Discursos João Paulo II 2000 319

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DA "FAMÍLIA JESUS-MARIA"


Sexta-feira, 15 de Setembro de 2000



320 Caros Irmãos e Irmãs

Estou particularmente feliz por vos receber nesta manhã, a vós religiosos e leigos da Família Jesus-Maria, vindos de numerosos países para celebrar a vossa peregrinação jubilar junto do túmulo dos Apóstolos.

A caminhada de fé que quisestes fazer exprime bem o objectivo da vossa família espiritual, que consiste em "conhecer melhor Jesus Cristo e trabalhar na Igreja para fazer conhecer a Deus e a Sua bondade misericordiosa". Com efeito, neste ano em que celebramos o segundo milénio do nascimento de Jesus, toda a Igreja é convidada a erguer o seu olhar de uma maneira nova para o Senhor Jesus, que revela aos homens o rosto de Deus Pai, "misericordioso e compassivo" e que, pelo envio do Espírito Santo, torna manifesto o mistério de amor da Trindade (cf. Bula Incarnationis mysterium, 3).

Encorajo-vos vivamente a renovar a generosidade do dom de vós mesmos a Cristo, acolhendo o dom que Ele vos fez de Si mesmo e permanecendo em íntima união com Ele. Na vossa vida de discípulos de Cristo, como nos vossos compromissos apostólicos, mantende viva em vós uma verdadeira consciência eclesial. Religiosas da Congregação de Jesus-Maria e membros associados leigos, pela vossa frutuosa colaboração no serviço da missão salvadora da Igreja, sede sinais, cada vez mais eficazes, da presença de Cristo Salvador entre os homens, Seus irmãos, de modo especial entre os mais pequenos. Que nenhum deles possa sentir-se excluído do amor que o Pai propõe a todos os Seus filhos!

Seguindo Santa Claudina Thévenet, sede junto de todos e particularmente dos jovens e das crianças, testemunhas ardentes do perdão e da misericórdia, lançando sobre eles um olhar que vos faça descobrir em cada um deles uma promessa, uma espera, uma manifestação da presença divina (cf. Homilia para a canonização de Claudina Thévenet, 21 de Março de 1993). Como a vossa fundadora e inspiradora, hauri a energia missionária na fonte do Coração de Cristo e do Coração de Sua Mãe, a fim de que "a caridade seja a menina dos vossos olhos" (Santa Claudina Thévenet).

Confio-vos à intercessão amorosa da Virgem Imaculada, a vós que estais aqui presentes, assim como ao conjunto de religiosas e leigos da Família Jesus-Maria e de todo o coração concedo a cada um e a cada uma de vós uma particular Bênção Apostólica.

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II

A VÁRIOS GRUPOS DE PEREGRINOS

VINDOS A ROMA POR OCASIÃO DO ANO SANTO


Sábado, 16 de Setembro de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Tenho a alegria de me encontrar convosco nesta Audiência especial, que se insere oportunamente no programa da vossa peregrinação jubilar. Apresento-vos as minhas cordiais boas-vindas.

Vós provindes de diversas localidades e chegastes a Roma no dia em que a Igreja recorda os Santos mártires Cornélio, Papa, e Cipriano, Bispo. A vossa presença na Cidade eterna, onde numerosos fiéis, juntamente com os Apóstolos Pedro e Paulo, deram a Cristo o seu corajoso testemunho, oferece-vos a possibilidade de reflectir sobre o vosso empenho cristão e sobre a exigência de coerente testemunho que dele promana.

Os meus votos cordiais são por que possais, a exemplo destas corajosas testemunhas da fé e invocando a sua protecção, revigorar-vos nos vossos propósitos de vida cristã, de maneira a prosseguirdes com renovado entusiasmo no caminho da santidade, fiéis ao Evangelho e ao ensinamento da Igreja.

321 Aos peregrinos de duas dioceses italianas

2. Saúdo com afecto os peregrinos vindos das dioceses de Sorrento-Castellamare de Stábia e de Castellaneta, acompanhados dos respectivos Bispos, D. Felice Cece e D. Martino Scarafile, aos quais saúdo com afecto fraterno.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, desejo-vos que a passagem pela Porta Santa vos encontre com as disposições interiores necessárias para receber a riqueza que Deus deseja derramar nos espíritos, por ocasião das celebrações jubilares. Isto constitui para vós e para as vossas comunidades uma singular ocasião de crescimento espiritual, que não deve ser de modo algum desperdiçada.

