Discursos João Paulo II 2000 454

AO NOVO EMBAIXADOR DE CHIPRE


JUNTO À SANTA SÉ


Quinta-feira, 14 de dezembro de 2000



Senhor Embaixador Christos N. Psilogenis

Sinto-me feliz por lhe dar as boas-vindas e receber as Cartas que o credenciam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Chipre junto da Santa Sé. Grato pelas saudações que me comunicou da parte do seu Governo, peço-lhe que transmita a Sua Excelência o Senhor Presidente Glafcos Clerides a certeza das minhas orações pela paz e o bem-estar da sua Nação.

Não obstante as tentativas de negociação, Chipre ainda se encontra em busca de uma solução para o problema da divisão que desde há muito tempo perturba a Ilha. As raízes de uma solução jazem ainda mais profundas no solo da cultura cipriota, que foi impregnada com a riqueza do Evangelho desde o próprio alvorecer do cristianismo. À luz do Evangelho, o diálogo é considerado como o caminho para ir além do confronto e alcançar a "dignidade, justiça e segurança" das quais Vossa Excelência falou. Eis o motivo por que a Santa Sé insiste sobre a necessidade de edificar uma cultura do diálogo a nível internacional, e especialmente na Europa neste tempo de crescente integração. A unidade europeia exige que as diferenças sejam negociadas e delineadas de maneira a servir o bem comum. E se quisermos que isto se verifique, o único caminho a seguir é o do diálogo aberto e sincero.

Em primeiro lugar, há necessidade de uma genuína aspiração à paz, e isto é certamente verdade para a vasta maioria dos cipriotas, que estão cansados da divisão e almejam por uma vida mais pacífica. O desejo de paz está vinculado ao reconhecimento de que o confronto é fútil. Ele só pode criar problemas mais complicados, quando não degenera em aberta hostilidade.

O diálogo comporta também uma consciência daquilo que separa, juntamente com a vontade de confiar na boa fé da outra parte. Sem isto, não pode haver um verdadeiro encontro de mentes e corações, mas simplesmente dois monólogos que, em última instância, são inúteis. O diálogo exige a disponibilidade em procurar o que é verdadeiro, bom e justo em cada pessoa e grupo. Ele aproxima os seres humanos uns dos outros, como membros da única família humana, com toda a riqueza das suas diversificadas culturas e histórias. Além disso, está assente sobre o reconhecimento da dignidade inalienável de cada ser humano e sobre o respeito pelas exigências objectivas e invioláveis da lei moral universal. Mediante o diálogo, os indivíduos não só se descobrem uns aos outros, mas desvelam também as esperanças legítimas e as aspirações pacíficas, ocultas no seu coração.

Há pessoas que se perguntam se a chamada a este diálogo é realista ou se o próprio processo é de facto possível. A Santa Sé não cessará de apoiar Chipre na tentativa de percorrer o lento e árduo caminho das negociações, e a comunidade católica na sua terra não deixará de se comprometer cada vez mais profundamente na tarefa de edificação das pontes que tornam o diálogo possível. O diálogo ecuménico e inter-religioso constitui uma importante parte deste diálogo da paz, do qual não só Chipre mas toda a Europa e efectivamente o mundo inteiro têm urgente necessidade.
455 Senhor Embaixador, estou persuadido de que no momento de iniciar a sua missão, os vínculos de amizade e de cooperação que já existem entre a República de Chipre e a Santa Sé serão ulteriormente revigorados e enriquecidos. Formulo-lhe os meus bons votos e asseguro que os departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo. Sobre Vossa Excelência e os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO NOVO EMBAIXADOR DA ÍNDIA


JUNTO À SANTA SÉ



Senhor Embaixador
Niranjan Natverlal Desai

É-me grato apresentar-lhe as boas-vindas e aceitar as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Índia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis saudações que expressou tanto da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Raman Narayanan, como do Governo e do povo da Índia, e peço que tenha a amabilidade de transmitir-lhe os meus melhores votos e a certeza das minhas preces pela paz, o bem-estar e a harmonia da sua Nação.

