Discursos João Paulo II 2000 364

AOS PEREGRINOS DA


SOBERANA ORDEM MILITAR DE MALTA


Quinta-feira, 19 de Outubro de 2000



Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Desejo dirigir as minhas cordiais boas-vindas a cada um de vós, Cavaleiros e Damas da Soberana Ordem Militar de Malta, vindos a Roma de todas as partes do mundo para celebrar o Grande Jubileu. Saúdo, em particular, o Grão-Mestre, Fra' Andrew W. N. Bertie, agradecendo-lhe as amáveis e nobres palavras, que quis dirigir-me em nome de todos os presentes. O meu afectuoso pensamento dirige-se ao Senhor Cardeal Pio Laghi, Patrono dessa Soberana Ordem Militar, que quis participar neste encontro. Com ele saúdo D. Donato de Bonis, vosso Prelado.

Este encontro reveste um especial significado, porque acontece no contexto do Ano Santo 2000 e testemunha a profunda comunhão que une os membros da vossa Ordem ao Sucessor de Pedro. Nesta circunstância, é-me grato exprimir ao Governo da Ordem, assim como a quantos generosamente se prodigalizam nos serviços de pronto socorro nas Basílicas romanas e nas outras iniciativas jubilares, o meu vivo apreço e o meu reconhecimento pela preciosa e constante contribuição que estão a oferecer ao bom êxito do evento jubilar.

2. O Grande Jubileu, com o qual a Igreja recorda o segundo milénio da encarnação do Verbo, é um "ano de graça": ano da remissão dos pecados e das penas pelos pecados, ano da reconciliação entre os contendentes, ano de múltiplas conversões e de penitência sacramental e extra-sacramental. Em particular, trata-se de um ano ligado "à concessão de indulgência de modo mais amplo que noutros períodos" (Tertio millennio adveniente, TMA 14) e ao restabelecimento da justiça de Deus, expressão concreta do mandamento do Senhor.

365 Na Bula de proclamação do Jubileu eu escrevi: "Um sinal da misericórdia de Deus, particularmente necessário hoje, é o da caridade, que abre os nossos olhos às carências daqueles que vivem pobres e marginalizados. Tais situações estendem-se hoje sobre vastas áreas sociais e cobrem com a sua sombra mortífera populações inteiras" (Incarnationis mysterium, 12).

Quanto a isto, desejaria aqui fazer referência às beneméritas iniciativas que a vossa Ordem leva avante em diversos contextos de indigência moral e espiritual. Elas são animadas por uma grande disponibilidade para com os necessitados, tornando-lhes visível e concreto o amor do Senhor e da Igreja. São iniciativas que às vezes constituem um válido encorajamento e como que um modelo para quantos desejam contribuir com os seus esforços para realizar um mundo novo, capaz de restituir dignidade e dar esperança a quem vive oprimido por modernas formas de escravidão e está ferido no corpo e no espírito.

3. Refiro-me de modo especial ao serviço profético a favor de marginalizados e excluídos, que prestais com o ardor de uma autêntica batalha para a promoção integral do ser humano. Graças a essa nobre batalha em prol da defesa e da valorização do homem, missão à qual desde há diversos séculos se dedica a vossa Ordem, pudestes levantar o estandarte do amor em muitas partes dos cinco continentes, onde doença e pobreza humilham a pessoa e, infelizmente, insidiam o seu futuro.
É uma verdadeira estratégia do amor, que vos vê empenhados nos hospitais, nos leprosários, nos grupos de socorro, asilos para crianças e casas de repouso para anciãos. Em toda a parte preocupai-vos por levar avante as primárias finalidades da vossa secular Ordem: a "tuitio fidei" e o "obsequium pauperum", recordando sempre quanto afirmava o Fundador, o Beato Gerardo: "A nossa Instituição durará até que a Deus aprouver fazer nascer homens desejosos de tornar o sofrimento mais leve e a miséria mais suportável".

4. Irmãos e Irmãs caríssimos, nesse positivo contexto, a especial efusão de graça do Ano jubilar constitui para cada um de vós e para a vossa inteira Família espiritual uma renovada ocasião de fidelidade a Cristo e aos irmãos.

