Discursos João Paulo II 2000 255

JUBILEU DOS MÉDICOS CATÓLICOS


ENCONTRO COM O PAPA JOÃO PAULO II


7 de Julho de 2000




1. Dirijo as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, caríssimos médicos católicos, que viestes a Roma juntamente com os vossos familiares, para participar no Congresso internacional organizado pela "Associação dos Médicos Católicos Italianos", a "Federação Europeia das Associações dos Médicos Católicos" e a "Federação Internacional das Associações dos Médicos Católicos". A principal finalidade deste vosso encontro na Cidade Eterna consiste em celebrar o vosso Jubileu. Formulo-vos votos de coração a fim de que, revigorados por esta próvida paragem espiritual, saibais promover uma corajosa renovação do vosso testemunho evangélico nos sectores tão importantes da medicina e da actividade sanitária.

Saúdo todos vós com afecto, a começar pelo Cardeal Dionigi Tettamanzi, Arcebispo de Génova, e pelos Professores Domenico Di Virgílio, Paul Deschepper e Gian Luigi Gigli, Presidentes dos respectivos Organismos acima mencionados. Além disso, saúdo os sacerdotes Feytor Pinto e Valentini Pozaic, juntamente com os Assistentes eclesiásticos aqui presentes.

Depois, a minha saudação estende-se a D. Javier Lozano Barragán, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, organismo ao qual é confiada a tarefa de estimular e promover a obra de formação, de estudo e de acção levada a cabo pela "Federação Internacional das Associações dos Médicos Católicos", de maneira especial no contexto do Ano jubilar.

Enfim, dirijo um agradecimento particular ao Prof. Domenico Di Virgílio, que interpretou bem os vossos comuns sentimentos, expressando a vossa fiel adesão à Cátedra de Pedro.

2. O tema escolhido para o vosso Congresso Medicina e Direitos do Homem é deveras importante não só pelo esforço cultural que ele despende no sentido de unir o progresso da medicina às exigências éticas e jurídicas da pessoa humana, mas também pela actualidade que reveste em virtude das violações efectivas ou potenciais do primordial direito à vida, no qual se fundamentam todos os outros direitos da pessoa.

256 Na actividade que exerceis, realizais todos os dias um nobre serviço em benefício da vida. A vossa missão de médicos coloca-vos quotidianamente em contacto com a misteriosa e maravilhosa realidade da vida humana, impelindo-vos a ocupar-vos dos sofrimentos e das esperanças de inumeráveis irmãos e irmãs. Perseverai nesta vossa generosa consagração, dedicando especial cuidado aos idosos, enfermos e portadores de deficiência.

Sentis pessoalmente que na vossa profissão não bastam as curas médicas e os serviços técnicos, por mais exemplar que seja a vossa profissionalidade. É necessário ser capaz de oferecer ao doente também aquele especial remédio espiritual, constituído pelo calor de um genuíno contacto humano. Ele é capaz de dar novamente à pessoa enferma o amor pela vida, estimulando-a a lutar por esta com um esforço interior às vezes decisivo para a cura.

O doente deve ser ajudado a reencontrar o bem-estar não só físico, mas também psicológico e moral. Isto supõe no médico, além da sua competência profissional, uma atitude de solicitude amorosa, inspirada na imagem evangélica do bom Samaritano. Junto de cada pessoa que sofre, o médico católico é chamado a ser testemunha dos valores superiores que têm na fé o seu solidíssimo fundamento.

3. Queridos médicos católicos, bem sabeis que a vossa missão imprescindível é salvaguardar, promover e amar a vida de cada ser humano, desde o início até ao seu termo natural. Hoje, infelizmente vivemos em uma sociedade em que com frequência prevalecem tanto uma cultura abortista que leva à violação do direito fundamental à vida do concebido, como uma concepção da autonomia humana que se exprime na reivindicação da eutanásia como autolibertação de uma situação que de alguma forma se tornou penosa.

Sabeis que ao católico nunca é lícito ser cúmplice de um presumível direito ao aborto ou à eutanásia. Uma vez que é intrinsecamente imoral, a legislação favorável a semelhantes crimes não pode constituir um imperativo moral para o médico, que justamente se valerá do recurso à objecção da consciência. O grande progresso que nestes anos se verificou nas curas paliativas da dor consente prover de maneira adequada às difíceis situações dos doentes terminais.

