Discursos João Paulo II 2001

AOS PROFESSORES E ALUNOS DA


PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA


26 de Abril de 2001






Senhor Cardeal
Caríssimos Superiores e Alunos
da Pontifícia Academia Eclesiástica

1. Hoje de manhã rezei por todos vós, antes de vir a esta Praça da Minerva onde a histórica igreja que conserva os restos mortais de Santa Catarina de Sena, tão devotada ao Sucessor de Pedro, está localizada em frente da vossa Instituição já tricentenária. Agora, é-me grato encontrar-me convosco e dirigir-vos a minha cordial saudação. Agradeço ao Bispo D. Justo Mullor García, Presidente da Academia, as amáveis palavras com que interpretou os vossos sentimentos, delineando com eficácia os propósitos que orientam o vosso compromisso. Volto a pensar com gratidão também em quantos o precederam neste encargo e desempenharam com dedicação e sacrifício uma função de tão elevada responsabilidade.

Ao entrar no recinto entre estas paredes, não pude deixar de correr novamente com o pensamento para todos aqueles que aqui se formaram para os seus futuros compromissos ao serviço da Igreja. Como não recordar os meus Predecessores, que fundaram e valorizaram esta Academia, ou que aqui passaram uma boa parte da sua jovem existência sacerdotal? Uma menção especial merece sem dúvida o Servo de Deus Paulo VI, mas à minha mente vem inclusivamente o grande Pastor que me ordenou Presbítero, o Cardeal Adam Sapieha. Ele entrou nesta Academia um ano antes que o Servo de Deus Rafael Merry del Val, futuro Cardeal Secretário de Estado, fosse eleito Presidente da mesma. Diante destes e de outros eclesiásticos de exímia estatura espiritual, devemos sentir-nos comprometidos na imitação das suas virtudes e da sua exemplar dedicação ao serviço da Igreja.

Todos vós que formais a actual comunidade de Professores e de Alunos sois homens do Concílio Vaticano II; sois também sacerdotes que viveram a experiência do Grande Jubileu da Encarnação. Portanto na vossa experiência, tanto pessoal como colectiva, tudo deve convergir para o compromisso de corresponder à vocação universal à santidade, na qual se resume a mensagem fundamental destes dois grandes acontecimentos eclesiais. Viestes aqui para aprender a ser "peritos em humanidade" em conformidade com a sugestiva expressão de Paulo VI porque isto exige a arte, por vezes complicada, da diplomacia. Mas estais aqui sobretudo para trabalhar em prol da vossa santificação: é isto que requer o vosso futuro serviço à Igreja e ao Papa.

O facto de celebrardes uma solenidade três vezes centenária demonstra que também as instituições têm uma continuidade vital: um projecto de vida e de serviço que, amadurecido no passado, se enriqueceu ao longo do caminho e agora está confiado à geração contemporânea, a fim de que o transmita às gerações que hão-de vir. É assim que na Igreja as verdadeiras tradições, quando são genuínas e portadoras da linfa do Evangelho, longe de favorecer conservantismos paralisadores, impelem para metas de nova vitalidade eclesial e de renovação criadora. A Igreja caminha na história com os homens de todos os tempos.

2. O encontro convosco neste tempo pascal traz à minha mente o capítulo 21 de João, no qual o Evangelista apresenta Cristo ressuscitado em diálogo com Pedro e alguns outros Apóstolos, durante um intervalo do seu habitual trabalho de pescadores. Eles voltavam de uma noite de cansaço no lago de Tiberíades e a pesca fora infecunda. Pedro e os seus companheiros tinham-na empreendido, confiando unicamente nas suas próprias forças e no seu conhecimento de homens peritos em "coisas do mar". Todavia, aquela mesma pesca foi em seguida excepcionalmente abundante, quando se decidiu a enfrentá-la apoiando-se na palavra de Cristo. Então, não foram os seus conhecimentos "técnicos" que encheram as redes de peixes. Aquela pesca excepcionalmente abundante teve lugar graças à Palavra do Mestre, vencedor da morte e, por conseguinte, vencedor também do sofrimento, da fome, da marginalização e da ignorância.

