Discursos João Paulo II 2000 263

263 1. Sinto-me feliz por dirigir a minha afectuosa saudação a todos vós aqui reunidos dos cinco continentes para o terceiro encontro dos Cursilhos de Cristandade, a Ultreya do Grande Jubileu. Obrigado pela vossa visita e sejam todos bem-vindos.

Saúdo os cursilhistas de língua espanhola, vindos da América e da Espanha, recordando que foi em Palma de Maiorca que nasceu esta experiência apostólica, iniciada pelo Mons. Juan Hervás, zeloso pastor dessa comunidade eclesial.

Dou-vos as boas-vindas e encorajo-vos a fazer desta Ultreya do Grande Jubileu um tempo de renovado compromisso na santidade de vida e de apostolado.

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas a todos os participantes de língua francesa.
Depois, dirijo de todo o coração uma saudação àqueles que aqui vieram dos países de expressão alemã. Oxalá esta celebração revigore a vossa fé.

Saúdo a Presidente do Organismo Mundial dos Cursilhos de Cristandade e agradeço-lhe as cordiais expressões que me transmitiu em vosso nome, apresentando o compromisso apostólico do vosso Movimento e o bem que o Senhor realiza através de vós. Saúdo os fundadores e animadores espirituais, assim como os responsáveis do Movimento. Esta vossa presença, tão diversificada e festiva, testifica que a pequena semente lançada na Espanha, há mais de cinquenta anos, se tornou uma árvore frondosa, rica de frutos do Espírito. Aliás, ela continua a constituir uma feliz resposta ao interrogativo formulado pelo meu venerado Predecessor, o Papa Paulo VI, à primeira Ultreya mundial em Roma: "O Evangelho tem ainda a capacidade de conquistar o homem amadurecido... na civilização tanto urbana como rural?" (AAS, 58 [1966], pág. 503).

Por isso, uno-me com alegria à vossa acção de graças ao Senhor por tudo aquilo que Ele levou a cabo e não cessa de realizar no seio da Igreja, através dos Cursilhos de Cristandade.

O tema desta Ultreya mundial "Evangelizar os ambientes do terceiro milénio cristão: um "desafio" para os Cursilhos de Cristandade" testemunha o esforço por repropor com renovados instrumentos e entusiasmo a experiência de Cristo aos homens e às mulheres do século XXI. Isto torna-se ainda mais urgente, considerando que "inteiros países e nações, onde outrora a religião e a vida cristã foram tão prósperas e capazes de dar origem a comunidades de fé viva e operosa, se encontram hoje sujeitos à dura prova e, por vezes, até são radicalmente transformados pela contínua difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo" (Christifideles laici
CL 34).

2. Diante desta situação, que desafia os fiéis a "refazer... o tecido cristão da sociedade humana" (Ibidem), o método do Cursilho propõe-se contribuir para mudar em sentido cristão os ambientes onde as pessoas vivem e trabalhm, através da inserção de "homens novos", assim transformados pelo encontro com Cristo. É para esta finalidade que tendem os três dias do "breve curso" de cristandade, durante os quais um grupo de sacerdotes e de leigos, apoiados pela oração e pela oferta de sacrifícios dos outros pertencentes ao Movimento, comunica as verdades fundamentais da fé cristã, especialmente de maneira "vivencial". O anúncio de Cristo assim proposto, quase sempre abre os participantes no Cursilho para o dom da conversão e para uma viva consciência do Baptismo recebido e da própria missão na Igreja. Eles sentem-se chamados a ser "fermento" profético, que se amalgama com a farinha para se levedar inteiramente (cf. Mt Mt 13,33), como "sal da terra" e "luz do mundo" (Ibid., 5, 13-14) para anunciar às pessoas com quem se encontram, que só há salvação em Jesus Cristo (cf. Act Ac 4,12), e que "o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado" (Gaudium et spes GS 22).

3. Estimados Irmãos e Irmãs, sede corajosas testemunhas do "serviço da Verdade" e trabalhai sem trégua, com a "força da comunhão". Assentes nas vossas ricas experiências espirituais, que constituem um tesouro, assumi o "desafio" que o nosso tempo apresenta à nova evangelização, enfrentando-o sem temor.

Perante uma cultura que não raro nega a existência mesma de uma Verdade objectiva de valor universal e frequentemente se extravia nas "areias movediças" do niilismo (cf. Fides et ratio, FR 5), os fiéis devem saber indicar claramente que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14, 6).

