Discursos João Paulo II 2001 - 12 de Janeiro de 2001

AO CORPO DIPLOMÁTICO PARA A APRESENTAÇÃO DOS BONS VOTOS PARA O ANO NOVO




Excelências
Senhoras e Senhores

1. Queira cada um de vós acolher a minha cordial gratidão pelos bons votos que o vosso Decano, o Embaixador Giovanni Galassi, quis exprimir e apresentar-me gentilmente em nome de todos. Do profundo do coração, retribuo e formulo ardentes votos para cada um de vós, a fim de que Deus abençoe as vosas pessoas e as vossas nações e queira conceder a todos um ano próspero e feliz.

Imediatamente, porém, me vem à mente uma pergunta: o que significa, para um diplomata, um ano feliz? O espectáculo oferecido pelo mundo neste mês de Janeiro de 2001 poderia fazer duvidar da capacidade da diplomacia para fazer reinar a ordem, a equidade e a paz entre os povos.

E todavia não nos podemos resignar à fatalidade da doença, da pobreza, da injustiça ou da guerra. É certo que, sem a solidariedade social ou o recurso ao direito e outros instrumentos da diplomacia, estas situações terríveis seriam ainda mais dramáticas e poderiam mesmo tornar-se insolúveis. Por isso, vos a- gradeço, Senhoras e Senhores, pela vossa acção e pelos vossos esforços perseverantes em favor do entendimento e da cooperação entre os povos.

2. O espírito do Ano Santo há pouco terminado e os diversos "jubileus" que reuniram e motivaram homens e mulheres de todas as raças, de todas as idades e condições, mostraram, se fosse necessário, que a consciência moral está ainda bem viva e que Deus habita no coração do homem. Perante vós, contentar-me-ei em evocar o "Jubileu dos Responsáveis de Governo, Parlamentares e Políticos" reunidos no início de Novembro. O Papa experimentou grandes consolações espirituais ao ver tanta boa vontade e tanta disponibilidade para acolher a graça de Deus. Assim, uma vez mais, se constatou a exactidão do que proclama, de um modo magnífico, a Constituição pastoral Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II: "Segundo a fé da Igreja, Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece à humanidade, pelo seu Espírito, luz e forças que lhe permitam corresponder à sua altíssima vocação. Ela crê também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre" (n. 10).

3. Seguindo os pastores, magos e todos aqueles que, desde há dois mil anos, se apressaram a encontrar-se diante do presépio, também a humanidade de hoje parou alguns instantes no dia de Natal, para contemplar o Menino Jesus e para receber um pouco desta luz que acompanhou o seu nascimento e que continua a iluminar todas as noites dos homens. Esta luz diz-nos que o amor de Deus será sempre mais forte do que o mal e a morte.

Esta luz assinala o caminho de todos aqueles que, no nosso tempo, em Belém e Jerusalém, percorrem penosamente o caminho da paz. Ninguém deve aceitar, nesta parte do mundo que acolheu a revelação de Deus aos homens, a banalização de uma espécie de guerrilha, a persistência da injustiça, o desprezo do direito internacional ou o pôr entre parêntesis dos Lugares Santos e as exigências das comunidades cristãs. Israelitas e palestinos não podem imaginar o seu futuro se não em conjunto e cada uma das partes deve respeitar os direitos e as tradições da outra.

Já é tempo suficiente para voltar aos princípios da legalidade internacional: proibição de aquirir territórios pela força, direito dos povos a dispor de si mesmos, respeito pelas resoluções da Organização das Nações Unidas e das convenções de Genebra, para só citar os mais importantes. De outro modo, há tudo a temer: iniciativas unilaterias aventureiras com uma extensão da violência dificilmente controlável.

Esta mesma luz se põe também sobre todas as outras regiões do nosso planeta, onde os homens escolheram a violência armada para fazer valer os seus direitos ou as suas ambições. Penso, neste momento, na África, continente em que circulam demasiadas armas e onde demasiados países conhecem uma democracia incerta e uma corrupção devastadora, onde o drama argelino ou a guerra no sul do Sudão continuam a massacrar as populações sem piedade; não posso, também, esquecer o caos em que mergulharam os países da Região dos Grandes Lagos. É por isso que devemos saudar com satisfação o acordo de paz realizado no mês passado em Argel, entre a Etópia e a Eritreia, assim como os esforços levados a cabo na Somália, com vista a um regresso progressivo à normalidade. Mais perto de nós e com que tristeza! os atentados terroristas que semeiam a morte na Espanha e que desfiguram o país, humilhando toda a Europa, também ela à procura da sua identidade. É para a Europa que muitos povos olham ainda como para um modelo em que se podem inspirar. A Europa nunca mais esqueça as raízes cristãs que tornaram fecundo o seu humanismo! Que ela seja generosa para com todos indivíduos ou nações que batem às suas portas!

