Discursos João Paulo II 2001

Isto contribuirá também de maneira decisiva para outra das prioridades mais prementes nas vossas dioceses, como o fenómeno das vocações, o qual exige um sério compromisso por parte de todos. Neste âmbito, as diversas iniciativas devem ser sustentadas principalmente através do testemunho dos sacerdotes e das pessoas consagradas, nas quais se deve verificar uma energia incondicional pela causa do Evangelho. A sua própria vida "a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e o mais persuasivo factor de fecundidade vocacional" (Pastores dabo vobis, PDV 41).

4. Conheço a preocupação por alguns aspectos do vosso povo que parecem dificultar a penetração do Evangelho no seu coração. São muitas as diferenças de uma região para outra, por vezes com uma acentuada identidade étnica e cultural; são muito rápidas algumas mudanças sociais que desorientam numerosas pessoas, sobretudo os jovens; está demasiado difundida a tentação de uma vida trivial, de um consumismo egoísta, de uma sexualidade irresponsável ou, até, de um fácil recurso à violência.

Perante tudo isto, e longe de ceder a qualquer tentação de desânimo, não deve faltar uma atitude de aproximação e uma palavra para os jovens, que os interpele directamente e sem subterfúgios, que os resgate de uma vida superficial ou sem sentido, que desperte neles o orgulho da responsabilidade e os defenda do assédio de um mundo cheio de provocações enganadoras. Podemos dizer de muitos jovens de hoje, com Santo Agostinho: "quem não aspira pela verdade e pela vida? Mas nem todos encontram o caminho!" (Sermão 142, 1).

Numerosas são as veredas pelas quais pode chegar até eles a mensagem de Cristo. O mais importante é que seja autêntica e transparente, que os sustente profundamente no seu ser mediante uma catequese continuada e sistemática, encha de alegria o coração e se celebre na liturgia, se partilhe em comunidade e se descubra cada vez mais na intimidade de cada um através da oração (cf. Tertio millennio ineunte, TMA 33).

5. Na minha visita pastoral ao Panamá tive a oportunidade de falar acerca do sentido cristão da família, a qual não é apenas a célula fundamental da sociedade, mas também o lugar privilegiado no qual se vive e se transmite a fé. Por isso deve ter um lugar privilegiado nos projectos da evangelização, para que responda quer aos projectos de Deus sobre o matrimónio, quer para que os próprios lares sejam o lugar de irradiação dos valores evangélicos. Naquela ocasião fiz notar que "o matrimónio é uma história de amor recíproco, um caminho de maturidade humana e cristã. Só no progressivo revelar-se das pessoas se pode consolidar uma relação de amor que envolve a totalidade da vida dos esposos" (Homilia na Missa para as Famílias, Panamá, 5 de Março de 1983, ed. port. de l'Oss. Rom. de 13/3/1983, pág. 7, n. 4).

Esta nobre concepção do matrimónio e da família continua a ser um dos desafios da Igreja do terceiro milénio que, também no vosso País, constata a existência de certas atitudes que dificultam na sua raiz a plena realização de um projecto familiar baseado no desígnio divino. Refiro-me, sobretudo, à pouca estima pela dignidade da mulher e ao frequente abandono dos deveres conjugais e familiares. De facto, é triste observar como, em certas ocasiões, "a mulher ainda é objecto de discriminação" (Ecclesia in America, ). Por isso, a pastoral familiar deve empenhar-se na reparação destas carências mediante uma necessária e adequada preparação para o matrimónio, uma atenção constante à vida dos lares, fazendo também apelo à responsabilidade das organizações públicas no que se refere aos programas educativos e à inserção dos jovens na sociedade.

6. Por outro lado, a celebração do Grande Jubileu fez sentir a necessidade de que a Igreja mantenha o olhar "mais intensamente fixo no Senhor" (Novo millennio ineunte, 16). Além disso, aqueles que receberam a missão de guiar o povo de Deus, recebem de Cristo o exemplo e as melhores indicações para uma actuação pastoral abnegada e generosa até ao sacrifício de si mesmo (cf. Jo Jn 10,11 Lumen gentium, LG 27). As actuais circunstâncias, que levam cada vez mais à dispersão e ao afastamento, tornam particularmente urgente uma figura de pastor que não dê apenas assistência aos fiéis assíduos, mas que vá incansavelmente à procura dos desorientados e distanciados (cf. Lumen gentium, LG 28).

