Discursos João Paulo II 2000 462

À DELEGAÇÃO DA CARÍNTIA, ÁUSTRIA


NA ENTREGA DA ÁRVORE DE NATAL


Sábado, 16 de dezembro de 2000

Com a árvore de Natal, que trouxestes da vossa pátria até Roma, fazeis-nos a todos nós uma agradável oferta. Há três anos, tomastes a decisão de dar no Grande Jubileu do ano 2000 a árvore de Natal para a Praça de São Pedro. Já naquele tempo a Santa Sé acolheu a oferta que hoje se concretizou. A árvore de Natal é uma saudação eloquente da Região Federal da Caríntia e da Igreja de Gurk-Klagenfurt a quantos, por ocasião do Santo Natal, se unem a partir da cidade de Roma e de todo o mundo com o centro da cristandade.

Quero agradecer a todos aqueles que fizeram tal oferta. Dirijo uma particular saudação ao venerado Pastor D. Egon Kapellari e a todos os peregrinos, entre os quais se encontram o governador regional da Caríntia com uma delegação oficial e o Presidente da Câmara Municipal de Gurk com um grupo do mesmo município.

2. Quando, nos últimos dias, olhava da janela do meu escritório, a árvore deu-me motivo para uma meditação espiritual. Já na minha pátria eu gostava das árvores. Quando se olha para elas, começam, de uma certo modo, a falar. Um poeta considera as árvores como pregadores com uma mensagem profunda: "elas não pregam doutrina e receitas, mas anunciam a lei fundamental da vida".

No florescer da Primavera, na maturidade do Verão, nos frutos do Outono e no morrer do Inverno, a árvore narra o mistério da vida. Por isso, os homens, desde os tempos antigos, tomaram a imagem da árvore para reflectir sobre as principais interrogações da vida.

3. Assim como as árvores, também os homens têm necessidade de raízes ancoradas em profundidade. Só tem estabilidade quem está radicado em terra fértil. Pode elevar-se ao alto, para colher a luz do sol e, ao mesmo tempo, resistir aos ventos que o investem. Mas quem julga poder viver sem fundamento, vive uma existência incerta que se assemelha a raízes sem terra.
A Sagrada Escritura indica-nos a base onde podemos radicar a nossa vida para uma sólida existência. O Apóstolo Paulo dá-nos o bom conselho: "enraizados n'Ele, edificados sobre Ele e apoiados na fé que vos foi ensinada" (cf. Cl Col 2,7).

4. A árvore leva o meu pensamento para uma direcção diferente. Nas vossas casas e habitações há o bom costume de pôr a árvore de Natal ao lado do presépio. Como não pensar, neste contexto, no paraíso, na árvore da vida, mas também na árvore do conhecimento do bem e do mal? Com o nascimento do Filho de Deus teve início a nova criação. O primeiro Adão, querendo ser como Deus, comeu da árvore do conhecimento. Jesus Cristo, o novo Adão, possuindo a natureza divina, não pensou valer-se da sua igualdade com Deus, mas preferiu aniquilar-se a Si mesmo, assumindo a natureza de escravo e tornando-se semelhante aos homens (cf. Fl Ph 2,6-7): desde o nascimento até à morte, do presépio à cruz. Da árvore do paraíso veio a morte, da árvore da cruz ressuscitou a vida. Assim a árvore pertence ao presépio, aludindo à cruz, a árvore da vida.

5. Senhor Bispo, caros Irmãos e Irmãs! Exprimo mais uma vez a minha gratidão pela vossa prenda de Natal. Tomai também como dom a mensagem da árvore, que o salmista formulou: "Feliz o homem cujo prazer está na lei do Senhor e nela medita dia e noite. Ele é como árvore plantada junto da água corrente: dá fruto no tempo devido e as suas folhas nunca murcham. Tudo o que ele faz é bem sucedido" (Ps 1,2-3).

Com estes sentimentos desejo a todos vós e aos vossos familiares e amigos em casa um feliz Natal do Ano Santo 2000. Todas as vossas intenções no novo ano, com a ajuda de Deus, possam obter bom êxito. Os Santos do vosso País serão fortes intercessores para vós. Concedo-vos de coração a Bênção apostólica.




AOS FIÉIS VINDOS A ROMA EM


PEREGRINAÇÃO JUBILAR


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Sábado, 16 de dezembro de 2000




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Viestes também hoje em grande número para este encontro jubilar. Obrigado por esta agradável visita que se insere na vossa peregrinação aos Túmulos dos Apóstolos. No Ano do Grande Jubileu desejais renovar a vossa profissão de fé em Cristo, nosso Salvador. Saúdo-vos com afecto e de boa vontade vos acolho nesta grande praça, meta quotidiana de tantos peregrinos provenientes de todas as partes do mundo.