4. A luz de Belém, que se dirige "aos homens de boa vontade", compromete-nos a combater em toda a parte e em todas as circunstâncias, a pobreza, a marginalização, o analfabetismo, a desigualdade social ou a vergonha do tráfico de seres humanos. Nada disto é uma fatalidade e devemos alegrar-nos que reuniões e meios internacionais tenham permitido pôr um remédio, ao menos em parte, nestas chagas que desfiguram a humanidade. O egoísmo e a ambição do poder são os piores inimigos do homem. Estão sempre, de qualquer maneira, na origem de todos os conflitos. Isto constata-se, em particular, nalgumas zonas da América do Sul, onde as desigualdades socioecomómicas e culturais, a violência armada ou a guerrilha, o pôr em questão as conquistas democráticas destroem o tecido social e fazem perder às populações a confiança no futuro. É preciso ajudar este imenso continente a fazer frutificar todo o seu património humano e material.

A desconfiança, as lutas, bem como as consequências das crises do passado podem, na realidade, ser sempre ultrapassadas mediante a boa vontade e a solidariedade internacional. A Ásia dá provas disso com o diálogo instaurado entre as duas Coreias e com o caminho de Timor Leste para a independência.

5. O crente e de modo particular o cristão sabe que é possível uma outra lógica. Retomá-la-ei com palavras que poderão parecer-vos demasiado simples: cada homem é meu irmão! Se estivéssemos convencidos de que somos chamados para viver em conjunto, como é belo conhecer-se, estimar-se e ajudar-se, o mundo seria radicalmente diverso.

Quando pensamos no século que acaba de se concluir, impõe-se uma constatação a seu respeito: ele passará à história como o século que conheceu as maiores conquistas da ciência e da técnica, mas também como o século em que a vida humana foi desprezada da maneira mais brutal.
Refiro-me, certamente, às guerras semeadoras de morte estaladas na Europa, aos totalitarismos que tornaram escravos milhões de homens e mulheres, mas também às leis que "legalizaram" o aborto ou a eutanásia, ou ainda aos modelos culturais que espalharam a ideologia do consumismo e do prazer a todo o custo. Se o homem transtorna os equilíbrios da criação, esquece que é responsável dos seus irmãos e não tem cuidado com o ambiente que o Criador confiou às suas mãos, este mundo, programado unicamente segundo os nossos projectos, poderá tornar-se irrespirável.

6. Como recordei na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, no dia 1 de Janeiro, todos devemos tirar benefícios deste 2001, que a Organização das Nações Unidas quis como "Ano internacional do diálogo entre as culturas", "para construir a civilização do amor... (que) se apoia sobre a consciência de que existem valores comuns a toda a cultura, porque radicados na natureza da pessoa" (n 16).

Pois bem, qual é a coisa mais comum a todos na natureza humana? Sim, neste início de milénio, salvemos o homem! Salvemo-lo todos, em conjunto! Compete aos responsáveis da sociedade proteger a espécie humana, fazendo com que a ciência esteja ao serviço da pessoa, que o homem não seja objecto a dividir, comprar ou vender, que as leis não sejam mais condicionadas pelo mercantilismo ou pelas reivindicações egoístas de grupos minoritários. Nenhuma época da história da humanidade fugiu à tentação de fechar o homem em si mesmo numa atitude de auto-suficiência, de domínio, poder e orgulho. Mas tal risco, nos nossos tempos, tornou-se mais perigoso no coração dos homens que, mediante o seu esforço científico, crêem poder tornar-se senhores da natureza e da história.

7. Será sempre dever da comunidade dos crentes afirmar publicamente que nenhuma autoridade, nenhum programa político, nenhuma ideologia está autorizada a reduzir o homem àquilo que ele é capaz de fazer ou produzir. Os crentes terão sempre o dever imperativo de recordar a todos e em todas as circunstâncias o mistério pessoal inalienável de cada ser humano, criado à imagem de Deus, capaz de amar à maneira de Jesus.