A imagem evangélica de levar aos ombros a ovelha perdida (cf. Lc Lc 15,4-5) faz pensar na situação, cada vez mais frequente, de tantos cristãos que, mesmo desejando manter-se firmes na fé, ou de voltar a ela no seio da Igreja, não têm forças para empreenderem sozinhos o caminho. Surge assim a necessidade de uma especial atenção pelos débeis e por aqueles que, apesar da sua boa vontade, têm dificuldade de viver em plena coerência o seu empenho baptismal, para que não se extinga neles a chama vacilante da sua fé, mas que se avive até alcançar o seu máximo fulgor.

7. No Panamá, a Igreja e os seus Pastores têm uma grande tradição de assistência aos necessitados, de defesa das minorias étnicas, de promoção humana e de incremento da educação. Desejo incentivar-vos a prosseguir por este caminho, e também a promover com maior criatividade uma nova "fantasia da caridade" (Novo millennio ineunte, 50) a fim de enfrentar a amplitude de alguns fenómenos de marginalização social e cultural, bem como as novas formas de pobreza, tanto material como espiritual, que se apresentam no início do novo milénio.

Neste sentido, é importante manter a voz profética perante o perpetuar de situações de discriminação, mesmo se elas não parecem provocar desestabilização social. Mas a fantasia da caridade deve orientar-se sobretudo para a procura de métodos e actividades por parte de todos e de cada um na construção do seu próprio futuro e do futuro da comunidade local e nacional. A Igreja, que se esforça por promover o bem integral de cada pessoa e, por conseguinte, a sua dimensão social e comunitária, não se contenta com o facto de alcançar um simples bem-estar ou comodidade de vida. Deve esforçar-se por promover a verdadeira dignidade da pessoa, que requer, por um lado, o respeito dos direitos humanos fundamentais e, por outro, o seu sentido de responsabilidade, solidariedade e cooperação para construir um mundo melhor para todos.

Esta é uma missão específica dos fiéis leigos, aos quais se deve prestar uma atenção pastoral privilegiada, para que tenham uma vigorosa formação cristã e uma grande força de ânimo no seu empenho social. Desta forma saberão impregnar com os valores evangélicos o mundo da cultura, da ciência ou da política. Além disso, a esperança inexaurível que provém da fé e com o seu exemplo de vida, estimularão outros no seu empenho por superar aquelas situações que geram degradação material e moral, que tornam particularmente vulneráveis as mulheres, as crianças e certos grupos sociais, ou que provocam criminalidade ou violência.

8. No final deste encontro, desejo unir-me de coração a todos vós nas esperanças que vos unem e vos ajudam a trabalhar cada vez mais irmanados, reforçando a comunhão eclesial para a qual convidei na Carta apostólica Novo millennio ineunte, (cf. 44-45). A imagem que o mundo tem do vosso País, como lugar crucial de passagem e de comunicação, é um convite para que as suas comunidades eclesiais sejam modelo na sua capacidade de reunir esforços, de dialogar com todos e de construir indestrutíveis vínculos de unidade, respeitando simultaneamente a diversidade de cada cultura.

Enquanto peço à Virgem Maria que vos acompanhe no vosso ministério pastoral e proteja os queridos filhos e filhas panamenses, concedo-vos de coração a Bênção apostólica.




À VII ASSEMBLEIA GERAL DA


PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA


Sábado, 3 de Março de 2001





1. É sempre com vivo prazer que vos encontro, ilustres membros da Pontifícia Academia para a Vida. O motivo que hoje me oferece a ocasião do encontro é a vossa Assembleia Geral anual, que vos fez chegar a Roma, vindos de vários Países. Vai para vós a minha mais cordial saudação, beneméritos amigos que formais a família desta Academia que me é muito querida. Dirijo um particular e respeitoso pensamento ao vosso Presidente, o Professor Juan de Dios Vial Correa, a quem agradeço as amáveis palavras com que intepretou os vossos sentimentos. Dirijo também a minha saudação ao Vice-Presidente Mons. Elio Sgreccia, aos membros do Conselho Directivo, aos colaboradores e benfeitores.

2. Escolhestes como tema para a reflexão da vossa assembleia um assunto de muito interesse: A cultura da vida: fundamentos e dimensões". Na sua própria formulação, o tema já manifesta o propósito de chamar a atenção para o aspecto positivo e construtivo da defesa da vida humana.

Nestes dias, são-vos pedidos os fundamentos a partir dos quais é necessário avançar para promover ou reactivar uma cultura da vida e os conteúdos com que a propor a uma sociedade assinalada como recordava na Encíclica "Evangelium vitae" por uma cultura da morte, cada vez mais espalhada e alarmante (cf. nn 7, 17).