2. Com grande alegria vos dou as boas-vindas, peregrinos jubilares da Arquidiocese de Toledo e de outras Dioceses espanholas, vindos a Roma para participar na solene celebração eucarística em Rito hispano-moçárabe na Basílica de São Pedro. Saúdo com afecto D. Francisco Álvarez Martínez, Arcebispo de Toledo e Superior responsável do Rito hispano-moçárabe e agradeço-lhe as palavras amigas com que se fez intérprete dos vossos sentimentos.

A celebração que acabais de realizar segundo o vosso antigo e venerável Rito Hispano-moçárabe une-se, neste Ano Santo, à série de celebrações jubilares realizadas em Roma nos diversos ritos e tradições litúrgicas da Igreja, tanto do Oriente como do Ocidente. Com elas se pôs claramente em relevo a unidade da fé católica na legítima diversidade das suas múltiplas expressões históricas e geográficas.

Queridos irmãos, não foi a primeira vez que ressoaram aqui as belas melodias moçárabes e os poéticos textos litúrgicos do antigo Rito Hispano, fervorosamente conservado pela comunidade moçárabe de Toledo. Depois de uma primeira celebração durante as sessões do Concílio Vaticano II, eu mesmo tive a imensa felicidade, no dia da Ascensão do Senhor de 1992, de presidir à celebração da Eucaristia em Rito Hispano-moçárabe. Naquela ocasião afirmei que a Liturgia hispano-moçárabe representa uma realidade eclesial e também cultural, que não pode ser votada ao esquecimento se se querem compreender em profundidade as raízes do espírito cristão do povo espanhol. Hoje quero acrescentar que, perante os grandes desafios do momento actual, é preciso haurir dos seus abundantes tesouros espirituais e culturais uma ajuda válida para fortalecer a fé cristã da vossa gente e, ao mesmo tempo, uma orientação segura para dirigir a tarefa evangelizadora do terceiro milénio em sintonia com a espiritualidade dos vossos antepassados e a idiossincracia do povo espanhol.

Amados filhos de Toledo e da Espanha, não temais ante os grandes desafios do presente! Avançai confiantes pelo caminho da nova evangelização, no serviço caritativo aos pobres e no testemunho cristão em cada realidade social. Caminhai com alegria, pois levais convosco uma rica e nobre tradição cristã. Muitos santos e santas fizeram dos vossos povos e cidades uma terra de santidade. Segui o seu exemplo, percorrei o caminho da santidade. Sede apóstolos do nosso tempo, confiando sempre na ajuda de Deus.

Acompanhe-vos e ajude-vos a Virgem Maria, estrela do Advento. Com que fervor a vossa Liturgia Hispano-moçárabe louva a sua perpétua virgindade: "Do seu casto seio virginal saiu Jesus como um raio de luz puríssima (...) Oh, inefável acção de Deus! O Filho unigénito de Deus sai das entranhas maternas sem abrir a via natural do parto. Ao ser concebido e dado à luz, sela o seio da Virgem e deixa-o intacto". A Ela encomendo as vossas famílias, as vossas crianças e jovens, os vossos doentes e anciãos e, invocando a protecção do santo arcebispo Ildefonso de Toledo, vos abençoo do coração.

3. Volto-me, agora, para vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, comprometidos a vários títulos no sector da Moda, vindos aqui para celebrar o vosso Jubileu. No vosso trabalho, que vos pede fantasia e gosto, procurai transmitir aos outros o amor pela beleza. Para que isto aconteça plenamente, estai sempre animados pelos sãos princípios morais que formam o património de qualquer cultura autenticamente humana. Possa a vossa obra, inspirada também pela beleza e pela novidade da mensagem cristã, elevar o espírito para Aquele que transforma em alegria as fadigas da vida. Desejo que cada um de vós, peregrino ao túmulo do apóstolo Pedro, possa fazer sua esta experiência de fé e de conversão, para celebrar na alegria os dois mil anos do nascimento de Cristo.

4. Saúdo, depois, quantos estão associados à Federação Nacional das Empresas de Pesca e aqui presentes com o Director-Geral. Jesus, nas suas parábolas, assemelhou o Reino dos céus a "uma rede lançada ao mar" (Mt 13,47) e os Apóstolos a "pescadores de homens" (Mc 1,17). O mar é uma bela imagem deste mundo no qual se desenrola a nossa existência. A humanidade sulca as ondas do tempo avançando para as margens da eternidade. Esta espera ser salva por Cristo. Ao longo da travessia cada ser humano procura conforto e segurança em Cristo, ao qual "até o vento e o mar obedecem" (Ibid., 4, 41).

