem agradeço ter vindo aqui. Saúdo também os Cardeais, os Irmãos no Episcopado, os representantes da vida pública e das instituições, assim como as organizações que, graças a uma eficaz colaboração, tornaram possível esta manifestação.

Dirijo um cordial agradecimento ao Maestro Riccardo Muti que, com extraordinárias elegância e sensibilidade, desejou interpretar a partitura da Messe in h-moll em toda a sua profundidade. Isto vale também para os solistas e os professores da Filarmónica de Viena e os membros do "Arnold-Schönberg-Chor".

2. Através da esplêndida execução da "Grande Missa" de João Sebastião Bach, foi-nos dado meditar com gozo espiritual os textos latinos da Liturgia eucarística, repropostos através da linguagem arcana e universal da música. Uma vez mais, pudemos experimentar que a beleza artística é a escala privilegiada para aceder ao Mistério e satisfazer a interior necessidade de luz e de paz.

Formulo votos por que a revisitação do património que nos foi transmitido pelas gerações passadas possa promover uma nova estação de criações artísticas que, abrindo o coração e a mente do homem do novo milénio ao "Belo" e ao "Verdadeiro", o ajudem a redescobrir a grandeza e a dignidade da sua própria vocação de ser humano.
Confio estes meus votos à paterna providência de Deus, enquanto com afecto concedo a minha Bênção a todos e a cada um.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS IRMÃOS DAS ESCOLAS CRISTÃS,


REUNIDOS EM CAPÍTULO GERAL


Sexta-feira, 9 de Junho de 2000

Dilectos Irmãos
Prezados Amigos

229 1. Sinto-me feliz por vos receber no momento em que vos reunis por ocasião do 43º Capítulo geral, quando a vossa Família celebra o centenário da canonização de São João Baptista de La Salle, assim como o cinquentenário da sua proclamação, por parte do Papa Pio XII, como Padroeiro especial de todos os educadores da infância e da juventude.

Estes diversos eventos constituem para vós uma ocasião particularmente favorável para dardes um renovado impulso às vossas diferenciadas missões educativas e evangelizadoras, segundo o carisma do vosso fundador, não obstante a diminuição do número dos vossos membros.

Alegro-me sobretudo pela disponibilidade do vosso Instituto em responder, em íntima comunhão com as Igrejas locais, aos renovados apelos de crianças e de jovens, especialmente dos mais pobres que, no mundo inteiro, têm necessidade de receber uma formação humana, moral, catequética e escolar, a fim de se tornarem homens e mulheres que assumam a própria parte de responsabilidade na comunidade cristã e na sociedade futura. Tal disponibilidade está presente no tema dos vossos trabalhos: Associados para o serviço educativo dos pobres, como resposta lassalista aos desafios do século XXI. A Igreja é convidada a oferecer incansavelmente à juventude este dom da educação, que manifesta a sua atenção às realidades e às expectativas das populações que têm necessidade de auxílio na sua promoção humana.

2. Os vossos irmãos desempenham um papel incomparável. Mediante a sua vida consagrada, eles são para os olhos do mundo as testemunhas do absoluto de Deus e da felicidade que se sente ao servir o Senhor no serviço aos homens, de forma especial as crianças, que são as predilectas de Deus. Através da sua vida comunitária, eles testemunham que Cristo é um vínculo de fraternidade muito vigoroso entre as pessoas, que abre à convivência, à colaboração, à paz e ao perdão.

Assim, estão próximos de todos, na solidariedade quotidiana do educador que acompanha com paciência e delicadeza os jovens ao longo da vereda da maturidade e da verdadeira liberdade.

3. Os vossos recentes Capítulos permitiram-vos reflectir sobre a participação de outras Congregações religiosas e de leigos, que desejariam ser associados às vossas missões e viver, em conformidade com o estilo que lhes é próprio, o carisma lassalista. Sou particularmente sensível a estas colaborações, que permitem unir as forças para uma maior eficácia missionária. A presença de leigos ao vosso lado constitui um louvável sinal do papel cada vez mais importante que eles são chamados a assumir na vida da Igreja, o que desejo encorajar vivamente, como já fiz na Exortação apostólica pós-sinodal Vita consecrata (cf. n. 56). Cabe a vós oferecer aos leigos que quiserem ser membros associados, a formação necessária para a sua vida espiritual e para o seu serviço.