O Jubileu configura-se como um Ano de graça e de misericórdia para todos os crentes, que são chamados a exprimir reconhecimento e louvor a Deus pelos seus dons. Ele é um tempo propício também para uma mais consciente prática dos Sacramentos, que são meios privilegiados de graça queridos por Cristo para a santificação. A Eucaristia, em particular, reúne em si a súmula dos mistérios da Redenção: nela o Pai continua a doar-nos a pessoa divina do Filho encarnado para a salvação dos homens.

A Eucaristia deve, por isso, ocupar na vida eclesial um lugar de primeiro plano, porque dela a Igreja e todo o crente haurem a força indispensável para anunciar e testemunhar a todos a mensagem do Evangelho. A Eucaristia, além disso, sendo a celebração da Páscoa do Senhor, é em si mesma um evento missionário no qual se realiza aquele nexo inseparável entre comunhão e missão, que faz da Igreja o sacramento da unidade de todo o género humano.

Da celebração da Eucaristia as vossas comunidades diocesanas haurem a convicção interior e a força espiritual para crescer na caridade e abrir-se a outras Igrejas mais pobres e necessitadas de apoio, no campo da evangelização e da cooperação missionária.

3. Dirijo agora uma saudação cordial aos outros grupos e a cada um dos peregrinos presentes, de modo especial aos fiéis vindos de várias paróquias. Sejam as vossas comunidades lugares de encontro com Cristo, na oração e na fraternidade. Isto vos consentirá acolher todos os que vivem um pouco à margem da Igreja, animando-os a encontrar, de novo, nela a família dos filhos de Deus.

Às Religiosas Missionárias da Imaculada

Acolho com alegria as Religiosas Missionárias da Imaculada, que estão a celebrar nestes dias o seu Capítulo Geral, no qual desejam despertar no Instituto uma consciência mais viva do carisma originário: a paixão de anunciar o Evangelho às pessoas. Caríssimas, abri na oração os vossos corações à voz do Espírito. Pedi-Lhe que suscite na Congregação novo impulso para o Reino de Deus. O terceiro milénio espera pessoas inflamadas pelo amor de Cristo, que saibam levar com eficácia incisiva o anúncio da salvação às novas gerações. Oro por vós a fim de que as decisões, às quais chegareis durante o Capítulo, reflictam plenamente a vontade do Senhor.

À "Sociedade Católica de Seguros" de Verona

É-me grato também dar as boas-vindas ao numeroso grupo de Administradores e Colaboradores da "Sociedade Católica de Seguros" de Verona, vindos aqui para reafirmar a sua fé e as raízes de onde haure inspiração a actividade da sua estimada companhia. Ter o nome de "Católica" é, de facto, motivo de grande responsabilidade. Encorajo, portanto, cada um a permanecer sempre coerente com os valores que a Igreja professa, enquanto exprimo apreço por tudo o que o Instituto faz para incrementar a cooperação e a solidariedade social.

322 Ao "Instituto Paulo VI" de Bréscia

Dirijo agora uma especial palavra de saudação aos representantes do "Instituto Paulo VI" de Bréscia e das Edições Studium de Roma, aos quais agradeço a homenagem da recente publicação sobre o Papa Paulo VI. Além disso, saúdo as várias Associações e os grupos presentes, em particular os Alpinos que se aposentam, vindos aqui em grande número, e os membros do "Gruppo Camunni" do Eremitério de Bienno, da dioceses de Bréscia. A experiência jubilar seja para todos estímulo eficaz de caridade, justiça e paz, a fim de renovar em Cristo todos os ambientes de vida.

Aos participantes no II Congresso Internacional do Fórum Vascular Central Europeu

4. Tenho o prazer de saudar os participantes no II Congresso Internacional do Fórum Vascular Central Europeu, reunidos em Roma para debater sobre as diferentes patologias vasculares e as novas técnicas para as tratar. Que estas decisões sirvam para fortalecer a determinação internacional de pôr o conhecimento e a experiência médica ao serviço de todas as pessoas, sem distinção, e para utilizar os progressos na ciência médica a fim de tutelar e defender a vida humana em todas as fases da sua existência! Obrigado pela vossa presença e o Senhor vos abençoe, a vós e às vossas famílias, com a sua graça e a sua paz.

Aos peregrinos da Igreja greco-católica da Ucrânia

5. Dirijo um pensamento particular ao grupo de Padres Basilianos, Irmãs Servas de Maria Imaculada e leigos da Igreja greco-católica ucraniana, provenientes da Arquidiocese de Lviv. Caríssimos, desejo-vos que o dom da peregrinação jubilar e a experiência da visita aos túmulos dos Apóstolos sirvam para fortalecer em vós a adesão ao Evangelho e a comunhão na caridade com a única Igreja de Cristo.