Desejo que todos vós possais viver esta relação com os recursos naturais no pleno respeito pelo ambiente marítimo, para que sejam salvaguardados o trabalho e o sustento também para as gerações futuras, numa pacífica convivência, tanto no mar como na terra, entre a natureza e os homens.

464 5. Um pensamento especial para vós, caros promotores, organizadores e artistas que tomais parte no simpático e característico "Derby del Cuore" no Estádio Olímpico. Este ano, como sempre em colaboração com a Cáritas, ele propõe-se ir ao encontro das crianças em dificuldades, das crianças que sofrem ou se encontram em perigo. Já na eminência do Santo Natal, possa esta vossa louvável iniciativa, tão querida do público, trazer serenidade a quantos estão em união convosco, directamente ou através da televisão. Seja um contributo simples, mas eficaz, para abater todas as barreiras de discriminação social e para fazer crescer a cultura do acolhimento e da solidariedade.
6. Dirijo também uma calorosa saudação aos fiéis provenientes das Paróquias de Santa Maria da Graça, em Marcelina de Roma, São Roque, no Montório de Vomano; São Marcelino, em Caserta; São Gavino Mártir, em Camposano; como também aos fiéis vindos da Arce, Ópido Lucano, Balze de Verghereto e aos representantes da Arquiconfraria da Misericórdia, de Florença.

Caríssimos, a experiência jubilar de hoje constitua para vós uma ocasião de renovada adesão à pessoa de Cristo e vos estimule a viver o Natal já próximo com uma oração e generosidade mais intensas.

As minhas boas-vindas vão também para os Componentes da Patrulha acrobática das "Frecce Tricolori", acompanhados por D. Angelo Comastri, Arcebispo Prelado de Loreto, e pelo General Andrea Fornasiero, Chefe de Estado Maior da Aeronáutica Militar Italiana. Ao dirigir-lhes a eles e aos familiares um cordial pensamento, desejo que a actividade de voo e as suas bem conhecidas exibições aéreas constituam para todos um forte chamamento a elevar o olhar das vicissitudes terrenas para as luminosas realidades celestes.

7. Caros jovens escuteiros unitários da França, eu vos saúdo cordialmente, assim como a todos os que falam francês. Que a vossa peregrinação vos ajude a voltar-vos para Cristo, para receber a sua graça e um novo impulso para a missão, numa comunhão cada vez maior com toda a Igreja. Com a Bênção apostólica.

8. A minha afectuosa saudação vai, enfim, aos outros grupos de peregrinos e aos fiéis participantes neste nosso encontro, que se realiza precisamente no início da Novena de Natal.

Maria Santíssima, que há dois mil anos recebeu no seu seio virginal o Verbo de Deus feito homem, nos ajude a preparar o nosso coração para o Senhor que vem trazer paz e salvação também para o nosso tempo. São estes os votos que formulo para cada um dos presentes e que acompanho de boa vontade com uma especial Bênção apostólica.



MENSAGEM POR OCASIÃO DO


1200° ANIVERSÁRIO DA COROAÇÃO IMPERIAL


DE CARLOS MAGNO





Ao Venerado Irmão no Episcopado
Senhor Cardeal
António Maria Javierre Ortas


Tomei conhecimento com prazer de que no dia 16 de Dezembro Vossa Eminência presidirá a uma sessão académica dedicada ao 1200° aniversário da coroação imperial de Carlos Magno por parte do Papa Leão III, realizada no Natal do ano 800. Desejando participar pelo menos espiritualmente na celebração da histórica comemoração, envio-lhe esta Mensagem, com a qual desejo fazer chegar a Vossa Eminência e à distinta assembleia a minha saudação de bons votos.
465 A comemoração do histórico acontecimento convida-nos a dirigir o olhar não só para o passado, mas também para o futuro. Com efeito, ela coincide com a fase decisiva da redacção da "Carta dos direitos fundamentais" da União Europeia. Esta feliz coincidência convida a reflectir acerca do valor que ainda hoje tem a reforma cultural e religiosa promovida por Carlos Magno: de facto, o seu relevo é muito maior do que a obra por ele desempenhada em favor da material unificação das várias realidades políticas europeias da época.

É a grandiosa síntese entre a cultura da antiguidade clássica, prevalecentemente romana, e as culturas dos povos germânicos e celtas, síntese realizada com base no Evangelho de Jesus Cristo, o que caracteriza o poderoso contributo oferecido por Carlos Magno para a formação do Continente. De facto a Europa, que não constituía uma unidade definitiva sob o ponto de vista geográfico, unicamente através da aceitação da fé cristã se tornou um continente, que ao longo dos séculos conseguiu difundir aqueles seus valores em quase todas as outras partes da terra, para o bem da humanidade. Ao mesmo tempo, não se pode deixar de relevar como as ideologias, que provocaram rios de lágrimas e de sangue ao longo do século XX, provinham de uma Europa que desejara esquecer as suas raízes cristãs.