O melhor modo de superar e vencer a perigosa cultura da morte consiste propriamente em dar sólidos fundamentos e luminosos conteúdos a uma cultura da vida que se lhe oponha com vigor. Não é suficiente, mesmo se necessário e obrigatório, limitar-se a expor e denunciar os efeitos letais da cultura da morte. É necessário, antes de tudo, regenerar desde já o tecido interior da cultura contemporânea, entendida como mentalidade vivida, como convicções e comportamentos, como estruturas sociais que a sustentam.

Esta reflexão aparece muito mais preciosa, se se tem em conta que pela cultura não é influenciada apenas a conduta individual, mas também as escolhas legislativas e políticas, que, por sua vez, veiculam estímulos culturais que não raro dificultam, infelizmente, a autêntica renovação da sociedade.

A cultura orienta, além disso, as estratégias da procura científica, que hoje, como nunca, está em situação de oferecer meios poderosos, infelizmente nem sempre empregados para o verdadeiro bem do homem. Assim, às vezes, a pesquisa parece mover-se, em muitos campos, verdadeiramente contra o homem.

3. Oportunamente, portanto, quisestes esclarecer os fundamentos e as dimensões da cultura da vida. Nesta perspectiva, quisestes pôr o tom sobre os grandes temas da criação, realçando como a vida humana deva ser percebida como dom de Deus. O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado a ser seu livre colaborador e, ao mesmo tempo, responsável na "gestão" da criação.

Quisestes, além disso, reforçar os valores inalienáveis da dignidade da pessoa, que assinala cada indivíduo, desde a concepão até à morte natural; consultastes de novo o tema da corporeidade e do seu significado personalista; dirigistes a atenção para a família como comunidade de amor e de vida. Detivestes-vos a considerar a importância dos meios de comunicação para uma difusão geral da cultura da vida e a necessidade de se comprometerem no testemunho pessoal a seu favor. Além disso, recordastes como é dificultado, neste aspecto, todo o caminho que favoreça o diálogo, na convicção de que a verdade plena sobre o homem é o sustento da vida. O crente é apoiado, nisto, pelo entusiasmo radicado na fé. A vida vencerá: esta é para nós uma esperança segura. Sim, vencerá a vida, porque do lado da vida estão a verdade, o bem, a alegria, o verdadeiro progresso. Do lado da vida está Deus, que ama a vida e a dá em abundância.

4. Como sempre acontece nas relações entre reflexão filosófica e meditação teológica, também neste caso é de indispensável ajuda a palavra e o exemplo de Jesus, que deu a sua vida para vencer a nossa morte e para associar o homem à sua ressurreição. Cristo é a "ressurreição e a vida" (Jn 11,25).

Raciocinando nesta óptica, escrevi na Encíclica "Evangelium vitae": "O Evangelho da vida não é uma simples reflexão, mesmo se original e profunda, sobre a vida humana: também não é somente um mandamento destinado a sensibilizar a consciência e a provocar mudanças significativas na sociedade; muito menos é uma ilusória promessa de um futuro melhor. O Evangelho da vida é uma realidade concreta e pessoal, porque consiste no anúncio da própria pessoa de Jesus. Ao apóstolo Tomé e a cada homem, Jesus apresenta-se com estas palavras: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jn 14,6)" (n. 29).

Trata-se de uma verdade fundamental que a comunidade dos crentes, hoje mais do que nunca, é chamada a defender e propagar. A mensagem cristã sobre a vida está "escrita de algum modo no próprio coração de cada homem e de cada mulher, ressoa em toda a consciência desde o princípio, ou seja desde a própria criação, de tal modo que, não obstante os condicionalismos negativos do pecado, pode também ser conhecido nos seus traços essenciais pela razão humana" (Evangelium vitae, EV 29).

O conceito de criação não é somente um esplêndido anúncio da Revelação, mas também uma espécie de pressentimento profundo do espírito humano. Do mesmo modo, a dignidade da pessoa não é noção que deriva somente da afirmação bíblica segundo a qual o homem foi criado "à imagem e semelhança" do Criador, não é um conceito radicado no seu ser espiritual, graças ao qual ele se manifesta como ser transcendente a respeito do mundo que o envolve. A reivindicação da dignidade do corpo como "sujeito" e não simples "objecto" material, constitui a lógica consequência da concepção bíblica da pessoa. Trata-se de uma concepção unitária do ser humano, que muitas correntes de pensamento ensinaram, desde a filosofia medieval até aos nossos tempos.

