Discursos João Paulo II 2000 327

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II


DURANTE O HABITUAL ENCONTRO DE SÁBADO


COM OS PEREGRINOS JUBILARES


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Sábado, 23 de setembro de 2000




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É para mim motivo de alegria encontrar-vos nesta Audiência jubilar, que constitui um momento belo e importante da vossa peregrinação a Roma, no contexto do Ano Santo. Provindes de diversas Dioceses, cada uma com a própria história e as suas tradições particulares. Todavia, este nosso estar juntos faz-nos como que tocar com a mão os profundos vínculos de comunhão, que nos tornam irmãos no único Corpo de Cristo que é a Igreja: o próprio amor que provém da Trindade e anima o povo de Deus, a mesma fé em Jesus Salvador, o idêntico empenho no anúncio do Evangelho. Viestes à Cidade eterna para compartilhar esta forte experiência da reconciliação com Deus e os irmãos. Peço ao Senhor que torne a vossa peregrinação jubilar rica de frutos de bem!

Aos fiéis de Nápoles

2. A minha afectuosa saudação dirige-se, antes de tudo, a vós, caríssimos peregrinos provenientes da Arquidiocese de Nápoles. Agradeço ao vosso Pastor, Cardeal Michele Giordano, que há pouco se fez intérprete dos vossos sentimentos de afecto e de proximidade espiritual. Congratulo-me com todos vós pelo empenho despendido ao preparar-vos para celebrar dignamente este Jubileu e, em particular, por terdes justamente posto no centro da vossa acção pastoral o tema da nova evangelização, valendo-vos da esplêndida iniciativa dos Centros do Evangelho. Não posso deixar de vos encorajar a prosseguir com generosidade no caminho empreendido, esforçando-vos por envolver sempre mais as famílias nesta tarefa missionária, na qual elas têm um papel essencial. A paragem destes dias junto dos Túmulos dos Apóstolos, aprofundando o vínculo de comunhão com a Igreja de Roma, vos ajude a enfrentar com maior coragem e determinação os inevitáveis momentos de dificuldade. A Virgem Maria, que todos vós gostais de invocar com o título de "Nossa Senhora Morena", vos acompanhe sempre com o seu auxílio e a sua materna protecção!

Aos peregrinos de Bréscia

3. As minhas cordiais boas-vindas vão agora para vós, caríssimos Irmãos e Irmãs da Diocese de Bréscia! Saúdo-vos com afecto, dirigindo um fraterno pensamento ao vosso Bispo, D. Giulio Sanguineti, a quem agradeço a calorosa homenagem. Sabeis que celebrar a graça do Jubileu significa, antes de mais, readquirir consciência das raízes da própria fé. Ao longo dos séculos, a experiência cristã produziu uma abundância de frutos na comunidade bresciana, caracterizados por uma particular atenção aos problemas da sociedade sob os vários aspectos. Desta animação da vida social mediante o fermento evangélico, permanecem os luminosos testemunhos de sacerdotes, religiosos e leigos, autênticos campeões de um cristianismo empenhado ante as necessidades do seu tempo. Bréscia pode gloriar-se, em particular, de ter dado à Igreja um Pontífice da estatura de Paulo VI, cuja recordação permanece indelével no coração de todos. Os exemplos destas insignes personalidades devem ser para vós estímulo a responderdes, com grande coragem e generosidade, aos desafios que se apresentam à Igreja do terceiro milénio cristão. Neste Ano jubilar, durante o qual todos somos convidados a voltar às genuínas fontes da nossa fé, sabei viver em profundidade a realidade da comunidade cristã no seu duplo aspecto da comunhão e da missão. São estes os meus votos e, ao mesmo tempo, o empenho que vos confio como fruto da peregrinação jubilar.

