Discursos João Paulo II 2000 395

COMUNICADO CONJUNTO DO


PAPA JOÃO PAULO II E DE


KAREKIN II, CATHOLICOS DE TODOS


OS ARMÉNIOS


Roma, 9 de Novembro de 2000




Sua Santidade o Papa João Paulo II, Bispo de Roma, e Sua Santidade Karekin II, Patriarca Supremo e Catholicos de todos os Arménios, dão graças ao Senhor e Salvador Jesus Cristo que lhes permitiu encontrar-se por ocasião do Jubileu do Ano 2000 e na iminência do 1.700° aniversário da proclamação do cristianismo como religião de estado da Arménia.

Eles também dão graças no Espírito Santo pois, nestes últimos anos, se desenvolveram e foram aprofundadas as relações fraternas entre a Sede de Roma e a Sede de Etchmiadzin. Esse progresso é expresso neste encontro pessoal e, de modo particular, no dom de uma relíquia de São Gregório, o Iluminador, o santo missionário que converteu o Rei da Arménia (no ano do Senhor 301), e estabeleceu a linha dos católicos da Igreja Arménia. O encontro deste dia tem os seus fundamentos nos precedentes encontros entre o Papa Paulo VI e o Catholicos Vasken (1970), e nos dois encontros entre o Papa João Paulo II e o Catholicos Karekin I (1995 e 1999). O Papa João Paulo II e o Catholicos Karekin II continuam a fazer votos por um possível encontro na Arménia. Na presente ocasião, eles desejam declarar quanto segue.

Nós confessamos juntos a nossa fé em Deus Trino e no único Senhor Jesus Cristo, unigénito Filho de Deus, que se fez homem para a nossa salvação. Nós cremos também na Igreja Una, Católica, Apostólica e Santa. A Igreja, como Corpo de Cristo, é de facto una e única. Esta é a nossa fé comum, baseada nos ensinamentos dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Além disso, reconhecemos que a Igreja Católica e a Igreja Arménia têm verdadeiros sacramentos, sobretudo - por meio da sucessão apostólica dos Bispos - o sacerdócio e a Eucaristia. Continuamos a orar pela comunhão plena e visível entre nós. A celebração litúrgica, a que juntos presidimos, o sinal de paz que nos damos um ao outro, e a bênção que concedemos juntos no nome de nosso Senhor Jesus Cristo, testemunham que somos Irmãos no episcopado. Juntos somos co-responsáveis por aquilo que constitui a nossa missão comum: ensinar a fé apostólica e testemunhar o amor de Cristo por todos os seres humanos, de modo especial por aqueles que vivem em circunstâncias difíceis.

396 A Igreja Católica e a Igreja Arménia compartilham uma longa história de respeito recíproco, e consideram complementares e não opostas as suas várias tradições teológicas, litúrgicas e canónicas. Também hoje temos muito a receber uma da outra. Para a Igreja Arménia, os notáveis recursos do saber católico podem tornar-se um tesouro e uma fonte de inspiração, mediante o intercâmbio de estudiosos e de estudantes, por meio de traduções comuns e iniciativas ecuménicas, através de variadas formas de diálogo teológico. Do mesmo modo, para a Igreja Católica, a fé sólida e paciente de uma nação mártir como a Arménia, pode tornar-se uma fonte de força espiritual, sobretudo através da oração comum. É nosso firme desejo ver crescer e intensificar-se estas numerosas formas de intercâmbio recíproco e de reaproximação entre nós.

Ao enfrentar o terceiro milénio, olhamos para o passado voltados para o futuro. No que se refere ao passado, damos graças a Deus pelas abundantes bênçãos que recebemos da sua infinita generosidade, pelo santo testemunho dado por muitos santos e mártires, pela herança espiritual e cultural que os nossos antepassados nos transmitiram. A Igreja Católica e a Igreja Arménia, entretanto, viveram períodos obscuros e difíceis. A fé cristã foi contestada por ideologias ateístas e materialistas; o testemunho cristão foi hostilizado por regimes totalitários e violentos; o amor cristão foi sufocado pelo individualismo e pela busca de interesse pessoal. Os chefes das nações já não temiam a Deus nem sentiam vergonha diante do género humano. O século XX foi-nos marcado por uma violência extrema. O genocídio arménio, no início do século, constituiu um prólogo dos horrores que se seguiriam. Duas guerras mundiais, inúmeros conflitos regionais e campanhas de extermínio deliberadamente organizadas sacrificaram milhões de fiéis. Contudo, e sem diminuir os horrores desses eventos e das suas consequências, eles constituem uma espécie de desafio divino se, ao responderem, os cristãos estão persuadidos de que devem viver unidos, numa amizade mais profunda, em prol da causa da verdade e do amor cristãos.

