Discursos João Paulo II 2000 248

248 2. O nosso encontro hodierno realiza-se durante a celebração do Ano jubilar. Aproveito o ensejo para expressar a minha profunda gratidão ao Patriarcado Ecuménico por ter enviado delegações para os dois principais eventos ecuménicos do Calendário romano para o ano 2000, nomeadamente a solene abertura da Porta Santa da Basílica de São Paulo fora dos Muros e a Comemoração ecuménica das Testemunhas da Fé do século XX. Quanto à Igreja de Roma, ela correspondeu de bom grado ao apelo de Sua Santidade o Patriarca para uma Vigília de Oração em preparação para a festividade da Transfiguração do Senhor.

O âmago do Ano jubilar é a chamada universal à reconciliação e à paz. Juntos, os cristãos católicos e ortodoxos devem criar um futuro de cooperação e de amor fraterno mais intensos, levando à plena comunhão que é a vontade de Deus para nós. As palavras proféticas do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras I, contidas na sua Declaração conjunta de 1967, deveriam ser nossa inspiração constante: "O espírito que deve inspirar estes esforços é o espírito de lealdade à verdade e de mútua compreensão, com o desejo efectivo de evitar os gravames do passado e todas as formas de dominação espiritual e intelectual" (Tomos Agapis, n. 195).

3. Na busca das relações fraternais entre as Igrejas, a importância da purificação das memórias faz-se sentir em cada fase. As trágicas vicissitudes da história deixaram uma deplorável herança nas mentes e na psicologia dos católicos e dos ortodoxos. Confio à misericórdia de Deus cada uma das acções que não estão de harmonia com a vontade de Deus, e pelas quais os filhos e as filhas da Igreja católica foram responsáveis. Oxalá no terceiro milénio possamos escrever juntos uma nova história, no espírito do amor, respeito e cooperação fraternos.

4. Daqui a poucos dias, a Comissão conjunta para o Diálogo teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas vão encontrar-se em sessão plenária. Quanto a mim, acompanharei os trabalhos da Comissão com as minhas orações. Formulo votos ardentes por que o diálogo possa retomar o seu curso com nova energia e empenhamento.

Dilectos Irmãos, enquanto vos agradeço de novo a vossa visita, peço-vos que tenhais a amabilidade de transmitir a Sua Santidade o Patriarca e ao Santo Sínodo os meus sentimentos de profunda estima e respeito. Oxalá o Senhor nos conceda crescer continuamente no amor recíproco. Que Ele guie os nossos passos ao longo do caminho rumo à plena comunhão.





DISCURSO AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS


QUE RECEBERAM O SAGRADO PÁLIO


Sexta-feira, 30 de Junho de 2000

1. Depois da solene celebração litúrgica de ontem à tarde na Praça de São Pedro, é com profunda alegria que me encontro convosco hoje de manhã, caríssimos Arcebispos Metropolitanos. Abraço com afecto cada um de vós aqui presentes e envio um pensamento especial a quantos não puderam vir receber o Pálio.


Juntamente convosco, saúdo com muito afecto os vossos familiares, os amigos e os fiéis das vossas respectivas Comunidades cristãs, que vos acompanharam nesta peregrinação sobre o túmulo dos Apóstolos.

Dirijo-me, antes de tudo, a vós, venerados Irmãos, que pertenceis à amada Igreja que está na Itália: a ti, Monsenhor Dino De' Antoni, Arcebispo de Gorízia; a ti, Monsenhor Francesco Cacucci, Arcebispo de Bari-Bitonto; a ti, Monsenhor Giuseppe Verucchi, Arcebispo de Ravena-Cérvia; a ti, Monsenhor Angelo Bagnasco, Arcebispo de Pésaro. O Senhor que vos escolheu, vos torne sempre fiéis à missão apostólica a vós confiada. Sede portanto, como eu recordava ontem, guias atentos e previdentes do rebanho do qual Cristo, o Bom Pastor, vos pedirá contas.

