Discursos João Paulo II 2000 334

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


DURANTE O HABITUAL ENCONTRO DE


SÁBADO COM OS PEREGRINOS JUBILARES


Roma, 30 de setembro de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Viestes a Roma para celebrar o Ano Santo e aprofundar a vossa adesão ao Evangelho, reafirmando a vossa proximidade espiritual ao Sucessor de Pedro. Apresento-vos as minhas mais cordiais boas-vindas!

Provenientes de várias Dioceses, paróquias, associações e grupos, hoje manifestais a profunda sintonia de mentes e de corações que une o Povo de Deus à volta do Redentor do homem. Faço votos por que no decurso desta peregrinação às memórias santas da Igreja de Roma, cada um seja consolidado na própria fé e faça uma profunda experiência de graça e de misericórdia.

Aos fiéis da Arquidiocese de Perúsia-Città della Pieve

2. A minha saudação afectuosa vai antes de tudo para os fiéis da Arquidiocese de Perúsia-Città della Pieve, guiados pelo seu Pastor, D. Giuseppe Chiaretti. Caríssimos, entre vós há numerosas pessoas directamente comprometidas no trabalho pastoral paroquial. Ao manifestar apreço pela vossa generosa actividade ao lado dos sacerdotes, formulo votos para que a disponibilidade por vós demonstrada durante o recente Congresso Eucarístico diocesano, assim como por ocasião da Visita pastoral e das "missões junto ao povo", continue também no futuro, de maneira a garantir um serviço sempre eficiente às vossas respectivas Comunidades.

Em virtude da vossa consagração baptismal, sois chamados a fazer-vos co-responsáveis pelo anúncio do Evangelho, sob a guia dos vossos Pastores. Por conseguinte, convido-vos a uma constante formação espiritual e intelectual, a fim de que através de vós o amor da Igreja, reflexo do amor de Deus, chegue de maneira mais fácil a cada homem e mulher.

Aos peregrinos da Diocese de Sora-Aquino-Pontecorvo

3. A vós, queridos peregrinos da Diocese de Sora-Aquino-Pontecorvo, guiados pelo vosso Bispo, D. Luca Brandolini, dirige-se agora o meu pensamento cordial. A peregrinação de hoje conclui, de certo modo, a Visita pastoral que viu a vossa Igreja empenhada no caminho de preparação para o evento do grande Jubileu.

335 Unidos em espírito de comunhão eclesial, reafirmais hoje o empenho de ampliar os espaços do amor fraterno a todos os níveis, para evitar um individualismo que poderia deter o impulso evangelizador de toda a comunidade. Fiéis a Cristo e ao homem, esforçai-vos por crescer arraigados na escuta da Palavra de Deus e na oração pessoal e comunitária. Deste modo, podeis encontrar nas próprias fontes da espiritualidade energia e luz para caminhardes com vigor rumo a uma união mais amadurecida a Cristo.

Aos romeiros da Diocese de Nola

4. Além disso, saúdo os fiéis da Diocese de Nola que, juntamente com o seu actual Pastor D. Beniamino Depalma, e com o Bispo Emérito D. Umberto Tramma, vieram para atravessar a Porta Santa.

Vindes de lugares assinalados pelo testemunho de São Paulino, inspirado cantor de Cristo e grande santo da caridade. Tomei conhecimento do facto que estais a redescobrir os seus escritos, nos quais ele deixou indicações espirituais e pastorais que continuam a ser de grande actualidade. Aproveitai-as para a renovação da vida pessoal e comunitária.

A vossa terra, como outras da Campânia, está a enfrentar grandes desafios sociais: desde a escassez de postos de trabalho até à degradação ambiental. A comunidade cristã é chamada a dar um contributo específico à solução desses problemas, dando relevo a um renovado anúncio do Evangelho, a uma viva experiência de comunhão, a um concreto testemunho de caridade. Encorajo os inúmeros agentes a fim de que, com generosidade, continuem a pôr-se ao lado dos mais débeis e sofredores. Sede uma comunidade rica de partilha e de acolhimento recíproco, e trabalhai na concórdia para que as dádivas de Deus possam resplandecer em vós.