As múltiplas e preocupadoras formas de atentado à saúde e à vida devem ser corajosamente enfrentadas por cada pessoa deveras respeitosa dos direitos do ser humano. Penso nas destruições, nos sofrimentos e nas mortes que afligem inteiras populações por causa de conflitos e guerras fratricidas. Penso nas epidemias e nas enfermidades, que se verificam entre as populações obrigadas a abandonar as suas terras para fugir rumo ao desconhecido. Como ficar indiferente diante de cenas dilacerantes de crianças e idosos que vivem insustentáveis situações de dificuldade e de sofrimento, sobretudo quando lhes é negado até mesmo o direito fundamental à assistência médica?

É um vasto campo de acção que se abre diante de vós, dilectos médicos católicos, e exprimo um caloroso apreço a quantos de entre vós decidem com coragem dedicar uma parte do próprio tempo àqueles que se acham em situações de tamanha emergência. A cooperação missionária no campo da saúde foi sempre muito sentida e faço votos cordiais por que este abnegado serviço à humanidade sofredora aumente ainda mais.

4. Enquanto entramos no terceiro milénio, de modo particular nos países mais pobres, infelizmente homens e mulheres continuam a não dispor de serviços médicos e de remédios essenciais para se curarem. Todos os dias, muitos irmãos e irmãs morrem de malária, de lepra e de sida, por vezes na indiferença geral das pessoas que poderiam ou deveriam assisti-los. O vosso coração seja sensível a estes apelos silenciosos! A vossa tarefa, estimados membros das associações dos médicos católicos, consiste em prodigalizar-vos a fim de que o direito primordial àquilo que é necessário para o cuidado da saúde, e portanto a uma adequada assistência médica, se torne efectivo para cada homem, prescindindo da sua posição social e económica.

No meio de vós há investigadores no campo das ciências biomédicas, que por sua natureza têm em vista o progresso, o desenvolvimento e o melhoramento das condições de saúde e de vida da humanidade. Também a eles dirijo um premente apelo a oferecer com generosidade a sua contribuição para assegurar à humanidade melhores condições de saúde, sempre no respeito da dignidade e da sacralidade da vida. Com efeito, tudo aquilo que é realizável sob o ponto de vista científico, nem sempre é moralmente aceitável.

Ao retornardes às vossas nações, levai convosco o desejo de continuar, com renovado impulso, a vossa actividade de formação e de actualização, não só nas disciplinas atinentes à vossa profissão, mas inclusivamene naquilo que diz respeito à teologia e à bioética. É mais importante do que nunca, de forma especial nas nações em que vivem Igrejas jovens, cuidar da formação profissional e ético-espiritual dos médicos e do pessoal que trabalha no campo da saúde, que não raro é colocado diante de graves emergências que exigem competência profissional e uma adequada preparação nos sectores moral e religioso.

5. Caríssimos médicos católicos, o vosso Congresso inseriu-se providencialmente no contexto do Jubileu, momento favorável para a conversão pessoal a Cristo e para abrir o vosso coração a quem está em necessidade. Os frutos desta celebração jubilar sejam para vós uma atenção mais profunda ao próximo, uma generosa partilha de conhecimentos e experiências, um autêntico espírito de solidariedade e de caridade cristã.

257 Nossa Senhora Santíssima, Salus infirmorum, vos assista na complexa e necessária missão. Sirva-vos de exemplo São José Moscati, para que nunca vos falte a força de testemunhar o "Evangelho da vida" com coerência, honestidade íntegra e rectidão absoluta.

Enquanto vos agradeço de novo a visita, invoco a constante benevolência do Senhor sobre vós, os vossos familiares e quantos são confiados aos vossos cuidados, e concedo a todos do íntimo do coração uma especial Bênção apostólica.




AOS PARTICIPANTES NO


CAPÍTULO GERAL DOS BARNABITAS


Sábado, 8 de Julho de 2000

: Caríssimos Clérigos Regulares de São Paulo

1. Tenho a alegria de me encontrar convosco por ocasião do Capítulo geral do vosso Instituto. Trata-se de um evento de graça que, para vós, constitui um forte apelo a procurar as autênticas raízes da vossa Congregação, a aprofundar o vosso carisma específico, esforçando-vos por discernir os modos mais idóneos para o viverdes no actual contexto sociocultural.