Aos diocesanos de Parma

4. Saúdo agora o grupo de peregrinos da Diocese de Parma, acompanhados pelo Bispo D. Sílvio Cesare Bonicelli, a quem agradeço as afectuosas palavras que me dirigiu. O Jubileu, como a própria palavra diz, é antes de tudo um momento de alegria e de partilha. Neste tempo santo a Igreja alegra-se pela abundância de graça e de misericórdia que Deus derrama sobre todos os que dispõem a própria alma à reconciliação e à renovação interior. O Jubileu seja para vós, caríssimos, um momento forte do vosso caminho eclesial, do qual brota um renovado impulso para a evangelização. Estar reconciliados com Deus e com os irmãos é condição essencial para a eficácia do anúncio evangélico, pois não há missão cristã que não nasça de uma profunda experiência de comunhão com Deus e o próximo. Faço votos por que possais viver, neste tempo jubilar, o profundo mistério da Igreja, que é mistério de comunhão e ao mesmo tempo de missão.

À Arquidiocese de Lucca

5. Dirijo-me agora a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs da Arquidiocese de Lucca, vindos a Roma em peregrinação jubilar acompanhados do vosso Arcebispo Bruno Tommasi, cuja saudação escutei agradecido. A vossa Diocese é atravessada pela antiga "Via Francigena", que tradicionalmente era percorrida pelos romeiros no seu itinerário em direcção aos Túmulos dos Apóstolos. Isto contribuiu para fazer crescer a vossa tradicional hospitalidade e acolhimento fraternos, que ainda hoje se exprimem em múltiplas formas de voluntariado e de caridade. Tendo como base o grande património de fé e de civilização cristã da vossa terra, sabei renovar também no nosso tempo o empenho de testemunho dos valores evangélicos e a vontade de contribuir de maneira eficaz para a edificação de uma renovada cultura cristã. Ponde sempre Cristo no centro das vossas Comunidades, através da escuta atenta da sua Palavra e da redescoberta da Eucaristia como fonte e ápice de toda a vida eclesial. Ser-vos-á, além disso, de grande ajuda não só o cuidado da formação permanente dos presbíteros, mas também um sempre maior envolvimento dos leigos empenhados nos sectores que estão mais de acordo com o seu estado, no interior da vida pastoral da Comunidade diocesana.

329 Ao Apostolado da Oração de Barcelona

6. Saúdo agora com afecto os membros do Apostolado da Oração da Diocese de Barcelona, chegados a Roma em peregrinação por causa do Ano jubilar. Recordai que no encontro com Jesus Cristo, por meio da oração, se forja a têmpera apostólica, que tem em vista suscitar um sincero anseio pela santidade. Com a ajuda da graça, esforçai-vos para que a vossa adesão a Cristo e à sua Igreja seja cada vez mais sólida e o vosso testemunho de vida, mais crível. Desta forma, o Ano jubilar será para vós um acontecimento único de "renovação pessoal num clima de oração sempre mais intensa e de solidário acolhimento do próximo" (cf. TMA,
TMA 42).

A um grupo de fiéis suíços

7. Estão presentes nesta Audiência especial os participantes na Conferência das "European Cancer Leagues": ao saudá-los cordialmente, apresento-lhes os mais sentidos votos de profícuo trabalho num sector tão importante para a saúde do ser humano.

Depois, saúdo a representação da Missão católica de língua italiana na Suíça, animada pela Comunidade salesiana de Zurique. Esta peregrinação a Roma e a graça do Jubileu constituem para vós um estímulo a seguir com generosidade sempre maior o exemplo de São João Bosco, nos compromissos de vida cristã e no testemunho de acolhimento e de solidariedade, de modo especial em relação a quantos estão em dificuldade espiritual e material.

Enfim, dirijo um especial pensamento e bons votos aos Alpinos da Secção "Bonate Sopra Bérgamo" e aos outros grupos de peregrinos que, com a sua participação, tornam mais rico e festivo este nosso encontro jubilar.