O Jubileu, exorta-vos a fixar o olhar em Cristo, Redentor do homem, e a acolhê-Lo com amor e consciência sempre mais intensos. Durante esta vossa peregrinação jubilar, de maneira muito especial, tivestes oportunidade de vos dedicar à escuta do Evangelho e à oração e, ao aproximardes-vos dos Sacramentos, quisestes renovar a vossa fidelidade a Cristo. É só d'Ele, fonte de vida imortal, que podeis haurir nova força e novas energias para, com o espírito do bom Samaritano, ir ao encontro das necessidades dos pobres, sempre mais evidentes e trágicas no mundo contemporâneo. É somente com a sua ajuda que podereis em qualquer circunstância oferecer às expectativas dos pobres respostas não só competentes, mas profundamente inspiradas pelo amor evangélico.

O evento jubilar estimula-vos, além disso, a ser nos contextos em que trabalhais testemunhas incessantes de autêntica comunhão fraterna. Chama-vos a proclamar, com as palavras e a vida, a verdade de Cristo, para que a vossa presença constitua, para todos aqueles com quem vos encontrais, um modelo de nova convivência humana e civil. Possam as vossas actividades constituir ocasiões privilegiadas de evangelização e representar um ponto de referência seguro para todos aqueles que, com coração sincero, procuram o Reino de Deus e a sua justiça.

Desta celebração jubilar deriva, por fim, para cada um de vós um intenso entusiasmo para testemunhar o evangelho da caridade, em um mundo dominado pelo egoísmo e pelo pecado. As vossas estruturas constituem luminosos postos avançados da civilização do amor e realizações eficazes da doutrina social da Igreja.

Com estes sentimentos, enquanto confio cada um de vós, peregrinos da Soberana Ordem Militar de Malta, à celeste protecção da Virgem "Consoladora dos aflitos" e de São João Baptista, de coração concedo-vos uma especial Bênção Apostólica, em penhor de copiosos dons e graças jubilares.

Desejo à inteira Ordem de Malta uma boa continuação. O Senhor abençoe todos vós. Obrigado pela vossa visita a Roma e ao Vaticano.





MENSAGEM DO DO SANTO PADRE


PARA A INAUGURAÇÃO DO


CENTRO INTERNACIONAL DE


"COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO"


: Ao Venerado Irmão
366 ANGELO Cardeal SODANO
Secretário de Estado

Desde o início do meu pontificado dediquei uma atenção especial às novas agregações laicais, sobretudo aos movimentos para que, sob a orientação iluminada e prudente dos Pastores, constituam um recurso providencial de energia missionária na Igreja e nas diversificadas situações culturais, sociais e ambientais em que o homem hoje vive e se exprime. Entre estas novas agregações, o Senhor suscitou "Comunhão e Libertação" que, realizando um desejo longamente cultivado por Mons. Luigi Giussani, inaugura hoje em Roma um próprio Centro Internacional, confiado à responsável guia do Prof. Jesus Carrascosa e da sua Esposa, Sra. Juana Echarri.

Desta forma, o Movimento "Comunhão e Libertação", que surgiu em Milão e se desenvolveu primeiro na Lombardia, difundindo-se depois em toda a Itália e que actualmente se encontra presente em todos os continentes, pode agora conferir uma forma estável à própria missão eclesial.

A Cidade eterna, onde está a Sede de Pedro, reveste de facto um significado especial para todas as comunidades e movimentos: em Roma encontram-se as Casas Gerais de muitos Institutos religiosos, as Sedes de um número relevante de Instituições culturais, eclesiásticas e civis, os Centros directivos de outras comunidades e agregações laicais internacionais. Graças à inauguração deste Centro, também o Movimento "Comunhão e Libertação" passa desta forma a encontrar-se no coração pulsante da cristandade, para oferecer com renovado empenho o seu serviço à Sede de Pedro e a toda a Igreja.

Confio à materna protecção de Maria, Mãe da Igreja, a obra que hoje é inaugurada, e envio de coração a Vossa Eminência, Venerado Irmão, que presidirá à solene cerimónia de inauguração, aos responsáveis do Movimento "Comunhão e Libertação" e a quantos se encontram presentes uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 17 de Outubro de 2000.




AOS JOVENS DA "COMUNIDADE ENCONTRO"


Praça de São Pedro 20 de outubro de 2000



Queridos Amigos
da "Comunidade Encontro"!