Quero repetir, por vosso intermédio, aos governantes que vos acreditaram junto da Santa Sé, a determinação da Igreja Católica na defesa do homem, da sua dignidade, dos seus direitos e da sua dimensão transcendente. Ainda que a alguns repugne evocar a dimensão religiosa do homem e da sua história, ainda que outros queiram reduzir a religião à esfera do privado, outros ainda persigam a comunidade dos crentes, os cristãos continuarão a proclamar que a experiência religiosa faz parte da experiência humana. É um elemento vital para a construção da pessoa e da sociedade à qual os homens pertencem. Assim se explica o vigor com o qual a Santa Sé sempre defendeu a liberdade de consciência e de religião, na sua dimensão individual e social. O drama vivido pela comunidade cristã na Indonésia ou as discriminações evidentes de que são vítimas ainda hoje outras comunidades de crentes, pelo menos as cristãs, em certos Países de obediência marxista ou islâmica, clama por uma vigilância e uma solidariedade sem roturas.

8. São estes os pensamentos que me inspirou o nosso encontro tradicional, que me permite dirigir-me, de certa forma, a todos os povos da terra através dos seus representantes mais qualificados. Peço que transmitais a todos os vossos compatriotas e aos Governos dos vossos Países os votos de oração que o Papa formula por sua intenção. Através desta história de que nós somos actores, tracemos o caminho do milénio que começa. Todos em conjunto, ajudemo-nos uns aos outros a permanecer dignos da vocação a que fomos chamados: formar uma grande família, feliz por se saber amada por um Deus que nos quer irmãos! Que o Altíssimo vos abençoe a todos vós e as pessoas que vos são queridas.




À COMUNIDADE DOALMO COLÉGIO CAPRÂNICA

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Alunos
do Almo Colégio Caprânica

1. É-me grato receber-vos nesta Audiência especial, que já se tornou uma agradável tradição, nas proximidades da memória litúrgica de Santa Inês, vossa Padroeira particular. Dirijo um pensamento deferente ao Cardeal Camillo Ruini, Presidente da Comissão Episcopal responsável pela Direcção do Colégio, as palavras mediante as quais se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Alargo a minha saudação cordial aos Bispos da mesma Comissão, ao Reitor, Mons. Michele Pennisi, aos Superiores e a vós, caríssimos Seminaristas da Comunidade do Almo Colégio Caprânica. Ela inscreve-se justamente entre as mais antigas e ilustres instituições dedicadas à formação espiritual e teológica dos Presbíteros da Diocese de Roma, e está aberta ao serviço das Dioceses da Itália e de outros países.

Neste ano, a vossa visita adquire um significado singular, porque tem lugar imediatamente a seguir ao encerramento do Jubileu, que legou a toda a comunidade cristã uma grande herança que deve ser acolhida e amadurecida, para orientar os próprios passos ao longo do novo milénio.

2. Reuni as linhas essenciais desta preciosa herança e apresentei-as à reflexão de todos os fiéis, nesta passagem de século e de milénio, no contexto da Carta Apostólica Novo millennio ineunte.

Eu quis assinar o Documento na presença da Comunidade eclesial, durante a solene celebração litúrgica no encerramento do Jubileu. Hoje tenho o prazer de apresentar esta Carta à vossa consideração, convidando-vos a fazer dela o objecto da vossa reflexão, com a finalidade de haurir daí a inspiração para o vosso caminho pessoal e comunitário. De maneira especial, desejo recomendar-vos a aprofundar aquilo que considero o âmago essencial da herança do Jubileu: o compromisso a recomeçar a partir de Cristo. Não está por acaso na contemplação do rosto de Cristo, o coração de toda a formação humana, cultural e espiritual à qual vos estais a dedicar como candidatos ao ministério ordenado?

Precisamente porque vos sentis chamados a seguir o Mestre de perto, sois também convidados a permanecer assíduos "contempladores do seu rosto" (Novo millennio ineunte, 16). Por vossa vez, podeis assim ser testemunhas e guias para os homens e as mulheres do nosso tempo, tornando-vos capazes de levá-los a descobrir a beleza e a majestade de Cristo.

"Queremos ver Jesus" (cf. Jo Jn 12,21): o desejo expresso por alguns peregrinos gregos na iminência da Páscoa é o mesmo que emerge do coração de muitos dos nossos contemporâneos. Assim como Filipe e André (cf. Jo Jn 12,22), também vós devereis saber orientá-los a fim de que façam uma experiência directa do Mestre divino. Isto supõe em vós mesmos uma profunda comunhão habitual com Ele, graças a uma constante orientação da vossa actividade e vida rumo à pessoa de Cristo. Quanto mais o vosso olhar estiver fixo no seu rosto, tanto mais sereis capazes de seguir fielmente as suas pegadas. Assim, progredireis ao longo do caminho da espiritualidade e conhecereis a alegria que é própria dos autênticos trabalhadores do Evangelho.

