Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2001

AOS NOVOS CARDEAIS,


SEUS FAMILIARES, AMIGOS E DIOCESANOS


23 de Fevereiro de 2001

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Está vivo na mente de todos o eco das grandes celebrações de ontem e de anteontem, que nos viram protagonistas de uma nova página da história da Igreja. Com o ânimo repleto de gratidão ao Senhor, recebo-vos também hoje, neste encontro mais simples e familiar.

Itália

Saúdo-vos em primeiro lugar a vós, venerados Cardeais italianos. Através de vós, a Igreja que está na Itália vem enriquecer o Colégio cardinalício com ulteriores sabedoria pastoral e entusiasmo apostólico. É de bom grado que faço extensiva a minha cordial saudação a quantos compartilham convosco a alegria deste momento e apreciam o vosso amor a Cristo, assim como a vossa generosa dedicação à Igreja. Caríssimos familiares, amigos e diocesanos dos novos Purpurados, peço a todos vós que lhes assegureis o apoio da vossa oração, para que perseverem fielmente nas respectivas tarefas e continuem a desempenhar o seu precioso serviço em benefício de todo o povo cristão.

França, Egipto, Síria, Costa do Marfim e Vietname

2. Saúdo os fiéis francófonos vindos para acompanhar os novos Cardeais dos seus países: França, Egipto, Síria, Costa do Marfim e Vietname. As celebrações que acabámos de viver convidam-nos a adquirir cada vez maior consciência do nosso papel pessoal na Igreja. Em virtude do seu próprio Baptismo, cada baptizado é chamado a ser testemunha do Evangelho e a participar activamente na edificação do Corpo de Cristo, com os pastores que são encarregados de orientar o povo de Deus.

Possais vós, ao regressardes às vossas dioceses, sentir-vos confirmados na vossa fé e no vosso amor a Cristo e à sua Igreja, com um renovado desejo de seguir o Senhor, de conformar a vossa vida à sua! Por isso, cada cristão é chamado a desenvolver a sua vida espiritual em contemplação do Salvador. Concedo a todos vós uma afectuosa Bênção apostólica.

Índia, África do Sul, Irlanda, Inglaterra e Estados Unidos da América

3. Com afecto no Senhor, saúdo os novos Cardeais provenientes das Terras de expressão inglesa e todos aqueles que os acompanharam a Roma nesta ditosa ocasião. Ao longo dos anos, testemunhei pessoalmente as imensas riquezas das culturas das quais sois naturais: Índia, África do Sul, Irlanda, Inglaterra e Estados Unidos da América. Agora, os novos Cardeais oferecem as suas riquezas de forma ainda mais generosa ao serviço da Igreja universal, enquanto estão mais intimamente unidos ao Sucessor do Apóstolo Pedro na tarefa da proclamação do Evangelho a todas as nações.

Prezados Amigos, vivemos numa época em que as pessoas sentem fome das coisas mais profundas do Espírito. Este é o momento de lançar as nossas redes ao largo! O início do novo milénio é para nós um período de renovação do nosso compromisso na missão que nos foi confiada por Cristo, uma missão que está assente nas profundezas da contemplação. Esta contemplação, como disse na minha Carta Apostólica Novo millennio ineunte, é a contemplação do rosto de Jesus Cristo, a Palavra de Vida: "O que era desde o princípio... isso vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco. Quanto à nossa comunhão, ela é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo" (1Jn 1,1 1Jn 1,3).

Oxalá as comunidades de fé a que pertenceis sejam cada vez mais verdadeiras escolas de oração, contemplação e missão. Sobre vós, as vossas famílias e os vossos países, invoco de bom grado a protecção amorosa de Maria, Mãe da Igreja.

Alemanha

4. Dirijo uma cordial saudação aos Purpurados neo-eleitos, provenientes da Alemanha. Juntamente convosco, saúdo os vossos familiares, as vossas colaboradoras e colaboradores nas dioceses e nos departamentos a que presidis, assim como os fiéis que vieram convosco a Roma.
Sabeis muito bem que considero a vossa nomeação para o cargo cardinalício um sinal do apreço que alimento pela Igreja que vive e trabalha no vosso País. Estou persuadido de que esta honorificência será para vós um ulterior impulso para o vosso generoso compromisso no testemunho de Cristo e do seu Evangelho. Enquanto formulo votos para que a Igreja da Alemanha prospere e dê abundantes frutos espirituais, concedo cordialmente a vós e aos vossos entes queridos que vos acompanharam até à Cidade Eterna, bem como a quantos são confiados ao vosso cuidado, a Bênção apostólica.

Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Honduras, Perú e Venezuela

5. Saúdo com afecto os peregrinos oriundos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Honduras, Perú e Venezuela, que acompanharam com alegria os novos Cardeais. Pede-se-lhes agora um maior compromisso ao serviço da Igreja, a ponto de dar a vida pelo Evangelho, como fez o Santo cuja memória hoje recordamos: São Policarpo de Esmirna. Isto supõe também uma maior responsabilidade no que diz respeito às suas comunidades eclesiais e, sobretudo, a quantos, como vós mesmos, estais próximos deles. É por isso que vos convido a ajudá-los nesta renovada missão que lhes é confiada, mediante a oração, a colaboração fiel e a proximidade espiritual.

Após estes dias intensos, vividos em Roma, levai às vossas famílias e compatriotas a afectuosa saudação do Papa, que se sente muito próximo da situação de cada um dos vossos países, reza pelas suas populações e agora os abençoa de todo o coração.

Brasil e Portugal

6. Com particular afecto exprimo a minha saudação mais sincera aos Senhores Cardeais do Brasil e de Portugal. Por representarem uma parte significativa de toda a catolicidade em Nações que, por sua tradição histórica e empenho missionário, constituem a esperança da Igreja do amanhã, peço a Deus Todo-Poderoso para que abençoe aqueles povos e terras, e os favoreça no caminho da nova evangelização com abundantes frutos de santidade em todos os sectores da sociedade.

Dirijo também uma saudação especial aos familiares e amigos dos Senhores Cardeais, aos quais se quiseram juntar alguns membros do Episcopado local, mormente das Conferências Episcopais e de diversas Comunidades diocesanas. Esta participação tão significativa quer indicar o apreço dos Povos brasileiro e português pelos seus pastores e pela sua obra desenvolvida ao longo destes anos com generosidade e abnegação. A Virgem Santíssima proteja os seus Países, que me são tão queridos, e faça dos novos Purpurados exemplos vivos de Pastores dedicados, dispostos a servir a Igreja e o Romano Pontífice com fidelidade e amor.

Polónia

7. Saúdo cordialmente todos aqueles que nestes dias solenes acompanharam os Cardeais Marian e Zenon.

Agradeço à Providência o facto de a Igreja latina na Ucrânia oferecer o testemunho da fé viva, que sobreviveu nos anos da opressão e da prova; que se desenvolve vivificada pelo Espírito Santo e hoje pode alegrar-se pelo seu novo Purpurado. A cor purpúrea das suas vestes seja um sinal de gratidão da Igreja universal a todos os sacerdotes e fiéis na Ucrânia que, com os seus sofrimentos e não raro com a oferta da sua vida, pagaram o amor a Cristo e o desejo da união com Pedro. Seja também um sinal de esperança: que esta semente de sangue dê frutos abençoados no novo milénio!

Sinto-me feliz por a Igreja na Polónia poder participar de maneira particular no ministério petrino através da pessoa do Cardeal Prefeito da Congregação para a Educação Católica (dos Seminários e dos Institutos de Estudo). Saúdo todos os que vieram para o acompanhar durante estes dias com a oração.

Peço a Deus que a participação no Consistório possa fazer com que experimenteis na fé o mistério da universalidade e da unidade da Igreja, de que o Colégio cardinalício é um sinal particular. A Cristo e à sua Mãe confio os novos Cardeais e todos os presentes.
Deus vos abençoe!

Ucrânia

8. Dirijo a minha cordial saudação a vós, queridos peregrinos ucranianos, neste dia solene em que dois filhos da vossa Pátria foram criados Cardeais ao mesmo tempo: um de rito latino e o outro de rito oriental. Rezai para que este sinal de unidade se torne um penhor da plena comunhão entre o Ocidente e o Oriente. Enquanto espero poder encontrar-me convosco durante a visita que, se Deus quiser, realizarei no próximo mês de Junho, transmito a todos os vossos compatriotas uma afectuosa saudação.

Lituânia

Além disso, dirijo um cordial pensamento para vós, dilectos fiéis da Lituânia, que estais à volta de um dos vossos ilustres representantes, a quem foi atribuída a dignidade cardinalícia. Trata-se de um reconhecimento que honra toda a Igreja que está na Lituânia pela sua fidelidade a Cristo, paga por caro preço durante os anos da dominação comunista. Perseverai no amor ao Evangelho e estai sempre unidos aos vossos Pastores: Deus não vos fará faltar a sua protecção, que invoco com a constante lembrança na minha oração.