Os meus pensamentos voltam-se com frequência para o seu País, que tive a alegria de visitar em duas ocasiões. Durante essas duas viagens, foi-me concedida a oportunidade de encontrar pessoas formadas por antigas culturas e religiões, bem como por uma sabedoria tradicional, que continuam a desempenhar um papel vital na vida da sociedade em geral. A Índia foi enormemente enriquecida pela variedade dos seus povos, tradições e linguagens, e a sociedade indiana pode orgulhar-se dos seus duradouros respeito e estima por este património precioso. No meio de uma vasta e fascinante diversidade, a visão de uma Nação unida emergiu ao longo dos séculos na obra de filósofos, místicos, escritores e estadistas ilustres, que ofereceram uma contribuição significativa para a história indiana e fizeram com que a voz específica do seu País passasse a ser considerada no seio da comunidade internacional.

Vossa Excelência salientou o compromisso da Índia em prol da paz e da amizade com todas as nações. A promoção da paz constitui um dos principais desafios que a comunidade internacional deve enfrentar no princípio do novo milénio. O mundo, que até há pouco tempo vivia à sombra da ameaça do conflito entre dois blocos opostos, continua a ser insidiado por novas e antigas rivalidades entre os povos, e por um fosso crescente entre os sectores ricos e as classes pobres da sociedade, uma lacuna que corre o risco de se tornar cada vez mais radical, com o aumento da globalização da economia e da tecnologia. Os sólidos e duradouros fundamentos da paz exigem que a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana se tornem um princípio-guia em todos os campos da sociedade. De forma análoga, o bem comum há-de constituir o compromisso prioritário de todos os indivíduos que são responsáveis pela vida das nações (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 1).

A dignidade humana é um valor transcendente, independentemente do lugar ou da circunstância, e uma característica essencial da verdade acerca do homem, que só pode ser ignorada em detrimento dos povos e das nações. O reconhecimento da dignidade inata de todos os membros da família humana, da igualdade e do carácter inalienável dos seus direitos, é uma premissa fundamental da Declaração dos Direitos do Homem, da Organização das Nações Unidas, e o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. O desrespeito desta dignidade leva a várias e, com frequência, trágicas formas de discriminação, exploração, sublevação social e até mesmo de conflito nacional e internacional, que infelizmente nos são tão familiares.

A sociedade indiana está impregnada de uma profunda consciência da importância das dimensões espiritual e transcendente da vida humana. O seu País é famoso pelo respeito reservado às tradições religiosas seguidas pelos seus povos, um respeito garantido pela Constituição da Índia, que reconhece o direito a todos de praticar a sua própria religião de maneira livre. As tradições religiosas desempenham um papel fulcral na vida da nação e, para os seus cidadãos, constituem um manancial de júbilo, fortaleza e significado. Elas oferecem uma contribuição essencial para o progresso genuíno da sociedade, chamando a atenção para as mais profundas questões e valores humanos. Elas também indicam os padrões espirituais e morais de crescimento que deveriam acompanhar sempre os progressos económicos, científicos e tecnológicos.

Faço votos por que o respeito mútuo e a harmonia que tradicionalmente têm prevalecido entre os seguidores das várias religiões da Índia continuem e se tornem cada vez mais estáveis. Nos tempos mais recentes, houve momentos de tensão e até mesmo trágicos incidentes em que determinados grupos étnicos e religiosos não respeitaram a dignidade e os direitos que são essenciais para uma coexistência pacífica. O recurso à violência em nome do credo religioso constitui uma deturpação dos próprios ensinamentos das principais religiões. O bem da sociedade exige que o direito à liberdade religiosa, salvaguardado pela lei, seja reconfirmado e receba uma tutela efectiva. Em conformidade com as melhores tradições da Índia, há necessidade de diálogo, compreensão e cooperação recíprocos entre os seguidores das várias religiões, a fim de que todos juntos possam trabalhar em benefício de uma civilização edificada sobre os valores universais da solidariedade, da justiça e da liberdade. Como sublinhei por ocasião do meu encontro com os chefes religiosos em Deli: "Sobretudo os Responsáveis religiosos têm o dever de fazer o possível a fim de garantir que a religião seja o que Deus deseja, uma fonte de bondade, respeito, harmonia e paz!" (Discurso aos líderes religiosos, 7 de Novembro de 1999, em: ed. port. de L'Osservartore Romano de 13.XI.1999, pág. 4, n. 3). Enquanto nos conformamos firmemente com aquilo em que acreditamos e não abandonamos as nossas próprias convicções, é essencial que todos procuremos escutar-nos respeitosamente uns aos outros, a fim de discernirmos tudo o que é bom e santo, tudo o que se faz pela cooperação e a paz.