8. Hoje é sábado, dia tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora. Confiemos a Maria a abundância de graça e os compromissos de vida cristã que brotam deste Jubileu. Ela, que com o seu "sim" incondicional à vontade divina ofereceu ao mundo o Salvador, guie e proteja sempre o vosso caminho. Acompanhe-vos também a minha Bênção, que concedo a cada um com afecto e que de bom grado faço extensiva às vossas comunidades e famílias, e a quantos vos são queridos.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


NO FINAL DO CONCERTO SINFÓNICO


OFERECIDO PELO GOVERNO DA HUNGRIA


Sábado, 23 de setembro de 2000

Ilustres Senhores e Senhoras

No final deste extraordinário concerto, que se insere no contexto do Grande Jubileu, no meu espírito surgem naturalmente sentimentos de agradecimento. Antes de mais a Deus, primeiro inspirador de qualquer arte autêntica, e por conseguinte também da admirável Missa Solemnis, do grande compositor húngaro Ferenc Liszt. Mas, imediatamente a seguir, a gratidão dirige-se a todos os que conceberam este maravilhoso concerto, o prepararam, organizaram e executaram.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, ao Presidente da República da Hungria, Senhor Ferenc Mádl, ao Primeiro-Ministro e às outras Autoridades do Estado, com um agradecimento especial a quantos quiseram honrar-nos hoje com a sua presença. Depois, agradeço com fraterno afecto ao Cardeal Primaz László Paskai e a D. István Seregély, Presidente da Conferência Episcopal Húngara.

330 Dirijo um obrigado especial, juntamente com o mais sentido apreço pela óptima execução, ao Maestro Diomokos Héja e aos músicos da Orquestra Sinfónica Juvenil "Danúbia", bem como ao Maestro Mátyás Antal, aos solistas e ao Coro Nacional da Hungria.

É muito significativo que, transcorridos mil anos depois da coroação de Santo Estêvão, primeiro Rei da Hungria, feita pelo meu predecessor Silvestre II, a República da Hungria tenha sentido o desejo de oferecer um especial acto de homenagem ao Bispo de Roma. Este não só reveste um alto valor comemorativo, mas exprime a consciência dos laços profundos que ligam o povo húngaro à Igreja. A história dá testemunho das vantagens que a Nação recebeu do fermento cristão que começou a fazer parte da sua cultura. Oxalá o novo milénio veja ulteriores progressos neste fecundo intercâmbio na senda do autêntico progresso humano.

No espírito do Ano jubilar, apraz-me despedir-me de vós, ilustres Senhores e Senhoras, com os votos de que, na Hungria e nos diferentes países do mundo, os corações de todos se empenhem generosamente ao serviço do verdadeiro bem do homem, para que reinem em toda a parte a paz na justiça e a liberdade na verdade. Com estes sentimentos, invoco a bênção de Deus sobre cada um.



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II

AO NOVO EMBAIXADOR DO URUGUAI

JUNTO À SANTA SÉ


Segunda-feira, 25 de setembro de 2000


Senhor Embaixador

1. Agradeço-lhe sinceramente as amáveis palavras que Vossa Excelência houve por bem dirigir-me, ao apresentar-me as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Oriental do Uruguai junto da Santa Sé.

Desejo também retribuir as saudações e os sentimentos de apreço que o Senhor Presidente da República quis fazer-me chegar por meio de Vossa Excelência, enquanto peço que lhe transmita os meus melhores votos para a sua excelsa missão, assim como a minha proximidade de todo o povo uruguaio, que tive a oportunidade de encontrar pessoalmente durante as duas visitas inesquecíveis a esse querido País sul-americano. Não obstante já terem transcorrido vários anos, permanece a experiência de que, como disse no final da minha primeira visita, "o Papa e os uruguaios souberam entender-se perfeitamente" (Discurso de despedida, 1 de Abril de 1987; ed. port. de L'Osservatore Romano de 5.IV.87, pág. 7, n. 1). Como então, também hoje quero reiterar a minha firme convicção de que o "Uruguai continuará a oferecer o seu solo a iniciativas que promovam a harmonia e o entendimento entre os povos latino-americanos" (Ibid., n. 3), dado que ele mesmo é um terreno fértil para o diálogo e a concórdia nacionais.