3. Recomeçar a partir de Cristo! Eis o vosso programa nesta fase inicial do novo milénio. O Ressuscitado está continuamente presente e actua de maneira misteriosa na Comunidade dos seus discípulos. A sua promessa: "Estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20) é um conforto constante.

Caríssimos Alunos, sustentam-nos neste esforço o exemplo e a intercessão de uma inumerável plêiade de santos e de mártires que, em vinte séculos de história, permaneceram fiéis a Cristo. Quantos deles tornaram gloriosa a nossa veneranda Igreja de Roma! Entre eles, está-vos particularmente a peito a vossa especial Padroeira Santa Inês, que viveu e deu testemunho da sua adesão pessoal a Cristo na virgindade e no martírio.

Confio-vos à celeste intercessão desta mártir romana, a fim de que sejais assíduos contempladores do rosto de Cristo Proteja-vos, outrossim, Maria Mãe da Igreja, e obtenha para cada um de vós um ano repleto de frutos espirituais e culturais. Com estes sentimentos, concedo a todos vós, Alunos aqui presentes, aos vossos Superiores e Formadores, assim como a toda a Comunidade do Almo Colégio Caprânica uma especial Bênção apostólica.




AO INSPECTORADO DOS SERVIÇOS DE SEGURANÇA JUNTO AO VATICANO

15 de Janeiro de 2001




Senhor Dirigente
Senhores Funcionários e Agentes

1. Bem-vindos a este encontro no início do ano! Saúdo o Senhor Dirigente-Geral, Dr. Roberto Scigliano, e agradeço-lhe os sentimentos que quis manifestar-me em nome de todos os presentes.

Desejo transmitir a minha respeitosa saudação também ao Chefe da Polícia, ao Prefeito de Roma e aos Dirigentes das Especialidades da Polícia de Estado, que colaboram para salvaguardar a segurança neste vosso Inspectorado.

Dirijo uma afectuosíssima saudação a cada um de vós, estimados Agentes que, quotidianamente, trabalhais com discrição e eficácia. Além disso, quero agradecer-vos de coração o significativo dom que hoje me ofereceis, a Cruz de Cristo, sinal de esperança e de salvação para cada cristão.
2. Hoje sinto-me particularmente feliz por esta circunstância, que me oferece a oportunidade de vos expressar, com reiterada estima, o meu reconhecimento por tudo aquilo que levastes a cabo, não sem sacrifício, durante o Grande Jubileu do Ano 2000.

Graças a Deus como observou o Dirigente-Geral as intensas jornadas jubilares passaram-se sem graves episódios de desordem ou de perigo. Pelo contrário, o clima predominante foi sem qualquer dúvida o da serenidade. E é precisamente por este motivo que sinto a necessidade de homenagear as Forças de Segurança, que souberam prevenir e vigiar, para o benefício de todos.

Se volto a pensar nos acontecimentos que a Providência nos concedeu viver, de maneira especial na Jornada Mundial da Juventude, mas inclusivamente nos Jubileus das Famílias, dos Trabalhadores, dos Portadores de deficiência e nos outros inúmeros encontros jubilares, dou-me conta de quantas dificuldades tivestes que enfrentar. Vi que colaborastes com inteligência e generosidade, juntamente com os Voluntários do Jubileu. Para muitos peregrinos, indivíduos, famílias e grupos, constituístes um ponto de referênca seguro. É por isso que vos digo obrigado de coração a cada um de vós, em nome da Igreja, e estou certo de que o vosso serviço durante este ano granjeou estima e apreço não só por vós, mas também pelas próprias Instituições do Estado.

3. Nutro a esperança de que, não obstante estejais comprometidos no cumprimento dos vossos deveres, tenhais recebido o influxo positivo do clima de fé e de festa cristã, que nos meses passados se viveu de forma intensa aqui em Roma, especialmente nos arredores das Basílicas Maiores. Também para vós é válido aquilo que escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte: "É impossível medir o evento da graça que, durante o ano, sensibilizou as consciências. Mas certamente "um rio de água viva"... transbordou na Igreja" (n. 1).

Agora chegou o momento de orientar esta água salubre rumo aos espaços comuns da vida, nas ocupações quotidianas na família, no trabalho, nos relacionamentos interpessoais e sociais e no tempo livre.

Como o Dr. Scigliano oportunamente recordou, o Jubileu terminou, mas dele resta no nosso coração um sinal indelével. Nada poderá ser como antes! Isto é válido sobretudo para os fiéis, que um novo entusiasmo deve impelir a rejeitar compromissos e mediocridades, animando-os a dar o melhor de si em todos os campos. Esta exortação estende-se também às pessoas que não se declaram crentes. Com efeito, dependerá da boa vontade de todos fazer com que entre os efeitos do Jubileu haja, como é justo, uma melhor "saúde", por assim dizer, de todo o tecido social.