3. A nossa Igreja está encarnada na história. Cristou fundou-a sobre os Apóstolos, pescadores de homens (cf. Mt Mt 4,19) a fim de que repetisse, ao longo dos séculos, as suas acções e as suas palavras salvadoras. Cenas como a descrita no capítulo 21 de João repetem-se inúmeras vezes ao longo dos tempos. Em quantos momentos os resultados da acção apostólica, também da obra levada a cabo nos foros civis nacionais e internacionais para junto dos quais um dia vós mesmos sereis enviados, pareceram insuficientes e quase vãos! Fenómenos como o secularismo, o consumismo paganizante e até mesmo a perseguição religiosa tornam muito difícil e, às vezes, quase impossível o anúncio de Cristo, que é "o Caminho, da Verdade e a Vida" (Jn 14,6).
Também esta Academia faz parte daquela "encarnação" da Igreja que se exprime mediante a sua presença no mundo e nas suas instituições civis, nacionais e internacionais. Tudo aquilo que aqui aprendeis está orientado para tornar presente a Palavra de Deus até aos confins da terra. Por isso, é uma Palavra que deve tomar posse em primeiro lugar das vossas inteligências, vontades e vidas.

Se o Evangelho não mergulhou as suas raízes na vossa vida pessoal e comunitária, a vossa actividade poderia reduzir-se a uma nobre profissão em que, com maior ou menor êxito, enfrentais questões que dizem respeito à Igreja ou à sua presença em determinados meios humanos. Se, por outro lado, o Evangelho está presente e fortemente arraigado na vossa existência, ele tenderá a atribuir um conteúdo bastante específico à vossa acção no complicado contexto das relações internacionais. No meio de um mundo impregnado de interesses materiais frequentemente contrastantes, deveis ser os homens do espírito em busca da concórdia, os arautos do diálogo, os mais persuadidos e tenazes construtores da paz. Vós não sereis promotores nem jamais poderíeis ser de uma certa "razão de estado". Embora esteja presente no concerto das nações, a Igreja visa um único interesse: fazer-se eco da Palavra de Deus no mundo, em defesa e salvaguarda dos homens.

4. Os valores desde sempre defendidos pela diplomacia pontifícia centralizam-se principalmente em redor do exercício da liberdade religiosa e da tutela dos direitos da Igreja. Estes temas permanecem actuais também nos nossos dias e, ao mesmo tempo, a atenção do Representante pontifício orienta-se cada vez mais, de forma especial nos foros internacionais, também para outras problemáticas humanas e sociais de grande relevância moral. Aquilo que hoje é sobretudo urgente é a defesa do homem e da imagem de Deus que nele subsiste. Sois chamados a tornar-vos portadores dos valores humanos que encontram a sua fonte no Evangelho, segundo o qual o homem é um irmão a respeitar e a amar.

O mundo onde ireis desempenhar a vossa missão conheceu, durante o século XX, inegáveis conquistas científicas e técnicas. Contudo, do ponto de vista ético, ele apresenta não poucos aspectos preocupantes, exposto como está à tentação de manipular tudo, inclusivamente o próprio homem. Na vossa acção devereis ser paladinos da dignidade do homem cuja natureza, graças à encarnação do Filho de Deus, foi elevada a uma dignidade sublime (cf. Constituição Gaudium et spes, GS 22).

Como Simão Pedro, como Tomé chamado Dídimo, Natanael, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos esgotados depois de uma noite em que "nada tinham apanhado" (cf. Jo Jn 21,3), às vezes também vós podereis ser surpreendidos pelo desânimo. Mas não vos abandoneis a esta tentação do Maligno. Pelo contrário, aproximai-vos de Cristo ressuscitado, provando e fazendo experimentar profundamente o poder que promana da definição que Ele deu de si mesmo: "Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim" (Ap 21,6). Sustentados pela força que deriva d'Ele, também vós podereis realizar uma pesca abundante, orientando muitos outros seres humanos para a busca da verdade e do bem. Bastar-vos-á ser fiéis ao Evangelho, sem qualquer hesitação: será assim que oferecereis aos outros a possibilidade de conhecer a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo (cf. Ef Ep 3,18).