O compromisso que a União Europeia assumiu de formular uma "Carta dos direitos fundamentais" constitui uma tentativa de sintetizar de novo, no início do novo milénio, os valores fundamentais nos quais se devem inspirar a convivência dos povos europeus. A Igreja seguiu com muita atenção as vicissitudes da elaboração desse documento. A este propósito, não posso esconder a minha desilusão pelo facto de que não foi inserida no texto da Carta nem sequer uma referência a Deus, em quem se encontra, entre outras coisas, a fonte suprema da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais. Não se pode esquecer que foi a negação de Deus e dos seus mandamentos que criou, no século passado, a tirania dos ídolos, expressa na glorificação de uma raça, de uma classe, do estado, da nação, do partido, em vez do Deus vivo e verdadeiro. Precisamente à luz das desventuras que se abateram sobre o século XX, compreende-se como os direitos de Deus e do homem se afirmem e caiam juntamente.

Apesar de muitos nobres esforços, o texto elaborado para a "Carta europeia" não satisfez as justas expectativas de muitos. De modo particular, podia manifestar-se mais corajosa a defesa dos direitos da pessoa e da família. Com efeito, é mais do que justificada a preocupação pela tutela desses direitos, nem sempre adequadamente compreendidos e respeitados. Em muitos Estados europeus, eles são ameaçados, por exemplo, pela política favorável ao aborto, legalizado quase em toda a parte, pela atitude cada vez mais possibilista em relação à eutanásia e, ultimamente, por certos projectos de lei em matéria de tecnologia genética não suficientemente respeitadores da qualidade humana do embrião. Não é suficiente enfatizar com grandes palavras a dignidade da pessoa, se depois ela é gravemente violada nas próprias normas do ordenamento jurídico.

A grande figura histórica do imperador Carlos Magno recorda as raízes cristãs da Europa, levando quantos a estudam a uma época que, apesar dos limites humanos sempre presentes, se caracterizou por um imponente florescimento cultural em quase todos os âmbitos da experiência. Em busca da sua identidade, a Europa não pode prescindir de um enérgico esforço de recuperação do património cultural deixado por Carlos Magno e conservado por mais de um milénio. A educação no espírito do humanismo cristão garante aquela formação intelectual e moral que forma e ajuda a juventude a enfrentar os sérios problemas levantados pelo progresso científico-técnico. Neste sentido, também o estudo das línguas clássicas nas escolas pode ser uma válida ajuda para introduzir as novas gerações no conhecimento de um património cultural de inestimável riqueza.

Por conseguinte, exprimo o meu apreço a quantos prepararam esta sessão académica, com um pensamento particular para o Presidente do Pontifício Comité de Ciências Históricas, D. Walter Brandmüller. A iniciativa científica constitui um precioso contributo para a redescoberta daqueles valores nos quais se reconhece a "alma" mais verdadeira da Europa. Nesta ocasião desejaria saudar também o coro dos Augsburger Domsinglenaben, que através do seu canto enriquecem dignamente o congresso.

Com estes sentimentos, envio de bom grado a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, aos relatores, aos participantes e aos pueri cantores uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 13 de Dezembro de 2000.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


À DELEGAÇÃO OFICIAL DA ESLOVÁQUIA


Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2000




Ilustres Senhores, Gentis Senhoras

Acaba de ter lugar o intercâmbio dos instrumentos de ratificação do Acordo-Base entre a Santa Sé e a República Eslovaca. Dou as minhas cordiais boas-vindas a Vossa Excelência, Senhor Presidente, aos ilustres membros da Delegação oficial e ao Embaixador da República Eslovaca junto da Santa Sé. Saúdo também Vossa Eminência, Senhor Cardeal Ján Chryzostom Korec, o Núncio Apostólico, o Presidente e os membros da Conferência Episcopal, que participaram nessa solene cerimónia.

466 Com a permuta dos instrumentos de ratificação do Acordo-Base, assinado em 24 de Novembro do corrente ano, tem início uma nova etapa nas relações recíprocas entre a Santa Sé e a República Eslovaca. A Igreja e o Estado têm a tarefa de aplicar tudo o que concordaram. É para desejar que um profundo espírito de cooperação construtiva continue a inspirar todas as pessoas às quais será confiado o cumprimento desta importante missão.

