Discursos João Paulo II 2001 - 13 de Fevereiro de 2001

MENSAGEM DO SANTO PADRE


À SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO






Mons. José Ramón Díaz-Torremocha
Presidente da Sociedade de São Vicente de Paulo

1. Por ocasião da reunião da Comissão internacional de coordenação da Sociedade de São Vicente de Paulo, sinto-me feliz por vos saudar e, por vosso intermédio, cumprimentar os membros da Comissão internacional de coordenação e os membros do Conselho geral internacional. Vós representais uma forma eminente de caridade que se realiza em todos os continentes, o serviço aos pobres que é, como gostava de recordar o Mons. Vicente, uma maneira de servir Cristo. Mediante o seu compromisso quotidiano, a vossa Associação constitui para a Igreja uma recordação permanente da vocação que ela tem de manifestar o amor preferencial de Cristo pelos pobres.

2. Durante o Jubileu da Encarnação, "grande foi a alegria da Igreja, que se dedicou a contemplar o rosto do seu Esposo e Senhor" (Novo millennio ineunte, 1). Esta contemplação reside na vida, na oração e na acção da Igreja, convidando-a a fazer seu o olhar de ternura e de compaixão do próprio Cristo, que recorda a cada pessoa o valor da sua dignidade e o lugar único que lhe é reservado no coração de Deus: "Conheceis a bondade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós a fim de vos enriquecer pela pobreza" (2Co 8,9). A vida espiritual e a acção apostólica de Frederico Ozanam, vosso predecessor que tive a alegria de beatificar em Paris no ano de 1997, foram profundamente assinaladas por esta contemplação do rosto de Cristo nos pobres. Esta atitude espiritual é essencial para os vossos compromissos apostólicos e para o dinamismo das Conferências. Deste modo, encorajo-vos a ser sempre, no contacto pessoal com os pobres e em conformidade com o exemplo do vosso Fundador, testemunhas da caridade e da justiça, a fim de que contribuam para o desenvolvimento integral das pessoas.

3. "A caridade é inventiva até ao infinito". Estas palavras de São Vicente de Paulo exprimem maravilhosamente a seguinte realidade na Igreja: o Espírito suscita numerosos carismas, para que as comunidades cristãs constituam o sinal da ternura infinita do nosso Pai que está no Céu. Ao oferecerdes a vossa contribuição específica para a missão das Igrejas particulares, "em plena sintonia eclesial e obediência às directrizes autorizadas dos Pastores" (Novo millennio ineunte, 46), vós participais na edificação de uma sociedade fundamentada no amor e na solidariedade. Mediante uma colaboração concreta com as várias instâncias locais de coordenação do apostolado da caridade, realizais o profundo desejo que ardia no coração do Beato Ozanam: abraçar o mundo inteiro no contexto da caridade. Neste espírito de unidade, as Associações internacionais de fiéis leigos são chamadas a inserir-se de maneira apropriada no tecido eclesial; eis o motivo por que a Igreja propõe diferentes formas de reconhecimento jurídico, no respeito dos carismas e das legítimas diversidades. Há que desejar que a Sociedade de São Vicente de Paulo, cuja história é mais do que centenária, possa dar continuidade à sua reflexão com as autoridades competentes, no âmbito das dioceses e na Santa Sé, nomeadamente com o Pontifício Conselho para os Leigos, com vista a harmonizar os seus fundamentos institucionais e a sua prática com a realidade eclesial de associação internacional de fiéis leigos, que buscam a santidade no serviço aos pobres.

