Discursos João Paulo II 2000 289

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS DA GUINÉ


Sexta-feira, 25 de agosto de 2000

Caro Irmão no Episcopado
Queridos Amigos da Guiné

Grande é a minha alegria ao acolher-vos enquanto fazeis a vossa peregrinação jubilar aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, antes de vos dirigirdes para a Terra Santa, para os lugares onde, há dois mil anos, o Filho de Deus se fez homem, nascendo da Virgem Maria.

O caminho da peregrinação que realizais recorda o percurso pessoal do crente, seguindo as pegadas do Redentor. Que estes dias privilegiados vos permitam progredir ao longo da via da santidade cristã, graças a uma profunda preparação interior e à conversão do coração! Com efeito, ao virdes aqui como peregrinos, empenhastes-vos de maneira significativa em proceder com fidelidade renovada ao longo do caminho que conduz a Cristo, num encontro pessoal com Ele, a fim de viverdes em conformidade sempre maior com o seu Evangelho.

Atravessar o limiar da Porta Santa, que representa a pessoa de Cristo, torna-se então o sinal da passagem que todo o cristão é chamado a efectuar das trevas do pecado à luz da graça. Ao professar que Jesus é o Senhor e ao reafirmar a própria fé para viver a vida nova que Ele deu, o crente demonstra também que Cristo o faz entrar de maneira mais profunda na Igreja e participar plenamente na sua missão.

Queridos amigos, convido-vos a fazer da vossa peregrinação jubilar um tempo de retorno espiritual às fontes, para colocardes efectivamente Cristo no centro da vossa vida. Ao retornardes ao vosso País sede, com toda a vossa existência, testemunhas ardorosas e generosas do amor pessoal e único que o Senhor nutre por todos os homens! Ao exercerdes as responsabilidades que vos correspondem na sociedade e na Igreja, em colaboração com os homens e as mulheres de boa vontade, esforçai-vos sem cessar por edificar um mundo digno do homem e de Deus, preocupando-vos pela justiça e a solidariedade! Sede artífices de paz e de fraternidade! Segui as pegadas de Cristo que vos chama a uma vida nova!

Ao confiar as vossas pessoas e a vossa peregrinação à protecção materna da Virgem Maria, peço-lhe que vos obtenha do seu Filho a abundância da graça e da misericórdia. De coração, concedo a todos a Bênção apostólica.





JOÃO PAULO II


MENSAGEM PONTIFÍCIA AOS


PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL DA


CONGREGAÇÃO DA PAIXÃO DE CRISTO


290 Ao Reverendo Padre

JOSÉ AGUSTÍN ORBEGOZO

Superior-Geral dos Passionistas

1. É-me grato dirigir-lhe esta Mensagem por ocasião do 44° Capítulo Geral da Congregação da Paixão de Cristo, convocado para Itaici, no Estado brasileiro de São Paulo. Dirijo-lhe a minha saudação cordial, que estendo com afecto aos Padres Capitulares, empenhados juntamente com Vossa Reverência num esforço de reflexão e de projecção de grande relevância para a Família espiritual passionista.

O Capítulo Geral é sempre um evento de graça e constitui um forte apelo a procurar as autênticas raízes do Instituto, garantindo assim a fidelidade ao próprio carisma. Para a vossa Congregação, trata-se de aprofundar melhor o modo de viver hoje a preciosa herança confiada a todos os seus filhos por São Paulo da Cruz. Para o fazer, é necessário pôr-se em humilde escuta do Espírito Santo, com amorosa atenção aos sinais dos tempos, verificando, adaptando e lançando de novo o singular dom que Deus concedeu à Igreja e ao mundo através do vosso santo Fundador.

2. A vossa Assembleia capitular realiza-se durante o Grande Jubileu do Ano Santo 2000. É a primeira vez que ela tem lugar no Continente latino-americano, longe da Casa Geral dos Santos João e Paulo no Monte Célio, que o meu Predecessor Clemente XIV vos confiou em 1773. Com essa escolha, quisestes prestar homenagem ao grande Continente no 500° aniversário da sua evangelização, pondo em relevo a índole missionária e universal da vossa Congregação e exprimindo, ao mesmo tempo, solidariedade para com regiões infelizmente marcadas de modo particular pela pobreza e a injustiça. Com esta significativa "peregrinação da caridade" quereis, além disso, corresponder a quanto fiz observar na Bula de proclamação do Grande Jubileu: "A entrada no novo milénio encoraja a comunidade cristã a alargar o seu olhar de fé para horizontes novos no anúncio do Reino de Deus" (Incarnationis mysterium, 2), e impele os discípulos de Cristo a abraçar com fervor o "empenho missionário da Igreja diante das exigências actuais da evangelização" (Ibid.).