2. É-me grato saudar os novos Arcebispos Metropolitanos de língua francesa, Monsenhor Roger Pirenne, Arcebispo de Bertoua, Monsenhor Nestor Assogba, Arcebispo de Cotonou, Monsenhor Fidèle Agbatchi, Arcebispo de Parakou, Monsenhor Hubert Barbier, Arcebispo de Bourges, assim como todos os fiéis que vos acompanham. A cerimónia do Pálio é para todos um apelo incessante a testemunhar no mundo inteiro Cristo ressuscitado e a trabalhar pela unidade da Igreja à volta do Sucessor de Pedro. A todos a minha Bênção Apostólica.

3. Tenho a alegria de saudar os Arcebispos Metropolitanos de língua inglesa, que vieram a Roma para receber o Pálio o Arcebispo Lawrence Burke, de Nassau, o Arcebispo Dominic Jala, de Shillong, o Arcebispo Marampudi Joji, de Hyderabad, o Arcebispo Cormac Murphy-O'Connor, de Westminster, o Arcebispo Vincent Nichols, de Birmingham, o Arcebispo Angel Lagdameo, de Jaro, o Arcebispo Ignatius Kaigama, de Jos, e o Arcebispo Edward Egan, de Nova Iorque. Dou também as boas-vindas aos fiéis que os acompanharam a Roma, e peço aos Arcebispos Metropolitanos que levem às suas Igrejas locais a minha afectuosa saudação no Senhor.

249 4. Da América hispânica vieram seis Arcebispos para receber o Pálio na solenidade dos Santos Pedro e Paulo: da Bolívia, Monsenhor Tito Solari; do Peru, Monsenhor Héctor Cabrejos; e da Argentina os Pastores das Igrejas metropolitanas de Tucumán, Salta, San Juan de Cuyo e La Plata. Saúdo-vos com afecto, assim como os sacerdotes e fiéis que vos acompanharam neste significativo momento. Ao regressardes às vossas Arquidioceses, revestidos deste ornamento, sinal de um particular vínculo de comunhão com a Sé de Pedro, trabalhai com renovado empenho em favor dessa comunhão e da unidade da Igreja, tão querida por Cristo e em cuja causa vos deveis sentir sempre comprometidos.

5. O Espírito do Senhor esteja também sobre Monsenhor Aloysio Leal Penna. Deus o ilumine e o proteja nesta nova caminhada a serviço da Igreja que está no Brasil. Com a minha Bênção que, de bom grado, estendo a todos os seus parentes e fiéis da Arquidiocese de Botucatu.

6. Saúdo com afecto e com palavras de boas-vindas a ti, caro novo Arcebispo Metropolitano de Espálato-Makarska, Mons. Marin Barisic, os teus sacerdotes e os fiéis. De coração concedo a Benção Apostólica a ti e a quantos te acompanham, aos teus predecessores eméritos Mons. Ante Juric e Mons. Frane Franic, assim como à inteira e dilecta Igreja de Espálato-Makarska.

7. Ontem, com a imposição do Pálio, renovou-se um rito antigo e sugestivo, que sela a unidade de toda a vossa Comunidade com a Sede Apostólica e o Sucessor de Pedro. Juntos formamos a única Igreja de Cristo, chamada a anunciar o único Evangelho para a salvação de todo o homem em todas as partes da terra. Venerados Irmãos, seja vosso cuidado salvaguardar com todos os meios esta especial fidelidade ao mandato do divino Mestre: fidelidade à sua Palavra e ao seu anseio pela plena unidade dos cristaos, remidos pelo seu sangue na cruz.

Para realizar esta união, olhemos para Cristo que, como nos recorda a festa hodierna do seu Sagrado Coração, nos repete: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração" (
Mt 11,29).

Maria, Mãe da Igreja, nos sustente neste caminho. A todos vós e a quantos fazem parte das Comunidades eclesiais de onde provindes, concedo de coração uma especial Benção Apostólica.



                                                                               Julho de 2000

DISCURSO ÀS ASSOCIAÇÕES DEDICADAS


AO CULTO DO SANGUE DE CRISTO,


AOS SÓCIOS DA AVIS E A


VÁRIOS GRUPOS DE FIÉIS


Sábado, 1° de Julho de 2000



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Neste primeiro dia do mês de Julho, consagrado pela piedade cristã à meditação do "Sangue de Cristo, preço do nosso resgate, penhor de salvação e de vida eterna" (João XXIII, Carta Apost. Inde a primis, em AAS, 52 [1960] 545-550), tenho a alegria de me encontrar com todos vós, membros das Famílias religiosas masculinas e femininas e das associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Jesus.