2. Esta convicção é vigorosamente confirmada pela vocação pacífica e pacificadora do povo uruguaio, em consonância com as mais profundas raízes de uma Nação que, como o Senhor Embaixador disse, forjou a sua personalidade nos valores e princípios cristãos. É por isso que a Igreja, fiel à sua missão evangelizadora, deseja ser em todo o caso sinal e instrumento de reconciliação e de paz, com o desejo de servir o bem comum, "com todos os meios possíveis" (Ecclesia in America, ), sempre que as desavenças e os contrastes, internos e externos de uma nação, corram o perigo de se transformar em processos violentos, cuja única consequência concreta é o agravamento ainda maior dos conflitos e, enfim, a destruição. Neste sentido, após algumas experiências dolorosas que dilaceraram o seu País no passado recente, as instituições eclesiais do Uruguai estão sempre dispostas a oferecer a própria contribuição para apaziguar os ânimos e alcançar uma concórdia social justa.

3. A preocupação da Igreja, no que se refere a estes aspectos da vida social dos povos, procede da grande estima que ela tem pela "nobilíssima vocação do homem... [pelo] germe divino que nele foi inserido" (Gaudium et spes, GS 3), pelo ser humano na sua integridade como pessoa, cuja dignidade não deve ser submetida a qualquer outro interesse, instrumentalizada com vista a outras finalidades ou violada em nome de qualquer poder. Ela jamais esquece que a verdadeira paz, assim como o bem comum, está intimamente vinculada à causa da justiça, tanto no âmbito das relações internas de uma comunidade local ou nacional, como da família humana no seu conjunto, cada dia mais propensa a construir uma história comum e compartilhada por todos.

Por isso é importante que, inclusivamente nos foros internacionais, subsista um bom acordo entre o seu País e a Santa Sé, para defender com rigor e promover com constância os valores que dignificam a existência humana. Trabalhar com denodo em benefício dos direitos humanos fundamentais, da solidariedade entre os diversos sectores da sociedade e entre os povos da terra, da fomentação de uma cultura da vida em harmonia com a natureza constitui um dever ético iniludível, tanto das pessoas como das instituições. Porém, é também um desafio histórico para a geração actual, testemunha de processos complexos que por vezes correm o perigo de aturdir as mulheres e os homens contemporâneos, desagregando a sua identidade e privando-os de um genuíno sentido da vida e de um motivo de esperança.

4. No Uruguai, a acção evangelizadora da Igreja sempre teve um papel relevante para o bem do seu povo, não apenas pelo bem mesmo do anúncio cristão ou pelas numerosas actividades assistenciais e de promoção humana, mas inclusive pelo seu esforço para revigorar as instituições sobre as quais está assente a fortaleza de toda a sociedade humana, como a família e a educação. É nelas que a pessoa se sente aceite e apreciada, aprende a compartilhar e a confiar nos outros e desenvolve o sentido da vida como tarefa comum, na qual deve participar assumindo as responsabilidades e contribuindo com o próprio esforço para a edificação de um futuro melhor para todos. Pois bem, todos estes âmbitos dizem respeito à essência do bem comum e para eles convergem tanto a responsabilidade dos poderes públicos como a preocupação pastoral da Igreja. Por isso, são também campos privilegiados em que o bom entendimento e a colaboração hão-de ser mais estreitos, no respeito supremo das respectivas competências e na firme convicção de que qualquer iniciativa nestas matérias deve sujeitar-se ao direito fundamental e primário da família, que há-de ser reconhecida e apoiada com medidas concretas, tanto para manter a sua configuração natural como para exercer o seu direito a educar os próprios filhos.

331 5. Senhor Embaixador, Vossa Excelência dá início à sua missão num ano muito especial para os cristãos do mundo inteiro, o Ano do Grande Jubileu do Bimilenário da Encarnação de Jesus. Trata-se de um acontecimento que em Roma se vive com forte intensidade, precisamente porque a mensagem do Ano Santo penetrou de maneira deveras profunda no coração dos homens de todo o mundo. Em Roma sentiu-se com força também o ardor dos uruguaios, de forma especial através da peregrinação nacional que tive o prazer de receber e saudar na Praça de São Pedro, no dia 7 do passado mês de Maio. Apraz-me saber que a experiência jubilar está a ser vivida intensamente também nas próprias dioceses do Uruguai e que, no próximo mês de Outubro, se há-de celebrar o IV Congresso Eucarístico Nacional, em Colónia do Sacramento. Tudo isto representa uma demonstração de fé da parte de muitos filhos do Uruguai e do seu anseio por um novo milénio imbuído da graça que Deus derrama com abundância sobre os homens. A eles, que quiseram perpetuar a memória da minha estadia no seu País com um especial monumento erguido na Praça das Três Cruzes em Montevidéu, reitero o meu afecto, a minha lembrança na oração e a minha bênção.