Como não pôr em evidência que desde as origens as celebrações jubilares constituíram para os Passionistas significativas etapas de renovada dedicação ao serviço da Igreja? No Ano Santo de 1725 o vosso Fundador, como peregrino em Roma, obteve do meu venerado Predecessor Bento XIII a primeira aprovação verbal da nova Família religiosa e, no Ano Santo de 1750, com alguns Coirmãos pregou com fervor a missão jubilar na igreja romana de São João dos Florentinos, recebendo os elogios do Papa Bento XIV.

3. A reflexão teológica e o clima espiritual deste Jubileu, ano da "glorificação da Trindade" e ano "intensamente eucarístico" (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 55), oferecem uma providencial oportunidade de enriquecimento espiritual à vossa Família religiosa que, nascida na Igreja para "promover a grata memória da bem-aventurada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Regras de São Paulo da Cruz, 1775), suprema e definitiva revelação do Mistério Trinitário, haure da Eucaristia a energia necessária para que toda a vida se torne memória e seguimento do Crucificado ressuscitado.

Essa sintonia com o evento jubilar transparece também do tema do Capítulo: "Paixão de Jesus Cristo, paixão pela vida", que tem em vista ressaltar que, à luz do Crucificado, o sentido da existência consiste em fazer o dom da vida ao serviço dos irmãos. De facto, "o Filho do Homem veio para servir e dar a vida em resgate por muitos" (Mc 10,45).

A morte de Jesus na cruz constitui a máxima expressão da vida que se doa. Ela abre o ingresso à plenitude daquela vida sem fim, que o Pai concede ao Filho, aceitando o seu sacrifício total: "A Cruz é a superabundância do amor de Deus que transborda sobre este mundo" (Vita consecrata, VC 24).

A vida doada por nós na Cruz é-nos oferecida como alimento na Eucaristia. É vida humano-divina: é a vida que o Verbo assumiu da Virgem Maria no momento da Encarnação; é a vida glorificada na ressurreição e na ascensão ao céu; é a vida que o Filho recebe do Pai na eternidade.

Ao acolher com fé, por meio do Filho, a vida do Pai no poder do Espírito Santo, o crente é colocado mediante a Eucaristia no próprio centro do Mistério Trinitário.

291 4. Esta é uma profunda realidade de fé à qual cada um de vós, queridos Passionistas, com certeza não deixa de retornar muitas vezes na oração e na meditação, em atitude de humilde adesão à vontade salvífica de Cristo. Na Eucaristia, Jesus chama cada um dos seus discípulos a ser, como Ele e com a sua ajuda, "pão repartido" e "vinho derramado" para os irmãos, sempre mantendo fixo o olhar no mistério da sua morte e ressurreição.

Com efeito, desde as origens os Passionistas têm prestado aos fiéis o precioso serviço de ensinar a contemplar a Paixão de Cristo, que o venerado Fundador definia "a maior e estupenda obra do amor de Deus". Muitos deles a testemunharam até ao martírio, como o Bispo búlgaro Eugénio Bossilkov, Inocêncio Canaura Arnau, Nicéforo Diez e 25 companheiros, que tive a alegria de elevar à honra dos altares.

Ao olhar para o bem realizado, como não vos pedir que continueis a ser mestres de oração e especiais testemunhas de Cristo crucificado, haurindo do mistério da Cruz a força para cultivar com generosidade a paixão pela vida, sobretudo através do diálogo e da partilha nas vossas Comunidades? Como não recordar que essa missão exige coragem e alegria em enfrentar o peso dos problemas da vida religiosa em qualquer momento histórico particular? Para o fiel, o momento vivido reveste sempre as características de um "caminho de êxodo", no qual "está inevitavelmente incluído o que pertence ao mysterium Crucis" (Vita consecrata,
VC 40).