Assim, assentes no ensinamento e na espiritualidade de São João Baptista de La Salle, eles poderão encontrar os modos de desenvolver, segundo o estado de vida que lhes pertence e no respeito das respectivas identidades e das particularidades da vida consagrada, o seu percurso espiritual, a fim de o pôr em prática no serviço educativo que lhes for confiado, esforçando-se por se tornarem modelos de professores cristãos.

No final do nosso encontro, suplico à Virgem Maria e a São João Baptista de La Salle que vos sustenha nos vossos esforços e faça com que o vosso capítulo geral dê frutos. Do íntimo do coração, concedo-vos uma afectuosa Bênção Apostólica.





DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO


EMBAIXADOR DA FRANÇA


JUNTO À SANTA SÉ


Sábado, 10 de Junho de 2000

Senhor Embaixador

1. É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência no momento da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador da França junto da Santa Sé.

230 Ao dirigir-me as palavras que muito me sensibilizaram, Vossa Excelência manifesta a confiança que caracteriza as relações do seu País com a Santa Sé. Agradeço-lhe ter-se feito intérprete de Sua Excelência o Senhor Presidente da República Francesa, e ficar-lhe-ia grato se se dignasse transmitir-lhe as minhas deferentes saudações. Desejo saudar todos os seus compatriotas, sobretudo os que vivem provações pessoais, familiares ou sociais. De modo particular, não me esqueço dos numerosos lares e empresas que ainda sofrem devido às catástrofes que atingiram o território nacional durante o último Inverno. Tenham todos a certeza da minha proximidade espiritual! Através de Vossa Excelência, desejo ainda dirigir uma saudação cordial e afectuosa aos pastores e aos fiéis da comunidade católica do seu País. Com os olhos voltados para o próximo Dia Mundial da Juventude, recordo-me dos esforços que eles despenderam no precedente encontro, que deu numerosos frutos; encorajo-os a prosseguir a sua missão espiritual e o seu empenho na sociedade, por amor dos seus irmãos. Desta forma, eles serão reconhecidos como servidores de todos, no amor que é a característica dos discípulos de Cristo.

2. Daqui a algumas semanas, por um período de seis meses, o seu País assumirá a presidência da União Europeia, neste ano em que recordamos o cinquentenário da proclamação do acto político de 9 de Maio de 1950 que, querido por Jean Monnet e Robert Schuman, seus compatriotas, e por Konrad Adenauer, dava origem a uma nova situação europeia. Aprecio o espírito a que Vossa Excelência fez menção e com o qual as Autoridades francesas desejam cumprir a sua missão ao serviço da Europa. É tarefa do seu País prosseguir na direcção de empreendimentos difíceis, a fim de responder de maneira concreta às preocupações e à enorme expectativa não só dos habitantes do continente europeu mas também de todos os parceiros que, no mundo, precisam da sua ajuda para se desenvolver. A União Europeia é um objectivo e simultaneamente um desafio; ela abre o caminho a um futuro de paz e de solidariedade, e a colaborações cada vez mais intensas entre os diferentes países do continente e com o mundo inteiro. É fundamental que, a todos os níveis, as instituições e as pessoas eleitas para cargos de responsabilidade tenham continuamente a preocupação do bem comum do conjunto das nações, exercendo a sua missão como um serviço às populações, no respeito das regras de igualdade, justiça e honestidade, essenciais para todos os homens, e de maneira muito especial para quantos trabalham na res publica. Assim, podem-se impedir as redes ocultas, que querem aproveitar-se do grande mercado europeu para purificar o dinheiro de todos os géneros de tráfico indigno do homem, sobretudo no âmbito da droga, do comércio das armas e da exploração das pessoas, especialmente das mulheres e das crianças. Os recursos, as riquezas e os frutos do crescimento no continente devem destinar-se sobretudo aos mais pobres nos diferentes países, às nações que mais precisam de se desenvolver e que actualmente ainda estão marcadas pelas consequências da regressão económica e das flutuações dos mercados financeiros.