1. Bem-vindos! Acolho-vos de bom grado nesta Audiência especial e saúdo todos vós com afecto.

367 O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, ao fundador da Comunidade, o estimado Padre Pierino Gelmini, a quem apresento cordiais felicitações pelos seus cinquenta anos de sacerdócio há pouco celebrados, agradecendo-lhe as amáveis palavras que em vosso nome acabou de me dirigir.

Juntamente com ele saúdo os Bispos presentes, os sacerdotes, os colaboradores e os voluntários que prestam a sua generosa obra na Comunidade. Saúdo, além disso, as numerosas Autoridades de diversos países, de todas as ordens e graus, que quiseram honrar-nos neste dia com a sua grata presença. A cada um vai o meu deferente pensamento. Com os mesmos sentimentos dirijo-me aos pais, aos amigos, aos parentes, aos grupos de apoio e de sustentação que não quiseram faltar a este significativo encontro jubilar.

Mas é com afecto muito especial que vos abraço, queridos rapazes e moças, residentes nos centros da "Comunidade Encontro", encaminhados na vereda do renascimento espiritual e físico depois da triste experiência da droga.

2. Viestes de muitas cidades e nações em peregrinação para atravessar a Porta Santa; viestes para encontrar Cristo e reafirmar com decisão a vossa vontade de caminhar juntamente com Ele, rumo a um futuro mais sereno e responsável. Muitos de vós trouxeram consigo o bastão entalhado durante o período penitencial da Quaresma. Ele é um sinal que evoca um apoio espiritual para aliviar a fadiga do caminho. É para vós um símbolo da peregrinação interior empreendida, que vos deve conduzir a uma existência sempre mais repleta de fé, de esperança e de amor.

O Papa quer-vos bem e acompanha-vos com a sua oração e uma constante recordação. Aproveito de bom grado esta circunstância para repetir a vós aqui presentes, e a todos aqueles que em qualquer parte do mundo estão empenhados na luta contra a droga e a favor da vida: a Igreja está convosco, caminha ao vosso lado!

3. Queridos rapazes e moças, a vossa família espiritual chama-se "Comunidade Encontro", porque nasceu de um significativo encontro na Praça Navona, há 37 anos. Ela quer oferecer, a quem acabou no beco sem saída da droga, a possibilidade de reencontrar o caminho da esperança. Os centros em que sois acolhidos contribuem não pouco para vos ajudar neste empenho de recuperação pessoal. São lugares de fraternidade, onde a cada um é oferecida uma ulterior possibilidade para não desperdiçar o bem precioso da vida.

Quem passou pela triste experiência da droga bem sabe o como ela gera solidão, abandono e às vezes desespero profundo. Perante um semelhante drama, que ataca a pessoa humana e a própria existência física, e que constitui um fenómeno preocupante na sociedade contemporânea, a Igreja tem afirmado repetidas vezes que drogar-se jamais é uma solução. Ela quer reafirmar com força essa convicção diante de opiniões que desejariam a liberalização das susbtâncias entorpecentes ou, pelo menos, uma sua parcial licitude, julgando que o livre acesso a essas substâncias contribui para limitar ou reduzir os danos às pessoas e à sociedade.


3. Não se combate a droga com a droga. Quem, infelizmente, se encontrou envolvido pelas garras das substâncias estupefacientes testemunha que essa experiência é uma fuga de si mesmo e da realidade. A droga é muitas vezes a consequência do vazio interior: é rejeição, renúncia ou perda de orientação que em geral leva ao desespero. Eis por que a droga não se vence com a droga, mas é preciso uma vasta acção de prevenção, que substitua a cultura da morte pela cultura da vida. É necessário oferecer aos jovens e às famílias razões concretas de empenho e sustentá-los de maneira eficaz nas suas dificuldades de cada dia.

Queridos amigos, encontrastes a verdadeira alternativa às inúmeras substâncias que atordoam a pessoa humana no seio de comunidade que, mais do que propor soluções técnicas, oferece um itinerário de renascimento humano e espiritual. Felizmente existem no mundo muitas outras estruturas como a vossa, onde não poucos dos vossos amigos têm a sorte de sair do fosso da droga. A todos aqueles que trabalham neste sector quereria fazer chegar o meu encorajamento e o meu pensamento cordial.

Trata-se de presenças preciosas que se unem às famílias provadas por difíceis situações de transtorno. A Igreja está grata a todos os que prestam um semelhante servico, abnegado e competente, à vida e à dignidade do homem.