6. Senhor Embaixador, dou as minhas cordiais boas-vindas a Vossa Excelência e à sua ilustre família, enquanto formulo os melhores votos para que a sua permanência em Roma seja muito grata e a missão diplomática que se lhe confiou se revele altamente benéfica para o bem da querida Nação uruguaia. Peço à Virgem dos Trinta e Três, tão venerada por todos os fiéis do seu País, que continue a abençoar os esforços das autoridades e dos cidadãos, para que o Uruguai caminhe sempre pelas veredas do progresso espiritual e material num clima de harmonia e concórdia sociais.









PALAVRAS DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS COMPONENTES DA


PEREGRINAÇÃO JUBILAR NACIONAL DA SUÍÇA


Segunda-feira, 25 de setembro de 2000


Senhor Cardeal
Estimados Irmãos no Episcopado
Queridos Sacerdotes e Diáconos
Queridos Irmãos e Irmãs

1. É para mim motivo de grande alegria ver tantos fiéis suíços reunidos aqui à volta do túmulo de S. Pedro. Sede bem-vindos! Saúdo de modo particular o venerado Cardeal Henry Schwery, o Presidente da Conferência Episcopal Suíça, D. Norbert Brunner, e todos os Bispos aqui presentes. Este "Dia dos Suíços" é uma ocasião propícia para exprimir a minha gratidão aos membros da Guarda Suíça. Obrigado pelo serviço fiel e solícito, que precisamente no ano do grande Jubileu reveste uma importância extraordinária. A Guarda Suíça é um cartão de visita vivo do Vaticano.

Queridos suíços, podereis sentir-vos orgulhosos por saber que aqui no Vaticano se encontram representantes tão dignos da vossa querida terra. Rezai para que no vosso país jamais faltem homens empenhados, dispostos a pôr-se ao serviço do Papa e da Igreja!

2. Como todos os peregrinos do Ano Santo, também vós atravessastes a Porta Santa, que permanece aberta a todos. A Porta Santa é a imagem de Cristo que disse: "Eu sou a porta" (Jn 10,9). A passagem através da Porta Santa requer uma atitude interior. De facto, Jesus Cristo é exigente. Chama os homens a decidir. Portanto, se também nós atravessamos o limiar da Porta Santa, repetimos com o Apóstolo Pedro: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jn 6,68).

3. Por conseguinte, o rito exterior exprime uma profunda profissão de fé. Desejo que regresseis ao vosso País, cidades e aldeias revigorados na fé, para estardes próximos dos vossos irmãos e irmãs no dia-a-dia. No mundo actual, somos tentados por muitas portas, mas infelizmente não levam nem à plenitude nem à felicidade. Ao contrário, podem fazer precipitar o homem no abismo do vazio e da dependência. Quem deixou de procurar "o caminho, a verdade e a vida" (cf. Jo Jn 14,6) deixou de encontrar o acesso a Deus. O peregrino que regressa de Roma pode indicar o caminho a quantos procuram uma vida com sentido. Para vós invoco de Deus força e bênção.

332 4. O vosso caminho jubilar introduz-vos, com toda a Igreja, num novo período de graça e de missão (cf. Bula de proclamação do Grande Jubileu, 3), convidando-vos a participar de modo cada vez mais activo na vida das vossas comunidades cristãs, sob a orientação dos vossos Pastores, para serdes testemunhas da comunhão eclesial e missionários do Evangelho junto dos vossos irmãos. A Igreja, que nos gerou para a vida nova através do Baptismo, comunica-nos os dons de Deus, sobretudo mediante a Eucaristia e a Penitência, para que levemos uma vida nova e nos empenhemos incessantemente no caminho da conversão, reanimando desta forma a nossa vida espiritual e o nosso impulso apostólico. Encorajo-vos sobretudo a concentrar os vossos esforços na formação moral e espiritual dos jovens, a fim de os ajudar no seu crescimento pessoal e de os preparar para que sejam cristãos firmes, prontos a responder jubilosamente à sua vocação e, aos que Deus chama, para se empenharem no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada. Confiando-vos à intercessão de Nossa Senhora, concedo-vos de coração uma afectuosa Bênção apostólica.

