Discursos João Paulo II 2000 372

CONCERTO EM HOMENAGEM A JOÃO PAULO II NO


XXII ANIVERSÁRIO DE PONTIFICADO


Orquestra Sinfônica da República Checa

Domingo, 22 de Outubro de 2000



Agradecimento do Santo Padre:


Desejo exprimir a minha cordial gratidão por este esplêndido concerto, que me foi oferecido pela República Checa, no contexto do Grande Jubileu. Ele permitiu-nos contemplar com a ajuda da arte o mistério de Cristo, fundamento da nossa esperança.

O meu pensamento vai, antes de tudo, para o Senhor Primeiro-Ministro e as outras Autoridades checas, que com a sua participação dão uma confirmação significativa da vontade de instaurar um clima de efectiva colaboração entre o Estado e a Igreja no seu País. Neste momento desejo transmitir uma deferente saudação ao Presidente da República Checa, Sua Excelência o Senhor Václav Havel.

Além disso, saúdo com afecto os Senhores Cardeais e os Irmãos no Episcopado, que quiseram estar presentes neste acontecimento artístico e cultural, engrandecendo-lhe a solenidade com a sua presença. A minha saudação estende-se, enfim, a todos os participantes que partilharam connosco a alegria desta maravilhosa execução. Em nome de todos dirijo as expressões de apreço ao Maestro Aldo Ceccato, que com intenso e profundo sentido interpretou e propôs a grandiosa partitura do Oratório denominado Cristo, de Franz Liszt.

Dirijo iguais sentimentos aos Solistas, aos Professores da Orquestra Filarmónica de Brno e aos Membros do Coro Filarmónico Checo de Brno. Desejo agradecer também aos organizadores, que com o seu generoso empenho tornaram possível a presente manifestação.

373 A singular experiência espiritual vivida nesta tarde leva-me a exprimir os votos de que a dignidade da arte e o património, que nos foram transmitidos pelas gerações passadas, possam introduzir o homem do novo milénio na renovada contemplação da Verdade evangélica, única garantia para a construção de uma nova civilização, plenamente fundada no respeito por todas as pessoas e culturas.

A Cristo Jesus e à Virgem Maria, sua e nossa Mãe, confio estes votos, invocando sobre todos a Bênção celeste.






AO NOVO EMBAIXADOR DOS PAÍSES BAIXOS


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS


CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 23 de Outubro de 2000

Senhor Embaixador

1. É-me grato receber Vossa Excelência no momento da apresentação das Cartas mediante as quais Sua Majestade a Rainha Beatriz o acredita junto da Santa Sé, como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino dos Países Baixos.

Senhor Embaixador, ao agradecer-lhe sentidamente por me ter transmitido as saudações respeitosas de Sua Majestade a Rainha Beatriz, pedir-lhe-ia, em contrapartida, que a assegurasse dos meus deferentes votos para a sua pessoa e missão ao serviço do seu Reino. Sensibilizaram-me de maneira especial as palavras que Vossa Excelência acaba de me dirigir, pois manifestam a sua solicitude e, através da sua pessoa, a atenção do seu País, a alguns momentos importantes do Grande Jubileu do Ano 2000, durante o qual os cristãos são chamados a afirmar e a renovar a própria vida espiritual, para se comprometerem cada vez mais na edificação da vida social ao lado dos seus irmãos, prestando assim um testemunho sempre mais vigoroso da importância dos valores humanos, morais e cristãos. A participação de jovens do seu País nas Jornadas Mundiais da Juventude permitiu-lhes expressar a própria fé e descobrir que outros jovens vivem como eles os valores do Evangelho. Eles regressaram transformados por esta experiência eclesial, que sem dúvida alguma saberão pôr em prática no seu País.