5. O compromisso pelo diálogo entre a fé e a razão não pode deixar de reforçar a cultura da vida, unindo ao mesmo tempo dignidade e sacralidade, liberdade e responsabilidade de cada pessoa, como componentes imprescindíveis da sua própria existência. Será, assim, garantida, juntamente com a defesa da vida pessoal, a tutela do ambiente, ambos criados e ordenados por Deus, como se comprova pela própria estrutura do universo visível.

As grandes instâncias relativas à vida de cada ser humano desde a concepção até à morte, o compromisso pela promoção da família segundo o desígnio original de Deus e a urgente necessidade, já sentida por todos, de salvaguardar o ambiente em que vivemos, representam para a ética e para o direito um terreno de interesse comum. Acima de tudo, neste campo, em que estão envolvidos os direitos fundamentais da convivência humana, vale quanto escrevi na Encíclica Fides et ratio: "a Igreja continua profundamente convencida de que a fé e a razão "se ajudam mutuamente", exercendo, uma em prol da outra, a função tanto de discernimento crítico e purificador, como de estímulo para progredir na investigação e no aprofundamento" (n. 100).

A radicalidade dos desafios que hoje são postos à humanidade, por uma parte, dos progressos da ciência e da tecnologia, por outra dos processos de laicização da sociedade, exige um esforço apaixonado de aprofundamento da reflexão sobre o homem e sobre o seu estar no mundo e na história. É necessário dar prova de uma grande capacidade de diálogo, de escuta e de proposta, com vista à formação das consciências. Só assim se poderá dar vida a uma cultura fundada sobre a esperança e aberta ao progresso integral de cada indivíduo nos vários Países, de modo justo e solidário. Sem uma cultura que mantenha sólido o direito à vida e promova os valores fundamentais de cada pessoa, não se pode ter uma sociedade sã nem a garantia da paz e da justiça.

6. Peço a Deus para que ilumine as consciências e guie quantos estão envolvidos, a vários níveis, na edificação da sociedade de amanhã. Saibamos propor sempre como objectivo primário a salvaguarda e a defesa da vida.

A vós, ilustres membros da Pontifícia Academia para a Vida, que gastais as vossas energias ao serviço de uma finalidade tão nobre e exigente, exprimo o meu mais vivo e grato apreço. O Senhor vos ajude no trabalho que estais a fazer e a levar a bom termo a missão que vos foi confiada. A Virgem Santíssima vos conforte com a sua protecção maternal.

A Igreja está-vos reconhecida pelo nobre serviço que prestais à vida. Quanto a mim, desejo acompanhar-vos com o meu constante encorajamento, enriquecido por uma especial Bênção apostólica.



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS UNIVERSITÁRIOS ROMANOS


NO FINAL DA RECITAÇÃO DO SANTO ROSÁRIO


3 de março de 2001



1. Saúdo com afecto os universitários de Roma que, como já é tradição, animaram este encontro mariano no início da Quaresma. Saúdo também os representantes do Fórum das Associações, promovido pela Conferência Episcopal Italiana, reunidos em Roma para um congresso de estudos.
Caríssimos jovens, agradeço-vos a vossa presença. Daqui a pouco levareis pelas estradas de Roma a Cruz dos Dias Mundiais da Juventude, que no próximo Domingo de Ramos entregareis aos vossos coetâneos de Toronto. Segui sempre o caminho do Evangelho e fazei com que as vossas comunidades universitárias sejam "laboratórios da fé e da cultura".

A Maria, Sedes Sapientiae, confio os vossos projectos e o vosso empenho missionário na Igreja de Roma.

2. Sinto-me feliz por saudar os estudantes universitários do Canadá e os membros do comité de preparação do próximo Dia Mundial da Juventude que terá lugar em Toronto no mês de Julho de 2002. Agradecido, saúdo também o Arcebispo de Toronto, o Cardeal Aloysius Ambrosic.
Queridos amigos, a viagem dos jovens pelas veredas do mundo tem agora um novo destino: de Roma até Toronto. No próximo Domingo de Ramos os jovens italianos desejarão entregar-vos a Cruz que levareis em peregrinação a todas as Dioceses do Canadá. Ao receber esta Cruz aceitareis a herança do Grande Jubileu. Oxalá possais encontrar, com criatividade e entusiasmo, novos caminhos para conduzir os jovens do mundo, e em particular os vossos colegas universitários, a um renovado encontro com Jesus Cristo, o único redentor da humanidade!
Maria, sede da sabedoria, vos acompanhe nos preparativos para o próximo Dia Mundial da Juventude!