Letónia

Enfim, é com imensa alegria que vos recebo, estimados fiéis vindos da Letónia, para vos reunir à volta de um filho da vossa Terra, chamado a fazer parte do Colégio cardinalício. Acompanhai-o com o vosso afecto e a vossa oração, a fim de que Deus o ajude na sua missão ao serviço da Igreja. Ao voltardes para casa, peço-vos que transmitais a minha saudação de bênção aos vossos compatriotas!

O vosso ministério está sempre ao serviço do único Cristo

9. Queridos e venerados Irmãos que começastes a fazer parte do Colégio cardinalício! Ao despedir-me de vós, permiti-me renovar-vos os meus bons votos mais cordiais. O vosso ministério, diferente para cada um de vós, está sempre ao serviço do único Cristo e do seu Corpo místico. Com estima fraterna, encorajo-vos a continuar a vossa missão espiritual e apostólica, que hoje conheceu uma etapa muito importante. Conservai o vosso olhar fixo em Cristo, haurindo do seu Coração a abundância da graça e do conforto, segundo o exemplo dos intrépidos servidores da Igreja que, ao longo dos séculos, deram glória a Deus mediante o exercício heróico das virtudes e da invicta fidelidade ao Evangelho.

Com esta intenção invoco a Virgem Maria, Mãe da Igreja e, do íntimo do coração, concedo uma especial Bênção apostólica a cada um de vós e a quantos estão reunidos à vossa volta com afecto e devoção.






À COMUNIDADE DO


PONTIFÍCIO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO


Sábado, 24 de Fevereiro de 2001




Caríssimos

1. Eis-me novamente no meio de vós, para este encontro que já faz parte da tradição do Seminário Romano, que é o Seminário do Papa. Assim, a minha presença constitui uma ocasião propícia para confirmar aquilo que recentemente escrevi na Mensagem à Diocese de Roma, isto é, que "ao Seminário diocesano... desejo garantir o meu constante pensamento e a minha especial lembrança na oração" (n. 6).

Em primeiro lugar, dirijo um pensamento de estima e de afecto ao Cardeal Vigário, que acabou de festejar os seus setenta anos. Renovo-lhe a expressão do meu reconhecimento pelo bem que ele realiza ao serviço da Igreja de Roma e, como Presidente da Conferência Episcopal, em favor de toda a Igreja que está na Itália. Saúdo os Bispos presentes, os párocos e os sacerdotes que intervieram nesta significativa manifestação, assim como o Reitor e os educadores do Seminário. Saúdo cada um de vós, estimados seminaristas, que aqui realizais o vosso caminho de formação, preparando-vos para o dom total de vós mesmos à causa do Reino. Estendo a minha saudação aos vossos parentes, aos amigos e aos jovens que hoje se uniram à Comunidade do Seminário para homenagear Nossa Senhora da Confiança e participar neste encontro festivo.

2. Foi com emoção que escutámos o oratório musical composto pelo querido Monsenhor Marco Frisina, que se inspira na breve mas intensa realidade terrestre do ex-aluno do Seminário, o Servo de Deus Bruno Marchesini, falecido com apenas 23 anos, sonhando com o sacerdócio. É com razão que lhe chamais "o amigo do céu". A sua vida foi um constante e corajoso caminho rumo à santidade.

Das páginas do seu diário descobrimos que, no final do mês de Maio de 1936, durante o segundo ano do biénio filosófico no Seminário Maior, se consagrou ao Coração Imaculado de Maria. Repetindo com solenidade a oferta da sua castidade, ele escrevia: "Por teu intermédio, ó Maria, hoje ousei apresentar a Jesus, realmente presente no meu coração sob as espécies eucarísticas, o lírio reflorescido da minha pureza. Foste Tu que mo inspiraste e serás Tu que o conservarás com todo o ardor deste dia". E acrescentava, como que desejando evidenciar de maneira clarividente o seu próprio pensamento, que esta consagração tornava explícita a intenção de uma "suprema dedicação de amor a Jesus Cristo".

3. Bruno Marchesini compreendeu que Nossa Senhora é o caminho mais seguro para chegar a Jesus e para lhe pertencer totalmente e para sempre. Esta é também a minha experiência pessoal. Caríssimos seminaristas, acolhei na vossa vida a Virgem Santa como vossa Mãe. Cada um tenha a consciência amorosa deste papel de Maria, sobretudo nos anos preciosos da formação durante os quais se prepara para se tornar sacerdote, ou seja, um alter Christus.