5. Na Carta que escrevi no encerramento do Ano Santo, fiz-me eco da palavra de Cristo a Pedro: Duc in altum! Agora dirijo-vos este convite também a vós, que dentro em breve devereis deixar Roma e partir para o mundo, a Urbe para o Orbe. O mundo que vos espera tem sede de Deus, mesmo quando não está bem consciente disto. Recordando o encontro do Apóstolo Filipe com alguns gregos, eu mesmo escrevi que, "como aqueles peregrinos de há dois mil anos, os homens do nosso tempo, talvez sem se darem conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes "falem" de Cristo, mas também que de certa forma lho façam "ver"" (Novo millennio ineunte, 16).

Outros deverão fazer "ver" Cristo numa paróquia ou no meio de um grupo juvenil, numa zona industrial ou entre os marginalizados da sociedade. Quanto a vós, deveis "mostrá-lo" nos contactos com os ambientes políticos e diplomáticos; conseguireis fazer isto através do testemunho da vida, antes ainda que mediante a força das argumentações jurídicas ou diplomáticas. Sereis eficazes na medida em que, quem se aproximar de vós tiver a sensação de encontrar nas vossas palavras, nos vossos comportamentos e na vossa vida a presença libertadora de Cristo ressuscitado.

No futuro percorrereis os caminhos do mundo: senti-vos sempre ao serviço do Sucessor de Pedro e em diálogo criativo com os Pastores das Igrejas particulares dos países para onde fordes enviados a desempenhar a vossa missão. Levai Cristo convosco. Maria vos ajude a viver intensamente os seus pensamentos e sentimentos (cf. Fl Ph 2,5-11). Acompanhe-vos a minha afectuosa Bênção!




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA


ESLOVÉNIA POR OCASIÃO DA


VISITA "AD LIMINA"


26 de Abril de 2001







Queridos Irmãos no Episcopado!

1. Dou-vos com grande afecto as minhas cordiais boas-vindas, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Viestes para dar testemunho da comunhão de fé que liga a Igreja que está na República da Eslovénia com o Sucessor de Pedro, Chefe do Colégio Episcopal. Nesta ocasião faço minhas as palavras do Apóstolo Paulo aos Filipenses: "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós. Em todas as minhas orações peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomastes na difusão do Evangelho" (1, 3-5).

Estou grato ao Senhor Bispo, D. Franc Rodé, Arcebispo Metropolitano de Liubliana, pelas cordiais palavras que me dirigiu, como Presidente da Conferência Episcopal Eslovena, em seu nome e no nome de cada um de vós.

Das relações sobre as vossas Dioceses e, em particular, do colóquio fraterno que pude ter convosco acerca da actual situação da Igreja no vosso País, sobre o seu empenho apostólico, sobre as perspectivas e dificuldades que encontra na actividade de evangelização, pude constatar com alegria como é grande o zelo pastoral que vos anima a vós e aos vossos sacerdotes. Continuai pelo caminho da fidelidade ao mandato recebido de Cristo, esforçando-vos por realizar o empenho quotidiano pela causa do Evangelho.

2. Diante de vós, Pastores da Igreja que está na Eslovénia, abre-se um amplo campo de acção evangelizadora. Para responder melhor às expectativas e exigências das vossas Comunidades diocesanas e de toda a sociedade civil, quisestes celebrar o Primeiro Concílio Plenário Esloveno, ao qual deram o seu contributo os sacerdotes, os religiosos e os fiéis leigos do País (cf. Documento final, p. 8). Exorto-vos a fazer referência constante às indicações que surgiram daquele encontro providencial, continuando a vigiar "sobre todo o rebanho de que o Espírito Santo vos constituiu administradores" (Ac 20,28). Ao vigiar sobre o povo de Deus, ao realizar os actos de culto e ao ensinar a doutrina transmitida pelos Apóstolos, vós sabeis que deveis ser sempre e em tudo "modelos do rebanho" (cf. 1P 5,3).

A respeito disto, tendes exemplos luminosos nos que empregaram as suas energias no incansável serviço aos irmãos. Desejaria recordar aqui, sobretudo, o beato Anton Martin Slomsek e os servos de Deus D. Friderik Baraga e D. Anton Vovk. Inspirai-vos nos seus ensinamentos e que a sua intercessão vos acompanhe.