Estes desafios, aos quais se acrescenta a luta contra o desemprego e a protecção do meio ambiente, citando apenos alguns, supõem que a construção europeia não seja antes de tudo uma comunidade de interesse, mas uma comunidade fundada em valores e na confiança recíproca, situando o homem no centro de todas as lutas. Todas as forças vivas das nações são chamadas a colaborar para o bem de todos, tendo a solicitude de formar, nos diferentes países, a jovem geração, com ideais nobres como ela demonstrou em Paris durante o último Dia Mundial da Juventude, a fim de ser capaz, quando chegar o momento, de assumir as suas responsabilidades. Neste espírito, os países com uma tradição de formação para a gestão dos negócios e para a vida cívica têm o dever de propor uma assistência às nações que acabam de sair dum longo período de estagnação, a fim de ajudar os cidadãos a adquirirem uma maturidade política indispensável à vida pública. De igual modo, é importante promover cada vez mais entre os nossos contemporâneos uma consciência europeia que, tendo em consideração as origens dos povos, os mobilize para que constituam uma comunidade de destino, graças a uma vontade política que se empenha em unir os povos. Uma perspectiva como esta não se poderá realizar a não ser privilegiando uma visão global do homem e da sociedade, da qual o seu País pode ser um dos promotores, baseando-se na sua tradição, sobretudo nos grandes pensadores e nos dirigentes da vida social, que se distinguiram no século XX e insuflaram um espírito novo, contribuindo para a criação duma cultura comum.

3. Vossa Excelência acaba de mencionar a questão dos direitos do homem, à qual os seus compatriotas são muito sensíveis, manifestando assim a sua atenção a quanto é essencial para as pessoas e para a comunidade nacional. De facto, os direitos do homem são o fundamento do reconhecimento do ser humano e da unidade social. Cabe em primeiro lugar às instituições públicas garantir "uma protecção eficaz dos direitos que promanam imediatamente da sua dignidade de pessoa, e que são, por isso mesmo, direitos universais, invioláveis e inalienáveis" (João XXIII, Encíclica Pacem in terris, IV, 145). Entre estes direitos, o direito à existência e ao respeito da vida é primordial, bem como o apoio à família, célula básica da sociedade. O prolongamento da vida exige que seja dada uma atenção especial às pessoas idosas, para que possam viver em condições decentes e beneficiar até ao termo natural da sua existência dos cuidados e da assistência necessários. Com efeito, como podem os indivíduos no seio duma nação ter confiança uns nos outros, se não lhes é garantido o bem mais precioso de cada um, a sua própria vida, que não pode ser submetida unicamente a critérios de eficácia e de rentabilidade, ou a decisões meramente arbitrárias? É dever dos países, em nome dos direitos do homem, e uma honra para as suas instituições, apoiar e defender todos os seres humanos contra tudo o que injuria a sua dignidade e os seus direitos, e proporcionar as ajudas espirituais, humanas e materiais, a fim de que a existência de cada um seja bela e digna, e ninguém se marginalize. Nesta perspectiva, conheço o empenho dos seus compatriotas pela defesa da dignidade das crianças. Numerosas associações se orientam nesta direcção. Não posso deixar de as encorajar a prosseguir a sua acção, sobretudo para que cada criança possa nascer, ter uma família, um pai e uma mãe que possam ajudá-la a construir-se pessoalmente e a estabelecer relações humanas equilibradas e equilibrantes, e a não estar submetida a uma exploração vergonhosa.

4. É importante que a juventude desenvolva a formação e a educação num contexto que permita o desabrochar da sua personalidade. Desejo estimular a acção dos professores, dos educadores e dos serviços sociais, que se empenham com paciência e tenacidade a fim de orientar os jovens e criar as condições para que o ensino possa ser acessível a todos e para combater os males que afligem a sociedade moderna, tais como a violência e a droga. É um serviço fundamental à nação, para o qual todas as instituições educativas devem contribuir. Vossa Excelência está ao par da acção que a Igreja na França desempenha neste âmbito desde há muito tempo, em sintonia com todos os parceiros do mundo da educação, num diálogo confiante e numa estima recíproca, preocupando-se primariamente por servir as pessoas e a comunidade nacional, contribuindo com a sua especificidade e as suas características próprias, e recebendo as garantias e o apoio necessários para a realização desta tarefa de interesse nacional. Ela deseja ardentemente prosseguir esta missão, no respeito das suas convicções, para dar aos jovens e às famílias que o desejam tanto um ensino de qualidade como perspectivas filosóficas, teológicas e espirituais que correspondam à sua visão do homem e ao ensino do Magistério, no respeito das regras próprias da laicidade que, no seu País, conferem uma influência jurídica ao serviço da educação e da liberdade, permitindo uma autonomia das realidades terrestres e deixando às confissões religiosas a faculdade de realizar a sua missão. A lei francesa garante também esta liberdade, oferecendo às famílias a possibilidade de dar às suas crianças uma educação religiosa, mediante horas a ela destinadas propositadamente no arco do ensino escolar; é necessário que todos estejam atentos a fazer de maneira que as eventuais mudanças do programa escolar englobem este aspecto, de acordo com as leis em vigor, respeitando os horários e os ritmos das crianças e das suas famílias.