4. Caríssimos, agradeço-vos os dois presentes que o Padre Pierino, em vosso nome, quis oferecer-me: a abertura dos novos centros em Nova Iorque e no Casaquistão, e esta bela estátua de Cristo ressuscitado. Jesus ressuscitado indica a todos vós que n'Ele é possível olhar para o futuro com renovada confiança. Ele vos conduz ao amoroso abraço do Pai celeste. A sua misericórdia impele-vos a prosseguir na estrada que empreendestes, para que, renascidos para a vida, possais oferecer, como protagonistas, a vossa contribuição para a edificação de uma sociedade livre de todo o tipo de drogas. Levai às vossas comunidades a serenidade que hoje vejo nos vossos rostos. Sabei testemunhar sempre a coragem de se reerguer, quando se cai, e de retomar com prontidão o caminho, mesmo quando isto exige sacrifício e renúncias. Cristo, médico das almas, é vosso amigo. Ele é o único Redentor.

368 Maria, que honrais com o significativo título de "Nossa Senhora do Sorriso", vos ampare com a sua materna intercessão. Acolha quantos nestes anos morreram, vítimas da droga e das suas consequências, e esteja ao lado das famílias marcadas por este drama. Acompanhe todos com a sua poderosa protecção.

Com estes sentimentos, asseguro-vos a minha oração e de bom grado concedo uma especial Bênção a cada um de vós e às pessoas que vos são queridas.





MENSAGEM DO SANTO PADRE À


ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO


CONSELHO DAS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS DA EUROPA





1. A Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, que se reuniu em Bruxelas de 19 a 23 de Outubro, reveste uma particular importância neste ano do Grande Jubileu em que toda a Igreja celebra o segundo milénio do nascimento do Salvador. Este encontro é uma renovada manifestação dos laços de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro e uma expressão particularmente significativa de colegialidade entre os bispos do continente, para anunciar em conjunto, com audácia e fidelidade, o nome de Jesus Cristo.

Ao longo da sua história, a Europa recebeu o tesouro da fé cristã, fundando a sua vida social sobre os princípios tirados do Evangelho. Assim se descobre o cristianismo de maneira permanente nas artes, na literatura, no pensamento e na cultura das nações europeias. Esta herança não pertence somente ao passado e importa transmiti-la às gerações futuras, porque ela é a matriz da vida das pessoas e dos povos que, em conjunto, forjaram o continente europeu.

2. O vosso encontro é uma ocasião para desenvolver o intercâmbio de dons entre as Igrejas locais, para pôr em comum as experiências pastorais do Ocidente e do Oriente da Europa, do Norte e do Sul, para vos enriquecer e iluminar reciprocamente e reforçar as diversas comunidades locais. Isso permite-vos também fazer a experiência da comunhão eclesial, que é sempre um dom de Deus, mas também uma tarefa a realizar. Para que as Igrejas católicas na Europa assumam a sua missão, que é sempre a mesma e sempre nova porque a "Igreja... existe para evangelizar" (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, EN 14), importa que todos os seus membros estejam disponíveis aos apelos do Espírito, para trabalhar intensamente a favor da nova evangelização.

Nesta perspectiva encorajo-vos a prestar uma atenção cada vez maior à educação da fé dos jovens e dos adultos. A experiêncdia de catequese durante os dois últimos encontros da Jornada Mundial da Juventude, no descurso dos quais os jovens manifestaram um profundo desejo de conhecer a Cristo e de viver a sua Palavra, recorda-nos a urgência de oferecer aos fiéis uma sólida formação cristã, moral, espiritual e humana. Como sublinhou o Concílio Ecuménico Vaticano II, esta é uma das tarefas primordiais do Bispo, que tem a missão de ensinar e de conduzir o povo cristão à perfeição (cf. Christus Dominus ). Em todas as vossas Igrejas está aberto o vasto domínio da formação doutrinal, espiritual e pastoral para ajudar os fiéis leigos a exercer a sua missão baptismal na Igreja, em comunhão com os Pastores, e a anunciar de modo inequivocável a salvação trazida por Cristo. Num mundo caracterizado pelo desenvolvimento das ciências e das técnicas, uma verdadeira inteligência da fé dará aos cristãos os meios de "testemunhar a esperança que vive neles" (cf. 1P 3,15), e de propor aos seus contemporâneos o Evangelho como caminho de vida e base de acção moral pessoal e colectiva.