O Crucificado amou-nos "até ao fim" (Jn 13,1), para além da medida e das possibilidades humanas do amor. Eis a fonte na qual o Passionista, de modo muito particular, deve haurir a própria espiritualidade: amar lá onde é mais difícil; amar onde há mais necessidade de amor. A sociedade hodierna oferece espaços infinitos para este apostolado especial.

Nesse contexto se coloca também a pregação das Missões ao povo, apostolado tradicional da vossa Congregação desde os tempos do Fundador. Através deste singular método apostólico, vós podeis divulgar a devoção à Paixão de Cristo entre o povo e em todos os ambientes. Certamente, às vezes será necessário pensar em novos métodos pastorais segundo as diversas culturas e tradições, mas o vosso primeiro cuidado seja sempre o anúncio de Cristo, que da Cruz renova ao homem de todos os tempos o seu convite a segui-l'O com fiel e dócil abandono. A exemplo de São Paulo da Cruz, o Passionista sinta como seu dever especial oferecer ao povo cristão esta excepcional ocasião de evangelização e de conversão. As Missões populares, entre outras coisas, demonstram-se mais oportunas do que nunca também no contexto deste Ano jubilar. E para além deste empenho, nunca deixeis, antes intensificai, os Exercícios espirituais ao Clero e ao povo, educando-os a cultivarem o espírito de recolhimento e de oração. Toda a vossa casa religiosa, à qual desde o início foi dado o significativo nome de "retiro", seja lugar de contemplação e de silêncio para favorecer o encontro com Cristo, nosso divino Redentor.

5. No programa dos trabalhos capitulares reservastes um particular espaço à reflexão sobre a partilha do carisma passionista com os leigos. Trata-se de "um dos frutos da doutrina da Igreja como comunhão", maturado em tempos recentes, que constitui "um novo capítulo, rico de esperanças, na história das relações entre as pessoas consagradas e o laicado" (Vita consecrata, VC 54). Ele representa um sinal de crescimento da vitalidade eclesial, que urge colher e desenvolver. De coração formulo votos por que quantos o Espírito chama a beber nestas mesmas nascentes da vossa fonte carismática, possam encontrar em vós irmãos e, sobretudo, guias capazes não só de compartilhar com eles o carisma, mas sobretudo de os formar para uma genuína espiritualidade passionista.

É de bom grado que confio os trabalhos capitulares e todos os vossos propósitos generosos à Virgem Santa, a São Paulo da Cruz e aos numerosos Santos e Beatos que enriquecem a história secular do vosso Instituto, para que vos ajudem a repropor hoje o carisma das origens, como eficaz fermento de fecundidade evangélica no mundo contemporâneo.

Com estes votos, enquanto asseguro a minha lembrança na oração por todos vós, pela inteira Família passionista e por quantos encontrardes no vosso quotidiano ministério apostólico, a todos concedo de coração uma especial Bênção apostólica.

Castel Gandolfo, 21 de Agosto de 2000.





MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO PATRIACA DE VENEZA POR OCASIÃO DO


CENTENÁRIO DA COROAÇÃO DA IMAGEM DE


NOSSA SENHORA DO MONTE BÉRICO


: Ao venerado Irmão
Cardeal MARCO CÉ
292 Patriarca de Veneza

1. "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunicação do Espírito Santo sejam com todos vós" (
2Co 13,13)!

Com estas palavras do apóstolo Paulo dirijo-lhe a minha cordial saudação, Senhor Cardeal, bem como aos venerados Arcebispos e Bispos da Região eclesiástica véneta, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos fiéis, reunidos no Monte Bérico para celebrar o centenário da coroação de Maria, Mãe de misericórdia. A essa venerada Imagem, desde o início do século XV, não cessam de se dirigir confiantes multidões de devotos em busca de protecção e de paz.

No início da minha Visita Pastoral à cidade de Vicência, de 7 a 8 de Setembro de 1991, também eu tive a alegria de me dirigir em peregrinação ao Santuário do Monte Bérico, para venerar a Virgem Santa e lhe pedir que abençoasse as populações vénetas e se mostrasse Mãe terna e previdente daquele que sofre e anela à justiça e à paz. Conservo ainda viva e grata recordação dos intensos momentos de oração vividos aos seus pés, assim como da grande piedade popular que caracteriza a vida do Santuário.