4. Como eu sublinhava na recente Carta Apostólica Novo millennio ineunte, chegou a hora de uma ""nova fantasia da caridade", que se manifeste não só nem sobretudo na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre" (n. 50). Peço à Virgem Maria que vos ajude a encontrar incessantemente novos caminhos para o amor aos pobres, a fim de que toda a Igreja viva cada dia esta caridade de proximidade, enquanto vos concedo do íntimo do coração a Bênção apostólica, que torno extensiva a todos os membros e amigos da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Vaticano, 14 de Fevereiro de 2001.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AOS BISPOS AMIGOS DO MOVIMENTO DOS FOCOLARES








Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado

1. É-me grato dirigir-vos a minha cordial saudação por ocasião do vosso Congresso espiritual dos amigos do Movimento dos Focolares, que está a realizar-se durante estes dias no Centro "Mariápolis" de Castel Gandolfo. Obrigado pela visita de hoje, expressão da comunhão eclesial que vos une ao Sucessor de Pedro.

Encontrastes-vos para uma reflexão conjunta, tendo como base relatórios, experiências e testemunhos, sobre o interessante tema: "Cristo crucificado e abandonado, raiz da Igreja-comunhão". Ao manifestar o meu sincero apreço por esta iniciativa, que já chegou à sua vigésima quinta edição, encorajo-vos a deixar-vos orientar pelas indicações que delineei na Carta Apostólica Novo millennio ineunte. Com efeito, nela convidei todo o povo cristão a fixar o olhar no rosto de Cristo crucificado e ressuscitado, e a aprofundar o mistério de dor e de amor de que nasce e a partir do qual se renova constantemente a Igreja-comunhão como ícone vivo da Santíssima Trindade.

2. Na cruz de Cristo encontramos a fonte genuína da salvação, a revelação suprema do amor de Deus e a raiz profunda da comunhão com Deus e entre nós. Na agonia de Jesus na cruz, que se manifesta como o momento da vitória das trevas e do mal, na realidade é o triunfo de Cristo que se realiza através do seu amor obediente ao Pai e solidário para com os homens, prisioneiros do pecado. Na mencionada Carta Apostólica, escrevi a este propósito que "o grito de Jesus na cruz... não traduz a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho que, por amor, oferece a sua vida ao Pai pela salvação de todos. Enquanto Se identifica com o nosso pecado, "abandonado" pelo Pai, Ele "abandona-Se" nas mãos do Pai" (Novo millennio ineunte, 26).

Portanto, em Cristo crucificado e abandonado o mal e o pecado são derrotados definitivamente e torna-se possível a plena unidade da humanidade com o Pai e dos homens entre si. Segundo as palavras do Evangelista João, inspiradas num precedente oráculo do Profeta Zacarias, os homens "hão-de olhar para Aquele que trespassaram" (Jn 19,37). Este movimento que converge para a cruz é orientado por Cristo rumo ao Pai, para constituir à sua volta uma nova Comunidade de amor. Verdadeiramente, jamais terminaremos de perscrutar este grande mistério (cf. Novo millennio ineunte, 25)!

3. O amor pelo Crucificado, contemplado no momento culminante do sofrimento e do abandono, constitui a senda-mestra não só para tornar cada vez mais efectiva a comunhão a todos os níveis da comunidade eclesial, mas também para instaurar um fecundo diálogo com as outras culturas e religiões. A este propósito, serão de grande ajuda os temas espirituais, as reflexões teológicas e os testemunhos com que vos confrontais durante estes dias.

Da contemplação do rosto do Crucificado abandonado não podem deixar de surgir importantes consequências que levam a viver em profundidade o grande mistério da comunhão nele contido e revelado: "Se verdadeiramente contemplámos o rosto de Cristo escrevi na citada Carta Apostólica Novo millennio adveniente (...) a nossa programação pastoral não poderá deixar de se inspirar no "mandamento novo" que Ele nos deu: "Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros" (Jn 13,34)" (n. 42).

No momento histórico que estamos a viver apresenta-se diante de nós uma missão exigente: fazer da Igreja o lugar em que se vive e a escola onde se ensina o mistério do amor divino. Como é que isto será possível, sem redescobrir uma autêntica espiritualidade da comunhão? Em primeiro lugar, é necessário compreender com os olhos do coração o mistério trinitário presente em nós, para então saber captá-lo no rosto dos outros. O irmão na fé deve ser considerado como alguém que nos pertence na unidade misteriosa do Corpo místico. Somente reservando espaço ao irmão, para descobrir aquilo que ele possui de positivo, é possível compreender em que medida ele é um dom para mim (cf. Novo millennio ineunte, 43). Se for assim vivida, a espiritualidade da unidade e da comunhão, que caracteriza o vosso Movimento, não deixará de dar fecundos frutos de renovação para todos os fiéis.