2. Como Vossa Excelência salientou de maneira muito oportuna, o valor moral do respeito pelo próximo é essencial a todos os níveis das relações entre as pessoas. Com efeito, para que os nossos contemporâneos tenham confiança nas diversificadas instituições da sociedade civil, é importante em primeiro lugar que eles se sintam respeitados e sejam plenamente reconhecidos nos seus direitos, dos quais os mais importantes são a dignidade de toda a vida humana, nas diversas etapas da existência da pessoa, e a liberdade religiosa, que constitui um elemento fundamental da liberdade de consciência. É disto que depende o futuro de toda a sociedade, a qual não pode estabelecer regras que menosprezem o respeito mais elementar devido a cada ser humano, uma vez que em todas as circunstâncias o homem permanece o centro da vida social. Estes vários aspectos da vida moral são elementos importantes para a paz e a convivência no seio de uma nação e entre os povos. Efectivamente, como se poderia instaurar a paz, negligenciando a dignidade das pessoas?

Vossa Excelência conhece igualmente a importância que a Igreja católica atribui ao matrimónio como realidade humana fundamental e como célula básica da socidade. Nenhuma outra forma de relacionamento entre pessoas pode ser considerada equivalente a esta recíproca relação natural entre um homem e uma mulher que, através do seu amor, geram filhos. É oportuno recordar que toda a sociedade tem necessidade de estruturas basilares para se edificar sobre fundamentos sólidos e objectivos.

3. Sensibilizou-me de forma especial a sua atenção aos fenómenos de pobreza no mundo e às desigualdades crescentes entre os países ricos e as nações pobres. Muitas vezes durante este ano jubilar exortei as Autoridades das nações a promoverem uma solidariedade mais acentuada para com os países mais pobres, de maneira particular mediante a diminuição da sua dívida externa. Já se tomaram decisões singularmente significativas neste sentido, e fico feliz por saber disto, enquanto apelo a que se continue a percorrer este caminho.

É também importante, a título de equidade, que os povos produtores de matérias-primas possam gozar do crescimento internacional e os benefícios não privilegiem apenas aqueles que transformam estas mesmas máterias-primas ou que as comercializam. A economia deve colocar-se ao serviço de todos os homens, para os fazer viver e para lhes permitir dispor do lugar que lhes compete na sociedade. Também este é um elemento essencial que contribui para a causa da paz. Com efeito, os povos que se sujeitam às regras do mercado internacional, sem poderem tirar proveito das mesmas, vivem várias formas de desequilíbrios sociais e institucionais, que só podem favorecer os conflitos. Ao mesmo tempo, a promoção dos povos há-de ser o cuidado de todos. A assistência ao desenvolvimento requer a partilha a todos os níveis e a consecução séria dos projectos empreendidos. De facto, acompanhar o crescimento de um povo significa permitir-lhe adquirir a formação e os meios necessários para que no futuro seja o protagonista e o principal agente do seu próprio progresso, num sadio relacionamento com os outros países, no concerto das nações.

Aprecio os esforços despendidos neste sentido pela Europa, à qual pertence o seu País, e convido os Responsáveis do continente a continuarem e a intensificarem as suas acções em relação aos países pobres e às regiões em que ainda se travam conflitos, nomeadamente na África e no Médio Oriente. É importante não permitir que continuem as situações de conflito, como pudemos testemunhar alhures, as quais tornam difícil a resolução das disputas e no futuro podem hipotecar a boa organização da sociedade civil e das instituições nacionais.

374 4. Senhor Embaixador, por intermédio da sua pessoa, quereria saudar a Igreja católica no seu País; encorajo os pastores e os fiéis na sua missão de anúncio explícito do Evangelho a todos e na sua participação na vida social no meio dos irmãos, convidando-os a gestos significativos a nível ecuménico, no respeito da fé de cada uma das comunidades. A minha saudação deferente dirige-se também a Sua Majestade a Rainha Beatriz, a toda a Família real, ao conjunto das Autoridades civis e religiosas, assim como a todo o Povo holandês, a quem transmito os meus votos de felicidade e de prosperidade, enquanto peço ao Senhor que os assista na sua vida pessoal, familiar e cívica.

Apresento-lhe os meus melhores votos no momento em que começa a sua missão de Representante do Reino dos Países Baixos junto da Sé Apostólica. Senhor Embaixador, tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento caloroso e uma assistência compreensiva no cumprimento da missão que lhe é confiada.