Caríssimos amigos, ao retomardes o ritmo habitual da vossa actividade, espalhai serenidade e confiança ao vosso redor. No vosso serviço quotidiano vos acompanhe a protecção de Maria, que maternalmente vigia sobre vós e as vossas famílias. Quanto a mim, garanto-vos a lembrança na oração e, enquanto desejo todo o bem a cada um de vós e aos vossos entes queridos para o ano que há pouco teve início, abençoo-vos a todos de coração.






AOS ADMINISTRADORES DA REGIÃO LÁCIO, DA CÂMARA MUNICIPAL E DA PROVÍNCIA DE ROMA

Quinta-feira, 18 de Janeiro de 2001

Senhores e Senhoras

1. Também neste ano tenho o prazer de vos receber juntos para a troca dos bons votos, o que já constitui uma tradição no início do novo ano. Desta forma são confirmados e fortalecidos aqueles vínculos, enraizados na história de dois milénios, que unem o Sucessor de Pedro à cidade de Roma, à sua Província e à Região do Lácio.

Saúdo cordialmente o Presidente da Comissão Administrativa Regional do Lácio, Ex.mo Senhor Francesco Storace, e o Presidente da Câmara Municipal de Roma, Sua Ex.cia o Senhor Francesco Rutelli, e o Presidente da Província de Roma, Ex.mo Senhor Silvano Moffa. Estou-lhes muito grato pelas gentis expressões que amavelmente me dirigiram em nome das Administrações por eles guiadas. Juntamente com eles, saúdo os Presidentes das respectivas Assembleias do Conselho e todos vós aqui presentes.

2. O encontro de hoje tem lugar poucos dias depois da conclusão do Grande Jubileu: sinto a necessidade de exprimir o meu mais sentido reconhecimento a todos vós e às Instituições que representais, pelo qualificado e generoso contributo que soubestes dar para o melhor desenvolvimento deste Ano Santo. Ele permanecerá na memória de todos nós, mas também na história da Igreja e da família humana, como um tempo de bênção e de graça. Fomos ajudados e estimulados, como crentes, a viver com renovada intensidade a nossa relação com Jesus Cristo. A experiência jubilar permitiu, de igual modo, consolidar e transpor para realizações práticas aquela fraternidade universal que constitui o fundamento certo de qualquer progresso social e civil autêntico. A Cidade, a Província de Roma e a Região do Lácio encerram o Jubileu certamente enriquecidas por uma cooperação frutuosa, que viu organismos religiosos e leigos trabalharem activamente juntos, para receber peregrinos e visitantes de todas as partes da terra.

A respeito disto, não posso esquecer o apoio que oferecestes aos grandes encontros jubilares, entre os quais sobretudo o Dia Mundial da Juventude. O compromisso para tornar Roma e o Lácio mais acolhedores e hospitaleiros possível, acompanhando com oportunas medidas e iniciativas institucionais a grande disponibilidade e generosidade das nossas populações, deu óptimos resultados e propõe-se como experiência a ser desenvolvida também no futuro. Desta forma, o Jubileu continuará a fazer sentir os seus efeitos benéficos não só no âmbito da comunidade religiosa mas também civil.

3. Tudo o que recebemos de positivo no Ano Santo nos exorta a enfrentar com renovado estímulo e confiança as tarefas e responsabilidades que agora nos esperam. Na vossa tarefa de Administradores públicos, o ponto de referência certo e iluminador permanece a procura tenaz e concreta do bem comum, sobretudo naqueles sectores que tocam mais de perto a vida dos cidadãos, os valores que a devem animar, os obstáculos e os problemas que por vezes a tornam difícil.

Sinto o dever de chamar a vossa atenção, em primeiro lugar, para o importante tema da família e para o papel fundamental que ela desempenha no crescimento e formação das novas gerações, como também para o desenvolvimento de relações humanas caracterizadas pelo amor e pela solidariedade. A família há-de estar no centro das políticas sociais e deve ser respeitada na sua identidade própria, com uma união estável entre o homem e a mulher fundada no matrimónio, e jamais igualada a outras formas de relação. Alegro-me com aquelas iniciativas, assumidas pelas vossas Administrações, que favorecem a família, reconhecendo a sua "subjectividade social" e favorecendo as suas maiores necessidades, com uma atenção particular às jovens famílias. É preciso também pensar nos idosos, cada vez mais numerosos em Roma e no Lácio, sobretudo no que se refere à solidão que caracteriza a vida de muitos deles.