No novo cenário social que se vai delineando no vosso País, tendes a preocupação de que, juntamente com o anúncio do Evangelho, seja também promovido o bem comum da sociedade, de maneira a favorecer o progresso espiritual e material de todo o povo e de cada pessoa individualmente. Trabalhar pelo crescimento autêntico dos homens e das mulheres do País faz parte da missão da Igreja: cada uma das dimensões genuinamente humanas, partindo da social, cultural, política, até a económica, científica, sócio-sanitária, de facto não é "alheia" ao Evangelho.

No desempenho da sua missão específica ao serviço do homem, a Igreja encontra-se em vários domínios com o Estado, e isto abre perspectivas para uma recíproca e frutuosa colaboração, no pleno respeito das legítimas autonomias de cada um.

3. Com o nosso encontro de hoje, voltam a minha memória as recordações inesquecíveis das duas visitas pastorais, que pude realizar no vosso País de 17 a 20 de Maio de 1996 e a 19 de Setembro de 1999. Permanece impressa no meu coração a emoção suscitada em mim pelo caloroso acolhimento que me foi reservado pelas Autoridades do País, pela Comunidade cristã e por toda a população. Mantenho também viva a recordação de outros encontros que tive com os fiéis da Eslovénia em várias circunstâncias aqui em Roma, sobretudo por ocasião da peregrinação jubilar nacional. Sempre pude constatar o entusiasmo e a espontaneidade dos católicos eslovenos e dar-me conta da rica herança espiritual e cultural que o vosso Povo possui.

No início do terceiro milénio, enquanto também na Eslovénia se faz sentir com grande intensidade a urgência de "uma entusiasmante obra de incremento pastoral" (Novo millennio ineunte, 29), sabei fazer dessa herança o ponto de partida para um novo incremento profético do anúncio evangélico. Sem dúvida, isto será um benefício, como já aconteceu no passado, para toda a Nação. Ajudá-la-á a permanecer fiel aos valores humanos e religiosos autênticos, vencendo os desafios antigos e novos que se encontram no caminho da existência quotidiana.

4. Enquanto vos falo a vós, Pastores da Igreja que está na Eslovénia, e juntamente convosco olho com confiança para o vasto campo apostólico que vos espera, o meu pensamento dirige-se para os sacerdotes, que são os vossos primeiros colaboradores no serviço ao Povo de Deus; aos diáconos e aos outros agentes pastorais, bem como aos religiosos, às religiosas e aos fiéis leigos, empenhados activamente na vida e na missão da comunidade crista; por fim, dirige-se a todos os que deixaram a pátria para levar o anúncio evangélico a terras de missão. A cada um exprimo o meu sentido apreço pelo generoso empenho apostólico. Encorajo-os a perseverar na tarefa que lhes foi confiada com imediata dedicação e humilde caridade, mantendo-se em plena sintonia com os Pastores e entre si, de forma a que o ministério de cada um beneficie a edificação do Corpo místico de Cristo e o bem da sociedade civil (cf. CIC, CIC 799).

Quanto a vós, venerados Irmãos no Episcopado, a vossa missão específica permanece a de examinar tudo e de reter o que é bom, favorecendo a acção do Espírito (cf. Lumen gentium, LG 12), em plena comunhão com o Sucessor de Pedro, herdeiro de "um carisma certo de verdade" (cf. Santo Ireneu, Adversus haereses, IV, 26, 2; , 10, 53). De facto, vós sois os primeiros responsáveis pela obra pastoral em cada uma das vossas dioceses.

A sintonia das intenções apostólicas e a estreita colaboração entre todos presbíteros, consagrados, consagradas e fiéis leigos, sob a orientação diligente do Bispo dará frutos abundantes de fé, de caridade e de santidade. Para esta finalidade, cultivai, queridos Irmãos no Episcopado, a comunhão entre vós; uni as forças a nível paroquial, diocesano e nacional para responder adequadamente às modernas exigencias pastorais. Desta forma podereis, com atenta caridade evangélica, criar estruturas adequadas para as actuais necessidades, fazendo de forma que ninguém seja excluído da vossa solicitude de Pastores. Fazei isto com audácia e coragem apostólicas.