264 Jesus, a quem abristes com generosidade os vossos corações, pede-vos que proclameis incansavelmente o seu nome àqueles que ainda não O conhecem. Ele chama-vos ao seu serviço, ao serviço da Verdade que nos liberta.

Quanto mais transparente esta "diaconia da verdade" se tornar nas vossas vidas quotidianas, tanto mais convincente ela será. Como vo-los recorda uma oração a que frequentemente se recorre no Movimento dos Cursilhos, "Cristo não tem mãos, pois só dispõe das nossas mãos para transformar o mundo de hoje. Cristo não tem pés, pois só possui os nossos pés para orientar o mundo rumo a Ele. Cristo não tem lábios, pois só dispõe dos nossos lábios para falar ao homem".

4. Este é o vosso apostolado. Levai-o a cabo em constante sintonia eclesial, para que assim se manifeste a "força da comunhão", que é o estilo e contemporaneamente o conteúdo mesmo da missão do Povo de Deus. Diante das várias formas de individualismo, que fragmentam e disperdem a capacidade e os recursos evangelizadores, reuni os vossos esforços missionários aos das multíplices agremiações eclesiais suscitadas pelo Espírito na Igreja do nosso tempo. Esforçai-vos por que volte a sobressair a beleza das primeiras comunidades cristãs, que levavam os pagãos a reconhecerem com admiração: "Olhai como se amam!". E sede sempre dóceis às indicações do Magistério. Com efeito, nenhum carisma dispensa da referência e da submissão aos Pastores da Igreja, cujo discernimento é uma garantia de fidelidade ao próprio carisma. A presente celebração jubilar suscite em todos vós uma renovada fidelidade à vossa inspiração original e uma comunhão eclesial mais firme.

5. "De cores, de cores revestem-se os campos na Primavera.
De cores, de cores são os passarinhos que provêm de fora.
De cores, de cores é o arco-íris que vemos reluzir...".

Durante os dias do Cursilho, as palavras desta canção popular espanhola ajudam os participantes a reflectir sobre a beleza multiforme da criação. Encontrando-vos com Cristo, aprendestes a considerar com olhos novos as pessoas e a natureza, os acontecimentos diários e a vida em geral.

Experimentastes que do seguimento do Senhor se logra a verdadeira felicidade. Esta experiência pessoal e comunitária deve ser transmitida ao próximo. Muitos homens e mulheres do nosso tempo, que infelizmente se afastam de Deus, esperam de vós a luz da fé que as ajude a redescobrir as cores da existência e do júbilo de se sentirem amados por Deus.

"Coragem! Ultreya! Avante!", repete-vos hoje o Sucessor de Pedro. Olhai para Maria, exemplo de indefectível fidelidade a Deus e, como Ela, em cada circunstância depositai a vossa confiança em Deus, Pai de misericórdia, que orienta os vossos passos ao longo do caminho da verdade e do amor.

Aos peregrinos vindos de Fátima a dois meses da beatificação de Francisco e Jacinta Marto
A minha saudação estende-se com a mesma cordialidade a todos os outros peregrinos aqui congregados. Em particular àqueles da Diocese de Leiria-Fátima, guiados pelo seu Bispo, o estimado D. Serafim.

265 Queridos Irmãos e Irmãs, já se passaram dois meses desde quando tive a alegria de me encontrar no meio de vós, gozando da vossa calorosa hospitalidade e testemunhando a vossa radiante alegria pela confirmação da santidade em dois vossos conterrâneos: os Beatos Francisco e Jacinta Marto. Hoje, em vós eleita representação da referida Igreja local vejo retribuída a visita: em vós, que viestes junto do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, em espírito de oração e penitência, implorar perdão e indulgência, e renovar a vossa dedicação àquela obra de divinização da humanidade que teve início há dois mil anos, com o nascimento de Deus humanado.

De coração saúdo toda a Diocese de Leiria-Fátima, com votos por que este Grande Jubileu da Encarnação se revele para todos vós aquele "ano de graça do Senhor", que se tornou realidade com Jesus e em Jesus (cf. Lc
Lc 4,19-21), para poderdes esperar confiadamente na força da sua mensagem e obra de salvação, amar a todos com amor de doação e também de reparação pela ingratidão a Deus de tantas pessoas, e testemunhar a fé com coragem e coerência na sociedade actual.

A Virgem Santíssima, misticamente presente nos vossos santuários marianos, entre os quais sobressai por sua escolha o de Fátima, acompanhe maternalmene o vosso caminho de penitência e conversão, e vos sustenha na realização dos vossos propósitos para o bem da vossa Diocese e para a salvação do mundo.