5. Por fim, gostaria de dirigir uma saudação aos peregrinos suíços de língua italiana. Viestes a Roma para passar pela Porta Santa. Que este rito seja para vós uma forte experiência espiritual, que vos ajude a receber Cristo na vossa vida com total disponibilidade, a fim de serdes suas testemunhas críveis entre os irmãos no início do terceiro milénio. A todos concedo com afecto a minha Bênção.





MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AO


CARDEAL EDWARD IDRIS CASSIDY


POR OCASIÃO DO XIII ENCONTRO INTERNACIONAL DA


COMUNIDADE DE SANTO EGÍDIO




Ao Venerado Irmão EDWARD IDRIS Card. CASSIDY
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos

É-me particularmente grato confiar-lhe, Senhor Cardeal, a tarefa de transmitir a expressão da minha estima e saudação aos ilustres Representantes das Igrejas e Comunidades cristãs e das outras Religiões mundiais, congregados este ano em Lisboa, por ocasião do XIII Encontro internacional sobre o tema: "Oceanos de paz. Religiões e culturas em diálogo".

O meu pensamento volta ao ano de 1986, quando pela primeira vez homens e mulheres de diferentes religiões se encontraram em conjunto para invocar a paz de Deus precisamente na colina de Assis, assinalada pelo testemunho de São Francisco. Aquele evento não podia permanecer isolado. Com efeito, ele foi portador de uma força espiritual arrebatadora: tratava-se como que de uma nascente de onde começavam a jorrar novas energias de paz. Por isso, desejei que o "espírito de Assis" não se extinguisse, mas pudesse difundir-se pelo mundo inteiro, suscitando em todas as partes novas testemunhas de paz e de diálogo. Este mundo, caracterizado por inumeráveis conflitos, incompreensões e preconceitos, tem efectivamente extrema necessidade de paz e de diálogo.

Portanto, gostaria de agradecer de maneira particular à Comunidade de Santo Egídio o entusiasmo e a coragem espiritual com que soube captar a mensagem de Assis e levá-la a inúmeros lugares do mundo, através dos encontros de homens de diversas religiões. Recordo-me do Encontro em Bucareste, em 1998, que teve muito eco na Roménia, onde durante a minha Visita apostólica ouvi o brado insistentemente reiterado pela população: "Unitate! Unitate!". Sim, estimados Irmãos e Irmãs, aquela unidade permanece para nós um compromisso prioritário. Olhemos com esperança para o século que teve início, para que como escrevi na Ut unum sint! "a longa história dos cristãos, assinalada por multiplas fragmentações, parece recompor-se, tendendo para a Fonte da sua unidade, que é Jesus Cristo" (n. 22).

Estou persuadido de que o "espírito de Assis" constitui uma dádiva providencial para o nosso tempo. Na diversidade das expressões religiosas, lealmente reconhecidas como tais, o facto de estarem uns ao lado dos outros manifesta também visivelmente a aspiração da família humana à unidade. Todos nós devemos caminhar rumo a esta única meta. Recordo que no Concílio Vaticano II, quando era um jovem Bispo, também eu subscrevi a Declaração Nostra aetate, com a qual teve início uma rica relação entre a Igreja católica, o Hebraísmo, o Islão e as outras Religiões. Essa Declaração conciliar afirma que a Igreja, "na sua missão de promover a unidade e a caridade entre os homens, e mais ainda, entre os povos, considera aqui em primeiro lugar aquilo que os homens têm em comum e que os conduz à solidariedade mútua" (n. 1).