Saúdo o Prepósito-Geral e o seu Conselho, assim como os Delegados à assembleia capitular. Estendo a minha cordial saudação a todos os Barnabitas, que realizam o seu generoso apostolado na Itália, Europa, Ásia, América e Ásia. Nestes dias de intensos trabalhos de assembleia, estais a reflectir sobre o estimulante tema "Olhar para o futuro". Fiéis ao vosso carisma, quereis manter vivo e operante no terceiro milénio o ensinamento de São Paulo, ao serviço da Igreja e dos homens.

Encorajo-vos nestes vossos propósitos. Reafirmai com alegria a vossa fidelidade ao património espiritual do vosso fundador, Santo António Maria Zacarias, cuja memória litúrgica celebrámos na quarta-feira passada. Sacerdote arraigado em Deus e, ao mesmo tempo, apaixonado pelo homem, viveu uma espiritualidade exigente fundada na "loucura da cruz". O apóstolo Paulo foi por ele assumido como mestre, modelo de vida e guia na actuação de um apostolado de caridade em favor do clero e do inteiro povo cristão. Num tempo de relaxação geral, Santo António Maria Zacarias reavivou a fé promovendo uma intensa vida de renovação interior, centrada no Crucificado e no culto da Eucaristia, cerne da vida da Igreja. O seu exemplo constitua para vós um encorajamento a prosseguir a sua mesma missão, válida tanto hoje como outrora, porque está voltada para anunciar e testemunhar Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação.

2. Caríssimos Irmãos, ao indicar aos seus filhos espirituais o ideal de vida religiosa e apostólica, Santo António Maria Zacarias pôs em evidência a caridade que, por si só, vale verdadeiramente (cf. Sermão IV), acrescentando que para alcançar a mais alta das virtudes teologais é preciso progredir na perfeição, segundo três vias espirituais prioritárias: a observância dos Mandamentos, o estudo da Verdade e do Evangelho, o anúncio da Boa Nova (Constituição VI). Sobre a sólida base destes pontos de referência concretos, desenvolveu-se a espiritualidade missionária da vossa Família religiosa. "Plantas e colunas da renovação do fervor cristão" (Carta VII), os Coirmãos que, junto da igreja de São Barnabé em Milão, constituíram o primeiro cenáculo de vida ascética e apostólica inspirada pelo sacerdote António Maria, escolheram como pai e guia o Apóstolo das Nações, esforçando-se por colocar em prática a sua doutrina e os seus exemplos. Assumiram, além disso, o empenho de reformar os costumes, dedicando-se com particular cuidado à educação da juventude nas escolas e nos oratórios.

Nesta mesma esteira empenhativa e evangelicamente fecunda, os Clérigos Regulares de São Paulo sentem-se, também hoje, enviados a testemunhar o Evangelho da caridade aos seus contemporâneos. O amor por Jesus, o "Crucificado vivo", e o desejo de abraçar na caridade todo o homem sem distinções, impelem-nos a procurar, com liberdade profética e discernimento sábio, estradas novas para serem presenças vivas na Igreja, em comunhão com o Papa e em colaboração com os Bispos.

3. Olhando para os vastos horizontes da nova evangelização, parece sempre mais viva a urgência de proclamar e testemunhar a mensagem evangélica a todos, sem distinções. Portanto, é tanto vasto quanto o mundo o vosso campo de apostolado que, como estimulava o vosso Fundador, deve ir até onde Cristo "pôs a medida" (Carta VI). De facto, quantas pessoas ainda esperam conhecer Jesus e o seu Evangelho! Quantas situações de injustiça, de mal-estar moral e material existem em inúmeras partes da terra! Mas para desenvolver uma missão tão urgente, é indispensável que cada um de vós, caros Irmãos, todos os dias encontre Cristo na oração incessante e fervorosa. Só assim sereis capazes de indicar aos outros o caminho para O encontrar.
Fortificados por este colóquio interior com o Senhor, podereis colaborar com Ele para salvar as almas, indo ao encontro das necessidades do povo com o espírito do apóstolo Paulo, sem temer os obstáculos nem as dificuldades.