4. Venerados e dilectos Irmãos! Aos aprofundamentos e às reflexões destes dias, ofereceis a contribuição da vossa experiência e do vosso ministério pastoral. Graças a Deus, vós mesmos sois testemunhas dos frutos de compreensão recíproca e de íntima colaboração, que estão a amadurecer na Igreja graças ao compromisso assumido pelos vários Movimentos. Sede vós mesmos os seus animadores generosos e responsáveis.

Sabei fazer do Congresso destes dias uma ocasião propícia para crescer nesta dimensão, no espírito da colegialidade efectiva e afectiva que deve distinguir a vossa missão. No amor recíproco encontrareis um motivo de encorajamento, de renovado vigor e de sólida esperança. Com estes sentimentos e bons votos, invoco sobre cada um de vós, sobre as vossas Comunidades eclesiais e sobre quantos vos são queridos, a constante protecção da Virgem Maria, Mãe da unidade, enquanto vos concedo com afecto uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 14 de Fevereiro de 2001.



DISCURSO DE JOÃO PAULO II


AOS AGENTES DA DELEGACIA DE ROMA


15 de Fevereiro de 2001




Senhor Delegado
Caros Dirigentes
e Agentes da Delegacia de Roma

1. Desejei ardentemente este encontro de hoje, que acontece a pouco mais de um mês do fim do Grande Jubileu, para vos manifestar os meus gratos sentimentos pelo generoso trabalho que realizais todos os dias e que teve uma especial intensificação durante os meses do Ano jubilar.

Agradeço em primeiro lugar ao Senhor Delegado, Dr. Giovanni Finazzo, a sua presença e as amáveis palavras que, em nome de todos, me quis dirigir. Pensando de novo nos acontecimentos jubilares, que assinalaram a presença maciça de peregrinos devemos, mais uma vez, dar graças a Deus pela ordem e a seriedade com que tudo se realizou. Mas, ao mesmo tempo, é justo reconhecer também o precioso contributo de quem, como vós, vigiou atentamente sobre milhões de peregrinos na visita às Basílicas romanas e especialmente aqui, no Vaticano. Sei que isto provocou para cada um dificuldades pessoais e familiares, assim como um suplemento de fadiga e não poucas renúncias e sacrifícios. Deus, que tudo olha na sua providente misericórdia, vos recompense com generosidade.

2. Não posso deixar de mencionar, aqui, alguns desses momentos inesquecíveis que vivemos em conjunto. Penso nos encontros na Praça e na Basílica de São Pedro, nas visitas de Autoridades de todo o mundo, em muitas outras circunstâncias que tornaram o Ano Santo um acontecimento de graça extraordinária para milhões de pessoas. De modo muito particular quero recordar a Jornada Mundial da Juventude, que vos viu alegremente envolvidos na Praça de São Pedro, na cidade de Roma e sobretudo em Tor Vergata, na vigília e na celebração eucarística final.

Estou certo de que também para vós o Jubileu foi um intenso momento de graça, cujos frutos espirituais continuam a assinalar a vossa vida. Agora, retomastes a actividade normal e mesmo por esta vossa discreta mas necessária presença eu quero agradecer-vos cordialmente. Peço ao Senhor que vos ajude a levar em frente, com fidelidade, o vosso trabalho. Também recordo na minha oração as vossas famílias e as pessoas que vos são queridas.

Enquanto vos confio è premurosa intercessão de Maria Santíssima e São Miguel Arcanjo, vosso especial Padroeiro, concedo a cada um de vós a minha afectuosa Bênção, que de bom grado estendo aos vossos entes queridos.