Saudação aos fiéis polacos

Saúdo-vos cordialmente, peregrinos da Polónia, que viestes para este encontro. Agradeço o vosso compromisso na nova evangelização e na edificação da civilização do amor e da solidariedade no mundo. A Igreja precisa de vós! Tem necessidade da vossa atitude cristã e da vossa santidade, a fim de que no mundo se possa realizar a grande obra da salvação.

Com afecto, asseguro-vos uma constante recordação na prece e a todos concedo a Bênção Apostólica, propiciadora de abundantes graças divinas.



Agosto de 2000

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A PEREGRINOS DE VÁRIAS PROVENIÊNCIAS


Sábado 5 de Agosto de 2000

Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Dirijo uma cordial saudação a todos vós aqui presentes e estou feliz por vos receber neste dia, primeiro sábado do mês de Agosto. A liturgia romana celebra a Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, primeiro templo do Ocidente cristão intitulado à Mãe de Deus. O pensamento volta-se para Maria, Salvação do povo romano, e é a Ela que confio todas as vossas intenções.

266 Além disso, desejaria dedicar-lhe a solene Vigília de oração, que terá lugar hoje à tarde na Basílica de São João de Latrão. Trata-se de um importante encontro de prece, que se realiza sob a proposta e em comunhão com o Patriarcado Ecuménico de Constantinopla e a Igreja ortodoxa, na vigília da festividade da Transfiguração do Senhor. Oxalá esta providencial iniciativa favoreça o diálogo ecuménico e faça progredir o caminho comum rumo à plena unidade de todos os cristãos.

À União maltesa de transporte dos doentes a Lourdes

Saúdo de maneira especial os enfermos de Malta, juntamente com os seus assistentes e companheiros, que retornam de uma peregrinação a Lourdes. Queridos amigos, a mensagem espiritual que ecoa da gruta de Massabielle ajudar-vos-á sem dúvida a beneficiar mais abundantemente do Ano jubilar, que constitui um privilegiado tempo de penitência e de "cura" para os homens e as mulheres em todas as dimensões das suas vidas. Formulo votos muito sinceros por que as dificuldades e as provações não debilitem o vosso testemunho cristão mas, pelo contrário, ajudem a torná-lo mais vigoroso. O Senhor assista os vossos entes queridos, os médicos, as enfermeiras e os voluntários que vos estão próximos.

Aos jovens da Diocese holandesa de Roermond

Depois, saúdo os jovens da Paróquia de Santo António de Pádua em Blerick, na Diocese de Roermond (Holanda), e faço votos por que vós, amados jovens, leiais e mediteis quotidianamente o Evangelho, segundo o modelo de Santo António de Pádua, a fim de vos tornardes cada vez mais mensageiros do seu amor.

A vários grupos de fiéis

Enfim, saúdo a Congregação das Filhas de Nossa Senhora no Monte Calvário, aqui congredadas, e também as pessoas e famílias presentes. Maria Santíssima obtenha paz e serenidade para cada um de vós, enquanto de bom grado concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


PRONUNCIADO NA SOLENIDADE


DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


Domingo, 6 de Agosto de 2000

Festa da Transfiguração do Senhor



Preparamo-nos para celebrar a Santa Missa na solenidade da Transfiguração do Senhor, trazendo no coração a recordação sempre viva do Servo de Deus Paulo VI, vinte e dois anos depois do seu "êxodo" para a eternidade.

A liturgia hodierna convida-nos a dirigir o olhar para o rosto do Filho de Deus que no alto do monte, como de maneira concorde atestam os Sinópticos, se transfigura diante de Pedro, Tiago e João, enquanto da nuvem a voz do Pai proclama: "Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz" (Mc 9,7). São Pedro, ao recordar com emoção o evento, afirmará: "Fomos testemunhas oculares da Sua majestade" (2P 1,16).

267 Na época actual, penetrada pela chamada "civilização da imagem", torna-se mais incisivo o desejo de poder encher os próprios olhos com a figura do divino Mestre, mas é oportuno recordar as suas palavras: "Felizes os que acreditam sem terem visto" (Jn 20,29). Foi precisamente olhando com os olhos da fé o rosto admirável de Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que viveu o venerado e inesquecível Paulo VI. Ao contemplá-lo com amor ardente e apaixonado, ele disse: "Cristo é beleza: beleza humana e divina, beleza da realidade, da verdade, da vida" (Insegnamenti IX/1971, 36). E acrescentava: "A figura de Cristo apresenta, sem alterar o encanto da sua misericordiosa doçura, também um aspecto grave e forte, formidável, se quiserdes, contra a vileza, as hipocrisias, as injustiças, as crueldades, mas nunca separado de uma soberana irradiação de amor" (ibid., pág. 56).