258 4. A respeito disso, tive conhecimento de que a vossa Congregação está a interrogar-se com íntimo denodo acerca de uma vossa actividade apostólica co-primária, da escola, que na Itália atravessa uma grave crise. Nestes últimos anos, infelizmente tivestes de fechar prestigiosos Institutos educativos, que formaram as consciências de numerosos jovens, transmitindo-lhes altos ideais de vida humana e cristã. Quereria exortar-vos a não desanimar, mas a permanecer serenos mesmo diante desta dolorosa prova, confiando na ajuda divina e no apoio do vosso Fundador.

Pertenceis a um Instituto religioso com uma grande tradição de homens que serviram a Igreja nos campos mais diversos, não raro enfrentando situações muito difíceis. Basta recordar figuras como Santo Alexandre Sauli, confessor de São Carlos Borromeu, e São Francisco Xavier Bianchi, discípulo de Santo Afonso Maria de Ligório. Olhando para o testemunho destes vossos Coirmãos, fiéis discípulos de Cristo e generosos operários do Evangelho, ide avante com confiança e intensificai o vosso impulso apostólico.

A Virgem Imaculada vos proteja e guie o caminho da vossa Família religiosa, levando à plena realização todos os vossos projectos de bem.

É com estes votos que vos abençoo com afecto, enquanto asseguro a minha lembrança na oração por todos vós e por quantos encontrardes no vosso quotidiano ministério apostólico.





DISCURSO DE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO


CAPÍTULO GERAL DOS PADRES BASILIANOS


Sábado, 8 de Julho de 2000


Caríssimos
Padres da Ordem Basiliana!

Estais reunidos na Cidade Eterna para os trabalhos do vosso Capítulo Geral. Acolho-vos com alegria neste especial encontro, que solicitastes para confirmar, também deste modo, a vossa comunhão com a Sé de Pedro. Ao exprimir-vos a minha gratidão por este testemunho de caridade eclesial, dirijo uma saudação cordial ao vosso Proto-Arquimandrita Dionísio Lachovicz.

A finalidade do vosso Capítulo é a renovação dos Estatutos da Ordem, a eleição da nova Cúria Geral e a elaboração de válidas indicações para a resolução dos problemas actuais da Ordem.

Para uma grande parte dos membros das vossas Comunidades completaram-se há pouco dez anos da libertação dos regimes opressores, que dificultaram enormemente a vida da Igreja. E este evento coincide com o ano do grande Jubileu, isto é, com um período em que somos chamados de modo muito particular à purificação da memória, ao perdão, numa palavra, à reconciliação. De maneira especial, aqueles que tanto sofreram são chamados a um amor que "tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1Co 13,7). Esse amor conduz à reconciliação com os irmãos, sobretudo com aqueles que estiveram na origem de sofrimentos inenarráveis.

O Ano Santo 2000 constitua para todos vós um forte apelo à santidade na vida pessoal e comunitária, a fim de que os seus efeitos benéficos favoreçam a inteira comunidade cristã.

259 2. A unidade da Igreja, pela qual Cristo orou na última Ceia (cf. Jo Jn 17,20 Jo Jn 17,21), seja um empenho constante para cada um de vós. Nisto, serve-vos de exemplo São Basílio Magno, a respeito do qual escrevi: "Foi o mesmo amor a Cristo e ao seu Evangelho aquilo que muito o fez sofrer com as divisões da Igreja e com tanta perseverança, esperando contra spem, lhe fez procurar, com todas as Igrejas, auma comunhão mais eficaz e manifesta" (Carta Apost. Patres Ecclesiae, 2 de Janeiro de 1980, II; cf. L'Osservatore Romano, ed. port. de 13 de Janeiro de 1980, pág. 4).

Outra finalidade primordial da vossa consagração a Deus na Ordem Basiliana é a renovação da vida cristã do vosso povo, finalidade pela qual tanto trabalhou São Josafat, cujos restos mortais repousam agora aqui ao lado, na Basílica de São Pedro. Estamos a aproximar-nos do 400° aniversário da sua entrada no mosteiro da Santíssima Trindade em Vilna. Remonta àquele momento o início duma nova primavera da vida monástica na Igreja greco-católica. Com a sua ascese espiritual, a vida de penitência e o incansável serviço à Igreja, ele contribuiu de maneira eficaz para o renascimento não só da vida monacal, mas também da existência cristã naquelas terras. Uma situação análoga repete-se hoje lá onde, durante diversos decénios, a Igreja foi suprimida. Também hoje aqueles povos esperam ver a luz de Deus, que se reflecte no rosto de homens transfigurados mediante a oração, o amor e o serviço.