Peço a Deus que faça descer os benefícios das suas Bênçãos sobre Vossa Excelência, os seus entes queridos, os colaboradores na Embaixada e os compatriotas.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


POR OCASIÃO DA PEREGRINAÇÃO JUBILAR


AO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DAS LÁGRIMAS


- SICÍLIA -



Caríssimos jovens da Sicília!

1. Grande é a minha alegria ao dirigir-me a vós, enquanto estais reunidos para realizar uma especial peregrinação jubilar ao Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas em Siracusa, por mim consagrado há seis anos. Com grande satisfação soube que este vosso jubileu se realiza na presença dos Bispos da Sicília, no final dos seus Exercícios espirituais. Este facto exprime o carácter fortemente eclesial da iniciativa e, mais em geral, o amor e a atenção da Igreja na Sicília pelas novas gerações. A todos vós, jovens sicilianos, e a vós, caríssimos Irmãos Bispos e sacerdotes, chegue a minha saudação mais afectuosa.

O vosso Jubileu regional, queridos jovens, está relacionado com a recente Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Roma, e em particular com a memorável vigília do dia 19 de Agosto passado, na qual muitos de vós participaram. Com esta minha mensagem, quereria retomar o diálogo que mantive com os jovens em Tor Vergata. Naquela ocasião, tive a oportunidade de dizer: "Queridos amigos, vejo em vós as "sentinelas da manhã" (cf. Is Is 21,11-12) nesta alvorada do terceiro milénio" (n. 6).

"Sentinela da manhã"! Estas palavras do profeta Isaías impressionaram-vos, e por vós foram escolhidas como tema da vossa vigília-peregrinação, para fazer dela estímulo e orientação do vosso empenho. A generosa adesão com que acolhestes a proposta foi para mim confortadora! O coração do Papa alegra-se e dá graças a Deus, porque os jovens não só escutam, mas acolhem, reflectem e sobretudo esforçam-se para pôr em prática a palavra recebida, que não é palavra dos homens, mas Palavra de Deus, que actua em vós que acreditais (cf. 1Th 2,13).

2. Porque vós, estimados jovens, quereis crer em Cristo! A fé, como vos recordareis, foi o conteúdo fundamental da grande vigília de Tor Vergata. Em Roma, cidade de Pedro e de Paulo, "confiei" à juventude do mundo inteiro o empenho da profissão corajosa da fé em Cristo, uma profissão pela qual os Apóstolos e os Mártires deram a vida. Jovens da Sicília, estais dispostos também vós a dar a vida por esta fé?

Há quem pensa que aderir a Cristo significa desconsiderar a própria humanidade, diminuindo o seu valor. Não há nada mais falso! Antes, como fiz observar em Tor Vergata, "dizendo "sim" a Cristo, dizeis "sim" a cada um dos vossos mais nobres ideais" (n. 6). Sem dúvida, escolher Jesus comporta renunciar ao pecado, mas o pecado não significa a realização da natureza humana; é um seu empobrecimento! Deus não nos fez para o mal, mas para o bem, a verdade e a beleza, isto é, para Ele, nosso criador e Pai. Como escreve Santo Agostinho: "Criastes-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Vós" (Conf., 1, 1, 1).

Por isso, queridos amigos, não tenhais medo de dizer a Jesus um sim total, como Pedro e Paulo, como Francisco e Clara de Assis, como Águeda de Catânia e Luzia de Siracusa, como São Domingos Sávio e Pier Giorgio Frassati, como tantas testemunhas do Evangelho que floresceram ao longo dos séculos também na vossa Sicília. Luminosas figuras de crentes não têm faltado, neste século XX, na vossa própria terra, e o seu exemplo permanece para vós um ponto de referência para o qual olhar, a fim de encontrardes inspiração nas vossas opções concretas. Rapazes e moças sicilianos, sustentados pelo testemunho eloquente destes vossos conterrâneos, percorrei com coragem o caminho da santidade pessoal, nutrindo-vos assiduamente da Palavra de Deus e da Eucaristia. Quanto mais fordes santos, tanto mais podereis contribuir para edificar a Igreja e a sociedade.