Às Famílias religiosas e às Associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Cristo

250 Ao saudar-vos com afecto, agradeço-vos a presença e dirijo um reconhecido pensamento ao Director Provincial dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, pelas amáveis palavras que quis dirigir-me também em vosso nome.

Até à reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, neste dia celebrava-se também liturgicamente em toda a Igreja católica o mistério do Sangue de Cristo. Depois, o meu Predecessor de venerada memória, Paulo VI, uniu a recordação do Sangue de Cristo à do seu Corpo, na solenidade que agora tem precisamente o nome do "Sacratíssimo Corpo e Sangue de Cristo". Em toda a celebração eucarística, de facto, torna-se presente, juntamente com o Corpo de Cristo, o seu precioso Sangue da nova e eterna Aliança, derramado por todos em remissão dos pecados (cf. Mt
Mt 26,27).

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o mistério do Sangue de Cristo é grandioso! Desde os primórdios do cristianismo, ele atraiu a mente e o coração de inúmeros cristãos e, de modo particular, dos vossos Santos Fundadores e Fundadoras, que dele fizeram o estandarte das vossas Congregações e Associações. O Ano jubilar traz novo impulso a uma devoção tão significativa. Com efeito, ao celebrarmos Cristo a dois mil anos do seu nascimento, somos também convidados a contemplá-l'O e a adorá-l'O na humanidade santíssima assumida no seio de Maria e unida, de maneira hipostática, à Pessoa divina do Verbo. Se o Sangue de Cristo é preciosa fonte de salvação para o mundo, isto deriva precisamente da sua pertença ao Verbo que se fez carne para a nossa salvação.

O sinal do "sangue derramado", como expressão da vida doada de modo cruento em testemunho do amor supremo, é um acto da condescendência divina à nossa condição humana. Deus escolheu o sinal do sangue, porque nenhum outro sinal é tão eloquente para indicar o envolvimento total da pessoa.

O mistério de semelhante doação encontra a sua nascente na vontade salvífica do Pai celeste e a sua realização na obediência filial de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, através da obra do Espírito Santo. A história da nossa salvação traz, portanto, a marca e o selo indelével do amor trinitário.

3. Diante desta maravilhosa obra divina, todos os fiéis se unem a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, entoando hinos de louvor a Deus Uno e Trino no sinal do precioso Sangue de Cristo. Mas à confissão dos lábios deve unir-se o testemunho da vida, segundo a exortação que nos vem da Carta aos Hebreus: "Portanto, irmãos, já que pelo sangue de Cristo temos uma fundada esperança no acesso ao santuário... atendamos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras... " (10, 19.24).

Aos membros da AVIS

E muitas são as "boas obras" que a meditação do sacrifício de Cristo nos inspira. Com efeito, ele impele-nos a dar a nossa vida por Deus e pelos irmãos sem nos pouparmos, "usque ad effusionem sanguinis", como fizeram muitos mártires. Como não reconhecer sempre de novo o valor de todo o ser humano, quando para cada um, sem distinções, Cristo derramou o seu sangue?

A meditação deste mistério impele-nos, em particular, para quantos poderiam ser curados dos seus sofrimentos morais e físicos e, ao contrário, são deixados definhar às margens duma sociedade da opulência e da indiferença. É nesta perspectiva que se evidencia em toda a sua nobreza o serviço prestado por vós, membros da AVIS. Saúdo-vos com muito afecto, juntamente com o vosso Presidente, a quem agradeço as palavras que me dirigiu. Não vos limiteis a dar alguma coisa que vos pertence; dai algo de vós mesmos. O que há de mais pessoal do que o próprio sangue? Na luz de Cristo, o facto de doar ao irmão este elemento vital, adquire um valor que transcende o horizonte simplesmente humano. A vós, sócios da AVIS, dirige-se portanto a expressão da minha estima e do meu encorajamento.