Dirijo também a minha saudação afectuosa aos sacerdotes idosos que estão aqui convosco. A sua oração, fruto de uma vida totalmente dedicada ao Evangelho, é uma fonte de força e de inspiração para o vosso apostolado.

3. Saúdo com afecto os jovens universitários espanhois, reunidos na Universidade de Navarra em Pamplona e o seu Vice-Chanceler Mons. Tomás Gutiérrez, os professores e o pessoal técnico-administrativo.

Queridos filhos e filhas, tendes convosco o ícone da Sedes Sapientiae, que tive a alegria de entregar às Universidades de todo o mundo no passado mês de Setembro. Enquanto está para terminar a peregrinatio do ícone na Espanha, desejo encorajar-vos a prosseguir a busca e o empenho culturais. Estudai o tema do humanismo, objecto de reflexão durante o Jubileu das Universidades, nos seus diversos aspectos, de maneira que seja cada vez mais evidente o vínculo intrínseco entre a fé em Cristo e a defesa da dignidade do homem.

4. Saúdo com alegria os jovens que se reuniram na Catedral de S. Jorge em Leópoles, Ucrânia, e com eles o novo Cardeal Marian Jaworski e o Bispo Julian Gbur.

Caríssimos jovens, agradeço-vos a vossa participação. Daqui a poucos meses irei visitar a vossa pátria e esta tarde rezamos juntos por esse acontecimento. Quando, daqui a pouco tempo, receberdes o ícone da Sedes Sapientiae peregrina nas cidades universitárias da Ucrânia, acolhei-a com amor e confiai a Maria todos os jovens ucranianos, para que possais construir juntos um futuro de serena prosperidade para o vosso País.

5. Saúdo com alegria D. Frans Wiertz, Bispo de Roermond, e com ele, todos os participantes na vigília mariana reunidos em Maastricht. Saúdo cada um de vós, queridos jovens universitários holandeses.

Esta ligação de Maastricht recorda o caminho da comunidade europeia. Vós, jovens, prossegui o vosso empenho de testemunho cristão na universidade; empenho indispensável para promover um novo humanismo cristão na Europa.

Maria Sedes Sapientiae, proteja todos os jovens holandeses e europeus, caminhando juntos para metas de paz e de progresso autêntico.

6. Dirijo uma cordial saudação aos jovens mexicanos reunidos em Puebla por ocasião do congresso de Gente Nueva promovido pela Universidade de Anahuac de Cidade do México, e acompanhados pelo Mons. Antonio López Sánchez, delegado para a Pastoral juvenil em Puebla.
Queridos Jovens, no início do terceiro milénio, lançai as redes do Evangelho no vasto mundo da cultura americana. Sustentai a nova evangelização com o vosso entusiasmo de jovens crentes. Testemunhai, na Universidade e em todos os lugares, que Cristo é fonte de esperança para o homem contemporâneo.

Maria Sedes Sapientiae, vos acompanhe sempre!

7. Concluimos esta rápida passagem por várias localidades do mundo, onde se encontram reunidos jovens em oração com Maria. Desejo-vos de todo o coração, queridos jovens, que sejais sempre generosos no seguimento de Jesus, de maneira especial durante esta Quaresma. O Papa acompanha-vos com a Sua oração e de bom grado vos abençoa.



PALAVRAS DO SANTO PADRE


NO ENCERRAMENTO DOS EXERCÍCIOS


ESPIRITUAIS DOS PRELADOS DA


CÚRIA ROMANA


Sábado, 10 de março de 2001






1. Concluímos os Exercícios Espirituais com uma meditação sobre o "Magnificat". Quero que esta minha breve intervenção se faça eco do cântico de Maria, exprimindo com as suas palavras um sentido obrigado ao Senhor por quanto nos deu nestes dias de silêncio e de recolhimento.

Guiou-nos na contemplação dos divinos mistérios a pregação do querido Arcebispo de Chicago, o Senhor Cardeal Francis Eugene George. A Ele, venerado Irmão, também em nome dos Senhores Cardeais e Prelados da Cúria Romana que participaram nos Exercícios, exprimo o mais cordial agradecimento. O estilo pessoal e sóbrio adoptado por Ele fez realçar em toda a sua eficácia a Palavra evangélica. Verdadeiramente, Ele fez-nos sentir São Lucas como companheiro de viagem neste nosso itinerário quaresmal. Ao aprofundamento do texto bíblico, Ele uniu estimulantes testemunhos tirados da sua rica experiência de missionário e de Bispo, que favoreceram a aplicação das reflexões à vida. À volta dos grandes temas da conversão, da liberdade e da comunhão, Ele conduziu-nos em cada dia a contemplar Cristo e a aprofundar a fé n'Ele, esta fé que é "para todos os povos".