O motivo fundamental da colaboração entre a Igreja e o Estado é o bem da pessoa humana. Esta cooperação deve tutelar e garantir os direitos do homem. Uma Igreja que goza de toda a liberdade que lhe cabe está em óptimas condições de cooperar, juntamente com todas as outras forças vivas da sociedade, "para o benefício espiritual e material da pessoa humana e para o bem comum", como diz o preâmbulo do Acordo.

Formulo votos a fim de que quanto se realizou neste dia contribua para a consolidação do vínculo social e o desenvolvimento espiritual e material da sociedade eslovaca. Acompanho estes meus bons votos com a invocação da bênção de Deus sobre os participantes neste encontro e sobre toda a Eslováquia, que ocupa sempre um lugar especial no meu coração.

Desejo cordiais Boas-Festas de Natal a todos vós!




AOS JOVENS DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA


21 de Dezembro de 2000




1. Agradeço-vos, caríssimos meninos e meninas da Acção Católica, esta tradicional visita natalícia. Quando vem aqui a A.C.R., significa que o Natal se aproxima!

Viestes dois a dois, como os discípulos de Jesus, de diversas regiões da Itália, acompanhados por um educador de cada Diocese. Saúdo-vos com grande afecto, e saúdo de modo especial os maiores responsáveis que vos acompanham.

Com certeza alguns de vós estavam presentes no Jubileu das crianças no dia 2 de Janeiro passado. Esse foi o primeiro grande encontro do Jubileu, e recordo que a Acção Catílica trabalhou muito nessa manifestação. Agora, queridos jovens, estamos quase no final do Ano Santo. Então pergunto-vos: como vivestes estes meses? Sem dúvida, no espaço de um ano, crescestes sensivelmente. Na vossa idade, um ano a mais é muito, e as mudanças notam-se mais. Mas também podeis dizer que crescestes como cristãos? A vossa amizade com Jesus tornou-se mais forte, mais profunda?

2. Sem dúvida, a A.C.R. ajudou-vos no vosso crescimento como discípulos de Cristo. Com os vossos grupos percorrestes neste Ano do Grande Jubileu um caminho mais bonito, mais rico, mais jubiloso, e os frutos não faltarão. Juntamente com os vossos educadores e assistentes, desejais tornar-vos cada vez mais missionários, mais capazes de levar ao próximo a alegria de ter encontrado Jesus. Sinto-me feliz por este esforço missionário, e repito-vos: conto muito com a vossa colaboração para a difusão do Evangelho na família, na escola, no desporto e em toda a parte.

Por meu lado, acompanho-vos com a oração, para que como Jesus, possais crescer em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens. Isto realizar-se-á, se amardes sempre Nossa Senhora e vos deixardes guiar por ela. O exemplo dos pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta, que precisamente este ano tive a alegria de proclamar Beatos, demonstra mais uma vez que as crianças têm um vínculo especial com a Virgem Maria. Com a sua ajuda, possam alcançar os cumes da santidade.

Desejaria dar-vos um conselho: ide a Belém levar a Jesus que está para nascer este bilhete, o "número 1". Ele não deve faltar à A.C.R. e também a A.C.R não Lhe deve faltar. São estes os votos para todos vós aqui reunidos.

Feliz Natal!

467 Caríssimos, mais uma vez obrigado pela vossa visita e pelas vossas ofertas. Com grande afecto vos abençoo, juntamente com todos os vossos amigos da Acção Católica, os vossos familiares e educadores.




À CÚRIA ROMANA


Quinta-feira, 21 de Dezembro de 2000





1. "Pater misit Filium suum Salvatorem mundi: gaudeamus!".

É particularmente viva a alegria que experimentamos neste Natal do Grande Jubileu em que, com maior emoção, contemplamos o rosto de Cristo a dois mil anos do seu nascimento. Gaudeamus! É na onda desta profunda alegria da alma que vos apresento a minha cordial saudação, caríssimos Senhores Cardeais e colaboradores da Cúria Romana, reunidos para este tradicional encontro de família.

Estou-lhe grato, Senhor Cardeal Decano, por ter desejado expressar, com os bons votos que retribuo do íntimo do coração, os sentimentos de afecto e de devoção da Cúria Romana. Eles brotam não só da humana delicadeza de ânimo, mas da fé que juntos compartilhamos e que nos garante a especial presença de Cristo, onde "dois ou três estão reunidos em seu Nome" (cf. Mt Mt 18,20).

