Discursos João Paulo II 2000 239

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17 de Junho de 2000


Amadíssimas Irmãs
Franciscanas Imaculatinas

1. É-me grato dirigir a todas a minha mais cordial saudação, a vós que viestes de diversas partes da Itália, Brasil, Filipinas e Índia, para participar no Capítulo Geral da vossa Congregação. Saúdo em particular a Superiora-Geral e as Irmãs que com ela compartilham o serviço da autoridade para o bem de todo o Instituto. Estendo a minha afectuosa saudação a todas as Irmãs Franciscanas Imaculatinas, assim como aos leigos que participam nas obras apostólicas do Instituto.

Durante os intensos trabalhos capitulares estais a reflectir sobre o tema: "No terceiro milénio, dóceis ao Espírito Santo como Teresa, missionária pelos caminhos do mundo". Guiadas pelas inspirações interiores do Espírito Santo, esforçais-vos por aprofundar a espiritualidade específica da vossa obra e o vigor originário do carisma da fundação, que vos legou o Frei capuchinho Ludovico Acernese, carisma que foi vivido de modo exemplar pela Serva de Deus Teresa Manganiello, verdadeira pedra angular da vossa família espiritual.

Este carisma que a Providência vos confiou deve impelir cada Irmã Franciscana Imaculatina a ser missionária nos âmbitos mais conformes à vida de consagração e às vossas actividades apostólicas: instrução e educação das crianças e jovens, catequese e colaboração nas actividades pastorais de paróquias e missões, assim como em todas as iniciativas de solidariedade e assistência que não só são compatíveis com o espírito do Instituto, mas que sobretudo respondem melhor às necessidades da Igreja do nosso tempo.

Trata-se dum carisma muito actual, que tem a sua origem e o seu vigor na autêntica tradição franciscana e na espiritualidade mariana mais genuína.

2. Sois antes de tudo Franciscanas. O primeiro elemento característico da vossa vida e actividade apostólicas é o ideal franciscano. É o que indicam as vossas Constituições, quando identificam a regra suprema da vida de cada Irmã Franciscana Imaculatina no "seguimento de Cristo mais de perto, segundo a forma do santo Evangelho", tal como este se propõe "nos exemplos e ensinamentos do Seráfico Pai São Francisco" (Constituições, n. 2).

O Pobrezinho de Assis fez do Evangelho o centro da sua experiência interior (cf. Testamento 16-18: Fontes Franciscanas, n. 116) e propô-lo aos seus frades como norma suprema de vida (cf. Regra Selada I, 2: Fontes Franciscanas, n. 75). Por este caminho evangélico, ele foi seguido por uma grande multidão de filhos e filhas espirituais, entre os quais reveste uma importância especial a sua "plantazinha", Santa Clara (cf. Regra de Santa Clara, I, 1-2, em: Fontes Franciscanas, n. 2750).

Na escola de Francisco e Clara de Assis, cada Franciscana Imaculatina é chamada a testemunhar à humanidade do terceiro milénio a força transformadora do Evangelho, anunciado com a palavra e o exemplo, levando a todos a Boa Nova da reconciliação e da salvação.

A fraternidade universal, vivida de modo particularmente intenso por São Francisco e Santa Clara, vos sirva de guia no compromisso apostólico e missionário ao qual a vossa Congregação, desde as humildes origens da Casa Mãe em Pietradefusi, deu relevo difundindo em toda a parte a fragrância de Cristo, único Salvador da humanidade.

240 3. O segundo elemento fundamental da vossa identidade religiosa é a espiritualidade mariana. Como é recordado pela vossa legislação, o Frei Ludovico Acernese distinguia-se pelo singular amor à Virgem Imaculada e, por isto, quis consagrar a Maria Santíssima o Instituto por ele fundado, como "nova homenagem à sua Imaculada Conceição" (Constituições, n. 4).

As vossas Constituições indicam depois o modo mais conforme para mostrar o rosto mariano do Instituto: "Faremos resplandecer na Congregação e em cada uma de nós essa "homenagem", com uma vida de total consagração à Virgem Imaculada. Olhando para Ela e imitando-a, como excelso modelo de vida evangélica, queremos viver e trabalhar para a conversão e a santificação das almas, animando com alegre renúncia toda a nossa vida" (Ibid.).