Nós olhamos para o futuro com esperança e confiança. Nesta conjuntura histórica, divisamos novos horizontes para nós cristãos e para o mundo. No Ocidente e no Oriente, depois de terem feito a experiência das mortíferas consequências de regimes e modos de vida sem Deus, muitos anelam por conhecer a verdade e a via que conduz à salvação. Juntos, guiados pela caridade e pelo respeito da liberdade, procuramos responder ao seu desejo, para os conduzir às fontes da vida autêntica e da felicidade verdadeira. Viemos em busca da intercessão dos Apóstolos Pedro e Paulo, Tadeu e Bartolomeu, de São Gregório, o Iluminador, e de todos os santos pastores da Igreja Católica e da Igreja Arménia, e pedimos ao Senhor para que guie as nossas comunidades a fim de que, com uma só voz, possamos dar testemunho do Senhor e proclamar a verdade da salvação. Pedimos também para que no mundo, onde quer que vivam lado a lado membros da Igreja Católica e da Igreja Arménia, todos os ministros ordenados, os religiosos e os fiéis ajudem a carregar o peso uns dos outros, de maneira a cumprirem a lei de Crsito (cf. Gl
Ga 6,2). Possam eles sustentar-se e assistir-se reciprocamente, no pleno respeito das suas identidades e nas tradições eclesiais próprias a cada um, evitando que uns prevaleçam sobre os outros: "portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé" (Ga 6,10).

Enfim, nós procuramos a intercessão da Santa Mãe de Deus para preservar a paz. Possa o Senhor conceder sabedoria aos chefes das nações, a fim de que justiça e paz possam prevalecer no mundo. De modo particular nestes dias, oramos pela paz no Médio Oriente. Oxalá todos os filhos de Abraão cresçam no respeito recíproco e encontrem os modos idóneos de viver pacificamente juntos nessa sagrada parte do mundo.




KAREKIN II JOANNES PAULUS II





À PEREGRINAÇÃO JUBILAR DO


BANCO DE ROMA


Sábado, 11 de Novembro de 2000

Gentis Senhores e Senhoras!

1. Tenho a alegria de vos apresentar uma cordial saudação na presente circunstância, que vos vê peregrinos junto dos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo para celebrardes o Grande Jubileu do Ano 2000. Sede bem-vindos!

Agradeço ao Doutor Cesare Geronzi, Presidente do Banco de Roma, as amáveis palavras com que, em nome de todos, me expressou os sentimentos que vos guiaram a este encontro. De bom grado aproveito a ocasião para manifestar, além disso, viva satisfação ao inteiro Conselho de Administração, aos Dirigentes, aos Responsáveis de sector e a todos aqueles que compõem a vossa comunidade de trabalho e de actividade.

Ao meu apreço desejo unir a expressão do meu sincero reconhecimento pela colaboração dada pela vossa benemérita Empresa ao Comité Central do Grande Jubileu e, de modo especial, pela eficiente contribuição oferecida durante o desenvolvimento da Jornada Mundial da Juventude.

Estas vossas intervenções são a prova de como uma estrutura com finalidades específicas, como a vossa, pode inserir-se de maneira útil no âmbito da sociedade civil, com iniciativas inspiradas numa visão de mais amplo respiro, promovendo também deste modo o bem comum.

2. Finalidade de uma instituição de crédito, como a vossa, é administrar de maneira prudente os recursos a ela confiados, para apoiar as actividades económicas de famílias, empresas, instituições e organismos que recorrem à sua intermediação. Vista nessa perspectiva, a vossa obra assume um relevante valor social em apoio das forças vivas da Nação, às quais é assim consentido perseguir objectivos necessários em matéria de segurança económica, de crescimento da empresa, de honesta administração do fruto do próprio trabalho, de defesa da economia, de acesso ao crédito.

397 Daqui a importância do sistema bancário, mas também a responsabilidade de quem o administra em relação às pessoas, famílias e grupos sociais que a ele se dirigem. Com efeito, embora perseguindo as próprias finalidades institucionais, uma empresa bancária não pode deixar de fazer referência aos valores éticos que presidem aos vários aspectos do agir humano. Se o banco tende só à obtenção do máximo lucro para si, não tendo em consideração estas instâncias superiores, já não se apresenta como instrumento de crescimento e desenvolvimento para a comunidade, mas sim como elemento de sobrecarga e de impedimento.