AO NOVO EMBAIXADOR DO PERU


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


16 de Fevereiro de 2001




Senhor Embaixador Alberto Montagne Vidal

1. É com grande prazer que o recebo neste solene acto de apresentação das Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Perú junto da Sé Apostólica, e apraz-me apresentar-lhe as minhas mais cordiais boas-vindas no momento em que inicia as importantes funções que o seu Governo lhe confiou. Agradeço as suas amáveis palavras e, muito especialmente, a saudação do Dr. Valentín Paniagua Corazao, Presidente da República, a que correspondo com os melhores desejos de que o seu serviço ao povo Peruano, nestes momentos da sua história, ajude todos a progredir no caminho da concórdia, do entendimento recíproco e da paz.

2. Vem como representante de um povo que, como Vossa Excelência bem recorda nas suas palavras, funda as suas raízes na história, sendo depositário de ricas heranças culturais e morais.

De facto, a civilização inca, expoente do glorioso passado do Peru, com o decorrer dos séculos misturou-se com a cultura ocidental desde a chegada do Evangelho, fazendo dos Peruanos um povo profundamente religioso no qual o cristianismo faz parte da sua idiossincrasia. Neste ambiente, a fé e a religiosidade deram excelentes frutos, entre os quais a Igreja honra os Santos Toríbio de Mogrovejo e Martín de Porres, Juan Macías e Francisco Solano, Santa Rosa de Lima e a Beata Ana de los Ángeles Monteagudo.

Vossa Execelência referiu-se também às inesquecíveis viagens que realizei ao seu País, a primeira em 1985 e a segunda, três anos mais tarde, para o encerramento do Congresso Eucarístico Boliviano. Nas duas ocasiões tive a alegria de encontrar um povo acolhedor e aberto, o qual incentivei a continuar o bom caminho empreendido, aproveitando todos os recursos de que a alma Peruana dispõe.

3. Amplo e generoso tem sido o contributo da Igreja nestes quase quinhentos anos da sua presença no Perú, anunciando a Boa Nova a todos os seus habitantes. Este serviço ao homem Peruano é reconhecido também pela Constituição que, no seu artigo 50, proclama que a Igreja desempenhou um papel "importante na formação histórica, cultural e moral do Perú". De facto, não é difícil descobrir estas acções notáveis nos momentos significativos da história Peruana.

Vossa Excelência recordou também a presença da Igreja no campo da educação, com a criação de escolas e universidades, assim como no da saúde e no da ajuda aos mais necessitados. O Episcopado Peruano está decidido a prosseguir esse caminho, no qual, como escreveu recentemente, "se trata de continuar uma tradição de caridade que já teve muitíssimas manifestações nos milénios passados, mas que hoje talvez requeira maior criatividade" (Novo millennio ineunte, 50).

Com a sua doutrina social a Igreja contribui também para o bem da sociedade. De facto, ela não pretende resolver os problemas sociais a partir da perspectiva técnica e administrativa, que é própria da autoridade civil, mas, devido à sua atenção pela pessoa, pela promoção da solidariedade e atenção aos mais débeis, procura contribuir para a instauração de uma vida social melhor.

4. A crise política e institucional que o seu País viveu nos meses passados, à qual Vossa Excelência também se referiu, suscitou sérios problemas para a Nação. Segui com atenção o desenvolvimento dos acontecimentos, pedindo ao Senhor que não fosse perturbada a vida dos Peruanos. Agora é preciso reunir esforços, pôr de lado projectos partidários para que, com a colaboração de todos e com base na honradez e na boa vontade, se fomente um clima de confiança, justiça real, transparência, respeito recíproco, paz e liberdade. Desta forma o povo Peruano poderá superar essa crise e recuperar os valores morais de uma sociedade justa, equitativa, solidária e honesta, promovendo um estado de direito no qual todos os cidadãos se sintam co-responsáveis e participem na edificação da Pátria e na realização do bem comum.