Aos fiéis da Diocese de Bérgamo

4. Desejo agora dirigir a minha saudação cordial aos peregrinos da Diocese de Bérgamo, guiados pelo seu Bispo, D. Roberto Amadei, a quem agradeço os sentimentos expressos no caloroso discurso. Caríssimos, com a visita hodierna quereis manifestar o vosso afecto e a vossa proximidade ao Sucessor de Pedro. Obrigado de coração! Ao longo dos séculos a vossa Igreja manteve estreitíssimos vínculos de comunhão com a Sé Apostólica. Como não recordar, neste contexto, o vosso conterrâneo e meu Predecessor, o Papa João XXIII, próximo de ser inscrito no Álbum dos Beatos? O caminho de oração e de meditação que vos conduz aos lugares jubilares seja para vós, caríssimos, ocasião para reafirmar a vossa convicta adesão a Cristo, "Porta santa" para entrar no reino do Pai. Ao retornardes às vossas casas, levai a saudação e o encorajamento do Papa aos sacerdotes, aos consagrados, às consagradas e a todos os irmãos e irmãs na fé. O Ano Santo seja para cada um estímulo a reavivar a fé e a prosseguir no empenho da nova evangelização, que encontra confirmação e corroboração na caridade.

251 A outros peregrinos italianos

5. Por fim, o meu pensamento dirige-se aos fiéis de Santa Maria da Vitória, de Montebelluna; de São Bernardino, em Tordandrea de Assis; de São João Baptista, em Acconia de Curinga; assim como ao Instituto "Beata Maria De Mattias", de Frosinone, e à Comunidade da "Pequena Casa", de Aversa.

Caríssimos, a celebração dos dois mil anos da encarnação do Filho de Deus vos encontre vigilantes na fé, firmes na esperança e fervorosos na caridade. Cristo passa ainda hoje ao lado de cada um para lhe oferecer o dom da infinita misericórdia de Deus. Sede também vós ricos dessa misericórdia, como o é o nosso Pai que está nos céus.

Com estes sentimentos e no amor d'Aquele que nos "aspergiu com o seu sangue" (cf.
1P 1,2), abençoo-vos de todo o coração.





DISCURSO DO SANTO PADRE AOS


PADRES CAPITULARES DA ORDEM DOS MÍNIMOS


3 de Julho de 2000



Caríssimos Irmãos
da Ordem dos Mínimos

1. Dou-vos afectuosas boas-vindas e agradeço a visita que quisestes fazer-me no início do vosso Capítulo Geral. Saúdo com intensa cordialidade o Pe. Giuseppe Fiorini Morosini, vosso Superior-Geral, os Padres capitulares e as delegações das Monjas e dos Terciários que intervirão na primeira parte da importante assembleia, assim como os religiosos, as religiosas e os leigos, que compõem as três Ordens da Família religiosa fundada por São Francisco de Paula.

Juntamente com todos vós, dou graças ao Senhor pelo bem realizado no decurso de uma longa e benemérita história ao serviço do Evangelho. O pensamento dirige-se, em particular, aos tempos difíceis para a vida da Igreja, nos quais São Francisco de Paula se empenhou em realizar uma reforma, que levou a um renovado caminho de perfeição quantos eram "impelidos pelo desejo de maior penitência e pelo amor à vida quaresmal" (IV Regra, cap. 2).

2. Suscitado por motivações apostólicas, ele fundou a Ordem dos Mínimos, Instituto religioso clerical de votos solenes, arraigado como "boa árvore no campo da Igreja militante" (Alexandre VI) para produzir frutos dignos de penitência no seguimento de Cristo, que "se despojou a si mesmo, assumindo a condição de servo" (Ph 2,7). Ao seguir o exemplo do Fundador, a vossa Família religiosa "propõe-se dar particular e quotidiano testemunho da penitência evangélica com a vida quaresmal, como total conversão a Deus, íntima participação na expiação de Cristo e apelo aos valores evangélicos do desprendimento do mundo, do primado do espírito sobre a matéria e da urgência da penitência, que comporta a prática da caridade, o amor à oração e a ascese física" (Constituições, art. 3).

Caríssimos, inspirai-vos constantemente no vosso Fundador, o humilde penitente imerso em Deus, que sabia transmitir aos irmãos a autêntica experiência do Divino. Nele o Senhor quis realizar "grandes coisas", confiando-lhe tarefas extraordinárias, que o levaram a percorrer uma boa parte da Itália e da França e a iluminá-las com o esplendor da sua santidade.