A Virgem Imaculada seja por isso a vossa guia, o modelo inspirador, a ajuda constante no caminho quotidiano, o refúgio nas inevitáveis dificuldades e a alegria nos momentos de júbilo e de partilha.

4. Caríssimas Irmãs! A vossa Assembleia capitular realiza-se no cerne do Grande Jubileu do Ano 2000, que é para todos um especial tempo de graça e de renovação espiritual. Como salientei na Bula de proclamação, ele comporta também um aspecto missionário. De facto, "a entrada no novo milénio encoraja a comunidade cristã a alargar o seu olhar de fé para horizontes novos no anúncio do Reino de Deus" e impele os discípulos de Cristo a abraçarem com fervor, "considerando as exigências actuais da evangelização, o compromisso missionário da Igreja" (Incarnationis mysterium, 2).

De coração formulo votos por que a celebração do Capítulo Geral dê ao vosso Instituto um renovado impulso missionário, de maneira a poderdes dar prosseguimento ao estilo franciscano e à espiritualidade mariana que, desde o início, vos distinguem e constituem a mais preciosa herança a vós legada pelo Frei Ludovico Acernese e por Teresa Manganiello. Continuai a seguir os seus passos, produzindo abundantes frutos de bem.

Confio-vos, assim como as vossas Coirmãs que trabalham na Itália e no mundo e os vossos entes queridos, à protecção celestial de Maria Imaculada, "Mulher do silêncio e da escuta, dócil nas mãos do Pai" (Ibid., 14), e de São Francisco de Assis, ao mesmo tempo que vos abençoo com afecto, a vós e a todos aqueles com quem vos encontrardes no vosso quotidiano apostolado franciscano e mariano.





DISCURSO A VÁRIOS GRUPOS DE FIÉIS


VINDOS A ROMA POR OCASIÃO DO ANO SANTO


Sábado 17 de Junho de 2000


Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de dirigir a cada um de vós as minhas afectuosas boas-vindas a este encontro, que se realiza na vigília da festa litúrgica da Santíssima Trindade. Neste ano, a festa adquire uma relevância especial, porque nos conduz ao centro mesmo do Grande Jubileu, que tem como objectivo "a glorificação da Trindade, da Qual tudo procede e para a Qual tudo se orienta no mundo e na história" (Tertio millennio adveniente, TMA 55). A contemplação do mistério do Deus Uno e Trino suscita assim nos crentes um renovado empenho de conhecer, amar e servir a Deus, que nos chama a cooperar com Ele na construção dum mundo mais justo e fraterno.

Desejo-vos, caríssimos Irmãos e Irmãs, que possais sentir forte, nesta vossa peregrinação jubilar, a experiência do amor de Deus. Com efeito, é o seu amor que nos ajuda a ser fiéis à sua lei e nos torna fermento de autêntica renovação no mundo.

Aos ex-alunos das Escolas católicas

241 2. Saúdo-vos, a vós que participais no encontro da Organização mundial dos ex-alunos das Escolas católicas. No decurso dos vossos estudos tivestes a possibilidade de adquirir uma formação não só intelectual, mas também humana, moral e espiritual. Oxalá façais com que beneficiem dela os vossos filhos e os jovens de hoje, que têm necessidade de aprender dos mais adultos os pontos de referência, para tornarem a própria vida bonita e cheia de esperança!

Dirijo uma cordial saudação a vós, alunos que participais no concurso fotográfico do Conselho da Europa sobre o tema: Europa: um património comum. Vós fazeis a experiência das relações entre os diferentes povos e as diversas culturas do Continente; preparais assim, ao vosso modo, uma Europa fraterna, onde cada um se faz solidário de todos e se abre às outras culturas, para as tornar um património comum fundado sobre os valores essenciais do respeito pela vida e pelas pessoas.

A grupos de fiéis de algumas paróquais italianas

3. Dirijo, agora, uma particular saudação aos grupos de fiéis das Paróquias dos Santos Vito e Modesto em Burago de Molgora, dos Santos Pedro e Paulo em Luino, dos Santos Faustino e Jovita em Villalta de Gazzo, da Bem-aventurada Virgem Maria da Assunção em Frascarolo, de São Brás em Vacri e de São José em San Cesareo.