Aos peregrinos de Nocera Inferior-Sarno

5. Dirijo-me agora a vós, peregrinos de Nocera Inferior, vindos com o Bispo, D. Gioacchino Illiano. Saúdo-vos com afecto. O Jubileu que viestes celebrar vos confirme no propósito de prosseguirdes com determinação no caminho da nova evangelização, empreendido já há vários anos.

Como já tive ocasião de vos recomendar por ocasião da minha visita à vossa Diocese em 1990, trabalhai por "um anúncio missionário que renove profundamente a piedade popular; uma catequese que responda de modo adequado aos desafios da cultura hoje dominante; uma liturgia que não esteja separada da vida; uma presença pastoral que atinja todas as camadas sociais; e por um empenho pela promoção humana que seja concreto e incisivo" (cf. ed. port. de L'Osservatore Romano de 2 de Dezembro de 1990, pág 11).

Aos fiéis da Diocese de Acerra

6. Depois, desejo saudar com afecto os fiéis da Diocese de Acerra, acompanhados de D. Giovanni Rinaldi.

Caríssimos, convido-vos a perseverar na oração, a fim de que Cristo visite em profundidade a vossa Igreja. Com a ajuda da graça divina, possam aumentar a comunhão fraterna, a co-responsabilidade de todos na obra evangelizadora, o testemunho cristão diante dos problemas sociais do vosso território. Sede generosos, ao pordes à disposição da comunidade cristã os carismas recebidos, e invocai o "Senhor da messe" para que envie numerosas e generosas vocações sacerdotais e religiosas.

336 Aos peregrinos de língua inglesa

7. Apresento cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua inglesa, e aos grupos e associações paroquiais que estão a fazer a peregrinação jubilar a Roma. Em particular, saúdo os grupos das Arquidioceses de Newark e Kansas City, e os membros da peregrinação ítalo-australiana. O mês de Outubro, que tem início amanhã, é tradicionalmente dedicado ao Santo Rosário, uma das melhores e mais eficazes orações cristãs, de maneira especial quando é recitado em comum, no lar. Quero recomendar esta forma de honrar Maria e pedir a sua intercessão. Deus abençoe todos vós abundantemente, e a sua paz esteja convosco e com os vossos entes queridos.

Aos romeiros de expressão portuguesa

8. A vós, caríssimos Irmãos e Irmãs de língua portuguesa, e de modo especial ao grupo "Imaculada Conceição" do Rio de Janeiro, faço votos por que a vossa peregrinação ao túmulo de Pedro deixe no coração de cada um sinais eficazes de justiça e de caridade. No itinerário jubilar, tendes a oportunidade de recorrer ao sacramento da Penitência e da Reconciliação; de nutrir-vos à mesa da Eucaristia; de visitar a memória dos Apóstolos. Sejam estes momentos de intensa comunhão com Deus. Assim, quando voltardes para o Brasil, sereis revigorados na fé e decididos a fazer o bem e a caridade no vosso estado de vida e no compromisso ao qual Deus vos chama.

A outros grupos de fiéis italianos

9. O meu pensamento, enfim, dirige-se aos grupos de fiéis provenientes de diversas paróquias italianas, à secção de Catânia da União Italiana de Cegos, aos dirigentes e funcionários da Empresa "Carsten's" de Sant'Agata Irpina de Solofra, aos funcionários do Palácio do Senado no Capitólio, ao Centro de Solidariedade de Arezzo e à Empresa Hospitalar "Santíssima Anunciada", de Tarento. Cristo, a Porta Santa que nos introduz no Pai, esteja sempre no centro da vossa vida, a fim de poderdes ser testemunhas convictas e alegres da sua misericórdia.

Com estes bons votos invoco a intercessão de Maria, Mãe da Igreja, e a todos concedo a Bênção Apostólica com muito afecto.





                                                                              Outubro de 2000


AOS PEREGRINOS VINDOS PARA A


CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO


Segunda-feira, 2 de Outubro de 2000





Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Ontem na Praça de São Pedro vivemos um singular momento de júbilo, celebrando a canonização de alguns Santos. Hoje, a Providência oferece-nos a possibilidade de um novo encontro para prolongarmos a acção de graças a Deus, que oferece à Igreja sempre novos modelos de vida evangélica, e para apreciarmos juntos as exemplares figuras dos Mártires da China, de Maria Josefa do Coração de Jesus Sancho de Guerra, de Catarina Drexel e de Josefina Bakhita.