6. Ao invocar sobre todos os presentes a intercessão de Maria, Mãe do Redentor, neste dia de sábado particularmente a Ela dedicado, de coração concedo a vós e às vossas famílias a Bênção Apostólica.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DE ISRAEL


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS


CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 18 de Setembro de 2000



Senhor Embaixador

É-me deveras grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado de Israel junto da Santa Sé. Neste instante, o meu pensamento é de profunda e duradoura gratidão: a Deus, que neste ano do grande Jubileu orientou os meus passos rumo à Terra Santa e aos seus povos; às autoridades civis e religiosas, pela hospitalidade e atenção que me dedicaram durante os intensos dias da minha visita em Março.

A Terra Santa ocupará sempre um lugar fulcral na mente e no coração dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Com a sua comemoração do nascimento de Jesus, o ano 2000 não podia deixar de chamar a atenção de milhões de cristãos em todos os quadrantes da terra para os lugares onde Jesus viveu, morreu e ressuscitou. A experiência viva da minha peregrinação aos Lugares Sagrados permanece no meu espírito como uma extraordinária graça de Deus e uma espécie de testemunho que eu gostaria de deixar, de forma especial às gerações mais jovens, como uma exortação a edificar uma nova era de relações entre cristãos e judeus.

323 Faço votos sobretudo por que não se esqueça a natureza religiosa desta visita. O meu objectivo primordial era ir de um Lugar Sagrado para outro em espírito de oração, consciente de que isto "nos ajuda não só a viver a nossa vida como um caminho, mas apresenta aos nossos olhos a ideia de um Deus que nos precedeu e precede, que se pôs Ele mesmo a caminho pelas estradas do homem, um Deus que não nos olha de cima, mas que se fez nosso companheiro de viagem" (Carta sobre a Peregrinação aos Lugares relacionados com a História da Salvação, 29 de Junho de 1999, n. 10).

A Igreja está plenamente consciente de que "se alimenta da raiz da boa oliveira, na qual foram enxertados os ramos da oliveira silvestre, que são os pagãos" (Nostra aetate,
NAE 4). O património espiritual comum a cristãos e judeus é tão imenso e vital para a saúde religiosa e moral da família humana, que deveríamos despender todos os esforços para fazer com que o diálogo progrida e se amplie, especialmente no que se refere a matérias bíblicas, teológicas e éticas. E a todos os níveis é necessário fazer uma nova, mútua e sincera tentativa de ajudar os cristãos e os judeus a conhecerem, respeitarem e estimarem mais plenamente as crenças e tradições uns dos outros. Este é o modo mais certo de superar os preconceitos do passado e de levantar uma barreira contra as formas de anti-semitismo, racismo e xenofobia que actualmente estão a reaparecer em determinadas regiões. Tanto hoje como ontem, não são a fé e a prática religiosa genuínas que dão origem à tragédia da discriminação e da perseguição, mas a perda da fé e a manifestação de uma concepção egoísta e materialista, despojada dos valores autênticos, uma cultura do vazio. Por conseguinte, Senhor Embaixador, as suas palavras sobre a necessidade de uma guia moral arrojada perante alguns dos desafios mais assustadores que se apresentam à humanidade neste novo milénio encontram um eco imediato nas convicções da Santa Sé.

Uma contínua fonte de tristeza é o carácter evasivo da paz definitiva no Médio Oriente. Todos nós nos alegramos cada vez que se dá um passo adiante nas complexas negociações que se tornaram uma característica essencial das relações entre Israel e os seus vizinhos, especialmente a Autoridade Palestina. A continuação do diálogo e da negociação constitui por si só um progresso significativo. Seria bom reconhecer quão substancial é o desenvolvimento alcançado até agora, a fim de que as pessoas interessadas não se sintam desencorajadas pela dimensão da tarefa que ainda temos à nossa frente. Por vezes, os obstáculos à paz são tão grandes e numerosos que humanamente parece impossível ultrapassá-los. Todavia, aquilo que era impensável até mesmo há poucos anos, agora é uma realidade ou pelo menos uma questão de debate aberto, e isto deve convencer todas as pessoas interessadas de que uma solução é possível. Isto há-de encorajar cada um a prosseguir o seu caminho com esperança e perseverança.