3. Sede nas vossas comunidades paroquiais "pedras vivas" (cf. 1P 2,5), colaborando de maneira generosa com os sacerdotes e entre vós. Aprendei a assumir a vossa responsabilidade e educai-vos para isto nos grupos, associações e movimentos laicais, entre os quais recomendo em particular a Acção Católica, escola de empenho eclesial e civil. Deste modo, dareis a vossa importante contribuição ao caminho das Igrejas na Sicília, também em vista da próxima Assembleia eclesial regional, que se ocupará precisamente dos leigos.

375 Sede missionários! A fé é um dom que, compartilhado com os outros crentes, cresce e amadurece. Levai o Evangelho a todos, de modo especial aos vossos coetâneos, e antes de tudo a quem é menos considerado e está em maior dificuldade. Às palavras uni sempre os factos; a vossa força seja a da verdade.

Resisti às lógicas negativas, que infelizmente às vezes encontrais em vosso redor. Recordai que Jesus disse aos seus Apóstolos: "Envio-vos como ovelhas para o meio dos lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (
Mt 10,16). Não vos contenteis com ser pão fresco e fragrante: deveis ser fermento evangélico na escola e na universidade, no mundo do trabalho e do desporto, na família e entre os amigos. Por isso, empenhai-vos em participar na vida pública e nas instituições, mantendo-vos distantes de qualquer interesse pessoal e agindo sempre e somente pelo bem comum.

4. É grande o património natural e cultural da vossa Sicília: ele é confiado de modo particular a vós, jovens do terceiro milénio. Conhecei-o, reconhecei-o e valorizai-o. Tendes a ventura de viver numa região entre as mais ricas de história: ide beber nestas raízes, para aumentar a vossa humanidade, fazer vossos e desenvolver os valores religiosos, artísticos, culturais e morais dos quais sois herdeiros. Nestes valores podereis também encontrar um terreno de encontro com pessoas de outras nacionalidades e culturas, e reencontrar assim a vocação da Sicília a ser encruzilhada de povos no coração do Mediterrâneo.

Deste património, a herança mais preciosa é sem dúvida a fé em Cristo e o amor à sua Santíssima Mãe. O Santuário para o qual vos encaminhais como peregrinos, recorda o mistério das lágrimas de Maria e do próprio Jesus: fixai o olhar do coração neste mistério, para contemplardes o amor imenso de Deus, que enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Aquelas lágrimas vos purifiquem interiormente e infundam em vós a paz e a alegria, que são dom de Cristo e que nada nem ninguém vos poderá tirar.

Na vossa oração, peço que tenhais presentes também as minhas intenções, assim como asseguro que estarei espiritualmente perto de vós. Em sinal do meu grande afecto, envio de coração a cada um de vós e aos vossos Bispos a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos sacerdotes, aos familiares e a quantos vos acompanham no caminho da vida quotidiana.

Vaticano, 18 de Outubro de 2000.




À COMUNIDADE DO SEMINÁRIO MAIOR


DE WARMIA, POLÓNIA


Terça-feira, 24 de Outubro de 2000



Saúdo cordialmente a comunidade do Seminário Maior da Metrópole de Warmia, "Hosianum", de Olsztyn: os alunos, os educadores com o Reitor, os trabalhadores leigos e também os membros da Associação dos Amigos do Seminário. Recordo com gratidão o momento em que, em 1991, parando em Olsztyn no percurso da minha peregrinação, tive ocasião de visitar a vossa comunidade. Estou contente por poder receber-vos, hoje, aqui junto de mim.