3. A doutrina da Igreja afirma a prioridade do factor humano sobre as finalidades financeiras e creditícias próprias de qualquer instituto bancário. Na rápida evolução das dinâmicas económicas hodiernas, não poucas pessoas, além de não saberem avaliar as diversas formas de serviços prestados pelo sistema bancário, encontram por vezes dificuldades em se orientar nas opções aptas para proteger as honestas economias adquiridas. A profissionalidade do operador do crédito, unida a um acentuado sentido de equidade e justiça, poderá favorecer a serenidade de quantos têm necessidade de conselho ou de ajuda.

Infelizmente, não se pode ocultar que existem também hoje formas desviadas de crédito, capazes de pôr em perigo não só actividades empresariais ou propriedades familiares, mas a vida mesma de pessoas caídas nesta perversa espiral. Já noutras vezes tive ocasião de sublinhar as dificuldades e os transtornos em que se encontram aqueles que são vítimas de especulações ligadas a ilícitas modalidades de crédito. Uma empresa bancária responsável, em virtude da própria capacidade de escuta e de diálogo com a sociedade civil, pode certamente fazer muito nesse âmbito. Faço votos de coração por que também o vosso Instituto, prosseguindo no caminho já empreendido, continue a oferecer um sólido apoio a todas as iniciativas sérias a favor das pessoas em dificuldade, dos jovens e do voluntariado. Assim, de maneira válida ireis ao encontro das expectativas das pessoas e dos grupos sociais, que vêem na vossa actividade um apoio fundamental para as suas legítimas necessidades de serviços financeiros e económicos.

4. Gentis Senhores e Senhoras, esta vossa visita oferece-vos a oportunidade para fazer uma útil pausa de reflexão. Para todos os que dentre vós são crentes, esta é uma providencial ocasião para confrontar a própria vida e actividade com a palavra de Cristo.

A passagem pela Porta Santa representa um dos principais momentos da vossa peregrinação jubilar. Trata-se de um acto profundamente espiritual, mediante o qual quereis renovar a vossa íntima adesão a Cristo e reafirmar a vossa determinação de O testemunhar nas vossas famílias e na sociedade de que fazeis parte. Podereis, de modo especial, ser suas testemunhas no contexto do vosso trabalho, se vos inspirardes sempre nos seus ensinamentos. O evangelho da justiça e da caridade seja o constante parâmetro de referência das vossas opções e acções. O amor pelos irmãos, em especial se forem necessitados, inspire todos os vossos projectos. Sereis assim construtores de uma comunidade humana mais livre e solidária.

Acompanhe-vos a intercessão de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, à qual confio não somente vós mas também as vossas famílias. Com estes sentimentos, abençoo-vos a todos de coração.




AOS PEREGRINOS JUBILARES


Sábado, 11 de novembro de 2000




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Dirijo a minha cordial saudação de boas-vindas a todos vós, vindos a Roma para renovar a vossa profissão de fé junto dos túmulos dos Apóstolos, por ocasião do Grande Jubileu. Vindes de várias Dioceses e encontrais-vos todos ao mesmo tempo neste dia em volta do Sucessor de Pedro, exprimindo deste modo o vosso amor por Cristo e pela sua Igreja. Tal experiência, com os seus vários momentos celebrativos, ajuda-vos sem dúvida a reforçar a vossa adesão pessoal ao Evangelho e constitui uma preciosa ocasão de conversão, para viver com renovado esforço a missão apostólica a que fostes chamados por força do Baptismo. Acolho-vos com afecto e abraço espiritualmente cada um de vós.

2. Saúdo, em primeiro lugar, os numerosos peregrinos da Arquidiocese de Messina-Lipar-Santa Lucia del Mela, acompanhados do vosso Pastor, D. Giovanni Marra. Agradeço-lhe, venerado Irmão, as palavras amigas que me dirigiu, interpretando os sentimentos dos fiéis e, em particular, do Arcebispo Emérito, D. Inácio Cannavò e do Bispo Auxiliar, D. Francisco Montenegro. Caríssimos Irmaõs e Irmãs, apesar da diferença de situações geográficas, históricas e culturais, a vossa Comunidade diocesana dispõe de um sólido património espiritual, enraizado na fé em Cristo. Ide com insistência a esta admirável fonte e bebei dela a coragem e a força necessárias para enfrentar com confiança o desafio da sociedade de hoje.