2. Hoje, o meu pensamento dirige-se espontaneamente ao dia 25 de Agosto de 1900, quando o Cardeal Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, juntamente com os Bispos da Região conciliar subiu ao Monte Bérico para coroar, entre a exultação do povo fiel, a imagem de Maria, Mãe de misericórdia. Aquele que, três anos depois, a Providência chamaria a ser Sumo Pontífice com o nome de Pio X, e que hoje é venerado como Santo da Igreja universal, depositou com grande piedade e confiança aos pés da Mãe do Senhor as alegrias, as esperanças e as misérias do seu povo e entregou "como que em depósito a Coroa áurea ornada de pedras preciosas... à religiosa custódia dos Padres Servos de Maria".

Aquela solene celebração vinha selar e enriquecer, com uma nova demonstração de amor, a oração incessante que desde há séculos se eleva à Mãe do Senhor na Basílica do Monte Bérico, providencial farol de espiritualidade mariana, onde inúmeras pessoas iniciaram ou incrementaram a peregrinação interior que conduz o crente aos vértices espirituais da santidade. Neste tempo experimenta-se, como tive ocasião de dizer durante a minha peregrinação apostólica na terra vicentina, que a oração mariana é escola de comunhão eclesial, na escuta d'Aquela que ocupa na Igreja o lugar mais alto e mais próximo de Cristo. Maria é para todos nós modelo de caridade operosa, pois ao abraçar com toda a alma e sem qualquer peso de pecado a vontade salvífica de Deus, consagrou-se totalmente à pessoa e à obra do Filho, contribuindo, subordinada a Ele e juntamente com Ele, para o mistério da redenção (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIV/2, pág. 501).

3. À distância de um século desde a solene Coroação, as Igrejas da Região Eclesiástica Véneta renovam, por intermédio dos respectivos Pastores e na presença das Autoridades e de uma multidão de fiéis, a profissão de fé na divina Trindade, empenhando-se em viver, como momento significativo do Grande Jubileu do Ano 2000, esta hora de alegria serena à volta da Mãe de Deus. A Ela, "imagem e início da Igreja, à qual permanece unida de maneira vital pela sua comunhão com o Redentor" (Ibid.), eles confiam-se no início do terceiro milénio cristão, para que Deus conceda a toda a Comunidade cristã um renovado tempo do Espírito. Para Ela os crentes olham com reconhecimento pelo dom da fé límpida e profunda, que Ela continua a suscitar maternalmente entre os seus filhos, e com a consciência de que "não se pode... pensar em viver a verdadeira devoção a Nossa Senhora, se não se está em plena sintonia com a Igreja... à qual compete a tarefa de verificar a legitimidade das várias formas de religiosidade" (Ibid.).

A Maria, Mãe de misericórdia, que do Monte Bérico protege sob o seu manto todos os filhos nas provações pessoais e comunitárias, também nos tempos mais difíceis e conturbados da história, o povo véneto sempre pediu que Ela se mostrasse terna e amorosa, e d'Ela recebeu ajuda e protecção. A sua presença de paz, de modo particular nas hodiernas e mudadas situações de bem-estar social e económico, constitui para os crentes um convite a serem sempre mais dignos do seu amor, professando com coragem a fé em Cristo. Mãe da Vida, Maria exorta todo o fiel a acolher com admiração e reconhecimento o dom da vida, desde a concepção até ao ocaso natural. Além disso, Maria pede a cada um que seja compassivo para com todos os que batem às portas da própria casa, porque necessitados de perdão e de reconciliação, de apoio e de solidariedade fraterna.

4. Dirijamo-nos com confiança à Mãe da Misericórdia divina! Que a celebração do centenário da coroação de Nossa Senhora do Monte Bérico constitua a ocasião propícia para um mais generoso anúncio do Evangelho! A mensagem de Cristo, que em tempos distantes se irradiou de Aquileia, Ádria e Concórdia e das antigas cidades romanas de Pádua e Verona e jamais teve interrupção, possa agora conhecer um renovado impulso em toda a Comunidade do Véneto.

"Maria, Mãe do Senhor, que desse Santuário tens sido modelo e sustento de inúmeros sacerdotes, religiosos e leigos, que foram para os mais longínquos recantos do mundo a fim de anunciar e testemunhar a Verdade revelada, continua a suscitar generosos operadores da verdade e da caridade; estimula no coração de todos a pronta disponibilidade ao chamamento divino; dá aos jovens das Igrejas do Véneto um novo ardor missionário.