Caríssimos, os dias maravilhosos da vossa peregrinação jubilar, que vos trouxe a encontrar Cristo, a "porta" que nos introduz na vida nova, e a deter-vos em oração junto dos túmulos dos Apóstolos e dos Mártires, possam constituir para cada um de vós uma jubilosa ocasião de redescoberta do amor de Deus e uma renovada experiência da vossa pertença à sua grande família, que é a Igreja.

Enriquecidos por essa experiência, possais ser nas vossas comunidades fervorosos agentes de paz e de bem, a fim de tornar cada uma das vossas Paróquias um reflexo vivo da Trindade.

Com efeito, assumindo as relações entre as três Pessoas divinas como paradigma da convivência entre os homens, é possível construir a civilização do amor na qual a igualdade se transforma em fraternidade, a unidade em comunhão respeitosa entre as pessoas e a autoridade em generoso serviço para o bem dos irmãos.

A Membros de várias Associações

4. O meu cordial pensamento dirige-se depois aos Colaboradores da Agência geral de Ferrrara dos Seguros Gerais, ao Grupo do Hospital "Sagrada Família" dos "Fatebenefratelli" de Erba, ao Grupo da Associação Thalassemia do Hospital Garibaldi de Catânia, à Banda Musical de Vinovo e ao Grupo de fiéis provenientes da Abadia São Salvador.

Desejo a cada um dos que pertencem a essas realidades levar a riqueza da sua fé à experiência de trabalho e à vida associativa, para a viver como um chamamento a crescer na estima e no acolhimento recíproco e a servir com generosidade o bem comum. Desse modo, o tempo vivido juntos e as necessidades dos irmãos poderão tornar-se ocasiões para testemunhar o amor de Deus, que vence o pecado e as divisões e dá a esperança de retomar sempre o caminho do bem.

A fiéis provenientes da Alemanha

242 5. Saúdo de coração os peregrinos de língua alemã, em particular os parentes do falecido Arcebispo Josef Stimpfle, que durante quase trinta anos guiou a Diocese de Ausburgo.

Além disso, dou as boas-vindas às alunas e aos alunos da Escola católica privada de Bremerhaven. Caros jovens! Alegro-me pelo facto de terdes viajado do Norte da Alemanha através dos Alpes até ao Sul, para no Ano Santo visitardes os túmulos dos Apóstolos. A região, na qual viveis de cristãos, é a diáspora. Deste modo, a escola que frequentais é uma espécie de "campo de formação" para um amadurecido testemunho cristão. Faço votos por que consigais, com força e coragem, levar uma vida de cristãos convictos. Oro a Deus para que vos conceda ajuda e bênçãos.

A um grupo de militares do Equador

6. Dirijo agora uma saudação a vós, membros da Academia de Guerra do Ministério da Defesa do Equador, por ocasião da vossa passagem por Roma no Ano do Grande Jubileu. Atravessar a Porta Santa é manifestar a vontade de se aproximar mais de Deus e, por conseguinte, de levar a vida de acordo com os ensinamentos do Evangelho. Que este gesto, acompanhado de obras de piedade e de caridade, vos obtenha as graças necessárias para levardes a cabo as vossas tarefas familiares e profissionais, dando testemunho da vossa adesão a Cristo e de pertencer à sua Igreja.

Saudações finais

7. Caríssimos Irmãos e Irmãs, confio cada um de vós à materna protecção d'Aquela que a Igreja venera como eminente Habitação da Santíssima Trindade e, ao renovar os votos de uma frutuosa peregrinação jubilar, a todos concedo de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO SANTO PADRE ÀS


MISSIONÁRIAS DA IMACULADA PADRE KOLBE


REUNIDAS EM CAPÍTULO GERAL


Segunda-feira, 19 de Junho de 2000

Caríssimas Missionárias
da Imaculada Padre Kolbe!

1. Tenho a alegria de vos acolher por ocasião da Assembleia Ordinária, que estais a celebrar nestes dias em Bolonha. A todas dirijo afectuosas boas-vindas. De modo especial, a minha saudação vai à Directora-Geral e ao Conselho, assim como ao Padre Luigi Faccenda, Fundador e Assistente espiritual do Instituto. Esta vossa visita quer consolidar a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro. Estou-vos grato por esta demonstração de fidelidade e amor à Igreja.