Tanto o diálogo entre as religiões como as suas iniciativas devem tender para isto. Hoje, graças a Deus, este diálogo já não é só um auspício; ele tornou-se uma realidade, não obstante ainda seja longo o caminho que se nos apresenta. Como deixar de dar graças ao Senhor pelo dom desta abertura recíproca, a qual é como que o prelúdio para uma compreensão mais profunda entre Igreja católica e Hebraísmo, precisamente enquanto conservo tão vivas as recodações da minha inesquecível peregrinação na Terra Santa? Mas também o encontro com o Islão, com as Religiões orientais e com as grandes culturas do mundo contemporâneo deram frutos significativos. No início do novo milénio, não devemos diminuir o nosso passo mas, ao contrário, é necessário imprimir uma maior aceleração a este caminho promissor.

Bem sabeis que o diálogo não ignora as diferenças concretas, nem cancela a comum condição de peregrinos rumo a novas terras e novos céus. E o diálogo exorta todos a robustecerem também aquela amizade que não separa e não confunde. Todos nós devemos ser mais audazes ao longo deste caminho, a fim de que os homens e as mulheres deste nosso mundo, independentemente do povo ou do credo a que pertencem, possam descobrir-se filhos do único Deus e irmãos e irmãs uns dos outros.

Hoje encontrais-vos em Lisboa, na costa do Oceano Atlântico, e o vosso olhar estende-se rumo aos povos e às culturas do mundo inteiro. Lisboa constitui a primeira etapa do vosso caminho comum neste século. Por isso, obrigado Senhor Patriarca José da Cruz Policarpo, por ter hospedado esta peregrinação com toda a sua Igreja. Em Vossa Excelência saúdo os Coirmãos no Episcopado e todo o querido Povo português, que tive a ocasião de encontrar na minha recente peregrinação a Fátima.

333 Muitos são os problemas que se apresentam no horizonte do mundo. Contudo, a humanidade está em busca de novos equilíbrios de paz: "Portanto, é necessário e urgente como eu escrevia aos participantes no Encontro "Homens e Religiões", realizado em Milão em 1993 reencontrar o gosto e a vontade de caminhar em conjunto para construir um mundo mais solidário, ultrapassando interesses particulares de grupo, de etnia e de nacionalidade. A este propósito, como é importante a tarefa que as religiões podem desempenhar! Pobres em recursos humanos, elas são ricas daquela aspiração universal que encontra a própria raiz na relação sincera com Deus" (Insegnamenti, vol. XVI/2, 1993, pág. 778).

Ao confiar-lhe, Senhor Cardeal Edward Idris Cassidy, esta Mensagem aos participantes no Encontro de Lisboa, a quem renovo a minha cordial saudação, invoco sobre todos os presentes as bênçãos de Deus Omnipotente. Com a sua ajuda, oxalá os homens e as mulheres de cada povo da terra perseverem com renovada decisão ao longo do caminho da paz e da compreensão recíproca.

Vaticano, 21 de Setembro de 2000.





DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS CARMELITAS MISSIONÁRIAS


REUNIDAS EM CAPÍTULO GERAL


Sexta-feira, 29 de Setembro de 2000

Queridas Irmãs
Carmelitas Missionárias!

1. No final do vosso XVIII Capítulo Geral, apraz-me dirigir-vos uma cordial saudação, sobretudo a vós que, em representação das vossas Irmãs presentes em 35 países de quatro continentes, participastes nos trabalhos capitulares com a finalidade de discernir o que "o Espírito sugere às várias comunidades" (Tertio millennio adveniente, TMA 23), para renovar com fidelidade o carisma do fundador, Beato Francisco Palau y Quer, e responder com prontidão às exigências da Igreja e da humanidade de hoje, que desejais continuar a servir com generosidade.