Enquanto, com ânimo grato, nos aproximamos do altar orando pela alma bendita deste grande Pontífice, desejamos, como ele e como os discípulos, dirigir também nós o olhar para o rosto radiante do Filho de Deus, a fim de sermos por ele iluminados. Peçamos a Deus, por intercessão de Maria, Mestra de fé e de contemplação, a graça de podermos acolher em nós a luz que brilha no rosto de Cristo, de maneira a reflectir a sua imagem sobre todos aqueles dos quais nos aproximamos.

Com estes sentimentos iniciamos a Santa Missa, invocando antes de mais a misericórdia do Senhor.





JOÃO PAULO II

JUBILEU DOS JOVENS

DISCURSO DE ACOLHIMENTO


JUNTO À BASÍLICA SÃO JOÃO


15 de agosto de 2000

1. «O Roma felix!» - «Ó, Roma feliz!».

Ao longo dos séculos, inúmeras plêiades de peregrinos antes de vós, caríssimos e caríssimas jovens vindos para a XV Jornada Mundial da Juventude, caminharam com esta exclamação rumo à Cidade de Roma para se ajoelharem junto do túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo:

«Ó, Roma feliz!». Feliz porque foi consagrada pelo testemunho e pelo sangue dos Apóstolos Pedro e Paulo que ainda hoje, como duas «oliveiras verdejantes» e duas «lâmpadas acesas», nos indicam juntamente com todos os demais Santos e Mártires, Aquele que viemos aqui comemorar: o Verbo que «se fez homem e habitou entre nós» (Jn 1,14), Jesus Cristo, o Filho de Deus, confirmação viva do amor eterno do Pai por nós.

«Ó, Roma feliz!». Feliz porque inclusivamente hoje este testemunho; que tu conservas, está vivo e se oferece ao mundo, de modo particular ao mundo das jovens gerações!

2. Saúdo-vos com afecto, jovens e adolescentes, pertencentes à Diocese de Roma e às Igrejas que estão na Itália. Saúdo o Cardeal Camillo Ruini, Vigário de Roma e Presidente da Conferência Episcopal italiana, e estou-lhe grato pelas palavras que me dirigiu. Agradeço também aos dois jovens romanos que me saudaram em nome de todos vós.

Estou feliz por vos ver em tão grande número e congratulo-me com quantos de entre vós colaboraram para fazer com que jovens também de outros países pudessem participar neste encontro excepcional.

Sei quanto os jovens das várias Dioceses italianas se prodigalizaram em vista de preparar este momento de «permuta de felicidade». Nesta Cidade, que conserva os túmulos e as memórias daqueles que testificaram o Salvador do mundo, possa nestes dias cada jovem encontrar Jesus, Aquele que conhece o segredo da verdadeira felicidade e que a prometeu aos seus amigos com estas palavras: «Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa» (Jn 15,11).

268 Caríssimos, neste momento tão esperado e significativo, é com espontaneidade que volto com a memória ao primeiro encontro mundial da juventude, que teve lugar precisamente aqui diante da Catedral de Roma. Daqui partimos hoje para viver uma nova experiência a nível mundial: é o encontro do início de um novo século e de um novo milénio. Os bons votos são por que este consinta ao coração de todos vós encontrar Cristo eternamente vivo.

3. Jovens romanos, filhos da Igreja que tem como Bispo o Sucessor de Pedro e que, como escreveu Santo Inácio de Antioquia é chamada a «presidir na caridade» (Ad Romanos, Introd.), sentivos comprometidos também durante estes dias em acolher os outros jovens vindos aqui de todas as regiões do mundo. Entretecei com eles uma amizade cordial.Tornai jubilosa a sua permanência em Roma, prodigalizando-vos no espírito de serviço, no acolhimento amistoso; segundo o estilo dos amigos de Jesus Lázaro, Marta e Maria - que com frequência O hospedavam na própria casa: Juntamente com os jovens das doze Dioceses confinantes com Roma, abri as portas das vossas casas aos peregrinos desta Jornada Mundial da Juventude, tornando-a uma cidade hospitaleira e amiga, para que também hoje se realize. um encontro entre amigos; entre todos nós e o grande Amigo, Jesus!