Neste Ano Santo, destes-vos conta da exigência de vos dirigirdes para os que andam longe e, servindo-vos de uma "nova semente do Evangelho", descobristes a urgência do mandato missionário. É a esta luz que assume um relevo significativo a "missão diocesana", bem inserida no contexto do Grande Jubileu. Ela, graças à indómita decisão dos sacerdotes e de muitos colaboradores pastorais, já suscitou notável interesse, evidenciando a urgência de que cada um se deve primeiro evangelizar para depois, por sua vez, levar aos outros a alegre mensagem de Cristo.

398 Continuai sem parar neste caminho, que é o caminho da nova evangelização, encorajados pelos recursos espirituais e pela vitalidade da vossa comunidade cristã. Olhai em frente, para o terceiro Milénio, e oferecei a todos a alegria libertadora do Evangelho. Prestai atenção às exigências das famílias e dos jovens, proporcionando-lhes profícuas ocasiões de formação religiosa. Procurai os pobres e os doentes e fazei-lhes experimentar a bondade de Deus, Pai celeste de toda a criatura humana.

3. Saudo-vos a vós, queridos peregrinos da Arquidiocese de Turim, que através do vosso Arcebispo, D. Severino Poletto, para quem vai a minha gratidão, me manifestastes os vossos sentimentos de afecto. Também para vós o Ano jubilar põe em especial evidência a necessidade de testemunhar o evangelho da caridade. Ele, de resto, está na tradição da vossa Cidade. Como não recordar, de facto, os numerosos Santos turineses que se distinguiram pelo exercício heróico desta primeira e mais importante virtude cristã? A vida destes vossos conterrâneos, bem conhecida de vós, ainda hoje constitui um válido exemplo a seguir. Entre tantos, queria hoje recordar S. Calisto Caravário, mártir na China, originario da vossa terra, que tive a alegria de canonizar no mês passa-do. Ao serviço dos pobres, ele unia a ânsia missionária, constituindo assim um exemplo para a vossa Comunidade diocesana empenhada num grande esforço missionário.

Volto a pensar, agora, com íntima emoção na minha visita a Turim e na paragem diante do Santo Sudário, que neste Ano Santo esteve novamente exposto à devoção dos fiéis. Neste misterioso espelho do Evangelho é possível a cada um descobrir o sentido do próprio sofrimento como participação no de Cristo, fonte de salvação para toda a humanidade. No nosso encontro, além disso, não posso deixar de pensar na Comunidade da vossa Diocese, atingida pela recente aluvião. Renovo às populações da vossa Região e da vizinha de Vale de Aosta duramente provadas, a minha cordial proximidade e a minha lembrança constante na oração, enquanto desejo que, o mais depressa possível, todos possam retomar uma vida normal, na família e na sociedade.

4. Agora saúdo-vos a vós, caríssimos fiéis da Arquidiocese de Trento, acompanhados pelo vosso Pastor, D. Luís Bressan. Agradeço-lhe de todo o coração as devotas palavras que me dirigiu em nome de todos vós. Celebrais este ano o décimo sexto centenário da morte do Padroeiro da vossa Diocese, S. Virgílio, grande evangelizador da vossa terra. Conservai sempre com zelo o dom da fé que recebestes há muitos séculos: trata-se de uma preciosa herança que sois chamados a transmitir fielmente. Voltai a ela constantemente, pois as nascentes evangélicas são fontes seguras de recomeço humano e religioso.

Abri os vossos corações a Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Hoje como ontem, Ele interpela as consciências e pede a cada um que dê um espaço, no próprio espírito, à sua palavra. Acolhei-a como fizeram os vossos pais e caminhai com entusiasmo nas vias da solidariedade e do amor. A fé integralmente vivida exige, com efeito, uma coerente prática cristã nos diversos meios em que se desenvolve a vivência humana. Tomai consciência da fecunda tradição tridentina de solidariedade e voluntariado, reavivai o empenho nas várias obras e actividades de promoção humana. Toda a vossa Comunidade será, assim, de educação para a fé e para o amor concreto e operante.

5. Agora, dirijo a minha cordial saudação ao grupo de peregrinos ligados ao Santuário da Santíssima Trindade de Vallepietra. Provêm de várias Dioceses e são acompanhados pelo Bispo de Anagni-Alatri, D. Francisco Lambiasi, a quem agradeço as gentis palavras. Caríssimos, fiéis ao Jubileu, sede ouvintes atentos e praticantes da palavra de Deus, crescendo na fidelidade a Cristo e à sua mensagem de salvação. Conhecereis, assim, a grandeza da missão que vos foi confiada com o Baptismo.