Pater misit Filium suum Salvatorem mundi! Esta verdade fulcral da fé cristã oferece-nos também o critério para um balanço, por assim dizer "espiritual" deste ano laborioso, e sobretudo indica o caminho que se abre à nossa frente. A Porta Santa está prestes a fechar-se mas Cristo, por ela representado, é "o mesmo ontem, hoje e será sempre o mesmo" (He 13,8). Ele é a "porta"! (cf. Jo Jn 10,9). Ele é o "caminho"! (cf. ibid., 14, 6). Se estais aqui, como especial comunidade congregada em redor do Sucessor do Pedro, estais porque sois chamados por Cristo ao serviço da Igreja, que Ele adquiriu para Si com o seu Sangue (cf. Act Ac 20,28).

Neste ano a Praça de São Pedro foi um "microcosmos"

2. É no seu Nome que vivemos este ano de graça, durante o qual foram despendidas muitas energias por parte do povo cristão, tanto a nível universal como nas Igrejas particulares. Vimos acorrerem aqui, ao centro da cristandade, às várias Basílicas e de forma especial junto do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, um grandíssimo número de peregrinos. Eles ofereceram, dia após dia, no maravilhoso cenário da Praça de São Pedro, testemunhos de fé ou de devoção sempre novos, participando em solenes celebrações públicas ou caminhando em ordenado recolhimento rumo à Porta Santa. Neste ano a Praça de São Pedro foi, mais do que nunca, um "microcosmos" em que se intercalaram as mais diversificadas situações da humanidade.

Através dos peregrinos dos diversos continentes, de certa forma o mundo veio a Roma. Das crianças aos idosos, dos artistas aos desportistas, dos portadores de deficiência às famílias, dos políticos aos jornalistas, dos bispos aos presbíteros e aos consagrados, muitas pessoas se encontraram aqui com o desejo de levar a Cristo não só a si mesmas, mas também ao seu trabalho, aos seus ambientes profissionais e culturais, e à sua história quotidiana.

A cada um destes grupos, geralmente muito numerosos, uma vez mais pude anunciar Cristo, o Salvador do mundo, o Redentor do homem. Na recordação de todos permaneceu particularmente vivo o Jubileu dos jovens, e não só pelas dimensões que o caracterizaram, mas sobretudo pelo compromisso que os "jovens do Papa" como foram chamados souberam demonstrar. Eu perguntei-lhes: "De que é que viestes à procura? Ou melhor, quem é que viestes procurar?". E com a confirmação do seu aplauso, interpretei os seus sentimentos, dizendo: "Viestes à procura de Jesus Cristo!" (Discurso na Praça de São Pedro, 15 de Agosto de 2000, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 19.8.2000, pág. 5, n. 1).

O Jubileu como genuína peregrinação do Povo de Deus

468 3. Para o bom êxito de todo este movimento verdadeira peregrinação do Povo de Deus também vós, caríssimos colaboradores da Cúria Romana, contribuístes, trabalhando em colaboração com o Comité do Grande Jubileu e com as entidades cada vez implicadas, para assegurar o sucesso das celebrações da vossa competência. Aproveito esta circunstância para expressar o meu grato apreço às Congregações e às Administrações da Santa Sé, assim como aos Departamentos do Governatorato. Eles comprometeram-se generosamente, no âmbito das suas respectivas competências, em prol do oportuno desenrolar das diversas Jornadas jubilares.

E como deixar de recordar o trabalho de cada dia do Cardeal Arcipreste da Basílica do Vaticano, e também a dedicação da Secretaria de Estado, da Prefeitura da Casa Pontifícia e da Secção das Pontifícias Celebrações Litúrgicas? Tão-pouco posso deixar de fazer uma especial menção da constante disponibilidade demonstrada pelos Organismos que se ocupam das comunicações sociais, desde "L'Osservatore Romano" até à Sala de Imprensa, à Rádio Vaticano e ao Centro Televisivo do Vaticano. E poderia porventura deixar de recordar o ministério escondido, mas tão importante, dos Penitenciários e dos Confessores das várias Basílicas? Além disso, um grato reconhecimento dirige-se ao Vicariato de Roma pela grandiosa contribuição oferecida a várias manifestações do Ano jubilar, especialmente o Congresso Eucarístico e o Dia Mundial da Juventude. Penso outrossim nos inúmeros voluntários, jovens e adultos provenientes de várias nações. Demasiado longo seria o elenco de quantos despenderam as próprias energias para o bom êxito do Jubileu. Tudo se encontra sob o olhar de Deus e, segundo a palavra de Jesus, será o próprio Pai, "que vê o escondido" (
Mt 6,6) que recompensará aqueles que trabalharam em seu Nome e pelo advento do seu Reino.

Viver as palavras de Pedro: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo"

4. Todavia, parece-me significativo nesta circunstância, que nos vê reunidos para expressar a nossa comunhão, recordar de maneira específica o Jubileu que a Cúria Romana viveu pessoalmente no dia 22 do passado mês de Fevereiro, como que para saborear de novo os seus frutos espirituais. O Jubileu da Cúria foi um momento de intensa experiência de fé, modulada em conformidade com as palavras de Pedro: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo" (Ibid., 16, 16).