4. Queridos jovens peregrinos do terceiro milénio, vivei intensamente esta Jornada Mundial. Através do contacto com muitos jovens que, como vós, querem seguir a Cristo, valorizai as palavras que vos forem dirigidas pelos Bispos, acolhendo a voz do Senhor para revigorardes a vossa fé e a testemunhardes sem temor, conscientes de que sois herdeiros de um grande passado.

Dilectos jovens e adolescentes, ao inaugurar o vosso Jubileu desejo reiterar as palavras com que iniciei o meu ministério de Bispo de Roma e de Pastor da -igreja universal; gostaria que elas orientassem as vossas jornadas romanas: «Não tenhais medo! Abri, ou , melhor, escancarai as portas a Cristo!: Abri os vossos corações, vidas, dúvidas; dificuldades, alegrias e afectos à sua força salvífica e permiti que Ele entre nos vossos corações. «Não tenhais medo! Cristo sabe o que existe dentro do homem. Só Ele o saber. Foi o que eu disse no dia 22 de Outubro de 1978. E hoje, repito-o com a mesma convicção e com o mesmo vigor, enquanto vejo resplandecer nos vossos olhos a esperança da Igreja e do mundo. Sim, permiti que Cristo reine nas vossas jovens existências e servi-O com amor. Servir a Cristo é liberdade!

5. Abramos estas jornadas sob o olhar de Maria Santíssima, cuja Assunção ao Céu hoje contemplamos: o exemplo da jovem Virgem de Nazaré vos ajude a dizer «sim» ao Senhor que bate à vossa porta e deseja entrar e habitar em vós.

Eis que ele vive, o Papa vive há oitenta anos e os jovens querem-no sempre rejuvenescido. Como - se há-de fazer? Obrigado por esta vossa catequese. Faço votos por que vos sintais bem em Roma, vos sintais sempre próximos da Salus Populi Romani, e sintais a sua proximidade materna. Estes são os meus últimos votos, porque agora me devo transferir para São Pedro a fim de dar as boas-vindas, também em vosso nome, a quantos chegaram a Roma de todas as partes do mundo para celebrar e viver, juntamente convosco, o Jubileu dos jovens.



JUBILEU DOS JOVENS


DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


NO RITO DE ACOLHIMENTO


Praça de S. Pedro, Terça-feira - 15 de Agosto de 2000


Queridos jovens e queridas jovens da décima quinta Jornada Mundial da Juventude, amados Irmãos no sacerdócio, religiosas, religiosos e educadores que os acompanhais, bem-vindos a Roma! Agradeço ao Cardeal James Francis Stafford as calorosas palavras que me dirigiu. Com ele, saúdo o Cardeal Camillo Ruini, os outros Cardeais, Arcebispos e Bispos presentes. Agradeço também aos dois jovens que deram eficaz expressão aos sentimentos de todos vós, caros amigos, aqui congregados de tantas partes do mundo.

É com grande alegria que vos acolho, depois da paragem que fiz diante da Basílica de S. João de Latrão, a Catedral de Roma, para saudar os jovens de Roma e do resto da Itália. Unidos comigo, também eles vos dão as mais fraternas e calorosas boas-vindas.

Os vossos rostos recordam-me e, de algum modo, tornam presentes as gerações jovens que tive a graça de encontrar nos últimos anos do segundo milénio durante as minhas viagens apostólicas pelo mundo. A cada um, eu digo: A paz esteja contigo!

A paz esteja contigo, jovem que vens de África:
da Argélia
de Angola,
do Benim,
do Burkina Faso,
do Burundi,
dos Camarões,
de Cabo Verde,
do Chade,
do Congo,
da Costa do Marfim,
do Egipto,
da Eritreia,
do Gabão,
da Gâmbia,
do Gana,
269 da República da Guiné,
do Gibuti,
da Guiné Bissau,
do Quénia,
do Arquipélago das Comores
das Ilhas Maurício,
do Lesoto,
da Libéria,
da Líbia,
de Madagáscar,
do Malavi,
do Mali,
de Marrocos,
de Moçambique,
da Namíbia,
da Nigéria,
270 da República Centro-Africana,
da República Democrática do Congo,
do Ruanda,
do Senegal,
das Ilhas Seicheles,
de Serra Leoa,
da África do Sul,
do Sudão,
da Suazilândia,
da Tanzânia,
do Togo,
do Uganda,
da Zâmbia,
do Zimbabué.