De igual modo, quero sublinhar a importância decisiva da formação dos sacerdotes e dos diáconos, chamados a ser ministros de Jesus Cristo e vossos colaboradores. Assim, formarão uma "preciosa coroa espiritual" à volta de vós (Santo Inácio de Antioquia Carta aos habitantes da Magnésia, 1, 13) e serão, pelas suas palavras e acções, as testemunhas do Senhor, Esposo e Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Como poderiam eles manifestar este dom de Cristo, que se entregou pela Igreja (cf. Ef Ep 5,25), sem se dar inteiramente à sua missão e andar pelos caminhos da santidade?

3. No conjunto do continente, notam-se disparidades no que diz respeito às vocações sacerdotais. Enquanto alguns países conhecem uma falta inquietante de seminaristas e de jovens sacerdotes, outras nações, nomeadamente do Leste, vêem cada vez mais jovens comprometer-se no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada. Devemos rezar sem nos cansarmos e "pedir ao Mestre da seara que mande operários para a sua messe" (Mt 9,37). Ao mesmo tempo, é oportuno desenvolver em cada diocese, e em conjunto com as outras, uma vigorosa pastoral das vocações, que proponha aos jovens um caminho de fé, uma caminhada espiritual, uma experiência eclesial, assim como um ensino filosófico e teológico de qualidade. Sei que alguns países e algumas regiões organizaram uma partilha para uma melhor repartição do clero. Convido-vos de bom grado a prosseguir a reflexão neste sentido.

4. A Europa está a construir-se como "união". A Igreja tem uma contribuição específica a dar nesse campo; os cristãos não só se podem unir a todos os homens de boa vontade para trabalhar na construção deste grande projecto mas, mais ainda, são convidados a ser de alguma maneira a sua alma, mostrando o verdadeiro sentido da organização da cidade terrestre. Não devemos considerar a Europa somente como um mercado de trocas económicas ou um espaço de livre circulação de ideias, mas antes e acima de tudo, como uma verdadeira comunidade de nações que querem unir os seus destinos para viver como irmãos, no respeito pelas culturas e práticas espirituais que, entretanto, não podem situar-se fora do projecto comum ou em oposição a ele. Ao mesmo tempo, o reforço da união no seio do Continente lembra às Igrejas e Comunidades eclesiais que também elas têm de dar um passo suplementar no caminho da unidade.

5. Cabe às Autoridades civis velar para que as estruturas e as instituições europeias estejam sempre ao serviço do homem, que nunca deve ser considerado como um objecto que se pode trocar ou vender, explorar ou manipular. Ele é uma pessoa, criada à imagem de Deus, em que se reflecte o amor benévolo do Criador e Pai de todos. Cada homem, seja ele quem for, quaisquer que sejam as suas origens ou as suas condições de vida, merece o respeito absoluto. A Igreja não deixa de lembrar estes princípios de base da vida social. Hoje, face aos campos abertos da ciência, nomeadamente da genética e da biologia, diante da prodigiosa evolução dos meios de comunicação e dos intercâmbios a nível planetário, a Europa pode e deve trabalhar para defender em toda a parte a dignidade do homem desde a sua concepção, e melhorar cada vez mais as suas condições de vida, trabalhando em favor de uma justa partilha de riquezas, dando a todos os homens uma educação que os ajude a ser actores da vida social e um trabalho, que lhes permita viver e os ajude a ir ao encontro das necessidades do seu próximo. A este respeito é importante lembrar também, oportuna e inoportunamente, o lugar e o valor inestimável do vínculo conjugal e da família, que não podem ser postos em pé de igualdade com outros tipos de relação, sob pena de destruir, de modo muito forte, a estrutura do tecido social e de tornar cada vez mais frágeis as crianças e os jovens.

6. Neste serviço ao homem, todos os Europeus se devem comprometer incansavelmente na causa da paz. Se olharmos para o século que termina, vemos que o velho continente conduziu por duas vezes o mundo inteiro à tragédia e à desolação da guerra. Começa hoje a aprender as exigências da reconciliação e do entendimento entre os povos. As novas pontes, lançadas entre as nações europeias, são ainda instáveis e poucos seguras. O conflito nos Balcãs veio lembrar a todos os países da Europa a fragilidade da paz e a necessidade de trabalhar para a consolidar todos os dias. Revelou ainda os nacionalismos exacerbados e a necessidade de abrir novas perspectivas de acolhimento e de intercâmbio, e inclusivamente de reconciliação entre as pessoas, os povos e as nações da Europa.