Precisamente o envelhecimento da população mostra que são urgentes uma cultura, política e organização social realmente favoráveis à vida. Por conseguinte, merecem um apoio sincero as propostas e medidas tomadas em benefício da maternidade e da tutela da vida desde a concepção até ao seu fim natural: aqui está em jogo um desafio fundamental para o nosso futuro.

4. O capítulo relativo à educação das crianças, dos adolescentes e dos jovens merece um grande empenho. A este respeito, não tenhais medo de tomar iniciativas corajosas no que se refere à efectiva igualdade escolar e à valorização daquelas estruturas, como por exemplo os oratórios paroquiais, que muito contribuem para oferecer uma formação sadia e evitar preocupadoras formas de mal-estar juvenil.

Depois, que dizer da saúde? Neste âmbito são importantes não só a qualidade técnica e a rapidez dos serviços, mas também o calor humano e a solicitude cuidadosa para com os doentes e os seus familiares. Além disso, hoje o âmbito da saúde tende a ampliar-se, ligando-se a um conjunto de condições que podem melhorar a qualidade da vida. Agradeço a Deus, porque na nossa Cidade e Região se estão a tomar importantes iniciativas, adequadas para garantir substanciais progressos das capacidades de assistência no campo da saúde, com provável benefício também para as populações de outras Regiões. Seja-me consentido ressaltar a necessidade de que, na contínua e rápida evolução a que as estruturas de saúde estão sujeitas, não se comprometa mas, ao contrário, seja integralmente respeitado e mantido o espaço da assistência espiritual aos doentes, bem como a todo o pessoal comprometido no campo da saúde. Eis o contributo particularmente qualificado para uma plena humanização da medicina.

5. Além disso, existem os numerosos problemas do aumento da potência do tecido produtivo e do desenvolvimento das capacidades inovadoras das quais dependem, em grande medida, a segurança económica e o trabalho. Sem dúvida, as administrações públicas não podem resolver tudo sozinhas. Mas elas são chamadas a dar a estes âmbitos um indispensável estímulo e orientação, garantindo, na parte que delas depende, as condições sem as quais estes progressos não seriam possíveis. Refiro-me não só aos aspectos estruturais, técnicos e organizativos, mas também à formação das pessoas: de facto, sabemos que precisamente as pessoas constituem, também a nível económico, um recurso primário e principal.

Desejaria mencionar o último aspecto, o da segurança dos cidadãos. Trata-se de uma exigência sentida por todos e singularmente crítica em algumas áreas urbanas e suburbanas. A adopção de medidas eficazes também neste campo seria de grande ajuda para aumentar a confiança nas Instituições e o sentido da comum cidadania. Além disso, isto facilitaria o acolhimento e a integração dos numerosos imigrantes que chegam a Roma e ao Lácio, animados pelo desejo de um trabalho honesto e de condições de vida mais aceitáveis.

6. Ilustres Representantes das Administrações regional, provincial e municipal, tomei a liberdade de evidenciar alguns temas de grande interesse para o bem das nossas populações. Ao agradecer-vos o apoio que ofereceis à vida e às actividades da Igreja, desejo garantir-vos que, em cada um destes âmbitos, nunca faltará o contributo cordial e abnegado das Comunidades cristãs de Roma e do Lácio.

Na oração, confio ao Senhor todos os vossos projectos e propósitos de bem, enquanto peço a Maria Santíssima que proteja e acompanhe, com a sua poderosa intercessão, as vossas pessoas e actividades.

Com estes sentimentos concedo a Bênção apostólica a cada um de vós, às vossas famílias e a quantos vivem em Roma, na sua Província e no Lácio.




À DELEGAÇÃO ECUMÉNICA DA IGREJA EVANGÉLICO-LUTERANA DA FINLÂNDIA

Sexta-feira, 19 de janeiro de 2001





Excelência
Caros amigos da Finlândia

É com particular alegria que vos dou as boas-vindas ao Vaticano, logo após a conclusão do Grande Jubileu do Ano 2000. Durante esse especial tempo de graça, muitíssimas pessoas viveram uma profunda renovação espiritual. Que o Senhor nos conceda iniciar este novo milénio com uma confiança solidamente radicada no mistério salvífico da sua morte e ressurreição!