337 A todos vós, peregrinos vindos de vários países, reitero a minha saudação, juntamente com uma cordial palavra de apreço pelo sugestivo contexto que, com a vossa presença, criastes à volta deste evento eclesial.

2. Dirijo-me agora de maneira especial aos peregrinos aqui vindos para a canonização dos 120 Mártires da China. Em primeiro lugar a vós, fiéis de origem chinesa, com os quais desejo compartilhar a profunda alegria por estes filhos e filhas do Povo chinês que, pela primeira vez, são indicados a toda a Igreja e ao mundo inteiro na sua heróica fidelidade a Cristo Senhor e na sua grandeza de alma. Sim, eles são uma verdadeira honra para o nobre Povo da China!

A minha alegria é maior, quando penso que nesta circunstância estão intimamente unidos a nós todos os fiéis da China continental, conscientes como vós de ter nos Mártires não só um exemplo a seguir, mas também intercessores junto do Pai. Com efeito, temos necessidade da ajuda deles, porque somos chamados a enfrentar a vida quotidiana com a mesma dedicação e fidelidade que os Mártires demonstraram no seu tempo.

Todos vós sabeis que a maioria dos 120 Mártires derramou o sangue em momentos históricos que justamente revestem um particular significado para o vosso Povo. Na realidade, tratou-se de situações dramáticas, caracterizadas por violentas revoltas sociais. Com esta canonização, a Igreja decerto não quer apresentar um juízo histórico acerca desses períodos, e muito menos deseja legitimar alguns comportamentos dos governos dessa época que pesaram sobre a história do Povo chinês. Ao contrário, ela quer lançar luz sobre a fidelidade heróica destes filhos dignos da China, que não se deixaram atemorizar pelas ameaças de uma perseguição feroz.

Além disso, estou grato pela presença de muitos peregrinos dos vários países, dos quais provinham os 33 missionários e missionárias, mortos como Mártires na China juntamente com os fiéis chineses aos quais tinham anunciado o Evangelho. Há pessoas que, com uma leitura histórica parcial e subjectiva, vêem na sua acção missionária apenas limites e erros. Se houve erros o homem é porventura isento de defeitos? pedimos perdão. Mas hoje comtemplamo-los na glória e damos graças a Deus, que se serve de instrumentos pobres para as suas grandiosas obras de salvação. Eles anunciaram, também com o dom da própria vida, a Palavra que salva e empreenderam importantes iniciativas de promoção humana. Sede orgulhosos disto, vós romeiros, seus compatriotas e irmãos na fé! Com o seu testemunho, eles indicam-nos que o verdadeiro caminho da Igreja é o homem: um caminho entretecido de profundo e respeitoso diálogo intercultural, como já ensinava com sabedoria e mestria o padre Mateus Ricci; um caminho substanciado pela oferta quotidiana da própria vida.

3. Saúdo com afecto os numerosos peregrinos que vieram aqui para participar na canonização de Santa Maria Josefa do Coração de Jesus Sancho de Guerra, provenientes do País Basco, onde a nova Santa nasceu e faleceu, assim como de outras regiões da Espanha e de vários países da Europa, da América e das Filipinas, onde as Servas de Jesus da Caridade vivem e trabalham, difundindo o carisma e os ensinamentos desta ilustre filha da Igreja. A todos dou as minhas mais cordiais boas-vindas.

Para vós, Santa Maria Josefa é muito querida e íntima. Efectivamente, a sua índole espiritual faz-nos ver a generosidade e abnegação com que acolhe as palavras do Senhor: "Estava doente e cuidastes de mim" (
Mt 25,36). Exigente consigo mesma, não poupou esforços nem trabalhos para servir os enfermos, fundando com esta finalidade as Servas de Jesus da Caridade. Confiou-lhes a missão de mostrar o rosto misericordioso de Deus aos que sofrem, contribuindo para aliviar os seus sofrimentos com a assistência generosa em domicílios e hospitais.

O seu testemunho eloquente deve ajudar todos a descobrirem a beleza da vida consagrada totalmente ao Senhor, e a importância do serviço destinado a enxugar as lágrimas daqueles que sofrem sob o peso da enfermidade.