Estou grato a Vossa Excelência pelas suas observações acerca do contributo da cristandade oferecido ao seu País no decurso dos últimos quase dois mil anos. A comunidade católica, que desde então está presente na Índia, é exígua em relação à população global, mas os seus membros são orgulhosos de se colocarem ao serviço dos próprios compatriotas, segundo o exemplo de Jesus Cristo, que veio não para ser servido mas para servir (cf. Mt Mt 20,28). Nas suas diversas actividades, a Igreja não busca qualquer privilégio especial, mas meramente deseja exercer os seus direitos de forma livre e fazer com que estes sejam respeitados. Desta maneira, ela há-de continuar a poder cumprir a sua missão espiritual e humanitária, e a oferecer a sua contribuição específica para a construção de uma sociedade que seja um verdadeiro lar para todos os seus membros.

Senhor Embaixador, formulo votos por que, ao assumir as suas responsabilidades, se revigorem ainda mais os vínculos de amizade existentes entre a Santa Sé e a Índia. E pode ter a certeza de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos a assisti-lo no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência e o amado povo da sua Nação, invoco as abundantes Bênçãos celestes.




AO NOVO EMBAIXADOR DA ERITREIA


JUNTO À SANTA SÉ




456

14 de Dezembro de 2000





Senhor Embaixador
Beraky Gebreslassie

Dou as calorosas boas-vindas a Vossa Excelência, e recebo as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado da Eritreia junto da Santa Sé.

Reconfirmando o meu afecto e estima pelo povo do seu País, desejo oferecer o meu apoio sincero ao acordo de paz que nestes dias foi assinado pelo seu Governo e o Governo da Etiópia: por intermédio deste tratado, agora um acordo formal põe termo a quase três anos de conflito, cuja passagem deixou sofrimentos, mortes e destruição inauditos. Aproveito este ensejo para renovar o meu apelo a todas as partes interessadas, a trabalharem com coragem e clarividência para ultrapassar as dificuldades persistentes, de tal maneira que uma paz justa e duradoura, assente na compreensão, reconciliação e cooperação recíprocas possa voltar a reinar nessa região.

A este propósito, elogio os governantes e estadistas cujos esforços e intervenções pessoais ajudaram a impor o cessar-fogo; em particular, reconheço a assistência concreta da Organização da Unidade Africana (OUA), com vista a negociar o acordo que silenciou as armas e pôs fim às hostilidades abertas. Esta Organização pan-africana encontra-se numa singular e privilegiada condição de promover a cooperação política, económica, social e cultural no continente, e pode fomentar de modo eficaz as soluções pacíficas às contendas entre as nações africanas. Devemos esperar que os vários Estados membros, assim como a família mundial das nações, ajudem a OUA nestes empreendimentos, fazendo o possível para que este Organismo internacional possa desempenhar um papel cada vez mais positivo no desenvolvimento da África e dos seus povos no novo milénio.

O recurso ao conflito, mesmo quando parece resolver imediatamente os problemas, só consegue exacerbar as dificuldades e disseminar ulteriores tragédias e destruições. É por este motivo que em todas as partes do mundo a Santa Sé encoraja os povos e os respectivos Governos a elevar-se para além da "cultura da força" e a rejeitar a tentação da violência e da agressão armada. Se quisermos que seja genuína e duradoura, a paz tem necessidade não só de estruturas e mecanismos exteriores; ela exige um estilo de coexistência humana caracterizada pelo respeito mútuo e pela justiça. Não há contradição entre reconciliação e justiça; a reconciliação não diminui as exigências da justiça, mas procura reintegrar os indivíduos e os grupos na sociedade, e os Estados no seio da comunidade das Nações, através de um renovado e compartilhado sentido de responsabilidade pelo bem comum e, onde for possível, mediante a solidariedade para com as vítimas das injustiças do passado.

A tarefa que se apresenta a todos os eritreus consiste em actuar juntos para edificar uma sociedade em que a dignidade da pessoa humana e o respeito pelos direitos humanos sejam a norma de conduta para todos. Haurindo nos seus valores e tradições mais nobres, a Eritreia na realidade, toda a África encontrará forças e inspiração para crescer em solidariedade, justiça e bem-estar.