É com estas palavras que se mede a fé de toda a Igreja. É de forma especial nesta confissão do Príncipe dos Apóstolos que estão assentes o "ministerium petrinum" e, juntamente com ele, a tarefa reservada à singular comunidade por nós formada. Com efeito, aquilo que somos, somo-lo em virtude do ministério que Cristo confiou a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas, apascenta os meus cordeiros" (cf. Jo Jn 21,15-17).

Trata-se de um mistério de graça e de condescendência, que só se pode compreender na óptica da fé. Precisamente por ocasião do vosso Jubileu, eu dizia-vos que "o ministério petrino não se funda sobre as capacidades e sobre as forças humanas, mas sobre a oração de Cristo, que suplica ao Pai para que a fé de Simão "não desfaleça" (Lc 22,32)" (Homilia durante a Missa para o Jubileu da Cúria Romana, 22 de Fevereiro de 2000, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 26.2.2000, pág. 8, n. 4). É uma experiência que faço todos os dias. O Ano jubilar foi também para mim um momento em que senti com maior vigor a presença de Cristo. O trabalho foi como se podia prever mais árduo do que de costume, mas com a ajuda de Deus tudo correu bem. Neste ano singular, que já chega ao seu termo, desejo louvar ao Senhor que me concedeu anunciar de maneira tão profusa o seu Nome, fazendo plenamente meu o programa do Apóstolo Paulo: com efeito, "não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, Senhor. Quanto a nós mesmos, é como vossos servos que nos apresentamos, por causa de Jesus" (2Co 4,5).

A Cúria Romana deve ser um lugar em que se respira santidade

5. Caríssimos coirmãos, esta perspectiva de fé caracterize constantemente também o vosso serviço especial. Se Cristo sustém aquele que Ele escolheu como Sucessor de Pedro, certamente não deixará de conceder a sua graça também a vós, que tendes a comprometedora tarefa de o coadjuvar. Mas se o seu dom é grande, elevada é também a vossa responsabilidade de lhe corresponder de maneira adequada. Portanto, a Cúria Romana deve ser um lugar em que se respira santidade. Um lugar a que a competição e o carreirismo hão-de ser completamente alheios, onde só deve predominar o amor de Cristo, manifestado na alegria da comunhão e do serviço, à imitação d'Aquele que "não veio para ser servido. Ele veio para servir" (Mc 10,45).

A peregrinação à Terra Santa

6. Desejei ressaltar esta essencial referência a Cristo com a peregrinação à Terra Santa, precedida da comemoração de Abraão, "nosso Pai na fé", realizada na Sala Paulo VI, e da visita a alguns lugares veterotestamentários da história da salvação, sobretudo no Sinai. Como esquecer a emoção daqueles dias de Março, em que me foi concedido reviver a vicissitude histórica de Jesus nos seus momentos fundamentais, desde o nascimento em Belém até à sua morte no Gólgota? No Cenáculo pensei de forma especial em vós, meus dilectos colaboradores da Cúria Romana. Na recordação e na oração, levei comigo todos vós. Tratou-se de uma verdadeira "imersão" no mistério de Cristo. Ao mesmo tempo, foi uma ocasião de encontro não só com a comunidade cristã, mas também com as comunidades hebraica e islâmica. Na estima que manifestei por aquelas comunidades, e que elas me retribuíram plenamente, pude antegozar a alegria que todos experimentarão, como reflexo da alegria do próprio Deus, quando aquela terra tão santa e infelizmente tão dilacerada, enfim encontrar a paz. Hoje queremos manifestar a nossa proximidade de quantos estão a sofrer naquele conflito extenuante, e invocamos Deus a fim de que aplaque a violência dos sentimentos e das armas, orientando os ânimos rumo a soluções adequadas para uma paz justa e duradoura.

A oração ecuménica: um estupendo ícone do Ano jubilar

469 7. Um estupendo ícone do Ano jubilar permanece certamente o momento de oração ecuménica que o caracterizou desde os primeiros instantes. Recordo todos nós recordamos com emoção a abertura da Porta Santa em São Paulo fora dos Muros, no dia 18 de Janeiro. Aquela Porta foi empurrada não só pelas minhas mãos, mas também pelas do Metropolita Atanásio, em representação do Patriarca Ecuménico de Constantinpopla, e do Primaz Anglicano, Dr. George Carey. Nas nossas pessoas estava representada toda a cristandade, amargurada pelas divisões históricas que a ferem, mas ao mesmo tempo à escuta do Espírito de Deus que a impele para a plena comunhão.