4. É-me particularmente grato cumprimentar o Cardeal Bevilacqua e o grande número de peregrinos que vieram a Roma para a canonização da Madre Catarina Drexel, de forma especial as suas filhas espirituais, as Irmãs do Santíssimo Sacramento. Santa Catarina Drexel assumiu profundamente as palavras que Jesus dirigiu ao jovem no Evangelho: "Se queres ser perfeito vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu" (Mt 19,21).

Ao oferecer os bens da sua família ao trabalho missionário e educativo entre os membros mais pobres da sociedade, a Madre Drexel fez uma viagem a Roma, durante a qual pediu ao Papa Leão XIII que enviasse missionários para participar nos vários projectos que então ela estava a promover. O Sumo Pontífice respondeu, convidando-a a tornar-se missionária. Isto representou sem dúvida uma mudança na vida de Santa Catarina, e com grande coragem ela depositou a própria confiança no Senhor, oferecendo a própria vida e riqueza totalmente ao serviço d'Ele. O seu apostolado frutificou na abertura de inumeráveis escolas para os indígenas da América e os afro-americanos, e contribuiu para despertar a consciência da necessidade permanente, mesmo nos nossos dias, de combater o racismo em todas as suas manifestações.

O exemplo de Santa Catarina Drexel seja um farol de luz e esperança que inspire todos a dedicarem cada vez mais os próprios tempo, talento e tesouro para beneficiar as pessoas mais necessitadas.

338 5. É com prazer que saúdo os Bispos e fiéis sudaneses que vieram a Roma para a canonização da Irmã Josefina Bakhita. De forma especial, saúdo também as Filhas da Caridade, a grande Família canossiana à qual pertencia Santa Josefina Bakhita.

Esta santa filha da África viveu verdadeiramente como filha de Deus: o amor e o perdão de Deus eram realidades tangíveis que transformaram a sua vida de maneira extraordinária. Ela chegou a demonstrar gratidão aos traficantes negreiros que a capturaram e às pessoas que a maltrataram: pois como ela mesma diria mais tarde, se tais coisas não tivessem acontecido, ela jamais se teria tornado cristã, nem uma religiosa professa na Comunidade canossiana.

Através da intercessão de Santa Bakhita, rezemos para que todos os homens e mulheres conheçam a presença salvífica do Senhor Jesus e assim se libertem da escravidão do pecado e da morte. E recordemo-nos em particular da sua Pátria, o Sudão, onde a guerra e a violência continuam a semear destruição e desespero: a mão purificadora do Senhor sensibilize os corações dos responsáveis por tais sofrimentos e ceda o caminho à reconciliação, ao perdão e à paz.

6. Caríssimos, antes de me despedir de vós, desejo manifestar-vos um peso que nestas horas grava na minha alma. Há alguns dias, a Cidade Santa de Jerusalém é teatro de conflitos violentos que provocaram numerosos mortos e feridos, entre os quais algumas crianças. Espiritualmente próximo das famílias de quantos perderam a vida, dirijo o meu premente apelo a todos os responsáveis a fim de que façam calar as armas, evitem as provocações e retomem a vereda do diálogo. A Terra Santa deve ser o território da paz e da fraternidade. É assim que Deus quer!
Peço aos novos Santos que intercedam a fim de que os ânimos de todos se voltem para pensamentos de compreensão e paz recíprocas.

Com estes bons votos, concedo de coração a Bênção Apostólica a todos vós e aos vossos entes queridos.






AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO GERAL DA


CONFEDERAÇÃO DO ORATÓRIO DE SÃO FILIPE NÉRI


- ORATORIANOS -


5 de outubro de 2000



Caríssimos
Sacerdotes e Leigos Oratorianos

1. É-me grato apresentar as minhas cordiais boas-vindas a cada um de vós, participantes no Congresso Geral da Confederação do Oratório de São Filipe Néri, que com esta visita quisestes confirmar a sincera devoção ao Vigário de Cristo e a plena adesão ao Seu Magistério, no espírito do vosso Fundador, que amou a Igreja com todo o seu ser e vos deixou como herança a sua incondicional fidelidade à Sé de Pedro.

Ao saudar com afecto o Padre António Rios Chávez, Delegado da Sé Apostólica, dirijo um cordial pensamento a cada uma das Congregações representadas no vosso Congresso Geral, exprimo-lhes viva gratidão pelo bem que realizam e alegro-me com o crescimento que o Oratório está a conhecer em diversas partes do mundo.