Guardo vivas recordações das grandes liturgias ecuménicas e dos encontros ecuménicos durante o Ano Santo. Entre estas, a solene celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Paulo fora dos Muros, onde acolhi com alegria o Bispo Ville Riekkinen, de Kuopio, juntamente com os membros da delegação da Igreja Evangélico-Luterana da Finlândia, presente em Roma para a Festa de Santo Henrique. Realizou-se também a comemoração das testemunhas da fé junto do Coliseu, com a participação de ilustres representantes vindos de todo o mundo cristão. Tais acontecimentos expressaram a fé comum em Jesus Cristo, Senhor de todos os tempos e de todos os povos, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (He 13,8).

Estou contente por saber que, sob a orientação do Conselho Ecuménico da Finlândia, os cristãos deste País celebraram em conjunto o Grande Jubileu, com o tema "Milénio 2000 Ano de esperança". No decurso do ano, as celebrações do septingentésimo aniversário da Catedral de Turku, na qual participaram numerosos delegados ecuménicos, recordaram de modo eloquente a nossa história comum. O Jubileu foi também ocasião para garantir que questões de justiça para os pobres e marginalizados se tornassem mais centrais não só para os cristãos da Finlândia, mas também para a sociedade finlandesa no seu conjunto. Este é um sector no qual os cristãos do vosso País trabalharam de modo eficaz.

Ao entrar no terceiro milénio, estejamos conscientes da necessidade de nos empenharmos cada vez mais profundamente no dever de restabelecer a unidade plena e visível entre todos os discípulos de nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que a verdade salvífica do Evangelho possa ser pregada mais eficazmente aos Europeus de hoje. Que o Espírito Santo nos guie na renovação do nosso compromisso de dedicação a este dever!

Com alegres recordações da minha visita ao vosso amado País há onze anos, invoco sobre vós e os habitantes da Finlândia as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente. "A Ele a glória e o poder para todo o sempre" (Ap 1,6).






AOS MEMBROS DO PONTIFÍCIO INSTITUTO DE MÚSICA SACRA

Sexta-feira 19 de Janeiro de 2001





Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados Professores e Alunos
do Pontifício Instituto de Música Sacra

1. Sinto-me feliz por vos receber, por ocasião do nonagésimo aniversário do vosso Instituto, fundado pelo meu venerado predecessor São Pio X em 1910, com sede no Palácio de Santo Apolinário. Volto a pensar na visita que tive a oportunidade de vos fazer no dia 21 de Novembro de 1984 e, com afecto, transmito a todos vós aqui presentes a minha cordial saudação. Saúdo também a Delegação da Catalunha. Ao mesmo tempo, congratulo-me com as Personalidades que receberam a insígnia do Doutoramento "honoris causa", em virtude dos méritos adquiridos no campo da Música Sacra.

Exprimo em particular o meu reconhecimento ao Arcebispo D. Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica e vosso Grão-Chanceler, as amáveis expressões de bons votos que, também em vosso nome, quis dirigir-me. É de bom grado que, nesta circunstância, volto a confirmar-vos a minha estima e satisfação pelo trabalho que todos vós levais a cabo com sentido de responsabilidade e apreciada profissionalidade.

Nesta ocasião, enquanto observo a actividade até aqui realizada e considero os projectos para o futuro, dou graças a Deus pela obra completada pelo Pontifício Conselho de Música Sacra em benefício da Igreja universal. Com efeito, a música e o canto não representam um mero decoro ou um ornamento que se sobrepõe à acção litúrgica. Pelo contrário, eles constituem uma realidade unitária com a celebração, consentindo o aprofundamento e a interiorização dos mistérios divinos.

Por conseguinte, formulo votos para que todos vós professores, discípulos e cultores de música sacra possais crescer dia após dia no amor de Deus, "recitando entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vossos corações" (Ep 5,19) e ajudar os outros a fazer o mesmo.

2. Com efeito, esta é a missão específica que desde o início os Sumos Pontífices confiaram à vossa benemérita Instituição. Dirijo o meu pensamento, em primeiro lugar, ao Motu Proprio de São Pio X que, em 1903, na sua sensibilidade litúrgica, pôs em evidência o facto de que a música sacra é "uma parte integrante da solene liturgia, partícipe da sua finalidade geral, que é a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis" (cf. Inter sollicitudines, AAS, 36, 1903, 332). O principal fruto desta Instrução foi a instituição, em 1910, da Escola Superior de Música Sacra. Apenas um ano mais tarde, São Pio X tornou pública a sua aprovação da Escola, com o Breve Expleverunt desiderii e, no dia 10 de Julho de 1914, decorou-a com o título de "Pontifícia".