Saúdo os participantes do Congresso Internacional, promovido pelo Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes, conjuntamente com as Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, sobre o tema da actualidade da mensagem de Madre Cabrini em relação com a emigração. Caríssimos, ainda hoje massas imensas de indivíduos e de famílias deixam a sua terra para procurar noutro lado condições de vida mais segura e mais digna. Nestes dias dedicastes a vossa atenção a estes emigrantes. Que o testemunho e a mensagem de Madre Francisca Cabrini, apóstola audaz e generosa dos migrantes, possam iluminar sempre a vossa actividade e projecto em favor dos migrantes, levando-vos a desenvolver com eles um diálogo sincero e respeitador da dignidade da pessoa.

6. Saúdo com afecto os peregrinos de língua espanhola, especialmente os do grupo da empresa "Omnilife" que vem acompanhado pelo Cardeal João Sandoval Íñiguez, Arcebispo de Guadalajara. Que a vossa peregrinação seja uma verdadeira caminhada interior, um tempo propício de conversão para acolher nos vossos corações, de um modo novo, a Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado que nos revela o rosto misericordioso do Pai. E que o seu Espírito habite e permaneça sempre em vós. Convido-vos, neste Ano Santo, a transmitir a alegria da vossa peregrinação jubilar às vossas famílias e comunidades paroquiais.

Dou as cordiais boas-vindas aos visitantes de língua inglesa, especialmente à peregrinação do grupo jubilar da Diocese de Veneza, na Flórida. Vós quisestes passar a Porta Santa e fazer a vossa experiência de uma profunda renovação espiritual e entrar mais plenamente no mistério da graça que o Senhor confiou à Sua Igreja. Sobre vós e as vossas famílias invoco a alegria e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

Saúdo cordialmente o "Jodelclub" de Riederalp (Suíça). Que a vossa música e o vosso canto alegrem muitas pessoas. Saúdo também os grupos neo-catecumenais de Berlim, Hamburgo e Munique. Vieram ao túmulo de São Pedro para reforçar as raízes apostólicas da sua fé. Que a passagem através da Porta Santa vos dê força para serdes testemunhas da fé na vossa pátria, no começo do novo século. Dou-vos a todos a Bênção Apostólica.

7. Por fim uma afectuosa saudação às Comunidades paroquiais, Associações e outros grupos de peregrinos, em particular à "Confederação dos Italianos no Mundo" e aos "Pequenos Cantores de Torrespaccata". A todos desejo de coração um regresso às suas casas animados por esta experiência jubilar e revigorados no desejo de seguir o Evangelho e de o testemunhar corajosamente.

399 Invocando a protecção de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, a cada um concedo, do coração, uma especial Bênção Apostólica.





JUBILEU DO MUNDO AGRÍCOLA



DURANTE O ENCONTRO FESTIVO


Sábado, 11 de Novembro de 2000



Ilustres Senhores
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Estou contente por poder encontrar-vos, por ocasião do Jubileu do mundo agrícola, neste momento de "festa" e ao mesmo tempo de reflexão sobre o estado actual deste importante sector da vida e da economia e sobre as perspectivas éticas e sociais que lhe dizem respeito.

Agradeço ao Senhor Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, as gentis palavras que me dirigiu, fazendo-se porta-voz dos sentimentos e das expectativas que animam todos os presentes. Saúdo com deferência as ilustres personalidades, ainda que de diversas inspirações religiosas, que esta tarde estão aqui presentes em representação de várias Organizações para nos oferecer a contribuição dos seus testemunhos.

2. O Jubileu dos trabalhadores da terra coincide com a tradicional "Jornada de Acção de Graças", promovida na Itália pela benemérita Confederação dos Cultivadores Directos, à qual dirijo a mais cordial saudação. Esta "Jornada" é um vigoroso apelo aos valores perenes conservados pelo mundo agrícola e, através destes, sobretudo o seu forte sentido religioso. Agradecer é dar glória a Deus que criou a terra e quanto ela produz, a Deus que ficou contente por ela ser uma "coisa boa" (Gn 1,12), e a confiou ao homem para uma guarda sábia e operante.

A vós, caríssimos homens do mundo agrícola, está confiado o dever de fazer frutificar a terra. Dever importantíssimo, do qual se vai descobrindo, nos dias de hoje, uma urgência cada vez maior. O vosso espaço de trabalho é habitualmente indicado, pela ciência económica, como "sector primário". No cenário da economia mundial, no confronto com os outros sectores, o seu espaço apresenta-se muito diferenciado, segundo os continentes e as nações. Mas seja qual for o seu peso em termos económicos, basta o simples bom senso para pôr em relevo o "primado" real que diz respeito às exigências vitais do homem. Quando este sector é desvalorizado ou menosprezado, as consequências que daí derivam para a vida, a saúde e o equilíbrio ecológico são sempre graves e, em geral, dificilmente remediáveis, pelo menos a curto prazo.