À tua protecção celestial confio os Pastores, as Comunidades religiosas, os missionários e os catequistas, assim como os doentes, os anciãos, os portadores de deficiência, os jovens, as famílias, de modo particular aquelas que estão a viver momentos de sofrimento e de dificuldade.
293 A Ti, Virgem Santa, invoco a graça de um profundo fervor apostólico e da plena comunhão para todos os fiéis das Igrejas do Véneto. A Ti, Nossa Senhora do Monte Bérico, recomendo a amada Nação italiana, para que viva na prosperidade e na paz e saiba ser instrumento de duradoura concórdia entre os povos.

Maria, Mãe de misericórdia, sê para nós sustento no caminho rumo à Pátria celeste!".

Ao desejar copiosos frutos espirituais à celebração centenária, de bom grado concedo-lhe, Senhor Cardeal, aos Arcebispos e Bispos do Véneto, ao clero, aos religiosos, às religiosas e aos leigos da Região uma especial Bênção Apostólica, confiando a sua eficácia à intercessão da celeste Mãe do Redentor.

Castel Gandolfo, 22 de Agosto de 2000.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II A VÁRIOS


GRUPOS DE PEREGRINOS


VINDOS A ROMA PARA O JUBILEU DO ANO SANTO


Sábado, 26 de Agosto de 2000


Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Ao virdes a Roma para a vossa peregrinação jubilar, quisestes incluir uma paragem aqui em Castel Gandolfo para saudar o Sucessor de Pedro. Obrigado pelo vosso afectuoso pensamento!

Agradeço-vos a visita e a cada um apresento as minhas cordiais boas-vindas.

Provindes de várias regiões; trazeis convosco o interior desejo de participar, de maneira mais intensa, nos especiais favores espirituais do Ano Santo e estais decididos a renovar a vossa adesão de fé ao Filho de Deus, cujo bimilenário do nascimento celebramos.

Saúdo, antes de tudo, D. Enrico Masseroni, Arcebispo de Vercelli, D. Tarcísio Bertone, Arcebispo Emérito, Secretário da congregação para a Doutrina da Fé, e D. Giulio Nicolini, Bispo de Cremona, que guiaram as peregrinações das respectivas Comunidades diocesanas. Saúdo todos os que quiseram acompanhá-los: os sacerdotes, os consagrados, os agentes pastorais, as famílias, os jovens e todos aqueles que, na acção pastoral quotidiana, compartilham a mesma paixão pelo Evangelho. Através de vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, envio um cordial pensamento às vossas respectivas dioceses.

Aos fiéis de Vercelli

294 2. Caríssimos fiéis de Vercelli, esta vossa visita aos lugares sagrados e às memórias dos apóstolos Pedro e Paulo reveste para vós uma dúplice finalidade. É intenso momento de oração, na vigília da retomada das actividades diocesanas nas suas várias articulações e, ao mesmo tempo, é significativo gesto com o qual quereis confirmar juntos, pastores e povo cristão, a vossa comum fidelidade a Cristo.

Ao retornardes a casa, espera-vos o "Setembro pastoral", mês de encontros e de programação para focalizar algumas pistas operativas apostólicas comuns. Tendes a peito, antes de tudo, a acção das paróquias, chamadas a ser verdadeiras e próprias fronteiras da evangelização, capazes de se adaptar às mudadas situações sociais. Com efeito, é através desta importante rede eclesial que passa, em primeiro lugar, a força vivificante do Evangelho, que pode renovar a existência de quantos estão disponíveis a acolhê-lo. É esta uma tarefa que requer coragem e prudência, santidade de vida e incansável dedicação ao anúncio da Boa Nova, mediante a catequese, a vida litúrgica e o testemunho da caridade.

Outra meta do vosso empenho é prosseguir no caminho que há três anos estais a percorrer, para uma acção pastoral privilegiada em prol das famílias, "enviadas" a evangelizar as outras famílias.

A recente e inesquecível Jornada Mundial da Juventude indica-vos, além disso, como é importante "proclamar Jesus Cristo ao mundo dos jovens". Faço votos por que o "laboratório da pastoral juvenil", ao qual destes vida, seja sempre mais instrumento através do qual as jovens gerações sejam ajudadas a aproximar-se da pessoa do Redentor, e possam encontrar n'Ele o sentido profundo do seu empenhamento e a fonte inexaurível da sua felicidade.