5. Nos dias de hoje o povo é mais atraído pelas testemunhas do que pelos mestres, como realça bem o vosso provérbio: "as palavras seduzem, os exemplos arrastam". Eis por que é importante que todos os que desejam dedicar-se ao apostolado sejam insígnes pela santidade, doutrina e sabedoria. A sua vida e a sua obra devem em qualquer situação reflectir a imagem viva de Cristo.

Isto exige, estimados Irmãos no Episcopado, uma constante formaçao teológica, litúrgica e pastoral, que vós não vos cansareis de garantir às vossas comunidades. É um empenho que diz respeito não só aos presbíteros, mas também aos outros agentes pastorais, aos consagrados, consagradas, e também aos fiéis leigos. Por conseguinte, fazei com que aos sacerdotes e a todos os que se dedicam à obra pastoral nao falte a possibilidade de se actualizar especialmente naqueles temas que se revelam ser particularmente úteis para desempenhar as suas tarefas quotidianas. Ao mesmo tempo, aos fiéis leigos, jovens e adultos, sejam oferecidas oportunidades adequadas para aprofundar a fé, com vista a uma maior coerencia com o Evangelho a nível tanto individual como familiar e comunitário.

Portanto, dedicai-vos com a máxima atençao à formação humana e espiritual dos futuros sacerdotes. Que os seminários sejam um verdadeiro Cenáculo, onde aos candidatos seja oferecida a oportunidade de um autentico amadurecimento integral. Ao mesmo tempo, preocupai-vos por que os fiéis leigos se empenhem em desenvolver a sua missão nos diversos âmbitos da vida social, política, económica e cultural do País, como arautos de Cristo e da força profética do seu Evangelho.

Por conseguinte, é necessário preparar um programa pastoral que incremente de novo a evangelização da família e dos jovens; uma catequese minuciosa que abranja os componentes de todas as camadas sociais, homens e mulheres de todas as idades, ajudando-os a descobrir e a viver o mistério de Cristo e da salvação celebrado na liturgia.

6. Um intenso e coerente testemunho constitui a premissa e a promessa de um renovado estímulo na evangelização. Nesta perspectiva, será importante como nunca uma incansável promoção de novas vocações ao sacerdócio, à vida consagrada e às outras formas de doação total ao Senhor.

Revela-se de igual modo fundamental o empenho por manter vivo o espírito missionário que distinguiu sempre a Igreja que está na Eslovénia. Oxalá Deus suscite nas novas gerações muitos jovens dispostos a tornarem-se dispensadores dos Mistérios da salvação, confiados por Cristo à Igreja. Suscite também pessoas generosas no seguimento de Cristo no caminho da perfeição evangélica com um coraçao livre e indiviso.

Se souberem abrir-se aos estímulos do Espírito Santo, as vossas Comunidades eclesiais serão fermento na sociedade e difundirão em toda a parte a boa notícia do Senhor ressuscitado, oferecendo com a própria vida o testemunho convincente do seu poder salvífico. Jesus Cristo, nossa esperança (cf. 1Tm 1,1), Senhor da história e Pastor da Igreja, vos encha a vós e às vossas Igrejas com a sua graça e a sua paz.

Confio estes bons votos à Virgem de Nazaré, humilde serva do Senhor. Maria vigie do seu santuário de Brezje sobre os seus filhos devotos da querida Eslovénia e os ampare com a sua intercessão no empenho de construir o presente e o futuro, em sintonia com o projecto de Deus sobre o homem e sobre a sociedade humana.

Com estes propósitos, concedo de coração uma especial Benção apostólica a vós, venerados e queridos Irmãos, aos sacerdotes, aos diáconos, aos consagrados, às consagradas, aos fiéis leigos e a toda a população do vosso amado País.




AOS MEMBROS DA


PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS


CIÊNCIAS SOCIAIS


Sexta-feira, 27 de Abril de 2001






Senhoras e Senhores da Pontifícia
Academia das Ciências Sociais

1. O vosso Presidente acabou de expressar a alegria com que vos encontrais aqui no Vaticano para abordar um tema que é motivo de preocupação tanto para as ciências sociais como para o Magistério da Igreja. Estou grato ao Professor Malinvaud pelas suas amáveis palavras e agradeço-vos a todos vós a contribuição que ofereceis com generosidade à Igreja, no vosso campo de competência. Por ocasião da VII Sessão Plenária da Academia, decidistes enfrentar de maneira mais aprofundada o tema da globalização, prestando uma atenção particular às suas implicações éticas.