Na capela do Seminário venerais a Virgem Santíssima com o título de Nossa Senhora da Confiança. Exorto-vos a vir visitá-la com frequência e a abrir-lhe o coração: Maria é "aurora luminosa e guia segura do nosso caminho" (Novo millennio ineunte, 58). A Serva fiel do Senhor vos ajudará também a vós, como fez com "o amigo do céu" que hoje recordamos, a consagrar a vossa vida ao serviço do Evangelho, num generoso caminho de santidade.

4. Ser santo: eis o programa de cada cristão, porque "os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um" (Ibid., n. 31). Estimados jovens amigos, formulo votos para que este programa oriente também a vossa existência. Vivestes com empenho o Dia Mundial da Juventude; vistes centenas de milhares de vossos coetâneos que, de todas as partes do mundo, vieram ao túmulo do Apóstolo Pedro. Eles vieram para confirmar a sua fé e expressar a firme decisão de ser, no novo milénio, os homens e as mulheres das Bem-Aventuranças.

Roma precisa de santos! Abre-se diante de nós uma fecunda estação de nova evangelização que, para ser levada a bom fim, exige a coragem da santidade. Prezados seminaristas, tende este anseio na oração quotidiana. Fazei-o vosso, imitando o amigo Bruno Marchesini que, no Natal de 1937, assim rezava a Jesus: "Fazei de mim um sacerdote santo, ou então chamai-me antes para junto de Vós. Permiti-me compreender a miséria desta vida, quando não é entregue inteiramente ao vosso amor".

5. No oratório musical, escutámos o convite de Jesus: "Vinde ver", com o comentário de João: "Foram, pois, e viram onde morava e permaneceram junto d'Ele nesse dia" (Jn 1,39).
Caríssimos, as palavras com que o Evangelista fala da sua vocação permitiram-nos reler profundamente a existência de Bruno Marchesini e descobrir a sua sincera devoção à Virgem Santíssima, a mulher que pertenceu total e plenamente ao Senhor.

Voltemos a olhar para Ela, a Mãe de Cristo, e peçamos-lhe que nos ensine também a nós a permanecer com o Senhor. Imploremos-lhe que a comunidade do Seminário Romano seja, de modo cada vez mais consciente, uma "autêntica "escola" de oração, onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em acção de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afectos de alma, até chegar a um coração verdadeiramente "apaixonado"" (Novo millennio ineunte, 33). Tudo isto seja a vossa experiência quotidiana!

Aquela que aprendeis a invocar como Nossa Senhora da Confiança, título muito querido ao Beato João XXIII, que também viveu no vosso Seminário, seja a vossa esperança e o vosso conforto!

Com estes sentimentos, enquanto vos agradeço de novo este encontro, concedo a todos do íntimo do coração uma especial Bênção apostólica.


Estou feliz por ter passado convosco esta tarde tradicional, assim como foi do meu agrado ter ouvido o novo Oratório composto pelo Monsenhor Marco Frisina, e ter realizado este encontro pessoal com cada um de vós.

No termo desta ceia, quero agradecer também às Religiosas.

Devo concluir esta saudação, porque o Cardeal Vigário está a olhar para mim, recordando-me que amanhã de manhã devemos visitar a Paróquia. Sim, também a Paróquia vos espera, daqui a pouco tempo. Espero que entreis numa Paróquia romana. É sempre algo maravilhoso! A Paróquia é uma realidade vibrante.

Formulo votos para que vivais uma boa Quaresma e uma feliz Páscoa! Desejo-vos todo o bem para o futuro: a ordenação diaconal e depois a ordenação sacerdotal.

Obrigado! O Senhor vos abençoe e Nossa Senhora da Confiança proteja sempre cada um de vós!




AOS CARABINEIROS DA REGIÃO DO LÁCIO


26 de fevereiro 2001



Caríssimos Militares
da Arma dos Carabineiros!


1. Bem-vindos e obrigado por esta vossa visita, que traz à mente o Grande Jubileu, durante o qual também os Carabineiros foram chamados a prestar o seu precioso serviço, que disse respeito particularmente aos Carabineiros da região do Lácio, que trabalham na cidade de Roma. A Audiência de hoje dá-me a oportunidade de vos exprimir o meu reconhecimento e o da Santa Sé.