Uma perspectiva como esta rende justiça a que a educação não seja simplesmente a aprendizagem dum saber científico e técnico, mas também a transmissão de habilidades, duma vivência e de valores fundados num progresso espiritual e moral, que fazem compreender o sentido da existência e, como Vossa Excelência ressaltou, pertencem ao património do seu País.

5. Como recordei várias vezes, o primeiro dos direitos do homem é a liberdade religiosa, no sentido pleno do termo. Isto significa uma liberdade que não se limite unicamente à esfera privada. Esta liberdade supõe da parte das Autoridades e de toda a comunidade internacional, sobretudo da escola e da mídia, que tem uma importante função na formação da opinião, uma vontade expressa de deixar às pessoas e às instituições a possibilidade de desenvolver a sua vida religiosa, de transmitir as suas crenças e valores, e de serem uma parte activa nos diferentes âmbitos da vida social e na colectividade, sem serem excluídos por motivos religiosos ou filosóficos, salvaguardando as regras do Estado de direito. Injuriar as crenças religiosas, desacreditar determinadas formas de prática religiosa e os valores dos quais um grande número de pessoas são portadoras, danifica gravemente os indivíduos que os professam, constitui uma forma de exclusão contrária ao respeito dos valores humanos fundamentais e desestabiliza em grande medida a sociedade na qual deve subsistir uma determinada forma de pluralismo de pensamento e de acção, bem como uma atitude de benevolência fraterna. Isto causa um clima de tensão, de intolerância, de oposição e de suspeita, pouco propício à paz social. Por conseguinte, encorajo quantos têm responsabilidades na sociedade a continuar a vigiar sobre o respeito das liberdades individuais. Convido sobretudo os mass media a uma vigilância renovada neste âmbito e a tratar de maneira equitativa e objectiva as diferentes confissões religiosas.

6. Entre as numerosas tarefas que o esperam e que Vossa Excelência acaba de recordar, deverá prosseguir a obra empreendida pelo seu predecessor para o acolhimento dos peregrinos francófonos durante o Grande Jubileu e para o desenvolvimento e o dinamismo da comunidade francesa. A este propósito, desejo repetir-lhe quanto aprecio o interesse dedicado pela sua Embaixada à preparação do Dia Mundial da Juventude que se realizará no próximo mês de Agosto, agradecendo o que já foi feito para que os jovens possam aproveitar em grande medida este forte tempo espiritual e eclesial. Esta obra manifesta a atenção que as Autoridades do seu País dedicam à presença activa da França em Roma e no mundo, seguindo o exemplo dos seus compatriotas que, durante os séculos passados, foram agentes da difusão da cultura e da fé em todos os continentes.

No momento em que Vossa Excelência inicia oficialmente a sua missão, apresento-lhe, Senhor Embaixador, os meus votos mais calorosos. Posso garantir-lhe que os meus colaboradores se esforçarão por lhe dar, a Vossa Excelência e a todos os membros da sua Embaixada, a assistência da qual poderá precisar. Peço a Deus que ampare o povo francês, para que encontre o verdadeiro bem-estar e possa continuar a trabalhar com generosidade em benefício da paz e do entendimento entre os componentes da nação e entre os povos. Concedo-lhe de bom grado a Bênção apostólica, bem como aos seus familiares e a quantos são chamados a trabalhar com Vossa Excelência.



DISCURSO DO PAPA


A VÁRIOS GRUPOS DE PEREGRINOS,


REUNIDOS NA SALA PAULO VI


Sábado, 10 de Junho de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs

231 1. Sinto- me feliz por poder encontrar-me convosco hoje de manhã, na vigília de Pentecostes, e apresento-vos as minhas cordiais boas-vindas. Provindes de diversas localidades e viestes em peregrinação a Roma para celebrar o Jubileu. A vossa presença na Cidade Eterna, onde São Pedro e São Paulo deram o seu corajoso testemunho de Cristo mediante o martírio, oferece-vos a possibilidade de reflectir sobre o nosso comum compromisso cristão. Possa a paragem junto dos túmulos dos Apóstolos reforçar-vos na fé e impelir-vos a continuar com renovado entusiasmo ao longo do caminho da santidade, fiéis ao Evangelho e ao ensinamento da Igreja.