Neste sentido, será importante trabalhar para melhorar a situação económica, superando o mal da pobreza causada pela forte dívida externa e interna, o que deve ser enfrentado por todos os protagonistas da vida social. Referi-me em diversas ocasiões a este grave problema a nível mundial, desejando que o perdão, ou pelo menos uma redução significativa da dívida externa por parte dos Países credores, permita aos que se encontram em tais circunstâncias olhar para o futuro com optimismo, promover o conveniente desenvolvimento e alcançar níveis desejáveis de bem-estar.

O regresso à normalidade democrática deve ser acompanhada evidentemente pela recuperação dos genuínos princípios morais e éticos. Com efeito, como repeti muitas vezes, a vida política não pode prescindir do respeito da verdade e dos valores, porque "uma democracia sem valores converte-se facilmente num totalitarismo visível ou escondido, como a história demonstra" (Centesimus annos, 46).

Desejaria referir-me ainda ao processo de paz com a nação irmã do Equador, com o qual foi assinado um Acordo favorecido também pela abnegada cooperação das duas Conferências Episcopais. É indispensável, vencendo qualquer tentação de retrocesso, prosseguir o caminho num clima de convivência próprio de países que estão unidos por tantos valores e em conformidade com a tradição pacífica da região. Além disso, o seu País resolveu os assuntos pendentes com o Chile, assinando em Novembro de 1999 a Acta de Execução das cláusulas do Tratado de Lima de 1929, com o qual o Peru manifestou a sua vontade de concertar os seus esforços para o progresso e o bem-estar da sua sociedade.

5. Ao concluir, Senhor Embaixador, formulo os meus melhores votos pelo bom desempenho da sua missão. Na Santa Sé encontrará a maior disponibilidade para tudo o que possa beneficiar o querido povo Peruano e as boas relações que existem entre o seu País e esta Sé Apostólica. Peço ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora da Evangelização e de todos os Santos Peruanos, que o assista no exercício das suas funções, que abençoe a sua distinta família, os seus colaboradores, e todos os governantes e cidadãos da nobre nação Peruana, que recordo sempre com muito carinho e estima.




ÀS SERVAS DE MARIA MINISTRAS DOS ENFERMOS


16 de Fevereiro de 2001


Queridas Irmãs!

1. Sinto-me feliz por vos receber hoje e saudar cordialmente a Rev.ma Madre-Geral, Ir. Josefa Oyarzábal, bem como as suas Conselheiras, as demais colaboradoras na tarefa de governar o Instituto e às Irmãs da Comunidade de Roma. Viestes a este encontro com a alegria que vos penetra pelas várias comemorações que celebrareis ao longo deste ano: o 175º aniversário do nascimento da Madre Fundadora, Santa María Soledad Torres Acosta, o 50º da fundação do Instituto e o 125º da sua aprovação pontifícia. São ocasiões propícias para agradecer ao Senhor que "olhou para a humilde condição da sua Serva" (Lc 1,48) e quis plasmar com os seus dons um itinerário espiritual de santidade, que enriquece a Igreja e é fermento evangélico no mundo. Por conseguinte, uno-me à vossa alegria e confirmo a estima pelas pessoas consagradas que "contribuíram... para manifestar o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorrerem também para renovar a sociedade" (Vita consecrata, VC 1).

2. Aproveito esta ocasião para vos exortar a ser fiéis ao vosso carisma inicial, porque é uma inspiração do Espírito Santo através da vossa Madre Fundadora. De facto, é preciso recorrer constantemente a Ele a fim de reconhecer o dom de Deus e receber a água viva (cf. Jo Jn 4,10) que irriga e torna fecundo o itinerário histórico da Igreja. Santa María Soledad dedicou muita atenção ao Espírito Santo, abrindo todo o seu ser à acção de Deus salvífica e santificante (cf. Dominum et vivificantem, DEV 58) quando, perante o que parecia ser uma simples exigência de assistência na sua época, descobriu o chamamento a dar testemunho da presença do Reino de Deus no mundo mediante um dos seus evidentes sinais: "adoeci e visitastes-Me" (Mt 25,36).