O Senhor Embaixador fez menção dos novos desafios que estão a ser enfrentados pela Eritreia, enquanto ela procura assegurar uma forma de governo democrática e constitucional para o seu povo. Talvez o maior de todos os desafios se possa encontrar ao nível da educação. Com efeito, não existe maior investimento que uma nação possa fazer para si mesma e para os seus cidadãos. A sociedade que busca os verdadeiros desenvolvimento e progresso, e que deseja contribuir para o progresso genuíno dos seus membros, deve proporcionar-lhes os modos de cultivar um entendimento objectivo de si mesmos e do mundo em que vivem, bem como das tradições sociais, culturais e religiosas que são diferentes das suas próprias. Da mesma forma, a educação é a chave que faz com que os cidadãos tomem parte nas opções políticas, elegendo e julgando dignas de confiança as pessoas que os governam (cf. Centesimus annus, CA 46).

Profundamente solícita pela dimensão social da vida humana, a Igreja contribui para a ordem política pregando a dignidade inalienável da pessoa humana. Ela exorta os seus membros a participarem de modo responsável na vida política, económica e social das suas respectivas comunidades, e a imbuírem todos os campos da vida com a mensagem evangélica da fraternidade, reconciliação e paz. É por este motivo que a Igreja se encontra profundamente comprometida na educação, na assistência médica, nos serviços sociais e na ajuda humanitária, tanto no seu próprio País, Senhor Embaixador, como em todo o continente africano e no mundo inteiro. Agradeço-lhe o seu reconhecimento destes contributos oferecidos pela Igreja na Eritreia.

Senhor Embaixador, peço-lhe que transmita ao Presidente, Sua Excelência o Senhor Issaias Afwerki, e ao Governo as minhas saudações pessoais e os sinceros bons votos pela paz e o progresso da Eritreia. Garanto-lhe a plena cooperação da Santa Sé, no momento em que assume as suas altas responsabilidades, e desejo-lhe muito bom êxito na sua missão. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo do Estado da Eritreia, invoco as abundantes bênçãos do Omnipotente.




AO NOVO EMBAIXADOR DO CHADE


JUNTO À SANTA SÉ


457

14 de Dezembro de 2000





Senhor Embaixador
Mahmoud Hissein Mahmoud

1. É com prazer que lhe ofereço as boas-vindas, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Chade junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu, bem como os bons votos que me transmitiu da parte do Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Idriss Deby. Ser-lhe-ia muito grato se se dignasse comunicar-lhe os votos cordiais que formulo em favor da sua pessoa e do cumprimento da sua tarefa ao serviço do povo chadiano. Peço também ao Todo-Poderoso que sustenha o compromisso de todos os seus compatriotas em viver na paz e na compreensão mútua, a fim de que todos possam beneficiar de uma existência digna e agradável.

2. Excelência, na sua alocução o Senhor Embaixador ilustrou-me os esforços despendidos no seu País a fim de que a sociedade inteira progrida rumo a uma democracia pluralista, respeitosa dos direitos fundamentais do homem, e de que se confiram bases sólidas para a edificação de um Estado de direito. Assegurando efectivamente às pessoas e aos grupos humanos condições de vida fundamentadas sobre a justiça e o respeito recíproco, encontrar-se-ão os caminhos necessários para preservar de modo duradouro a convivência e a harmonia no seio de toda a sociedade.

A fim de garantir a estabilidade e a segurança, as novas perspectivas económicas que se apresentam ao seu País devem contribuir antes de mais nada para satisfazer as necessidades elementares da população e eliminar as disparidades entre as pessoas e entre as regiões. De qualquer maneira, é oportuno que os benefícios do desenvolvimento, ao qual o conjunto dos chadianos aspira, não se limitem ao legítimo aumento do bem-estar material, mas tornem possível um verdadeiro amadurecimento das pessoas, das famílias e da sociedade, em todas as suas dimensões humanas e espirituais. Se a todos, e particularmente aos mais desfavorecidos, for concedido levar uma vida decente, em conformidade com a sua vocação humana, as ameaças contra a paz hão-de afastar-se e as relações sociais solidárias poderão estabelecer-se de forma duradoura entre todos os componentes da Nação.

3. Alegro-me ao saber que o seu País deseja oferecer um renovado contributo ao serviço da paz nessa região. Ao entrarmos num novo milénio, é cada vez mais urgente que a África inteira se comprometa de modo decidido nos caminhos da paz e da reconciliação, a fim de que finalmente cessem as violências, cujas vítimas são muitas populações inocentes. Os numerosos conflitos que continuam a ferir dramaticamente o continente devem fazer com que todos compreendam, como já tive a ocasião de o realçar, "que chegou o momento de mudar de rumo, com decisão e grande sentido de responsabilidade" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 18 de Dezembro de 1999, pág. 6, n. 8).