2. Foram frequentes também as referências aos Documentos elaborados depois das recentes Assembleias sinodais continentais. Isto contribuiu para dar ao nosso retiro um clima intensamente apostólico, muito mais apropriado ao tempo eclesial que estamos a viver, na sequência do Grande Jubileu do Ano 2000.

É um tempo que eu quis pôr sob o signo da palavra de Cristo a Pedro: "Duc in altum", "faz-te ao largo" (Lc 5,4). Sabemos qual foi a resposta de Simão; "À tua palavra lançarei as redes" (Lc 5,5). "À tua palavra": foi quanto quisemos fazer nestes dias. Permanecemos na escuta do Senhor para reforçar, com a ajuda do Espírito Santo, a fé, fortalecer a esperança e reavivar a caridade.

Confiando na eficácia da palavra de Cristo, a Igreja lança as redes no vasto oceano do novo milénio há pouco iniciado. É uma rede especial: o que nela fica preso acaba libertado! A fé em Cristo é, com efeito, liberdade que nasce da conversão pessoal e que abre à comunhão com todos os homens.

3. Obrigado, Senhor Cardeal, por nos ter guiado neste caminho. O Senhor o recompense da sua parte. Por nossa vez, asseguramos-lhe a lembrança na nossa oração, invocando para Vossa Eminência e o seu ministério a assistência maternal da Senhora Imaculada, Mãe da sua consagração missionária.

Dirijo um cordial agradecimento a quantos colaboraram para o melhor desenvolvimento dos Exercícios Espirituais, no que diz respeito à animação litúrgica bem como ao serviço de acolhimento.

Maria nos ajude a todos a fazer um tesouro dos dons espirituais recebidos no decurso dos Exercícios Espirituais e a continuar com um impulso renovado o itinerário quaresmal. Com estes sentimentos, de boa vontade concedo a todos uma especial Bênção apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2001





Caríssimos Irmãos do Brasil

É com viva satisfação que dou início à primeira Campanha da Fraternidade do novo milênio, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil durante a Quaresma deste ano, com o lema: "Vida sim, drogas não".

Permanece ainda viva na memória o Ano Jubilar, recém terminado; queira Deus Misericordioso tenha sido fonte copiosa de graças e consolações para todos os cristãos, pois Ele enviou Seu Filho na terra para "que todos tenham vida e a tenham em abundância" (cf. Jo Jn 10,10). Sim, caros irmãos e irmãs! Que todos tenham a verdadeira vida alcançada pelo amor misericordioso de nosso Salvador, Jesus Cristo.

A Quaresma quer ser um apelo à conversão dos corações, pela oração e pela penitência, auspiciando que no "combate contra o espírito do mal, sejamos fortalecidos com o auxílio da temperança", como se reza na Oração Coleta da Quarta-feira de Cinzas. Hoje, a Igreja no Brasil quer ajudar a participação de toda a sociedade na prevenção do uso indevido de drogas. Faço votos de que seja precisamente este espírito cristão de temperança, vivido e testemunhado, o caminho para dar início à nova vida de união com Cristo.

Estes são os auspícios que faço especialmente para todos aqueles que se deixaram envolver nas redes das drogas. Muitos daqueles que, infelizmente, cairam na malha das substâncias entorpecentes testemunham que tal experiência foi uma fuga de si próprios e da realidade. A droga é, com freqüência uma fuga de si próprios e da realidade. A droga é, com freqüência, fruto do vazio interior, renúncia e perda de orientação que conduz, às vezes, ao desespero. Eis porque a droga não se vence com a droga, mas requer uma vasta ação de prevenção, a fim de que a cultura da morte seja substituída pela cultura da vida.

É necessário oferecer aos jovens e às famílias motivos concretos de esperança e auxiliá-los eficazmente nas dificuldades de cada dia. A verdadeira alternativa às numerosas substâncias nocivas que entorpecem a pessoa humana foi encontrada por muitos no seio de uma comunidade que, para além das soluções técnicas prestadas, ofereceu um itinerário humano e espiritual permitindo sair do abismo da droga e ressurgir de novo para a vida, a fim de que possam oferecer como protagonistas sua contribuição na edificação de uma sociedade livre de todo o tipo de droga. A Igreja é grata a todos os que prestam este serviço competente e desinteressado à vida e à dignidade humana.