Também o Papa Bento XV, poucos dias depois da sua elevação ao sólio pontifício, ocorrida em 23 de Setembro de 1914, declarou que considerava a Escola como uma herança preciosíssima, que lhe foi deixada pelo seu Predecessor e que ele teria apoiado e promovido da melhor forma possível. Além disso, deve recordar-se o Motu Proprio Ad musicae sacrae, do Papa Pio XI, promulgado no dia 22 de Novembro de 1922, no qual voltou a confirmar o vínculo especial entre a Escola e a Sé Apostólica.

Mediante a Constituição Apostólica Deus scientiarum Dominus, de 1931, a Escola denominada Pontifício Instituto de Música Sacra foi incluída entre os Institutos académicos eclesiásticos e, como tal, continuou com aumentado compromisso a sua louvável actividade ao serviço da Igreja universal. Numerosos estudantes, que ali se formaram, se tornaram por sua vez formadores nas respectivas Nações, em conformidade com o espírito originário desejado por São Pio X.

Nesta circunstância, desejaria prestar uma homenagem aos professores que trabalharam no vosso Instituto por longos anos e, de maneira particular, os Presidentes que se lhe consagraram totalmente, com especial menção do Monsenhor Higini Anglès, Presidente de 1947 até à sua morte, ocorrida em 8 de Dezembro de 1969.

3. Orientando-se segundo as directrizes da rica tradição litúrgica dos séculos precedentes, o Concílio Ecuménico Vaticano II afirmou que a música sacra "é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido ao texto, constitui parte necessária e integrante da Liturgia solene" (Sacrosanctum concilium, SC 112).

Efectivamente, desde sempre os cristãos, seguindo os vários tempos do ano litúrgico, expressaram reconhecimento e louvor a Deus, com hinos e cânticos espirituais. Através das palavras do salmista, a tradição bíblica exorta os peregrinos, que iam a Jerusalém, a atravessar as portas do templo louvando o Senhor "ao som da trombeta, com a harpa e a cítara, com tambores e danças, com instrumentos de corda e flautas, com címbalos sonoros" (cf. Sl Ps 150). Por sua vez, o Profeta Isaías exorta a tocar as harpas no templo do Senhor, em sinal de gratidão, todos os dias da vida (cf. 38, 20).

A alegria cristã, que o canto manifesta, deve cadenciar todos os dias da semana e ressoar com força no domingo, "dia do Senhor", caracterizado por um especial sinal de alegria. Um íntimo ligame une entre si, por um lado, a música e o canto e, por outro, a contemplação dos divinos mistérios e a oração. O critério que deve inspirar qualquer composição e execução dos cantos e da música sacra é o de uma beleza que convida à oração. Quando o canto e a música são sinais da presença e da acção do Espírito Santo, favorecem de certa forma a comunhão com a Trindade. Então, a liturgia torna-se "opus Trinitatis". É necessário que o "cantar na liturgia" nasça do "sentire cum Ecclesia". Só assim a união com Deus e a capacidade artística se unem numa feliz síntese em que os dois elementos o canto e o louvor penetram toda a liturgia.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs! A noventa anos da fundação o vosso Instituto, grato ao Senhor pelo bem realizado, pretende voltar o seu olhar para os novos horizontes que o esperam. Entrámos no novo milénio e a Igreja está totalmente comprometida na obra da nova evangelização. A esta vasta acção missionária não falte a vossa contribuição. De cada um de vós é solicitado um estudo académico rigoroso, vinculado à constante atenção à liturgia e à pastoral. A vós, docentes e alunos, é pedido que valorizeis os vossos dotes artísticos, conservando e promovendo o estudo e a prática da música e do canto nesses âmbitos e com aqueles instrumentos que o Concílio Vaticano II indicou como privilegiados: o canto gregoriano, a polifonia sacra e o órgão. Somente assim a música litúrgica poderá desempenhar com dignidade a sua tarefa no contexto da celebração dos Sacramentos e, de maneira especial, da Santa Missa.

Que Deus vos ajude a cumprir com fidelidade esta missão ao serviço do Evangelho e da Comunidade eclesial. Sirva-vos de modelo Maria, que soube elevar a Deus o Magnificat, o cântico da verdadeira felicidade. Segundo as palavras deste cântico, ao longo dos séculos, a música teceu infinitas harmonias e os poetas desenvolveram um vasto e comovente conjunto de louvores. A essas vozes possa associar-se também a vossa, glorificando o Senhor e exultando em Deus Salvador.

Quanto a mim, asseguro-vos a lembrança constante na oração e, enquanto formulo votos para que o novo ano há pouco iniciado seja repleto de graça, de reconciliação e de renovação interior, concedo a todos com afecto uma especial Bênção Apostólica.






Discursos João Paulo II 2001 - 12 de Janeiro de 2001