De resto, o encontro fraterno e o diálogo sincero entre os crentes, de forma especial entre cristãos e muçulmanos, são necessidades imperiosas para "nutrir aquela esperança de justiça e de paz, sem a qual não haverá um futuro digno da humanidade" (Discurso a uma Assembleia inter-religiosa, 28 de Outubro de 1999, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 20.11.1999, pág. 10, n. 2). Portanto, para conservar e desenvolver um espírito de confiança e de colaboração entre todos os cidadãos é essencial que os responsáveis civis e religiosos contribuam para melhorar as condições do exercício de uma verdadeira liberdade religiosa.

4. Bem sei que no seu País a comunidade católica, que participa de muitas maneiras no progresso da Nação e também na sua coesão, é respeitada e apreciada pelos responsáveis da vida civil e pelo conjunto da população em geral. Mediante o seu compromisso ao serviço de todos os chadianos sem distinção, ela deseja testemunhar de modo eficaz a mensagem de paz e de reconciliação que recebeu de Cristo. Ela quer também colaborar com todos os homens de boa vontade, para que o valor sagrado da vida de cada pessoa humana seja reconhecido e respeitado, e que se elimine tudo o que se opõe à vida ou ofende a dignidade do homem. Enquanto trabalha em favor do enobrecimento da justiça e da solidariedade, a Igreja deseja indicar aos homens e às mulheres de hoje sinais de esperança para o futuro deles e dos seus filhos.

Senhor Embaixador, permita-me saudar calorosamente, por seu intermédio, os Bispos do Chade e também todos os membros da comunidade católica. Faço votos para que o Ano jubilar que se encerra dê abundantes frutos espirituais, a fim de que os fiéis sejam cada vez mais ardentes discípulos de Cristo e testemunhas do amor de Deus pela humanidade. Juntamente com todos os seus compatriotas, oxalá eles contribuam para a edificação de uma Nação unida e fraterna, onde cada um se sinta plenamente aceite e respeitado!

458 5. No momento em que Vossa Excelência começa a sua missão, ofereço-lhe os meus melhores votos para a nobre tarefa que o espera. Asseguro-lhe que aqui encontrará sempre uma hospitalidade atenta e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Do íntimo do coração, invoco sobre Vossa Excelência, o povo chadiano e os seus governantes, as abundantes Bênçãos divinas.




AOS DIRIGENTES DA ENEL


PELOS TRABALHOS REALIZADOS NA


NECRÓPOLE VATICANA


14 de Dezembro de 2000



Senhor Cardeal
Ilustres Senhores

1. Ao dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação de boas-vindas, estou contente por exprimir uma viva gratidão por esta visita, que quase sela o longo e complexo trabalho de restauro e da nova iluminação da Necrópole Vaticana, que durou mais de dois anos.

Agradeço de modo especial à ENEL por ter querido inserir este insigne complexo no projecto "Luce per l'Arte", que previu outras cem intervenções sobre alguns dos mais importantes monumentos italianos, entre os quais as catorze Catedrais da mais conhecida cidade da Toscana.

Além disso, estou reconhecido à Fábrica de São Pedro pela perícia dos seus dirigentes, dos técnicos especializados e da mestria qualificada. A Necrópole Vaticana, que a presença do Túmulo do apóstolo Pedro torna quase o coração sagrado da Cidade, resplandece, agora, com uma nova beleza. Os resultados conseguidos foram estabilizados graças à instalação de uma climatização e a uma moderna instalação para iluminar o Túmulo de Pedro e os edifícios sepulcrais situados debaixo da Basílica Vaticana. É, deste modo, oferecida aos peregrinos e visitantes a visão quase plástica da primeira presença do Evangelho na capital do Império romano e dos frutos de santidade suscitados por isso.

Queria, além disso, agradecer-vos o dom do precioso volume no qual, a partir do seu Túmulo, quisestes narrar a vivência terrena do Príncipe dos Apóstolos, ilustrando-lhe a imagem e a memória, com base nos escritos neotestamentários e na rica iconografia das várias épocas da história.

A proximidade do Natal oferece-me a oportunidade de vos dirigir a vós e às pessoas que vos são queridas ardentes votos de felicidades, que acompanho com uma Bênção especial, portadora do auxílio divino e de todos os bens almejados.