Dirijo agora um particular pensamento às Irmãs Servas da Virgem Genetriz de Deus, que estão aqui presentes, e faço-o na língua que lhes é familiar.

2. Queridas Religiosas, para mim é uma grande alegria poder encontrar-me convosco neste dia, nesta audiência no Vaticano. Dou-vos cordiais boas-vindas. Saúdo inclusivamente o Arcebispo Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, assim como os sacerdotes aqui presentes e os devotos do Beato Edmundo Bojanowski.

A grande família das Irmãs Servas da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria é formada por quatro Congregações: Irmãs Servas oriundas de Debica, de Stara Wies, de Slask e de Wielkopolska. Saúdo as Superioras-Gerais destas Congregações, as Provinciais e todas as Religiosas aqui presentes, bem como os habitantes de Gostyn e de Grabonóg lugar de nascimento do Beato Edmundo. Agradeço à Superiora-Geral, e contemporaneamente Presidente da Federaçao das Irmas Servas, as palavras que há pouco me dirigiu.

3. Viestes a Roma, para junto dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, para dar graças pela beatificação do vosso Fundador, Edmundo Bojanowski, que há cento e cinquenta anos chamou à existencia a vossa Família religiosa. Esta peregrinação tem lugar no ano do grande Jubileu e por este motivo adquire uma particular eloquência. Na Carta apostólica Tertio millennio adveniente escrevi que "o objectivo prioritário do Jubileu... é... suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e de renovação pessoal num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado" (n.
TMA 42). Para este tempo jubilar e para todos os tempos a Igreja indica-vos, como exemplo a imitar, o vosso Fundador, cuja beatificação teve lugar durante a minha peregrinação na Pátria, em Varsóvia, no dia 13 de Junho de 1999. Esta constitui um particular dom da divina Providência para as vossas Congregações e inscreve-se de maneira duradoura na vossa história. No limiar do terceiro milénio, mediante este grande apóstolo do povo polaco e heróica testemunha do Evangelho, Deus desejou indicar-vos o caminho rumo ao futuro.

O Beato Edmundo Bojanowski amava a Deus e ao homem. Era um homem de oração. O seu amor pelos homens, que se manifestou com actos heróicos, nascia de uma profunda união com Deus através da oração. Desta ele hauria a força para servir o homem. Aquele amor amadurecia nele, de joelhos, para em seguida produzir frutos. Graças à oração, toda a sua vida se tornou um incessante serviço ao homem necessitado, especialmente às crianças. Para ele, as coisas de Deus eram ao mesmo tempo as coisas do homem, e o amor a Deus era o amor aos homens.

4. Dilectas Irmãs, nestes dias de peregrinação, a vida e as obras do Beato Edmundo deveriam tornar-se objecto de uma reflexão particular. Por seu intermédio Deus quer dizer-vos que a santidade, a tendência para a santidade, é a mais importante tarefa das pessoas consagradas.

Trata-se de uma especial razão de ser de todas as comunidades religiosas. Sois chamadas a prestar testemunho, pessoal e comunitário, da santidade, que é a vocação essencial da vossa vida.

Para dar frutos é necessário "estar bem enraizado em Cristo, edificando sobre Ele toda a própria vida e todo o próprio agir" (cf. Cl Col 2,7). Ele deve tornar-se o terreno fértil do vosso crescimento e do amadurecimento daquilo que constituiu o início do santo Baptismo. "Estais mortos diz São Paulo e a vossa vida está escondida em Deus. Porém, ressuscitastes com Cristo e por isso procurai as coisas do Alto e não as coisas da terra" (cf. Cl Col 3,1-3). Por conseguinte, imitai Cristo mesmo, que era totalmente submetidoà vontade do Pai; imitai Jesus na sua oração,à qual Ele dedicava longas horas; imitai Jesus no seu amor ao homem. "Assim também que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que fazeis e louvem o vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16).