Da milenária e frutuosa árvore da Igreja, com efeito, tornastes-vos um novo ramo, com a vossa inserção, a 25 de Março de 1992, entre os Institutos seculares de direito pontifício. Ao unir-me à vossa acção de graças a Deus pelo caminho até aqui percorrido, faço votos por que a Assembleia Geral constitua uma ocasião favorável para aprofundar sempre mais a vossa espiritualidade de consagração total à Imaculada, seguindo o exemplo de São Maximiliano Kolbe, o mártir de Auschwitz.

243 Espero que os trabalhos da vossa Assembleia, sustentados e orientados pela graça jubilar, vos consolidem no empenho de consagração a Deus, de maneira a serdes fermento de sabedoria e testemunhas de esperança no mundo de hoje, que espera ser transfigurado "a partir de dentro, com a força das Bem-aventuranças" (Exort. Apost. Vita consecrata, VC 10). Evocareis deste modo a missão própria de todo o discípulo de Cristo, representada de maneira eficaz por um famoso autor dos primeiros séculos, com estas palavras: "Embora (os cristãos) sigam os costumes da terra..., o seu modo de viver é admirável... Cada qual habita a sua pátria, mas vivem todos como de passagem... Toda a terra estrangeira é sua pátria e toda a pátria lhes é estrangeira... São no mundo o que a alma é no corpo... A alma está encerrada no corpo, mas contém o corpo: ...os cristãos, são eles que contêm o mundo" (Carta a Diogneto, cap. 5-6; Funk, Patres Apostolici; cf. 2ª leitura do Ofício de quarta-feira da 5ª Semana do Tempo Pascal).

2. Com alegria fiquei sabendo que o vosso jovem Instituto está a difundir-se em diversos Países e que as "Casas da Imaculada" estão presentes na Itália, Luxemburgo, Argentina, Bolívia, Brasil, Califórnia e na Polónia, onde, para manter viva a herança do Mártir Maximiliano Kolbe, estais a concluir um "Centro de espiritualidade" em Auschwitz, que se propõe oferecer uma mensagem de esperança a quantos vão àquele lugar, símbolo das mais atrozes negações da dignidade humana consumadas no século XX.

Tenho também conhecimento de que ao vosso lado trabalham os "Voluntários da Imaculada", homens e mulheres de todo o estado de vida, que abraçam a vossa própria espiritualidade e compartilham o vosso mesmo apostolado.

O vosso Instituto distingue-se pelo carisma mariano, tirado dos ensinamentos e dos exemplos de São Maximiliano Kolbe, cujo amor pela Imaculada é bem conhecido. Ele intuíra como, no mistério da Imaculada, estava contida a profunda síntese entre a desventura do pecado original, a história dramática que dele derivou para a humanidade pecadora e o desígnio divino da salvação, que no Verbo encarnado no seio da Virgem tem o ponto de chegada. Impelido por essa íntima certeza, o Padre Kolbe exortava a semear a verdade da Imaculada no coração de todo o homem e de toda a mulher, a fim de que a Virgem - como ele dizia - pudesse erguer em todos o trono do Filho, introduzindo cada um num mais íntimo conhecimento e amor do Evangelho. Depois, ele fazia observar que, quando nos consagramos à Imaculada, nos tornamos nas suas mãos instrumentos da misericórdia divina, tal como foi Ela nas mãos de Deus. E exortava a deixar-nos conduzir pela mão de Maria, caminhando "tranquilos e seguros sob a sua guia".

3. Caríssimas Missionárias da Imaculada Padre Kolbe! A vossa experiência quotidiana faz com que experimenteis como os homens do nosso tempo desejam ouvir de novo o anúncio pronunciado pelos lábios de Maria Madalena, na manhã da Páscoa: "O Senhor ressuscitou!" (cf. Mc Mc 16,10). Eles têm necessidade de apóstolos que, como acontece no alvorecer da fé, anunciem hoje Cristo, único Salvador do homem, e proclamem com vigor que a sua morte e ressurreição dá a todos a possibilidade de esperarem e de viverem em plenitude. Sede também vós apóstolas e missionárias!