Paróquia, famílias, jovens: eis os privilegiados âmbitos pastorais que requerem da parte de todos singular atenção, generosa dedicação e constante paixão missionária.

Sustente-vos no vosso esforço a Virgem Maria, e interceda por vós Santo Eusébio, vosso padroeiro e intrépido defensor da ortodoxia da fé na Igreja do seu tempo.

Aos peregrinos de Cremona

3. O meu pensamento dirige-se depois a vós, caríssimos fiéis de Cremona e, com especial simpatia, aos sócios do Centro Desportivo Italiano, aqui vindos de bicicleta ou a pé. Esta vossa segunda peregrinação jubilar realiza-se no clima e em continuidade ideal com a XV Jornada Mundial da Juventude e do Jubileu dos Jovens, no qual estavam presentes milhares de jovens cremonenses.

Àquele comovedor evento, repleto de profunda intensidade espiritual, apliquei, na luz do Evangelho, a definição de "laboratório da fé". Também hoje desejaria aplicar esta imagemm ao nosso encontro. Sirva-vos ele de estímulo para fortalecer a fé e o testemunho cristão que nesta manhã, depois de terdes cruzado a Porta Santa, professastes com grande ardor junto do túmulo do apóstolo Pedro: fé em Cristo, Filho de Deus, e na sua Igreja, una, santa, católica e apostólica.

Esta experiência romana sustente o vosso testemunho ao Evangelho e vos sirva de guia no novo ano pastoral, que a diocese está para iniciar sobre o tema: "Redescobrir o dia do Senhor para que o Ano Santo não termine".

Estou contente ao saber que todas as vossas igrejas jubilares são dedicadas a Maria. Dentre elas recordo a esplêndida Catedral e o Santuário de Santa Maria da Fonte em Caravaggio, que visitei em 1992 e no qual deixei um pouco do coração.

295 A Maria, portanto, confio com particular afecto o caminho da Igreja que está em Cremona na passagem de século e de milénio, já marcada por graças copiosas.

Aos outros grupos de fiéis

4. Com iguais sentimentos de afecto, desejo dirigir-me agora aos fiéis das paróquias de São Lourenço em Manerbio (Bréscia), de São José Operário em Turim, de Santa Francisca Cabrini em Codogno (Lodi), assim como aos outros peregrinos individualmente e às famílias que quiseram unir-se ao nosso encontro.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, o intenso momento espiritual, que certamente tendes a graça de viver por ocasião do vosso Jubileu, vos sirva de estímulo a serdes fortes na fé, alegres na esperança, perseverantes na caridade. Sede sempre testemunhas de alegria evangélica e de solidariedade fraterna.

Caríssimos, Deus vos cumule do seu amor misericordioso. Acompanho-vos com a minha oração, enquanto de coração concedo uma especial Bênção a vós, aos vossos entes queridos e às vossas respectivas comunidades.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE FIÉIS DA


DIOCESE DE ALBANO (ITÁLIA)


Domingo 27 de Agosto de 2000


1. É-me grato acolher-vos, caríssimos Irmãos e Irmãs da Diocese de Albano, nesta Audiência especial. Dirijo a todos vós, autoridades, sacerdotes, seminaristas, diáconos permanentes, religiosos, religiosas e leigos, a minha afectuosa saudação!

Agradeço ao Bispo, D. Agostino Vallini, o caloroso discurso de homenagem que me dirigiu.

Juntamente com ele, agradeço aos vossos dois representantes, que interpretaram os vossos sentimentos. Desejo apresentar também uma particular saudação ao Senhor Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, assim como ao Bispo Auxiliar, D. Paolo Gillet. Saúdo cordialmente o nosso querido hóspede D. George Biguzzi, Bispo de Makeni, em Serra Leoa.

Estou grato a todos vós, povo da antiga Igreja suburbicária de Albano, que viestes em tão grande número a este encontro. Muitas vezes pude experimentar a vossa devoção e o vosso afecto, sobretudo por ocasião da minha permanência em Castel Gandolfo. São sentimentos que têm raízes antigas: a via Ápia, que atravessa o vosso território, foi percorrida pelos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a fé por eles pregada foi confessada com o sangue dos vossos mártires, os Santos Padroeiros Pancrácio, Senator e Companheiros. Da linfa destas raízes apostólicas e do sangue dos mártires desenvolveu-se a fé cristã genuína, que chegou às gerações actuais através de testemunhos fúlgidos, como o martírio de Santa Maria Goretti.