339 2. A vossa Confederação, instituída pela Sé Apostólica para unir no vínculo da caridade e da ajuda recíproca cada uma das Congregações do Oratório, nos recentes Congressos Gerais empenhou-se em rever os textos constitucionais na linha indicada pela Igreja por ocasião do Concílio Ecuménico Vaticano II. No alvorecer do terceiro milénio cristão, a vossa Assembleia propõe-se ir de novo, sob o aspecto predominantemente pastoral, às fontes do movimento espiritual que tem origem na missão de conduzir sempre o homem ao encontro com Jesus Cristo, "Caminho, Verdade e Vida", realmente presente na Igreja e "contemporâneo" de cada homem.

Esse encontro, vivido e proposto por São Filipe Néri de modo original e envolvente, leva a tornar-se homem novo no mistério da Graça, suscitando na alma aquela "alegria cristã" que constitui o "cêntuplo", dado por Cristo a quem O acolhe na própria existência. Favorecer um encontro pessoal com Cristo representa também o fundamental "método missionário" do Oratório.

Ele consiste em "falar ao coração" dos homens para os levar a fazer uma experiência do Mestre divino, capaz de transformar a vida. Obtém-se isto sobretudo testemunhando a beleza de um semelhante encontro, do qual o viver recebe sentido pleno. É necessário propor aos "que estão afastados" não um anúncio teórico, mas a possibilidade de uma existência realmente renovada e por isso repleta de alegria.

Eis a grande herança recebida do vosso Padre Filipe! Eis uma via pastoral sempre válida, porque está inscrita na perene experiência cristã! Faço votos por que o retorno às fontes da espiritualidade e da obra de São Filipe, efectuado pelo vosso Congresso, suscite em cada Congregação uma renovada consciência da validade e da actualidade do "método missionário" do vosso Fundador e proporcione uma significativa contribuição para o compromisso na "nova evangelização".

3. O Oratório nasceu da fé e do génio de São Filipe Néri, que soube compor em síntese harmoniosa a dimensão carismática e a plena comunhão com os Pastores da Igreja e, na Roma do seu tempo, com grande sabedoria foi ao encontro das necessidades espirituais e materiais da juventude, testemunhando a tal ponto a dimensão jubilosa da fé, que foi considerado "o profeta da alegria cristã". O Oratório caracteriza desde o início a vossa Congregação que dele toma o nome, como recorda a Bula "Copiosus in misericordia", com a qual Gregório XIII a instituiu no Ano Santo de 1575. Nascida com a participação de sacerdotes seculares, provenientes da primeira experiência do Oratório, e posta ao seu serviço, a vossa Congregação deve continuar a conservar no centro dos próprios interesses essa benemérita instituição, com os seus propósitos originários, o seu método e estilo, sempre adaptável às necessidades dos tempos.

Como recorda o "Itinerário Espiritual", aprovado no Congresso Geral de 1994: "O fim específico e a missão da Congregação do Oratório é o nascimento e o crescimento de autênticas comunidades cristãs, luz e sal da terra". Nas vossas Constituições elas são apresentadas, desde os primeiros artigos, como uma união fraterna de fiéis que, seguindo as pegadas de São Filipe Néri, estabelecem para si aquilo que ele ensinou e fez, tornando-se assim "um só coração e uma só alma" (
Ac 4,3). O modelo no qual se inspiram são os encontros de oração simples e familiares e os colóquios espirituais do vosso Padre Filipe com penitentes e amigos. Nessa perspectiva, o Oratório reconhece a sua identidade em "praticar em comum a maneira de abordar a Palavra de Deus com familiaridade, além da oração mental e oral, a fim de promover nos fiéis, como numa escola, o espírito contemplativo e o amor pelas coisas divinas".

Formulo votos para que o Oratório, ao pôr-se ao serviço dos homens com simplicidade de espírito e alegria, saiba manifestar e difundir esse método espiritual, de maneira sempre mais atraente e eficaz. Assim poderá oferecer um testemunho coerente e incisivo, vivendo em plenitude o fervor das origens e propondo aos homens de hoje uma experiência de vida fraterna, fundada principalmente sobre a realidade, acolhida e vivida, da comunhão sobrenatural em Cristo.