A partir da derrocada do sistema colectivista na Europa central e oriental, com as suas sucessivas e importantes consequências para o terceiro mundo, a humanidade entrou numa nova fase em que a economia de mercado parece ter conquistado virtualmente o mundo inteiro. Isto trouxe consigo não só uma crescente interdependência das economias e dos sistemas sociais, mas também a difusão de novas ideias filosóficas e éticas, fundamentadas nas novas condições de trabalho e de vida, que foram introduzidas em quase todas as regiões do mundo. A Igreja examina atentamente estes novos factos à luz dos princípios da sua doutrina social. Para o fazer, ela deve aprofundar o seu conhecimento objectivo acerca dos fenómenos emergentes. Eis por que motivo a Igreja depende da vossa obra na busca de ideias que possam tornar possível um melhor discernimento das questões éticas que o processo da globalização acarreta.

2. A globalização do comércio constitui um fenómeno complexo e em rápida evolução. A sua principal característica é a crescente eliminação das barreiras que dificultam a mobilidade das pessoas, dos bens e dos capitais. É a consagração de uma espécie de triunfo do mercado e da sua lógica, que por sua vez provoca rápidas transformações nas culturas e nos sistemas sociais em geral. Muitas pessoas, em particular os indivíduos mais desfavorecidos, a vivem como uma imposição e não como um processo em que desejam participar de forma activa.

Na minha Carta Encíclica Centesimus annus, afirmei que a economia de mercado constitui um modo de corresponder adequadamente às necessidades económicas das pessoas, embora no respeito da sua livre iniciativa, mas que deve ser controlada pela comunidade, pelo corpo social com o seu bem comum (cf. nn. 31 e 58). Agora que o comércio e as comunicações já não se encontram limitados por confins específicos, é o bem comum universal que exige que a lógica intrínseca do mercado seja acompanhada por mecanismos de controlo. Isto é essencial, para impedir a redução de todas as relações sociais a factores económicos e para tutelar quantos são vítimas de novas formas de exclusão ou de marginalização.

A priori, a globalização não é positiva nem negativa. Ela será aquilo que dela se fizer. Nenhum sistema é um fim em si mesmo, e é necessário insistir sobre o facto de que a globalização, assim como qualquer outro sistema, deve estar ao serviço da pessoa humana, da solidariedade e do bem comum.

3. Uma das preocupações da Igreja acerca da globalização consiste no facto de que esta se tornou rapidamente um fenómeno cultural. O mercado como mecanismo de intercâmbio tornou-se instrumento de uma nova cultura. Muitos observadores notaram o carácter indiscreto, e até mesmo invasor, da lógica do mercado, que limita cada vez mais a área disponível à comunidade humana para a acção pública e voluntária a todos os níveis. O mercado impõe o seu modo de pensar e de agir e, com a sua escala de valores, influi no comportamento. Os povos que estão sujeitos a isto não raro consideram a globalização como uma invasão destruidora que ameaça as normas sociais que antes os tutelavam e os pontos de referência culturais que lhes ofereciam um rumo na vida.

O que está a acontecer é que as mudanças na tecnologia e nas relações de trabalho se transformam com demasiada rapidez para que a cultura seja capaz de lhes corresponder. As garantias culturais, legais e sociais que são o resultado dos esforços voltados para a defesa do bem comum têm uma importância vital para fazer com que os indivíduos e os grupos intermediários mantenham a sua própria centralidade. Todavia, com frequência a globalização corre o perigo de destruir estas estruturas edificadas com tanto esmero, reivindicando a adopção de novos estilos de trabalho, de vida e de organização das comunidades. Da mesma forma, a outro nível, a utilização das descobertas no campo biomédico tende a encontrar os legisladores impreparados. A própria investigação é frequentemente financiada por grupos particulares, e os seus resultados são comercializados mesmo antes que o processo de controle social tenha tido a possibilidade de reagir. Encontramo-nos diante de um aumento prometeico de poder sobre a natureza humana, a tal ponto que o próprio código genético humano é medido em termos de custo e benefício. Todas as sociedades reconhecem a necessidade de controlar estes progressos e de garantir que as novas práticas respeitem os valores humanos fundamentais e o bem comum.