Semeai com ardor franciscano a verdade do Evangelho no coração e na vida dos irmãos que encontrardes no vosso quotidiano serviço eclesial. Este vosso esforço de evangelização incidirá no coração de quem vos escuta, se permanecerdes arraigadas em Cristo Jesus. O vosso apostolado deve brotar da oração incessante, de uma vida que seja contínua busca de Deus e da sua acção nas complexas realidades terrenas.

Peço ao Senhor, por intercessão da Imaculada e de São Maximiliano Kolbe, que vos fortaleça nos vossos propósitos de empenhamento, e vos assista com o ardor do seu Espírito, para que o Capítulo Geral, que estais a celebrar, traga abundantes frutos ao vosso Instituto e à Igreja.

Com estes votos, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a cada uma de vós, aos membros da vossa Família espiritual e a quantos são objecto dos vossos cuidados pastorais.





DISCURSO AOS PARTICIPANTES NA


"REUNIÃO DAS OBRAS PARA A AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS"


(R.O.A.C.O.)

Segunda-feira, 19 de Junho de 2000



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
244 no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos Membros e Amigos
da ROACO!

É-me grato apresentar a cada um de vós as minhas boas-vindas, exprimindo-vos vivo reconhecimento por esta visita que quisestes fazer-me por ocasião da segunda Assembleia anual da ROACO. Dirijo um cordial pensamento ao Senhor Cardeal Achille Silvestrini, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais e Presidente da ROACO, e agradeço-lhe as amáveis expressões que me dirigiu em nome de todos. Saúdo também com afecto o Arcebispo D. Miroslav Stefan Marusyn, Secretário da Congregação, o Monsenhor Subsecretário e os Colaboradores, juntamente com os Responsáveis pelas diversas Agências.

Nos últimos anos o vosso trabalho tem sido sempre mais articulado para responder, de modo atento e tempestivo, aos pedidos e urgências das Igrejas Orientais Católicas, graças também ao contributo das Comunidades locais, que oportunamente procurastes envolver. Os pedidos tornaram-se objecto, de quando em quando, de sessões especiais de reflexão e estudo, a fim de determinar as prioridades pastorais e decidir o apoio às diversas iniciativas de evangelização.
2. Ainda conservo viva e grata recordação das recentes peregrinações jubilares ao Monte Sinai, ao monte Nebo e à Terra Santa, aonde quis ir no sinal de um retorno "às raízes da fé e da Igreja", encontrando-me com Patriarcas, Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como com filhos e filhas das Igrejas Orientais Católicas.

A visita às localidades que se tornaram ilustres pelas vicissitudes mosaicas, a Missa solene em honra de São João Baptista no estádio de Amã, as Celebrações eucarísticas na sala do Cenáculo e junto do Santo Sepulcro em Jerusalém, foram etapas inesquecíveis, durante as quais "a nossa alma se comoveu não só com a recordação daquilo que Deus fez, mas também pela Sua própria presença, pois mais uma vez caminhou connosco na Terra do Nascimento, Morte e Ressurreição de Cristo" (L'Osservatore Romano, ed. port. de 1/4/2000, pág. 12).

Quanto o Senhor me concedeu experimentar naqueles dias leva-me a recomendar-vos, a vós e a todos os fiéis católicos, que tenhais sempre mais a peito as Comunidades cristãs da Terra Santa e as sustenteis nas suas necessidades, para que os nomes de Nazaré, Belém e Jerusalém continuem a suscitar na alma dos cristãos, de hoje e de amanhã, sentimentos de gratidão pelo Mistério inefável que ali se realizou, e pelo anúncio da salvação que, graças às primeiras Comunidades de crentes, daquela Terra alcançou o mundo inteiro.

3. Por ocasião do Grande Jubileu, que o Senhor nos concede celebrar, vieram e virão a Roma significativas representações das Igrejas Orientais Católicas para orar, juntamente com os outros irmãos católicos, sobre o túmulo dos Apóstolos e consolidar vínculos de intensa comunhão e fraternidade com a Sé Apostólica. Desse modo, também em Roma se torna visível a universalidade da Igreja, na variedade dos ritos e das tradições.