369 7. A história do continente europeu confunde-se, desde há séculos, com a história da evangelização. A Europa não é verdadeiramente um território fechado ou isolado; ela construiu-se indo além-mar, ao encontro de outros povos, culturas e civilizações. Esta história indica uma exigência: a Europa não pode fechar-se sobre si mesma. Não pode nem deve desinteressar-se do resto do mundo; pelo contrário, há-de ter plena consciência de que outros países e continentes esperam dela iniciativas audazes, para oferecer aos povos mais pobres os meios para o seu desenvolvimento e a sua organização social e para edificar um mundo mais justo e fraterno.

8. No início do meu Pontificado, escrevia que o "homem é a via da Igreja, via da sua vida e experiência quotidianas, da sua missão e actividade" (Redemptor hominis,
RH 14). Que as vossas reflexões e os trabalhos da vossa assembleia contribuam para modelar o homem europeu! Pedindo à Bem-aventurada Virgem Maria que vos acompanhe com a sua protecção maternal, concedo-vos de todo o coração a Bênção apostólica, bem como a todos os membros do Conselho das Conferências Episcopais da Europa e aos seus colaboradores.



Vaticano, 16 de Outubro de 2000.




AO NOVO EMBAIXADOR DA COSTA DO MARFIM


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: Sexta-feira, 20 de Outubro de 2000

Senhor Embaixador

1. Excelência, é-me grato dar-lhe as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Costa do Marfim junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as amáveis palavras que Vossa Excelência me dirigiu, e agradecer-lhe-ia se transmitisse o meu reconhecimento ao Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Robert Gueï, pelos bons votos que me quis fazer chegar por seu intermédio. Além disso, saúdo muito cordialmente todo o povo da Costa do Marfim. Formulo votos para que nesta fase da sua história encontre o vigor de ânimo necessário para continuar, na paz e na solidariedade entre todos os seus componentes, os seus esforços corajosos que visam o desenvolvimento humano e espiritual.

2. Na sua alocução, Vossa Excelência fez menção das importantes mudanças por que o seu país está a passar. Após ter conquistado a própria independência, a Costa do Marfim demonstrou quanto valoriza a sua longa tradição de fraternidade e de hospitalidade. Hoje, enquanto novas problemáticas se apresentam à nação, é necessário que ela preserve esta herança e consolide a sua unidade. A utilização da violência para resolver as contendas só pode levar a revigorar as divisões e as tensões e, a longo prazo, a hipotecar a ordem social. A paz constitui um tesouro inestimável que, para se conservar integralmente, exige que a edificação da sociedade se fundamente nos princípios de igualdade, verdade, justiça e solidariedade. Só assim se poderá garantir os direitos humanos fundamentais para todos.

Como já tive ocasião de o pôr em evidência, "está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitos indivisíveis e interdependentes: o direito à paz e o direito a um progresso integral e solidário" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, 13). Faço votos para que os esforços levados a cabo durante estes últimos anos, com vista a dar aos habitantes da Costa do Marfim melhores condições de vida, continuem e permitam a todos usufruir os benefícios do progresso. Por isso, é necessário que se manifeste uma vontade convicta de buscar e de pôr em prática soluções adequadas a fim de prover às necessidades essenciais das pessoas e das famílias, e de assegurar uma partilha equitativa das vantagens e das responsabilidades, mediante uma gestão salubre do património comum.

3. O compromisso da Igreja católica na vida das sociedades humanas inscreve-se na missão própria que lhe foi transmitida por Cristo. Por sua vez, ela deseja contribuir para a edificação de uma comunidade nacional unida e fraterna. Desta forma, quer favorecer as relações de confiança e percorrer os caminhos de uma reconciliação genuína entre os habitantes do país. Por isso, é necessário um clima de diálogo que respeite as diferenças legítimas, dado que o aumento da animosidade étnica ou religiosa constitui uma ameaça séria contra a paz e a unidade, e é contrário ao desígnio de Deus para a humanidade. Para os católicos, "o desafio do diálogo é fundamentalmente o desafio da transformação das relações entre os homens, as nações e os povos na vida religiosa, política, económica, social e cultural" (Ecclesia in Africa, ).