3. A Igreja teve sempre uma consideração especial por este campo de trabalho, que se exprimiu também em importantes documentos do magistério. Como esquecer, a tal propósito, Mater et magistra do Beato João XXIII? Ele pôs a tempo, por assim dizer, "o dedo na ferida", denunciando os problemas que aliás já naqueles anos faziam da agricultura um "sector deprimido", e isto quer em relação "ao índice de produtividade das forças de trabalho", quer "ao nível de vida das populações agrícolo-rurais" (cf. ibid., nn. 111-112).

No período que vai da Mater et magistra aos nossos dias, não se pode dizer que os problemas tenham sido resolvidos. Deve, antes, constatar-se que outros se lhes juntaram, no quadro das novas problemáticas derivadas da globalização da economia e nos agravamentos da "questão ecológica".

4. A Igreja, obviamente, não tem soluções "técnicas" para propor. O seu contributo põe-se ao nível do testemunho evangélico, e exprime-se através da proposta dos valores espirituais que dão sentido à vida e orientam as opções concretas também no plano da economia e do trabalho.

400 O primeiro valor em jogo, quando se consideram a terra e os que a cultivam, é sem dúvida o princípio que reconduz a terra ao seu Criador: a terra é de Deus! É, pois, segundo a sua lei que deve ser administrada. Se, a respeito dos recursos naturais, se afirmou, especialmente sob o impulso da industrialização, uma irresponsável cultura do "domínio" com consequências ecológicas devastadoras, isto não corresponde certamente ao desígnio de Deus. "Enchei e submetei a terra; dominai os peixes do mar e as aves do céu" (Gn 1,28). Estas conhecidas palavras do Génesis entregam a terra ao uso e não ao abuso do homem. Elas fazem do homem não o árbitro absoluto do governo da terra, mas o "colaborador" do Criador: missão estupenda, mas também assinalada por limites específicos, que não podem ser impunemente ultrapassados.

É um princípio a recordar na própria produção agrícola, quando se trata de a promover com a aplicação da biotecnologia, que não pode ser avaliada unicamente com base em imediatos interesses económicos. É necessário submetê-la previamente a um rigoroso controlo científico e ético, para evitar que se actue em desvantagem da saúde do homem e do futuro da terra.

5. A pertença constitutiva da terra a Deus fundamenta também o princípio, tão importante para a doutrina social da Igreja, do destino universal dos bens da terra (cf. Centesimus annus CA 6). O que Deus deu ao homem, deu-o com um coração de Pai, que tem cuidado dos seus filhos, sem excluir ninguém. A terra de Deus é, pois, também terra do homem e de todos os homens! Isto não implica, certamente, a ilegitimidade do direito de propriedade, mas exige uma concepção e uma consequente regulamentação, que salvaguardem e promovam a sua intrínseca "função social" (cf. Mater et magistra, MM 106 Populorum progressio, 23).

Cada homem, cada povo, tem o direito de viver dos frutos da terra. É um escândalo intolerável, no início do novo Milénio, o facto de muitíssimas pessoas ainda serem condenadas à fome e viverem en condições indignas do homem. Não podemos mais limitar-nos a reflexões académicas: é preciso remover esta vergonha da humanidade com apropriadas opções políticas e económicas a nível planetário. Como escrevi na Mensagem ao Director-Geral da FAO por ocasião da Jornada Mundial da Alimentação, é preciso "extirpar pela raiz as ervas daninhas que produzem fome e subalimentação" (cf. L'Osservatore Romano, ed. port. de 28/10/2000, pág. 2). Como se sabe, as causas dessa situação são múltiplas. Entre as mais absurdas estão os frequentes conflitos internos nos Estados, autênticas guerras dos pobres. Resta, ainda, a pesada herança de uma distribuição da riqueza verdadeiramente iníqua, no interior de cada nação e a nível mundial.

6. Trata-se de um aspecto, para o qual precisamente a celebração do Jubileu nos faz dirigir uma especial atenção. De facto, a instituição originária do Jubileu, no seu desígnio bíblico, estava destinada a restabelecer a igualdade de valores entre os filhos de Israel também através da restituição dos bens, para que os mais pobres pudessem reerguer-se e todos experimentassem, também no plano de uma vida digna, a alegria de pertencer ao único povo de Deus.