O testemunho da vossa vida entregue autenticamente e sem reservas a Deus e aos irmãos é indispensável para tornar Cristo presente no mundo e alcançar todos os homens com o seu Evangelho.

5. A esta altura, desejaria salientar o vosso serviço, repleto de abnegação, ao homem em necessidade. Desta forma, cumpris fielmente o desejo do vosso Fundador, expresso com estas palavras: "As Servas da Mãe de Deus terão como finalidade servir os pequenos e os pobres, por amor a Cristo". Há cento e cinquenta anos sem interrupção dais testemunho deste amor não somente na Polónia, mas em algumas dezenas de países em todos os continentes do mundo.

232 Cuidais das crianças, dos enfermos, das pessoas da terceira idade, dos marginalizados e dos pobres. Trabalhais nos hospitais nas casas de cura, nos orfanatos, nos internatos e nos jardins-de-infância. Dedicais-vos também à catequese e ao trabalho paroquial.

O encontro hodierno constitui para mim uma ocasião especial para vos expressar a gratidão por este apostolado da caridade, que é o mais eficaz anúncio de Cristo ao mundo de hoje e a concreta actuação do carisma religioso.

Quereria fazer notar ainda uma questão muito importante, isto é, a vossa rica participação na actividade missionária da Igreja. Realizai a chamada de Cristo: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Notícia a toda a humanidade" (
Mc 16,15), nos continentes africano e latino-americano. Há alguns anos, empreendestes o trabalho também na Bielo-Rússia, na Ucrânia, na Rússia, no Cazaquistão, na Moldávia e, ultimamente, na Sibéria. É uma grande contribuição das vossas Congregações para a nova evangelização e a missao no meio das nações.

6. Mediante a oração, insiro-me nesta grande acção de graças a Deus pela beatificação do vosso Fundador e pelos cento e cinquenta anos da vossa presença na Igreja. A Igreja conta com a vossa ulterior e generosa dedicação, com o vosso amor abnegado e pródigo. Sede um sinal límpido do Evangelho para todos. Sede testemunhas vivas da nova civilização do amor! Actue em vós incessantemente o Espírito Santo e desperte nos corações de muitas jovens uma intenção semelhanteà vossa o desejo de seguir a Cristo. Maria Imaculada vos proteja e vos conserve sob a sua protecção. Imitai-a, aquela que foi perfeitamente obediente à vontade de Deus. Escutai-a quando vos recorda aquilo que certa vez disse em Caná da Galileia: "Fazei o que Ele mandar" (Jn 2,5).

Rezo a Deus para que a graça da vossa vocação religiosa produza abundantes frutos espirituais.

Abençoo todos vós aqui presentes, cada uma das Irmãs da vossa Família religiosa e também aquelas pessoas que trazeis no coração e abraçais com a vossa oração.

7. O meu pensamento dirige-se agora aos outros peregrinos aqui presentes. Saúdo os fiéis das paróquias de Sao Flaviano em Torano Novo, de Santa Ana em Chieti, do Sagrado Coração em São Marcos Argentano. Às vossas queridas Comunidades paroquiais, formulo votos cordiais por que sejam cada vez mais animadas de zelo apostólico, difundindo com a palavra e o exemplo a mensagem evangélica, fermento de renovação espiritual e social.

Além disso, saúdo o grupo de idosos vindos de Santa Maria do Cedro e os membros da Associação de pessoas a quem foi transplantado o coração, oriundos de Verona. A vós, queridos Irmãos e Irmãs, chegue o meu mais profundo encorajamento para que possais encontrar na ajuda do Senhor o conforto na provação e o apoio nos momentos de dificuldade.

Enfim, dirijo a todos o convite a terem o olhar incessantemente fixo em Cristo, "Caminho, Verdade e Vida" (cf. Jo Jn 14,6). Permanecei sempre unidos a Ele. De maneira especial neste Ano jubilar, demonstrai-vos solícitos em redescobrir, dia após dia, o amor que Deus tem pelos seus filhos; abri-vos com confiançaà sua graça e assim podereis olhar para o futuro com esperança segura. Oxalá vos acompanhe e vos salvaguarde a Mãe de Deus, que intercede por nós. Ela, a dócil discípula do Espírito Santo, vos ajude a estar prontos a seguir o Mestre divino em tudo.

Que vos sirva de apoio também a Benção, que de coração concedo a vós e às vossas famílias.






Discursos João Paulo II 2000 225