Saúdo, em primeiro lugar, o General Corrado Borruso, Comandante da Região de Carabineiros do Lácio, e agradeço-lhe pelas nobres palavras que me dirigiu em nome de todos os presentes. Saúdo, depois, cordialmente o Coronel Baldassarre Favara e cada um de vós, vindos aqui em representação de muitos colegas vossos que colaboraram, juntamente com outras Forças da Ordem, no sereno desenrolar dos vários encontros jubilares e na segurança dos muitos peregrinos e visitantes vindos a Roma durante todo o Ano Santo.

2. Ao acolher-vos a vós, que sois parte qualificada das Forças Armadas Italianas, o meu pensamento não pode deixar de ir para o domingo, 19 de Novembro passado, quando, na Praça de São Pedro, celebrámos o Jubileu dos Militares e das Forças da Polícia. Ele foi um significativo testemunho de fé por parte dos Militares de numerosos Países e de suas famílias. Nessa ocasião, tive a oportunidade de exortar a todos que fossem "instrumentos da segurança e da liberdade dos povos", que fossem "homens de paz" (Homilia, nº 4: L'Osservatore Romano, ed. port. de 25/11/2000, pág. 6).

Hoje repito-vos estas palavras, pensando na vossa missão que se realiza no território de Roma. Esta Cidade desempenha uma singular função no âmbito da cristandade e é importante que, nela, todos, desde os seus habitantes aos peregrinos, dos emigrantes aos turistas, possam viver num clima de respeito pela pessoa humana e pelos valores que a ela se referem. Quer dizer, um clima essencialmente humano e também cristão.

Para que isto aconteça, é preciso que os próprios militares, defensores da ordem e da legalidade, cultivem nos seus espíritos estes nobilíssimos valores. São valores que fundamentam as suas raízes em tradições humanas e cristãs, que reclamam constantemente o ser alimentadas através de um compromisso individual e colectivo. Os crentes sabem que são chamados a tal compromisso em virtude da vocação à santidade, que é dirigida a todos. Santidade significa, de facto, viver plenamente as virtudes evangélicas nas situações concretas em que nos encontramos. A história da Arma dos Carabineiros mostra que se pode atingir o cume da santidade no cumprimento fiel e generoso dos deveres do próprio estado. Penso, aqui, no vosso colega, o vice-brigadeiro Salvo d'Acquisto, medalha de ouro ao valor militar, cuja causa de beatificação está em curso.

3. Para continuar neste caminho de amadurecimento humano e cristão, é necessária a oração, a reconciliação com Deus, mediante a Confissão sacramental, o alimento sobrenatural da Eucaristia, a escuta da Palavra de Deus. Além disso, os que de entre vós são casados, sabem que o sacramento do Matrimónio é fonte inexaurível de graça para a vida de cada dia.

Sustentados pela ajuda de Deus, continuai com generosidade a vossa missão, ao serviço da Cidade e da Província de Roma. Proteja-vos sempre com a sua maternal protecção Maria Santíssima, a "Virgo fidelis".

Também eu vos acompanho com a minha oração e, enquanto desejo de coração todo o bem para cada um de vós e para as vossas famílias, de boa vontade vos abençoo.





                                                                                Março de 2001


AOS PÁROCOS E AO CLERO DA


DIOCESE DE ROMA PELO INÍCIO DA QUARESMA


Quinta-feira, 1° de Março de 2001



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Sacerdotes!

1. Saúdo-vos com afecto e agradeço-vos a vossa presença neste encontro anual do clero de Roma, no início da Quaresma. É um encontro que muito agrada pela oportunidade que me oferece de me aproximar pessoalmente de quem está empenhado de maneira directa na assistência pastoral aos fiéis desta querida Igreja de Roma.

Saúdo e agradeço ao Cardeal Vigário, ao Vice-gerente, aos Bispos Auxiliares e a todos vós, que me quisestes saudar.

2. "Ouvi-te no tempo favorável e ajudei-te no dia da salvação. É este o tempo favorável; este é o dia da salvação" (2Co 6,2).

A exortação do Apóstolo, que ecoou na solene liturgia de Quarta-feira de Cinzas, convida-nos a entrar no caminho penitencial da Quaresma com sentimentos de profundo reconhecimento ao Senhor. Neste tempo favorável, tempo de graça, Ele vem ao encontro do seu povo para o acompanhar até à Páscoa, no caminho da conversão e da reconciliação.