271 A paz esteja contigo, jovem que vens da América:
das Antilhas,
da Argentina,
das Bahamas,
do Belize,
da Bolívia,
do Brasil,
do Canadá,
do Chile,
da Colômbia,
da Costa Rica,
de Cuba,
do Equador,
272 da República de El Salvador,
da Guatemala,
do Haiti,
das Honduras,
do México,
da Nicarágua,
do Panamá,
do Paraguai,
do Perú,
de Porto Rico,
da República Dominicana,
de Santa Lúcia,
de São Vicente,
273 dos Estados Unidos da América,
do Surinam,
do Uruguai,
da Venezuela.

A paz esteja contigo, jovem que vens da Ásia:
da Arábia Saudita,
da Arménia,
do Barhein,
do Bangladesh,
do Camboja,
da Coreia do Sul,
274 dos Emirados Árabes Unidos,
das Filipinas,
da Geórgia,
do Japão,
da Jordânia,
de Hong Kong,
da Índia,
da Indonésia,
do Iraque,
de Israel,
do Casaquistão,
do Quirguistão,
do Laos,
do Líbano,
de Macau,
da Malásia,
da Mongólia,
do Myanmar,
do Nepal,
de Omã,
do Paquistão,
do Qatar,
de Singapura,
da Síria,
do Sri Lanka,
de Taiwan,
275 dos Territórios Palestinenses,
da Tailândia,
de Timor Leste,
do Turcomenistão,
do Usbequistão,
do Vietnam.

A paz esteja contigo, jovem que vens da Europa:
da Albânia,
da Áustria,
da Bélgica,
da Bielo-Rússia,
276 da Bósnia-Herzegovina,
da Bulgária,
de Chipre,
da Croácia,
da Dinamarca,
da Alemanha,
da Inglaterra,
da Estónia,
da Finlândia,
da França,
da Grécia,
da Irlanda,
da Itália,
da Letónia
do Liechtenstein,
da Lituânia,
do Luxemburgo,
da Macedónia,
de Malta,
da Moldávia,
da Holanda,
da Noruega,
da Polónia,
de Portugal,
277 do Principado do Mónaco,
da República Checa,
da República de São Marino,
da Roménia,
da Rússia,
da Escócia,
da Eslováquia,
da Eslovénia,
da Espanha,
da Suíça,
da Suécia,
da Turquia,
da Ucrânia,
da Hungria,
da Jugoslávia,

278 A paz esteja contigo, jovem que vens da Oceânia:
da Austrália,
de Guam,
da Nova Zelândia,
de Pápua Nova Guiné.

Com particular afecto, saúdo o grupo dos jovens vindos dos Países onde o ódio, a violência, a guerra ainda carregam de sofrimento a vida de populações inteiras: graças à solidariedade de todos vós, foi-lhes possível encontrar-se aqui esta tarde. A eles asseguro, em vosso nome também, a fraterna solidariedade da nossa assembleia; juntamente convosco peço, para eles e para o seu povo, dias de paz na justiça e na liberdade.

A minha saudação estende-se depois aos jovens de outras Igrejas e Comunidades eclesiais que, esta tarde, se encontram aqui juntamente com alguns dos seus Pastores: Que a Jornada Mundial da Juventude seja mais uma ocasião de conhecimento recíproco e de oração comum ao Espírito Santo para implorar o dom da plena unidade de todos os cristãos!

Queridos amigos dos cinco Continentes, com grande alegria dou solenemente início, convosco, esta tarde ao Jubileu dos Jovens. Peregrinos das pegadas dos Apóstolos, imitai a sua fé.

Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!
* * * * *


1. Queridos amigos que percorrestes, com os mais diversos meios, tantos e tantos quilómetros até chegar aqui a Roma, onde estão os túmulos dos Apóstolos, deixai que comece o meu encontro convosco fazendo-vos uma pergunta: De que é que viestes à procura? Estais aqui para celebrar o vosso Jubileu: o Jubileu da Igreja jovem. A vossa não é uma viagem qualquer: se vos pusestes a caminho, não foi apenas por razões de diversão ou de cultura. Então deixai que repita a pergunta: De que é que viestes à procura? Ou melhor, quem é que viestes procurar?

279 A resposta só pode ser uma: Viestes à procura de Jesus Cristo! Jesus Cristo que, todavia, foi o primeiro a procurar-vos. De facto, o único significado da celebração do Jubileu é celebrar e encontrar Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne e veio habitar entre nós.