Mesmo se, depois daquele momento, algumas situações mudaram, Cristo continua a manifestar-se também hoje em tantos rostos que nos falam de miséria, solidão e sofrimento. É, por conseguinte, necessário manter um grande espírito de oração, de intimidade com Deus, que dê vida aos gestos do serviço específico que realizais, porque "o Cristo descoberto na contemplação é o mesmo que vive e sofre nos pobres" (cf. Vita consecrata, VC 82).

Além disso, a peculiaridade da vossa principal dedicação, a assistência aos doentes ao domicílio e gratuitamente, possui ressonâncias novas nos nossos dias, em que muitas vezes se procura esconder na vida quotidiana a realidade da doença ou da morte. Com este serviço proclamais de maneira muito eloquente que a doença não é um peso insuportável para o ser humano, nem priva o doente da sua plena dignidade como pessoa. Ao contrário, pode transformar-se numa experiência que enriquece o doente e toda a família. Desta forma, ao dar ajuda a quem sofre, a vossa missão transforma-se também numa ajuda à força de ânimo dos familiares e um subtil apoio à união nos lares, onde ninguém deve sentir-se um peso.

Por conseguinte, o carisma do qual sois herdeiras projecta-vos para um futuro no qual a Igreja será chamada a "dar continuidade a uma tradição de caridade, que já teve inumeráveis manifestações nos dois milénios passados, mas que hoje requer, talvez, ainda maior capacidade inventiva" (Novo millennio ineunte, 50). Tendes à vossa frente o desafio de uma humanidade na qual muitos irmãos nossos, além de uma ajuda eficaz nos momentos delicados da sua vida, têm também e sobretudo necessidade de respeito, proximidade e solidariedade (cf. ibid.).

3. Por conseguinte, exorto-vos a viver as celebrações deste ano, no início de um novo milénio, como uma ocasião providencial para revitalizar o vosso dom pessoal e as vossas obras, que já estão difundidas na África, América e Europa. Bem sabeis que a autêntica renovação se produz "quanto mais íntima for a sua dedicação ao Senhor Jesus, quanto mais fraterna for a sua forma comunitária de existência, quanto mais ardoroso for o seu empenhamento na missão específica do Instituto" (Vita consecrata, VC 72).

Peço à Virgem Maria, Saúde dos enfermos, que vos assista nos vossos esforços e que entre convosco nos lares para mostrar Jesus, o verdadeiro Salvador e Redentor de cada ser humano mediante o seu sacrifício na Cruz e a sua ressurreição gloriosa.

Ao invocar a intercessão de Santa Soledad Torres Acosta em favor de cada uma das suas filhas, concedo-vos de coração a Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva às vossas Irmãs, as Servas de Maria Ministras dos Enfermos.




AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA


JUGOSLÁVIA POR OCASIÃO DA


VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2001






Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. "O próprio nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela graça, eterna consolação e excelente esperança, consolem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras" (2Th 2,16-17). Com estas palavras de São Paulo, dirigida aos cristãos de Tessalonica, saúdo-vos cordialmente, queridos Pastores da Igreja que está na República Federal da Jugoslávia. Viestes em visita "ad limina Apostolorum", para manifestar a vossa comunhão católica e a vossa adesão ao Sucessor de Pedro. Agradeço a Sua Ex.cia Rev.ma D. Franc Perko, Arcebispo Metropolitano de Belgrado e Presidente da Conferência Episcopal Nacional, as amáveis palavras que desejou dirigir-me inclusivamente em vosso nome.
Por vosso intermédio, transmito um grato pensamento aos presbíteros, aos consagrados e a quantos cooperam convosco na obra de evangelização. O Senhor recompense a todos abundantemente, como Ele mesmo prometeu.