A Quaresma é um tempo forte que, nas paróquias e em todas as realidades eclesiais, é vivido com grande intensidade espiritual e pastoral. Por conseguinte, são muitos os empenhos que vos esperam, as iniciativas programadas que devem ser pouco a pouco actualizadas, a nível catequético, litúrgico e caritativo. Mas a preocupação do "fazer" nunca deve prevalecer sobre aqueles factores decisivos, de ordem espiritual e interior, que são a única base firme da necessária e intensa actividade pastoral.

3. Recomendo-vos sobretudo a vós, caríssimos sacerdotes, que alimenteis, neste tempo santo, o vosso próprio caminho espiritual. Do exemplo e do testemunho do sacerdote os fiéis podem tirar grande proveito para compreender e aceitar as riquezas espirituais da Quaresma, redescobrindo a paróquia como "escola" de oração, "onde o encontro com Cristo não se exprime apenas em pedidos de ajuda, mas também em acção de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afectos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente "apaixonado"" (Novo millennio ineunte, 33).

A Quaresma é tempo favorável para fazer crescer em todas as comunidades aquela espiritualidade de comunhão que, do encontro mais intenso com o Senhor, flui de novo nas relações recíprocas e permite sentir "como é bom e agradável que os irmãos vivam em unidade" (Ps 133,1). Sob este perfil demonstra-se decisiva em todas as comunidades a comunhão presbiteral, que se manifesta na fraternidade vivida, entre párocos e vigários, sacerdotes idosos e jovens, e sobretudo em relação aos irmãos doentes ou em dificuldade.

No âmbito do presbitério cada um é chamado a considerar o outro como "um que faz parte de mim" e, antes de tudo, a ver o que há de positivo no irmão, para o aceitar e valorizar como "um dom para mim", "rejeitando as tentações egoístas que sempre nos atacam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes" (Novo millennio ineunte, 43).

4. Faz parte deste empenho de comunhão aquela escuta do povo de Deus que se serve dos órgãos de participação, promovidos com convicção e seriedade, mas também de todas as ocasiões que nos são oferecidas todos os dias para aceitar as exigências do povo e para ir ao encontro das suas necessidades mais concretas.

Penso em tantas pessoas que, por motivos de trabalho e devido aos ritmos intensos de vida, precisam de ser ouvidas e acompanhadas, na catequese e na preparação para os sacramentos, em tempos, horários e formas diferenciadas e correspondentes às suas exigências. Devemos ir ao encontro delas com disponibilidade e benevolência, alegrando-nos por podermos conhecer e aproximarmo-nos sobretudo de quem não frequenta habitualmente as nossas comunidades.
Penso também nas numerosas famílias que, em tempo Quaresmal, abrem a porta da própria casa para receber a tradicional bênção dos missionários, que a missão da cidade iniciou de forma tão positiva.

5. No momento em que as nossas comunidades saem de si próprias para irem levar a cada casa e a todos os ambientes de trabalho o anúncio do Senhor morto e ressuscitado, somos postos em contacto com os numerosos sofrimentos e pobrezas, velhas e novas, existentes nas famílias e nos bairros de Roma. Vós, sacerdotes, que viveis quotidianamente ao lado do povo, sabeis como é grande a expectativa e a confiança que os pobres e, em geral, todos os que sofrem têm na comunidade cristã.

Por conseguinte ide, como Cristo bom Pastor, ao encontro de cada homem, mulher, jovem ou idoso, que espera um gesto de afecto, de solidariedade e de fraterna partilha na sua situação de pobreza material ou moral e espiritual. Esta rede de amor concreto e personalizado é o primeiro caminho missionário, que liberta aquela nova "fantasia da caridade" (cf. Novo millennio ineunte, 50) que abre o coração ao anúncio do Evangelho.

6. Esta Quaresma coincide com um momento particularmente significativo e rico de perspectivas para a nossa Diocese: de facto, está a ser realizado em cada paróquia e comunidade eclesial aquele discernimento espiritual e pastoral que redundará no grande Congresso de Junho.
Como recordei na minha Carta à Igreja de Roma, retomando o convite da Novo millennio ineunte, podemos olhar para o futuro numa atitude de fé e de esperança cristã, e desta forma "fazer-nos ao largo" quer para viver com paixão o presente quer para nos abrirmos com confiança ao futuro.