"Quem quiser outra coisa que não seja Cristo, não sabe aquilo que quer; quem pede outra coisa que não seja Cristo, não sabe aquilo que faz". Estas palavras do vosso santo Fundador indicam o critério sempre válido de toda a renovação da comunidade cristã, que consiste em retornar a Jesus Cristo: à sua palavra, à sua presença, à acção salvífica que Ele actua nos Sacramentos da Igreja.

Esse empenho levará os Sacerdotes a privilegiar, como é próprio da vossa tradição, o ministério das Confissões e o acompanhamento espiritual dos fiéis, para responder plenamente ao vosso carisma e às expectativas da Igreja. Deste modo, eles ajudarão os leigos pertencentes aos Oratórios seculares a compreenderem o valor essencial de ser "christifideles", à luz da experiência de São Filipe que, a respeito do laicado, antecipou ideias e métodos que se revelariam fecundos na vida da Igreja.

4. As vossas Congregações, fiéis à autonomia querida pelo santo Fundador, vivem particularmente ligadas à realidade das Igrejas particulares e às situações locais. Mas não se pode esquecer a importância que também reveste, na vida das Comunidades e dos seus membros, o vínculo fraterno com as outras Congregações que constituem a Confederação. É mediante esse vínculo que a característica autonomia de cada Casa se abre ao dom da caridade efectiva e as Comunidades confederadas encontram uma ajuda válida para crescerem na fidelidade ao carisma oratoriano.

Cada Congregação dedique um cuidado particular à formação inicial e permanente dos indivíduos e das Comunidades, para assimilar o ideal transmitido por São Filipe e reproposto pelos textos constitucionais, em vista de uma crescente vitalidade espiritual e de uma eficaz presença apostólica.
340 Em particular, exorto-vos a deixar-vos guiar por estes valores, sobretudo ao aproximardes-vos do mundo juvenil, que é repleto de promessas, não obstante as dificuldades, sentindo-vos enviados de maneira especial a quantos estão "afastados", mas tão próximos do Coração do Salvador. Nesse contexto, ser-vos-á de grande apoio a tradicional sensibilidade dos Oratorianos pela arte e a cultura, vias particularmente idóneas para uma significativa presença evangelizadora.

A Virgem Maria, "Mãe e fundadora do Oratório", seja para cada um de vós o modelo em que vos inspirar constantemente, ao acolher com plena disponibilidade o dom do Espírito e anunciar a alegria de Cristo aos irmãos.

Com estes bons votos, enquanto vos confio à celeste intercessão de São Filipe Néri, concedo uma especial Bênção Apostólica a cada um e a toda a Congregação do Oratório.





JUBILEU DOS BISPOS


ENCONTRO COM O


SANTO PADRE JOÃO PAULO II


7 de outubro de 2000





Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. "Quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unum!" (Ps 133 [132], 1). A alegria do salmista, eco do júbilo dos filhos de Israel, é hoje a nossa felicidade. O espectáculo de muitos Bispos, reunidos de todas as partes do mundo, não se verificava desde os tempos do Concílio Vaticano II. O nosso encontro hodierno faz-me remontar com a mente aos anos de graça em que se sentiu com vigor, como frémito de um novo Pentecostes, a presença do Espírito de Deus. É bonito que o grande Jubileu nos tenha oferecido a ocasião propícia para nos encontrarmos em número tão elevado. A comunhão fraterna, que nos une em virtude da colegialidade episcopal, alimenta-nos também nestes sinais.

Agradeço-vos os sentimentos de comunhão que me expressastes pelas palavras do caríssimo D. Giovanni Battista Re, que precisamente nestes dias, após anos de serviço como meu estreito colaborador na Secretaria de Estado, assumiu o delicado e importante cargo de Prefeito da Congregação para os Bispos. Exprimo também a minha gratidão aos Cardeais Bernardin Gantin e Lucas Moreira Neves pelo precioso trabalho por eles desempenhado com diligência e sabedoria, na presidência da mencionda Congregação.