No que diz respeito à delicada questão de Jerusalém, é importante que o caminho a empreender seja a senda do diálogo e do acordo, e não a da força e da imposição. E a especial solicitude da Santa Sé é de que o singular carácter da Cidade Santa seja preservado por um estatuto particular, internacionalmente salvaguardado. A realidade histórica e actual das relações inter-religiosas na Terra Santa é tal que não se pode pensar em uma paz justa e duradoura sem qualquer forma de assistência por parte da comunidade internacional. A finalidade deste apoio internacional seria a conservação do património cultural e religioso da Cidade Santa, um património que pertence aos judeus, cristãos e muçulmanos do mundo inteiro, bem como a toda a comunidade internacional.

Com efeito, os Lugares Sagrados não constituem unicamente memoriais do passado, mas são e devem continuar a ser a "coluna vertebral" de comunidades de fiéis vibrantes, vivas e desenvolvidas, livres na prática dos seus direitos e deveres, em harmonia umas com as outras. O que está em jogo não é apenas a preservação e o livre acesso aos Lugares Sagrados das três religiões, mas inclusive o exercício aberto dos direitos religiosos e civis que pertencem aos membros, lugares e actividades das várias comunidades. O resultado final há-de ser como disse durante a minha visita uma Jerusalém e uma Terra Santa em que as diversas comunidades religiosas consigam viver e trabalhar juntas, com amizade e em harmonia, uma Jerusalém que seja verdadeiramente a Cidade da Paz para todos os povos. Então, todos nós repetiremos as palavras do Profeta: "Vinde! Subamos à Montanha de Javé... para que Ele nos mostre os seus caminhos e possamos caminhar nas suas veredas" (Is 2,3).

Senhor Embaixador, rezo pela sua pessoa no momento em que dá início à sua missão de representante diplomático de Israel junto da Santa Sé, e estou persuadido de que fará o que lhe for possível para incrementar a compreensão e a amizade entre nós, no espírito do Acordo fundamental e de outros documentos destinados a garantir a sua aplicação. De igual modo, os vários departamentos da Cúria Romana hão-de cooperar de bom grado com Vossa Excelência no cumprimento dos seus exímios deveres. A felicidade e o amor o acompanhem todos os dias da sua vida (cf. Sl Ps 23 [22], 6).





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


À COMISSÃO MISTA INTERNACIONAL DE


DIÁLOGO ENTRE A "ALIANÇA MUNDIAL DAS


IGREJAS REFORMADAS" E A IGREJA CATÓLICA


Segunda-feira, 18 de Setembro de 2000



Queridos amigos!

Sinto-me muito feliz por ter a oportunidade de vos saudar durante estes dias do vosso encontro aqui em Roma. Estais agora na terceira fase do Diálogo Internacional entre a Aliança Mundial das Igrejas Reformadas e a Igreja Católica, que se iniciou pouco depois do Concílio Vaticano II e que já deu resultados significativos.

No âmbito do movimento ecuménico, o diálogo teológico é a melhor modalidade para enfrentar juntos as questões sobre as quais os cristãos estiveram divididos e para edificar a unidade à qual Cristo chama os seus discípulos (cf. Jo Jn 17,21). Neste diálogo esclarecemos as nossas respectivas posições e examinamos os motivos das nossas diferenças. O nosso diálogo torna-se então um exame de consciência, uma chamada à conversão, na qual as duas partes examinam perante Deus a própria responsabilidade em fazer o possível por esquecer os conflitos do passado. Então, o espírito inspira-nos o desejo de confessar juntos que há "um só corpo e um só Espírito... um só Senhor, uma só fé, um só baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos" (Ep 4,4-6) e sentimos isto um dever, algo que deve ser feito para que "o mundo creia" (Jn 17,21). Por este motivo o empenho da Igreja católica no diálogo ecuménico é irrevogável.

Nesta terceira fase, o tema do vosso diálogo é "Igreja e Reino de Deus". Na história recente, assistimos à agonia causada por ideologias que procuraram destronar Deus e o seu Reino. Como é importante, no início do novo milénio, para todos os cristãos, durante tanto tempo separados uns dos outros, sentirem-se profundamente desafiados pela exortação do Senhor: "O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai na Boa Notícia" (Mc 1,15). O vosso diálogo encarne o espírito de amor fraterno e de estima necessário para acolher estas palavras do nosso Salvador.

324 "Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo" (1Co 1,3).





SAUDAÇÃO DE JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO DA ARQUIDIOCESE DE COLÓNIA


Segunda-feira, 18 de Setembro de 2000


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Queridos Irmãos e Irmãs!