Além disso, para enfrentar os problemas complexos que se apresentam ao longo das veredas do desenvolvimento harmonioso das sociedades, a Igreja exorta os responsáveis da vida pública a uma tomada de consciência dos valores morais cada vez maior e mais autêntica. É disto que depende a confiança do povo naqueles que foram chamados a servi-lo na administração pública. Estes valores universais, tais como o respeito por toda a vida humana e a sua dignidade, a solidariedade e o sentido do bem comum e o acolhimento fraterno do forasteiro são particularmente preciosos para os povos africanos. Trata-se de um património inestimável que, se for aceite e desenvolvido, se há-de tornar um manancial de esperança no porvir, permitindo que a vida social se funde sobre bases firmes.

370 4. Senhor Embaixador, nesta circunstância solene, por intermédio da sua pessoa desejo saudar com afecto os membros da comunidade católica da Costa do Marfim. Convido-os a permanecerem unidos ao redor dos seus Bispos, a fim de serem na sociedade nacional fermento de fraternidade e de reconciliação, mediante uma colaboração generosa e leal com os seus concidadãos. O Ano jubilar seja um estímulo que os ajude a confirmar a própria fé em Cristo Salvador e a tomar uma renovada consciência da vocação de testemunhas do Evangelho, à qual foram chamados!

5. No momento em que Vossa Excelência dá início à sua missão junto da Santa Sé, ofereço os meus cordiais bons votos para a nobre tarefa que o espera. Garanto-lhe que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, uma assistência atenciosa e cordial.

Sobre o Senhor Embaixador e a sua família, o povo da Costa do Marfim e todos aqueles que presidem ao destino da Nação, invoco do íntimo do coração as abundantes Bênçãos divinas.




A VÁRIOS GRUPOS DE PEREGRINOS JUBILARES


Sábado, 21 de Outubro de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Aos peregrinos do Vicariato diocesano de Bolonha

1. Tenho a alegria de vos dar as boas-vindas a esta Audiência jubilar, na vigília do Dia Missionário Mundial. Também nesta circunstância é reproposto à nossa reflexão o grande mistério da encarnação do Verbo divino, ocorrida há dois mil anos no seio de Maria. Portanto, este encontro constitui uma ocasião mais favorável do que nunca para tomar maior consciência da urgência de levar ao terceiro milénio o grande anúncio da salvação, que Deus ofereceu à humanidade.

Neste clima de festa e de compromisso missionário, saúdo todos vós, vindos a Roma em peregrinação jubilar, a começar pelo Grupo de peregrinos do Vicariato diocesano de Bolonha Norte, guiado pelo Bispo Auxiliar D. Ernesto Vecchi, a quem agradeço a homenagem a mim dirigida em nome de todos. Caríssimos, recordo sempre com prazer a Visita à vossa Cidade, há três anos, por ocasião do solene encerramento do Congresso Eucarístico Nacional. Fui precisamente ao território do vosso Vicariato. Recordo a grande Vigília de oração e a sucessiva solene Celebração Eucarística conclusiva. Conservai sempre viva na alma a memória daquele evento eclesial, que foi um momento importante no caminho de preparação para o Grande Jubileu. No "centro" do Jubileu está, de facto, Jesus eucarístico, fonte e ápice de toda a evangelização. É d'Ele que podereis haurir constantemente energia e coragem para a missão a que Deus vos chama.

Sei que recentemente as relíquias do vosso Padroeiro, o santo Bispo Petrónio, foram transladadas para a Basílica a ele dedicada. Congratulo-me convosco por isto e faço votos por que também essa significativa celebração vos ajude a manter viva a consciência da vossa identidade "petroniana". Nossa Senhora de São Lucas, tão querida aos bolonheses, e São Petrónio, vosso especial protector, vos sustentem neste renovado caminho de vida e de testemunho cristão.

Aos romeiros da Diocese de Palestrina

2. O meu afectuoso pensamento dirige-se agora aos fiéis provenientes da Diocese de Palestrina, presentes nesta Audiência juntamente com o seu Pastor, D. Eduardo Davino, que interpretou com entusiasmo os sentimentos de todos. Caríssimos, a peregrinação aos Túmulos dos Apóstolos representa um forte convite a fazer a experiência do perdão, da reconciliação e da renovação de vida. Trata-se de um apelo a recomeçar, cada dia, o caminho de fé e de participação na vida da comunidade cristã. Esse empenho a recomeçar deve, obviamente, ser entendido não numa ordem por assim dizer cronológica, mas antes em sentido espiritual. Encorajo-vos a perseverar.