252 Nos quase cinco séculos que nos separam da sua morte, ocorrida a 2 de Abril de 1507, os seus filhos, fiéis ao carisma do Fundador, continuaram a anunciar o "Evangelho da penitência". Eles esforçaram-se por viver o seu espírito de humildade, de pobreza e de profunda oração, imitando a sua terna devoção à Eucaristia, ao Crucificado e a Nossa Senhora. Em particular, continuaram a empenhar-se na observância do "quarto voto da quaresma perpétua". Deste modo, prolongaram no mundo inteiro a esteira luminosa de São Francisco de Paula, testemunhando em toda a parte o irrenunciável papel da penitência no itinerário de conversão e enriquecendo a vida da Igreja com admiráveis obras de caridade e de santidade.

3. "Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai o futuro, para o qual vos projecta o Espírito a fim de realizar convosco ainda grandes coisas". Nesta particular circunstância, desejo repetir-vos estas palavras da Exortação Apostólica Vita consecrata (n. 110), nas quais bem se reflectem os objectivos do vosso Capítulo Geral. Este, com o aprofundamento do tema "Identidade e missão dos Mínimos no início do terceiro milénio, após 500 anos de história: Religiosos e leigos juntos, com o único carisma, para a mesma missão", propõe-se reflectir sobre o carisma da penitência quaresmal, à luz dos desafios do mundo de hoje, determinando os novos areópagos a privilegiar para o anúncio evangélico da conversão e da reconciliação.

Este compromisso, já manifesto na última Assembleia da Ordem, exige que seja traduzido numa presença significativa e amorosa dos Mínimos nos contextos de forte pobreza espiritual, através da escuta, da direcção espiritual e da formação das consciências para a reflexão e a oração. De grande relevo poderá ser a vossa presença nas fronteiras da indigência material, para levar aos necessitados uma solidariedade efectiva, graças também à participação nos organismos para isto deputados. Espero que o exemplo do Fundador, mensageiro da paz de Cristo, vos sustente na missão de levar o dom da reconciliação e da comunhão às famílias, às realidades eclesiais, às várias confissões cristãs, entre as pessoas indiferentes e as que se encontram afastadas.

4. Na evangelização dos novos areópagos, é preciso ter presente antes de tudo que a criatividade e o diálogo com as diversas culturas não devem depauperar as riquezas da própria identidade e história. Com efeito, criatividade e diálogo tornam-se eficazes vias do anúncio evangélico, quando podem contar com a sólida fidelidade ao próprio carisma. Uma vida conventual e penitencial fervorosa constitui, com certeza, a premissa indispensável para que cada religioso ofereça em si aquela imagem transparente de Cristo casto, pobre, obediente, que é a única a atrair e conquistar todos os que estão em busca da verdade e da paz.

Uma pastoral autêntica e encarnada pressupõe a santidade que os Mínimos, seguindo o exemplo do Fundador, se empenharão em alcançar, percorrendo o caminho da penitência. Esta, se antes de tudo consiste na conversão do coração, serve-se entretanto também dos meios ascéticos típicos da tradição espiritual da Igreja e do próprio Instituto. Nesse contexto, adquire singular relevo a fidelidade ao quarto voto solene da vida quaresmal, que São Francisco de Paula quis que fosse professado pelos Frades e pelas Monjas das Ordens por ele fundados. Este peculiar sinal de pertença à Ordem dos Mínimos resulta muito eficaz no testemunho das "coisas do alto" a um mundo distraído e imerso no hedonismo. De facto, além de ser um poderoso meio de santificação pessoal, ele constitui uma ocasião para reparar os pecados de todos os homens e um modo para impetrar para eles a graça do retorno a Deus.

A tendência predominante na sociedade contemporânea, e sobretudo entre os jovens, a buscar a gratificação imediata, longe de levar os Mínimos a atenuarem a dimensão quaresmal do seu Instituto, deverá antes empenhá-los em pôr-se com renovado ardor ao serviço dos irmãos, a fim de os educar para a grande via espiritual da penitência. Certamente, é necessário procurar uma linguagem e motivações adequadas, mas continua sempre indispensável testemunhar a alegria que é própria de quem renuncia às facilidades do mundo, para encontrar a pérola preciosa do Reino de Deus (cf. Mt
Mt 13,45-46). Este testemunho constituirá um precioso dom que a vossa Ordem fará à Igreja inteira, ao recordar a todos a exigência de acolherem o Evangelho da conversão e da ascese.