1. Depois de terdes celebrado juntamente com o vosso Cardeal Arcebispo a Eucaristia junto do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, na Basílica de São Pedro, a pedra sobre a qual está edificada a Igreja de Deus, desejastes encontrar o Sucessor de Pedro. Sede pois bem-vindos! Saúdo em particular o Arcebispo de Colónia, Cardeal Joachim Meisner, que vos acompanhou na vossa peregrinação a Roma juntamente com um grupo de Bispos.

2. Hoje, antes da Santa Missa, entrastes muito conscientes na Basílica de São Pedro. Atravessastes a Porta Santa que durante o Jubileu do Ano 2000 permanece aberta. A Porta Santa é a imagem de Cristo, que disse de Si: "Eu sou a porta". A vossa festiva procissão deveria ser não apenas um rito exterior, mas também o sinal de uma opção interior. De facto, Cristo é exigente, chama os homens a decidir. Com razão, Ele prometeu aos seus: "Se alguém entrar por Mim, salvar-se-á; entrará e sairá e achará pastagens" (Jn 10 Jn 9).

Hoje, as pessoas encontram-se diante de numerosas portas abertas. Precisamente para os jovens é difícil escolher, entre tantas portas, aquela que confere à vida sentido e veracidade. Não é fácil rejeitar alguns prazeres exteriores e imergir-se na alegria interior, profunda e silenciosa. De igual modo a porta da vida é, sem dúvida, exigente. Quem quiser atravessá-la, deve fazer-se pequenino de maneira que Cristo possa crescer nele. Deve deixar para trás de si aquilo que é supérfluo e marginal, a fim de que Cristo possa ganhar espaço.

3. Alegro-me por que ao atravessardes a Porta Santa quisestes demonstrar: estamos decididos a cruzar o limiar do terceiro milénio com Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, convido-vos a orar precisamente pelos jovens que, nestes anos tão importantes para eles, devem tomar decisões para a vida. O Espírito Santo dá-lhes a criatividade, a força e a coragem para escolherem a via através da porta estreita, apesar das dificuldades (cf. Mt Mt 10,10).

A experiência desta peregrinação vos revigore pessoalmente, de maneira a poderdes anunciar o vosso amor a partir do horizonte que Cristo abriu para nós homens, há dois mil anos: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jn 10,10).

A vós e a toda a vossa família diocesana concedo de coração a minha Bênção Apostólica.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II À


CONGREGAÇÃO DOS SAGRADOS CORAÇÕES


DE JESUS E DE MARIA E DA ADORAÇÃO PERPÉTUA


DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO


325

Quinta-feira, 21 de Setembro de 2000

Queridos Irmãos e Irmãs

1. "A graça do Senhor Jesus esteja convosco! Amo-vos a todos em Jesus Cristo" (1Co 16,23-24).

Neste ano do grande Jubileu, quão rica é a sua graça! E como se repercute abundantemente sobre nós o amor da Santíssima Trindade! Na alegria do Jubileu, estou feliz por vos saudar no momento em que visitais o Sucessor de Pedro, enquanto estais a celebrar o Capítulo geral da Congregação dos Sagrados Corações de Jeusus e de Maria e da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento.

Neste ano bimilenário do nascimento de nosso Senhor e Salvador, a Igreja inteira entoa cânticos de louvor a Deus. Mas para vós, este hino de acção de graças ressoa com uma particular nota de alegria, pois celebrais o segundo centenário da fundação da vossa Congregação, nascida na solenidade de Natal de 1800. Juntamente convosco, dou glória a Deus pelos frutos de santidade e de apostolado fecundo que estes dois séculos viram amadurecer. É com emoção que evoco a figura do vosso bondoso Padre Pierre Coudrin, ordenado sacerdote no meio das provações mais árduas e das violências geradas pela Revolução Francesa e obrigado a esconder-se, assim como o exemplo da vossa Madre Henriette Aymer de la Chevalerie, que padeceu a prisão por ter protegido alguns sacerdotes. Contudo, no meio mesmo da obscuridade que os circundava, eles foram iluminados com a luz de Cristo e viveram uma experiência do amor da Virgem Maria a ponto de se sentirem impelidos a fundar a vossa Congregação. Enquanto a Revolução se desencadeava com furor à sua volta, os vossos Fundadores compreenderam que a verdadeira liberdade não se encontra senão no Coração transpassado de Cristo (cf. Jo Jn 19,34) e que aqueles que, como Maria, participavam na sua Paixão e tinham a própria alma atravessada por uma espada (cf. Lc Lc 2,35) podiam alcançá-la. Através da sua vida, transcorrida em tempos difíceis, eles proclamaram a verdade da Cruz de Jesus Cristo.