Se a fé passa através de tudo aquilo que vivemos, será com o exemplo de uma vida simples e sóbria que os homens e as mulheres do Brasil testemunharão que Cristo está no meio de nós. Sede portadores da esperança para as vítimas deste flagelo social, especialmente entre os jovens. É quando a família brasileira está ameaçada por estes males, que a esperança em Cristo ressuscitado nos dá a certeza de libertação e salvação.

Peço a Deus, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, que proteja o Brasil e sua gente e envio, em sinal do mais sincero afeto pela Terra da Santa Cruz, uma propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, 6 de Janeiro de 2001



SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS FIÉIS ESPANHÓIS VINDOS


A ROMA PARA A BEATIFICAÇÃO DE 233 MÁRTIRES

Segunda-feira, 12 de Março de 2001

Queridos Irmãos e Irmãs

1. É-me grato realizar este encontro convosco, queridos peregrinos espanhóis que, acompanhados de um numeroso grupo de Bispos e sacerdotes, assim como de autoridades civis das vossas cidades e regiões, participastes ontem na solene Beatificação de 233 homens e mulheres mártires da perseguição religiosa que, nos anos de 1931-1939, afligiu a Igreja na vossa Pátria. A Beatificação de ontem foi a primeira deste século e do novo milénio, e é significativo que tenha sido de mártires. Com efeito, no século que terminámos não faltaram tribulações em que muitos cristãos "deram a sua vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (cf. Act Ac 15,26).

Saúdo com afecto os Senhores Cardeais António Maria Rouco Varela, Arcebispo de Madrid e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, e Ricardo Maria Carles, Arcebispo de Barcelona, assim como D. Agustín García-Gasco, Arcebispo de Valença, Dioceses de onde é natural a maioria dos novos Beatos, D. Francisco Ciuraneta, Bispo de Lleida, e os demais Arcebispos e Bispos aqui presentes. Quero dar as boas-vindas também às autoridades autónomas, provinciais e locais, aos representantes das cidades que agora contam com novos Beatos entre os seus filhos ilustres. Estes novos mártires espalharam a sua mensagem em toda a geografia espanhola. Efectivamente, se consideramos a sua origem, eles provêm de 37 Dioceses e representam 13 Comunidades autónomas, mas o seu testemunho chega a abarcar todo o território espanhol e, por isso, é toda a Igreja na Espanha que ontem se alegrou com este reconhecimento.

2. Muitos de vós são descendentes, familiares ou vizinhos dos novos Beatos. Sei que está aqui presente a viúva de um deles, militante da Acção Católica, assim como numerosos irmãos, filhos e netos dos mártires. Alguns de vós são coirmãos dos religiosos que foram elevados à glória dos altares. Outros são vizinhos dos seus lugares de origem, das localidades onde eles exerceram o seu ministério, onde foram martirizados ou onde estão sepultados. Imagino a emoção que sentis nestes momentos, que esperastes durante tantos anos. Sem dúvida alguma, na vossa vida de fé o seu exemplo foi para vós alentador, pois conservastes a sua memória e, nalguns casos, até mesmo recordações pessoais.

A Beatificação de ontem foi a mais numerosa do meu Pontificado. Com efeito, foram elevados às honras dos altares 233 mártires. Mas um número tão elevado não faz esquecer as características de cada indivíduo. De facto, todos têm uma história pessoal, um nome e um sobrenome que lhe são próprios, determinadas circunstâncias que fazem de cada um deles um modelo de vida, ainda mais eloquente do que a morte livremente aceite como suprema prova da adesão a Cristo e à sua Igreja.

Os mártires, que hoje recordamos com gratidão e veneração, são como que um grande quadro do Evangelho das bem-aventuranças, uma maravilhosa amostra da variedade da única e universal vocação cristã para a santidade (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, cap. V). Ao proclamar ontem a santidade deste numeroso grupo de mártires, a Igreja glorificou a Deus.

A santidade não é um privilégio reservado exclusivamente a poucas pessoas. Os caminhos da santidade são múltiplos e podem ser percorridos através dos pequenos acontecimentos concretos de todos os dias, procurando em cada situação um acto de amor. Foi assim que fizeram os novos Beatos mártires. Aqui reside o segredo do cristianismo vivido na sua plenitude. O cristianismo realmente vital que todos os cristãos, de qualquer classe ou condição, são chamados a viver.