5. Ao lado dos religiosos e das religiosas da primeira e segunda Ordem, São Francisco de Paula com intuição profética quis iniciar, na espiritualidade da vida quaresmal, também os leigos, para os quais fundou a Terceira Ordem. Desde há quase quinhentos anos eles participam na missão da Ordem, através de múltiplas formas de partilha e de colaboração.

A complexidade e as rápidas mudanças do mundo contemporâneo exigem uma pronta capacidade de discernimento e uma presença dos cristãos sempre mais qualificada nas realidades mundanas. Para isto, tendo em grande estima as positivas experiências acumuladas com os anos, deve ser encorajada e sustentada a colaboração entre os leigos e os religiosos. Com efeito, desta colaboração poderão surgir inesperados e fecundos aprofundamentos de alguns aspectos do carisma (cf. Vita consecrata VC 55). Por isso, é preciso que os religiosos se dediquem com cuidado sempre maior à formação dos leigos: sejam experimentados guias de vida espiritual, atentos às pessoas e aos sinais dos tempos, testemunhas jubilosas do carisma que querem compartilhar com aqueles que trabalham no mundo de forma mais directa.

6. Caríssimos, o Grande Jubileu convida a Igreja inteira a contemplar com renovada gratidão o mistério da Encarnação, para anunciar o Evangelho de Cristo com ardor crescente no novo milénio: ele abre diante de vós um vasto campo de perspectivas e compromissos.

A vossa Ordem, depois de ter superado todos os momentos difíceis ao longo da história, continue a ser luz que ilumina os penitentes da Igreja: recorde aos que estão afastados a necessidade da conversão e da penitência, encoraje com o exemplo e a oração todos os que se puseram a caminho, testemunhe uma vida quaresmal que, seguindo Jesus no seu peregrinar rumo ao Calvário, consinta prelibar desde agora de algum modo a alegria da Páscoa eterna.

Ao haurirem do próprio tesouro coisas novas e coisas antigas (cf. Mt Mt 13,52), as vossas comunidades sejam expressão da insuperável força da via da penitência que, levando a renegar o homem velho, cria as premissas para o advento do Reino.

253 Confio todo o vosso generoso propósito, assim como os trabalhos capitulares, à Virgem Santa, a São Francisco de Paula e aos numerosos Santos e Beatos que enriquecem a vossa história secular, para que vos ajudem a repropor hoje o vosso carisma, como sinal eloquente de fecundidade evangélica e de renovação da vida eclesial.

Com estes votos, de bom grado concedo a vós aqui presentes e à inteira Ordem dos Mínimos, na tríplice expressão dos Frades, das Monjas e dos Terciários, uma especial Bênção Apostólica.






AOS PARTICIPANTES DA PEREGRINAÇÃO


NACIONAL JUBILAR DA POLÓNIA


Quinta-feira, 6 de Julho de 2000

: Dilectos Irmãos e Irmãs

1. Dou graças a Deus e à sua Mãe por este emocionante encontro, durante o qual fomos assíduos na oração comum.

Sinto-me feliz por poder participar, juntamente convosco meus compatriotas vindos da Polónia e do mundo inteiro nesta peregrinação nacional jubilar. Saúdo todos vós aqui presentes e também aqueles que ficaram na Pátria e se unem a nós espiritualmente ou através da rádio e da televisão. Dirijo palavras de particular proximidade aos enfermos e às pessoas que sofrem. Desejo transmitir a minha especial saudação a todos. Este encontro de oração foi precedido por um rico programa artístico. Agradeço aos coros, aos grupos artísticos, às bandas musicais e aos seus directores, assim como a cada um dos artistas singularmente e aos organizadores. Deus vos recompense por este dom jubilar.