2. Depois da sua fundação na França, a vossa Congregação alargou-se de lés a lés no mundo, em obediência ao mandato do Senhor: "Portanto, ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19). A primeira expansão realizou-se na Europa, mas sucessivamente passou à região do Pacífico, à América Latina, à Ásia e à África, até aos dias de hoje, em que vos encontrais presentes em mais de quarenta países. Este crescimento constitui um sinal da força de Deus que tem actuado em vós; porém, um signo preclaro deste alento divino é também o testemunho oferecido por missionários como o Beato Damião de Molokai e o Padre Eustáquio Van Lieshout para citar apenas os mais conhecidos em quem podemos ver o rosto de Cristo crucificado, brilhando com a glória daqueles que se sacrificaram pela vida do próximo. Quantos santos e mártires destes à Igreja! Também hoje vos resulta familiar e próxima aquela voz que diz aos paralíticos do mundo: "Eu te ordeno: levanta-te e anda!". Efectivamente, com estas palavras evangélicas desejastes ilustrar as intenções do Capítulo geral.

3. Dilectos Irmãos e Irmãs, hoje e sempre, o que a Igreja é chamada a proclamar perante o mundo é o poder da Cruz. Trata-se de um poder que não tem necessidade da "sabedoria da linguagem" (1Co 1,17), nem de "filosofias enganosas e vãs" (Col 2,8), e muito menos de ideologias ilusórias.

O que se exige de vós é que, como fez o próprio Cristo, deixeis que o vosso coração se abra para se converter em um reflexo da nascente de água viva (cf. Jo Jn 4,10), a única que pode saciar a sede do coração humano. Assim, é preciso que cada um de vós imite o Apóstolo no seu desejo de participar nos sofrimentos de Cristo, "até se tornar semelhante a Ele na sua morte", para que assim os outros O conheçam a Ele e ao "poder da sua ressurreição" (Ph 3,10).

Por isso, deveis percorrer constantemente o caminho da contemplação, considerando que a vossa missão exige uma união íntima com o Senhor. Antes de vos enviar, Cristo chama-vos para junto de si; e se não O procurais dia após dia na oração, faltar-vos-á a força para continuar a ser missionários repletos do poder do Espírito Santo. Somente nas profundidades da contemplação, o Espírito Santo pode mudar os vossos corações; e só se o próprio coração se transformar será possível cumprir a grande tarefa de ajudar os outros, para que o Espírito os guie "para toda a verdade" (Jn 16,13), que é a essência da missão cristã. As estruturas sociais nunca poderão aperfeiçoar-se e elevar-se, sem uma genuína conversão dos corações. Ambos os aspectos devem caminhar a par a passo, pois se se modificam as estruturas sem se converterem os corações, as mudanças estruturais poderão dissimular o mal, mas não o conseguirão vencer. Este é o motivo pelo qual a missão sem a contemplação do Crucificado está condenada à frustração, como já muito oportunamente admoestavam os vossos Fundadores. Esta é também a razão por que eles insistiam de modo especial no compromisso da adoração do mistério eucarístico, dado que é no Sacramento do Altar que a Igreja contempla de forma inimitável o mistério do Calvário, o sacrifício do qual flui toda a graça da evangelização. Na contemplação do mistério eucarístico aprendeis a imitar o Único que se faz pão partido e sangue derramado para a salvação do mundo.

4. Uma característica da vossa Fundação é o facto de que homens e mulheres formam uma só Congregação, aprovada pelo Papa Pio VII em 1817 e unida por um carisma, uma espiritualidade e uma missão. Esta unidade nem sempre tem sido fácil, e é importante que os governos de ambos os ramos trabalhem com vista a um testemunho cada vez mais amadurecido da união evangélica, da solidariedade e da interdependência entre todos os membros da Congregação. No seio de cada um dos ramos autónomos, as vossas comunidades são chamadas a florescer no revigoramento do espírito da família, daquela fraternidade que leva cada um a carregar os fardos de todos.