O nosso Jubileu, a dois mil anos do nascimento de Cristo, não pode deixar de ter também este sinal de fraternidade universal. Ele constitui uma mensagem dirigida não só aos fiéis mas também a todos os homens de boa vontade, para que decidam abandonar, nas opções económicas, a lógica do puro proveito para conjugar o legítimo "lucro" com o valor e a prática da solidariedade. Como eu disse noutras ocasiões, é necessária uma globalização da solidariedade, que supõe por sua vez uma "cultura da solidariedade" que deve florescer no espírito de cada um.

7. Enquanto, pois, não deixamos de chamar para esta orientação os poderes públicos, as grandes forças económicas e as instituições mais influentes, devemos estar convencidos de que é uma "conversão" que nos diz respeito a todos, pessoalmente. É por nós mesmos que devemos começar. Por isso, na Encíclica Centesimus annus, ao lado dos termos debatidos sobre a problemática ecológica, acrescentei a urgência de uma "ecologia humana". Com este conceito quer-se recordar que "não só a terra foi dada por Deus ao homem, que a deve usar respeitando a intenção original do bem, segundo a qual lhe foi entregue; mas o homem foi doado a si mesmo por Deus, devendo por isso respeitar a estrutura natural e moral, de que foi dotado" (Centesimus annus CA 38). Se o homem perde o sentido da vida e a segurança das orientações morais, extraviando-se nas obscuridades do indiferentismo, nenhuma política poderá ser eficaz em salvaguardar conjuntamente as razões da natureza e da sociedade. É o homem, de facto, que pode construir ou destruir, respeitar ou espezinhar, partilhar ou recusar. Os grandes problemas apresentados ao sector agrícola, em que estais directamente comprometidos, também são encarados não só como questões "técnicos" ou "políticos" mas, na raiz, como "problemas morais".

8. Portanto, é responsabilidade iniludível de quantos trabalham com o nome de cristãos, dar também neste âmbito um testemunho credível. Infelizmente, nos países do mundo chamado "desenvolvido" vai-se difundindo um consumismo irracional, uma espécie de "cultura do desperdício", que se torna um conhecido estilo de vida. É preciso impedir esta tendência. Educar para um uso dos bens que não esqueça mais nem os limites dos recursos disponíveis, nem a condição de penúria de tantos seres humanos e que, consequentemente, volte o estilo de vida para o dever da partilha fraterna, é um desafio verdadeiramente pedagógico e uma escolha de grande alcance. O mundo dos trabalhadores da terra, com a sua tradição de sobriedade, com o património de sabedoria acumulado também no meio de muitos sofrimentos, pode dar um contributo sem par para isso.

9. Por isso, estou-vos vivamente grato por este testemunho "jubilar", que chama a atenção de toda a comunidae cristã e da sociedade para os grandes valores de que o mundo agrícola é portador.

Andai nos caminhos da vossa melhor tradição, abrindo-vos a todos os desenvolvimentos significativos da era tecnológica, mas conservando zelosamente os valores perenes que vos distinguem. É também este o caminho para dar ao mundo agrícola um futuro de esperança. Uma esperança fundada sobre a obra de Deus, que o Salmista canta assim: "Cuidas da terra e a regas, e sem medida a enriqueces" (Ps 65 [64], 10).

Ao invocar esta visita de Deus, fonte de prosperidade e de paz para as inumeráveis famílias que trabalham no mundo rural, quero conceder a todos uma Bênção Apostólica como conclusão deste encontro.

401 Antes de se despedir, o Papa saudou ainda os presentes com estas palavras:
Quero agradecer-vos esta bela tarde, o convite e a esplêndida união entre o mundo rural, o mundo agrícola e a música moderna. Obrigado a todos pela participação dos representantes de todos os países e assim toda a Igreja universal vive e celebra o Jubileu.

Desejo-vos um bom repouso. Amanhã espera-vos ainda uma grande celebração. Esperemos que o tempo seja bom!




AO NOVO EMBAIXADOR DE PORTUGAL


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Segunda-feira, 13 de novembro de 2000



Senhor Embaixador Pedro José Ribeiro de Menezes

Bem-vindo seja ao Vaticano para este acto de apresentação das Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Portugal junto da Santa Sé. Os sentimentos e propósitos que acaba de exprimir são a prova da seriedade com que olha e abraça o novo cargo diplomático; aqui encontrará - posso assegurar-lho - o apoio necessário para bem cumprir a alta missão para que foi acreditado, como o fizeram os seus predecessores. Na sua pessoa, vejo a nobre Nação Lusitana, hoje confinada às suas estreitas dimensões europeias mas grande na sua alma universalista que, à sombra da Cruz gloriosa, descobriu a fraternidade dos homens e dos povos, e dela se fez arauto e promotor. A Santa Sé rejubila com isso e felicita-o.