2. É-me grato testemunhar que neste Ano jubilar os polacos vêm a Roma em tão grande número. Tenho diante dos meus olhos os grupos de milhares de polacos que participaram na abertura do Ano Santo, nas celebrações do Tríduo pascal ou na canonização da Irmã Faustina. E ainda no início do ano estiveram aqui presentes os doentes, os jornalistas, os cientistas... havia também sacerdotes polacos, que viveram o seu Jubileu juntamente com o Papa e presbíteros do mundo inteiro.

Todos estes peregrinos trazem consigo a recordação ainda não distante do Milénio polaco do milénio do baptismo da nossa Nação. Esse milénio estava ligado à figura do grande Primaz, o Cardeal Stefan Wyszynski, que conduziu a Igreja e a Nação através do limiar do segundo milénio.

Estava vinculado tambémà peregrinação da imagem de Jasna Góra. Enfim, estava unido ao grandioso evento do Concílio Vaticano II. A partir daquele Milénio polaco consolidou-se em nós a consciência do Povo de Deus que, de geração em geração, peregrina através deste mundo rumo à casa do Pai. Hoje trazemos precisamente esta consciência assim formada à porta do grande Jubileu, que é atravessada em peregrinação pelos povos e pelas nações de toda a terra.

Tendo na memória as nossas experiências polacas do Milénio, experimentamos de modo particular o facto de que a nossa presença aqui é o fruto da grande peregrinação da história, iniciada pela nossa Nação quando o Príncipe Mieszko recebeu o baptismo e confessou a fé em Cristo.

Desejamos que hoje a Nação participe nesta nossa visita ao limiar apostólico do grande Jubileu e, juntamente com ela, estejam aqui presentes toda a nossa história e cultura milenárias, a começar pelo hino de Adalberto intitulado "Mae de Deus". Queremos convidar aqui todos os Piast, que se sentaram no trono polaco, desde Mieszko até Casimiro o Grande. Desejamos que esteja aqui presente a Senhora de Wawel, a Rainha Edviges, com tudo aquilo que realizou pela nossa Nação e cultura polacas. Juntamente com ela, entrem aqui a época jagelónica, o tempo da República das Três Nações, o período do maior esplendor histórico da nossa Pátria. Queremos convocar aqui todos aqueles cujos corpos repousam na cripta de Wawel bispos, reis, "condottieri" e poetas todas aquelas pessoas que assinalaram o itinerário da nossa história sublime e difícil, caracterizada por vitórias e derrotas, até à grande desagregação das três divisoes e depois às insurreições do século XX e à heróica reconquista da independencia, já no decurso deste século.

254 Todos estes pais da nossa história estejam hoje aqui presentes e testemunhem que as sucessivas geraçoes dos filhos da Igreja na Polónia deixaram na história um vestígio duradouro da sua fé, do amor a Deus e ao homem, da solicitude pelo respeito dos valores ultratemporais. Não deixe de subsistir este testemunho do cansaço das inúmeras gerações em vista da formação do rosto cristão, não somente da nossa Nação, mas também de toda a Europa. Aceitamos o seu testemunho no para nos orgulharmos mas, ao contrário, para darmos glória ao Senhor e em seguida assumirmos conscientemente esta herança e a transmitirmos às gerações vindouras. Tudo aquilo que faz parte da Polónia entre aqui connosco através da porta do terceiro milénio, que se abre rumo ao futuro.

3. Neste ano do grande Jubileu viestes em peregrinação a Roma para junto do túmulo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, a fim de renovardes a vossa fé e a enriquecer com a fé dos Apóstolos mediante a experiência do caminho comum, o sacrifício dos afas suportados e a Oração sincera.

Como escrevi na Bula Incarnationis mysterium: "A peregrinação sempre constituiu um momento significativo na vida dos fiéis, revestindo expressoes culturais diferentes nas várias épocas. Ela lembra o caminho pessoal do crente, seguindo as pegadas do Redentor: é exercício de ascese activa, de arrependimento pelas faltas humanas, de vigilância constante sobre a própria fragilidade, de preparação interior para a conversão do coração. Através da vigilância, do jejum e da Oração, o peregrino avança pela estrada da perfeição cristã, esforçando-se por chegar, com a ajuda da graça de Deus, "ao estado de homem perfeitoà medida da estatura completa de Cristo" (
Ep 4,13)" (n. 7).