Estimados Irmãos e Irmãs, rezo ardentemente para que este Capítulo geral vos ofereça directrizes sábias para um testemunho cada vez mais íntegro da vossa consagração religiosa, de tal maneira que, com alegria e energia ainda mais intensas, possais bradar ao mundo que vive "na sombra da morte" (Lc 1,79): "Levanta-te, toma a tua cama e anda! Caminha connosco no poder d'Aquele que é Luz "para iluminar os que vivem nas trevas" e "para guiar os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1,79)"! A Virgem Maria, Mãe das Dores e Mãe de todas as nossas alegrias, vos conduza sempre ao longo dos caminhos da contemplação, de forma que o vosso apostolado no mundo inteiro possa verdadeiramente testemunhar o espírito da Igreja, da sua abertura e do seu interesse por todos os povos e indivíduos, de maneira especial pelos mais pobres e pequeninos de entre os irmãos e irmãs de Cristo (cf. Redemptoris missio, RMi 89). Como penhor de graça e paz infinitas n'Ele, é de bom grado que concedo a todos os membros da vossa Congregação a minha Bênção Apostólica.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AOS


PROMOTORES DO CENTRO CULTURAL


"JOÃO PAULO II" DE WASHINGTON (EUA)


326

Sexta-feira, 22 de setembro de 2000


Querido Cardeal Maida
Excelências, Senhoras e Senhores

Há quase três anos estávamos espiritualmente unidos na alegria da cerimónia, durante a qual foram lançados os fundamentos do Centro Cultural, e agora estais na fase final da edificação e prevedes inaugurá-lo no próximo ano. A vossa visita oferece-me a oportunidade para exprimir uma vez mais a minha sentida gratidão àqueles que sustentaram esse projecto e tudo fizeram para a sua realização.

A importância do Centro está no facto de ele ser um instrumento de evangelização. Não tem a finalidade de honrar uma pessoa particular, mas de contribuir, utilizando os meios fornecidos pela tecnologia moderna, para fazer com que a Igreja e a sua mensagem sejam mais conhecidas e compreendidas. A celebração do Ano jubilar tem demonstrado que pessoas de todos os lugares desejam não só professar as verdades da fé, mas também edificar e fortalecer o sentido da comunidade católica, mediante actividades religiosas e culturais. Uma das principais questões do nosso tempo é a relação entre fé e cultura. Desejo encorajar os vossos esforços por garantir que o Centro ofereça oportunidades para o estudo de temas importantes para a vida cristã, no actual clima cultural do vosso País. A vossa tarefa consiste em fazer com que o Centro promova actividades que tenham em vista transmitir a um grande público os tesouros da nossa herança católica.

Com gratidão e encorajamento abençoo os vossos esforços e invoco os abundantes dons do Senhor sobre vós e as vossas famílias. A vossa visita a Roma durante o Ano jubilar vos incuta paz interior e renovado amor pela Igreja.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PRESIDENTES DOS


PARLAMENTOS DA UNIÃO EUROPEIA


Sábado, 23 de setembro de 2000


Senhora Presidente
do Parlamento Europeu
Senhoras e Senhores Presidentes
dos Parlamentos da União Europeia

327 1. Sinto-me feliz por vos dar as boas-vindas aqui no Vaticano, neste lugar que desde as origens foi associado às principais etapas da vida do continente europeu. Saúdo com deferência o Senhor Senador Nicola Mancino, Presidente do Senado italiano, que se quis fazer vosso intérprete, e agradeço-lhe as amáveis palavras que pronunciou em vosso nome.

A vossa Conferência é uma manifestação altamente significativa do processo de união europeia que, nestes últimos anos, conheceu novos progressos. Neste século que se conclui, eu e os meus Predecessores não deixámos de oferecer o nosso apoio à realização do grande projecto de aproximação e de cooperação dos Estados e dos povos da Europa.

2. Vós mesmos, que presidis às instâncias legislativas representativas do vosso povo, sois testemunhas da íntima convergência que se manifesta entre os interesses dos vossos respectivos países e os da unidade mais vasta que forma a Europa. Observo com satisfação que a União deseja acolher novos Estados membros e favorece uma atitude de abertura e de flexibilidade em relação ao porvir. A União Europeia permanece um campo criativo e isto constitui a melhor garantia do seu bom êxito para o maior bem dos seus cidadãos, de quem ela se compromete em salvaguardar a diversidade cultural e, ao mesmo tempo, em tutelar os valores e os princípios aos quais os seus fundadores estavam ligados e que constituem o seu património comum.

Em conformidade com o génio que lhe é próprio, a União Europeia já desenvolveu instituições conjuntas, em particular um sistema de equilíbrio dos poderes de controle, que constitui uma garantia para a democracia. Agora, provavelmente chegou a hora de fazer a síntese do que se alcançou, em uma construção simplificada e, ao mesmo tempo, mais vigorosa. Sem dúvida, a União Europeia saberá encontrar a fórmula justa para satisfazer as aspirações dos seus cidadãos e garantir o serviço do bem comum.