4. A afirmação da prioridade da ética corresponde a uma exigência essencial da pessoa e da comunidade humanas. Todavia, nem todas as formas de ética são dignas deste nome. Assistimos ao nascimento de modelos de pensamento ético que são subprodutos da própria globalização e têm em mesmos si a marca do utilitarismo. Contudo, os valores éticos não podem ser determinados pelas inovações tecnológicas, pela técnica ou pela eficácia. Eles estão radicados na própria natureza da pessoa humana. A ética não pode ser a justificação ou a legitimação de um sistema, mas deve constituir sobretudo a tutela de tudo aquilo que há de humano em qualquer sistema.

A ética exige que os sistemas se adaptem às exigências do homem, e não que o homem seja sacrificado em nome do sistema. Uma consequência evidente disto é o facto de que as comissões éticas, hoje habituais em quase todos os sectores, deveriam ser completamente independentes dos interesses financeiros, das ideologias e das concepções políticas partidárias.

Por sua vez, a Igreja continua a afirmar que o discernimento ético no contexto da globalização deve fundamentar-se em dois princípios inseparáveis:

primeiro, o valor inalienável da pessoa humana, fonte de todos os direitos humanos e de todas as ordens sociais. O ser humano deve ser sempre um fim e jamais um instrumento, um sujeito e não um objecto nem um produto de mercado;

segundo, o valor das culturas humanas, que nenhum poder externo tem o direito de desvirtuar e ainda menos de destruir. A globalização não pode constituir um novo tipo de colonianismo. Pelo contrário, deve respeitar a diversidade das culturas que, no âmbito da harmonia universal dos povos, são as chaves interpretativas da vida. De forma especial, não deve privar os pobres daquilo que lhes resta de mais precioso, inclusivamente os credos e as práticas religiosas, porque as convicções religiosas genuínas constituem a manifestação mais clarividente da liberdade humana.

Ao empreender o processo de globalização, a humanidade não pode renunciar a um código ético comum. Isto não significa que deve existir um único sistema socio-económico predominante, ou uma só cultura que imponha os seus próprios valores e critérios à ética. É no homem em si mesmo, na humanidade universal nascida das mãos de Deus, que é preciso buscar as normas de vida social. Esta investigação é indispensável a fim de que a globalização não seja apenas outro nome da relativização absoluta dos valores e da homogeneização dos estilos de vida e das culturas. Em todas as diversas formas culturais existem valores humanos universais que devem ser expressos e evidenciados como força-motriz do todo o desenvolvimento e progresso.

5. A Igreja continuará a trabalhar com todas as pessoas de boa vontade para garantir que neste processo vença a humanidade inteira e não somente uma elite próspera que controla a ciência, a tecnologia, a comunicação e os recursos do planeta, em detrimento da vasta maioria dos seus habitantes. A Igreja espera verdadeiramente que todos os elementos criativos da sociedade colaborem para a promoção de uma globalização ao serviço de todo o homem e do homem todo.

Com estas reflexões, encorajo-vos a continuar a buscar uma concepção cada vez mais profunda da realidade da globalização enquanto, como penhor da minha proximidade espiritual, invoco cordialmente sobre vós as bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DO IRAQUE


JUNTO À SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 28 de Abril de 2001




Senhor Embaixador Abdul-Amir Al-Anbar

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Iraque junto da Santa Sé. Desejo que Vossa Excelência tome conhecimento da estima que nutro pelo povo iraquiano, de quem me recordo quotidianamente nas minhas orações, de forma especial à luz das constantes dificuldades que ele enfrenta. Enquanto o embargo ao seu País continua a ceifar vidas, renovo o meu apelo à comunidade internacional a fim de que as pessoas inocentes não sejam obrigadas a pagar as consequências de uma guerra destruidora, cujos efeitos ainda estão a ser sentidos pelos indivíduos mais frágeis e vulneráveis.