Durante estes dias, pude encontrar-me em diálogo fraterno com cada um de vós, e estou-vos grato pelas palavras de esperança que me comunicastes acerca das Igrejas que o Espírito Santo vos destinou a governar e, como sucessores dos Apóstolos, cujo depósito da fé sois chamados a conservar (cf. Act Ac 20,28-31). Juntamente convosco, elevo orações ao Pai, de quem nos advêm toda a boa dádiva e todo o dom perfeito (cf. Tg Jc 1,17), a fim de que o povo dos crentes, dos quais sois os Pastores, saiba captar favoravelmente cada oportunidade para testemunhar a Boa Nova e dar abundantes frutos de santidade.

Seguir o exemplo do Bom Pastor

2. O encontro convosco oferece-me a possibilidade de constatar como são grandes o zelo e a disponibilidade com que procurais dar uma resposta adequada às exigências pastorais do momento actual. Exorto-vos a continuar com coragem, juntamente com os presbíteros, o cumprimento das vossas tarefas ao serviço do Povo de Deus que vive nas vossas regiões, sem vos preocupardes com os cansaços e os sacrifícios. Formulo votos de coração para que o renovado clima político, que veio a instaurar-se nos últimos meses, abra novas perspectivas e ofereça outras oportunidades para o desempenho regular das actividades das Comunidades católicas do País.

No vosso serviço, olhai sempre para o exemplo do Bom Pastor, Cristo Senhor. Quando os afãs podem parecer vãos, prestai atenção ao Mestre, que repete também a cada um de vós: "Faze-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca". Então, fazei vossa a resposta de Pedro: "Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes" (Lc 5,4-5).

Permanecei atentos ao sopro do Espírito Santo e, juntamente com as vossas Comunidades diocesanas, deixai-vos orientar por Ele, que não cessa de conceder abundantes estímulos e dons à comunidade e a cada um dos fiéis individualmente. Então, não vos faltarão a audácia apostólica, a clarividência profética e a sabedoria necessária para ser mestres de vida e Pastores repletos de zelo pela grei que vos foi confiada.

A vasta obra da evangelização

3. Vivemos um momento histórico particularmente rico de luzes e de sombras. Atravessando o limiar do novo milénio, no horizonte da Igreja delineia-se um novo trecho de caminho a percorrer com audácia missionária. Olhemos para o futuro com confiança, porque também ele é iluminado pelo Evangelho, "poder de Deus para a salvação de todo o crente" (Rm 1,16). Cabe precisamente a vós, discípulos de Cristo, difundir esta luminosa mensagem aos homens, às famílias e a toda a humanidade do terceiro milénio.

A diversidade das situações, em que se encontra cada uma das vossas Comunidades diocesanas, infelizmente não permite, como seria desejável, projectar actividades pastorais conjuntas em todos os sectores. Porém, isto não vos impede de dar vida a um intercâmbio de experiências e a uma entreajuda recíproca, a começar pelas realidades que já vos irmanam. Unindo as intenções e evitando a dispersão dos recursos à disposição e das forças das vossas comunidades diocesanas, procurai coordenar os vossos esforços. Isto permitir-vos-á imprimir um ulterior impulso à nova evangelização, empenhando os homens e as mulheres de todas as idades, as famílias e as paróquias. Todo o Povo de Deus presbíteros, religiosos, religiosas e fiéis leigos deve sentir-se responsavelmente comprometido convosco na vasta obra da evangelização. Do Baptismo nasce para cada fiel a chamada a oferecer na Igreja a sua contribuição típica, em conformidade com o estado de vida em que se encontra.

A formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada

4. O anúncio do Evangelho terá um impacto mais intenso se, como é deveras necessário que seja, for acompanhado do testemunho de uma vida coerente e fiel a Cristo, da busca de modos e métodos pastorais a adoptar para dar respostas adequadas aos desafios do nosso tempo. Por conseguinte, as actividades pastorais tenham em vista suscitar uma fiel adesão a Cristo e ao seu Evangelho. Este compromisso pastoral dará frutos abundantes se insistir sobre a centralidade da Palavra de Deus e sobre a importância fulcral dos Sacramentos. Este é o caminho do crescimento na fé, na esperança e na caridade; a senda da santidade para a qual cada cristão deve tender diariamente.