Viestes a Roma no Ano Jubilar, para pedir, junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, as graças e bênçãos para o presente e para o futuro. Uma tal oração jubilar é particularmente actual e importante na perspectiva do novo milénio. O século XX trouxe consigo muitas transformações nos vários sectores da vida. O rápido desenvolvimento da ciência, da técnica, da medicina, da cultura, do pensamento social e político e, enfim, dos meios de comunicação não deixaram de exercer uma influência sobre a vida espiritual de cada pessoa, das famílias e das nações. Pode prever-se que também no decurso do milénio em que estamos a entrar, semelhantes transformações da realidade deste mundo constituirão uma fonte de novos desafios a respeito do homem, especialmente do homem crente. A fim de fazer frente a isso, os crentes devem encontrar um sólido apoio em sacerdotes bem preparados para o seu ministério. Por isso, hoje é particularmente importante o papel do seminário como comunidade que forma os futuros pastores.

O seminário deve ser um ambiente de homens de profunda fé, de inabalável esperança e de caridade cheia de abnegação; homens abertos à acção do Espírito Santo, que desperte nos discípulos de Cristo o desejo de um activo empenho na promoção da chegada do reino de Deus Pai. O seminário deve ser ainda o lugar onde sejam formados sacerdotes humanamente maduros, que saibam usar as conquistas da cultura moderna e que queiram contribuir para a criar. O homem de hoje tem necessidade de sacerdotes possuidores de amplos horizontes no pensar e no agir, dispostos a ir ao encontro de todas as necessidades por parte dos irmãos.

O Seminário de Warmia goza de uma longa e gloriosa tradição. Este ano, completam-se os 435 anos da fundação, por parte do Servo de Deus Cardeal Satnislaw Hozjusz, deste primeiro seminário maior em terras polacas, com sede em Braniewo. É difícil resumir em poucas frases toda a história da instituição, dos homens que a criaram e das obras dos sacerdotes nele formados. Basta, pois, a recordação de D. Wladyslaw Demsky, que me foi dado elevar à glória dos altares entre 108 mártires. Este heróico sacerdote, saído do vosso Seminário, deu a própria vida pela Verdade, defendendo a cruz de Cristo e a fé cristã. Que o seu testemunho seja para vós modelo e conforto no caminho da vocação. Rezo, a fim de que esta semente produza incessantemente frutos de novas vocações para o sacerdócio na Arquidiocese de Warmia.

376 Peço a Deus que derrame sobre vós, durante esta peregrinação jubilar, múltiplas graças. Cristo, o Sumo e Eterno Sacerdote, vos introduza no novo milénio e vos abençoe!




AO NOVO EMBAIXADOR DO LÍBANO


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 26 de Outubro de 2000



Senhor Embaixador Fouad Aoun

1. Excelência, é-me particularmente grato dar-lhe as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Líbano junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que Vossa Excelência me dirigiu e ser-lhe-ia reconhecido se desejasse comunicar a minha gratidão a Sua Excelência o General Emile Lahoud, Presidente da República Libanesa, pelos bons votos que me fez chegar por seu intermédio. Através da sua pessoa, Senhor Embaixador, desejo saudar com afecto todo o povo libanês. A recordação do caloroso acolhimento que ele me reservou por ocasião da minha viagem ao Líbano ainda permanece impressa no meu coração.

2. Foi com atenção que ouvi o que Vossa Excelência compartilhou comigo a respeito do melhoramento da situação no Sul do Líbano, bem como das evoluções políticas que se verificaram ao longo das últimas semanas. Formulo votos por que o amor que todos os Libaneses sentem pela própria Pátria os assista a viver juntos voltando-se para o porvir, animados pelo desejo ardente de "vencer o desafio da reconciliação e da fraternidade, da liberdade e da solidariedade, que é a condição essencial para a existência do Líbano e a consolidação da vossa unidade nesta terra que tanto amais" (Exortação Apostólica Uma esperança nova para o Líbano, 120). A tentação de um renascimento dos sentimentos, que no passado tiveram graves consequências, deverá ser evitada sobretudo graças ao desenvolvimento da democracia e à possibilidade oferecida a todos os cidadãos de participarem na vida do País, independentemente da sua pertença religiosa ou comunitária.