2. Consenti-me retornar com o pensamento ao encontro que tive convosco em 1985, em preparação para o Sínodo diocesano. Naquela circunstância, foi-me apresentado o caminho pastoral que a vossa Comunidade eclesial se preparava para percorrer, a fim de adequar a acção apostólica às mudadas exigências dos tempos. Recordo que então vos convidei a "caminhar juntos". O Sínodo assumiu aquelas palavras como lema próprio. Trata-se de um compromisso que também hoje é muito actual.

296 A Igreja constitui uma comunidade de irmãos e irmãs que vivem da força vivificante do Espírito de Cristo ressuscitado e exprimem a unidade dos corações não só na comunhão espiritual, mas também na co-responsabilidade pastoral. Construir a Igreja quer dizer caminhar juntos pelas vias da santidade e do serviço apostólico, mostrando o rosto de uma comunidade hierarquicamente ordenada à volta do próprio Pastor. Mesmo sem nada tirar à riqueza e à variedade das experiências pastorais particulares, "caminhar juntos" significa não ceder à tentação da fragmentação e da dispersão, fruto de um arbítrio apostólico incontrolado.

Sobretudo vós, caríssimos Sacerdotes, que formais um único presbitério, sede no meio do vosso povo testemunhas de unidade. Ser fiel a Cristo recordai-o sempre significa ser fiel à Igreja. Exorto-vos, portanto, a cultivar a comunhão presbiteral à volta do Bispo, a quem compete autenticar o caminho eclesial e a acção pastoral.

3. Da celebração do vosso Sínodo diocesano nasceu um programa pastoral centrado em alguns objectivos específicos, entre os quais emergem a nova evangelização, a pastoral familiar, a atenção e o cuidado dos jovens. Que vasto campo de acção missionária eles abrem diante de vós, caríssimos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos!

Antes de tudo a evangelização! Ela deve tornar-se o vosso compromisso prioritário e permanente. Diante dos desafios do secularismo e da descristianização é necessário reagir com coragem e, contemporaneamente, com capacidade inovativa, lucidez de análise e confiança na força do Espírito Santo. Já por ocasião da Assembleia eclesial de Palermo, eu observava: "O nosso tempo não é da simples conservação do existente, mas da missão. É o tempo de propor de novo e, antes de tudo, Jesus Cristo, o centro do Evangelho" (L'Osservatore Romano, ed. port. de 2/12/1995, pág. 8, n. 2). Por isso, é muito oportuna a opção efectuada pelo vosso Sínodo diocesano, para que a ninguém falte o alimento da evangelização.

Depois, quanto à instituição familiar, sabemos bem que ela, nos tempos actuais, foi investida por profundas e rápidas transformações induzidas pela sociedade e pela cultura. O matrimónio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade. Justamente, por isso, o vosso Sínodo dedicou a este tema uma ampla reflexão, assumindo além disso o compromisso de um projecto de pastoral familiar. Para o cumprimento deste empenho, desejo encorajar a comunidade diocesana, com os votos de que toda a família cristã se torne sujeito de pastoral activa e fecunda.

4. O Sínodo dedicou depois o seu olhar solícito ao mundo dos jovens. As urgências pastorais certamente são múltiplas, mas a concernente à juventude é a mais evidente e premente, porque nos jovens avança o futuro e se reflecte o rosto da Igreja e da sociedade do novo milénio. Sem dúvida, o mundo juvenil apresenta problemas, mas contém também em si um imenso potencial de bem.

A Jornada Mundial da Juventude, que celebrámos há poucos dias, foi uma esplêndida confirmação de quanto é justo confiar nas novas gerações e oferecer-lhes oportunidades positivas, para que encontrem Cristo e O sigam com generosidade. Investi, portanto, válidas energias pastorais a favor da juventude, promovendo lugares de agregação onde os jovens, depois de terem recebido a primeira iniciação cristã, possam desenvolver num alegre clima comunitário os valores autênticos da vida humana e cristã.

Cuidai também dos mais jovens que não frequentam a comunidade eclesial e se reúnem nas ruas e praças, expostos a riscos e perigos. A Igreja não pode ignorar ou subestimar este crescente fenómeno juvenil! É preciso que agentes pastorais particularmente preparados se aproximem deles, lhes abram horizontes que estimulem o seu interesse e a sua natural generosidade e gradualmente os acompanhem no acolhimento da pessoa de Jesus Cristo.