A unidade da Igreja tem hoje necessidade da fidelidade criativa (cf. Vita consecrata, VC 37), que saiba beber da grande e rica tradição espiritual do Oriente cristão. Esta é uma tradição que espera ser recuperada em todas as vossas Comunidades: compete a vós ser as fiéis testemunhas de tão multiforme património espiritual.

3. São Basílio Magno, vosso patriarca, começa as "Regras mais amplas" com um forte apelo ao preceito do amor a com Deus e aos irmãos. Com efeito, dali deriva todo o dinamismo das sucessivas normas monásticas e do próprio caminho rumo à santidade. O amor é exercido numa vida comunitária, que se inspira no modelo da primeira comunidade de Jerusalém, a qual vivia a plena comunhão dos bens e dos carismas (cf. Act Ac 2,42-47). É a este princípio que se referem os vossos Padres, o Metropolita José Veliamin Rutskyj e São Josafat Kuntsevytch, que renovaram a vida da vossa Ordem.

O vosso serviço ao ecumenismo não pode começar senão de uma profunda conversão interior a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Isto supõe uma intensa dedicação à oração, "que transforma a nossa vida com a luz e a verdade, tornando-nos um ícone de Jesus Cristo" (Discurso na igreja dos Padres Basilianos em Varsóvia, 11 de Junho de 1999, n. 4; cf. L'Osservatore Romano, ed. port. de 19/6/1999, pág. 15). Só se nos colocarmos em humilde contemplação do Rosto Santo do nosso Redentor, poderemos chegar a reconciliar-nos entre nós e encontrar de novo a unidade plena que nasce do amor.

De particular relevo neste caminho é a Liturgia, ápice e centro de toda a vida cristã. Com todas as suas riquezas, ela deve ser o vosso contínuo ponto de referência. A adesão fiel ao património do passado, que saiba abrir-se a uma justa criatividade segundo o grande espírito das orações litúrgicas, será garantia da perseverança na vossa identidade religiosa oriental.

4. O vosso carisma está baseado em alguns pontos essenciais: a vida comunitária, clara manifestação da vida evangélica; o serviço à unidade da Igreja de Cristo, expresso no estudo, no exemplo e sobretudo na oração pessoal e litúrgica; o apostolado multiforme junto do povo de Deus, mediante a formação espiritual, a actividade pastoral, catequética, missionária, escolar e editorial. O próprio São Basílio, "com prudente equilíbrio, soube unir a pregação infatigável a períodos de solidão e de longa entrega à oração. Considerava, com efeito, que isto era de necessidade inderrogável para a "purificação da alma", e depois para que o anúncio da palavra fosse confirmado sempre pelo "evidente exemplo" da vida. Assim se tornou pastor e foi ao mesmo tempo, no sentido mais substancial do termo, monge" (Carta Apost. Patres Ecclesiae, II; cf. L'Osservatore Romano, ed. port. de 13/1/1980, pág. 3).

Ao exprimir grato apreço aos Padres Consultores que deixam o cargo e ao apresentar cordiais votos de bom trabalho àqueles que serão eleitos para os substituir, dirijo uma especial saudação aos representantes das Províncias da Argentina, Brasil, Canadá, Eslováquia, Estados Unidos, Hungria, Polónia, Roménia e Ucrânia, e da recente fundação de Praga. Confio todos à intercessão materna da Virgem Santíssima e, enquanto dirijo uma fraterna saudação ao Padre Proto-Arquimandrita, concedo a cada um de todo o coração uma especial Bênção Apostólica.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A VÁRIOS GRUPOS DE PEREGRINOS


VINDOS A ROMA PARA O ANO SANTO


Sábado, 8 de Julho de 2000



Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. O desejo de tornar mais rico o Ano Santo, que já estais a viver nos respectivos lugares de proveniência, conduziu-vos a Roma para realizardes a peregrinação jubilar e reafirmardes a comunhão com o Sucessor de Pedro. Bem-vindos! Acolho todos vós com alegria e saúdo cada um com sentimentos de afecto.