Vossa Excelência referiu-se à presença da Santa Sé no seio da comunidade internacional e aos seus esforços em servir a família humana mundial. Efectivamente, a Santa Sé promove aquela "cooperação mútua global" (Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, GS 76) entre a Igreja e a comunidade política, que beneficia tanto os indivíduos singularmente como os povos, as nações e o mundo em geral. Com efeito, embora a tensão, a violência e o conflito armado tristemente o aflijam em muitas das suas regiões, o mundo de hoje está à procura de maiores igualdade e estabilidade para que toda a família humana possa viver na verdadeira justiça e na paz duradoura. Estes conceitos não são abstractos, nem ideais remotos; pelo contrário, são valores radicados no coração de cada indivíduo e nação, e aos quais todas as pessoas têm direito.

É precisamente a promoção desta justiça e desta paz que constitui o motor que está por detrás de todas as actividades da Santa Sé no campo da diplomacia internacional. Embora seja verdade que a actual situação mundial com as enfermidades, a pobreza, a injustiça e a guerra que ainda são causas de demasiados sofrimentos e dificuldades pode levar as pessoas a duvidarem da capacidade da comunidade internacional sarar os males deste mundo, a Santa Sé acredita plenamente que, como tive a ocasião de pôr em evidência no início do corrente ano, "sem a solidariedade social ou o recurso ao direito e outros instrumentos da diplomacia, estas situações terríveis seriam ainda mais dramáticas e poderiam mesmo tornar-se insolúveis" (Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 13 de Janeiro de 2001, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 20/1/2001, pág. 4, n. 1).

Milhares de anos de história humana demonstraram com toda a clarividência que a humanidade de todos os tempos se sente tentada a "fechar o homem em si mesmo, numa atitude de auto-suficiência, domínio, poder e orgulho" (Ibid., n. 6). Portanto, a Santa Sé considera que um dos seus principais deveres consiste em recordar à opinião pública que "nenhuma autoridade, nenhum programa político, nenhuma ideologia está autorizada a reduzir o homem àquilo que ele é capaz de fazer ou produzir" (Ibid., n. 7). Os direitos e a dignidade pessoal inalienáveis de cada ser humano devem ser salvaguardados e a dimensão transcendente da pessoa humana há-de ser defendida. "Ainda que a alguns repugne evocar a dimensão religiosa do homem e da sua história, ainda que outros queiram reduzir a religião à esfera do privado, que outros ainda persigam a comunidade dos crentes, os cristãos continuarão a proclamar que a experiência religiosa faz parte da experiência humana. É um elemento vital para a construção da pessoa e da sociedade à qual os homens pertencem" (Ibidem).

Neste contexto, o meu pensamento volta-se naturalmente para os membros da comunidade católica presente no Iraque. Juntamente com os seus compatriotas muçulmanos, os cristãos iraquianos desejam trabalhar em prol da unidade e da harmonia. A sua fé e os seus valores cristãos inspiram-nos a cultivar um espírito de respeito mútuo, com orgulho pela sua identidade nacional e solicitude pelo progresso do seu País. No Iraque, assim como no resto do mundo em geral, o diálogo entre os cristãos e os muçulmanos é mais necessário do que nunca. Através do diálogo, os fiéis tornar-se-ão capazes de corresponder de maneira positiva ao apelo para se respeitarem reciprocamente, ultrapassarem toda a discriminação e servirem o bem comum num espírito de fraternidade e de compreensão. Da mesma forma, cada governo tem a obrigação de garantir que a igualdade de todos os cidadãos perante a lei jamais seja violada por motivos religiosos, quer estes sejam abertos ou dissimulados.

Senhor Embaixador, com a sua longa experiência e as elevadas qualificações com que assume os seus deveres, estou persuadido de que o seu mandato de serviço muito contribuirá para fortalecer os vínculos de amizade entre o seu Governo e a Santa Sé. Formulo-lhe os meus melhores votos para o bom êxito da sua missão e asseguro-lhe toda a assistência no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o amado povo iraquiano, invoco cordialmente as copiosas Bênçãos do Altíssimo.




AO COMITÉ EUROPEU PARA A


EDUCAÇÃO CATÓLICA


28 de Abril de 2001





Monsenhor
Caros amigos


Discursos João Paulo II 2001