As palavras do Prólogo de S. João, que agora mesmo foram proclamadas, de certo modo são o seu «cartão de visita». Convidam-nos a fixar o olhar no seu mistério. Tais palavras são uma mensagem particular para vós, queridos jovens: «No princípio era o Verbo, o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, ao princípio, junto de Deus» (
Jn 1,1-2).

Ao indicar-nos o Verbo consubstancial ao Pai, o Verbo eterno gerado como Deus de Deus e Luz da Luz, o Evangelista leva-nos até ao coração da vida divina, e à nascente do mundo também: de facto, no princípio de toda a criação está este Verbo: «Tudo se fez por meio d'Ele, e, sem Ele, nada se fez» (Jn 1,3). Todo o mundo criado, antes de chegar a ser realidade, foi pensado por Deus e por Ele desejado com um desígnio eterno de amor. Por isso, se observarmos o mundo em profundidade, deixando-nos maravilhar com a sabedoria e a beleza que Deus espalhou nele, poderemos já vislumbrar nele um reflexo daquele Verbo que a revelação bíblica nos manifesta, em plenitude, no rosto de Jesus de Nazaré. De certo modo, a criação é uma primeira «revelação» d'Ele.

2. O Prólogo continua o seu anúncio deste modo: «N'Ele, o que existe era Vida, e a Vida era a luz dos homens. A Luz brilha nas trevas, e as trevas não A admitiram» (Jn 1,4-5). Segundo o Evangelista, a vida é a luz, e a morte - o oposto da vida - constitui as trevas. Por meio do Verbo, brotou sobre a terra toda a vida, e esta encontra, no Verbo, a sua definitiva realização.

Ao identificar a vida com a luz, João tem em mente também aquele particular género de vida que não consiste nas simples funções biológicas do organismo humano, mas provém da participação na própria vida de Cristo. Diz o Evangelista: «O Verbo era a Luz verdadeira, que a todo o homem ilumina, ao vir a este mundo» (Jn 1,9). Uma tal iluminação foi concedida à humanidade na noite de Belém, quando o Verbo eterno do Pai assumiu, da Virgem Maria, um corpo, fez-Se homem e nasceu neste mundo. Desde então, todo o homem que participa, pela fé, no mistério daquele acontecimento, experimenta em certa medida a referida iluminação.

O próprio Cristo, apresentando-Se como luz do mundo, dirá mais tarde: «Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz» (Jn 12,36). Esta é uma exortação que os discípulos de Cristo transmitem uns aos outros de geração em geração, procurando aplicá-la na vida quotidiana. A propósito dessa exortação, S. Paulo há-de escrever: «Comportai-vos como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste na bondade, na justiça e na verdade» (Ep 5,8-9).

3. O coração do Prólogo de João é o anúncio de que «o Verbo fez-Se carne e habitou no meio de nós» (1, 14). Pouco antes, o Evangelista tinha afirmado: «Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram. Mas, a quantos O receberam, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus» (1, 11-12). Irmãos caríssimos, sois vós daqueles que acolheram Cristo? A vossa presença aqui é já uma resposta. Viestes a Roma, neste Jubileu dos dois mil anos do nascimento de Cristo, para acolher dentro de vós a força de vida que há n'Ele. Viestes para descobrir a verdade sobre a criação e voltar a extasiar-se com a beleza e a riqueza do mundo criado. Viestes para renovar dentro de vós a consciência da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus.

«E nós vimos a glória d'Ele, glória que Lhe vem do Pai como a Filho Único, cheio de graça e de verdade» (Jn 1,14). Um filósofo contemporâneo deu tal relevo à importância da morte na vida humana, que chegou a definir o homem como «um ser para a morte». Ao contrário, o Evangelho põe em evidência que o homem é um ser para vida. O homem é chamado por Deus a participar na vida divina. O homem é um ser chamado à glória.

Estes dias, que ides passar juntos em Roma no âmbito da Jornada Mundial dos Jovens, deverão ajudar cada um de vós a ver mais claramente a glória que é própria do Filho de Deus e à qual, n'Ele, fomos chamados pelo Pai. Para isso, é preciso que cresça e se consolide a vossa fé em Cristo.

4. Esta fé, desejo-a eu testemunhar diante de vós, jovens amigos, aqui junto do túmulo do Apóstolo Pedro, a quem quis o Senhor que eu sucedesse como Bispo de Roma. Hoje, eu quero, em primeiro lugar, dizer-vos que creio firmemente em Jesus Cristo nosso Senhor. Sim, eu creio, e faço minhas as palavras do apóstolo Paulo: «A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim» (Ga 2,20).