Estas concretas manifestações da catolicidade da Igreja de Cristo, na sua riqueza e variedade, constituem um forte apelo a viver a solicitação ecuménica, empenho relevante do Grande Jubileu. Como eu recordava na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, precisamente sob o aspecto ecuménico, este será um ano "muito importante para juntos voltarem o olhar para Cristo, único Senhor, com o compromisso de se tornarem um só, nos termos da sua súplica ao Pai. O destaque da centralidade de Cristo, da Palavra de Deus e da fé não deveria deixar de suscitar interesse e acolhimento favorável nos cristãos de outras Confissões" (n.
TMA 41).

4. Nesta particular circunstância, renovo a todos vós o convite a envidar todo o esforço para irdes em socorro das populações divididas por conflitos fratricidas ou daquelas do Médio Oriente, ainda em busca de estáveis vias de justiça e de liberdade.

245 O Jubileu exorta-nos a sinais concretos de caridade fraterna que abram "os nossos olhos às necessidades de quantos vivem pobres e marginalizados... Devem ser eliminadas as prepotências que levam ao predomínio de uns sobre os outros: tais prepotências são pecado e injustiça" (Incarnationis mysterium, 12). O empenho em favor da justiça e a busca de recursos para criar uma cultura da solidariedade e da cooperação devem, portanto, constituir objectivos relevantes para todos, mas sobretudo para as Comunidades eclesiais, de cuja solidariedade fraterna sois os intermediários e a expressão visível.

Deste modo, sob a prudente guia da Congregação para as Igrejas Orientais, as Agências aqui representadas confirmam-se como eficazes testemunhas da solicitude operosa das Igrejas de que provêm, e sinal profético do empenhamento da Igreja inteira. Com efeito, é trabalhando pela justiça que se constrói a paz. É praticando o preceito do amor de Cristo que se antecipam os céus novos e a terra nova, "onde habita a justiça" (
2P 3,13).

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs, chegue a vós, por meu intermédio, o reconhecimento das Igrejas do Oriente pela obra concreta de solidariedade cristã, que há muito tempo realizais em favor delas. Diante das necessidades sempre mais urgentes, exorto-vos a ampliar os confins do vosso coração para intensificar o fluxo de caridade operosa, para a qual inúmeras pessoas olham com confiança.

Neste ano de graça desejo que cada um de vós acolha com ânimo disponível os abundantes dons espirituais, que o Senhor concede para uma vida empenhada no seu serviço, de modo cada vez mais generoso. Interceda por vós a Virgem Maria, Mãe de Deus, a quem confio a vossa preciosa obra em favor das Igrejas do Oriente.

Com estes votos, de coração concedo-vos a Bênção Apostólica, a vós e aos vossos entes queridos.





DISCURSO DURANTE O ENCONTRO COM PEREGRINOS DA DIOCESE ITALIANA DE ÁSCOLI PICENO


24 de Junho de 2000


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Viestes em grande número a esta amada cidade de Roma para fazer a vossa peregrinação jubilar. A todos dirijo a minha saudação cordial. O meu pensamento dirige-se, em particular, aos fiéis da Diocese de Áscoli Piceno que, mediante esta peregrinação jubilar, querem reafirmar os seus estreitos vínculos de comunhão com o Sucessor de Pedro. Caríssimos, sede bem-vindos!

Apresento a minha cordial saudação, antes de tudo, a D. Silvano Montevecchi, vosso Bispo, e agradeço-lhe as amáveis expressões que, em nome de todos, me dirigiu. Através dele, desejo fazer chegar a certeza da minha lembrança na oração à inteira Diocese: aos caros sacerdotes, consagrados, consagradas e fiéis leigos, com um pensamento particular para quantos cooperam de maneira activa na vida da vossa Igreja; aos jovens, doentes e quantos procuram a Verdade com um coração sincero. Hoje está presente convosco também o Pe. Raniero Cantalamessa, vosso conterrâneo e Pregador da Casa Pontifícia, a quem saúdo com afecto. Por fim, dirijo o meu deferente pensamento às Autoridades civis de toda a ordem e grau, que quiseram unir-se a este significativo encontro.

A hodierna visita aos lugares jubilares acontece, por desígnio providencial, no contexto do Congresso Eucarístico Internacional, que amanhã terá a sua solene conclusão. Sirva esta coincidência para confirmar todos vós na fé e na devoção para com o Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que a Igreja conserva como precioso tesouro, que lhe foi dado para a sustentar ao longo do caminho rumo à Páscoa eterna.