2. À primeira vista, o encontro de hoje poderia parecer supérfluo, uma vez que cada um de vós se abriu amplamente à graça do Jubileu, acompanhando os próprios fiéis a vários lugares jubilares da própria Diocese e Nação. Contudo, sentimos a necessidade de uma celebração, por assim dizer, totalmente nossa, destinada a aumentar o nosso compromisso e, antes ainda, a jubilosa gratidão pela dádiva da plenitude do Sacerdócio. Foi como se voltasse a ouvir o convite que certo dia o Mestre dirigiu aos Doze, marcados pelo cansaço do afã apostólico: "Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que descanseis um pouco" (Mc 6,31). Sem dúvida, vir hoje a Roma não significa retirar-se para um lugar deserto! Em contrapartida, junto da Sé do Sucessor de Pedro cada um de vós pode sentir-se à vontade, como se estivesse na própria casa, e todos juntos podemos viver uma hora de "repouso" espiritual, congregando-nos em redor de Cristo.

Deixastes por um momento as vossas preocupações pastorais para viver uma pausa de carga interior num encontro especial com quantos, como vós, trazem a sarcina episcopalis. Ao mesmo tempo, com este gesto sublinhastes o facto de vos sentirdes membros do único Povo de Deus, a caminho com os outros fiéis rumo ao encontro definitivo com Cristo. Sim, também os Bispos, bem como todos os cristãos, estão a caminho da Pátria e têm necessidade do auxílio de Deus e da sua misericórdia. Neste espírito, estais aqui para implorar comigo a graça especial do Jubileu.

Desta forma, podemos experimentar juntos toda a consolação da verdade enunciada por Santo Agostinho: "Para vós, sou bispo; convosco, sou cristão. O primeiro é o nome de um cargo assumido; o segundo, de uma graça. Aquele é o nome de um perigo; este, de salvação" (Sermão 340, 1: PL 38, 1483). São palavras fortes!

3. "Dilexit Ecclesiam!" (Ep 5,25). Neste momento, no nosso coração de Pastores emergem as palavras de Paulo aos Efésios: elas recordam-nos que o nosso Jubileu é antes de mais nada um convite a medir-nos com o amor que palpita no coração de Cristo. Olhemos para Ele, o Filho eterno de Deus que, na plenitude do tempo, Se fez homem no seio de Maria. Fixemos o nosso olhar n'Ele, Salvador nosso e de todo o género humano. Olhemos para Ele que, com a Encarnação, num certo sentido Se tornou "consanguíneo" de cada homem. O raio do seu amor é tão vasto quanto o mundo. Ninguém é excluído do seu olhar de amor.

341 Aberto ao mundo, o amor de Cristo é ao mesmo tempo um amor de predilecção. Amor universal e amor de predilecção não se contradizem, mas são dois círculos concêntricos. É em virtude do amor de predilecção que Cristo gera a Igreja como seu corpo e sua esposa, fazendo deles o sacramento da salvação para todos. Dilexit eam! Hoje sentimo-nos de novo alcançados, juntamente com todo o povo de Deus, por este olhar de amor.

Naquele dilexit Ecclesiam cada um de nós encontra o modelo e a força do seu ministério, o fundamento e a raiz viva do mistério que o habita. Caríssimos Irmãos no Episcopado, como pessoas sacramentalmente configuradas com Cristo, Pastor e Esposo da Igreja, somos chamados a "reviver" nos nossos pensamentos, sentimentos e opções o amor e a abnegação total de Jesus Cristo pela sua Igreja. Em última análise, o amor a Cristo e o amor à Igreja são um amor único e indivisível. Imitando e compartilhando o dilexit Ecclesiam de Cristo, neste diligere Ecclesiam encontram-se a graça e o compromisso desta nossa celebração jubilar.

4. O Apóstolo indica de forma luminosa a finalidade suprema do dilexit Ecclesiam: "Cristo amou a Igreja e entregou-Se por ela... e santificou-a" (
Ep 5,25-26). Assim é também o nosso múnus episcopal: ele está ao serviço da santidade da Igreja.

Cada uma das nossas actividades pastorais tem como objectivo último a santificação dos fiéis, a começar pelos sacerdotes, nossos directos colaboradores. Por conseguinte, deve ter em vista suscitar neles o compromisso de responder ao chamamento do Senhor com prontidão e generosidade. E não é acaso o nosso próprio testemunho de santidade pessoal o apelo mais credível e mais persuasivo que os leigos e o clero têm direito a esperar no seu caminho rumo à santidade? Proclamou-se o Jubileu precisamente para "suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade" (Tertio millennio adveniente, TMA 42).