Vossa Excelência foi enviado pelo Chefe do Estado, que lhe confiou a expressão gentil dos seus cumprimentos e votos para a minha pessoa que muito apreciei e agradeço. Com a certeza das minhas orações pela prosperidade do seu país, peço-lhe que transmita as minhas cordiais saudações ao Senhor Presidente da República, ao Governo e ao povo português. A última imagem que dele guardo é a daquela multidão incontável de peregrinos no Santuário de Fátima, cujos olhos, devotos e felizes, se espelhavam nas graciosas figuras dos seus compatriotas Francisco e Jacinta Marto, elevados às honras dos altares. Pensei comigo mesmo: Aqui está Portugal!

Visitava eu, então, pela terceira vez a sua pátria, podendo constatar de novo como a religião cristã plasma a alma de Portugal e marca a sua vida nomeadamente com o influxo de beneméritas e prestigiosas instituições sociais e culturais, sinais visíveis do «papel incontornável da Igreja Católica no fluir da vida colectiva do país». Estas palavras do Senhor Embaixador exprimem o sentir do Governo português, que deseja chegar a uma melhor «adequação à realidade contemporânea» dos laços que unem Portugal e a Santa Sé. Pode comunicar ao seu Governo a disponibilidade desta, sensível como é aos sinais dos tempos e bem feliz de prosseguir no sulco das nossas respeitosas relações pautadas pelo anseio comum de concorrer para a maior dignificação do homem.

A missão específica da Igreja, e naturalmente da Santa Sé que é o seu centro, é de ordem espiritual, sendo a formação das consciências uma das suas preocupações fundamentais. Para isso trabalham, no respectivo campo em cada país, as Igrejas locais em comunhão com o Sucessor de Pedro; elas deixariam de cumprir o seu dever, se não procurassem esclarecer as consciências, indicar os males que ameaçam tanto a vida cristã como a integridade da pessoa, encorajar aquilo que é conforme à verdade e ao bem do homem. É verdade que a Igreja não tem poder directo sobre as leis e as instituições do Estado, escolhido democraticamente pelos cidadãos com toda a liberdade; mas ela reivindica, no desempenho da missão recebida do seu divino Fundador, o direito de pronunciar-se sobre as mesmas, distinguindo o que é permitido pelas leis civis e o que é moral, coerente com uma consciência bem formada. E a Igreja portuguesa não se tem cansado de o fazer nos mais diversos casos, como por exemplo com a lei iníqua do aborto e a equiparação legal à família assente na união matrimonial de modelos emergentes de vida conjunta radicalmente diversos e irredutíveis àquela.

Mas, há outros problemas morais, complexos. É fácil constatar a grande desorientação de muitos jovens, procurando com frequência uma evasão nas drogas ou em comportamentos que as degradam. Sabendo que o futuro nasce hoje - como lembrava Vossa Excelência - e à vista de tais flagelos que se abatem sobre muitas vítimas incautas e frágeis, é justo pedir responsabilidades aos diversos canteiros onde se edifica o homem e a mulher de amanhã. É preciso denunciar, por violação do projecto originário recebido, quantos deixem de educar para a autêntica liberdade, para a procura da verdade, para o respeito do amor, para os valores familiares. Pela sua parte, a Igreja deseja com todas as forças trabalhar para esta causa, dentro da sua competência, no respeito pela liberdade das consciências; ela não duvida de encontrar neste sector o assentimento dos Responsáveis políticos pelo bem comum. É que eles estão em melhor posição do que outros para verem que há um desafio a considerar quanto ao futuro do país, para o seu verdadeiro progresso humano e espiritual, em conformidade com a herança cristã que o marcou de modo tão forte e que continua a ser, para aqueles que a aceitam, uma fonte de vida.

Desejaria mencionar um ponto que honra o seu país: a grande sensibilidade da sua gente e do seu Governo, que de certo modo corre no sangue português, por todos os que vivem atribulados. Desde tempos imemoriais, o seu terrão pátrio constituiu o finis terrae e o derradeiro abrigo para os fugitivos mais robustos das sucessivas invasões indo-europeias; acossados pelos novos patrões do campo de batalha, acabavam lá encurralados contra o mar até ao dia em que este se abriu para lhes dar passagem para novos mundos, novos povos. Esta longa e quase forçada convivência de almas de variados povos forjou a alma grande, quase diria universal, de Portugal, capaz duma particular e fecunda sinergia com povos e raças dos diversos quadrantes da terra, que toma a forma de uma família alargada.


Discursos João Paulo II 2000 395