3. Na doutrina social da Igreja católica, haurida da revelação bíblica e do direito natural, a noção do bem comum entende-se a todos os níveis em que a sociedade se organiza. Há um bem comum nacional, a cujo serviço se põem as instituições dos Estados. Mas existe também quem o poderia negar, no momento da interdependência das economias e dos intercâmbios na Europa e, mais largamente, no mundo? um bem comum continental e até mesmo universal. A Europa está a tomar cada vez maior consciência das dimensões do bem comum europeu, ou seja, do conjunto das iniciativas e dos valores que os países europeus devem promover e defender em comum, se quiserem corresponder de maneira apropriada às necessidades dos seus compatriotas.

Se a União Europeia desejar passar ao estádio de uma constituição formal, será impelida a fazer uma opção sobre o tipo de sistema que quer privilegiar. São possíveis algumas combinações entre os diferentes sistemas. A Igreja julga que os sistemas de governo dependem do génio dos povos, das suas histórias e dos seus projectos. Não obstante, salienta que todos os sistemas devem ter como finalidade o serviço do bem comum. De resto, resistindo à tentação de se fechar egoisticamente em si mesmo, cada sistema deve abrir-se também aos outros Estados do continente que desejarem colaborar com esta União Europeia, de tal maneira que ela seja o mais vasta possível.

Não posso deixar de rejubilar, ao testemunhar que se invoca cada vez mais o fecundo princípio de subsidiariedade. Lançado pelo meu predecessor Pio XI, na sua célebre Carta Encíclica Quadragesimo anno em 1931, este princípio constitui um dos pilares de toda a doutrina social da Igreja. É uma exortação a repartir as competências entre os vários níveis de organização política de uma determinada comunidade, por exemplo regional, nacional, europeia, transferindo para os níveis superiores somente aquelas que os inferiores não são capazes de assumir com vista ao serviço do bem comum.

4. A salvaguarda dos direitos do homem faz parte das exigências imprescritíveis do bem comum. A União Europeia comprometeu-se na árdua tarefa de redigir uma "Carta dos direitos fundamentais", num espírito de abertura e de atenção às sugestões das associações e dos cidadãos. Já em 1950, os países fundadores do Conselho da Europa adoptaram a Convenção de tutela dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, seguida em 1961 pela Carta social europeia. De certa forma, as declarações dos direitos delimitam o âmbito intocável, no qual a sociedade está consciente de que ele não pode submeter-se aos jogos dos poderes humanos. Muito mais, o poder reconhece que é constituído para salvaguardar este campo intangível, cujo centro de gravidade é a própria pessoa humana. Desta maneira, a sociedade reconhece que está ao serviço da pessoa, nas suas aspirações naturais, para se realizar como ser pessoal e ao mesmo tempo social. Estas aspirações, inscritas na sua natureza, constitutem outros tantos direitos inerentes à pessoa, como o direito à vida, à integridade física e psíquica, à liberdade de consciência, de pensamento e de religião.

Ao adoptar esta nova Carta independentemente da sua qualificação futura a União Europeia não deverá esquecer que é o berço das ideias de pessoa e de liberdade e que tais ideias lhe vieram do facto de ter vivido prolongadamente impregnada pelo cristianismo. Em conformidade com o modo de conceber da Igreja, a pessoa é inseparável da sociedade humana em que se desenvolve. Ao criar o homem, Deus inseriu-o no contexto de uma ordem de relações que lhe permitem realizar o seu ser. Esta ordem, que denominamos natural, deve ser explorada pela razão de maneira cada vez mais explícita. Os direitos humanos não devem ser reivindicações contra a própria natureza do homem. Eles só podem derivar dela.

5. Possa a União Europeia conhecer um renovado impulso de humanidade! Que ela saiba obter o consentimento necessário para inscrever entre os seus ideais mais excelsos a salvaguarda da vida, o respeito do próximo, o serviço recíproco e a fraternidade sem exclusões! Cada vez que a Europa haure das suas raízes cristãs os grandes princípios da sua visão do mundo, ela sabe que pode enfrentar o próprio futuro com serenidade.

Sobre vós, as vossas famílias, os povos e as Nações que representais, invoco de todo o coração a Bênção do Omnipotente.






Discursos João Paulo II 2000 319