A urgência da evangelização exige um cuidado incessante no que diz respeito à formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada. É também necessária a formação permanente do clero a níveis teológico, litúrgico e pastoral. Ao mesmo tempo, deve promover-se uma intensa pastoral vocacional, coadjuvada pela oração assídua, que comprometa e responsabilize toda a Comunidade eclesial.

Para um relançamento da vida religiosa no País em que viveis e trabalhais, podem servir-vos de ajuda a valorização da sadia devoção popular, as missões no meio do povo e todos os instrumentos pastorais tradicionais, aos quais se devem unir os métodos correspondentes às exigências contemporâneas, inclusivamente o uso dos meios de comunicação social. À luz da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja, sabei valorizar as experiências do passado e as novas oportunidades de anúncio da salvação.

Além disso, é preciso também ter em conta a necessidade de inculturar o Evangelho nas realidades da vida quotidiana, a fim de que quem o acolhe se comprometa na edificação da civilização do amor e da paz. Esta será uma contribuição para o desenvolvimento da própria cultura e para o seu progresso constante. Com efeito, "a cultura é uma expressão qualificada do homem e da sua existência histórica, tanto a nível individual como colectivo... Ser homem significa necessariamente existir numa determinada cultura" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, nn. 4-5).

Conheço as circunstâncias dramáticas em que as vossas populações se encontraram no passado. Agora, actualizastes-me acerca da difícil situação que subsiste ainda hoje, de maneira especial no que diz respeito à persistência de tensões políticas e sociais, que correm o risco de terminar em ulteriores conflitos. Encorajai os vossos fiéis a não ceder à tentação do recurso à violência.
O diálogo ecuménico e a reconciliação

5. Venerados Irmãos no Episcopado! Permanecei unidos entre vós; juntamente com as vossas Comunidades, formai um só coração e uma só alma, perseverando na doutrina dos Apóstolos, na comunhão, na fracção do pão e na oração (cf. Act Ac 2,42 Ac 4,32). Apesar das dificuldades, comprometei-vos com todas as vossas energias no diálogo ecuménico, para que ele continue o seu caminho rumo à plena unidade dos discípulos de Cristo. Ele mesmo está connosco e oferece-nos o Espírito Santo a fim de nos conduzir para aquela unidade pela qual o Pai rezou (cf. Jo Jn 17,20-21) antes de entrar "uma só vez no Santo dos Santos... com o seu próprio Sangue, tendo assim obtido uma redenção eterna" (He 9,12).

O caminho da unidade passa através do perdão cordial e da reconciliação sincera. É assim que se abrirá a senda rumo à tão almejada unidade dos discípulos de Cristo e se preparará um futuro de paz e de progresso para todos.

"Para que todos sejam um só... para que o mundo creia" (Jn 17,21). A unidade dos cristãos é uma dádiva de Deus que exige o nosso compromisso generoso e incondicional: "A oração de Jesus lembra-nos que este dom precisa de ser acolhido e fomentado de maneira cada vez mais profunda... É sobre a oração de Jesus, e não sobre as nossas capacidades, que assenta a confiança de poder chegar, também na história, à comunhão plena e visível de todos os cristãos" (Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 48).

Confio-vos à materna protecção da Mãe do Redentor

6. Conforta-nos a certeza de que Deus fará crescer quanto cada um de vós semeou (cf. 1Co 3,5-6), ultrapassando abundantemente cada uma das expectativas humanas.
Confio-vos, bem como os vossos presbíteros e diáconos, juntamente com os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos das vossas Igrejas à materna protecção da Mãe do Redentor. Maria, aurora dos tempos novos, vos obtenha o dom da fidelidade à missão recebida, a coragem de continuar com zelo o anúncio do Evangelho e a alegria do testemunho de Cristo.

Assegurando-vos a lembrança constante na minha oração, abençoo-vos de todo o coração.





Discursos João Paulo II 2001 - 13 de Fevereiro de 2001