Diante dos persistentes cansaços do caminho ecuménico, é necessário não desanimar. Devemos acreditar que a meta da plena unidade de todos os cristãos é realmente possível, com a força de Cristo que nos sustém. Por nossa vez, além da oração e do diálogo teológico, havemos de cultivar aquela atitude espiritual que, precisamente nessa sugestiva circunstância, defini como o "sacrifício da unidade". Com estas palavras, eu desejava evocar a capacidade de "mudar a nossa maneira de ver, ampliar o nosso horizonte, saber reconhecer a acção do Espírito Santo que actua nos nossos irmãos, descobrir novos rostos de santidade, abrirmo-nos a aspectos inéditos do compromisso cristão" (Homilia durante a solene celebração ecuménica, 18 de Janeiro de 2000, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 22.1.2000, pág. 2, n. 4).

O diálogo inter-religioso e o anúncio de Cristo como único Salvador do mundo

8. Com uma análoga abertura de ânimo, o Jubileu colocou-se no sulco do diálogo inter-religioso que, inaugurado pelo Concílio Vaticano II com a Declaração Nostra aetate, nestas décadas deu significativos passos para a frente. Recordo de maneira particular a oração de Assis de 1986 e a prece na Praça de São Pedro, no ano passado. Obviamente, trata-se de um diálogo que não deseja de modo algum diminuir o imperativo anúncio de Cristo como único Salvador do mundo, recentemente confirmado pela Declaração Dominus Iesus. O diálogo não põe em discussão esta verdade essencial para a fé cristã, mas fundamenta-se no pressuposto de que, precisamente à luz do mistério de Deus revelado em Cristo, podemos recolher muitas sementes de luz espalhadas pelo Espírito nas várias culturas e religiões. Por conseguinte, na colheita dialógica destas sementes, é possível crescer em conjunto, até mesmo com os fiéis de outras religiões, no amor de Deus, no serviço à humanidade, no caminho rumo à plenitude da verdade, para a qual misteriosamente nos conduz o Espírito de Deus (cf. Jo
Jn 16,13).

A Igreja e a redução da dívida internacional dos países pobres

9. Inspirando-se nas suas longínquas mas sempre vivas origens bíblicas, o grande Jubileu foi um ano de mais intensa tomada de consciência da urgência da caridade, de forma singular na dimensão da assistência que se deve prestar aos países mais pobres. Somente no contexto de um compromisso inspirado na solidariedade "global" é que se pode encontrar a solução para os perigos ínsitos numa economia mundial tendencialmente desprovida de normas que salvaguardem os indivíduos mais frágeis. Neste sentido, teve um grande significado o empenhamento da Igreja em benefício da redução da dívida internacional dos países pobres. Aquilo que não poucos Parlamentos deliberaram é sem dúvida encorajador, mas ainda há muito a fazer. Gostaria, de igual modo, de agradecer aqui aos responsáveis das nações que deram ouvidos ao meu reiterado apelo a realizar um "sinal de clemência em favor de todos os prisioneiros". Depois, para além destes problemas específicos, foi o inteiro espaço da caridade que a reflexão jubilar colocou diante dos nossos olhos, exortando todos os cristãos a uma atitude de partilha generosa. A caridade permanece a grande missão para o caminho que nos espera. É através dela que resplandece plenamente a verdade de Deus-Amor, daquele Deus que "amou de tal forma o mundo que entregou o seu Filho único" (Jn 3,16).

É preciso recomeçar a partir de Cristo no início do terceiro milénio

10. Pater misit Filium suum Salvatorem mundi: gaudeamus! Foi esta certeza que orientou os dois mil anos da história cristã. É ainda a partir dela que devemos recomeçar neste início de milénio. Recomeçar a partir de Cristo! Esta é a palavra de ordem que há-de acompanhar a Igreja no seu ingresso no terceiro milénio. Daqui a alguns dias a Porta Santa vai fechar-se, mas permanece aberta de par em par, mais do que nunca, a Porta viva que é o próprio Cristo. Estou persuadido de que nesta retomada do caminho vós, caríssimos colaboradores da Cúria Romana, estareis uma vez mais disponíveis e prontos. No mundo do espírito não há tréguas! O segredo deste impulso incansável é o próprio Cristo, que daqui a alguns dias a liturgia nos fará contemplar como Menino do Presépio. A Ele, por intercessão de Maria, Mãe da Esperança, pediremos que nos envolva com a sua luz e nos ampare no novo caminho.

Em seu Nome abraço todos vós com afecto e, ao transmitir-vos os meus votos mais cordiais, concedo-vos de bom grado a Bênção apostólica.

Feliz Natal!





Discursos João Paulo II 2000 462