A consolidação da confiança entre as comunidades humanas e religiosas que compõem o País constitui uma condição necessária para eliminar o medo diante do outro e para reencontrar o gosto de viver em conjunto. Esta confiança mútua, que deve inspirar a vida social a todos os níveis, está assente em primeiro lugar sobre a aceitação por parte de todos dos valores morais universais, tais como o respeito pela vida e os direitos humanos fundamentais, ou ainda a liberdade de consciência e de religião. É particularmente urgente permitir que cada um tenha condições de vida decentes e dignas. A confiança aprofunda-se também mediante um diálogo paciente e respeitoso entre os componentes da nação, assim como através da participação comum no progresso do país.

Para se obter este resultado, é necessário que as pessoas que receberam o cargo de presidir à nação trabalhem com determinação, desinteresse e perseverança em prol do bem comum, e favoreçam uma partilha equitativa das responsabilidades, sem buscar privilégios para si mesmos ou para a sua comunidade. Todavia, como já tive ocasião de o sublinhar, "isto supõe também que o país recupere a sua independência total, uma soberania completa e uma liberdade sem ambiguidades" (Exortação Apostólica Uma esperança nova para o Líbano, 121).

3. A situação actual no Médio Oriente é particularmente inquietante. O restabelecimento definitivo da paz e da segurança nessa região faz-se esperar cada vez mais e às vezes parece afastar-se.

Não se pode deixar de constatar que o desencadeamento da violência leva sempre a uma infelicidade ainda maior para todos, reanimando as oposições e tornando mais difícil toda a perspectiva de reconciliação. A Terra Santa, onde Deus se manifestou e falou aos homens, deve tornar-se o lugar por excelência em que a paz e a justiça hão-de florescer. Jerusalém deve constituir um símbolo particularmente singular de unidade, de paz e de reconciliação para toda a família humana!

O Senhor Embaixador recordou os eforços levados a cabo pela Santa Sé a fim de contribuir para encontrar uma solução justa e equitativa para a Cidade Santa e especialmente para os Lugares Santos das três religiões que ali coexistem. As relações de confiança que se desenvolvem entre a Sé Apostólica e os povos dessa região fazem esperar que chegará o dia em que, mediante o diálogo e a negociação, assim como no respeito pela dignidade e pela identidade das comunidades, se poderá estabelecer para os Lugares Santos dessa Cidade um Estatuto especial, internacionalmente tutelado.

377 4. Senhor Embaixador, permita-me dirigir por seu intermédio a mais calorosa saudação aos Patriarcas, aos Bispos e a todos os fiéis das comunidades católicas do Líbano. Neste ano do grande Jubileu, convido-os a deixarem-se renovar por Cristo e a encontrarem n'Ele a força, a alegria e a esperança. Ao darem perseverante continuidade aos seus esforços em vista de entretecer relações cada vez mais fraternais entre os fiéis das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, assim como com os fiéis das religiões monoteístas, em especial com os muçulmanos, eles hão-de contribuir para edificar um Líbano novo, capaz de ultrapassar as incompreensões e buscar em primeiro lugar a felicidade e a prosperidade para todos os seus filhos. Permanecendo firmemente vinculados à sua terra, oxalá eles continuem a trabalhar sem cessar, com todos os seus compatriotas, para servir o bem comum, haurindo da própria fé a sua inspiração e os seus princípios de vida, para serem testemunhas dos valores evangélicos na sociedade!

5. Senhor Embaixador, no momento em que começa oficialmente a sua missão junto da Sé Apostólica, formulo-lhe os meus mais cordiais bons votos para a nobre tarefa que o espera. Tenha a certeza de que encontrará aqui, junto dos meus colaboradores, a recepção atenta e compreensiva naquilo de que poderá ter necessidade.

Invoco do íntimo do coração a abundância das Bênçãos divinas sobre Vossa Excelência, os seus colaboradores, os entes queridos, os responsáveis pela nação e todo o povo libanês.