371 Faço votos para que a celebração do Ano Santo e, em particular, a visita à Sé de Pedro e a passagem pela Porta Santa, façam aumentar em todos vós o desejo de autêntica conversão, para iniciardes um mais intenso e generoso caminho de abertura à graça divina e de testemunho dos valores evangélicos.

Aos fiéis da Diocese de Crema

3. Dirijo-me agora a vós, caríssimos fiéis provenientes da Diocese de Crema, juntamente com o vosso Bispo, D. Angelo Paravisi, para quem vai o meu reconhecimento pelos sentimentos expressos em nome de todos. Este encontro faz-me recordar o caloroso acolhimento que a vossa Comunidade me reservou por ocasião da Visita pastoral, que pude realizar a Crema em Junho de 1992. Sei que vos preparastes para este encontro com o Sínodo diocesano e com as várias etapas, que progressivamente marcaram o caminho pastoral da vossa Diocese nestes últimos anos.
Exorto-vos a prosseguir com renovado entusiasmo no vosso esforço de fidelidade ao Evangelho. Hauri luz e força do sugestivo episódio evangélico dos discípulos de Emaús, no qual se inspira o vosso itinerário pastoral. A fascinante descoberta da presença viva do Senhor ressuscitado, através da escuta da sua palavra e da "fracção do Pão", vos incentive a aprofundar a comunhão e a colaboração pastoral dentro das vossas Comunidades e renove o vosso impulso ao fazerdes-vos anunciadores do Evangelho da salvação.

A vários grupos paroquiais

4. Uma saudação afectuosa vai depois para o numeroso grupo de peregrinos das paróquias de São Tamaro, São Vito, Santa Catarina, Nossa Senhora do Bom Conselho em Grumo Nevano, da Diocese de Aversa, de onde provém o caro D. Crescenzio Sepe, Secretário do Comité para o Grande Jubileu do Ano Santo 2000, que oportunamente se fez intérprete dos sentimentos dos conterrâneos. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a hodierna celebração junto da Cátedra de Pedro vos fortaleça no vosso caminho pessoal e eclesial rumo a uma fé sempre mais sólida e amadurecida, que continue a traduzir-se em iniciativas de caridade ao serviço dos irmãos.

Sede conscientes do vosso papel no seio de uma Comunidade cristã que vive intensamente a própria condição ministerial em relação ao mundo, ao qual sente o dever de apresentar o Evangelho de modo credível.

À Federação Italiana das Associações de Doadores de Sangue

5. O meu cordial pensamento dirige-se, além disso, aos numerosos membros da Federação Italiana das Associações de Doadores de Sangue, acompanhados pelo Bispo Auxiliar de Roma D. Armando Brambilla, que se fez intérprete dos sentimentos de cada um. Caríssimos, a doação de sangue é um grande gesto de solidariedade, que chega a envolver os aspectos mais profundos da personalidade humana, empenhando-a em viver a espiritualidade do dom. Enquanto exprimo vivo apreço pelo significativo testemunho de sensibilidade oferecido pelas vossas beneméritas associações, exorto-vos a enriquecer as suas várias actividades sociais e no campo da saúde, com uma sólida formação espiritual, a fim de serem sempre capazes de prestar serviço à vida do melhor modo possível.

A alguns jovens húngaros

6. Saúdo com muito afecto os jovens húngaros, estudantes do Liceu dos Cistercienses em Pécs. Esse encontro seja para vós fonte de graça divina.
372 Louvado seja Jesus Cristo!

A vários grupos de peregrinos

7. Enfim, dirijo afectuosas boas-vindas aos outros grupos de peregrinos. Em particular, aos membros da Associação Nacional dos Bombeiros na reserva, da Associação dos Campistas Itinerantes, da Associação das Recordações Históricas da Região das Marcas, dos "Lions Clubs" de Caserta; aos participantes no Congresso promovido pelo Instituto da Caridade e aos Frades Capuchinhos da Província religiosa da Úmbria. Chegue a todos a minha afectuosa saudação, juntamente com os votos de uma intensa e frutuosa celebração jubilar.
Ao invocar a protecção materna de Maria, Estrela da Evangelização e Rainha das Missões, abençoo de coração cada um de vós e também as vossas famílias, comunidades e associações.




Discursos João Paulo II 2000 364