260 Dirijo, em particular, o meu pensamento aos Clérigos Regulares de São Paulo (Barnabitas) e aos Padres da Ordem Basiliana aqui presentes, por ocasião dos respectivos Capítulos Gerais. Saúdo também os fiéis da paróquia de São Mateus em Agerola (Nápoles); os Frades Capuchinhos do convento de Cálari; e os Religiosos Agostinianos, delegados da comissão "Justiça e Paz" da sua Ordem. Estendo depois a minha saudação a quantos participaram no encontro hodierno.

Caríssimos, bem sabeis que a Igreja está a viver um tempo santo, uma ocasião propícia para se renovar na luz de Cristo, o Verbo de Deus que se fez carne há dois mil anos. Neste providencial período, os crentes são convidados a haurir de maneira mais abundante dos tesouros de misericórdia que o Senhor oferece à sua Esposa. Durante o Jubileu, tempo de graça e de misericórdia, cada um é chamado a responder à voz de Deus, mediante um sério exame de consciência, o esforço da purificação e da penitência e orações mais intensas.

Com efeito, o Ano Santo aproxima-nos ainda mais daquela que sempre foi a fonte poderosa, na qual a Igreja se revigora com confiança: a Palavra de Deus, interpretada nos factos e nas palavras pela Liturgia, os Concílios, os Padres e os Santos. Deste fundamento ela aprende que a fonte principal da unidade dos crentes em Cristo é a Santíssima Trindade (cf. Lumen gentium,
LG 1-8). Que o ano 2000 continue a ser um hino de glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo!

2. A Igreja só se aproxima de Deus uno e trino mediante Cristo, único Caminho e verdadeira Porta Santa que a introduz no mistério da vida divina. Cada um é convidado a atravessar este limiar, pois "é esta a porta do Senhor, por ela entram os justos" (Ps 118,20).

Cristo assumiu as nossas fragilidades e a nossa decadência para nos elevar à dignidade de filhos do Pai celeste. Mediante o seu sangue derramado na cruz, abriu-nos de novo o céu, que tinha sido fechado pelo pecado e pela mentira. Deus escolheu este sinal eloquente para nos confirmar o seu pleno envolvimento na história humana. Neste mês de Julho, a liturgia recorda-nos de modo particular que Cristo, "com o seu sangue, resgatou para Deus homens de toda a tribo, língua, povo e nação" (Ap 5,9). A quantos lavarem os seus vestidos, tornando-os cândidos com o sangue do Cordeiro (cf. Ap Ap 7,14), será dada vida em abundância.

Caros consagrados, na esteira de Cristo Servo obediente estai sempre prontos a acolher com alegria o desígnio de Deus sobre vós, testemunhando que o Amor é capaz de cumular o coração da pessoa humana. A vossa consagração exprime a íntima natureza da vocação cristã e a tensão de toda a Igreja-Esposa para a união com o único Esposo.

Caros fiéis leigos, em todas as vossas actividades, em cada empenho concreto se reflicta a vossa dignidade de filhos de Deus. Nas vossas competências, no trabalho, na dedicação à família, na educação dos filhos, no serviço social e político, no âmbito da cultura e da informação resplandeça o vosso contínuo exercício da fé, da esperança e da caridade.

3. De todo o coração dou as boas-vindas aos peregrinos vindos de Santiago de Compostela, acompanhados pelo seu Arcebispo, D. Julián Barrio Barrio, a quem saúdo com afecto fraterno.
Vós, que celebrastes recentemente o Ano Santo Compostelano, conheceis bem a riqueza que Deus derrama nas celebrações jubilares. Desejo que a recebais com alegria ao atravessardes a Porta Santa neste Grande Jubileu, para que os vossos corações e comunidades se abram à vida nova que é Cristo, e com Ele, que é fonte de vida e esperança, a Igreja de Santiago fortaleça a sua fé, fidelidade e vigor apostólico diante dos desafios do terceiro milénio.