NO ENCONTRO COM A PEREGRINAÇÃO


JUBILAR DA ESLOVÉNIA


Quinta-feira, 26 de Outubro de 2000

Queridos peregrinos eslovenos


1. Acolho-vos com grande alegria na Basílica de São Pedro, por ocasião da vossa peregrinação do Ano Santo a Roma. Saúdo, antes de mais, o vosso Arcebispo Metropolitano, D. Franc Rodé, a quem agradeço as palavras com que interpretou os vossos sentimentos. Estendo a minha saudação também aos outros vossos Bispos, aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, que vos acompanham. Além disso, saúdo todos vós que, com esta peregrinação, quisestes exprimir a vossa adesão ao Sucessor de Pedro.

Vejo neste encontro junto do túmulo do Príncipe dos Apóstolos a vossa resposta às minhas duas inesquecíveis viagens apostólicas na Eslovénia, durante as quais pude conhecer melhor a vossa Igreja e o vosso povo. Conservo sempre viva na alma a recordação da solene celebração, na qual tive a alegria de inscrever no álbum dos Beatos o Bispo António Martinho Slomsek, um dos muitos frutos de santidade da Igreja que está na Eslovénia.

2. A vossa presença na Cidade Eterna constitui o coroamento das celebrações jubilares nas vossas catedrais e noutras igrejas do vosso país. Nestes dias, estais a visitar as grandes Basílicas romanas para obter a indulgência jubilar; hoje, tendes o encontro com o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro.

Dirijo-me a vós como Pastor universal e Pai, que vos acompanha com o amor e a oração, exortando-vos à fidelidade ao santo Evangelho e à santa Igreja católica.

Quereria recordar-vos aquilo que escrevi na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, ao anunciar o Ano Santo de 2000: "O objectivo prioritário do Jubileu é suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovamento pessoal num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado. Deste modo, será revigorado o vosso testemunho no mundo" (cf. n. TMA 42).

3. Exorto-vos também a uma maior coragem e a uma sadia consciência da vossa dignidade, que se deve manifestar também no compromisso público. Meio século de regime totalitário deixou em muitos cristãos um sentimento de inferioridade e de medo. É tempo de superar esta atitude de timidez! Com empenho, e em pé de igualdade, colaborai com todos os homens de boa vontade no campo da política e da economia, da cultura, da escola e dos mass media. Contribuireis assim para a consolidação de uma sociedade mais justa e solidária, que se inspira nos valores do Reino de Deus, "Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz" (Prefácio da Festa de Cristo Rei do Universo).

378 Exorto-vos, por fim, a pôr em prática com todo o impulso do coração e da alma as conclusões do Sínodo da Igreja na Eslovénia, que se realiza sob o lema "Escolhe a vida" (Dt 30,19). O Sínodo é uma grande graça e uma ocasião histórica, que vos é dada pelo Senhor, para reflectirdes com serenidade sobre o vosso passado e a situação actual da Igreja, e para programardes o futuro com audácia.

4. Sobretudo, defendei a vida! Aqui está o problema crucial para a sobrevivência do povo esloveno. O Sínodo deveria infundir nos ânimos uma nova confiança e uma nova esperança na vida. Isto só é possível graças a um vínculo forte com o Deus vivo, que nos defende das forças da morte, graças ao contacto pessoal com Jesus Cristo, vindo "para que tenhamos vida em abundância" (Jn 10,10), e graças à fidelidade ao seu Evangelho.

Como escrevi na Encíclia Evangelium vitae, "grata e humildemente conservai a consciência de ser o povo da vida e pela vida" (cf. n. 78), no âmbito tanto da família como da vida pública.
5. Na alegria deste encontro, neste ano de graça e de misericórdia, confio todos vós à protecção da Mãe de Deus. Do Santuário nacional de Brezje, Ela vos ampare com a sua intercessão materna e vos conduza a Jesus, o fruto bendito do seu seio. A Ele honra e glória nos séculos!

A vós aqui presentes e às vossas famílias concedo de coração a Bênção Apostólica.

Deus abençoe a querida Eslovénia!