NA APRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA CÓPIA


DA EDIÇÃO DO EVANGELIÁRIO


EM LÍNGUA LATINA


Sexta-feira, 15 de dezembro de 2000


459 Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Estou feliz por me encontrar hoje convosco para a apresentação da primeira cópia da edição do Evangeliário em língua latina, preparado por este Dicastério. Dirijo uma cordial saudação a Sua Ex.cia D. Francesco Pio Tamburrino, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, aos colaboradores e a quantos contribuíram de diversas formas para a compilação desta interessante edição.

A feliz circunstância de hoje oferece-nos a possibilidade de nos determos para reflectir sobre o valor da Palavra de Deus na história da salvação e acerca da sua eficácia no acto da proclamação litúrgica. Desde a eternidade, no seu imperscrutável desígnio de amor, Deus escolheu a Palavra como veículo para Se revelar a Si mesmo e, na plenitude dos tempos, quis apresentar-Se na pessoa do seu Filho Jesus Cristo, para que a força e o próprio poder da Palavra se tornasse um evento histórico-salvífico para todos. Assim o eterno mistério de amor ao homem, encerrado no próprio coração de Deus, revela-se de maneira tangível e sublime no seu Filho predilecto, em quem o Pai estabeleceu a sua Aliança para sempre.

2. O testemunho desta revelação, contido nas Sagradas Escritura e Tradição, foi confiado pelos Apóstolos a toda a Igreja, que sempre venerou as Escrituras divinas, como fez com o próprio Corpo de Cristo (cf. Dei Verbum ). A centralidade de Cristo na economia da salvação fundamenta e determina a própria preeminência que a Igreja reserva ao Evangelho, durante a celebração eucarística, situando-o no ápice da Liturgia da Palavra.

Esta consciência induz todos e cada um de nós a ter respeito pela Sagrada Escritura e estimula a ter particulares cuidado e decoro na preparação das suas respectivas edições. Portanto, expresso-vos o profundo apreço por terdes desejado realizar um texto tão precioso no seu feitio, destinado à proclamação do Evangelho do Senhor em circunstâncias de singular relevo durante o ano litúrgico. Conforme o antigo costume da tradição litúrgica oriental e ocidental, e segundo o conteúdo do Ordo lectionum Missae, reunistes num só livro as leituras evangélicas relativas às várias solenidades e festividades, dispostas à maneira da ordem litúrgica.

4. Formulo votos para que esta nova iniciativa dê impulso renovado à actividade pastoral, em ordem à escuta e à recepção da mensagem evangélica, favorecendo uma renovação autêntica que, como pude dizer noutra ocasião, "continua a apresentar ainda e sempre novas exigências: a fidelidade ao autêntico sentido da Escritura deve ter-se sempre presente, de modo especial quando ela for traduzida nas diversas línguas; a maneira de proclamar a Palavra de Deus, para que ela possa ser percebida como tal; o emprego dos meios técnicos adaptados; as disposições interiores dos ministros da Palavra, a fim de desempenharem bem as próprias funções na assembleia litúrgica; a cuidadosa preparação da homilia, mediante o estudo e a meditação; o empenhamento dos fiéis em participarem na mesa da Palavra; o gosto de rezar com os Salmos; e o desejo de descobrir Cristo como os discípulos de Emaús à mesa da Palavra e do Pão" (Vicesimus quintus annus, 8).

Com estes sentimentos, enquanto invoco a materna protecção de Maria sobre o vosso serviço quotidiano à Igreja, concedo de bom grado uma especial Bênção apostólica a todos vós.




AOS ARTISTAS PARTICIPANTES NO


"CONCERTO DE NATAL NO VATICANO"


Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2000



Ilustres Senhores e Senhoras

460 1. Bem-vindos e obrigado por esta vossa visita. Dirijo uma cordial saudação a cada um de vós, promotores, organizadores e artistas, assim como a todos aqueles que, de diversas maneiras, colaboram para a realização deste Concerto, que já chegou à sua VIII edição, sob o sugestivo título de "Natal no Vaticano".

Estou particularmente feliz por vos receber e expressar o meu apreço pela contribuição que ofereceis para o bom êxito desta nobre e benemérita iniciativa que, também neste ano, conta com o apoio de numerosas e qualificadas expressões artístico-musicais de diferentes países.

2. Um ulterior motivo de agradecimento é que, com o vosso contributo, este concerto especial procura ajudar o Vicariato de Roma a levar a bom termo o projecto denominado "50 igrejas para Roma 2000". Trata-se de um importante compromisso para oferecer às Comunidades paroquiais, ainda desprovidas, as estruturas para o culto, a catequese e as múltiplas actividades sociais, caritativas e desportivas, que se revelarem necessárias.