Levai convosco a graça e a misericórdia divina, fazendo-a chegar aos vossos povos e famílias. Transmiti-lhes inclusivamente a afectuosa saudação do Papa e a Bênção que agora vos concedo do íntimo do coração.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, formulo votos por que a hodierna peregrinação deixe no vosso coração sinais eficazes de justiça e de caridade no Senhor. Neste itinerário, ser-vos-á dado aproximar-vos do sacramento da Penitência e da Reconciliação; alimentar-vos à mesa da Eucaristia e visitar as memórias dos Apóstolos. Estes sejam momentos de intensa comunhão com Deus. Ao retornardes aos vossos lares, senti-vos estimulados na caridade e nas boas obras, participando na vida da comunidade, exortando-vos reciprocamente à esperança (cf. Hb He 10,23-24), cada um no estado de vida que lhe é próprio.

261 Com estes sentimentos, invoco sobre vós a materna protecção de Maria, Mãe do Senhor, e abençoo-vos de todo o coração.



MENSAGEM AO CARDEAL MICHELE GIORDANO


POR OCASIÃO DO 500° ANIVERSÁRIO


DE UMA MEMORÁVEL PEREGRINAÇÃO DE NAPOLITANOS




Ao venerado Irmão
Cardeal MICHELE GIORDANO
Arcebispo de Nápoles

Foi com alegria que tomei conhecimento de que, durante o Ano jubilar, essa Arquidiocese quer recordar uma data importante, ligada a um facto histórico e a uma realidade viva e querida ao povo napolitano. Trata-se da celebração do V centenário da piedosa peregrinação que, de Nápoles, trouxe a Roma um enorme grupo de devotos com o ícone da "Virgem Morena". Desse evento teve origem a difundida prática das "Quartas-Feiras do Carmo", expressão da devoção mariana em que, como noutras análogas manifestações de fé popular, é possível reconhecer um reflexo da materna bondade de Maria Santíssima.

Esta significativa circunstância traz à minha mente e ao meu coração a recordação da homenagem, que tive a alegria de prestar a esse ícone, por ocasião da visita feita à Cidade e à Arquidiocese de Nápoles, há quase dez anos. Com viva emoção dirijo-me a Vossa Eminência, venerado Irmão, e à dilecta Comunidade arquidiocesana partenopeia, formulando ardentes votos de um generoso e profícuo caminho eclesial, constantemente vivido sob a vigilante e materna protecção da Bem-Aventurada Virgem Maria.

O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, por ocasião do primeiro centenário da solene coroação da imagem da "Virgem Morena", escrevia: "O povo de Deus ama com imensa paixão a Mãe do seu Senhor, a estrela do seu céu, o porto da sua peregrinação" (Carta ao Card. Corrado Ursi, 4 de Julho de 1975). Na nossa peregrinação terrestre, Maria é a bíblica "coluna de fogo" que nos ilumina, a "estrela-guia" para a pátria celeste, o "porto seguro" no qual encontrar consolo e refúgio. Por ela guiados, os crentes progridem confiantes, conscientes da sua amável presença que constantemente conduz a Cristo. De facto, através da Mãe encontramos o Filho Jesus e, fortificados pelo seu apoio, não temos motivo para tremer diante das dificuldades, mas podemos sentir-nos sempre prontos a responder com generosidade à acção do Espírito Santo.

Entre as provações do mundo e os consolos de Deus, procede assim a Igreja rumo ao cumprimento do Reino na fase escatológica. Este é um caminho que se desenrola através de uma comunhão sempre mais íntima com Deus e com os irmãos; por este motivo, "em especial na nossa época, ele está marcado pelo sinal do ecumenismo" (Redemptoris Mater RMA 29). Maria, Mãe da Igreja, Mãe da unidade, da esperança e do amor, caminha connosco. Impele-nos rumo a uma comunhão cada vez mais íntima com a Santíssima Trindade; ao aderirmos à Palavra de Deus, encoraja-nos a ser construtores de unidade e de paz com todos os nossos irmãos, a comunicar com todos os que estão irmanados pela fé em Cristo. "Fazei o que Ele vos disser" (Jn 2,5), disse Maria aos servidores nas bodas de Caná. Hoje Ela repete-nos a mesma recomendação, convidando-nos a seguir o exemplo do seu Filho que, como testamento, deixou aos seus discípulos o mandamento do amor e da unidade.