A Oração é uma ajuda eficaz, graças à qual enriquecemos a nossa fé e a tornamos capaz de produzir frutos, uma fé que possui o poder e a habilidade de um constante aperfeiçoamento da nossa vida pessoal, familiar e social. Por isso, esta peregrinação teve início hoje de manhã com a solene Eucaristia, que celebrei com os bispos e os sacerdotes, e agora nesta tarde está de certa forma a terminar, através desta Oração comum na Praça de São Pedro.

Hoje o mundo, e inclusivamente a nossa Pátria, tem muita necessidade de homens com uma fé amadurecida, que confessem a Cristo com coragem em todos os lugares e em cada situaçao. É preciso que haja genuínos arautos do Evangelho e mensageiros da verdade. De homens que acreditem, amem e transformem este amor de Deus num autêntico serviço ao homem. A nossa fé constitui a maior riqueza que, no alvorecer do terceiro milénio, podemos transmitir às jovens gerações. Feliz da Nação que caminha à luz do Evangelho, que vive da verdade de Deus e que haure a ciência da cruz. Dirijo-vos estas palavras aqui em Roma, na Cidade Eterna onde viveram, trabalharam e morreram os Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A sua fé transbordou até ao sacrifício da própria vida. Graças a ela, Pedro não teve medo da cruz, nem Paulo temeu a espada.

Eles tornaram-se poderosas testemunhas de Cristo e este seu testemunho perdura por todos os tempos e dá frutos. "Todo aquele que nasceu de Deus, venceu o mundo. E esta é a vitória que derrotou o mundo: a nossa fé" (1Jn 5,4). Estas palavras da primeira Carta de São João vos acompanhem enquanto atravessais a Porta Santa da Basílica de São Pedro e das outras Basílicas patriarcais. Nos túmulos dos mártires da fé hoje pronunciamos o nosso Credo e queremos confessar com vigor que "Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Ph 2,11).

4. "A sua Mãe estava junto da cruz de Jesus" (cf. Jo Jn 19,25). Eis as palavras do Evangelho de João, que escutámos durante a Liturgia desta tarde. Aos pés da cruz de Jesus agonizante está presente a sua Mãe. A sua amadíssima Mãe, que lhe foi fiel até ao fim. A sua presença, o seu "estar" junto da cruz testifica a fortaleza e a extraordinária coragem que Ela demonstrou nesse momento decisivo. No drama da Redenção que se está a desenrolar no Calvário, a assistência de Maria é a fé. O Concílio Vaticano II afirma que "a Santíssima Virgem avançou no caminho da fé e conservou fielmente a união com o seu Filho até à cruz" (Lumen gentium, LG 58). Para nós, para toda a humanidade, Maria permanecerá o modelo perfeito desta fé, que não conhece o medo nem os compromissos, e a qual impõe a partir de dentro que se persevere até ao fim, atéà cruz.

Oremos à Virgem Mae de Deus, Rainha da Polónia e Nossa Senhora de Jasna Góra, que impetre para nós junto do seu Filho uma fé rica e amadurecida, a fim de podermos irradiá-la e testemunhá-la; uma fé viva que se expresse na vida e forme a nossa quotidianidade; uma fé criativa, capaz de nos transformar a nós mesmos e ao mundo em que vivemos. Oxalá a complete com o amor e a torne sensível aos sinais dos tempos e rs necessidades dos irmãos.

Para o terceiro milénio que se abre diante de nós, imploramosà Mãe do Filho de Deus e nossa Mãe que nos conceda a graça da fidelidade a Deus, à Cruz, ao Evangelho e à Igreja. Confiamo-nosà sua protecçao, a fim de podermos conservar por todos os séculos o tesouro da santa fé imaculada.

Estimados Irmãos e Irmãs, esta é a finalidade da nossa comum Oração aqui na Praça de Sao Pedro, este é o sentido desta peregrinação nacional à Porta Santa e aos túmulos dos Santos Apóstolos. É por este motivo que viemos aqui.

Maria, desde há muito tempo Tu és a Rainha da Polónia!

255 Dize uma palavra em nosso favor!

Salvaguarda toda a Nação

que vive para a tua glória

a fim de que se desenvolva gloriosa,

ó Maria!






Discursos João Paulo II 2000 248