Apraz-me recordar aqui que, nos últimos vinte anos, com a ajuda de muitos cidadãos e de entidades particulares e públicas, a nossa Diocese pôde construir 39 complexos paroquiais, enquanto 10 estão em obra e de 12 está em curso o projecto. Exprimo o profundo apreço por este grande esforço pastoral e económico. Estes novos centros paroquiais, pontos de encontro espiritual numa Cidade em crescente e rápida expansão, permanecerão como um sinal da atenção da Igreja à nova evangelização. E tudo isto adquire um valor ainda maior no contexto do grande Jubileu, que já se aproxima da sua conclusão.

3. Desejaria aproveitar esta ocasião para formular a cada um de vós ardorosos votos de bem para as já iminentes festividades natalícias. Além disso, através da televisão chegue o meu afectuoso pensamento a todos aqueles que se unem à vossa manifestação. O Menino Jesus Filho da Virgem Maria, que no mistério do Natal contemplamos na pobreza de Belém, leve alegria, serenidade e paz a todos os lares, a cada família e cidade do mundo inteiro. Como penhor destes bons votos, concedo uma especial Bênção apostólica que, de bom grado, estendo aos vossos entes queridos e a quantos, através da televisão, participam neste evento de grande interesse musical.
Feliz Natal!




AO NOVO EMBAIXADOR DA CROÁCIA


JUNTO À SANTA SÉ


Sexta-feira 15 de Dezembro de 2000




Senhor Embaixador Franjo Zenko

1. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas, é com prazer que recebo as Cartas que o acreditam junto da Santa Sé como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Croácia.

Agradeço-lhe as amáveis palavras que quis dirigir-me, recordando os compromissos e as esperanças do País representado por Vossa Excelência.

Em primeiro lugar desejo fazer chegar, através da sua pessoa, a minha deferente e cordial saudação ao Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Stjepan Mesic, e a todos os habitantes da linda e hospitaleira terra da Croácia, que pude visitar duas vezes: em Setembro de 1994 e em Outubro de 1998. Estas viagens foram ocasiões especiais que me permitiram sentir de perto o vigor espiritual da população croata e a rica herança religiosa e cultural que ela possui. Isto torna-a capaz de oferecer, como nação soberana, um contributo à edificação da comunidade internacional, em ordem a uma paz estável, com base na igualdade efectiva, no respeito recíproco e na solidariedade concreta nos vários sectores sociais, desde o económico até ao tecnológico, cultural e político.

461 2. Como antiga e nobre Nação, já há um decénio que a Croácia começou a fazer parte da grande família das nações europeias que gozam de liberdade e democracia e, juntamente com elas, olha para o futuro com optimismo e esperança. As ditaduras que lhe foram impostas durante o último século permanecem como uma severa admoestação a não esquecer. As desastrosas consequências causadas por ideologias tão nefastas constituem um convite premente a não permitir que no futuro se repitam, em qualquer parte do mundo, experiências tão dramáticas como estas.

Possam estas páginas de história, caraterizadas por inesquecíveis tragédias humanas e sociais, ajudar os países da Europa a estar sempre mais conscientes da necessidade de ultrapassar juntas a trágica herança dos vários totalitarismos, fazendo da própria Europa uma casa comum, um espaço de solidariedade efectiva, imbuído dos valores do Evangelho, que plasmaram a sua história. Hoje mais do que nunca, as nações europeias são chamadas a uma colaboração cada vez mais incisiva, distinta pela estima recíproca, pela compreensão construtiva e pela interdependência que enobrece.

3. A Croácia está a percorrer o caminho da democracia. Porém, trata-se de um precurso nem sempre fácil, por causa das experiências que assinalaram o passado e da recente guerra que obstaculizou o ordenado progresso do país e de toda a região. É necessário continuar ao longo do caminho iniciado, dando prova de grande paciência, sabedoria, disponibilidade ao sacrifício, solidariedade generosa e espírito de reconciliação. Trata-se de um compromisso que chama em causa cada um dos cidadãos, mas ainda mais os seus governantes. Exigem-se da parte de todos a compreensão, a constância e a ponderação para superar as dificuldades e alcançar as nobres metas a que a Croácia aspira.