Exorto de coração a amada Comunidade eclesial de Nápoles a prosseguir sem descanso, confortada pela intercessão materna de Nossa Senhora, neste esforço de renovação espiritual e de incessante busca de unidade e comunhão.

Formulo estes votos, em tão importante ocasião, retornando com a memória à minha visita pastoral de há dez anos. Detenho-me espiritualmente, como outrora, diante da "Virgem Morena" na Praça do Plebiscito e a Ela repito: "Protegei, ó Mãe, a Cidade de Nápoles! Guiai os vossos filhos pelo caminho da justiça e da fraternidade! Revigorai neles a fé, tornai-os corajosas testemunhas do Evangelho e destemidos construtores de paz" (Alocução do "Angelus", em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 18 de Novembro de 1990, pág. 1).

Mãe Santíssima, volvei com benignidade o vosso olhar de Mãe para o povo napolitano e fazei com que experimente sempre o poder da vossa intercessão. Sede Mãe doce e misericordiosa. Velai sobre todos e cada um em particular!

262 Com estes votos, enquanto asseguro a minha participação espiritual orante nas celebrações centenárias, com afecto concedo-lhe, venerado Irmão, ao Clero, aos Religiosos, às Religiosas e à inteira Comunidade cristã partenopeia uma especial Bênção Apostólica.





MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO ABADE-GERAL


DOS CÓNEGOS PREMONSTRATENSES




Ao Reverendíssimo Padre

HERMENEGILDO JOZEF NOYONS

Abade-Geral
da Ordem Premonstratense

Verdadeiramente presente no meio de vós mediante as palavras desta Carta, saúdo com muito afecto todos e cada um dos que nestes dias participam no Capítulo Geral dos Cónegos Regulares da Ordem Premonstratense, e abraço-vos individualmente como se estivésseis reunidos diante de mim e, na medida do possível, exorto-vos, no nome e na autoridade de Jesus Cristo, a exercerdes a vossa missão com diligência e prudência, como já o fazeis por Cristo, pela Igreja e pela vossa Ordem.

De facto, agora deveis utilizar corajosa e justamente todos os conselhos oferecidos por São Norberto acerca da vida religiosa e do ministério sagrado, todas as benéficas experiências do efectivo apostolado da vossa Ordem nos séculos passados, e todas as recentes directrizes da Igreja-mãe para as presentes necessidades espirituais do Povo de Deus, a fim de não só os adaptar às mudadas condições sociais do homem, mas também os modificar com prudência para uma implementação mais completa do Concílio Vaticano II, e os usar para o bem-estar e a renovação do vosso ilustre Instituto. Além disso, deveis continuar as vossas tradicionais e elogiáveis práticas de piedade, em particular o louvor divino, o culto eucarístico, a devoção mariana, o espírito penitencial e o fervor da obra pastoral.

Com razão, portanto, alegrar-vos-eis com os frutos das vossas deliberações e sereis muito louvados pelo Romano Pontífice, que há muito tempo acompanha o vosso sério trabalho com as suas preces ao Espírito Santo, Dador de toda a luz. Infelizmente, devido às circunstâncias presentes, não vos posso receber na minha casa nem vos posso exprimir pessoalmente o meu pensamento de maneira mais efusiva. Contudo, de boa vontade acolho as vossas antecipadas expressões de fidelidade, e desejo que, segundo a vossa provada fidelidade, me comuniqueis as actas do Capítulo Geral bem como as planificações futuras prudentemente feitas no Senhor.

Recebei então a minha saudação fraterna mediante esta carta, com votos de encorajamento e conforto para os vossos corações, enquanto envio também a minha Bênção Apostólica para que esta assembleia tão importante tenha pleno bom êxito, a Ordem dos Cónegos Regulares Premonstratenses prospere e a obra da Igreja, que por esta é exercida em muitas nações, produza bons frutos.

Vaticano, 6 de Julho de 2000, vigésimo segundo ano de Pontificado.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


PRONUNCIADO NO ENCONTRO FESTIVO COM MILHARES


DE PEREGRINOS VINDOS A ROMA


PARA A ULTREYA JUBILAR


DOS "CURSILHOS DE CRISTANDADE"


Sábado 29 de Julho de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs


Discursos João Paulo II 2000 255