Saúdo em particular a nova Superiora-Geral, Maria Esperança Izco e as suas Conselheiras, para as quais peço abundantes dons divinos que as ajudem na sua responsabilidade de orientar a Congregação com clarividência e acompanhar com espírito fraterno as suas Irmãs, a fim de que cada uma delas seja mulher de experiência de Deus e audaz na sua resposta aos desafios da missão no terceiro milénio, como propusestes no vosso Capítulo. De facto, unificar em harmonia a dimensão contemplativa e o estímulo missionário, dois pilares fundamentais da vossa identidade religiosa, é uma necessidade particularmente sentida numa época atormentada muitas vezes pela fragmentação ou pela superficialidade da existência humana. Por isso, queridas Irmãs Carmelitas Missionárias, recordo-vos que "o Senhor encontrado na contemplação é o mesmo que vive e sofre nos pobres" (Vita consecrata, VC 82). Perante as dificuldades que podereis encontrar no desempenho desta delicada obra, convido-vos a recordar as palavras do vosso Fundador: "Estando como estamos bem dispostos a secundar os desígnios de Deus, não nos deixará sem luz nem orientação" (Carta a Juana Gracias, 26 de Junho de 1860, 2).

2. Ao iniciar os trabalhos capitulares em Ibiza, nas fontes da vossa inspiração fundacional e que foi para o Beato Francisco Palau o lugar de retiro, silêncio e discernimento, quisestes aprofundar a razão originária do vosso ser. Este regresso às raízes, que a Igreja propõe com insistência a todos os Institutos religiosos, não é um regresso nostálgico ao passado, que mais se parece com o que aconteceu àqueles discípulos que, a caminho de Emaús, se deram conta de que o seu verdadeiro destino era voltar para Jerusalém, para ali descobrirem a imensa riqueza e novidade do mistério de Cristo. Desta forma, puderam pôr-se a par com a história e contribuir para abrir aos homens os novos horizontes propostos pela mensagem do Evangelho. Por este motivo, convido-vos a manter muito viva essa experiência de estreito e contínuo contacto com Cristo e com os dons que o Espírito derramou sobre a vossa Congregação, que caracteriza, além disso, a vossa tradição carmelita impregnada de contemplação. No momento em que toda a Igreja celebra o Grande Jubileu em comemoração dos dois mil anos do mistério da Encarnação, torna-se cada vez mais evidente que "Jesus é verdadeiramente a realidade nova que supera tudo quanto a humanidade pudesse esperar, e tal permanecerá para sempre" (Bula Incarnationis mysterium, 1).

A segunda parte do Capítulo que teve lugar em Roma, como que dando a entender que qualquer carisma verdadeiro conflui para a única Igreja a fim de a enriquecer e servir, fazendo-se cada vez mais universal e como que um entrelaçamento de comunhão entre mentalidades e culturas diferentes. É um aspecto que mostra o vosso espírito missionário. Neste sentido tendes, a partir da vossa fundação, uma linda história para narrar, uma história feita de colaboração abnegada no âmbito sempre urgente da evangelização e de serviço à causa dos homens, principalmente dos mais necessitados. Desejo exprimir o meu reconhecimento e gratidão por tudo isto. Mas desejo sobretudo encorajar-vos no vosso projecto de anunciar profeticamente o Reino de Deus no mundo e na história que ainda deveis construir, porque o Espírito vos estimula, "a fim de realizar convosco grandes coisas" (Vita consecrata, VC 110).

Não deixeis de prestar atenção às necessidades emergentes no nosso tempo, dando-lhes uma resposta que surge do coração de Cristo e da missão original da Igreja. De facto, "quanto mais se vive de Cristo, tanto melhor se pode servi-l'O nos outros, aventurando-se até aos postos de vanguarda da missão, e abraçando os maiores riscos" (Vita consecrata, VC 76).

334 3. Ao terminar, desejo confiar à Virgem Maria os frutos do Capítulo e o futuro da Congregação. Vós, que a invocais como padroeira com o antigo nome de Nossa Senhora do Monte Carmelo, sabeis que não podeis estar em melhores mãos. Ela ajudar-vos-á a combater as forças do pecado que, de maneiras muito diferentes, se escondem no coração humano e nas estruturas sociais, abrindo assim o vosso coração à alegria e à esperança que devem preencher a vossa vida pessoal e comunitária, as vossas obras e missão.

Com estes sentidos votos, e invocando a celestial intercessão do Beato Francisco Palau, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, que estendo também a todas as Irmãs de profissão religiosa.






Discursos João Paulo II 2000 327