Todos nós somos chamados à santidade, pois o que Deus quer de nós, em última análise, é que sejamos santos (cf. 1Th 4,3). Queridos Irmãos e Irmãs da Espanha, julgo que também a vós, como acabei de fazer a todos os fiéis na recente Carta Apostólica Novo millennio ineunte, devo propor de novo com convicção "esta "alta medida" da vida cristã ordinária" (n. 31). O vosso percurso pessoal, o das vossas famílias e comunidades paroquiais seja, hoje mais do que nunca, um caminho de santidade.

3. Assim, encontramos sacerdotes jovens ou anciãos, que exerciam os ministérios mais diversos: párocos, vigários, cónegos, professores; religiosos provenientes dos vastos campos do exercício da caridade, por meio do ensinamento, da atenção às pessoas idosas e enfermas; homens e mulheres, solteiros ou casados, pais de família e trabalhadores dos vários sectores. Na origem do seu martírio e da sua santidade está o próprio Cristo. O denominador comum de todos eles é a sua opção radical por Cristo, acima de todas as coisas, inclusivamente da própria vida. Eles bem podiam expressar-se com São Paulo: "Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro!" (Ph 1,21).

Com a sua vida e sobretudo com a sua morte, eles ensinam-nos que nada deve antepor-se ao amor que Deus tem por nós e nos manifesta em Jesus Cristo.

Neles, assim como em todos os mártires, a Igreja encontrou sempre uma semente de vida. A tal ponto que podemos afirmar que as comunidades dos primeiros tempos foram forjadas no sangue dos mártires. Porém, o martírio não é unicamente uma realidade que pertence ao passado, mas também uma realidade do tempo actual. Por isso, na recente Carta Apostólica escrevi: não o será também para o século e o milénio que estamos a começar (cf. Novo millennio ineunte, 41)?

Com efeito, é um dado de facto que, no nosso tempo, voltaram os mártires. E como é certo que os tempos mudaram, também o é o facto de que cada dia se apresenta a possibilidade de continuar a padecer sofrimentos por amor a Cristo. Portanto, o horizonte que se apresenta à nossa frente é vasto e apaixonante. Sempre e em todos os lugares, os cristãos devem estar dispostos a difundir a luz da vida, que é Cristo, até ao derramento do seu próprio sangue (cf. Dignitatis humanae, DH 14). Devemos estar dispostos a seguir as pegadas dos mártires e a viver, como eles, a santidade plenamente com Ele, por Ele e n'Ele.

A herança destas destemidas testemunhas da fé, "arquivos da verdade, escritos com letras de sangue" (Catecismo da Igreja Católica, CEC 2474), legou-nos um património que fala com voz mais forte do que a da indiferença vergonhosa. É a voz que reclama a presença urgente na vida pública. Uma presença viva e serena que, com a clara transparência do Evangelho, nos levará a apresentar com naturalidade, mas também com firmeza, a sua radicalidade sempre actual aos homens e mulheres do nosso tempo.

Assim, trata-se de uma herança cuja linguagem é a do testemunho. Este património continue a produzir frutos abundantes através das vossas vidas e compromissos, manifestando a extraordinária presença do mistério de Deus que, actuando sempre e em toda a parte, nos chama à reconciliação e à vida nova em Cristo.

4. Queridos irmãos, o seu testemunho não pode nem deve ser esquecido. Eles manifestam a vitalidade das vossas Igrejas locais. O seu exemplo faça de cada um uma testemunha viva e credível da Boa Nova para os tempos novos. A sua imitação leve a produzir abundantes frutos de amor e de esperança na sociedade actual. Esta é a minha vontade. Promovei a cultura da vida.

Fazei-o com a palavra, mas também com gestos concretos. A oração pela conversão radical e sincera de todos à lei do Amor e o compromisso específico e generoso em benefício da mesma constituem o fundamento da convivência entre os homens, as famílias e os povos. Regressai às vossas localidades e comunidades dispostos a trabalhar apostolicamente na Igreja e pela Igreja.

Fazei das bem-aventuranças uma realidade nos vossos lugares de origem. Impregnai a realidade quotidiana com o único programa do Evangelho, que é o programa do amor. Levai Cristo às vossas vidas, às vossas comunidades, à vossa terra e à vossa história. Sede sempre e em todo os lugares testemunhas vivas e credíveis do amor, da unidade e da paz. Nesta tarefa, acompanham-vos sempre a minha oração, o meu afecto e a minha bênção, que vos concedo do íntimo do coração.





Discursos João Paulo II 2001