O Congresso deseja iniciar uma nova e fecunda fase de evangelização da nossa Cidade. A missão permanente é o objectivo para o qual devemos tender com todas as nossas energias, uma missão centrada em Cristo único Salvador, promovida pelo próprio povo de Deus, apoiada pela comunhão entre todas os seus componentes, destinada a todas as pessoas, famílias e ambientes, testemunhada por cristãos adultos na fé que saibam, através do seu trabalho, das suas convições e do seu estilo de vida incidir na mentalidade e na cultura de toda a cidade.

7. Renovo-vos o meu mais sentido obrigado pela disponibilidade e generosidade que demonstrastes durante o Jubileu. Se este grande acontecimento se pôde desenvolver serenamente oferecendo aos peregrinos provenientes de todas as partes da terra um profundo testemunho da tradicional hospitalidade romana, rica de calor humano e espiritual, isto deve-se em grande parte às paróquias, às famílias, às comunidades religiosas e a tantos voluntários, jovens e adultos, que se empenharam generosamente no serviço e no acolhimento.

Dirijo o meu reconhecimento, de modo especial, aos jovens de Roma, que por ocasião do Dia Mundial da Juventude se prodigalizaram na preparação do acolhimento dos seus coetâneos e os acompanharam, com amizade e fraternidade, a viver experiências inesquecíveis de fé e de comunhão. Estes jovens que esperam em grande número o nosso tradicional encontro no Vaticano na Quinta-feira que precede o Domingo de Ramos são um grande recurso missionário para a Igreja de Roma e para toda a cidade.

Queridos sacerdotes, amai estes jovens com o próprio coração de Cristo e tende confiança em cada um deles, apoiai o seu entusiasmo e educai-os para serem testemunhas da fé entre os seus coetâneos. Não tenhais receio de lhes dirigir o convite a pronunciar com coragem o própro "sim" sem reservas às chamadas também mais empenhativas, como a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada. Acompanhai o seu caminho de crescimento cristão com a celebração do sacramento da Penitência e a direcção espiritual. A vossa alegria de serdes sacerdotes, as escolhas de uma vida pobre e dedicada gratuitamente ao Evangelho e aos irmãos representam a maior sementeira de vocações no coração dos jovens.

8. A Quaresma é um tempo favorável para a nossa santificação. É-o para cada baptizado e com maior razão o deve ser para nós, sacerdotes, que somos chamados a "celebrar todos os dias o que vivemos e a viver o que celebramos", o sacrifício pascal do Senhor, fonte primária e perene de santidade e de graça.

Ampare-nos neste caminho empenhativo a Virgem Maria, Mãe da Igreja e Mãe, sobretudo, dos sacerdotes. Ajude-nos a intercessão de sacerdotes santos como o Cura d'Ars e como os numerosos sacerdotes e párocos romanos elevados à glória dos altares. Encorage-nos o exemplo de tantos irmãos, dos quais apreciamos o humilde serviço e a generosa dedicação à Igreja de Roma.

A todos abençoo de coração e convosco abençoo as vossas comunidades.

Antes de pronunciar o seu discurso, o Papa quis responder à pergunta feita por um pároco sobre a comunhão entre os presbíteros. Eis as suas palavras:

A propósito da última pergunta, como realizar esta comunhão entre os presbíteros, penso que os métodos são bastante conhecidos, decidir juntos e depois trabalhar juntos. É este, mais ou menos, o método da comunhão que se realiza na Cúria Romana e na Diocese de Roma, com o Cardeal Vigário e os Bispos seus colaboradores e com os sacerdotes. Penso que o encontro de hoje é exactamente isto, a elaboração de uma comunhão mais ampla, não só com a Cúria, com a paróquia, com o decanado, mas com todo o clero de Roma. Parece-me ser esta a resposta à última pergunta. Depois, preparei um discurso mais amplo, programático.

Antes de recitar a oração do Angelus, o Papa dirigiu aos párocos as seguintes palavras:

Para concluir, desejo dizer-vos que, para mim, como para todos nós, este Ano Santo permanece um grande encorajamento. Vimos estas multidões que se apinhavam diante da Basílica de São Pedro para depois atravessar a Porta Santa. Vimos as numerosas confissões que se fizeram. Vimos que os jovens se confessaram em massa. Obviamente, em massa, significa em grande número, mas eles confessavam-se individualmente. Vimos tudo isto. Então vemos que a messe é grande, mas que os trabalhadores não são suficientes. E agradecemos a Deus e a todos vós, sacerdotes de Roma, obrigado pelas vocações que temos no Seminário Romano, onde fui no sábado passado. Desejaria concluir convidando-vos ao optimismo. Optimismo que devemos à grande experiência do Ano jubilar. Parece que tudo o que o Ano jubilar nos trouxe foi visto também por aqueles que talvez não sejam nossos amigos. Também a imprensa leiga o diz de maneira clara: não pode deixar de reconhecer o que são os factos, a experiência vivida. Graças a Deus! Desejo-vos também a coragem cristã para o período quaresmal e para uma Santa Páscoa.