É necessário redescobrir aquilo que o Concílio Vaticano II diz sobre a vocação universal à santidade. Não é por acaso que o Concílio se dirige em primeiro lugar aos Bispos, recordando que devem "desempenhar o seu ministério santamente e com entusiasmo, com humildade e fortaleza; assim, encontrarão nele um magnífico meio da santificação própria" (Lumen gentium, LG 41). Como se vê, é a imagem de uma santidade que cresce ao lado do ministério, mas através do mesmo ministério. Uma santidade que se desenvolve como caridade pastoral, encontrando o seu paradigma em Cristo Bom Pastor e impelindo cada pastor a tornar-se o "modelo da grei" (cf. 1P 5,3).

5. Esta caridade pastoral deve vivificar os tria munera em que se articula o nosso ministério. Em primeiro lugar o munus docendi, ou seja, o serviço do ensino. Quando relemos os Actos dos Apóstolos, ficamos impressionados perante o fervor com que o primeiro núcleo apostólico semeava a mãos-cheias, com a força do Espírito, a semente da Palavra. Devemos encontrar de novo o entusiasmo pentecostal do anúncio. Em um mundo que, através dos mass media, conhece uma espécie de inflação das palavras, o verbo do Apóstolo só pode distinguir-se e progredir apresentando-se, com toda a luminosidade evangélica, como palavra repleta de vida. Não tenhamos medo de anunciar o Evangelho, "opportune et importune" (2Tm 4,2).

Sobretudo hoje, no meio de muitas vozes discordantes que criam confusão e perplexidade na mente dos fiéis, o Bispo tem a grave responsabilidade de esclarecer. O anúncio do Evangelho é o acto de amor mais excelso em relação ao homem, à sua liberdade e à sua sede de felicidade.
Através da Liturgia, fonte e ápice da vida eclesial (cf. Sacrosanctum concilium, SC 10), esta mesma caridade torna-se sinal, celebração e acção orante. Aqui, o dilexit Ecclesiam de Cristo faz-se memória viva e presença eficaz. Nesta obra, mais que em qualquer outra, o papel do Bispo delineia-se como munus sanctificandi, ministério de santificação, graças à presença operosa d'Aquele que é o Santo por excelência.

Enfim, a caridade do Bispo deve brilhar no vasto âmbito da orientação pastoral: no munus regendi. Exige-se muito de nós. Em tudo devemos trabalhar "como bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos, como verdadeiros pais que se distinguem pelo espírito de amor e solicitude por todos" (Christus Dominus, CD 16). Trata-se de um serviço de caridade que não deve ignorar ninguém, mas há-de presar atenção especial aos "últimos", mediante a "opção preferencial pelos pobres" que, vivida segundo o exemplo de Jesus, é expressão tanto de justiça como de caridade.

6. Dilectos Irmãos, o Jubileu é o tempo da "grande indulgência". As graves responsabilidades que nos são confiadas e as não poucas dificuldades que hoje o nosso ministério episcopal encontra tornam mais acentuada e sofrida a consciência da nossa pequenez espiritual e, por conseguinte, mais vigorosa e insistente a invocação ao amor indulgente do Pai. Mas a misericórdia que nos advém do sacrifício de Cristo, o qual se torna presente todos os dias na Eucaristia, infunde-nos uma esperança extremamente sólida. Devemos anunciar e testificar esta esperança perante um mundo que a extraviou ou deturpou. Trata-se de uma esperança fundamentada na certeza de que Cristo está sempre presente e operante na sua Igreja e na história da humanidade.

Às vezes pode parecer, como no episódio evangélico da tempestade acalmada (cf. Mc Mc 4,35-41 Lc 8,22-25), que Cristo dorme e nos deixa à mercê das vagas agitadas. Porém, sabemos que Ele está sempre pronto a intervir com o seu amor todo-poderoso e salvífivo. Ele continua a dizer-nos: "Tende coragem; Eu venci o mundo" (Jn 16,33).

342 Sustenta-nos em cada um das nossas fadigas a proximidade de Maria, a Mãe que Cristo nos deu da Cruz, dizendo ao Apóstolo predilecto: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jn 19,26). A Ela, Regina Apostolorum, confiamos as nossas Igrejas e vidas, abrindo-nos com fé à aventura e aos desafios do novo Milénio.







Discursos João Paulo II 2000 334