AOS MEMBROS DA SOCIEDADE


DESPORTIVA "LÁCIO"


Sexta-feira, 27 de Outubro de 2000



1. Sede bem-vindos, amigos branco-celestes da Lácio, cem anos após a fundação da vossa Sociedade! Não é a primeira vez que tenho a ocasião de receber, aqui no Vaticano, atletas e adeptos das várias equipas. Porém, não é com frequência que me encontro com um grupo tão numeroso de pertencentes à mesma família desportiva. Obrigado pela vossa amável visita, que me faz reviver a atmosfera e os climas típicos dos grandes encontros desportivos, impregnados de serena distensão e de alegre fraternidade.

Saúdo-vos cordialmente a todos. Cumprimento os representantes das várias modalidades e os assistentes espirituais. Agradeço de modo especial ao Engenheiro Renzo Nostini, Presidente-Geral da Sociedade Desportiva da Lácio, as cordiais palavras que me transmitiu em nome dos dirigentes, atletas, desportistas, simpatizantes e das vossas famílias. Nas suas palavras compreendi o sentido da vossa visita e o entusiasmo da vossa Sociedade, que nestes cem anos escreveu uma página muito interessante no livro do desporto italiano.

2. No dia 9 de Janeiro do Ano Santo de 1900 nascia uma Sociedade promissora, com um significativo património moral e desportivo, simbolicamente expresso pelo lema latino "concordia parva crescunt as pequenas realidades desenvolvem-se graças à concórdia". Os acontecimentos confirmaram o antigo axioma: no decurso dos anos, a Lácio tornou-se uma Sociedade polidesportiva em que coexistem 28 secções ligadas pelo comum espírito olímpico e pelo desejo de solidariedade recíproca. Estou certo de que, impelindo-vos a descobrir os ideais de outrora, a comemoração centenária constituirá uma ocasião propícia para dar realce à dimensão ético-religiosa, indispensável para o pleno amadurecimento da pessoa humana. E precisamente por isso, quisestes incluir entre as várias manifestações da vossa celebração um encontro espiritual no contexto do Jubileu.

Apraz-me citar aqui uma conhecida expressão de São Paulo, que se adapta bem à vossa múltipla actividade amadora e desportiva: "Os atletas abstêm-se de tudo" (1Co 9,25). Com efeito, sem equilíbrio, autodisciplina, sobriedade e capacidade de actuar honestamente com os outros, o desportista não é capaz de compreender plenamente o sentido de uma actividade física destinada a robustecer, além do corpo, o espírito e o coração.

379 3. Infelizmente, às vezes, no âmbito desportivo acontecem episódios que menosprezam o verdadeiro significado do espectáculo e atingem, além dos atletas, a própria comunidade. Em particular, o apoio apaixonado da própria equipa pode levar facilmente a ofender as pessoas ou a prejudicar os bens da colectividade. Toda a competição desportiva deve conservar sempre o carácter de um divertimento sadio e distensivo. É destes valores que falam as cores olímpicas o branco e o celeste que distingue a vossa bandeira e devem ser sempre vistos com o olhar perspicaz e penetrante como o da águia, que encima o vosso emblema.

Caros amigos, durante os seus cem anos de vida, a Sociedade Lácio ofereceu a inumeráveis jovens e adultos a possibilidade de se confrontarem com o exigente desafio do desporto. Atestam-no muitos reconhecimentos italianos e internacionais recebidos por atletas formados no interior das vossas estruturas. Porém, é justo recordar também o compromisso concreto da vossa Associação nos vastos campos da solidariedade e do voluntariado. A este propósito, merece uma especial menção a obra levada a cabo pelos vossos sócios por ocasião da recente e inesquecível Jornada Mundial da Juventude e a ajuda concreta oferecida ao Jubileu das Famílias.

Enquanto vos exprimo o meu apreço pelo bem que realizais, exorto-vos a prosseguir neste caminho ao serviço da juventude, da família e de toda a sociedade.

Com estes bons votos, invoco sobre vós a materna protecção de Maria e abençoo-vos a todos com afecto.




Discursos João Paulo II 2000 372