5. Também na vossa Diocese um problema se tornou especialmenmte evidente: o das vocações sacerdotais e religiosas. Compete antes de tudo aos presbíteros, em particular aos párocos, anunciar com paixão o Evangelho da chamada, discernindo e cuidando dos germes de vocação ao sacerdócio e à vida consagrada, com a palavra e o testemunho da vida. A sua acção deverá ser coordenada e sustentada a nível diocesano com iniciativas oportunas e, sobretudo, deverá ser acompanhada pela oração insistente dos fiéis.

Quero, por fim, exprimir a minha viva satisfação pela sensibilidade e o empenho que a Diocese de Albano demonstra no campo do acolhimento de muitos irmãos e irmãs, sobretudo emigrados, que vivem privações e dificuldades de todo o tipo, longe da sua pátria e dos afectos dos seus entes queridos. Encorajo-vos a perseverar nesta obra de misericórdia, recordando-vos as palavras do Salvador: "Era estrangeiro, e recebestes-Me na vossa casa" (
Mt 25,35).

Como vedes, há muitas coisas a fazer. Confio os vossos bons propósitos à intercessão da Virgem Santíssima, à qual sei que é muito intensa a vossa devoção. Maria acompanhe com a sua protecção o vosso "caminhar juntos" com o vosso novo Pastor.

297 Com estes bons votos concedo a minha afectuosa Bênção a Sua Excelência, que amanhã festeja o onomástico Santo Agostinho e a todos vós.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AO


31° ESQUADRÃO DA AERONÁUTICA MILITAR ITALIANA


Castel Gandolfo, 28 de Agosto de 2000



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Aproveito de bom grado a ocasião deste encontro anual para exprimir o meu reconhecimento a todos vós, gentis Membros do 31º Esquadrão da Aeronáutica Militar Italiana que, com competência e generosidade, me acompanhais onde quer que o meu ministério pastoral me leve.

Saúdo-vos com grande alegria. A vossa presença recorda-me as numerosas transferências de helicóptero ou de avião, realizadas graças à vossa gentil disponibilidade. Recordo uma das mais recentes, a que me levou a Tor Vergata e me consentiu admirar do alto o inesquecível espectáculo dos jovens que participavam na conclusão do XV Dia Mundial da Juventude.

Também conheço bem a responsabilidade e a generosidade que animam o serviço que desempenhais com grande preparação técnica e profissional. Faço sentidos votos de que os valores humanos e cristãos continuem a ser a fonte inspiradora de cada uma das vossas actividades e peço ao Senhor que jamais falte entre vós a solidariedade e a propensão para objectivos sempre mais nobres.

Por tudo isto, seguindo uma consolidada tradição, sinto-me feliz em conferir, nesta ocasião, especiais condecorações e honorificências pontifícias a alguns de vós. Esta é uma forma sensível para demonstrar a constante gratidão, minha e da Sé Apostólica, pela exemplar disponibilidade com que cooperais no ministério apostólico do Sucessor de Pedro. É também um sinal de afectuoso apreço por todos os elementos do 31º Esquadrão.

2. A Comunidade cristã, inundada pela graça do Ano Santo, está chamada a viver com fervor o extraordinário dom jubilar, a fim de cooperar na consolidação da nova civilização do Amor. Ela tem o olhar fixo em Cristo para O encontrar pessoalmente, consciente de que se deve empenhar para realizar todos os dias gestos de perdão e de amor fraterno.

Este convite destina-se a todos e formulo votos por que cada um de vós possa acceitá-lo com adesão convicta na vida pessoal, na família e no trabalho.

Nossa Senhora de Loreto, Padroeira da Aeronáutica Militar, vele sobre a vossa difícil actividade e vos acompanhe no céu e na terra; vigie sobre os vossos propósitos e faça com que vos mantenhais todos os dias apaixonados servidores do bem comum.

Com estes sentimentos, enquanto invoco sobre vós e sobre as vossas famílias a protecção divina, concedo-vos com afecto uma especial Bênção Apostólica.





JOÃO PAULO II

DISCURSO AOS PARTICIPANTES NO

VII CONGRESSO MUNDIAL DOS INSTITUTOS SECULARES


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Discursos João Paulo II 2000 289