Os progressos da última década representam um encorajamento a actuar em prol de um futuro sempre melhor para o País. Formulo votos por que este processo continue, graças à solidariedade concreta e generosa dos países mais desenvolvidos. Somente assim se poderão actuar as perspectivas de uma melhoria das condições de vida, num contexto de paz estável e de reconciliação nacional, sem as quais as nações não conseguem progredir.

4. A todas as nações da Europa, pequenas ou grandes que sejam, devem assegurar-se a liberdade e a democracia, com iguais direitos e deveres. Esta é a vereda que conduz a um futuro de paz e de desenvolvimento autêntico, em benefício não só da Europa. Efectivamente, a democracia não se impõe nem se improvisa mas, pelo contrário, exige educação e apoio. Isto requer um constante crescimento da consciência civil e social, além de uma ininterrupta participação de todos os componentes do País na construção do bem comum, sem jamais perder de vista as verdades acerca do homem e da mulher, que Deus criou à Sua imagem e semelhança (cf. Gn
Gn 1,26-27).
A democracia exige que as estruturas do Estado sejam colocadas ao serviço de todos os cidadãos, não só de alguns grupos, e que se desenvolva um diálogo estável entre todos os seus componentes políticos e sociais, na busca compartilhada do bem comum e no respeito por todos e cada um. Quem é chamado a servir a comunidade há-de fazer referência, em todas as circunstâncias, aos princípios éticos e às normas morais, nos quais se deve fundamentar toda a sociedade. A este património de valores não podem deixar de se referir quantos têm a honra da representação política: eles deverão comprometer-se de modo construtivo na efectiva promoção da pessoa, da família e de toda a sociedade. Isto supõe neles a constante consciência de dever agir como sábios e doutos defensores e dispensadores do bem comum.

5. Ao enfrentar os árduos desafios do momento actual, é particularmente importante que quantos têm alguma responsabilidade no âmbito da Administração do Estado saibam incutir esperança e confiança na população, com um cuidado mais acentuado no que se refere às pessoas e às camadas mais frágeis e necessitadas. É indispensável ter em consideração as legítimas e justas reivindicações das famílias e dos jovens, tanto no âmbito económico e social, como no contexto jurídico e político; é necessário proteger a pessoa e a vida humanas, em cada uma das suas fases, desde o alvorecer até ao seu ocaso natural.

As famílias e os jovens justamente esperam poder viver do trabalho honesto, para edificar com confiança um futuro sereno. A dignidade do trabalho humano exige leis que impeçam abusos e, favorecendo uma distribuição equitativa das riquezas, criem um clima geral adequado para promover o emprego, a paz social e a realização de um progresso genuíno.

6. A Igreja por sua vez, permanecendo no âmbito que lhe compete, não deixará de oferecer a própria contribuição, sobretudo dando testemunho daqueles valores que, por sua natureza, não são sujeitos à mudança das circunstâncias sociais e históricas, porque aprofundam as suas raízes na própria realidade do homem. Este seu serviço visa sobretudo as pessoas, as famílias e a inteira sociedade civil.

No seu compromisso em benefício da causa do homem, a Igreja reconhece vastos campos de colaboração com o Estado. Neste contexto, como deixar de recordar os Acordos estipulados entre a Santa Sé e a República da Croácia? Trata-se de instrumentos de colaboração de importância notável que, no respeito das autonomias e das recíprocas competências, contribuem para tornar harmoniosa a relação entre a Igreja e o Estado, em total vantagem dos cidadãos croatas.

7. Senhor Embaixador, faço votos por que o cumprimento da sublime tarefa que lhe foi confiada possa intensificar ulteriormente as positivas e cordiais relações já existentes entre a Santa Sé e a República da Croácia. Desejo-lhe uma agradável permanência nesta cidade de Roma, rica de história, de cultura e de fé cristã. Estou certo de que os meus colaboradores não deixarão de entrar em contacto com Vossa Excelência, em atitude de aberta disponibilidade, para enfrentar os problemas e as dificuldades que se apresentarem.

462 Ao implorar para o Senhor Embaixador, a sua distinta Família, os Governantes do seu nobre país e todos os filhos e filhas da dilecta Nação croata, a intercessão da Santíssima Mãe de Deus, venerada como Advocata Croatiae fidelissima, e de São José, Padroeiro da Croácia, concedo-lhe de coração a Bênção apostólica, bem como aos seus entes queridos e a quantos Vossa Excelência representa na sua qualidade de Embaixador.





Discursos João Paulo II 2000 454