2. É-me conhecido o percurso pastoral que desde o mês de Outubro viu empenhadas todas as paróquias da vossa Diocese numa aprofundada reflexão sobre a Eucaristia e a Santa Missa. Durante esse período, sob a guia dos Padres Sacramentinos, realizaram-se Semanas Eucarísticas, moduladas pelo tema: "Cristo, vida da alma, Senhor da história".

246 Foi com alegria que tomei conhecimento dos notáveis frutos que foram recolhidos, a níveis catequético e pastoral, nos numerosos "Centros de Escuta" da Palavra de Deus, activados nas famílias. Será conveniente que a experiência, aderindo ao desejo de muitos, seja ulteriormente continuada, com vantagem de quem quer chegar a um conhecimento sempre mais completo da própria fé. A iniciativa viu a colaboração das várias associações eclesiais, envolvendo muitas pessoas no caminho de aprofundamento. Espero que também isto mereça ser desenvolvido.

O empenho catequético encontra o seu cumprimento na celebração litúrgica. O evento pascal, que é anunciado, realiza-se de facto completamente no mistério vivido através dos dons sacramentais. As semanas eucarísticas, organizadas nas paróquias e vigararias da vossa Diocese, ajudaram a preparar-vos de maneira intensa para viverdes, na realidade concreta das situações quotidianas, a dimensão eucarística da vida eclesial. Agora, tendo sido lançada a semente, será preciso cultivar o terreno, a fim de que seja sempre melhor conhecida e vivida a liturgia da Cruz, a liturgia da Luz, a liturgia da Caridade.

A redescoberta da piedosa prática da adoração eucarística, com subsídios preparados pelas Monjas beneditinas do mosteiro de Offida, introduziu-vos na dimensão orante da vida eclesial. Com efeito, é de um diálogo constante e profundo com Jesus, presente de maneira muito especial na Eucaristia, que haure vigor o empenho do testemunho e da missão, confiado a cada baptizado, segundo o seu estado de vida.

3. A comunidade eclesial torna-se, assim, "tenda da escuta", para se abrir à partilha com todos os jovens, adultos, operários, anciãos, encarcerados, doentes, pobres, esposos, noivos e consagrados.

Ao momento da evangelização e da celebração, deve corresponder um válido empenho no âmbito da caridade, mediante gestos concretos de solidariedade. Sei que a vossa Diocese já programou a construção de um centro de pastoral juvenil em Serra Leoa e de uma casa de hospitalidade para jovens portadores de deficiência na Zâmbia. No vosso território foram também inauguradas novas estruturas para a ajuda a pessoas em dificuldades materiais e espirituais. Continuai sem temor a servir os pobres que batem à porta do vosso coração. Neles é Cristo que passa para vos visitar, a fim de vos dar a sua graça. Uma fé fortalecida, uma esperança mais sólida, uma incansável caridade serão os frutos mais preciosos da celebração do Ano Santo.

4. Desejo agora dirigir uma saudação afectuosa aos Sócios da "Pia Associação dos Picenos", antiga e benemérita Confraria romana, que há cerca de quatro séculos trabalha para a conservação e a promoção dos valores humanos e cristãos entre a numerosa e activa comunidade da Região das Marcas desta cidade. O meu pensamento cordial estende-se também aos peregrinos das paróquias do Espírito Santo de Paolo del Colle; de Santa Maria Assunta, em Civita, da Eparquia de Lungro; e além disso aos participantes na estafeta promovida pela instituição recreativa ferroviária de Údine, aos funcionários da Caixa Económica de Ferrara, à Associação italiana dos "Barmen" e os seus simpatizantes, aos empregados das "Edizioni Frate Indovino" de Perúsia. Saúdo, enfim, os membros da Pontifícia Academia de S. Tomás, reunidos nestes dias em Roma para a sua primeira Assembleia.