Recordo como aprendi desde criança, na minha família, a rezar e a confiar em Deus. Lembro o ambiente da paróquia dedicada a S. Estanilau Kostka, que eu frequentava em Debniki, na cidade de Cracóvia. Era cuidada pelos Padres Salesianos, que me deram a formação fundamental da vida cristã. Não posso esquecer também a experiência da guerra e os anos de trabalho na fábrica. O amadurecimento definitivo da minha vocação sacerdotal deu-se no período da segunda guerra mundial, durante a ocupação da Polónia. A tragédia da guerra revestiu de um colorido particular o processo de maturação da minha opção de vida. Naquele contexto, uma luz ia aparecendo cada vez mais clara em mim: o Senhor quer que eu me torne sacerdote! Recordo, emocionado, o momento da minha vida em que recebi a Ordenação Sacerdotal, na manhã do dia 1 de Novembro de 1946.

280 O meu Credo continua no serviço que presto actualmente à Igreja. A 16 de Outubro de 1978, quando, após a minha eleição para a Sede de Pedro, me foi feita a pergunta: «Aceitas?», respondi: «Com obediência de fé em Cristo, meu Senhor, e confiando na Mãe de Cristo e da Igreja, não obstante as muitas dificuldades, eu aceito» (Encíclica Redemptor hominis RH 2). Desde então, procuro desempenhar o meu múnus, extraindo em cada dia luz e força da fé que me une a Cristo.

A minha fé, tal como a de Pedro e a de cada um de vós, não é só obra minha, adesão minha à verdade de Cristo e da Igreja. Mas é essencial e primariamente obra do Espírito Santo, dom da sua graça. O Senhor concede a mim, como O dá a vós, o seu Espírito que nos faz dizer «Credo», servindo-Se de nós, depois, para testemunhá-Lo por todos os cantos da terra.

5. Queridos amigos, porque foi que vos quis dar, ao início do vosso Jubileu, este testemunho pessoal? Fí-lo, para deixar claro que o caminho da fé passa através de tudo aquilo que vivemos. Deus actua nos acontecimentos concretos e pessoais de cada um de nós: através deles, às vezes de modo verdadeiramente misterioso, apresenta-se-nos o Verbo «feito carne», que veio habitar entre nós.

Amados jovens, amadas jovens, não permitais que o tempo, que o Senhor vos dá, transcorra como se tudo acontecesse por acaso. S. João disse-nos que tudo foi feito em Cristo. Por isso, acreditai fortemente n'Ele. Ele guia a história tanto dos indivíduos como da humanidade. Cristo respeita certamente a vossa liberdade, mas, em todos os acontecimentos aprazíveis ou amargos da vida, não cessa de pedir-nos que acreditemos n'Ele, na sua Palavra, na realidade da Igreja, na vida eterna!

Por isso, nunca penseis que, a seus olhos, sois uns desconhecidos, um simples número duma multidão anónima. Não, cada um de vós é precioso aos olhos de Cristo; Ele conhece-vos pessoalmente, ama-vos ternamente, mesmo quando não vos apercebeis disso.

6. Queridos amigos, lançados com todo o ardor da vossa juventude para o terceiro milénio, vivei intensamente a oportunidade que vos oferece a Jornada Mundial da Juventude nesta Igreja de Roma, que é hoje mais que nunca a vossa Igreja. Deixai-vos plasmar pelo Espírito Santo. Fazei uma experiência de oração, deixando que o Espírito fale ao vosso coração. Rezar significa dar um pouco do nosso próprio tempo a Cristo, entregar-se a Ele, permanecer em escuta silenciosa da sua Palavra, fazê-la ressoar no coração.

Nestes dias, como se fossem uma grande semana de retiro, reservai momentos de silêncio, de oração, de recolhimento. Pedi ao Espírito Santo que ilumine a vossa mente, pedi-Lhe o dom duma fé viva, que dê para sempre um sentido à vossa vida, integrando-a em Jesus, o Verbo encarnado.

Maria Santíssima, que gerou Cristo por obra do Espírito Santo, Maria Salus Popoli Romani e Mãe de todos os povos, os Santos Pedro e Paulo e todos os outros Santos e Mártires desta Igreja e das vossas Igrejas, sustentem o vosso caminho.




Discursos João Paulo II 2000 263