A respeito da pergunta acerca da comunhão entre os presbíteros, desejo acrescentar que é importante que os sacerdotes vivam juntos, comam juntos, jantem juntos. Nesta perspectiva, desejo-vos bom apetite!




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DO PANAMÁ POR OCASIÃO DA


VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


: Sábado, 3 de Março de 2001


Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É com prazer que hoje vos recebo, Pastores da Igreja de Deus que peregrina no Panamá, que viestes a Roma para a visita ad Limina. Tivestes nestes dias a oportunidade de renovar a vossa fé diante dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, de manifestar a plena comunhão com o Bispo de Roma, ao qual vos unem "vínculos de unidade, de amor e de paz" (cf. Lumen gentium, LG 22), e de reavivar a solicitude pastoral por todas as Igrejas (cf. Christus Dominus, CD 6). Por isso, os contactos com os diversos Dicastérios da Cúria Romana terão servido para receber o seu apoio e a sua orientação para a missão que vos foi confiada.

Agradeço de coração a D. José Luis Lacunza Maestrojuan, Bispo de David e Presidente da Conferência Episcopal, as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos, expressando os vossos sentimentos de afecto e os anseios e preocupações que vos animam no exercício do vosso ministério. Como Pastor de toda a Igreja, estimulo a solicitude que demonstrais pelo povo do Panamá, ao qual vos peço que façais chegar a carinhosa saudação do Papa, que não se esquece do intenso e memorável dia vivido com eles, a 5 de Março de 1983.

2. Nos últimos anos, o Senhor, que prometeu a sua presença até ao fim dos tempos (cf. Mt Mt 28,20), proporcionou à sua Igreja uma singular experiência dos seus dons. A Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a América e a Exortação apostólica Ecclesiae in America mostraram o novo contexto da Evangelização, cada vez menos limitado por divisões e barreiras que pareciam intransponíveis, para fazer valer um sentido mais amplo e universal da comunhão (cf. Ecclesiae in America, 5).

Por sua vez, a celebração do Grande Jubileu foi uma experiência eclesial não só extraordinariamente rica em si mesma, mas também uma forte chamada a todas as comunidades eclesiais para que estejam abertas ao que Deus espera delas no início deste novo século e neste novo milénio. Como escrevi na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, "é preciso guardar o tesouro da graça recebida, traduzindo-a em ardentes propósitos e directrizes concretas de acção" (n. 3). Por conseguinte, convido-vos a fazê-lo também em cada uma das vossas dioceses (cf. ibid., 29).

3. Entre as várias tarefas que vos estão confiadas como Pastores das Igrejas particulares do Panamá, sabeis bem que a primazia da vossa missão de cabeças e guias da porção do Povo de Deus que vos foi confiado corresponde à própria proclamação do Evangelho. De facto, Jesus Cristo é "a resposta definitiva à pergunta acerca do sentido da vida, e às questões fundamentais que inquietam tantos homens e mulheres do Continente americano" (Ecclesia in America, ). O próprio Jesus deu isto a entender quando enviou os seus discípulos com a admoestação de que nada levassem para o caminho na sua missão de anunciar que o Reino de Deus está próximo (cf. Mt Mt 10,7-14). Desta forma, Ele ensinava que o apóstolo deve pôr toda a sua confiança no Senhor e na sua mensagem de salvação da qual é portador, vivendo d'Ele e para Ele, sem que outros apoios, interesses ou critérios humanos se interponham à sua acção.

Neste sentido, é importante que cada Bispo infunda este mesmo espírito nos seus colaboradores, e de maneira especial nos sacerdotes. Isto requer sem dúvida que se esteja perto deles, das suas necessidades espirituais e materiais e das condições, nem sempre fáceis, nas quais exercem o seu ministério. Desta forma reforçar-se-á neles o imprescindível vínculo de comunhão com o seu Bispo, do qual esperam receber o estímulo necessário para viver e desempenhar generosamente o seu trabalho sacerdotal.


Discursos João Paulo II 2001 - Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2001