Caríssimos, o Jubileu seja para todos motivo de uma nova adesão a Cristo e ao Evangelho, para um testemunho cristão sempre mais incisivo na sociedade. Sirva-vos neste caminho a intercessão da Mãe de Deus e do Predecessor de Cristo, que hoje a liturgia recorda com honra especial.
Acompanho estes votos com a Bênção Apostólica que de bom grado vos concedo, a vós aqui presentes, às vossas famílias e aos vossos entes queridos, com particular afecto para com os doentes e os idosos, assim como por todos os que, embora o desejassem, não puderam estar aqui connosco no encontro deste dia.

Louvado seja Jesus Cristo!





CARTA DO SANTO PADRE AO PRESIDENTE DO INSTITUTO "GIUSEPPE TONIOLO"


27 de Junho de 2000

Ao Deputado EMÍLIO COLOMBO
247 Presidente do Instituto "Giuseppe Toniolo"

Por ocasião do octogésimo aniversário do Instituto "Giuseppe Toniolo", desejo fazer chegar a Vossa Excelência e a todos os Membros a minha saudação de bons votos. Com íntima participação, uno-me à comum acção de graças ao Senhor pela profícua obra realizada em favor da presença dos católicos italianos no mundo da cultura e da investigação científica. Com efeito, é à acção profética e tenaz dessa benemérita Instituição, querida pelo Padre Agostino Gemelli e pelo Mons. Francesco Olgiati, que se devem a erecção canónica da Universidade Católica do Sagrado Coração e o seu reconhecimento jurídico estatal.

Os meus venerados Predecessores manifestaram sempre profunda estima pelo Instituto "Giuseppe Toniolo", cuja tarefa é garantir que a Universidade dos católicos italianos continue sempre fiel ao seu dúplice fim estatutário: a investigação científica iluminada pela fé e a preparação de qualificados profissionais cristãos, que trabalhem em plena sintonia com o Magistério da Igreja e no respeito de uma legítima pluralidade de pontos de vista no âmbito científico. Os Sumos Pontífices não deixaram de demonstrar constante consideração pela dedicação com que o Instituto sempre procurou favorecer, na Comunidade académica, o espírito de colaboração e de serviço, necessário para uma frutuosa actividade científica e para melhor corresponder às expectativas dos Pastores e dos católicos italianos.

Ao exprimir vivo apreço pelo empenho coerente com que o Instituto "Giuseppe Toniolo", também em momentos de particular dificuldade, soube manter inalterados os princípios inspiradores da Universidade Católica do Sagrado Coração, servindo de maneira eficaz a causa da cultura e do Evangelho no mundo académico italiano, formulo votos por que, na fidelidade à sua grande tradição, possa enfrentar os desafios do novo Milénio, amalgamando a plena adesão ao Magistério da Igreja, o rigor científico e a iniciativa clarividente.

Com estes sentimentos, enquanto invoco do Coração de Cristo copiosos dons jubilares de graça e de santidade para a sua pessoa, Senhor Presidente, e para os Membros do Instituto "Giuseppe Toniolo", confio cada um à protecção materna de Maria, Sede da Sabedoria, concedendo a todos uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Junho de 2000.





DISCURSO AOS MEMBROS DA DELEGAÇÃO DO


PATRIARCADO ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA


Quinta-feira, 29 de junho de 2000


"A graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco" (Ep 1,2).

Veneráveis Irmãos

1. É com grande alegria que agradeço a Sua Santidade o Patriarca Bartolomeu I e ao Santo Sínodo terem-vos enviado a Roma por ocasião da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A vossa presença aumenta enormemente a alegria da Igreja de Roma, que celebra os seus Santos Padroeiros. O intercâmbio de visitas entre Roma e Constantinopla para as nossas respectivas festividades tornou-se uma tradição determinada e ajuda-nos a manter os contactos ecuménicos num espírito de oração e de consultação fraterna.

Por ocasião da solenidade de Santo André em 1979, pude visitar o Patriarcado Ecuménico e confirmar o desejo que a Igreja católica tem de continuar ao longo do caminho que, no poder do Espírito Santo, levará à unidade entre todos aqueles que Deus Trindade e confessam Jesus como Senhor e Salvador. Na festividade dos Santos Pedro e Paulo em 1995, tive o privilégio de receber em Roma Sua Santidade Bartolomeu I e nessa ocaião, como os irmãos Pedro e André, encorajámo-nos reciprocamente na sequela d'Aquele que é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jn 14,6).


Discursos João Paulo II 2000 239